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Que América Latina se sincere - Acervo Paulo Freire

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transnacional, que foram uma constante na história da associação, como ressaltamos no<br />

capítulo 2, conformando discussões relacionadas às lutas políticas dos anos 70 pela<br />

independência das colônias portuguesas como Cabo Verde, Guine Bissau, Angola e<br />

Moçambique. Tanto é que em todo 20 de janeiro é homenageado Amílcar Cabral, líder da<br />

independência cabo-verdiana e guineana, evento considerado por <strong>se</strong>us organizadores como<br />

comemoração inscrita nas demandas pela libertação dos povos da África negra.<br />

Uma particularidade da rede de militância da década de 80 foi a de articular agentes<br />

de diferentes nacionalidades numa perspectiva étnico-racial. Cabe mencionar que houve na<br />

cidade de Buenos Aires uma confluência de pessoas de diferentes paí<strong>se</strong>s de <strong>América</strong><br />

<strong>Latina</strong>, sobretudo do Uruguai e do Brasil 97 , que migraram entre a década de 1970 e 1980<br />

tanto por motivos econômicos quanto por conta da repressão das ditaduras em <strong>se</strong>us paí<strong>se</strong>s<br />

de origem. Dentre eles, as pessoas que <strong>se</strong> dedicaram à militância afrodescendente, traziam<br />

diferentes histórias de organização e lutas ligadas a suas experiências particulares como<br />

negros em <strong>se</strong>u país de origem.<br />

O sinal “negro” era mobilizado como deslocamento da categoria “imigrante” que,<br />

através dos anos 80 e 90, passou a denotar redefinições racializadas de pertencimento e<br />

subjetividade.<br />

Miriam Gomes, uma dessas militantes, é filha de um casal de cabo-verdianos que<br />

imigrara na década de 1950 para Argentina. Mora na casa de <strong>se</strong>us pais em Wilde (na região<br />

metropolitana de Buenos Aires). É professora de literatura formada na Universidade de<br />

Buenos Aires e trabalha no ensino médio. Teve uma continuidade de participação na rede<br />

da militância em diferentes momentos desde os anos 80 até a atualidade, tendo uma<br />

importante participação nos processos de transnacionalização nos anos 90 e 2000.<br />

Podemos ressaltar a posição ocupada por manejar algo diferencial: uma filiação à noção de<br />

afrodescendência singular, equacionando sua ascendência cabo-verdiana com noções<br />

inclusivas de afroargentinidade.<br />

Ela ressalta uma contraposição entre o “estilo de militância” dos anos 80,<br />

identificado por ela com o tipo de ativismo dos anos 70: “querendo transformar o mundo”,<br />

97 Os dados migratórios do Instituto Nacional de Estadíticas y Censos (INDEC) correspondentes ao Censo<br />

Nacional do ano 1991 mostram que de um total de população da cidade de Buenos Aires de 2.965.403,<br />

96.557 pessoas são imigrantes de paí<strong>se</strong>s limítrofes, dos quais o 3,6 % são brasileiros e o 42,8 % uruguaios.<br />

Tomo brasileiros e uruguaios por ter essas migrações um componente alto de população negra (questão que<br />

não aparece nos dados censitários).<br />

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