O Infinito - Departamento de Matemática da Universidade do Minho
O Infinito - Departamento de Matemática da Universidade do Minho
O Infinito - Departamento de Matemática da Universidade do Minho
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
O paraíso que Cantor criou Capítulo 4<br />
Segun<strong>do</strong> Guillen (1983), muitos matemáticos chamaram Cantor à pedra,<br />
<strong>de</strong>sclassifican<strong>do</strong> sumariamente os resulta<strong>do</strong>s <strong>da</strong> sua teoria, porque discor<strong>da</strong>vam <strong>da</strong> i<strong>de</strong>ia<br />
platónica <strong>de</strong> tratar o infinito como se ele fosse um substantivo. Outros entendiam que<br />
Cantor não prosseguira a argumentação até às suas conclusões lógicas. Para eles, Cantor<br />
<strong>de</strong>veria tratar a sequência <strong>de</strong> números transfinitos como fizera com a <strong>do</strong>s números<br />
naturais – admitin<strong>do</strong> a existência dum conjunto álefe-infinito. Este novo conjunto<br />
conduziria a uma sucessão inteiramente nova maior <strong>do</strong> que ℵ ∞ . Ou seja, iríamos chegar<br />
a conjuntos transtransfinitos, que seriam representa<strong>do</strong>s pela segun<strong>da</strong> letra <strong>do</strong> alfabeto<br />
hebraico, ], originan<strong>do</strong> a sucessão ] 0 , ] 1,<br />
] 2 ,... Mas esta nova sucessão implicaria a<br />
existência <strong>do</strong> conjunto bete-infinito ( ] ∞ ), voltan<strong>do</strong>-se a repetir to<strong>do</strong> o processo mais<br />
uma vez, e outra, e outra,…<br />
Cantor nunca se <strong>de</strong>ixou persuadir por estas críticas.<br />
Alguns matemáticos falam dum “infinito absoluto”, representa<strong>do</strong> pela última letra <strong>do</strong><br />
alfabeto hebraico, ω , que consi<strong>de</strong>ram ser o maior infinito concebível, um infinito que<br />
nunca po<strong>de</strong>remos visualizar.<br />
O ω <strong>do</strong>s matemáticos é qualquer coisa que nunca contemplaremos em pleno e, a<br />
esse respeito, não muito diferente <strong>do</strong> Deus <strong>de</strong>scrito por São Gregório:<br />
“In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>do</strong> progresso feito pela nossa mente na contemplação <strong>de</strong> Deus, ela<br />
não atinge o que Ele é, mas sim o que lhe está abaixo”.<br />
Leoplod Kronecker, um pilar <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> matemática alemã, foi talvez o maior<br />
opositor <strong>do</strong> trabalho <strong>de</strong> Cantor, atacan<strong>do</strong>-o publicamente <strong>de</strong> forma feroz durante uma<br />
déca<strong>da</strong>. Kronecker rejeitou o transfinito, emitin<strong>do</strong> a sua frequentemente cita<strong>da</strong><br />
reprimen<strong>da</strong>: “ Deus criou os inteiros e tu<strong>do</strong> o resto é obra <strong>do</strong> Homem”. Para<br />
Kronecker, apenas os inteiros tinham existência real, to<strong>do</strong>s os outros tipos <strong>de</strong> números<br />
eram apenas ilusões <strong>da</strong>s imaginações hiperactivas <strong>do</strong>s matemáticos.<br />
Segun<strong>do</strong> Edwards (1987), Cantor era, para Kronecker, “simplesmente mais um jovem<br />
que tinha segui<strong>do</strong> Weirstrass pelo caminho erra<strong>do</strong> e cujas formulações <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias<br />
matemáticas eram <strong>de</strong>sespera<strong>da</strong>mente mal guia<strong>da</strong>s”.<br />
44