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O Índio nas páginas da Revista A Semana Ilustrada - História ...

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<strong>História</strong>, imagem e narrativas<br />

N o 9, outubro/2009 – ISSN 1808-9895 - http://www.historiaimagem.com.br<br />

O <strong>Índio</strong> <strong>nas</strong> pági<strong>nas</strong> <strong>da</strong> <strong>Revista</strong> A <strong>Semana</strong> Ilustra<strong>da</strong>: a Guerra com o<br />

Paraguai e o nacionalismo em discussão.<br />

Leonam Lauro Nunes <strong>da</strong> Silva<br />

Professor Mestre do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia – IFMT<br />

leonam.lauro@pl.cefetmt.br<br />

Resumo: O trabalho enfoca a construção do nacionalismo em plena guerra com o Paraguai; discussão esta que<br />

enseja uma reflexão sobre as relações na região de fronteira (Brasil, Paraguai e Bolívia), <strong>nas</strong> quais o componente<br />

étnico indígena aparece com destaca<strong>da</strong> atuação. Neste artigo foram utiliza<strong>da</strong>s fontes imagéticas e bibliografia<br />

especializa<strong>da</strong>, detendo-se numa análise mais apura<strong>da</strong> sobre duas charges publica<strong>da</strong>s pela <strong>Revista</strong> A <strong>Semana</strong><br />

Ilustra<strong>da</strong>, edita<strong>da</strong> no Rio de Janeiro.<br />

Palavras-chaves: Nacionalismo, etnia indígena, Fronteira.<br />

Abstract: The work focuses the construction of the nationalism in full war with Paraguay; quarrel this that tries<br />

a reflection on the relations in the border region (Brazil, Paraguay and Bolivia), in which the aboriginal ethnic<br />

component appears with detached performance. In this article visual sources and specialized bibliography had<br />

been used, lingering itself in a more refined analysis on two charges published by the Magazine The Illustrated<br />

Week, edited in Rio de Janeiro.<br />

Key-words: Nationalism, Aboriginal Etnia, Border.


<strong>História</strong>, imagem e narrativas<br />

N o 9, outubro/2009 – ISSN 1808-9895 - http://www.historiaimagem.com.br<br />

As relações na tríplice fronteira protagoniza<strong>da</strong>s por Brasil, Paraguai e Bolívia, entre os<br />

anos de 1865 e 1868 – período em que Corumbá ficou sob ocupação do exército paraguaio -,<br />

suscitaram questões que mereceram uma atenção deti<strong>da</strong>, e, por conseguinte, uma análise<br />

reflexiva por parte deste artigo. Dentre os vários aspectos inerentes a essas relações, a<br />

imbricação entre etnici<strong>da</strong>de – neste estudo, enfatizando a indígena - e nacionalismo emerge<br />

como tema a ser discutido por intermédio de uma bibliografia específica, podendo ser tratado<br />

também a partir <strong>da</strong> leitura de fontes visuais produzi<strong>da</strong>s no decorrer <strong>da</strong> ‘Guerra Grande’ (1864-<br />

1870) 1 .<br />

Ao propor esse trabalho centrado na iconografia <strong>da</strong> Guerra com o Paraguai,<br />

vislumbramos a possibili<strong>da</strong>de de interrogar algumas imagens, com o intuito de que elas nos<br />

revelem muito mais do que o contido nos ‘limites’ do ‘quadro’ inquestionável, inerte. José<br />

D’Assunção Barros, em um artigo denominado Imagens <strong>da</strong> <strong>História</strong>, segue essa premissa:<br />

Em <strong>História</strong>, falamos muito freqüentemente de centralização do poder, de<br />

resistências a esta centralização, às vezes sem a plena consciência de que<br />

estamos ape<strong>nas</strong> operando com uma imagem. Esta plena consciência se perde<br />

porque ninguém questiona esta imagem, porque ela como que se congelou em<br />

conceito e imobilizou nossa imaginação dentro de limites que já não são mais<br />

discutidos 2 .<br />

Empregamos neste texto metodologia consagra<strong>da</strong> no campo imagético, contemplando<br />

os ensinamentos de Erwin Panofsky 3 , bem como fomos ao encontro <strong>da</strong>s técnicas específicas<br />

emprega<strong>da</strong>s na produção <strong>da</strong>s charges, com vistas a empreender a análise almeja<strong>da</strong>. Nesse<br />

último aspecto, valemo-nos do trabalho de Joaquim <strong>da</strong> Fonseca 4 . A pretensão é de trabalhar<br />

também com o ausente; aspectos não explicitados pela imagem, mas que estão latentes no<br />

bojo <strong>da</strong>s relações inter-étnicas, que não devem passar ao largo dos debates sobre fronteira,<br />

Estado e relações inter-regionais. Aliás, seguindo a linha dos eminentes pensadores franceses<br />

Jean Baptiste-Duroselle e Pierre Renouvin, podemos afiançar que tal estudo está em perfeita<br />

consonância com a teoria <strong>da</strong>s relações internacionais por eles proposta, uma vez que<br />

contempla “forças” outrora não leva<strong>da</strong>s em conta, como, por exemplo, a etnici<strong>da</strong>de. A<br />

1<br />

Nomenclatura usa<strong>da</strong> pelos historiadores revisionistas, do início do século XX, que aludia à grande dimensão<br />

alcança<strong>da</strong> pelo embate bélico. Ain<strong>da</strong> hoje, parte <strong>da</strong> historiografia paraguaia se reporta ao conflito utilizando-se<br />

dessa expressão.<br />

2<br />

BARROS, José D’Assunção. Imagens <strong>da</strong> <strong>História</strong>. <strong>Revista</strong> Virtual de Humani<strong>da</strong>des, n.10, v.5, abril/junho.<br />

2004.<br />

3<br />

PANOFSKY, Erwin. Significado <strong>nas</strong> Artes Visuais. São Paulo: ed. Perspectiva, 1978.<br />

4<br />

FONSECA, Joaquim <strong>da</strong>. Caricatura: A imagem gráfica do humor. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 1999.<br />

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iconografia sobre a guerra é rica e diversifica<strong>da</strong>, oriun<strong>da</strong> de técnicas distintas no campo <strong>da</strong><br />

produção imagética. Aqui, trabalhamos com charges veicula<strong>da</strong>s na imprensa brasileira,<br />

publica<strong>da</strong>s pela revista ‘A <strong>Semana</strong> Ilustra<strong>da</strong>’, edita<strong>da</strong> no Rio de Janeiro.<br />

A história <strong>da</strong> charge no Rio de Janeiro começa a despontar em meados do século XIX<br />

com a chega<strong>da</strong> de imigrantes europeus – pintores, arquitetos, desenhistas –, cujos traços<br />

ganham vi<strong>da</strong> com a riqueza de nossos costumes e a fragili<strong>da</strong>de de nossas instituições.<br />

Se atentarmos bem, os desenhos desses pioneiros não se parecem com as charges<br />

produzi<strong>da</strong>s na atuali<strong>da</strong>de, as quais se constituem num produto singular, fruto de progressivo<br />

amadurecimento de forma e conteúdo, cujo traço está ligado de forma crítica aos problemas<br />

<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de na qual se insere. De início, ao contrário, as charges se caracterizavam pela<br />

reprodução fidedigna de personagens, pelo realismo <strong>da</strong>s situações que abor<strong>da</strong>vam e pelo uso<br />

excessivo de textos que menosprezavam a imagem como portadora de estrutura narrativa<br />

particular.<br />

Ao percorrermos os caminhos <strong>da</strong> tradição caricaturista, constatamos que as imagens<br />

trabalha<strong>da</strong>s neste artigo não possuem as características veias humorísticas, provocadoras do<br />

riso, que, em tese, an<strong>da</strong>riam de mãos <strong>da</strong><strong>da</strong>s com os assuntos políticos. Não podem, portanto,<br />

ser enquadra<strong>da</strong>s como caricaturas, uma vez que não se trata, conforme Fonseca, de “um<br />

desenho que, pelo traço, pela seleção criteriosa de detalhes, acentua ou revela certos aspectos<br />

ridículos de uma pessoa ou fato” 5 .<br />

Dessa forma, optamos por considerar as imagens como ‘charges de guerra’, que<br />

funcionam como jogos visuais, estabelecendo situações que nos permitem repensar as<br />

construções de sentido cria<strong>da</strong>s com o desenvolvimento dos meios de comunicação e as<br />

fronteiras entre os domínios <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> pública e priva<strong>da</strong>. Procuram <strong>da</strong>r conta do discurso do<br />

ponto de vista <strong>da</strong> sua capaci<strong>da</strong>de de ‘agir’ e ‘fazer agir’, captando as interações efetua<strong>da</strong>s<br />

entre “sujeitos individuais ou coletivos que nele se inscrevem e que de certo modo nele se<br />

reconhecem” 6 . Assim, o chargista expressa uma idéia simples ou um sentimento na forma de<br />

uma alegoria. A associação de idéias reforça uma ideologia ou visão de mundo que, não<br />

necessariamente, precisa estar atrela<strong>da</strong> ao humor.<br />

O chargista Henrique Fleiuss 7 <strong>nas</strong>ceu em Colônia, na Prússia Renana, a 28 de agosto<br />

de 1824 e faleceu na ci<strong>da</strong>de do Rio de Janeiro em 15 de novembro de 1882. Foi ele o<br />

5 FONSECA, Joaquim <strong>da</strong>. Op. Cit. , p.17.<br />

6 LANDOWSKI, Eric. A Socie<strong>da</strong>de Refleti<strong>da</strong>. Trad. Eduardo Brandão. São Paulo: Educ / Pontes, 1992: p. 23.<br />

7 Ver mais a respeito <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e obra do prussiano Henrique Fleiuss em: FLEIUSS, Max. Centenário de Henrique<br />

Fleiuss. Rio de Janeiro: Imprensa nacional, 1923.<br />

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fun<strong>da</strong>dor <strong>da</strong> revista ‘A <strong>Semana</strong> Ilustra<strong>da</strong>’, que tanto prestígio gozou junto aos leitores durante<br />

o tempo em que circulou pela sede <strong>da</strong> corte imperial, de 1860 a 1876.<br />

Fleiuss era amigo particular do Imperador, D. Pedro II. Durante os anos em que sua<br />

<strong>Revista</strong> circulou o Monarca não foi caricaturado uma única vez. Essa postura rendeu ao<br />

prussiano inúmeras críticas de seus pares, sendo o mais notório de todos eles, o italiano<br />

Ângelo Agostini, que, em 1869, lançara a <strong>Revista</strong> Ilustra<strong>da</strong>, que veio ocupar espaço no<br />

mercado editorial <strong>da</strong> Corte.<br />

A revista <strong>Semana</strong> Ilustra<strong>da</strong> comportou em seus quadros chargistas como H. Aranha,<br />

Flumen Junior, A. Seelinger e Aurélio de Figueiredo. Nomes expoentes <strong>da</strong> época como<br />

Machado de Assis, Quintino Bocaiúva, Pedro Luís, Joaquim Manuel de Macedo, Joaquim<br />

Nabuco e Bernardo Guimarães integraram as fileiras <strong>da</strong> publicação, que também contou com<br />

correspondentes na campanha do Paraguai, tais como: Joaquim José Inácio, futuro Visconde<br />

de Inhaúma, Antônio Luis Von Hoonholtz, futuro barão de Tefé, e Alfredo d’Escragnolle<br />

Taunay.<br />

No período em que ocorreu a ‘Guerra Grande’, o conjunto <strong>da</strong>s charges publica<strong>da</strong>s<br />

pela imprensa ilustra<strong>da</strong> <strong>da</strong> Corte estabelece uma sóli<strong>da</strong> imagem: o Império do Brasil e o<br />

Paraguai de Francisco Solano Lopez foram os principais contendores no conflito bélico que<br />

sacudiu a Bacia do Prata entre 1864 e 1870. Os outros integrantes <strong>da</strong> então denomina<strong>da</strong><br />

Tríplice Aliança – Argentina e Uruguai - tiveram um papel secundário.<br />

Do lado paraguaio também foram produzi<strong>da</strong>s charges aos borbotões, muitas delas de<br />

cunho anedótico, racista e de exaltação patriótica explícita. Explica<strong>da</strong>s à luz de um Estado que<br />

controlava os meios de comunicação, perseguindo aqueles que se contrapunham ao regime<br />

lopista. Nessa perspectiva, dentre as publicações, gozavam de destaque o ‘Cabichuí’ (abelha<br />

em guarani) e ‘El Centinela’. O primeiro era, inclusive, distribuído no front de batalha com a<br />

intenção de ‘animar para o fogo’ o contingente militar paraguaio. Os militares brasileiros que<br />

tomavam contato com os impressos em meio às refregas com o inimigo, não escondiam a<br />

ojeriza com relação ao conteúdo do material 8 .<br />

André Toral, autor de Imagens em desordem, obra que se tornou referência no campo<br />

<strong>da</strong> iconografia sobre a Guerra com o Paraguai – mereci<strong>da</strong>mente, diga-se de passagem - fala a<br />

respeito de uma atmosfera de liber<strong>da</strong>de na corte, onde os órgãos de imprensa podiam exercitar<br />

o seu ofício sem constrangimentos. Diz mais: que a imprensa ilustra<strong>da</strong> se mostrou<br />

8 CERQUEIRA, Dionísio. Reminiscências <strong>da</strong> Campanha do Paraguai. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército,<br />

1980: p.121.<br />

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‘oportunista’, pois, quando, nos primeiros anos de conflito os aliados estiveram em sérias<br />

dificul<strong>da</strong>des, as críticas dirigi<strong>da</strong>s ao Imperador e ao seu gabinete eram mais áci<strong>da</strong>s, panorama<br />

que veio mu<strong>da</strong>r após 1868, com a vitória em Humaitá, <strong>da</strong> qual falaremos mais adiante 9 . Por<br />

sua vez, Mauro César Silveira, pesquisador gaúcho, em seu livro intitulado A Batalha de<br />

Papel – A Guerra do Paraguai através <strong>da</strong> caricatura 10 , diz que o Estado imperial usou a<br />

Imprensa Ilustra<strong>da</strong> como ferramenta propagandística de seus ideais.<br />

Ao lançarmos mão <strong>da</strong>s charges <strong>da</strong> revista A <strong>Semana</strong> Ilustra<strong>da</strong>, de Henrique Fleiuss,<br />

buscamos perceber a arquitetura de uma construção ideária, que esteve em consonância com<br />

os discursos <strong>da</strong>queles que representavam o Estado Imperial. Se fizermos um exercício<br />

comparativo com outras charges veicula<strong>da</strong>s em outros meios de comunicação <strong>da</strong> época,<br />

veremos que o teor ideológico contido <strong>nas</strong> imagens seleciona<strong>da</strong>s é, praticamente, o de uma<br />

exaltação aos feitos alcançados pelo exército brasileiro em campanha. Não que falte ‘vigor<br />

político’ às representações; pelo contrário, elas ensejam uma visão crítica, e questionamentos,<br />

a partir de uma opção-orientação editorial, a nosso ver, bem defini<strong>da</strong>.<br />

Em que pese não ser inverossímil a assertiva que diz ter a imprensa gozado de<br />

liber<strong>da</strong>de para se manifestar conforme melhor lhe conviesse durante o evento beligerante,<br />

também é necessário enfatizar o grau de comprometimento dos empresários, donos dos<br />

veículos de comunicação, com as facções políticas que à época travavam uma batalha<br />

ferrenha. Isso era perceptível no caso de Fleiuss com o Imperador e o seu séquito, cujo<br />

posicionamento ‘pouco crítico’ ficava claro <strong>nas</strong> pági<strong>nas</strong> de sua publicação. Ao produzir<br />

‘charges de adesão’ à monarquia, a revista A <strong>Semana</strong> Ilustra<strong>da</strong> adotou uma postura coerente<br />

ao longo <strong>da</strong> guerra, escapando <strong>da</strong> homegeinização feita por Toral à imprensa ilustra<strong>da</strong> no que<br />

concerne ao ‘oportunismo’.<br />

Duas charges foram utiliza<strong>da</strong>s com o intuito de instigar a reflexão de como o Estado<br />

brasileiro se valeu do componente étnico indígena como instrumento capaz de fomentar um<br />

sentimento nacionalista, que visava conferir legitimi<strong>da</strong>de às ações bélicas desenvolvi<strong>da</strong>s no<br />

campo de batalha. Outra questão digna de apreciação é a contradição entre práticas e<br />

discursos na construção desse nacionalismo, especialmente <strong>nas</strong> regiões de fronteira (Brasil,<br />

Paraguai e Bolívia), afasta<strong>da</strong>s dos centros emanadores de poder.<br />

9<br />

TORAL, André. Imagens em Desordem: iconografia <strong>da</strong> Guerra do Paraguai (1864-1870) – São Paulo:<br />

Humanitas/FFCL-USP, 2002: p.63.<br />

10<br />

SILVEIRA, Mauro César. A Batalha de Papel – A Guerra do Paraguai através <strong>da</strong> caricatura. Porto Alegre:<br />

L&PM, 1996.<br />

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A primeira imagem analisa<strong>da</strong> deixa evidencia<strong>da</strong> a intenção do chargista em conferir à<br />

figura do índio um caráter heróico, líder <strong>da</strong> epopéia bélica brasileira contra os ‘inimigos <strong>da</strong><br />

Pátria’.<br />

Charge n°. 01<br />

Vêem-se na charge dois personagens a capitanear um grande contingente de homens<br />

armados, caminhando por um terreno situado num alto relevo, de onde se pode avistar, de<br />

cima, uma batalha trava<strong>da</strong> <strong>nas</strong> águas. Em meio à intensa fumaça, vemos navios de guerra em<br />

plena ativi<strong>da</strong>de. A figura de um homem trajando uma indumentária clássica, portando uma<br />

espa<strong>da</strong> e um escudo, está um passo a frente, quase ladea<strong>da</strong> pela de outro homem, com feição<br />

jovial, de compleição física vigorosa, usando vestes em palha, cocar de pe<strong>nas</strong>, munido de uma<br />

lança e a empunhar também um escudo. No meio <strong>da</strong> multidão emerge uma bandeira com<br />

dizeres que saú<strong>da</strong>m um santo, pedindo proteção para a seqüência <strong>da</strong> caminha<strong>da</strong> belicosa.<br />

texto:<br />

A legen<strong>da</strong> <strong>da</strong> charge revela qual o tema central <strong>da</strong> idéia veicula<strong>da</strong>. Temos o seguinte<br />

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S. Sebastião – Guiando o Brasil contra os inimigos <strong>da</strong> Pátria<br />

Com passo firme e mão valente arma<strong>da</strong><br />

Brasil, guiar-te-hei ao céo <strong>da</strong> glória<br />

Tens inimigos? Tu tens a tua espa<strong>da</strong><br />

Exulta-te no campo e cantarás victória 11 .<br />

São Sebastião, padroeiro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de do Rio de Janeiro, foi um mártir e santo cristão,<br />

morto durante a perseguição imposta pelo imperador Diocleciano. O seu nome deriva do<br />

grego sebastós, que significa divino. De acordo com Actos apócrifos, atribuídos a Santo<br />

Ambrósio de Milão, Sebastião era um sol<strong>da</strong>do que se teria alistado no exército romano cerca<br />

de 283 (depois <strong>da</strong> era comum). Diocleciano, ignorando tratar-se de um cristão, designou-o<br />

capitão <strong>da</strong> sua guar<strong>da</strong> pessoal - a Guar<strong>da</strong> Pretoriana. Aproxima<strong>da</strong>mente em 286, a sua conduta<br />

bran<strong>da</strong> para com os prisioneiros cristãos levou o imperador a julgá-lo sumariamente como<br />

traidor, tendo ordenado a sua execução por meio de flechas (que se tornaram o seu símbolo e<br />

presença constante na sua iconografia).<br />

Curioso perceber que, ao conceber a imagem, o chargista parece ter ignorado o trecho<br />

final <strong>da</strong> trajetória de vi<strong>da</strong> de Sebastião, ao se valer ape<strong>nas</strong> de sua disposição para o combate,<br />

não considerando sua atitude complaciva para com os prisoneiros de guerra cristãos. É como<br />

se o reabilitasse aos olhos do poder imperial, delegando a São Sebastião papel importante na<br />

linha de frente do exército. Afinal de contas, conduzia o grande contingente militar tendo ao<br />

seu lado o símbolo nacional brasileiro, o índio – do qual tratamos mais adiante -, que, por sua<br />

vez, ostentava em seu escudo o emblema <strong>da</strong> monarquia brasileira. Monarquia esta que carrega<br />

consigo indiscutível legado lusitano.<br />

Assim, a presença de São Sebastião nos remete a um outro ícone, seu homônimo: D.<br />

Sebastião (1554-1578), rei português derrotado e desaparecido na histórica batalha de<br />

Alcácer-Quibir, no Marrocos. O jovem e impetuoso rei de Portugal lega ao império lusitano<br />

uma crise que em dois anos consumaria o domínio espanhol, que perduraria por seis déca<strong>da</strong>s.<br />

A decadência que se segue conduz os súditos enlutados a procurar refúgio no sebastianismo -<br />

a ‘máquina’ que se alastrou pelos mares buscará <strong>nas</strong> len<strong>da</strong>s medievais dos heróis imortais, no<br />

‘sebastianismo’, o consolo e a espera de um reino de justiça e paz. Fundia-se assim, pela<br />

primeira vez na emergente história do Brasil, e com impactos que perdurariam, dois<br />

11 Segundo Salles, 2003. Fonte: A <strong>Semana</strong> Ilustra<strong>da</strong>, de 22/01/1865.<br />

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elementos <strong>da</strong> psicologia <strong>da</strong>s massas, o mito e o paternalismo 12 . Ain<strong>da</strong> hoje é marcante <strong>nas</strong><br />

vastas manifestações do folclore brasileiro a figura do rei ‘bastião’ do nacionalismo<br />

português, bom e salvador, de tudo provedor, tão mitológico quanto fantasioso. Tem-se,<br />

assim, <strong>nas</strong> palavras de Luis <strong>da</strong> Camara Cascudo “um sentimento informe e coletivo de<br />

superação do trágico cotidiano e sua obstina<strong>da</strong> esperança na presença miraculosa de uma<br />

força nacional e queri<strong>da</strong>” 13 .<br />

Embora o chargista tenha <strong>da</strong>do destaque à “participação” de São Sebastião na<br />

conten<strong>da</strong> militar, ele não está só. Traz quase ao seu lado, um passo atrás, uma figura que<br />

cumpriu função destaca<strong>da</strong> na tentativa de construção do Estado-Nação: o índio. Fleiuss foi o<br />

primeiro a retratar o índio como símbolo <strong>da</strong> luta encampa<strong>da</strong> contra os ‘inimigos <strong>da</strong> pátria’,<br />

que, ao contrário do senso comum, não se restringiram ape<strong>nas</strong> aos paraguaios.<br />

Posteriormente, outras publicações seguiram o mesmo caminho, embora, com uma visão<br />

diferencia<strong>da</strong>, crítica. O índio Brasil <strong>da</strong> <strong>Semana</strong> Ilustra<strong>da</strong> aparece vigoroso, forte, altivo, com<br />

ares triunfantes. Já na revista O Cabrião, por exemplo, foi retratado prostrado numa cama,<br />

convalescendo de uma enfermi<strong>da</strong>de grave, circun<strong>da</strong>do por políticos do gabinete liberal<br />

chefiado pelo ministro Zacharias de Góes e Vasconcelos, que ministravam a ele<br />

medicamentos de caráter duvidoso (ver figura 1 do anexo).<br />

Impossível dissociar a produção <strong>da</strong>s imagens do contexto literário <strong>da</strong> época, no qual o<br />

índio aparecia como símbolo romântico de um incipiente nacionalismo. Ou seja, não era uma<br />

representação aleatória. O indianismo, que marcou a segun<strong>da</strong> metade do século XIX, tendo<br />

como representantes escritores do naipe de José de Alencar e Gonçalves Dias, integrou um<br />

projeto oficial, patrocinado pelo Imperador D. Pedro II, um dos seus mais notórios<br />

entusiastas. O monarca, que foi um reconhecido amante <strong>da</strong>s artes, inclusive, financiou a<br />

publicação do poema épico ‘A Confederação dos Tamoyos’, de Gonçalves de Magalhães, em<br />

1856, que guin<strong>da</strong>va o silvícola à condição de protagonista do momento fun<strong>da</strong>cional <strong>da</strong> nação<br />

brasileira. A nacionali<strong>da</strong>de encarna<strong>da</strong> na figura do índio encontrou <strong>nas</strong> pági<strong>nas</strong> inspira<strong>da</strong>s de<br />

O Guarani belo logradouro do discurso que revelava um ‘habitante <strong>da</strong> terra’ civil,<br />

cavalheiresco e heróico, conforme o leitor pode apreciar a seguir:<br />

Em pé, no meio do espaço que formava a grande abóba<strong>da</strong> de árvores,<br />

encostado a um velho tronco decepado pelo raio, via-se um índio na flor <strong>da</strong><br />

i<strong>da</strong>de. Uma simples túnica de algodão, a que os indíge<strong>nas</strong> chamavam de<br />

12 HERMANN, Jacqueline. No reino do desejado. São Paulo: Companhia <strong>da</strong>s Letras, 1998.<br />

13 CASCUDO, L. <strong>da</strong> Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. Belo Horizonte: Itatiaia/EDUSP, 1988.<br />

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“aimará”, aperta<strong>da</strong> a cintura por uma faixa de pe<strong>nas</strong> escarlates, caía-lhe dos<br />

ombros até o meio <strong>da</strong> perna, e desenhava o talhe delgado e esbelto como um<br />

junco selvagem. Sobre a alvura diáfana do algodão, sua pele, cor de cobre,<br />

brilhava com reflexos dourados; os cabelos pretos cortados rentes, a tez lisa, os<br />

olhos grandes com cantos exteriores erguidos para a fronte; a pupila negra,<br />

móbil, cintilante; a boca forte, mas bem modela<strong>da</strong> e guarneci<strong>da</strong> de dentes<br />

alvos, <strong>da</strong>vam ao rosto pouco oval a beleza inculta <strong>da</strong> graça e <strong>da</strong> inteligência.<br />

Tinha a cabeça cingi<strong>da</strong> por uma fita de couro, á qual se prendiam do lado<br />

esquerdo duas plumas matiza<strong>da</strong>s, que descrevendo uma longa espiral, vinham<br />

roçar com as pontas negras o pescoço flexível. Era de alta estatura, tinha mãos<br />

delica<strong>da</strong>s; a perna ágil e nervosa, orna<strong>da</strong> com uma axorca de frutos amarelos,<br />

apoiava-se sobre um pé pequeno, mas firme no an<strong>da</strong>r e veloz na corri<strong>da</strong>,<br />

segurava o arco e as flechas com a mão direita caí<strong>da</strong>, e com a esquer<strong>da</strong><br />

mantinha verticalmente diante de si um longo forcado de pau enegrecido pelo<br />

fogo 14 .<br />

Convém não deixar de mencionar, a influência exerci<strong>da</strong> pelos escritores colonialistas<br />

nos trabalhos dos autores indianistas. Estes se valeram, reitera<strong>da</strong>s vezes, <strong>da</strong>s descrições feitas<br />

por cronistas do período colonial. Exemplo disso é José de Alencar, que faz questão de<br />

enfatizar, numa nota de ro<strong>da</strong>pé de sua obra clássica, ter sido guiado pelos escritos de Gabriel<br />

Soares, <strong>da</strong>tados de 1580, ao conceber o ‘tipo’ indígena <strong>da</strong> descrição acima.<br />

Voltando os olhares para a legen<strong>da</strong> <strong>da</strong> charge, encontramos os seguintes dizeres: “São<br />

Sebastião guiando o Brasil contra os inimigos <strong>da</strong> Pátria”. A imagem foi publica<strong>da</strong> pela revista<br />

A <strong>Semana</strong> Ilustra<strong>da</strong> no início de 1865, quando a guerra com o Paraguai estava no seu<br />

princípio. O cenário onde atuam as forças militares brasileiras capitanea<strong>da</strong>s por São Sebastião<br />

e pelo <strong>Índio</strong> Brasil é o <strong>da</strong> República Oriental do Uruguai. País ‘chave’ quando se busca<br />

entender o arranjo de forças que mobilizavam as relações na região platina. Assim, a charge<br />

nos remete às ações promovi<strong>da</strong>s pelo Império Brasileiro no Uruguai, que tinham como<br />

objetivo apoiar o ‘colorado’ Venâncio Flores na tentativa de ascender ao poder, derrubando o<br />

então Presidente Atanásio <strong>da</strong> Cruz Aguirre, do partido ‘blanco’.<br />

No Uruguai, o Brasil realizou três intervenções político-militares. Na ver<strong>da</strong>de, essas<br />

intervenções brasileiras que se estenderam de 1852 a 1862 não atingiram nenhum dos<br />

objetivos propostos. Não mantiveram o poder <strong>nas</strong> mãos dos governantes legais nem<br />

eliminaram o caudilhismo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> República Oriental 15 .<br />

Em abril de 1864, o Brasil enviou ao Uruguai uma missão chefia<strong>da</strong> pelo conselheiro<br />

José Antonio Saraiva para exigir o pagamento dos prejuízos causados a fazendeiros gaúchos<br />

14 ALENCAR, José de. O Guarani. São Paulo: Editora Ática S.A., 1991: 20-21.<br />

15 COSTA, Wilma Peres. A espa<strong>da</strong> de Dâmocles: o exército, a guerra do Paraguai e a crise do Império. São<br />

Paulo, Hucitec/Ed. <strong>da</strong> Unicamp, 1996.<br />

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por fazendeiros uruguaios, em conflitos de fronteira. O presidente uruguaio, Atanásio<br />

Aguirre, do partido dos blancos, recusou-se a atender às exigências brasileiras.<br />

Após uma série de tentativas frustra<strong>da</strong>s de negociação pela via diplomática, o governo<br />

imperial brasileiro através do Conselheiro José Antonio Saraiva deu um ultimatum para o<br />

presidente uruguaio, a quem restava somente capitular ou confiar na aliança com o Paraguai,<br />

embora esta tivesse cunho tácito. O Paraguai repudiou veementemente o procedimento do<br />

Brasil em nota envia<strong>da</strong> pelo Ministro de relações exteriores, José Berges. Atrelou a iniciativa<br />

do Brasil à segurança nacional do Paraguai. Seguiu-se a esse momento histórico, com a ação<br />

brasileira no Uruguai, a apreensão do navio Marquês de Olin<strong>da</strong> que transportava o presidente<br />

<strong>da</strong> Província de Mato-Grosso e a ocupação dessa província, <strong>da</strong>ndo início à guerra entre Brasil<br />

e Paraguai.<br />

Com base na <strong>da</strong>ta em que foi publica<strong>da</strong> e nos elementos contidos nela, concluímos que<br />

a charge alude à toma<strong>da</strong> <strong>da</strong> praça de Paissandu, feito de armas <strong>da</strong> maior relevância, ocorrido<br />

na manhã de 02 de janeiro de 1865, após 52 horas de vigoroso combate. O General João<br />

Propício Menna Barreto esteve no comando <strong>da</strong>s ações do exército brasileiro. Conforme<br />

podemos observar na figura número 1, a operação militar contou com ações coordena<strong>da</strong>s por<br />

terra e água. Enfatiza-se a decisiva participação <strong>da</strong> esquadra brasileira no sucesso <strong>da</strong> empreita.<br />

Esquadra imperial que atuou sob o comando de Joaquim Marques Lisboa, o almirante<br />

Taman<strong>da</strong>ré. Temos, ancorados em fontes oficiais, tal qual uma circular expedi<strong>da</strong> pelo<br />

Ministério dos Negócios Estrangeiros no dia 22 de janeiro de 1865, descrição pormenoriza<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> batalha que se desenrola na charge.<br />

O primeiro ataque contou com a atuação de 350 infantes marinheiros brasileiros e 600<br />

homens do exército nacional, acometendo a praça de Paissandu, que se encontrava bem<br />

fortifica<strong>da</strong> e guarneci<strong>da</strong> por cerca de 1.200 sol<strong>da</strong>dos. Na segun<strong>da</strong> investi<strong>da</strong>, as forças<br />

imperiais tinham a sua disposição 1.500 homens, aos quais se juntaram outros 600 sob o<br />

mando do General Flores. Esse contingente pelejou contra aproxima<strong>da</strong>mente 1.100 sitiados,<br />

coman<strong>da</strong>dos pelos oficiais de alta patente Leandro Gomes e Lucas Pires, ‘inimigos <strong>da</strong> pátria’,<br />

que <strong>nas</strong> palavras do re<strong>da</strong>tor do ministério imperial “pagaram com a vi<strong>da</strong> seus crimes” 16 . O<br />

relato, mesmo possuindo caráter oficial - o que, em teoria, poderia amenizar na documentação<br />

o grau de violência extravasado na batalha –, deixa transparecer o quão sanguinolento foi o<br />

embate com os ‘blancos’ uruguaios. Interessante perceber que na referencia<strong>da</strong> circular há um<br />

16 Caderno do CHDD, Ano III, nº. 4 / Fun<strong>da</strong>ção Alexandre Gusmão. Centro de <strong>História</strong> e Documentação<br />

Diplomática. Brasília, 2004: p. 210.<br />

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trecho em que é justifica<strong>da</strong> a ação brasileira, se antecipando a prováveis reprimen<strong>da</strong>s por parte<br />

dos agentes de governos estrangeiros residentes no Uruguai quanto a possíveis ‘excessos’<br />

cometidos pelos militares brasileiros. Eis a citação:<br />

Se houve algum excesso <strong>da</strong> parte dos que investiram a praça nos dias 31 de<br />

dezembro, 1 e 2 do corrente mês, esses excessos não podem ser atribuídos às<br />

tropas de mar e terra do Brasil, a cuja generosi<strong>da</strong>de devem a liber<strong>da</strong>de os<br />

oficiais que haviam caído em poder dos generais brasileiros. Por sua parte, o<br />

general Flores anistiou a todos os ci<strong>da</strong>dãos orientais, mesmo militares, ou<br />

empregados civis comprometidos por causas políticas. Este procedimento<br />

contrasta com as atroci<strong>da</strong>des de seus adversários e as medi<strong>da</strong>s bárbaras<br />

adota<strong>da</strong>s pelo governo de Montevidéu, algumas <strong>da</strong>s quais excitaram a<br />

indignação dos próprios agentes estrangeiros ali residentes. Aquele governo,<br />

vendo próximo o termo do seu domínio, depois <strong>da</strong> derrota de Paissandu, em<br />

seu desespero, chegou a ameaçar de ser passado pelas armas todo aquele que,<br />

dentro de 48 horas, não se apresentasse para ser alistado no seu exército, e<br />

chamado ao serviço militar todo o filho do país maior de 15 anos 17 .<br />

Salienta-se a importância estratégica <strong>da</strong> intervenção brasileira no Uruguai, que fez<br />

ascender ao poder Venâncio Flores, aliado do Império brasileiro. O presidente argentino<br />

Bartolomé Mitre, às voltas com movimentos insurgentes <strong>nas</strong> províncias de Entre Rios e<br />

Corrientes, e preocupado com possíveis acordos destes com o governo paraguaio, declarou,<br />

em princípio, neutrali<strong>da</strong>de perante o conflito. Mas, ao constatar incursões paraguaias em seu<br />

território, rumo ao Rio Grande do Sul, também foi impelido a declarar guerra contra<br />

Francisco Solano Lopes. Fruto dessa conjuntura política favorável, formalizou-se a união<br />

entre Brasil, Argentina e Uruguai através do Tratado <strong>da</strong> Tríplice Aliança, assinado no dia 1º<br />

de maio de 1865, em Buenos Aires.<br />

Depois de montado o cenário, a imagem nos convi<strong>da</strong>, dentre outros aspectos, a pensar<br />

sobre a função desempenha<strong>da</strong> pela Igreja, bem como a atuação do índio no transcurso de o<br />

embate militar. A imagem é prenha de significados. Junto com os batalhões, via de regra,<br />

seguia um religioso sob o desígnio de Capelão-mor. A ele incumbía-se a tarefa de <strong>da</strong>r<br />

extremunção aos falecidos em combate, bem como de ministrar cerimônias religiosas nos<br />

acampamentos, zelando assim pela saúde espiritual dos combatentes. Não eram raras as vezes<br />

em que aconteciam procissões em homenagem a santos. Dentre as prerrogativas do sacerdote<br />

estava a dos aconselhamentos; muito úteis em face <strong>da</strong> atmosfera hostil <strong>da</strong> guerra, onde<br />

17 Caderno do CHDD, Ano III, nº. 4 / Fun<strong>da</strong>ção Alexandre Gusmão. Centro de <strong>História</strong> e Documentação<br />

Diplomática. Brasília, 2004: 212<br />

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somente os códigos disciplinares impostos pelo alto comando militar não eram suficientes<br />

para evitar e dirimir distúrbios no seio <strong>da</strong> sol<strong>da</strong>desca. Assim, constata-se o consórsio entre<br />

Igreja e Estado, atuando de forma coordena<strong>da</strong> em busca de um objetivo comum. E isso, de<br />

certa forma, fica patente quando nos detemos sobre a imagem em questão, onde o mártir<br />

católico aparece conduzindo o exército brasileiro em marcha.<br />

Dentro desse contexto, exalta-se a figura do índio, símbolo romântico, que agora,<br />

imbuído de um espírito guerreiro, pega em armas para ‘vingar o honra <strong>da</strong> pátria macula<strong>da</strong><br />

pela ambição paraguaia’. A leitura <strong>da</strong> charge desvela uma construção leva<strong>da</strong> a cabo pelo<br />

Estado brasileiro, que aproveitou o ensejo do conflito para difundir o sentimento nacionalista<br />

no seio <strong>da</strong> população. Emblemático o elo estabelecido pelos chargistas entre a religiosi<strong>da</strong>de, o<br />

índio e o Estado. O indígena aparece representando o Império e sob a ‘proteção’ <strong>da</strong> igreja.<br />

Envolto por uma áurea mística, era como se o ‘divino’ lhe conferisse forças para que pudesse<br />

prosseguir na diligência militar. Porém, ao analisar a participação efetiva do índio no conflito,<br />

constatamos que o ‘modus operandi’ dos diferentes grupos, situados na região fronteiriça do<br />

Brasil com seus vizinhos, destoa <strong>da</strong> idéia de subordinação aos interesses do governo, presente<br />

na imagem analisa<strong>da</strong>.<br />

Rosely Batista Miran<strong>da</strong> de Almei<strong>da</strong>, autora <strong>da</strong> dissertação intitula<strong>da</strong> A presença<br />

indígena na Guerra com o Paraguai (1864-1870) 18 , lega relevante contribuição à<br />

historiografia ao analisar a participação do índio na conten<strong>da</strong> militar. Trabalho este que<br />

desmistifica a idéia de uma atuação complacente por parte <strong>da</strong>s populações indíge<strong>nas</strong> situa<strong>da</strong>s<br />

na região de fronteira em relação às decisões toma<strong>da</strong>s, na corte imperial, pelos man<strong>da</strong>tários<br />

brasileiros. Seguindo essa linha de raciocínio, entendemos que as ‘nações’ eram movi<strong>da</strong>s por<br />

interesses próprios, que visavam satisfizer as necessi<strong>da</strong>des mais prementes dos seus membros.<br />

Este agir autônomo verificado nos distintos grupos étnicos repercutia dentre os coman<strong>da</strong>ntes<br />

militares, que se viam obrigados a lançarem mão de ‘missões de caráter diplomático’ com<br />

vistas a arregimentar acordos com os chefes indíge<strong>nas</strong>; lideranças que sofriam assédio<br />

também do comando militar paraguaio.<br />

Na sequência, quando <strong>da</strong> análise a respeito <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> charge, discutimos o quão<br />

contraditória é a relação entre o discurso presente <strong>nas</strong> pági<strong>nas</strong> de A <strong>Semana</strong> Ilustra<strong>da</strong> e as<br />

práticas vivencia<strong>da</strong>s <strong>nas</strong> regiões fronteiriças durante o transcorrer <strong>da</strong> Guerra.<br />

18 Ver mais a respeito, lendo: ALMEIDA, Rosely Batista Miran<strong>da</strong> de. A presença indígena na Guerra com o<br />

Paraguai. Dissertação de Mestrado – Programa de Pós-graduação em <strong>História</strong>. Cuiabá: UFMT, 2006.<br />

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A segun<strong>da</strong> peça dos chargistas é composta por ape<strong>nas</strong> dois personagens, que, apoiados<br />

um ao outro, seguem em marcha por um terreno de aspecto hostil, trajados com cocares e<br />

vestes de pe<strong>nas</strong>, palha e pele de onça pinta<strong>da</strong>, a empunharem lanças, revelando-se numa<br />

postura altiva, de vencedores.<br />

Na legen<strong>da</strong> <strong>da</strong> charge, lê-se:<br />

Charge nº. 2<br />

Assunto Épico – A gentil Lindóia e seu pai Brasil vão visitar as prisões de<br />

Humaitá e convi<strong>da</strong>r o cacique dos guaranis para o estrondoso baile oferecido a<br />

D. Desafronta Nacional. Hão de figurar no baile dez músicos de couraças, que<br />

deleitarão com o ribombo de suas harmonias os echos do Paraguai 19 .<br />

O assunto em pauta é a tentativa do exército aliado de transpor a barreira de Humaitá;<br />

ações militares que ganharam contornos épicos devido às imensas dificul<strong>da</strong>des encontra<strong>da</strong>s.<br />

Ti<strong>da</strong> como inexpugnável e compara<strong>da</strong> à fortaleza russa Sebastopol – pelas forças emprega<strong>da</strong>s<br />

na sua defesa -, <strong>da</strong> Guerra <strong>da</strong> Criméia (1853-1856), Humaitá era ponto chave para as<br />

pretensões alia<strong>da</strong>s de chegarem à capital paraguaia, Assunção. Mais tarde, chegou-se a<br />

conclusão que mais importante do que os recursos bélicos postos a disposição <strong>da</strong> guarnição<br />

paraguaia de defesa, a geografia <strong>da</strong> fortaleza, em forma de ferradura, numa <strong>da</strong>s curvaturas do<br />

19 <strong>Revista</strong> A <strong>Semana</strong> Ilustra<strong>da</strong>, de 01/09/1867.<br />

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Rio Paraguai, fora o maior entrave para a sua ocupação. Aliás, a guerra trava<strong>da</strong> no Chaco<br />

consumiu muitos esforços, especialmente dos brasileiros, pouco a<strong>da</strong>ptados ao terreno. Até<br />

mesmo alguns artefatos bélicos, como as grana<strong>da</strong>s, apresentaram problemas devido à intensa<br />

umi<strong>da</strong>de, característica do meio em que aconteceram as batalhas.<br />

A imagem incita a elaboração de um quadro político-militar <strong>da</strong> época. Num momento<br />

crucial para as pretensões do exército aliado, que sofrera revezes na tentativa de rumar para<br />

Assunção – destaca-se a derrota em Curupaiti em 1866 20 –, tem-se an<strong>da</strong>mento uma campanha<br />

para mobilizar a opinião pública em favor do Imperador e <strong>da</strong>s políticas adota<strong>da</strong>s pelo seu<br />

gabinete liberal, sob o comando do conselheiro Zacharias de Góes e Vasconcellos.<br />

Em meio à disputa política acirra<strong>da</strong>, Luis Alves de Lima e Silva, o Caxias, assumiu,<br />

em 1866, o comando <strong>da</strong>s tropas brasileiras contando com apoio irrestrito. Mesmo sendo um<br />

conservador em meio a uma administração liberal, seu nome conseguia pairar acima do<br />

confronto ideológico político-partidário, muito em função de sua exitosa atuação em<br />

campanhas militares anteriores, como <strong>nas</strong> insurreições do período regencial, nota<strong>da</strong>mente a<br />

Guerra dos Farrapos (1835-1845) e a intervenção brasileira no Uruguai, na guerra externa<br />

contra Oribe e Rosas (1851-1852). Em 9 de fevereiro de 1867, quando o General argentino<br />

Bartolomé Mitre é chamado à pátria pela morte do Vice-presidente, Caxias recebe o<br />

Comando-Chefe dos Exércitos Aliados.<br />

Caxias passa, então, a gerir o processo de reestruturação <strong>da</strong>s forças alia<strong>da</strong>s. Investe na<br />

capacitação do corpo militar, priorizando acima de tudo, elevar a auto-estima dos sol<strong>da</strong>dos.<br />

Durante o ano de 1867, quando as forças ficaram estaciona<strong>da</strong>s, sem ordem para avançar, a<br />

logística de guerra foi aperfeiçoa<strong>da</strong>. Nesse período, aconteceram peque<strong>nas</strong> e rápi<strong>da</strong>s<br />

escaramuças com os paraguaios. O exército de Francisco Solano Lopes também fora<br />

reforçado, tendo em vista, especialmente, a defesa <strong>da</strong>s fortificações ao longo do curso do Rio<br />

Paraguai.<br />

A esquadra brasileira realizou incursões pelas águas do Rio Paraguai em tentativas de<br />

furar o bloqueio fluvial imposto pelo inimigo. Os navios brasileiros, após suportarem severo<br />

bombardeio por parte <strong>da</strong>s canhoneiras paraguaias, conseguiram efetuar a ‘Passagem de<br />

20 Sobre o grande revés aliado em Curupaiti, vale à pena ler as considerações “político-estratégicas” teci<strong>da</strong>s pelo<br />

Barão de Jaceguai em sua obra, assim referencia<strong>da</strong>: JACEGUAI, Artur Silveira <strong>da</strong> Mota, Barão de.<br />

Reminiscências <strong>da</strong> Guerra do Paraguai. 2º edição atualiza<strong>da</strong> e revisa<strong>da</strong>. Rio de Janeiro: Serviço de<br />

Documentação Geral <strong>da</strong> Marinha, 1982.<br />

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Curupaiti’, fato ocorrido em 15 de agosto de 1867, contando com a atuação de duas divisões<br />

de cinco couraçados (ver figura 2 do anexo).<br />

Mesmo obtendo êxito na empreita e sem sofrer per<strong>da</strong>s consideráveis, a esquadra não<br />

conseguiu prosseguir seu itinerário, sendo conti<strong>da</strong> pelos canhões <strong>da</strong> fortaleza de Humaitá.<br />

Esse acontecimento gerou dissensões no Alto-comando militar, motiva<strong>da</strong>s por novas<br />

divergências entre Mitre e Caxias quanto a questões táticas. O argentino queria que os navios<br />

forçassem a passagem a qualquer custo, contrariando a idéia brasileira, que era de concatenar<br />

as ações fluviais com incursões terrestres. Os brasileiros tinham em mente fecharem o cerco<br />

ao ‘Quadrilátero’, cortando as comunicações deste com Assunção.<br />

Em 1868, sob o comando de Caxias, os aliados transpuseram o obstáculo, podendo <strong>da</strong>r<br />

seqüência à perseguição ao Marechal Francisco Solano López, que personificava o que<br />

poderia haver de mais bárbaro na humani<strong>da</strong>de. Lembrando que os couraçados <strong>da</strong> esquadra<br />

brasileira, os ‘dez músicos’ referenciados na legen<strong>da</strong> <strong>da</strong> charge, desempenharam papel<br />

fun<strong>da</strong>mental na vitória <strong>da</strong> tríplice aliança. Construídos em estaleiros no Rio de Janeiro com<br />

dinheiro de empréstimos auferidos junto ao capital inglês, os navios foram um dos<br />

diferenciais tecnológicos <strong>da</strong> guerra, não encontrando muita resistência <strong>da</strong>s chatas e vapores<br />

paraguaios, dotados de poucos recursos.<br />

Voltando à imagem, constatamos que os personagens escolhidos pelo chargista para<br />

digladiarem-se contra os ‘bárbaros’ paraguaios não foram o Imperador e nenhum dos generais<br />

brasileiros que atuavam no front. A missão foi delega<strong>da</strong> ao <strong>Índio</strong> Brasil e à sua<br />

acompanhante, a ‘gentil’ Lindóia, personagem que compõe a trama do poema épico<br />

‘Uraguai’, do autor colonialista José Basílio <strong>da</strong> Gama, <strong>da</strong>tado de 1769, e rememorado por<br />

ocasião <strong>da</strong> Guerra com o Paraguai. Em comparação com a primeira charge, vemos um índio<br />

Brasil envelhecido, experiente, calejado com a guerra, que, naquele momento, ia para o seu<br />

terceiro ano. Ain<strong>da</strong> sim a altivez foi conserva<strong>da</strong>.<br />

‘O bom selvagem’, prestativo, dócil e hospitaleiro, personagem que habitou o mundo<br />

sublimado do indianismo, foi incumbido pelo império brasileiro <strong>da</strong> missão de levar a<br />

civilização às terras dos guarani. A respeito <strong>da</strong> visão do indígena como um ‘herói civilizado e<br />

civilizador’, dispõe Antonio Candido:<br />

A altivez, o culto <strong>da</strong> vindita, a destreza bélica, a generosi<strong>da</strong>de, encontravam<br />

alguma ressonância nos costumes aborígines, como os descreveram os<br />

cronistas, e, sobretudo, afirmavam os escritores animados por um desejo<br />

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patriótico de chancelar a independência política do país com o brilho de uma<br />

grandeza heróica, especificamente brasileira 21 .<br />

A charge permite, a partir do encadeamento com o objeto de estudo, pensar o quão<br />

problemática foi, na prática, a construção deste nacionalismo apoiado na figura do índio,<br />

principalmente se levarmos em conta o processo de formação <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des latino-<br />

america<strong>nas</strong>, no qual, em muitos casos, temos o indígena marginalizado. Aqui, especialmente,<br />

tem-se como foco as populações fronteiriças de Brasil, Paraguai e Bolívia. Na medi<strong>da</strong> do<br />

possível, tentamos traçar um paralelo entre o caso brasileiro e o paraguaio-boliviano.<br />

O embate bélico, pano de fundo <strong>da</strong>s relações fronteiriças analisa<strong>da</strong>s, acabou gestando<br />

um ideário político, que visava <strong>da</strong>r forma à nação. Envere<strong>da</strong>ndo para esse campo de análise,<br />

que contempla o binômio etnia e nação, revela-se salutar a contribuição de ciências como a<br />

antropologia. Nesse contexto, o texto procurou fazer um contraponto entre o trabalho de<br />

Benedict Anderson 22 , que entende a nação moderna como uma comuni<strong>da</strong>de política<br />

imagina<strong>da</strong>, e as idéias conti<strong>da</strong>s na obra Etnia e Nação na América Latina 23 sob organização<br />

de George de Cerqueira Leite Zarur, que traz em seu bojo a importância <strong>da</strong> vertente étnica na<br />

conformação <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de imagina<strong>da</strong> por Anderson.<br />

Em que pese o avanço promovido por Anderson, que entende a ‘nação’ estar<br />

circunscrita dentro de um universo mol<strong>da</strong>do por fatores geográficos, históricos e econômicos,<br />

<strong>da</strong>ndo ao indíviduo a sensação de pertecimento a uma comuni<strong>da</strong>de, sua concepção dá pouca<br />

ênfase a conceitos como o de ‘etnia’, o qual não associa diretamente com o conceito de<br />

‘nação’. Muitos grupos humanos, entretanto, pensam sua ‘comuni<strong>da</strong>de-nação’ por meio de<br />

um critério étnico. A compreensão de nação pode estar assenta<strong>da</strong> numa base étnica comum, a<br />

de uma comuni<strong>da</strong>de que partilha um conjunto de valores que são intuitivos, normas não<br />

verbais que resultaram de um itinerário histórico percorrido de identificação e comunhão na<br />

luta pela sua preservação identitária. Portanto, prescindir <strong>da</strong>s discussões étnicas quando<br />

abor<strong>da</strong>mos as relações inter-regionais, em momento que estão se formando os Estados-<br />

Nações, é negligenciar forças que aju<strong>da</strong>m a compor um cenário político, econômico e<br />

cultural.<br />

21<br />

CANDIDO, Antonio. Formação <strong>da</strong> Literatura Brasileira: momentos decisivos. São Paulo: Martins, 1970:<br />

p.20.<br />

22<br />

ANDERSON, Benedict. Nação e Consciência Nacional. São Paulo: Ed. Ática, 1989.<br />

23<br />

ZARUR, George de Cerqueira Leite. Nação e Etnia na América Latina Volumes I e II. Washington, Secretaria<br />

Geral <strong>da</strong> OEA, Interamer, 1996.<br />

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Quando lemos na legen<strong>da</strong> <strong>da</strong> charge que o índio Brasil e a índia Lindóia irão ao<br />

‘encontro’ do ‘cacique guarani’ convidá-lo para um baile oferecido em nome <strong>da</strong> D.<br />

Desafronta Nacional, estamos adentrando um terreno fértil de análise, que envolve os<br />

conceitos de identi<strong>da</strong>de e alteri<strong>da</strong>de. Aqui, lançamos um olhar sobre o conceito de identi<strong>da</strong>de<br />

sob um prisma relacional, colocando-o frente à alteri<strong>da</strong>de 24 .<br />

O ‘encontro’, que ganhou na charge uma conotação irônica, efetivamente aconteceu.<br />

Não como algo alegórico, fruto de um discurso encampado pelo Estado, como no caso<br />

brasileiro. Discurso este que, por sinal, reverberou <strong>nas</strong> águas do Rio Paraguai, testemunhas de<br />

um confronto emblemático.<br />

Nas proas <strong>da</strong>s embarcações de guerra tanto paraguaias quanto brasileiras se<br />

encontravam esculturas que representavam indíge<strong>nas</strong>. Era como se houvesse uma<br />

transposição <strong>da</strong> mensagem conti<strong>da</strong> na charge para o campo de batalha (ver figuras 3 e 4 do<br />

anexo). No entanto, em oposição à idéia ‘de encontro’ hostil, bélico, no qual a figura do indío<br />

emerge como um sol<strong>da</strong>do a serviço do Estado, preferimos trabalhar com a faceta amigável,<br />

cordial <strong>da</strong>s relações culturais inter-regionais, na qual o componente étnico acaba indo ‘ao<br />

encontro’ <strong>da</strong> formulação de um novo discurso, desta feita de cunho integracionista.<br />

O conflito, que tantas vi<strong>da</strong>s ceifou em solo sul-americano, também foi a responsável<br />

por uma aproximação entre socie<strong>da</strong>des afasta<strong>da</strong>s temporal-espacialmente. Aliás, tal encontro<br />

se dá num lugar bem definido: a Fronteira. Dispõe sobre a temática José de Souza Martins:<br />

(...) a fronteira é essencialmente o lugar <strong>da</strong> alteri<strong>da</strong>de. É isso que faz dela um<br />

lugar singular: À primeira vista é o lugar de encontro dos que, por diferentes<br />

razões, são diferentes entre si, como os índios de um lado e os civilizados do<br />

outro; como os grandes proprietários de terra, de um lado e os camponeses<br />

pobres, de outro. Mas o conflito faz com que a fronteira seja essencialmente, a<br />

um só tempo, um lugar de descoberta do outro e de desencontro 25 .<br />

Durante a ocupação dos paraguaios em Corumbá, que durou de 1865 a 1868, abriu-se<br />

uma via de comunicação e comércio com a Bolívia, em sua zona oriental – mais precisamente<br />

com a locali<strong>da</strong>de de Santo Corazón, Província de Chiquitos e Moxos, Departamento de Santa<br />

24 HAESBAERT, Rogério. Identi<strong>da</strong>des Territoriais. In: Rosendhal, Z. e Corrêa, R. (orgs.) Manifestações <strong>da</strong><br />

Cultura no Espaço. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1999.<br />

25 MARTINS, José de Souza. Fronteira: a degra<strong>da</strong>ção do Outro nos confins do humano. São Paulo: Hucitec,<br />

1997: p.150.<br />

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Cruz de la Sierra. Interessava aos bolivianos do oriente, a abertura <strong>da</strong> navegação pelo rio<br />

Paraguai, pois intencionavam atingir os mercados do Prata e, consequentemente, o oceano<br />

atlântico. Ou seja, viam a guerra oportunizar a satisfação de um interesse que não encontrava<br />

eco enquanto os brasileiros estiveram como vizinhos de fronteira.<br />

Há na documentação oficial analisa<strong>da</strong>, proveniente do Arquivo Nacional de Assunção<br />

(Paraguai), relatos instigantes a respeito do contato entre as populações durante o trabalho de<br />

abertura do caminho paraguaio-boliviano. Era nítido que o interesse comercial movia as duas<br />

partes a estabelecerem relações. No entanto, o que chama a atenção é o discurso alinhavado<br />

para <strong>da</strong>r sustentabili<strong>da</strong>de ao relacionamento que se iniciava. De parte a parte eram dirigidos<br />

uma série de elogios que extrapolavam as raias do ‘padrão’ diplomático convencional,<br />

adentrando o universo cultural.<br />

A construção identitária de grupo, conforme nos ensina Todorov, passa pela<br />

compreensão etnocêntrica, que, por sua vez, traz consigo uma idéia universalista, partindo de<br />

um particular que se empenha em generalizar. Ou seja, desenrola-se um discurso que<br />

reconhece <strong>nas</strong> práticas do outro, particulares (nacional), seu universo cultural 26 . Exemplo<br />

disso é uma comunicação, expedi<strong>da</strong> pelo comerciante boliviano José Flores – que atuava<br />

como intermediário <strong>nas</strong> negociações entre as chancelarias de Paraguai e Bolívia - ao governo<br />

de seu país e aos representantes <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>d Progresista <strong>da</strong> Bolívia, sedia<strong>da</strong> em Santa Cruz de<br />

la Sierra. Eis a citação:<br />

Ellos son francos en su trato; amables en su conversación; sencillos en sus<br />

maneras; hospitalarios en su país; obsequiosos con sus cosas; sanos de corazón;<br />

hermosos en el rostro; desarrollados en su musculácion; muy religiosos, y muy<br />

valentes en la guerra; en una palabra la República del Paraguay es el ver<strong>da</strong>dero<br />

espejo en que deben mirarse las demás de Su<strong>da</strong>mérica. Además, no se extraña<br />

na<strong>da</strong> de nostro país; los alimentos, los mismos de Santa Cruz. Son últimamente<br />

idénticos a nosotros 27 . Grifo meu.<br />

Os paraguaios, por sua vez, expedem um comunicado no qual afiançam sua confiança<br />

no bom desenrolar do comércio em curso com os bolivianos. A reparar que, aqui, há uma<br />

menção particular a uma região <strong>da</strong> Bolívia, o que revela interesses regionais que permeiam as<br />

negociações. Muitas <strong>da</strong>s vezes, tais interesses não encontram ressonância nos centros de<br />

26 TODOROV, Tzvetan. Nós e os Outros. Rio de Janeiro; Jorge Zahar Editores, 1993.<br />

27 ANA, CRB, I-30,13,37. Flores a Pedro Manuel Silva, Corumbá, 30/03/1866. Gran descobrimiento. Camino de<br />

Bolivia al Paraguay por la Socie<strong>da</strong>d Progresista de Bolivia – Santa Cruz, 1866.<br />

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decisões políticas dos Estados, acarretarretando insatisfações que tendem a ficar latentes.<br />

Atentar para a seguinte nota reproduzi<strong>da</strong> em maio de 1867 pelo jornal El <strong>Semana</strong>rio, de<br />

Assunção:<br />

La via de comunicación abierta durante la guerra ensanchándose ca<strong>da</strong> día más,<br />

al favor de las franquicias por nuestro gobierno y a esa decidi<strong>da</strong> protección que<br />

se acuer<strong>da</strong> a los comerciantes de Bolívia, a quienes hemos recibido en nuestra<br />

socie<strong>da</strong>d con las muestras sinceras de la mayor simpatía, viendo em ca<strong>da</strong> uno<br />

de los bolivianos a un caballero e amigo que simpatiza con nuestra causa y<br />

como hermano hace votos por su triunfo, pues que a ella también está liga<strong>da</strong> la<br />

suerte de la región oriental de Bolívia, cuyo porvenir ben lo conecen los hijos<br />

de Santa Cruz 28 .<br />

Embora se reconheça que os acordos firmados com os paraguaios envolvessem a<br />

Bolívia como um todo, possuindo um caráter ‘formal’, percebe-se que estes foram costurados<br />

por ‘autori<strong>da</strong>des’ locais, de Santa Cruz. Assim, não se pode perder de vista a importância do<br />

viés regional na formulação e implementação de políticas por parte do Estado. De outra parte,<br />

não é concebível analisar o regional, sem que enten<strong>da</strong>mos a fronteira como sendo ‘viva’,<br />

cenário de um ir e vir constante e, à época, alvo de disputas contenciosas entre Estados.<br />

Mesmo estando associa<strong>da</strong> a um cenário belicoso, a fronteira, nesse caso, cumpre um papel<br />

integracionista. Como bem observa Enrique Serra Padrós, “o homem fronteiriço possui uma<br />

mentali<strong>da</strong>de própria à integração, pois para ele as noções de espaço e nacionali<strong>da</strong>de muitas<br />

vezes são tão abstratas quanto à idéia <strong>da</strong> existência de uma linha demarcatória que o separa do<br />

outro país” 29 .<br />

É nessa fronteira que se estabelecem contatos espontâneos e se toma conhecimento do<br />

‘outro’, numa relação que não ape<strong>nas</strong> estabelece e afirma diferenças, mas permite, como na<br />

situação analisa<strong>da</strong>, a percepção de traços culturais comuns, afini<strong>da</strong>des, que motivam<br />

simpatias, acentuando o grau de subjetivi<strong>da</strong>de presente nos estudos em <strong>História</strong> <strong>da</strong>s Relações<br />

Internacionais / Inter-regionais. Estudos que também devem atinar para os processos<br />

migratórios ocorridos no interior do continente sul-americano, nos séculos XVII e XVIII, com<br />

a intenção de ladrilhar o caminho para uma compreensão ampla do objeto histórico.<br />

José Eduardo Fernandes Moreira <strong>da</strong> Costa, autor de A coroa do mundo: Religião,<br />

território e territorie<strong>da</strong>de chiquitano, nos oferece um estudo no qual identifica uma origem<br />

étnica comum a paraguaios e bolivianos de Santo Corazón: a guarani. Sendo assim, não é<br />

forçoso dizer que esse ‘reconhecimento cultural’ no outro, proporcionado, em parte, por um<br />

28 SCAVONE, op. Cit., 53. Asunción, 2004, p. 91.<br />

29 PADRÓS, Enrique Serra. Fronteiras e integração fronteiriça: elementos para uma abor<strong>da</strong>gem conceitual. In:<br />

<strong>Revista</strong> do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais. Vol. 17, n.º 1/ 2, Jan/Fev, Porto Alegre, 1994.<br />

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parentesco étnico, foi um elemento facilitador <strong>da</strong>s relações entre militares paraguaios e<br />

bolivianos oriundos <strong>da</strong> região oriental. Basta lançarmos um olhar sobre as feições dos<br />

coman<strong>da</strong>dos do ‘cacique’ Francisco Solano Lópes, para que percebamos traços indíge<strong>nas</strong><br />

contundentes (ver figura 5 do anexo).<br />

As socie<strong>da</strong>des transcultura<strong>da</strong>s em questão trazem consigo um legado cultural indígena<br />

muito forte, e ain<strong>da</strong> hoje, como no caso boliviano, reivindicações são feitas tendo por<br />

premissa a conformação étnica. É só nos reportamos ao caso contemporâneo do Departamento<br />

de Santa Cruz de la Sierra, de onde se propagam idéias com viés separatista, que almejam a<br />

formação de uma Nação Camba, com autonomia dentro de um Estado binacional. Transitando<br />

no tempo com a finali<strong>da</strong>de de consubstanciar o escrito <strong>nas</strong> linhas anteriores, temos um trecho<br />

de uma entrevista recentemente concedi<strong>da</strong> ao Jornal Folha de São Paulo, na qual um político<br />

boliviano responde a respeito do que seria a ‘Nação Camba’.<br />

Folha – O que é a Nação Camba?<br />

Ángel Sandoval - É o resultado <strong>da</strong> mestiçagem dos espanhóis com os indíge<strong>nas</strong><br />

a partir <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>ção de Santa Cruz de la Sierra. É uma cultura comum a to<strong>da</strong> a<br />

região geográfica. Não há diferença entre mim, cruceno, e alguém de Riberalta<br />

(no departamento boliviano de Beni), de Guajará-mirim (em Rondônia), ou do<br />

Chaco paraguaio. Tanto nós como vocês brasileiros somos descendentes dos<br />

guaranis. Começando do limite com o Uruguai, to<strong>da</strong> esta zona do Paraguai,<br />

Chiquitos, Santa Cruz, Porto Alegre, até o Rio de Janeiro, todos têm origem<br />

semelhante 30 .<br />

A fronteira quando associa<strong>da</strong> à guerra, em tese, é entendi<strong>da</strong> como uma linha que<br />

separa grupos, socie<strong>da</strong>des e domínios político-administrativos. É toma<strong>da</strong> como limite, isto é,<br />

fim do espaço por onde podemos transitar e sobre o qual temos domínio. No entanto, vemos<br />

que o conflito com o Paraguai, ao mesmo tempo em que ensejou, no Brasil, uma campanha<br />

nacionalista - na qual o índio atuou como protagonista -, proporcionou o encontro de culturas<br />

que, ao se reconhecerem, alimentaram uma relação sui-geniris entre as populações<br />

fronteiriças de Paraguai e Bolívia. Nesse sentido, em oposição à idéia de desintegração, a<br />

fronteira pode ser percebi<strong>da</strong> como uma zona de intercâmbios econômicos e de integração<br />

humana que se superpõe às determinações dos estatutos políticos de soberania de um Estado<br />

sobre um território. To<strong>da</strong> fronteira tem sua história, e nesta podem estar presentes episódios<br />

30 WASSERMANN, Rogério. Líder Autonomista não crê em conciliação. Entrevista concedi<strong>da</strong> por Angel<br />

Sandoval em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia. Folha de São Paulo, 05/06/2005.<br />

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de disputa e de aproximação. Por fim, o estudo vem salientar a relevância de se agregar às<br />

discussões acerca do conceito ‘nação’, o critério <strong>da</strong> etnici<strong>da</strong>de – aqui, a indígena -, que<br />

mostrou sua pertinência através dos casos analisados.<br />

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ANEXOS<br />

Imagens complementares<br />

FIGURA Nº1<br />

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<strong>Revista</strong> ilustra<strong>da</strong> “O Cabrião”, publica<strong>da</strong> entre 1866 e 1867, em São Paulo, sob chefia<br />

editorial de Ângelo Agostini. Tinha como re<strong>da</strong>tores os jornalistas Américo de Campos e<br />

Antônio Manoel dos Reis.<br />

FIGURA Nº2<br />

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Passagem de Curupaity. 15 de agosto de 1867. Efectua<strong>da</strong> pela Esquadra encouraça<strong>da</strong><br />

sob o mando do almirante Joaquim José Ignácio, hoje barão de Inhaúma. Fonte:<br />

http://international.loc.gov/service/hisp/brfbnth/563050p19.gif. Acesso em 20 de julho de<br />

2007, às 20h30min.<br />

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FIGURA Nº3<br />

Figura de proa que provavelmente pertenceu a um navio paraguaio. Fonte: SALLES,<br />

Ricardo. Guerra do Paraguai: Memórias e Imagens. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional,<br />

2003: 26.<br />

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<strong>História</strong>, imagem e narrativas<br />

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FIGURA Nº4<br />

Figura de proa <strong>da</strong> Fragata Amazo<strong>nas</strong>. Nau capitânia do almirante Barroso. Que pode<br />

ser vista no quadro de Vitor Meireles. Fonte: SALLES, Ricardo. Guerra do Paraguai:<br />

Memórias e Imagens. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 2003: 24.<br />

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FIGURA Nº5<br />

Exército paraguayo. Uniforme de cavallaria e infantaria. <strong>Revista</strong> A Vi<strong>da</strong> Fluminense.<br />

Fonte: SALLES, Ricardo. Guerra do Paraguai: Memórias e Imagens. Rio de Janeiro:<br />

Biblioteca Nacional, 2003: 51.<br />

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