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Brancos de Sangue Latino - ECA-USP

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II JORNADA DISCENTE PPGMPA – <strong>USP</strong><br />

São Paulo, 14 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2011<br />

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BRANCOS DE SANGUE LATINO: regimes <strong>de</strong> visibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> grupos étnico-nacionais e<br />

relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r em Hollywood nos anos 1920 1 .<br />

Isabella Regina Oliveira Goulart 2<br />

Orientador(a): Gilson Schwartz<br />

Meios e Processos Audiovisuais – Práticas <strong>de</strong> Cultura Audiovisual<br />

Resumo: Em 1926, a Fox Film, por intermédio <strong>de</strong> sua agência geral no Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

dirigida por Alberto Rosenvald, lançou no Brasil o Concurso <strong>de</strong> Beleza Fotogênica Feminina<br />

e Varonil, a fim <strong>de</strong> escolher um casal para entrar nos seus estúdios em Hollywood. Como<br />

estratégia para aumentar sua popularida<strong>de</strong> no país, a Fox oferecia aos brasileiros a promessa<br />

do estrelismo, num período em que um número substancial <strong>de</strong> latinos fazia sucesso no cinema<br />

norte-americano. Assim como outros artistas <strong>de</strong> origem latina, os brasileiros po<strong>de</strong>riam expressar<br />

as características da latinida<strong>de</strong>, compreendida aqui como um conjunto <strong>de</strong> atributos a um complexo <strong>de</strong><br />

grupos étnico-nacionais elaborado a partir do olhar dos produtores hollywoodianos.<br />

Palavras-chave: concurso da Fox; Hollywood; i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> étnica; latinida<strong>de</strong>; relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r.<br />

Abstract: In 1926, Fox Film, through its General Agency in Rio <strong>de</strong> Janeiro, directed by<br />

Alberto Rosenvald, launched in Brazil the Female and Male Photogenic Beauty Contest, in<br />

or<strong>de</strong>r to choose a couple to join their studios in Hollywood. As a strategy to increase its<br />

popularity in the country, Fox offered Brazilians the promise of stardom, in a period when a<br />

substantial number of <strong>Latino</strong>s was a hit in American cinema. As well as other artists of Latin<br />

origin, Brazilians could express the characteristics of Latiness, un<strong>de</strong>rstood here as a set of<br />

attributes to a complex of national-ethnic groups drawn up from the look of Hollywood films<br />

producers.<br />

Key words: Fox's contest; Hollywood; ethnic i<strong>de</strong>ntity; Latiness; power relations.<br />

1 Trabalho apresentado na II Jornada Discente do PPGMPA – <strong>USP</strong>, promovida pelo Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação<br />

em Meios e Processos Audiovisuais, da Escola <strong>de</strong> Comunicações e Artes da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo (<strong>ECA</strong>-<br />

<strong>USP</strong>), no dia 14 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2011.<br />

2 Mestranda do Programa <strong>de</strong> Meios e Processos Audiovisuais da Escola <strong>de</strong> Comunicações e Artes da<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo (<strong>ECA</strong>-<strong>USP</strong>), com o projeto A ILUSÃO DA IMAGEM: o sonho do estrelismo<br />

brasileiro em Hollywood. Graduada em Comunicação Social, com habilitação em Cinema, pela Universida<strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral Fluminense (UFF). Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3717336824221449.<br />

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II JORNADA DISCENTE PPGMPA – <strong>USP</strong><br />

São Paulo, 14 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2011<br />

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Introdução<br />

Em três <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1926, O Estado <strong>de</strong> São Paulo trazia novas informações sobre<br />

o Concurso <strong>de</strong> Beleza Fotogênica Feminina e Varonil da Fox Film na coluna diária<br />

Cinematographos. Des<strong>de</strong> abril daquele ano, a mídia impressa nacional noticiava tal<br />

empreitada no Brasil, que pretendia “eleger uma moça e um rapaz brasileiros para<br />

trabalharem nos seus estúdios <strong>de</strong> Hollywood, nos Estados Unidos” 3 . Uma estratégia para<br />

popularizar a marca Fox no Brasil, ou uma tentativa <strong>de</strong> encontrar matéria-prima étnica para<br />

aten<strong>de</strong>r o mercado num período em que Hollywood afirmava seu alcance global, a investida<br />

em nosso país não foi uma iniciativa isolada. O representante da Fox Film, José Matienzo,<br />

veio à América do Sul com a missão <strong>de</strong> realizar versões do concurso também no Chile e na<br />

Argentina no mesmo ano.<br />

Naquela data <strong>de</strong> setembro, O Estado <strong>de</strong> São Paulo dizia que:<br />

A cor do sangue, azul ou vermelha, pouco importa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que a pele seja<br />

branca e seus ascen<strong>de</strong>ntes latinos. Assim, as portas da glória estão abertas<br />

para todos que reúnam tais requisitos.<br />

Na mesma coluna, no dia 20 <strong>de</strong> agosto, estavam <strong>de</strong>terminadas as condições para<br />

participação no concurso:<br />

Para moça: branca, sangue latino, <strong>de</strong> 16 a 23 anos; altura <strong>de</strong> 1,50 a 1,76;<br />

peso <strong>de</strong> 40 a 55kg. Para rapazes: branco, <strong>de</strong> sangue latino, ida<strong>de</strong> máxima 28<br />

anos, altura mínima 1,75.<br />

Aparentemente simples, embora explicitamente racializantes, os requisitos para a<br />

promessa <strong>de</strong> abrir as portas da glória para moças e rapazes <strong>de</strong> pele branca e sangue latino<br />

encerram uma complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong> elementos simbólicos, estéticos e econômicos; <strong>de</strong> relações <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>r entre grupos transnacionais, que estão também refletidas <strong>de</strong>ntro da fronteira dos<br />

Estados Unidos; <strong>de</strong> estereótipos e estigmas afirmados nos processos <strong>de</strong> caracterização <strong>de</strong>sses<br />

grupos.<br />

3 O Estado <strong>de</strong> São Paulo, 20 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1926, p. 2.<br />

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Para Robert Stam e Ella Shohat (2006), enquanto a América Latina reconheceu sua<br />

formação continental mestiça e as discussões sobre i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional no México, no Caribe<br />

ou no Brasil (para pensadores como Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, Paulo Prado e Gilberto Freyre)<br />

tiveram como premissa a multiplicida<strong>de</strong> racial, os Estados Unidos, em gran<strong>de</strong> parte, resistiram<br />

ao reconhecimento <strong>de</strong> que a cultura norte-americana também fosse mestiça, miscigenada,<br />

híbrida, fundamentando sua visão sobre a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional em uma brancura não<br />

<strong>de</strong>clarada, porém, normativa. Assim, esses autores falam em uma “nação americana<br />

hegemonicamente imaginada” (i<strong>de</strong>m, p. 323), <strong>de</strong> bases eurocêntricas, que dominou a<br />

narrativa-mestra das produções hollywoodianas. Segundo eles:<br />

Enquanto a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional norte-americana tem sido explicada por meio<br />

do prolongamento do personagem puritano inspirado nos fundadores da<br />

nação (Perry Miller), ou por meio do impacto da experiência fronteiriça na<br />

personalida<strong>de</strong> nacional (Fre<strong>de</strong>rick Jackson Turner e R. W. B. Lewis), ou<br />

ainda por meio do po<strong>de</strong>r mo<strong>de</strong>lador das instituições políticas igualitárias<br />

(análise <strong>de</strong> Toqueville), os teóricos da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional ten<strong>de</strong>ram a<br />

subestimar sua dimensão especificamente racial. Os intelectuais latinoamericanos,<br />

ao contrário, ten<strong>de</strong>ram, pelo menos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início do século<br />

XIX, a conceber a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional em termos <strong>de</strong> pluralismo racial.<br />

(SHOHAT; STAM, 2006, p. 348)<br />

Antonio Pedro Tota (2000) observa que o cinema, acima <strong>de</strong> qualquer outro meio<br />

mo<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> massa, divulgou o American way of life e que os elementos mais<br />

importantes da i<strong>de</strong>ologia do americanismo – a <strong>de</strong>mocracia, a liberda<strong>de</strong> e os direitos<br />

individuais (que Stam e Shohat lembram estarem <strong>de</strong>clarados na Constituição), o<br />

progressivismo, aliado ao tradicionalismo – foram tracejados na primeira meta<strong>de</strong> do século<br />

XX. Mas ele sublinha que “tudo, na verda<strong>de</strong>, só tinha valida<strong>de</strong> para uma América <strong>de</strong> brancos,<br />

fundamentalistas religiosos, anglo-saxões, anti-comunistas e imperialistas apaixonados”<br />

(i<strong>de</strong>m, p. 20).<br />

Tomaz Ta<strong>de</strong>u da Silva (2000) chama a atenção para o apelo a mitos fundadores na<br />

fixação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s nacionais e ao conceito <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s imaginadas <strong>de</strong> Benedith<br />

An<strong>de</strong>rson. As i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s nacionais funcionam, em gran<strong>de</strong> parte, por meio <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s<br />

que precisam ser inventadas, imaginadas, pois não há nenhuma comunida<strong>de</strong> natural em torno<br />

da qual as pessoas que constituem um agrupamento nacional possam se reunir. Para tanto, é<br />

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preciso criar laços imaginários para ligar 4 indivíduos isolados, que, sem eles, não teriam<br />

qualquer sentimento 5 <strong>de</strong> possuírem algo em comum. Assim, é essencial a construção <strong>de</strong><br />

símbolos nacionais. Entre hinos, ban<strong>de</strong>iras e outros símbolos, <strong>de</strong>stacam-se os mitos<br />

fundadores 6 , que remetem a um momento crucial do passado, em que um acontecimento<br />

edificante, executado por uma figura heróica, estabeleceu as bases da suposta i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

nacional. De acordo com Silva, “a narrativa fundadora funciona para dar à i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional<br />

a liga sentimental e afetiva que lhe garante uma certa estabilida<strong>de</strong> e fixação, sem as quais ela<br />

não teria a mesma e necessária eficácia” (i<strong>de</strong>m, p. 85).<br />

O supracitado texto <strong>de</strong> Stam e Shohat analisa como a dominação patriarcal branca nos<br />

Estados Unidos foi velada “em uma linguagem falsamente universalista, naturalizando o<br />

po<strong>de</strong>r das instituições e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s dos homens brancos” (SHOHAT; STAM, op. cit., p. 313) e<br />

como isso está evi<strong>de</strong>nciado no cinema <strong>de</strong> Hollywood através <strong>de</strong> um multiculturalismo<br />

reprimido, que ocultou ou camuflou a presença <strong>de</strong> outros grupos que foram constitutivos da<br />

experiência histórica norte-americana. Este mito <strong>de</strong> fundação monocultural foi construído<br />

para americanizar os próprios Estados Unidos e, então, o resto da América. Após esta breve<br />

elucubração, tentemos compreen<strong>de</strong>r o que era ser branco e latino para Hollywood em 1926.<br />

A América WASP<br />

O interesse da Fox por chilenos, argentinos e brasileiros po<strong>de</strong> ser explicado naquele<br />

contexto. Autores como Antonio Ríos-Bustamante (1992) e Clara E. Rodríguez (2008)<br />

apontam o apogeu do cinema silencioso e os primeiros anos do sonoro como a era <strong>de</strong> ouro dos<br />

latinos em Hollywood. Argumenta-se que, <strong>de</strong>vido ao gran<strong>de</strong> contraste nos filmes em preto-e-<br />

branco, tonalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cor eram menos expressivas, portanto, peles bronzeadas pareciam mais<br />

brancas, e que os primeiros cineastas eram, em sua maioria, imigrantes europeus, que ainda<br />

não haviam sido contaminados pelo preconceito étnico-racial dos Estados Unidos.<br />

Consequentemente, atores latinos daquela época teriam encarado menos discriminação do que<br />

os <strong>de</strong> períodos posteriores. O significativo é que muitos latinos alcançaram o estrelato e<br />

tinham apelo para um gran<strong>de</strong> público. Rodolpho Valentino personificou o ápice <strong>de</strong>ste<br />

fenômeno, bem como o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> atração da imagem erótica, exótica e romântica do Latin<br />

4 Grifo original.<br />

5 Grifo original.<br />

6 Grifo original.<br />

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lover. A comoção pública por sua morte, em 23 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1926 (dia seguinte ao do início<br />

do concurso da Fox), promoveu muitos atores ao posto <strong>de</strong> sucessor <strong>de</strong> Valentino e manteve o<br />

interesse no tipo.<br />

Nos anos 20, a indústria cinematográfica já havia percebido a atração do público por<br />

alguns atores e estava consciente do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> uma estrela <strong>de</strong> cinema. As estrelas marmóreas<br />

do silencioso eram parte consi<strong>de</strong>rável do esforço que produzia filmes como uma mercadoria<br />

passível <strong>de</strong> ser vendida por lucro no mercado, um artigo valioso no sistema econômico e o<br />

principal produto <strong>de</strong> exportação <strong>de</strong> Hollywood. Na lógica imperialista, atores étnicos,<br />

selecionados ao redor do mundo, ajudariam a <strong>de</strong>senvolver os filmes junto aos grupos étnicos<br />

<strong>de</strong>ntro dos Estados Unidos, além <strong>de</strong> potencializar o apelo <strong>de</strong>sses filmes nos mercados<br />

internacionais.<br />

Os brasileiros a quem a Fox oferecia a glória e Latin stars como o italiano Valentino,<br />

os mexicanos Dolores Del Rio e Ramon Novarro, ou os norte-americanos Antonio Moreno e<br />

Ricardo Cortez tinham em comum a latinida<strong>de</strong>. Ela po<strong>de</strong> ser entendida como uma síntese<br />

elaborada pelo olhar dos produtores hollywoodianos <strong>de</strong>vido à tendência <strong>de</strong> enxergar<br />

comunida<strong>de</strong>s espanholas, mexicanas, outras latino-americanas e, no período em questão, as do<br />

sul da Europa como um gran<strong>de</strong> grupo latino. Tal síntese visava ampliar a base <strong>de</strong><br />

comunicação entre os filmes e os públicos nacionais, contribuir para a afirmação<br />

hollywoodiana em um plano mundial, incrementar suas fontes <strong>de</strong> lucro e, em gran<strong>de</strong> medida,<br />

refletia a dinâmica social interna dos Estados Unidos, analisada por autores como Stam e<br />

Shohat. Para Hollywood, todo aquele complexo <strong>de</strong> grupos étnico-nacionais compartilhava um<br />

conjunto <strong>de</strong> atributos que mo<strong>de</strong>lavam a latinida<strong>de</strong>, fundada em valores físicos e culturais<br />

bastante vagos, mas que lhes permitia participar da mesma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> étnica.<br />

Mas, na Hollywood que imaginou “uma história monocultural para uma América<br />

multicultural” (SHOHAT; STAM, op. cit., p. 315) e que traçou as origens <strong>de</strong>ssa narrativa na<br />

Europa, latinos <strong>de</strong> pele escura ou <strong>de</strong> aparência não-européia geralmente não partilhavam do<br />

sucesso. O sentimento <strong>de</strong> pertencimento à comunida<strong>de</strong> é exclusivista: conferido aos anglo-<br />

americanos, ou àqueles indivíduos ou grupos cuja cor da pele lhes afira o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> mascarar a<br />

origem étnica e “passar para a etnia socialmente aceita” (ibi<strong>de</strong>m, p. 329), mas negado aos<br />

que, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssa nação norte-americana, são vistos como não-americanos. Marginalizados<br />

pelos códigos narrativos e cinematográficos, afastados do centro da cena, esses latinos,<br />

quando escalados, eram relegados a papéis coadjuvantes ou integravam as massas <strong>de</strong> caipiras,<br />

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bandidos, moças <strong>de</strong> cantina sem nome e extras. Como assinala Rodríguez, apesar do sucesso<br />

das estrelas latinas e da abertura para nomes, antece<strong>de</strong>ntes e temas latinos, este período<br />

produziu filmes que incorporaram caracterizações estereotipadas – da imagem romântica e<br />

erótica do Latin lover a categorias negativas que reforçam a superiorida<strong>de</strong> do herói anglo-<br />

americano <strong>de</strong> moral elevada e inteligência inata, com quem esses latinos contrastam e dos<br />

quais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m.<br />

As estrelas latinas tinham aparências que estavam <strong>de</strong> acordo com o protótipo europeu,<br />

ainda que com os padrões do sul e do centro da Europa, e visivelmente se encaixavam no que<br />

significava ser branco e <strong>de</strong> elite nos Estados Unidos naquela época. Este discurso da brancura,<br />

<strong>de</strong> uma diversida<strong>de</strong> reprimida e não tolerada, fica evi<strong>de</strong>nte nas bases do concurso da Fox, que,<br />

em outras palavras, dizia aos brasileiros que o sonho da glória em Hollywood era possível...<br />

Para os brasileiros que se encaixassem naquele padrão (ao qual os vencedores, Olympio<br />

Guilherme e Lia Torá, correspondiam).<br />

Pensando a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> como um vetor das lutas sociais, Denys Cuche (2002) esclarece<br />

que, nos Estados Unidos, o grupo dominante WASP (White Anglo-Saxon Protestant)<br />

classifica os outros americanos na categoria <strong>de</strong> grupos étnicos 7 ou raciais 8 . Isto abrange os<br />

<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> imigrantes europeus não WASP (por exemplo, os ju<strong>de</strong>us) e os americanos <strong>de</strong><br />

cor 9 (negros, chineses, japoneses, mexicanos e latino-americanos em geral, etc). Ele explica<br />

que:<br />

Segundo esta <strong>de</strong>finição, os étnicos são os outros, os que se afastam <strong>de</strong> uma<br />

maneira ou <strong>de</strong> outra da referência <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> americana. Os WASP<br />

escapam por um passe <strong>de</strong> mágica social a esta i<strong>de</strong>ntificação étnica e racial.<br />

Eles estão fora <strong>de</strong> qualquer classificação, por estarem evi<strong>de</strong>ntemente muito<br />

acima dos classificados. (CUCHE, 2002, p. 186)<br />

Do mesmo modo, Erving Goffman (1975) fala <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> valores comuns na<br />

América, revelado numa perspectiva segundo a qual todo homem americano ten<strong>de</strong> a encarar o<br />

mundo. Neste contexto, apenas o homem jovem, casado, pai <strong>de</strong> família, branco, urbano, do<br />

norte, heterossexual, protestante, <strong>de</strong> educação universitária, bem empregado, <strong>de</strong> bom aspecto,<br />

bom peso, boa altura e com sucesso recente nos esportes não teria nada do que se<br />

7 Grifo original.<br />

8 Grifo original.<br />

9 Grifo original.<br />

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envergonhar. Em contrapartida, qualquer homem que não consiga preencher um <strong>de</strong>sses<br />

requisitos, em alguns momentos veria a si mesmo como indigno, incompleto e inferior,<br />

“sendo apologético e agressivo quanto a aspectos conhecidos <strong>de</strong> si próprio que sabe serem,<br />

provavelmente, consi<strong>de</strong>rados in<strong>de</strong>sejáveis” (i<strong>de</strong>m, p. 139).<br />

Assim como Stam e Shohat falam da brancura não <strong>de</strong>clarada, porém, normativa na<br />

formação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional norte-americana, Goffman afirma que os valores <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> gerais <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m projetar algo sobre os encontros que se produzem<br />

na vida cotidiana, ainda que não estejam estabelecidos em lugar algum. Nos Estados Unidos<br />

e, analogamente, em Hollywood, a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> referência está bem <strong>de</strong>marcada. A WASP é a<br />

única i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> legítima, a do grupo dominante, e os outros são todos os que não po<strong>de</strong>m ser<br />

encaixados nessa sigla.<br />

Latinida<strong>de</strong>: estigma e estereótipo<br />

Para se tornarem estrelas, os atores latinos <strong>de</strong>veriam ter peles brancas o suficiente para<br />

se passarem por europeus e outros estrangeiros em filmes. Ironicamente, europeus (como o<br />

francês Charles Boyer), ou mesmo atores nascidos nos Estados Unidos podiam ser vistos<br />

como estrelas latinas. Impulsionados pela “temporária, porém fenomenal popularida<strong>de</strong> do<br />

Latin lover” (RÍOS-BUSTAMENTE, op. cit., p. 21), eles se valiam <strong>de</strong> antigos sobrenomes <strong>de</strong><br />

família, parentescos distantes, ou do simples fato <strong>de</strong> possuírem biotipos que se a<strong>de</strong>quavam ao<br />

look latino. Na breve análise que <strong>de</strong>senvolvemos até aqui, torna-se claro que a latinida<strong>de</strong> para<br />

Hollywood, mais do que a pertença a grupos nacionais ou étnicos, é uma marca física.<br />

Po<strong>de</strong>mos então enxergá-la como um estigma, como Goffman o <strong>de</strong>fine: um traço que se impõe<br />

e afasta a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atenção para outros atributos do indivíduo. Devido ao estigma, a<br />

essa característica diferente que marca o sujeito, ele é recebido <strong>de</strong> uma forma distinta na<br />

relação social cotidiana. Goffman pontua que:<br />

No estudo do estigma, a informação mais relevante tem <strong>de</strong>terminadas<br />

proprieda<strong>de</strong>s. É uma informação sobre um indivíduo, sobre suas<br />

características mais ou menos permanentes, em oposição a estados <strong>de</strong> espírito,<br />

sentimentos ou intenções que ele po<strong>de</strong>ria ter num certo momento. Essa<br />

informação, assim como o signo que a transmite, é reflexiva e corporificada,<br />

ou seja, é transmitida pela própria pessoa a quem se refere, através da<br />

expressão corporal na presença imediata daqueles que a recebem. Aqui,<br />

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chamarei <strong>de</strong> social à informação que possui todas essas proprieda<strong>de</strong>s.<br />

(GOFFMAN, 1975, pp. 52-53)<br />

No jogo discursivo <strong>de</strong> Hollywood, os atributos que transmitem a informação social da<br />

latinida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m ser signos congênitos, como a cor da pele e as características físicas, ou<br />

po<strong>de</strong>m ser empregados através <strong>de</strong> outros não permanentes, como os bigo<strong>de</strong>s e as vestimentas<br />

típicas. Sobretudo, eles estiveram (e estão) evi<strong>de</strong>nciados nos atores latinos no marcador<br />

fundamental da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, que é o nome. Goffman relaciona o estigma ao que consi<strong>de</strong>ra<br />

“algo básico na socieda<strong>de</strong>”: a estereotipia ou o “perfil <strong>de</strong> nossas expectativas normativas em<br />

relação à conduta e ao caráter” (ibi<strong>de</strong>m, p. 61). Ao afirmar que “a estereotipia está<br />

classicamente reservada para [...] pessoas que caem em categorias muito amplas e que po<strong>de</strong>m<br />

ser estranhas para nós” (i<strong>de</strong>m), ele <strong>de</strong>svenda a questão dos latinos nos Estados Unidos. Ser<br />

latino em Hollywood, já assinalamos, é uma classificação bastante ampla e que <strong>de</strong>stoa da<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional WASP monocultural e hegemonicamente imaginada.<br />

Segundo Charles Ramírez-Berg (1990), o estereótipo exerce um papel importante para<br />

os anglo-americanos, pois tem o efeito <strong>de</strong> reforçar a limpeza, a sobrieda<strong>de</strong>, a sanida<strong>de</strong>, a<br />

<strong>de</strong>cência e a equida<strong>de</strong> moral do WASP em seu chapéu branco. Em A crash course on<br />

Hollywood <strong>Latino</strong>’s imagery (2002), ele afirma que, no cinema clássico <strong>de</strong> Hollywood,<br />

nobreza e sacrifício são quase exclusivamente atributos dos WASP. Enquanto nestes filmes<br />

“toda latina é uma Jezebel” (i<strong>de</strong>m, p. 77, tradução da autora), ao homem latino era atribuída<br />

uma personalida<strong>de</strong> falha, uma <strong>de</strong>sabilida<strong>de</strong> física (a apatia, por exemplo), ou ambas,<br />

tornando-o <strong>de</strong> alguma forma incompatível com a heroína, ao contrário do anglo-americano.<br />

Contrastando com a América civilizada, a América Latina era representada como um cenário<br />

indiferenciado, frequentemente habitado por selvagens, camponeses preguiçosos, Latin lovers<br />

e mulheres ardilosas 10 .<br />

Todavia, é preciso atentar para a importância do estereótipo nas relações sociais,<br />

retomando o próprio conceito <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> social <strong>de</strong> Goffman, que diz respeito a alocar as<br />

10 Tota fala <strong>de</strong> uma imagem feminina elaborada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o final do século XIX pela imprensa norte-americana para<br />

representar a América Latina. Segundo ele, foram publicadas diversas caricaturas nos jornais, nas quais a<br />

América Latina era sempre representada por uma mulher e os Estados Unidos, por Tio Sam. A imagem criada<br />

para os latino-americanos se opunha à do homem branco, protestante, sempre mencionado como condutor do<br />

progresso na luta contra a vida selvagem. “Segundo essa concepção, ao sul do rio Gran<strong>de</strong> estava a América dos<br />

índios, dos negros, das mulheres e das crianças. Uma América que, via <strong>de</strong> regra, precisava apren<strong>de</strong>r as lições do<br />

progresso e do capitalismo para abandonar essa posição inferior’. Uma América que, em última instância,<br />

precisava ser domesticada” (TOTA, op. cit., p. 30).<br />

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pessoas em categorias sociais em face <strong>de</strong> seus atributos. Para ele, contatos impessoais entre<br />

estranhos estão sujeitos a respostas estereotípicas. Na medida em que as pessoas se<br />

relacionam mais intimamente, esta aproximação categórica ce<strong>de</strong> à avaliação das qualida<strong>de</strong>s<br />

pessoais. Assim, os estereótipos são formas prontas que funcionam como âncoras para que<br />

possamos nos mover socialmente. Eles operam como uma projeção nos encontros sociais e<br />

tem como consequência mais imediata os processos <strong>de</strong> naturalização.<br />

O estereótipo é produto do caráter estigmatizador incorporado nos processos <strong>de</strong><br />

diferenciação entre os grupos no contato social e possui algumas características: trata-se <strong>de</strong><br />

uma parte que é tomada para dar visibilida<strong>de</strong> a um todo, ele é uma construção generalizante e<br />

precisa ser sintético. Por congelar os vários significantes que agrega num significado único,<br />

muitas vezes ele não consegue representar um <strong>de</strong>terminado grupo.<br />

Estigmas e estereótipos são construídos; mais do que isso, são uma construção<br />

discursiva. É no discurso que os regimes <strong>de</strong> visibilida<strong>de</strong> relacionados a grupos sociais<br />

estigmatizados se <strong>de</strong>senrolam, não necessariamente no cotidiano social. O eixo a partir do<br />

qual acontecem as relações entre o grupo que escapa à classificação e os estigmatizados já<br />

<strong>de</strong>termina lugares. Quem fala, fala algo para alguém e está autorizado a falar <strong>de</strong>ste modo.<br />

Portanto, o discurso po<strong>de</strong> revelar um lugar <strong>de</strong> referencial e uma hierarquia, segundo a qual<br />

alguns tem o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> dizer que o diferente é o outro.<br />

O po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação<br />

Como ressalta Tomaz Ta<strong>de</strong>u da Silva, a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e a diferença não são elementos 11<br />

da natureza. Elas não estão “simplesmente aí, à espera <strong>de</strong> serem reveladas ou <strong>de</strong>scobertas,<br />

respeitadas ou toleradas” (SILVA, op. cit., p. 76). Ao contrário, são atos <strong>de</strong> criação, ou seja,<br />

precisam ser ativamente produzidas. São fabricadas por nós no contexto das relações sociais e<br />

culturais. I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e diferença tem que ser nomeadas, logo, o autor as enxerga como<br />

produto <strong>de</strong> atos <strong>de</strong> linguagem, recorrendo à semiologia <strong>de</strong> Ferdinand <strong>de</strong> Saussure ao afirmar<br />

que os signos que constituem uma língua não possuem nada intrínseco remetendo àquilo que<br />

representam e só adquirem valor numa ca<strong>de</strong>ia infinita <strong>de</strong> diversas marcas gráficas e fonéticas,<br />

além <strong>de</strong> conceitos, que diferenciam um signo <strong>de</strong> outro que não é ele. Deste modo, “a <strong>de</strong>finição<br />

da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> brasileira, por exemplo, é o resultado da criação <strong>de</strong> variados e complexos atos<br />

11 Grifo original.<br />

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lingüísticos que a <strong>de</strong>finem como sendo diferente <strong>de</strong> outras i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s nacionais” (ibi<strong>de</strong>m, p.<br />

77).<br />

Fazendo referência a Jacques Derrida, o autor adiciona que o signo carrega não apenas<br />

o traço daquilo que ele substitui, mas também o traço daquilo que ele não é, ou seja, da<br />

diferença:<br />

Isso significa que nenhum signo po<strong>de</strong> ser simplesmente reduzido a si mesmo,<br />

ou seja, à i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Se quisermos retomar o exemplo da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e da<br />

diferença cultural, a <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> “sou brasileiro”, ou seja, a<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> brasileira, carrega, contém em si mesma, o traço do outro, da<br />

diferença – “não sou italiano”, “não sou chinês” etc. A mesmida<strong>de</strong> (ou a<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>) porta sempre o traço da outrida<strong>de</strong> (ou da diferença). (SILVA,<br />

2000, p. 79)<br />

As i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s nacionais só po<strong>de</strong>m ser compreendidas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong><br />

produção simbólica e discursiva. Silva ressalta que o processo pelo qual a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e a<br />

diferença são produzidas está longe <strong>de</strong> ser simétrico. Elas são relações sociais e, portanto,<br />

estão à mercê <strong>de</strong> vetores <strong>de</strong> força e relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. Sua <strong>de</strong>finição é disputada, imposta e<br />

sujeita a hierarquias.<br />

Norbert Elias e John L. Scotson (2000) chamam a atenção para o diferencial <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />

nos quadros sociais. A figuração (natureza da inter<strong>de</strong>pendência) formada pelos grupos na<br />

sociodinâmica da estigmatização é baseada num equilíbrio instável <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, permeado por<br />

tensões que lhe são inerentes. Um grupo só po<strong>de</strong>, com efeito, estigmatizar outro quando está<br />

estabelecido em posições <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r das quais o grupo marginalizado é excluído. O estudo <strong>de</strong><br />

Elias e Scotson das relações estabelecidos-outsi<strong>de</strong>rs atribui papel <strong>de</strong>cisivo ao grau <strong>de</strong><br />

organização e coesão grupal na relação <strong>de</strong> forças entre eles, permitindo ao grupo estabelecido<br />

afirmar sua superiorida<strong>de</strong> e estigmatizar os outros como inferiores. Graças a esta integração<br />

diferencial, o grupo com maior índice <strong>de</strong> coesão po<strong>de</strong> reservar para os seus membros as<br />

posições sociais com potencial <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r mais elevado e excluir <strong>de</strong>las os membros dos outros<br />

grupos. As fontes <strong>de</strong> diferenciais <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r estão presentes em vários contextos sociais, mas<br />

são muitas vezes encobertas por outras características dos grupos envolvidos na figuração,<br />

como a cor e a classe social, ou no âmbito <strong>de</strong> diferenças étnico-nacionais:<br />

Os indícios sugerem que, também neste último caso, tais aspectos não se<br />

<strong>de</strong>vem às diferenças raciais ou étnicas em si, mas ao fato <strong>de</strong> um dos grupos<br />

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ser estabelecido, dotado <strong>de</strong> recursos superiores <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, enquanto o outro é<br />

um grupo outsi<strong>de</strong>r, imensamente inferior em termos do seu diferencial <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>r e contra o qual o grupo estabelecido po<strong>de</strong> cerrar fileiras. As chamadas<br />

relações raciais, em outras palavras, simplesmente constituem relações <strong>de</strong><br />

estabelecidos-outsi<strong>de</strong>rs <strong>de</strong> um tipo particular. (ELIAS; SCOTSON, 2000, p.<br />

31)<br />

A diferença em sua aparência física apenas torna os membros do grupo estigmatizado<br />

mais fáceis <strong>de</strong> serem reconhecidos como tal, servindo como um sinal <strong>de</strong> reforço no processo<br />

<strong>de</strong> estigmatização. Para Elias e Scotson, adjetivos como racial ou étnico são sintomáticos <strong>de</strong><br />

um ato i<strong>de</strong>ológico <strong>de</strong> evitação e a aversão que os membros <strong>de</strong> um grupo estabelecido sentem<br />

pelos outsi<strong>de</strong>rs é a mesma nos casos em que sua aparência física difere e naqueles em que<br />

ambos são fisicamente indistinguíveis.<br />

Privilegiado pela assimetria <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, o grupo estabelecido po<strong>de</strong> atribuir para si uma<br />

auto-imagem superior, um carisma grupal que é compartilhado por todos os seus membros e<br />

que falta aos outros. Isto po<strong>de</strong> penetrar na imagem que os próprios indivíduos inferiores (em<br />

termos <strong>de</strong> sua relação <strong>de</strong> forças) tem <strong>de</strong> si mesmos, fazendo com que se sintam carentes <strong>de</strong><br />

virtu<strong>de</strong>s. A imputação “rótulo <strong>de</strong> valor humano inferior” (ibi<strong>de</strong>m, p. 24) e os meios <strong>de</strong> fazê-lo<br />

prevalecer são aspectos figuracionais dos diferenciais <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r na inter<strong>de</strong>pendência que os<br />

dois grupos formam entre si, mantendo os outsi<strong>de</strong>rs, enfraquecidos e <strong>de</strong>sarmados, em seu<br />

lugar <strong>de</strong> estigma.<br />

Segundo Cuche, <strong>de</strong>ve-se à obra pioneira <strong>de</strong> Fre<strong>de</strong>rik Barth (1969) a concepção da<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> como manifestação relacional, compreendida através da or<strong>de</strong>m das relações entre<br />

os grupos sociais. Para Barth, a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> é um modo <strong>de</strong> categorização utilizado para<br />

organizar as trocas entre os grupos que se opõe no contato social. A i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> diferenciada<br />

não é gerada por si só, mas resultado das interações entre os grupos e dos procedimentos <strong>de</strong><br />

diferenciação que eles usam em suas relações. Alguns traços culturais característicos do grupo<br />

são empregados para afirmar e manter uma distinção cultural.<br />

Cuche pensa a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> como uma concessão, uma negociação entre uma auto-<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong>finida por si mesmo e uma hetero-i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> 12 (ou exo-i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> 13 ) <strong>de</strong>finida<br />

pelos outros. O po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação 14 <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da relação <strong>de</strong> forças (que po<strong>de</strong>m ser<br />

simbólicas) entre os grupos <strong>de</strong>ntro dos contextos sociais, ou seja, a posição ocupada pelos<br />

12 Grifo original.<br />

13 Grifo original.<br />

14 Grifo original.<br />

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grupos no sistema <strong>de</strong> relações por que estão ligados <strong>de</strong>termina qual <strong>de</strong>les tem o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> se<br />

nomear e nomear os <strong>de</strong>mais. Assim, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da situação relacional, a auto-i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> terá<br />

maior ou menor legitimida<strong>de</strong> que a hetero-i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>:<br />

Em uma situação <strong>de</strong> dominação caracterizada, a hetero-i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> se traduz<br />

pela estigmatização dos grupos minoritários. Ela leva frequentemente neste<br />

caso ao que chamamos uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> negativa. Definidos como diferentes<br />

em relação à referência que os majoritários constituem, os minoritários<br />

reconhecem para si apenas uma diferença negativa. Também po<strong>de</strong>-se ver os<br />

<strong>de</strong>senvolvimentos entre eles dos fenômenos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sprezo por si mesmos.<br />

Estes fenômenos são freqüentes entre os dominados e são ligados à aceitação<br />

e à interiorização <strong>de</strong> uma imagem <strong>de</strong> si mesmos construída pelos outros. A<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> negativa aparece então como uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> vergonhosa e<br />

rejeitada em maior ou menor grau, o que se traduzirá muitas vezes como<br />

uma tentativa para eliminar, na medida do possível, os sinais exteriores da<br />

diferença negativa. (CUCHE, 2002, pp. 184, 185)<br />

A relação entre WASP e étnicos nos Estados Unidos, assim como a <strong>de</strong>ste país com a<br />

América Latina, África e Ásia, caracteriza uma situação <strong>de</strong> dominação econômica, cultural e<br />

i<strong>de</strong>ológica. Nos anos 20, isso se afirmava após o fim da Primeira Guerra Mundial, frente o<br />

ensejo dos Estados Unidos substituírem a Europa como paradigma em todos estes aspectos. A<br />

relação <strong>de</strong> forças e o exce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r naquela socieda<strong>de</strong> aparecem na construção <strong>de</strong> seus<br />

mitos fundadores euro-americanos, protagonizados por heróis brancos, e na narrativa <strong>de</strong><br />

formação nacional que procurou ocultar o passado vexatório da escravidão negra e a presença<br />

problemática <strong>de</strong> outras etnias. Compreen<strong>de</strong>mos então como o contato entre os grupos <strong>de</strong>ntro<br />

da fronteira norte-americana, bem como nas relações transnacionais, levou à estigmatização e<br />

à fixação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s negativas para os que foram <strong>de</strong>finidos como étnico-raciais, enquanto<br />

os WASP atribuíram para si o referencial <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e uma superiorida<strong>de</strong> social.<br />

Isto cerrou barreiras para os grupos aos quais foi conferido um valor humano inferior.<br />

A legislação estadual e fe<strong>de</strong>ral dos Estados Unidos negou-se, por um longo tempo, a enxergar<br />

os negros e seus antigos senhores brancos como concidadãos, mantendo uma segregação<br />

jurídica que, durante décadas no século XX, privou aquele grupo <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> direitos<br />

civis. As barreiras institucionais, no entanto, mostram-se menos rígidas. O que parece<br />

realmente difícil é o ritmo dos ajustes jurídicos ser acompanhado pela diminuição do<br />

preconceito social que impõe barreiras emocionais e afetivas, influenciando a auto-imagem<br />

dos grupos estigmatizados, com uma consequente redução <strong>de</strong> sua auto-valorização.<br />

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Conclusão<br />

Segundo Silva, i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e diferença situam-se numa relação <strong>de</strong> estreita <strong>de</strong>pendência<br />

e “em um mundo imaginário totalmente homogêneo, no qual todas as pessoas partilhassem a<br />

mesma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, as afirmações <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> não fariam sentido” (SILVA, op. cit., p. 75). A<br />

discussão feita até aqui nos leva a compreen<strong>de</strong>r que a estigmatização é sustentada por um<br />

plano mais amplo da alterida<strong>de</strong>.<br />

A batalha pelo po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> nomear e se nomear envolve uma disputa maior entre os<br />

grupos pela afirmação <strong>de</strong> suas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s, suas normas e valores coletivos; pelo controle <strong>de</strong><br />

outros recursos simbólicos e materiais; e pela garantia <strong>de</strong> acesso privilegiado aos bens sociais.<br />

Aos grupos que <strong>de</strong>tém o privilégio <strong>de</strong> nomear, cabe o direito <strong>de</strong> atribuir valores aos outros<br />

durante a classificação.<br />

A produção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e da diferença está diretamente relacionada aos atos <strong>de</strong><br />

significação pelos quais a socieda<strong>de</strong> utiliza classificações. Já assinalamos que as relações <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>r que <strong>de</strong>terminam as posições dos grupos no que Elias e Scotson chamaram <strong>de</strong> figuração<br />

implicam também em uma hierarquia, na qual os grupos mais po<strong>de</strong>rosos separam o nós do<br />

eles, quem pertence e quem não pertence, quem está incluído e quem está excluído. Em outras<br />

palavras, <strong>de</strong>finem a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e enunciam a diferença.<br />

A hierarquização permite fixar uma <strong>de</strong>terminada i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> como a norma – o que<br />

Cuche quer dizer com “a referência que os majoritários constituem” 15 . As outras i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s<br />

são avaliadas em relação àquela que foi normalizada, positivada, eleita como referencial e<br />

possuidora <strong>de</strong> características humanas superiores. A normalização é um dos processos mais<br />

sutis pelos quais o excesso <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r se manifesta no campo da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e da diferença. Daí<br />

os WASP escaparem “por um passe <strong>de</strong> mágica social” 16 ao rótulo <strong>de</strong> étnicos ou raciais. Na<br />

oposição binária 17 entre brancos anglicanos e os outros na socieda<strong>de</strong> norte-americana, ser<br />

15 Ver citação na página 12.<br />

16 Ver citação na página 6.<br />

17 Segundo Silva, a forma <strong>de</strong> classificação que se estrutura em torno <strong>de</strong> oposições binárias é uma das mais<br />

importantes. Novamente, ele recorre a Derrida para afirmar que, nestes casos, um dos termos é sempre<br />

privilegiado e recebe um valor positivo, enquanto o outro ganha uma carga negativa. Assim, “nós e eles, por<br />

exemplo, constitui uma típica oposição binária: não é preciso dizer qual termo é, aqui, privilegiado. As relações<br />

<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e diferença or<strong>de</strong>nam-se, todas, em torno <strong>de</strong> oposições binárias” (SILVA, op. cit., p. 83). Em<br />

relação a Hollywood, Stam e Shohat afirmam que “toda gra<strong>de</strong> binária que opõe o branco anglicano aos outros<br />

negros/vermelhos/amarelos inevitavelmente passa por cima das complexas gradações <strong>de</strong> contradições da cultura<br />

sincrética” (SHOHAT; STAM, op. cit., p. 341).<br />

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branco não é consi<strong>de</strong>rado uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, mas a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, que ganha um caráter <strong>de</strong><br />

invisibilida<strong>de</strong>, segundo Silva. Ele acrescenta que, do mesmo modo que a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />

da diferença, “a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> hegemônica é permanentemente assombrada pelo seu Outro, sem<br />

cuja existência ela não faria sentido” (SILVA, op. cit., p. 84).<br />

Finalmente, tendo em vista a perspectiva relacional da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, compreen<strong>de</strong>mos<br />

como sua construção é dotada <strong>de</strong> eficácia social e produz efeitos sociais reais, pois ela se dá<br />

no interior <strong>de</strong> contextos sociais que <strong>de</strong>terminam a posição dos agentes e orientam suas<br />

representações e suas escolhas com base no equilíbrio entre os diferenciais <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. Os<br />

WASP, o grupo estabelecido <strong>de</strong>ntro dos EUA, po<strong>de</strong> classificar os <strong>de</strong>mais por ocupar posições<br />

privilegiadas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. Eles criaram um passado para si, responsável por um estoque <strong>de</strong><br />

lembranças, tabus e valores compartilhados pelos membros do grupo, que lhes permitiu<br />

<strong>de</strong>senvolver o sentimento <strong>de</strong> possuírem algo em comum, no que os mitos fundadores e a<br />

narrativa <strong>de</strong> formação nacional tiveram papel fundamental.<br />

A narrativa-mestra hollywoodiana afirmou a América WASP, legitimando as ligações<br />

com a Europa ao construir um retrato simpático do velho continente como terra <strong>de</strong> origem, em<br />

contrapartida às caricaturas da Ásia, África e América Latina como cenários para “proezas<br />

audaciosas <strong>de</strong> exploradores louros e <strong>de</strong> chapéu <strong>de</strong> cortiça” 18 . Os filmes <strong>de</strong> Hollywood, por<br />

meio da estereotipia dos latinos e outros étnicos, ou através dos espaços <strong>de</strong> não-representação<br />

ou invisibilida<strong>de</strong> das minorias para os quais Stam e Shohat chamam a atenção, revelam “uma<br />

atração e repulsão ambivalentes em relação à diferença cultural” (SHOHAT; STAM, op. cit.,<br />

p. 332). A manutenção dos diferenciais <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r na socieda<strong>de</strong> norte-americana resultou no<br />

bloqueio por Hollywood da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> povos multiculturais como os latinos se auto-<br />

representarem. Ao contrário dos ju<strong>de</strong>us, que pela cor da pele foram assimilados mais<br />

facilmente pelo grupo estabelecido, latinos e afro-americanos tiveram pouco po<strong>de</strong>r sobre sua<br />

representação e sobre a dos outros grupos.<br />

A latinida<strong>de</strong> para Hollywood é, como vimos, um estigma social. Assim, a presença <strong>de</strong><br />

estrelas latinas nos filmes era apenas tolerável. Ainda que tivessem peles brancas e pu<strong>de</strong>ssem<br />

“eliminar, na medida do possível, os sinais exteriores da diferença negativa” 19 e camuflar sua<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> étnica, interpretando outros estrangeiros (leia-se, europeus) em filmes, os latinos<br />

não tinham o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> se representar. Hollywood os manteve em seu lugar <strong>de</strong> estigma e não<br />

18 Souto, Gilberto. Cinearte, v. 8, 01 jun 1933.<br />

19 Ver citação na página 12.<br />

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<strong>de</strong>u visibilida<strong>de</strong> à polifonia cultural daquele conjunto <strong>de</strong> grupos étnico-nacionais por não se<br />

interessar que os artistas latinos, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma narrativa-mestra euro-americana,<br />

apresentassem outras i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s, senão a que o sistema havia construído para eles.<br />

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