O Infinito - Departamento de Matemática da Universidade do Minho
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A Biblioteca <strong>de</strong> Babel Capítulo 6<br />
previamente um livro C, e assim por diante até ao infinito… ” – e também por sua<br />
própria vindicação, mostra a importância <strong>do</strong>s bibliotecários neste universo.<br />
Os livros <strong>da</strong> biblioteca estão or<strong>de</strong>na<strong>do</strong>s por or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> criação, e o catálogo <strong>do</strong>s<br />
catálogos, caso seja encontra<strong>do</strong>, revelará o exacto para<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> um. A partir <strong>do</strong><br />
momento que existe um en<strong>de</strong>reço para um hexágono, existirá um en<strong>de</strong>reço para to<strong>do</strong>s os<br />
outros hexágonos e por consequência também para ca<strong>da</strong> livro. O arranjo <strong>do</strong>s livros nas<br />
prateleiras em pouco preocupa os bibliotecários, pois to<strong>do</strong> o tipo <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong><br />
localização que um livro possa sofrer já está prevista no catálogo <strong>do</strong>s catálogos.<br />
Note-se que a razão <strong>de</strong> Borges para a escolha <strong>da</strong>s formas hexagonais para<br />
preencherem o espaço <strong>do</strong> universo se pren<strong>de</strong> com o facto <strong>de</strong> os hexágonos serem formas<br />
necessárias <strong>de</strong> espaço absoluto. Os hexágonos <strong>da</strong> Biblioteca <strong>de</strong> Babel, que <strong>de</strong>vem ser<br />
regulares pois são idênticos uns aos outros e tal só é possível se forem regulares,<br />
constituem uma economia <strong>de</strong> tempo e espaço (tal espaço lembra inevitavelmente as<br />
colmeias <strong>da</strong>s abelhas). Repare-se que, geometricamente falan<strong>do</strong>, só alguns polígonos<br />
como o triângulo equilátero, o quadra<strong>do</strong> e o hexágono preenchem totalmente o plano,<br />
sem <strong>de</strong>ixar lacunas ou espaços vazios entre eles. Como refere Cláudio Salpeter, <strong>do</strong>cente<br />
<strong>de</strong> Análise <strong>Matemática</strong> na Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Buenos Aires, a soma <strong>do</strong>s ângulos internos<br />
<strong>de</strong> um hexágono é 720º, pelo que ca<strong>da</strong> ângulo terá amplitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> 120º. E pensan<strong>do</strong> que<br />
em ca<strong>da</strong> vértice <strong>de</strong> um hexágono po<strong>de</strong>mos contar três hexágonos, temos três ângulos <strong>de</strong><br />
120º que perfazem 360º, o que não <strong>de</strong>ixa espaço para lacunas entre eles, ou seja o<br />
espaço fica totalmente preenchi<strong>do</strong>.<br />
Nas palavras <strong>de</strong> Borges, até agora referi<strong>da</strong>s há um ponto que po<strong>de</strong> resultar em<br />
equívoco. Os livros, diferentes entre si, <strong>da</strong> Biblioteca <strong>de</strong> Babel são em número<br />
<strong>de</strong>termina<strong>do</strong> e finito, ao contrário <strong>de</strong> infinito e in<strong>de</strong>fini<strong>do</strong> tal como Borges refere.<br />
Um livro <strong>da</strong> Biblioteca <strong>de</strong> Babel, escrito numa única frase, é uma frase com um<br />
número “não infinito embora muito vasto” <strong>de</strong> letras, número esse que se po<strong>de</strong> calcular<br />
se recor<strong>da</strong>rmos que as páginas <strong>de</strong> um livro são 410, as linhas <strong>de</strong> uma página são 40, 80<br />
são as letras <strong>de</strong> uma linha e o alfabeto são 25 letras. Note-se que Borges refere: “o<br />
número <strong>de</strong> símbolos ortográficos é 25” e na nota <strong>do</strong> editor consta: “o manuscrito<br />
original não contém algarismos nem maiúsculas. A pontuação foi limita<strong>da</strong> à vírgula e<br />
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