17.04.2013 Views

Quebra do Cariri - Cia. Atelie das Artes

Quebra do Cariri - Cia. Atelie das Artes

Quebra do Cariri - Cia. Atelie das Artes

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

QUEBRA DO CARIRI<br />

1. CENAS DE ILUMINAÇÃO (ICONES UTILIZADOS)<br />

BLACKOUT<br />

VERMELHAS<br />

AZUIS<br />

CONTRA LARANJA<br />

1


LUMINÁRIAS (DE ACENDIMENTO MANUAL, NO PLACO, PELOS ATORES, NAS PERAS<br />

PENDENTES)<br />

ICONES utiliza<strong>do</strong>s no roteiro<br />

ILUMINAÇAO<br />

SONOPLASTIA<br />

MÚSICA<br />

2


2. ROTEIRO – TEXTO, ILUMINAÇÃO & SONOPLASTIA<br />

FALTANDO 3 MINUTOS PARA O INÍCIO:<br />

EXATAMENTE AO ACABAR A MUSICA 1<br />

(“GIRANDOLA”–<br />

DANÇA DE RITA E BIU<br />

NO DIA DO CASAMENTO<br />

ESTÃO BRINCANDO DE PEGA-PEGA)<br />

AO ACABAR A MÚSICA 1<br />

RITA E BIU SAEM DE CENA<br />

A MÚSICA 2 ENTRA COLADA<br />

MUDANÇA BRUSCA DE LUZES<br />

ENTRA O CANTADOR, DO FUNDO<br />

DO TEATRO NO CORREDOR<br />

CANTADOR – TOCANDO E CANTANDO-<br />

CAMINHANDO PARA O PALCO (que se torna uma praça<br />

com muitas pessoas – inclusive o público e onde os 4<br />

personagens vão se juntan<strong>do</strong> NA LUZ AZUL... curiosos<br />

SONOPLASTA<br />

MÚSICA 1<br />

“Sekamente|”<br />

ALTO<br />

COM FADEIN RÁPIDO<br />

ILUMINADOR FAZ UM FADEOUT<br />

DE LUZ DE SALA, ATÉ O<br />

BLACKOUT TOTAL<br />

ACENDE PINOS<br />

PISCA LUZ GERAL<br />

3


CANTADOR:<br />

O noivo foi para o casamento<br />

Levan<strong>do</strong> nas mãos acesa<br />

O candeeiro e a mortalha<br />

A noite foi escurecen<strong>do</strong><br />

E o noivo demoran<strong>do</strong><br />

Pra chegada no altar<br />

Quan<strong>do</strong> deu a meia noite<br />

Se ouviu uma zooera FADEOUT DA LUZ CONTRA<br />

Pelas as ban<strong>das</strong> da chapada FADEIN DAS AZUIS<br />

A tristeza era grande<br />

De um noivo em seu cavalo<br />

Com roupas ensangüenta<strong>das</strong>.<br />

A menina suplicava<br />

Ao mesmo tempo em que chorava<br />

Sem saber o que fazer<br />

Com seu noivo sem viver<br />

Apelou a Santo Antonio<br />

Que a partir daquele dia amaria até morrer.<br />

(CANTADOR FALANDO...JÁ NO PALCO DEBAIXO DA LUZ AZUL)<br />

Uma promessa a Santo Antonio é difícil de fazer<br />

Pois o Santo vem cobrar<br />

Se você não obedecer<br />

RITA:<br />

Oxente...<br />

Mas eu vou obedecer<br />

Mesmo que tenho que sofrer.<br />

OS 3: POSICIONAM-SE LENTAMENTE SOB A LUZ 1 –AZUL<br />

OS 3: (CANTANDO JUNTOS)<br />

To nos braços de mamãe<br />

Pra ela me acarinhar<br />

Apareça valentão<br />

Para me tirar de lá<br />

Nos braços dela eu vou morar<br />

Me orgulho em ser criança<br />

E também em estudar<br />

Aprender coisas da vida<br />

Que venha me ajudar<br />

Nos braços de dela eu vou morar<br />

CANTADOR – COMEÇA<br />

SOLO DE VIOLÃO “NOS<br />

BRAÇOS DE MAMÃE) , 1X E<br />

D Á A E N T R A D A P A R A I ÍCIO N DO CÔRO<br />

“TÔ NOS BRAÇOS DE MAMÃE”<br />

4


Saber falar com mamãe<br />

Também agradar papai<br />

A data comemorar<br />

Tenho Deus para me ajudar<br />

Nos braços dela eu vou morar<br />

Nos fizemos estes versinhos<br />

Para homenagear<br />

As crianças <strong>do</strong> meu lar<br />

E de toda capital<br />

Nos braços dela eu vou morar<br />

Mamãe é palavra <strong>do</strong>ce<br />

Que sai <strong>do</strong> meu coração<br />

Com o tempo vai deixan<strong>do</strong><br />

Saudade e recordação<br />

Nos braços dela eu vou morar<br />

Quan<strong>do</strong> eu ia pra escola<br />

Orgulhoso na ação<br />

Sem esperar, mamãe vinha<br />

Com um pedaço de pão,<br />

Nos braaaaçoooos deeeela eu vooou mooooraoooooor. (RALENTANDO - ULTIMO ACORDE VIOLÃO)<br />

RITA E SEVERINO – CONTINUAM A CANTAR – sem violão -, ENCONTRAM- SE E<br />

SURPREENDEM-SE POR CONHECEREM A MESMA MÚSICA. SEVERINO FICA ABISMADO COM A<br />

MULHER QUE ESTÁ A SUA FRENTE, E FICA MAIS CONFUSO AINDA QUANDO ELA DIZ SER BIU,<br />

SEU MELHOR AMIGO DE INFÂNCIA. SEM QUERER CONTRARIAR O SEU GRANDE AMOR DA<br />

JUNVENTUDE, OS DOIS COMEÇAM A RELEMBRAR FATOS E HISTÓRIAS QUE MARCARAM O<br />

SEU TEMPO DE CRIANÇA.<br />

RITA: Me diga de onde é que tu conheces essa música?<br />

SEVERINO: Eu que lhe pergunto.<br />

SEVERINO: Num vai me dizer que tu és...<br />

RITA: Biu. (RITA VIRA AS COSTAS PARA SEVERINO)<br />

SEVERINO: (PAUSA) Filho de padrinho Belarrmino Figueira e madrinha Francisca Bezerra?<br />

(RITA NÃO RESPONDE A PERGUNTA)<br />

É ou não é?<br />

(PAUSA)<br />

RITA - LEVANTA O BRAÇO E ACENDE A LUMINÁRIA 1<br />

NO LEVANTAR DO BRAÇO, BLACKOUT<br />

SONOPLASTA –<br />

MUSICA 3<br />

“ Tema Rita” - ALTO<br />

5


RITA: (COMEÇAM A SE OLHAR) Tu és Severino, filho de padrinho Olegário Feitosa e Madrinha<br />

Antonia Galdino?<br />

SEVERINO: (SE ABRAÇAM) Rapaz quanto tempo. (SEVERINO SE AFASTA DE RITA)<br />

Mas será que tu é tu mesmo?<br />

RITA: Por quê? tem alguma duvida?<br />

SEVERINO: Dúvida eu? Não, não. Mas de qualquer forma....Vamos tirar uma prova.<br />

RITA: Tirar aprova? Que prova?<br />

SEVERINO LEVANTA O BRAÇO E ACENDE LUMINÁRIA 2<br />

RITA LEVANTA O BRAÇO E APAGA A LUMINARIA 1<br />

SEVERINO: Muito simples... Em Olinda deu-se um caso<br />

Que fez chamar atenção<br />

Um pobre moço zombou<br />

Do padre Cícero Romão<br />

Transformou-se num cachorro<br />

Maior <strong>do</strong> que um leão.<br />

RITA: Um pobre homem vivia<br />

De porta em porta esmolan<strong>do</strong><br />

E o seu irmão num sítio<br />

Muita lavoura plantan<strong>do</strong><br />

Vivia até bem de vida<br />

Alguns bezerros crian<strong>do</strong>.<br />

SEVERINO: Mun<strong>do</strong> velho desgraça<strong>do</strong><br />

Teu povo precisa um freio<br />

Para ver se assim melhora<br />

Esse costume tão feio<br />

De uma moça semi-nua<br />

Andar mostran<strong>do</strong> na rua<br />

O suvaco, a perna e o seio.<br />

RITA: Deus é puro e infinito<br />

Autor de O Grande Poeta<br />

O poeta Jesus seu filho<br />

Escreve com linha reta<br />

Quisera ser seu Apóstolo<br />

Com minha lenda incorreta.<br />

SEVERINO: Peço inspiração a Deus<br />

E a Virgem da Conceição<br />

Descreven<strong>do</strong> mais um caso<br />

Que se passou no sertão<br />

Há muitos anos atrás<br />

Os Milagres Divinais<br />

Do Padre Cícero Romão.<br />

6


RITA: Um cigano cura<strong>do</strong>r<br />

Vivia curan<strong>do</strong> o povo<br />

Encontrou-se com um mulato<br />

Na fazenda Sítio Novo<br />

Pensou em tirar resulta<strong>do</strong><br />

Porém se viu aperta<strong>do</strong><br />

Que só um pinto no ovo.<br />

SEVERINO LEVANTA O BRAÇO E ACENDE LUMINÁRIA 3<br />

RITA LEVANTA O BRAÇO E APAGA A LUMINARIA 2<br />

SEVERINO: Ainda eu estou desconfia<strong>do</strong> se tu é tu mesmo.<br />

RITA: Claro que sou. Ainda quer tirar mais alguma prova?<br />

SEVERINO: Já sei. Quem brinca com fogo?<br />

RITA: Mija na cama.<br />

SEVERINO: Quem queima os cabelos?<br />

RITA: Fica <strong>do</strong>i<strong>do</strong>.<br />

SEVERINO: Quem apaga o fogo com água?<br />

RITA: Perde a sorte.<br />

SEVERINO: O casal que pular a fogueira no dia de são João?<br />

RITA: Casará este ano.<br />

SEVERINO: Não tenho mais duvi<strong>das</strong> é tu mesmo.<br />

RITA: Claro que eu sou eu.<br />

SEVERINO Quer dizer que o cabra mais invoca<strong>do</strong> <strong>do</strong> sertão ainda vive.<br />

RITA: Mais é claro que to vivo. E tu não ta me ven<strong>do</strong> aqui não rapais?<br />

SEVERINO: Ven<strong>do</strong> eu to. Mas tu não tinha bati<strong>do</strong> a caçoleta, não tinha passa<strong>do</strong> dessa para<br />

melhor?<br />

RITA LEVANTA O BRAÇO E ACENDE LUMINÁRIA 4<br />

SEVERINO LEVANTA O BRAÇO E APAGA A LUMINARIA 3<br />

RITA: Vai para baixa da égua Severino. Eu morri<strong>do</strong>....?<br />

O povo diz que eu morri, mas eu estou, mas vivo <strong>do</strong> que nunca.<br />

Isso só pode ser brincadeira <strong>do</strong> povo de lá.<br />

SEVERINO: Que brincadeira que nada bicho.<br />

É que esse historia tava circulan<strong>do</strong> lá pelas ban<strong>das</strong> de Belém.<br />

7


RITA: Pelas ban<strong>das</strong> de Belém?<br />

SEVERINO: Sim.<br />

RITA: Isso só pode ser conversa <strong>do</strong> povo de lá.<br />

SEVERINO: Escute aqui seu brocoió, o povo de Belém não é mentiroso não.<br />

RITA: Oxente, me diga tu és de onde?<br />

SEVERINO: De lá! (RI)<br />

RITA: Se eu começar conta tua historia aqui. Eu vou passar dias e dias para contar as tuas<br />

traquinagens, dentro e fora <strong>do</strong> cordel nordestino.<br />

SEVERINO: Deixe de malandragem Biu que eu já ti conheço de longas caminhada pelo sertão.<br />

RITA: E eu não te conheço?<br />

SEVERINO: E o que é que tu sabes de mim seu desmilingüi<strong>do</strong>?<br />

RITA: Antes de Alfre<strong>do</strong> passar dessa pra melhor, que Deus o tenha, me contou algumas<br />

historia ao teu respeito (BRINCANDO COM SEVERINO) Seu enfeza<strong>do</strong>.<br />

SEVERINO: Ele devia tá é mentin<strong>do</strong>.<br />

RITA LEVANTA O BRAÇO E ACENDE A LUMINÁRIA 2<br />

SEVERINO LEVANTA O BRAÇO E APAGA A LUMINÁRIA 4<br />

RITA: Mentin<strong>do</strong>? Não foi só Alfre<strong>do</strong> que me contou não,<br />

os irmão dele também mim contou umas<br />

Histórias bem cabelu<strong>das</strong> teu respeito.<br />

SEVERINO: O Que foi que aquela mundiça contou de mim?<br />

RITA: As traquinagens que tu aprontaste.<br />

SEVERINO: Eu queria que aquele caba de peia me falasse na rosca da venta.<br />

RITA: Não sei não...<br />

SEVERINO: Oxente. Deixe de ser desconfian<strong>do</strong> rapaz.<br />

RITA: Eu desconfia<strong>do</strong>!<br />

SEVERINO: Não sei como um cabra tão inteligente como tu foi acreditar nas mentira daquele<br />

folote. Alfre<strong>do</strong> além de folote era um demônio, amaluca<strong>do</strong>. Aposto que ele não te contou que<br />

bebeu cachaça sem piedade na festa de Nossa senhora da paz e por muito pouco não provocou<br />

uma confusão sem fim quan<strong>do</strong> foi chama<strong>do</strong> de fresco.<br />

RITA: Que dizer que tu e Alfre<strong>do</strong> eram...Como é que posso dizer...Enrola<strong>do</strong>.<br />

SEVERINO: Escute aqui Biu, tu ta queren<strong>do</strong> arrumar desavença comigo é ?<br />

8


RITA: Desavença contigo? Só se for pra eu quebrar....<br />

RITA: É impressão minha ou tu tá ofenden<strong>do</strong> a minha mãezinha que já se encontra lá céu? tenho<br />

certeza que nesse momento ela está rodeada de anjinhos furiosos com tuas ofensas.<br />

SEVERINO: Quem vai ficar furioso sou eu. Se tu não fechar essa boca de sovaco.<br />

BIU: Tu tá me desafian<strong>do</strong>?<br />

SEVERINO: Estou sim.<br />

RITA: Parece que desde pequeno que és <strong>do</strong>ta<strong>do</strong><br />

Da Divina Providência. Ta queren<strong>do</strong> um desafio?<br />

SEVERINO: Só se for por dinheiro. Pra começar vamos saudar esse povo<br />

Com a justa excelência.<br />

RITA APAGA A LUMINÁRIA 2<br />

RITA: É pra já.(Coloca o dinheiro na mão <strong>do</strong> espect-ator)<br />

SEVERINO: Essa peleja vai funcionar da seguinte maneira. Essa parte da platéia vai torcer para<br />

mim e o outro la<strong>do</strong> vai torcer para esse ai... Que também é Severino e desde pequeno carrega o<br />

apeli<strong>do</strong> de Biu...<br />

RITA:<br />

Sai daqui e vai corren<strong>do</strong><br />

Ó seu sibito estradeiro.<br />

cor de bosta de Cavalo<br />

Um cabra da tua laia<br />

onde eu botar os pés<br />

tu não bota a tua cara.<br />

SEVERINO:<br />

Viste so que o seu BIU<br />

É um homem sem ação<br />

como se maltrata outro<br />

sem haver alteração<br />

eu pensava que o senhor<br />

possuísse educação<br />

RITA:<br />

Hoje tu vai apanhá<br />

apanha di fica roxo<br />

cara de pão de cruza<strong>do</strong><br />

testa de carneiro mocho<br />

tu és projeto de homem,<br />

tu parece mais um bicho<br />

quan<strong>do</strong> come vira o cocho<br />

SEVERINO:<br />

O homem que canta bem<br />

não trabalha em verso assim<br />

tiran<strong>do</strong> as faltas que tem<br />

CANTADOR – VIOLÃO PUXA O DESAFIO<br />

(1x) E ACOMPANHA-O<br />

9


otan<strong>do</strong> em cima de mim<br />

RITA:<br />

Cala-te bicho ruim,<br />

ban<strong>do</strong>leiro que nem tu,<br />

juntoa mim não faz figura<br />

qui tu qui quan<strong>do</strong> abre a boca<br />

fala só mentira pura<br />

Severino quanto mente<br />

ri e mais, sustenta e jura<br />

SEVERINO: Tu Biu, és um monte de estrume<br />

molambo rasga<strong>do</strong><br />

cachimbo apaga<strong>do</strong><br />

recanto de muro<br />

bichim sem futuro<br />

perna de Maria fita<br />

boca de porão<br />

beiço de gamela<br />

venta de moela<br />

moleque ladrão<br />

RITA: E Tu Severino é Folha que se perde no ar<br />

E que apodrece sem chuva e sem nevar.<br />

tu é casca de ferida<br />

Moleque infeliz<br />

Vai te lascar seu macumbeiro<br />

Se tu bobear eu te surro<br />

Dou-te até de murro<br />

Tiro-te o regalo<br />

Cara de cavalo<br />

Cabeça de burro<br />

SEVERINO: Fala de outro jeito<br />

Com melhor agra<strong>do</strong><br />

Seja delica<strong>do</strong><br />

Cante mais perfeito<br />

Olhe, eu não aceito<br />

Tanto desespero<br />

Cante mais maneiro<br />

Com versos capaz<br />

Façamos a paz<br />

Vamos reparta o dinheiro<br />

.<br />

RITA: Severino te <strong>do</strong>u um sopapo<br />

rasgo-te a giba<br />

Cara de sovaco<br />

Pajé feiticeiro<br />

Queres dinheiro<br />

Barriga de angu<br />

Barba de bode<br />

Camisa de saia<br />

CANTADOR – VIOLÃO DÁ UM BREQUE<br />

SOLENE E RECOMEÇA em segun<strong>do</strong> plano..<br />

10


Te deixo no açude<br />

Escovan<strong>do</strong> urubu.<br />

SEVERINO: Não quer repartir o sol<strong>do</strong><br />

eu vou mudar de toada<br />

parumá que mete me<strong>do</strong><br />

nunca achei um canta<strong>do</strong>r<br />

que desmanchasse esse enre<strong>do</strong><br />

É um de<strong>do</strong> é um da<strong>do</strong> é um dia<br />

é um dia é um da<strong>do</strong> é um de<strong>do</strong><br />

RITA:<br />

Este teu enre<strong>do</strong> pobre<br />

te serve de zombaria<br />

hoje ta cego de raiva<br />

diabo será teu guia<br />

É um dia é um da<strong>do</strong> é um de<strong>do</strong><br />

é um de<strong>do</strong> é um da<strong>do</strong> é um dia<br />

SEVERINO:<br />

Tu me respondestes bem<br />

como tivesse estuda<strong>do</strong><br />

eu também de minha parte<br />

so canto verso apruma<strong>do</strong><br />

É um de<strong>do</strong> é um da<strong>do</strong> é um dia<br />

é um dia é um de<strong>do</strong> é um da<strong>do</strong><br />

RITA:<br />

Vamos lá, seu Severino.<br />

Que eu já perdi o me<strong>do</strong><br />

Sou bravo como o leão<br />

Sou forte como uma onça<br />

É um de<strong>do</strong> é um da<strong>do</strong> é um dia<br />

é um dia é um da<strong>do</strong> é um de<strong>do</strong><br />

SEVERINO:<br />

Agora puxa uma nova<br />

Das tuas belas toa<strong>das</strong><br />

Pra ver siessas moças dâo<br />

dão algumas gargalha<strong>das</strong><br />

Quase to<strong>do</strong> o povo ri<br />

Só as moças tão cala<strong>das</strong><br />

RITA:<br />

Meu amigo Severino<br />

Eu não sei o que será<br />

De tu no fim da luta<br />

Porque já venci<strong>do</strong> está<br />

Quem a paca cara compra<br />

A paca cara pagará<br />

SEVERINO:<br />

Teu peito é feito de aço<br />

11


Foi bom ferreiro que fez<br />

eu pensei que tu não tinha<br />

tal tamanha rapidez,<br />

se não for massada muita<br />

repita a paca outra vez<br />

RITA:<br />

Pare com tanta pergunta<br />

seu Severino estradeiro<br />

me ouça com atenção<br />

cantarei a paca já<br />

tema assim é um borrego<br />

no bico de um carcará<br />

Quem a cara cara compra<br />

Caca caca Cacará,<br />

(SEVERINO e RITA e CANTADOR)<br />

QUEM QUIZER BATER AS PALMAS<br />

BATA AGORA É PRA JÁ.<br />

SEVERINO e RITA COMEÇAM A RIR DA PRÓPRIA INFANTILIDADE<br />

SEVERINO ACENDE LUMINÁRIA 2<br />

SEVERINO E RITA DEBAIXO LUMINÁRIA 2<br />

SEVERINO: Nós estamos parecen<strong>do</strong> duas crianças.<br />

RITA: Duas crianças velhas, isso sim.<br />

(SE SEPARAM E VÃO CADA UM PARA UM CANTO<br />

DO PALCO-PAUSA)<br />

RITA ACENDE LUMINÁRIA 1<br />

E por onde tu tem anda<strong>do</strong>?<br />

SEVERINO: Andei por muitos lugares, cada um diferente <strong>do</strong> outro.<br />

Até por são Paulo.<br />

RITA: São Paulo??? Tu foi longe mesmo.<br />

SEVERINO: É! São Paulo, terra querida<br />

Pelo povo nordestino<br />

Onde lutam pela vida<br />

Homem, mulher e menino<br />

Do oficial ao servente<br />

Cada toma seu destino.<br />

Paulista os chamam de caipira<br />

Porém nenhum se aborrece<br />

Escuta, faz que não ouve<br />

E o seu amor oferece<br />

Ao trabalho com afã<br />

Na cidade mais cresce.<br />

CANTADOR – VIOLÃO - FAZ UM ACORDE<br />

FINAL APOTEÓTICO<br />

SONOPLASTA –<br />

MUSICA 4<br />

“ São Paulo meu amor”<br />

BAIXO<br />

12


RITA: Arriégua...E é!<br />

SEVERINO: É uma verdade pura<br />

São Paulo chama atenção<br />

E por isso alguém lhe chama<br />

Mãe de toda região<br />

Principalmente o Nordeste<br />

Pra quem ela estende a mão.<br />

RITA: O povo disse mesmo que<br />

São Paulo tem nordestino<br />

Muito mais <strong>do</strong> que no Norte<br />

Trabalham por aquela terra<br />

Nosso nordestino forte<br />

Homens de pulsos de aço<br />

Que lutam até a morte.<br />

O Nordestino é um guerreiro<br />

De grande disposição<br />

Povo forte que merece<br />

Receber o galardão<br />

Daquela cidade que acho<br />

Ser orgulho da nação.<br />

SEVERINO: Aquela cidade é quem puxa<br />

O trem de vinte e um vagões<br />

Porque de to<strong>do</strong>s os esta<strong>do</strong>s<br />

Pra to<strong>das</strong> as regiões<br />

Vai gente pra trabalhar<br />

Em firmas e construções.<br />

Vão capixabas, mineiros,<br />

Piauienses, baianos,<br />

Catarinenses, gaúchos,<br />

Natalenses, sergipanos,<br />

Cearenses, amazonenses<br />

Inclusive alagoanos.<br />

Nortista que era vaqueiro<br />

Hoje lá é motorista<br />

Camelô de propaganda<br />

Tornou-se em grande artista<br />

Cada um segue o destino<br />

Que tem no ponto de vista (PAUSA)<br />

RITA: Ouvi dizer que dificilmente o sulista<br />

Pega o serviço pesa<strong>do</strong><br />

Só nordestino enfrenta<br />

Enxada, foice, macha<strong>do</strong><br />

Picareta e marreta<br />

E em tu<strong>do</strong> dar resulta<strong>do</strong>.<br />

SEVERINO: ( BRINCA COM RITA)<br />

Ninguém segura o nortista<br />

SONOPLASTA<br />

Fim musica 4<br />

“São Paulo”<br />

13


E nem toma o seu valor<br />

Bichos fortes de coragem<br />

Deverás, o trabalha<strong>do</strong>r<br />

É como diz o dita<strong>do</strong><br />

Cabra macho sim senhor.<br />

Nunca se ouviu um nortista<br />

Falar pra contar moleza<br />

To<strong>do</strong>s por um, um por to<strong>do</strong>s<br />

É assim a sua empresa<br />

Dizem até que me<strong>do</strong> é manha<br />

E cara feia é safadeza.<br />

Pois é... Assim é São Paulo, a grande São Paulo<br />

Uma cidade pacata<br />

OS DOIS: Onde tem vários bairros<br />

Que ao povo <strong>do</strong> norte acata<br />

Do sul só tem mesmo a bossa<br />

Pois tu<strong>do</strong> é cabeça chata.<br />

São Paulo tem prédio que não acaba mais... vai até onde os olhos alcançam.<br />

(RITA E SEVERINO ACENDEM E APAGAM AS<br />

LUMINÁRIAS ANDANDO...<br />

Sem falar que tem gente andan<strong>do</strong> pra tu<strong>do</strong> quanto é la<strong>do</strong>. A cidade nunca pára...<br />

nem na hora de <strong>do</strong>rmir. Mas nenhum desses lugares que eu passei, chega aos pés<br />

da terra que a gente nasceu Biu.<br />

RITA: È, tempos bons iguais aqueles vai ser difícil de voltar.<br />

SEVERINO: É! vai se mesmo. (PAUSA)<br />

RITA APAGA A ULTIMA LUMINÁRIA<br />

ACENDEM AS AZUIS<br />

RITA: Tu se alembra quan<strong>do</strong> tu ia me chamar lá em casa?<br />

SEVERINO: E como sempre, tu mais tua mãe ia buscar água na cacimba. Tu se lembra?<br />

RITA: Lembro! Lembro perfeitinho. (PAUSA) Mas tu também ia buscar água com tua mãe<br />

lá na cacimba de dentro. Que ainda era mais longe.<br />

SEVERINO: Ia! Mais era de vez em quan<strong>do</strong>.<br />

SONOPLASTA –<br />

MUSICA 5<br />

“ Cabeça chata”<br />

ALTO<br />

RITA: Pois eu não era de vez em quan<strong>do</strong> não, era to<strong>do</strong> dia. (Pausa) Ainda me lembro<br />

quan<strong>do</strong> mamãe me chamava bem ce<strong>do</strong>. (MUDA A VOZ IMITANDO A MÃE)<br />

14


Levanta menino, vá pega o galão na cuzinha e provei te e chama teu irmão. Me<br />

dava uma preguiça danada, mesmo assim eu tinha que ir. Andava quase uma<br />

légua para chegar na cacimba, e ainda tinha que atravessar aquele oruvalho que<br />

tinha lá no bachi de Zé batista.<br />

SEVERINO: E eu que andava quase duas léguas.<br />

RITA: Mais era de vês em quan<strong>do</strong> que tua ia bicho. Eu não. Eu era to<strong>do</strong> santo dia, E às<br />

vezes chegava lá tinha que espera na fila, aquela fila enorme!!!!!!!!!!! Porque nem<br />

sempre tinha água na cacimba.<br />

(SEVERINO COMEÇA A DAR GARGALHADAS)<br />

BLACKOUT<br />

RITA LEVANTA O BRAÇO E ACENDE A LUMINÁRIA 1<br />

RITA: Gostaria de saber por que tu tá mangan<strong>do</strong> de mim.<br />

SEVERINO: É que eu acabei de me lembrar <strong>do</strong> dia que tu mentiste para tua mãe.<br />

BIU: Deixe de mentira rapaz. Eu mentia para os outros, agora para mamãe, eu nunca<br />

menti.<br />

SEVERINO: E naquele dia que tu disseste para tua mãe que as duas cacimbas tinham seca<strong>do</strong>.<br />

RITA: Que dia foi esse que não me lembro?<br />

SEVERINO: O dia que tu foi se encontrar com Rita.<br />

RITA: Mas de fato tinha seca<strong>do</strong> mesmo. Quan<strong>do</strong> eu cheguei lá já tinha acaba<strong>do</strong> toda a<br />

água.<br />

SEVERINO: Mas tu não contou que tinha i<strong>do</strong> primeiro se encontra com Rita.<br />

RITA: Essa parte eu achei melhor não contar para mamãe.<br />

SEVERINO: E porque que tu não contou pra tua mãe?<br />

RITA: É que naquele tempo os filhos tinham muita cerimonha da mãe. Vai me dizer que tu<br />

não tinhas cirimonha de tua mãe?<br />

SEVERINO: Cerimônia de mamãe? Nunca tive.<br />

15


RITA: Se tu disser para alguém que eu tinha cerimônia de contar as coisa <strong>do</strong> coração para<br />

mamãe, eu conto para to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> que tu peidava nas panelas de comida quan<strong>do</strong><br />

tinha visita na tua casa.<br />

SEVERINO: Eu peidava mesmo e ainda pei<strong>do</strong>, se tu quer saber.<br />

RITA: Tu ainda continuas o mesmo seboso.<br />

SEVERINO: Deixe de ser arengueiro Biu.<br />

RITA: Tu que gosta de arrumar teus balaios de gato.<br />

SEVERINO: Me dê o mote.<br />

RITA: O mote? ...<br />

(IMPROVISAÇÃO COM A PLATÉIA – EXPLICANDO O QUE É O MOTE)<br />

O valor que o pei<strong>do</strong> tem.<br />

SEVERINO: NA PLATEIA<br />

O pei<strong>do</strong> é bom toda hora<br />

Sem pei<strong>do</strong> não há quem passe<br />

A criança quan<strong>do</strong> nasce<br />

Tanto peida como chora<br />

Um pei<strong>do</strong> ao romper da aurora<br />

Eu não troco por ninguém<br />

Há noites que eu solto cem<br />

Pei<strong>do</strong>s grandes e pequenos<br />

Já conheço mais ou menos<br />

O valor que o pei<strong>do</strong> tem<br />

Um velho já moribun<strong>do</strong><br />

Nas agonias da morte<br />

Soltou um pei<strong>do</strong> tão forte<br />

Que se ouviu no outro mun<strong>do</strong><br />

O pei<strong>do</strong> gritou no fun<strong>do</strong><br />

Que só apito de trem<br />

O velho sentiu-se bem<br />

Levantou-se no outro dia<br />

Dizen<strong>do</strong> a quem não sabia<br />

O valor que o pei<strong>do</strong> tem<br />

SEVERINO: Um pei<strong>do</strong> silencioso<br />

Por baixo de um cobertor<br />

É tão grande o seu valor<br />

Que descrevê-lo é custoso<br />

Cheira mais que o mais cheiroso<br />

Vale de Jerusalém<br />

As roseiras de Siquem<br />

As savanas <strong>do</strong> Saara<br />

Nada disso se compara<br />

O valor que o pei<strong>do</strong> tem<br />

(SEVERINO DA UMA PAUSA E VAI NA DIREÇÃO DE RITA )<br />

16


Tu não gostou <strong>do</strong> mote não, é? (pausa) não foi tu mesmo que deu o mote?<br />

RITA: Não é isso não. É que... Tu tá ai falan<strong>do</strong> de pei<strong>do</strong> e eu to aqui lembran<strong>do</strong> como Rita era<br />

refinada e amorosa.<br />

SEVERINO: Tu não se esquece dela mesmo, né?<br />

RITA LEVANTA O BRAÇO E ACENDE LUMINÁRIA 2|<br />

RITA: Ta com ciúmes é? Só porque eu ainda me lembro de Rita até hoje.<br />

SEVERINO: Eu com ciúmes? Pois fique saben<strong>do</strong> que conheci muita mulher bonita lá no Sul.<br />

Andavam de vesti<strong>do</strong>, salto alto, maquiagem... com batom bem encarna<strong>do</strong>... Tu<strong>do</strong><br />

mulher estudada, que falava um português bonito... Ai, ai... mas nenhuma delas<br />

chegava aos pés da nossa Rita.<br />

RITA: Como nossa ???<br />

SEVERINO: Nossa... Eu já paquerava primeiro <strong>do</strong> que tu.<br />

RITA: É... Num me esqueci disso não... Mas quem namorou mesmo com... ela fui eu.<br />

SEVERINO: Tu se lembra daqueles poemas que a gente mandava pra ela?<br />

RITA: A gente? A gente nada. Eu que mandava tu entregar os bilhetes pra ela, e depois<br />

fiquei saben<strong>do</strong> que tu entregava dizen<strong>do</strong> que era teu os bilhetes.<br />

SEVERINO: Mas Biu, eu entreguei aquele poema lin<strong>do</strong> que tu escreveu pra ela. Tanto que se<br />

tornou um <strong>do</strong>s poemas mais famosos. De norte a sul, to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> conhece até<br />

hoje:<br />

“Batatinha quan<strong>do</strong> nasce<br />

Espalha as ramas pelo chão<br />

A Ritinha quan<strong>do</strong> <strong>do</strong>rme<br />

Põe a mão no coração”<br />

RITA: Deixe de ser enxeri<strong>do</strong>. Tu é um amigo da onça Severino.<br />

SEVERINO: Nisso você tem razão. Tu virou uma onça quan<strong>do</strong> entreguei aquele bilhete. E como<br />

eu ainda sou teu amigo... fica sen<strong>do</strong> verdade o que tu disse.<br />

RITA: Fazer o que? (Pausa)<br />

SEVERINO: Biu... Acorda... Acorda pra vida.<br />

RITA: É mais fácil eu acordar pra morte.<br />

DESCE PARA A PLATEIA<br />

SONOPLASTA – MUSICA 6<br />

“ Tema Rita” BAIXO<br />

17


SEGURA NA MÃO DE ALGUÉM ,<br />

COMO SE ESTIVESSE SE DECLARANDO<br />

PARA ESSA PESSOA)<br />

RITA: Uma mulher carinhosa tem força demasiada na gente<br />

SEVERINO: È caixa de alegria<br />

É uma flor perfumada<br />

É estrada sem ladeira é uma casa iluminada.<br />

RITA: Tu tens toda razão. Mulher que não tem carinho...<br />

SEVERINO: É uma luz apagada<br />

É uma igreja sem santo<br />

É roda desmantelada<br />

É cadeira que não tem perna<br />

É uma mesa quebrada.<br />

RITA: E Sem falar que uma mulher carinhosa...<br />

SEVERINO: É uma estrela brilhan<strong>do</strong><br />

É como raios <strong>do</strong> sol<br />

Quan<strong>do</strong> vem se apresentan<strong>do</strong><br />

É mesmo uma lua cheia<br />

Quan<strong>do</strong> se vai avistan<strong>do</strong>.<br />

RITA: E, a mulher que não tem carinho...<br />

SEVERINO: É coração sem alento<br />

É um violão sem cor<strong>das</strong><br />

É música sem instrumento<br />

É passarinho sem asas<br />

É um balão sem ter vento.<br />

RITA: A mulher carinhosa...<br />

SEVERINO: Domina to<strong>do</strong> vivente<br />

Não há quem possa ser forte<br />

Se achan<strong>do</strong> em sua frente<br />

Este poder soberano<br />

É porque Jesus consente.<br />

RITA: Assim era minha Rita...<br />

SEVERINO: Como ela era quartuda.<br />

RITA: Respeite eu. Eu sou Biu, você esqueceu?<br />

SEVERINO: Foi sem malicia. (PAUSA LONGA)<br />

E aquela música que eu te ajudava cantar para ela pra ela.<br />

Como é mesmo que tu dizia?<br />

OS DOIS COMEÇAM A CANTAR UMA MÚSICA<br />

SUBINDO NO PALCO EM DIREÇÃO À LUZ AZUL<br />

FADEIN LUZ AZUL<br />

OS DOIS AINDA NA PLATÉIA<br />

18


RITA: Rita mora na cacimba<br />

TODOS: Na cacimba é, (2x)<br />

SEVERINO:<br />

Rita mora na beira <strong>do</strong> rio<br />

TODOS:Na cacimba é.(2x)<br />

RITA: Rita mora na cacimba<br />

TODOS:Na cacimba é, (1x RALENTANDO...<br />

RITA E SEVERINO VÃO ABAIXANDO-SE,<br />

SENTANDO-SE NO FOCO VERDE<br />

TROCA DE LUZ SUAVE...<br />

(RITA RECITA O POEMA “ VOZES DA MORTE”<br />

COSTAS COM COSTAS COM SEVERINO DEBAIXO DA LUZ VERDE)<br />

RITA: Agora, sim !<br />

Vamos morrer, reuni<strong>do</strong>s,<br />

Tamarin<strong>do</strong> de minha desventura,<br />

Tu, com o envelhecimento da nervura,<br />

Eu, com o envelhecimento <strong>do</strong>s teci<strong>do</strong>s!<br />

Ah! Esta noite é a noite <strong>do</strong>s Venci<strong>do</strong>s!<br />

E a podridão, meu velho! E essa futura<br />

Ultrafatalidade de ossatura,<br />

A que nos acharemos reduzi<strong>do</strong>s!<br />

Não morrerão, porém, tuas sementes!<br />

E assim, para o Futuro, em diferentes<br />

Florestas, vales, selvas, glebas, trilhos,<br />

Na multiplicidade <strong>do</strong>s teus ramos,<br />

Pelo muito que em vida nos amamos,<br />

Depois da morte inda teremos filhos!<br />

(BIU É INTERROMPIDO POR SEVERINO)<br />

SEVERINO: Tá bem de saúde?... (PAUSA)<br />

Que dizer que tu ainda continua poeta?<br />

RITA: Já vi que se passaram anos e anos e tu continua o mesmo manga<strong>do</strong>r, visse?.<br />

SEVERINO: E tu continua mesmo papel de enrolar prego. Olha aqui Biu... tu tá achan<strong>do</strong> que<br />

vai me engrupi como antigamente?<br />

RITA: Eu não sou que nem tu que vivia engrupin<strong>do</strong> os outros. E é melhor tu fechar essa<br />

tua boca de gamela. Se começar a contar tua biografia, eu tenho certeza que tu vai<br />

direto pro xadrez ou pro Inferno.<br />

(RITA LEVANTA DO LUGAR ACENDE LUMINÁRIA 1<br />

E COMEÇA A CONTAR)<br />

Escute só o que aconteceu ele com Severino.<br />

SONOPLASTIA<br />

MÚSICA 7<br />

“Tutabem”<br />

MÉDIO<br />

19


Um dia a mãe dele, foi buscar água à tardinha lá na cacimba<br />

Deixou e deixou ele em casa<br />

E quan<strong>do</strong> deu fé lá vinha<br />

Um padre pedin<strong>do</strong> água<br />

Nessa ocasião não tinha<br />

(SEVERINO LEVANTA DO LUGAR ACENDE LUMINÁRIA 2)<br />

SEVERINO: Então que disser que é essa a história que tu vai contar de mim?<br />

Pois dessa biografia eu tenho muito <strong>do</strong> orgulho.<br />

RITA: É essa mesmo, Vamos lá:<br />

(OS DOIS COMEÇAM UMA TROCA DE ROUPA<br />

SIMBOLIZANDO O PADRE E BIU,<br />

BIU COLOCA UM CHAPEU DE CORO NA CABEÇA)<br />

(Os <strong>do</strong>is se transformam em outros personagens)<br />

SEVERINO: Bom dia meu fiu, tu podia me arrumar uma caneca de água?<br />

RITA: Só tem garapa.<br />

SEVERINO: Donde é?<br />

RITA: É <strong>do</strong> Engenho Catolé<br />

SEVERINO: Pois eu quero<br />

RITA VAI ATÉ ALUMINARIA 3 QUE ACENDE E SE ABAIXA PARA PEGAR A COITÉ<br />

QUE LEVA AO PADRE NA LUMINÁRIA 2<br />

SEVERINO (PADRE): Oh ! Que garapa boa !<br />

(BIU TROUXE OUTRA COITÉ NAQUELE MESMO MOMENTO DISSE AO PADRE)<br />

RITA: Bebe mais um pouco.<br />

Não precisa acanhamento<br />

Na garapa tinha um rato<br />

Estava podre e fe<strong>do</strong>rento<br />

SEVERINO: Menino tenha mais educação,<br />

E porque não me disseste?<br />

Oh! Natureza <strong>do</strong> cão!<br />

(PEGA A COITÉ E QUEBRA-A NO CHÃO<br />

RITA: Danou-se!!!!!!!!!!!!!!!!! Misericórdia, São Bento!<br />

Com isso mamãe se dana<br />

Me pague mil e quinhentos seu vigário<br />

Que essa coité, seu vigário<br />

SONOPLASTA<br />

MÚSICA 8<br />

“SEU PEREIRA”<br />

BAIXO<br />

COM FADEOUT QUANDO<br />

COMEÇAM AS FALAS<br />

E DEIXA BEM BAIXINHO<br />

20


É de mamãe mijar dentro!<br />

(OS DOIS CAEM NA GARGALHADA)<br />

JOGO DE CENA UTILIZANDO LUMINÁRIAS 1,2 E 3<br />

Me diga... Qual foi o resulta<strong>do</strong> dessa história?<br />

SEVERINO: Tu não ficou saben<strong>do</strong> o que eu fiz no outro dia?<br />

RITA: Não!<br />

SEVERINO: No outro dia, eu levantei bem ce<strong>do</strong> e mamãe me obrigou a ir confessar com o<br />

maldito padre.<br />

RITA: Não diga isso não rapais, Deus vai te castigar.<br />

SEVERINO: Castigar que nada. Quem me castigou foi minha mãe por causa daquele bendito<br />

padre. Mas eu me vinguei daquele cibito. (Os <strong>do</strong>is vão para o fun<strong>do</strong> palco)<br />

RITA: Acuse-se;<br />

Peguei uma lagartixa<br />

Amarrei pelo gogó<br />

Botei numa caixinha<br />

No bolso <strong>do</strong> meu paletó<br />

E Fui me confessar com paciência de Jó<br />

Fui ao confessionário<br />

Fiz logo o pelo-sinal.<br />

SEVERINO: Eu sou aquele menino da garapa e da coité.<br />

RITA: Levanta-te. Eu já sei você quem tu és. Saia da minha igreja seu filho <strong>do</strong> demo e vá<br />

de retro satanás.<br />

SEVERINO: Voltei a faze o pelo-sinal de novo e<br />

Tirei a lagartixa da caixinha.<br />

Soltei junto <strong>do</strong> pé <strong>do</strong> Padre,<br />

A lagartixa subiu<br />

Por debaixo da batina dele<br />

Entrou na perna da calça<br />

O padre meteu os pés<br />

Arrebentou a cortina <strong>do</strong> confessionário<br />

No meio daquele turututu<br />

Ele Saltava pra to<strong>do</strong> la<strong>do</strong><br />

Que parecia um Cabrito novo<br />

O pio foi que o padre Terminou tiran<strong>do</strong> as calças e<br />

Fican<strong>do</strong> o esqueleto nu no meio da igreja.<br />

(OS DOIS CAEM NA GARGALHADA)<br />

RITA: Aquele padre era a imagem <strong>do</strong> Papa Bento IV, lembra no teatro de Manoel de<br />

Layde que ele quebrou to<strong>das</strong> as velas da peça morte vida Severina. E ainda gritou<br />

aos quatro canto para quem quisessem ouvir<br />

21


(IMITANDO O PADRE )<br />

Filho de uma besta fera, seu infeliz <strong>das</strong> costas oca,,,Enquanto eu for autoridade<br />

máxima dessa paróquia, nem que tu tiver arquejan<strong>do</strong> pra morrer, eu não permitirei<br />

que coloque os pés aqui dentro.<br />

SEVERINO: Mesmo assim nós apresentamos. A peça e foi um sucesso. Eu me lembro como se<br />

fosse hoje. Toda a escola de vela na Mão, como se fosse uma romaria.<br />

SEVERINO E RITA APAGAM LUMINÁRIAS 1, 2 E3<br />

(ORGANIZA UMAS CINCO PESSOAS E ENTREGA VELAS,<br />

SIMULANDO UMA PROCISSÃO QUE CAMINHA EM DIREÇÃO AO PALCO<br />

( CENA MORTE E VIDA SEVERINA -João Cabral de Mello Neto)<br />

(Ladainhas de Morte e Vida Severina) LUZES DAS VELAS<br />

1-<br />

CANTADOR -Severino chegou no sertão<br />

TODOS- Severino chegou no sertão<br />

CANTADOR -E ô gente, que graças vocês me dão.<br />

TODOS- E ô gente, que graças vocês me dão.<br />

2-<br />

CANTADOR -O meu Mestre rei <strong>do</strong>s Mestres chegou<br />

TODOS- O meu Mestre rei <strong>do</strong>s Mestres chegou<br />

CANTADOR -E neste sertão entrou<br />

TODOS-E neste sertão entrou<br />

CANTADOR -Vem chegan<strong>do</strong> e vem saudan<strong>do</strong> o lavra<strong>do</strong>r<br />

TODOS-Vem chegan<strong>do</strong> e vem saudan<strong>do</strong> o lavra<strong>do</strong>r<br />

CANTADOR -E o meu Mestre rei <strong>do</strong>s Mestres já raiou.<br />

TODOS-E o meu Mestre rei <strong>do</strong>s Mestres já raiou APAGOU LUZ CONTRA<br />

PROCISSÃO JÁ NO PALCO<br />

COM LUZ DA LAMPARINA E VELAS<br />

3-<br />

CANTADOR -Minha gente venha ver<br />

TODOS-Festa de encantaria<br />

CANTADOR -Minha gente venha ver<br />

TODOS-Festa de encantaria<br />

CANTADOR -Venham ver meu Mestre rei <strong>do</strong>s Mestres<br />

TODOS-Venham ver a estrela que nos guia.<br />

CANTADOR -Venham ver meu Mestre rei <strong>do</strong>s Mestres<br />

TODOS-Venham ver a estrela que nos guia.<br />

A PROCISSÃO ENCONTRA UM FUNERAL (DOIS HOMENS CARREGANDO UM DEFUNTO NUMA<br />

REDE, AOS GRITOS DE "Ó IRMÃOS DAS ALMAS! IRMÃOS DAS ALMAS! NÃO FUI EU QUEM MATEI<br />

NÃO!"<br />

RITA INTERPELA O QUE CARREGA A REDE:<br />

RITA: A quem estais carregan<strong>do</strong>,<br />

irmãos <strong>das</strong> almas,<br />

embrulha<strong>do</strong> nessa rede?<br />

CANTADOR – TOCANDO E CANTANDO-<br />

- Puxa a ladainha 1 (DÓ)<br />

- Puxa a ladainha 2 (RÉ)<br />

- Puxa a ladainha 3 (LÁ menor/G)<br />

SONOPLASTA<br />

MÚSICA 9<br />

BAIXO<br />

“Irmão <strong>das</strong> almas”<br />

22


SEVERINO: A um defunto de nada,<br />

irmão <strong>das</strong> almas,<br />

que há muitas horas viaja<br />

à sua morada.<br />

RITA: E sabeis quem era ele,<br />

irmãos <strong>das</strong> almas,<br />

sabeis como ele se chama<br />

ou se chamava?<br />

SEVERINO: Severino Lavra<strong>do</strong>r,<br />

irmão <strong>das</strong> almas,<br />

RITA: E de onde que o estais trazen<strong>do</strong>,<br />

irmãos <strong>das</strong> almas,<br />

onde foi que começou<br />

vossa jornada?<br />

SEVERINO: Onde a Caatinga é mais seca,<br />

irmão <strong>das</strong> almas,<br />

onde uma terra que não dá<br />

nem planta brava.<br />

RITA: E foi morrida essa morte,<br />

irmãos <strong>das</strong> almas,<br />

essa foi morte morrida<br />

ou foi matada?<br />

SEVERINO: Até que não foi morrida,<br />

irmão <strong>das</strong> almas,<br />

esta foi morte matada,<br />

numa emboscada.<br />

SEVERINO: E o que guardava a emboscada,<br />

irmão <strong>das</strong> almas<br />

e com que foi que o mataram,<br />

com faca ou bala?<br />

SEVERINO: Este foi morto de bala,<br />

irmão <strong>das</strong> almas, de bala é mais garanti<strong>do</strong>.<br />

RITA : E quem foi que o emboscou,<br />

irmãos <strong>das</strong> almas,<br />

quem contra ele soltou<br />

essa ave-bala?<br />

SEVERINO: Ali é difícil dizer,<br />

irmão <strong>das</strong> almas,<br />

sempre há uma bala voan<strong>do</strong><br />

desocupada por aquela ban<strong>das</strong>.<br />

RITA: E onde o levais a enterrar,<br />

irmãos <strong>das</strong> almas,<br />

com a semente <strong>do</strong> chumbo<br />

23


que tem guardada?<br />

SEVERINO: Ao cemitério de Torres,<br />

irmão <strong>das</strong> almas,<br />

que hoje se diz Toritama,<br />

de madrugada.<br />

RITA: E poderei ajudar,<br />

irmãos <strong>das</strong> almas?<br />

vou passar por Toritama,<br />

é minha estrada.<br />

SEVERINO: Bem que poderá ajudar,<br />

irmão <strong>das</strong> almas,<br />

é irmão <strong>das</strong> almas quem ouve<br />

nossa chamada. (Para platéia)<br />

E vocês podem voltar,<br />

irmão <strong>das</strong> almas,<br />

pode voltar daqui mesmo<br />

para sua casa.<br />

RITA: Vou eu que a viagem é longa,<br />

irmãos <strong>das</strong> almas,<br />

é muito longa a viagem<br />

e a serra é alta.<br />

SEVERINO: Mais sorte tem o defunto<br />

Irmãos <strong>das</strong> almas<br />

Pois já não fará na volta a caminhada.<br />

(LADAINHA 4 – SEM TONALIDADE)<br />

CANTADOR: Louva<strong>do</strong> seja divina luz<br />

TODOS: Louva<strong>do</strong> seja divina luz<br />

Em nossas almas acendeu<br />

O amor o amor é de Jesus<br />

Em nossas almas acendeu<br />

O amor o amor é de Jesus<br />

O amor o amor é de Jesus<br />

SEVERINO E RITA DEITAM A REDE NO CHÃO (O DEFUNTO),<br />

O CANTADOR SE ACERCA, OLHA E COMEÇA “ MORTE E VIDA SEVERINA”<br />

CANTADOR: Esta cova em que estás, com palmos medida<br />

É a conta menor que tiraste em vida<br />

É de bom tamanho, nem largo, nem fun<strong>do</strong><br />

TODOS: É a parte que te cabe deste latifúndio> (3x)<br />

Não é cova grande, >é cova medida<br />

É a terra que queriiias>ver dividiiida><br />

É uma cova grande pra teu pouco defuunto<br />

SONOPLASTA<br />

MÚSICA 10<br />

ALTO<br />

“Sinos”<br />

FADEIN LUZES AZUIS<br />

24


Mas estarás mais ancho que estavas no mun<strong>do</strong><br />

É a parte que te cabe deste latifúndio> (2x) – RALENTANDO...<br />

FADEOUT LUZES AZUIS<br />

SEVERINO ACENDE LUMINÁRIA 2<br />

RITA: Que vida mandureba que agente leva hoje. (Pausa)<br />

SEVERINO: Ontem eu vi João Cabral de Mello Neto<br />

RITA: (GARGALHADAS) Tu só pode tá varian<strong>do</strong> <strong>do</strong> juízo.<br />

SEVERINO: (Pausa) A peça Morte vida Severina.<br />

RITA: Tenho saudades de tu<strong>do</strong> que acontecia naquele tempo.<br />

SEVERINO: As gincanas nas festas da semana santa, vão fica no meu coração.<br />

RITA: As danças de roda.<br />

SEVERINO: Os campeonatos de pião.<br />

RITA: As corri<strong>das</strong> de saco.<br />

SEVERINO: <strong>Quebra</strong> panela.<br />

RITA: Policia e ladrão.<br />

SEVERINO: Quem beijava mais na boca.<br />

RITA: Quem não beijava.<br />

SEVERINO: Os torneios de quem se masturbava primeiro.<br />

RITA: A mocinha e o mocinho.<br />

SEVERINO: O campeonato de quem tinha o bilau maior <strong>do</strong> que o outro.<br />

RITA: O noivo e a noiva na quadrilha.<br />

SEVERINO: As disputas de quem subia primeiro no pau de sebo.<br />

RITA: Tu disseste pau de sebo?<br />

SEVERINO: Disse!<br />

RITA: Pois eu tive uma idéia.<br />

SEVERINO: Que idéia?<br />

RITA: Se agente fizesse um campeonato...<br />

25


SEVERINO: Um campeonato?<br />

RITA: Sim!<br />

SEVERINO: Campeonato de quem tem o biLau maior?<br />

RITA: Não!<br />

SEVERINO: De que se masturba primeiro...<br />

RITA: Tu és mesmo um descomunga<strong>do</strong> Severino.<br />

SEVERINO: Descomunga<strong>do</strong>...Eu?<br />

RITA: O Campeonato é pra vê quem sobe no pau de sebo primeiro.<br />

SEVERINO: Agora estou entenden<strong>do</strong>. Agora lhe pergunto, Tu tens certeza que quer fazer essa<br />

disputa?<br />

RITA: Certeza plena.<br />

(OS PERSONAGENS CORREM PELO PALCO / TEATRO<br />

E NÃO ENCONTRAM PAU DE SEBO NENHUM)<br />

PARAM NO CENTRO DO PALCO<br />

SEVERINO: Cadê o pau de sebo?<br />

RITA: Não existe pau de sebo.<br />

SEVERINO: Não existe mais nada.<br />

RITA: Só <strong>do</strong>is desmiola<strong>do</strong>.<br />

RITA: E lembranças de um tempo.<br />

SOLTAR MÁQUINA DE FUMAÇA<br />

ATRAS DA LUZ AZUL DO FUNDO<br />

SEVERINO (RECITANDO O POEMA NEGRO –<br />

AUGUSTO DOS ANJOS) USANDO AS LUZES AZUIS<br />

SEVERINO: Para iludir minha desgraça, eu estu<strong>do</strong>.<br />

Intimamente eu sei que não me ilu<strong>do</strong>.<br />

SONOPLASTA<br />

MUSICA 11<br />

“PAU DE SEBO” - ALTO<br />

FADEOUT ATÉ ZERO NA METADE<br />

DA MÚSICA QUANDO ATORES<br />

PARAM<br />

SONOPLASTA<br />

MUSICA 12<br />

“Augusto <strong>do</strong>s Anjos”<br />

BAIXO<br />

26


Para onde vou (o mun<strong>do</strong> inteiro o nota)<br />

Nos meus olhares fúnebres, carrego<br />

A indiferença estúpida de um cego<br />

E o ar in<strong>do</strong>lente de um chinês idiota!<br />

A passagem <strong>do</strong>s séculos me assombra.<br />

Para onde irá corren<strong>do</strong> minha sombra<br />

Nesse cavalo de eletricidade?!<br />

Caminho, e a mim pergunto, na vertigem:<br />

— Quem sou? Para onde vou? Qual a minha origem?<br />

E parece-me um sonho a realidade<br />

Surpreen<strong>do</strong>-me, sozinho, numa cova.<br />

Então meu desvario se renova...<br />

E como que, abrin<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os jazigos,<br />

A Morte, em trajos pretos e amarelos,<br />

Levanta contra mim grandes cutelos<br />

E as baionetas <strong>do</strong>s dragões antigos!<br />

E quan<strong>do</strong> vi que aquilo vinha vin<strong>do</strong><br />

Eu fui cain<strong>do</strong> como um sol cain<strong>do</strong><br />

De declínio em declínio; e de declínio<br />

Em declínio, com a gula de uma fera,<br />

Eu quis ver o que era, e quan<strong>do</strong> vi o que era,<br />

Vi que era pó, vi que era esterquilínio!<br />

Chegou a tua vez, oh! Natureza!<br />

Eu desafio agora essa grandeza,<br />

Perante a qual meus olhos se extasiam...<br />

Eu desafio, desta cova escura,<br />

No histerismo dana<strong>do</strong> da tortura<br />

To<strong>do</strong>s os monstros que os teus peitos criam.<br />

Tu não és minha mãe, velha nefasta!<br />

Com o teu chicote frio de madrasta<br />

Tu me açoitaste vinte e duas vezes...<br />

Por tua causa apodreci nas cruzes,<br />

Em que pregas os filhos que produzes<br />

Durante os desgraça<strong>do</strong>s nove meses!<br />

Semea<strong>do</strong>ra terrível de defuntos,<br />

Contra a agressão <strong>do</strong>s teus contrastes juntos<br />

A besta, que em mim <strong>do</strong>rme, acorda em berros<br />

Acorda, e após gritar a última injúria,<br />

Chocalha os dentes com me<strong>do</strong>nha fúria<br />

Como se fosse o atrito de <strong>do</strong>is ferros!<br />

SEVERINO: Pois bem! Chegou minha hora de vingança.<br />

Tu mataste o meu tempo de criança<br />

E de segunda-feira até <strong>do</strong>mingo,<br />

Amarra<strong>do</strong> no horror de tua rede,<br />

Deste-me fogo quan<strong>do</strong> eu tinha sede...<br />

Deixa-te estar, canalha, que eu me vingo!<br />

27


De súbito outra visão negra me espanta!<br />

Estou em Roma. É Sexta-feira Santa.<br />

A treva invade o obscuro orbe terrestre.<br />

No Vaticano, em grupos prosterna<strong>do</strong>s,<br />

Com as longas far<strong>das</strong> rubras, os solda<strong>do</strong>s<br />

Guardam o corpo <strong>do</strong> Divino Mestre.<br />

Como as estalactites da caverna,<br />

Cai no silêncio da Cidade Eterna<br />

A água da chuva em largos fios grossos...<br />

De Jesus Cristo resta unicamente<br />

Um esqueleto; e a gente, ven<strong>do</strong>-o, a gente<br />

Sente vontade de abraçar-lhe os ossos!<br />

Não há ninguém na estrada da Ripetta.<br />

Dentro da Igreja de São Pedro, quieta,<br />

As luzes funerais arquejam fracas...<br />

O vento entoa cânticos de morte.<br />

Roma estremece! Além, num rumor forte,<br />

Recomeça o barulho <strong>das</strong> matracas.<br />

A desagregação da minha idéia<br />

Aumenta. Como as chagas da morféa<br />

O me<strong>do</strong>, o desalento e o desconforto<br />

Paralisam-se os círculos motores.<br />

Na Eternidade, os ventos geme<strong>do</strong>res<br />

Estão dizen<strong>do</strong> que Jesus é morto!<br />

OS DOIS: Não! Não! Jesus não morreu! Vive na serra<br />

Da Borborema, no ar de minha terra,<br />

Na molécula e no átomo... Resume<br />

A espiritualidade da matéria<br />

E ele é que embala o corpo da miséria<br />

E faz da cloaca uma urna de perfume.<br />

Na agonia de tantos pesadelos<br />

Uma <strong>do</strong>r bruta puxa-me os cabelos,<br />

Desperto. É tão vazia a minha vida!<br />

No pensamento desconexo e falho<br />

Trago as cartas confusas de um baralho<br />

E um pedaço de cera derretida!<br />

Dorme a casa. O céu <strong>do</strong>rme. A árvore <strong>do</strong>rme.<br />

Eu, somente eu, com a minha <strong>do</strong>r enorme<br />

Os olhos ensangüento na vigília!<br />

E observo, enquanto o horror me corta a fala,<br />

O aspecto sepulcral da austera sala<br />

E a impassibilidade da mobília.<br />

Meu coração, como um cristal, se quebre<br />

Torne-se gelo o sangue que me abrasa.<br />

O termômetro negue a minha febre,<br />

E eu me converta na cegonha triste<br />

SONOPLASTA:<br />

FADEOUT DAMUSICA 12<br />

ATÉ ZERO<br />

28


Que <strong>das</strong> ruínas duma casa assiste<br />

Ao desmoronamento de outra casa!<br />

Ao terminar este senti<strong>do</strong> poema<br />

Onde vazei a minha <strong>do</strong>r suprema<br />

Tenho os olhos em lágrimas imersos...<br />

Rola-me na cabeça o cérebro oco.<br />

Por ventura, meu Deus, estarei louco?!<br />

Daqui por diante não farei mais versos.<br />

SEVERINO: Bonito !... Augusto <strong>do</strong>s Anjos.<br />

BLACKOUT<br />

RITA LEVANTA O BRAÇO E ACENDE A LUMINÁRIA 4<br />

RITA: É <strong>do</strong>s que eu mais gosto.<br />

SEVERINO: Eu acho que nós temos muitas coisas em comum.<br />

(COMEÇA A RIR)<br />

RITA: Deixe de ser gaiato rapais.<br />

SEVERINO: Que me lembrei de uma coisa.<br />

RITA: Tu se lembraste de quê? È alguma coisa sobre augusto <strong>do</strong>s Anjos?<br />

SEVERINO: Não tem nada ver com poema.<br />

RITA: E tem a ver com quê?<br />

SEVERINO: È que me veio uma lembrancinha na cabeça agora.<br />

RITA: Deixe de cachorrada e diga que lembrança que é essa. (SEVERINO CONTINUA RINDO)<br />

Pare de Gaiatice e diga logo homem.<br />

RITA APAGA A LUMINÁRIA 4<br />

SEVERINO LEVANTA O BRAÇO E ACENDE A LUMINARIA 2<br />

SEVERINO: È as historias de Paulo Bitu. (Rin<strong>do</strong>)<br />

RITA: De Bitu?<br />

SEVERINO: Sim de Bitu !<br />

RITA: Mas qual delas? Pois ele passava a noite nos velórios contan<strong>do</strong> historias.<br />

SEVERINO: A história <strong>das</strong> Fateiras...<br />

RITA: Aquele furdunso em que a fateira se zangou com o fiscal por causa <strong>do</strong>s impostos que ele<br />

queria cobrar? Tu lembra ainda ?<br />

SEVERINO: Se lembro! As fateiras to<strong>das</strong> se armaram de mocotó, e foi pau pra to<strong>do</strong> la<strong>do</strong>...<br />

29


RITA: Minha <strong>do</strong>na<br />

Não interessa a questão<br />

Me pague 15 cruzeiros<br />

Que eu passo o talão com o comprovante<br />

SEVERINO: Aonde você viu<br />

Pagar imposto de tripa<br />

Hoje eu brigo muito<br />

E não pago essa “sulipa”<br />

Posso pagar na cadeia<br />

Depois que passar-lhe a ripa.<br />

RITA: A velha agarrou uma perna de boi<br />

E logo botou o fiscal pra correr<br />

Com o mocotó na mão ela<br />

Ficou pior que o diabo.<br />

E Quan<strong>do</strong> o mocotó batia<br />

Revirava de fileira<br />

Quatro cinco de uma vez<br />

Era aquela brincadeira<br />

Pois nem o diabo ia perto<br />

Do pé <strong>do</strong> boi da fateira.<br />

SEVERINO: E ainda era um dia de missa<br />

O padre correu pra fora<br />

Dizen<strong>do</strong> minha gente calma<br />

Que é isso minha senhora<br />

As fateiras o agarraram<br />

Como <strong>do</strong>ida nessa hora.<br />

RITA LEVANTA O BRAÇO E ACENDE LUMINÁRIA 4<br />

RITA: Entraram de igreja adentro<br />

Naquela revolução<br />

<strong>Quebra</strong>ram to<strong>das</strong> as cadeiras<br />

Que tinha sobre o salão<br />

Vela, santo e oratório<br />

Iam botan<strong>do</strong> no chão.<br />

RITA LEVANTA O BRAÇO APAGA LUMINÁRIA 4<br />

SEVERINO: Bateram no altar mor<br />

Derrubaram a padroeira<br />

E o povo to<strong>do</strong> em cima<br />

Para pegar a fateira<br />

Da rua para a igreja<br />

Era aquela bagaceira.<br />

EFEITO LUZ VERMELHA GERAL PISCANDO<br />

RITA&SEVERINO CORREM PELO PALCO<br />

“QUEBRANDO SANTOS”<br />

RITA: <strong>Quebra</strong>ram Santa Sofia<br />

SEVERINO: <strong>Quebra</strong>ram S. Severino<br />

30


RITA: <strong>Quebra</strong>ram S. Aniceto<br />

SEVERINO: <strong>Quebra</strong>ram S. Guilhermino<br />

RITA: <strong>Quebra</strong>ram S. Agostinho<br />

SEVERINO: <strong>Quebra</strong>ram S. Marcolino.<br />

RITA: <strong>Quebra</strong>ram Santa Tereza<br />

SEVERINO: <strong>Quebra</strong>ram S anta Izabel<br />

RITA: <strong>Quebra</strong>ram Santa Cecília<br />

SEVERINO: <strong>Quebra</strong>ram S. Gabriel<br />

RITA: <strong>Quebra</strong>ram S. Bonifácio<br />

SEVERINO: <strong>Quebra</strong>ram S. Rafael.<br />

RITA: <strong>Quebra</strong>ram S. Pedro e S. Braz<br />

SEVERINO: <strong>Quebra</strong>ram S. Ananias<br />

RITA: S. Cosme e S. Damião<br />

SEVERINO: S. Bento e S. Zacarias<br />

RITA: S. Renato e S. Abel<br />

SEVERINO: S. Joaquim e S. Jeremias.<br />

RITA: Uma fateira agarrou<br />

S. Paulo e deu-lhe um sopapo<br />

O santo correu gritan<strong>do</strong><br />

Desta eu sei que não escapo<br />

E a fateira gritou:<br />

SEVERINO: Corra senão eu lhe capo.<br />

SEVERINO: Meteram o mocotó<br />

Na cara de S. Nicolau<br />

S. Ju<strong>das</strong> Tadeu ficou<br />

Mais mole <strong>do</strong> que mingau<br />

A barba de S. José<br />

Quase voava no pau.<br />

RITA: S. Jorge no seu cavalo<br />

Saiu furan<strong>do</strong> de espora<br />

E o povo <strong>do</strong> barulho<br />

Correu pela rua afora<br />

E as fateiras exemplan<strong>do</strong><br />

To<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> nessa hora.<br />

“ A CAVALO” EM SEVERINO, ACENDE LUMINARIA 2<br />

31


SEVERINO: Foi grande o prejuízo<br />

Nesse dia lá em princesa Isabel<br />

Esse causo vai ficar na história...<br />

RITA: Sem falar que virou um folheto de Cordel.<br />

SEVERINO: Virou é?<br />

RITA: Sim virou! E depois virou uma peça de teatro...<br />

SEVERINO: Pois não é que virou mesmo.<br />

OS DOIS: Virou a QUEBRA DO CARIRI.... (2x)<br />

(PLATÉIA BATE PALMAS)<br />

RITA: A peça foi tão boa que até bateram palmas..<br />

SEVERINO: É...falan<strong>do</strong> em Cordel, já faz mais de cem anos<br />

a nossa literatura<br />

de Cordel, aqui no Brasil.<br />

RITA: Em Provença, sul da França,<br />

Trova<strong>do</strong>res e jograis<br />

Já recitavam cordéis<br />

Para os senhores feudais.<br />

Já aqui, no nosso país,<br />

Os primeiros cordelistas<br />

Foram Leandro de Barros...<br />

SONOPLASTA APAGA AS LUZES VERMELHAS<br />

SEVERINO: Francisco Batista...(PAUSA) cume qui tu sabi tu<strong>do</strong> isso..?<br />

RITA: So nafabeta não ......Martins de Athaide,<br />

Também devo ressaltar Silvino Pirauá, que foi grande artista.<br />

SEVERINO: Foram esses nordestinos,<br />

Com outros aqui <strong>do</strong> sertão,<br />

que difundiram Cordel<br />

para toda a Região.<br />

depois, pra São Paulo...<br />

enfim, pra to<strong>do</strong> Brasil:<br />

celeiro de tradição! (PAUSA)<br />

RITA: Gostaria de um dia poder relembrar,<br />

Títulos de alguns cordéis<br />

Que formavam a coleção<br />

De Nenzinha Oliveira,<br />

- Canta<strong>do</strong>ra brasileira -<br />

mãezinha, <strong>do</strong> coração!<br />

lembro quan<strong>do</strong> ela cantava<br />

“A Sina de Lampião”;<br />

32


SEVERINO: Pelé na Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>”<br />

RITA: “Brasil, Tri-campeão”;<br />

SEVERINO: “A Donzela Teo<strong>do</strong>ra”<br />

RITA: “As Proezas de João Grilo”;<br />

SEVERINO: “A Vida e o Testamento de Cancão de Fogo” ACENDE LUZ CONTRA<br />

“O Nordeste sem Inverno”.<br />

A Chegada de Lampião no Inferno”.<br />

RITA E SEVERINO APAGAM LUMINÁRIA 2<br />

VÂO PARA O CORREDOR<br />

CONVOCAM O PUBLICO A CANTAR<br />

CANTADOR SENTADO NO CARRON,<br />

NA MARCAÇÃO DA CENA DE “LAVA PÉS”<br />

SEVERINO: Lampião chegou<br />

RITA: Lampião não chegou<br />

SEVERINO: Lampião chegou<br />

RITA: Lampião não chegou<br />

OS DOIS: Sei que ele chegou<br />

OS DOIS: Para botar ordem no inferno ele chegou.<br />

BLACKOUT<br />

SEVERINO POSICIONA-SE SENTADO NO CARRON<br />

COM A BACIA A SUA FRENTE<br />

CENA DO LAVAPÉS<br />

SEVERINO DEBAIXO DA LUZ AZUL<br />

LAVANDO O CORPO NA BACIA<br />

APÓS SE SECAR E SE VESTIR<br />

COMEÇA ACENDER UMA FOGUEIRA IMAGINARIA<br />

DEBAIXO DA LUZ VERDE<br />

RITA VEM DA COXIA COM A XÍCARA DE CAFÉ QUENTE NAS MÃOS<br />

RITA: Porque ainda insiste em ficar ai amuqueca<strong>do</strong><br />

aceden<strong>do</strong> essa fogueira?<br />

SEVERINO: Para afastar os fantasmas.<br />

RITA: Só se for os fantasmas da fome e da miséria.<br />

SEVERINO: Você não percebeu que hoje é noite de São João?<br />

RITA: Para mim o único dia importante é o dia de Santo Antonio.<br />

BLACKOUT<br />

SONOPLASTA<br />

MUSICA 13<br />

“Fogueira”<br />

ALTO<br />

33


SEVERINO ACENDE LUMINÁRIA 2<br />

SEVERINO: Porque ?...<br />

RITA ACENDE LUMINÁRIA 1<br />

RITA: Dia <strong>do</strong> meu casamento.<br />

SEVERINO: Pois fique saben<strong>do</strong> que é nos meses de Junho e Julho que percebemos o<br />

comportamento cultural <strong>do</strong> homem nordestino, a alegria <strong>do</strong> pipocar <strong>do</strong>s fogos nas<br />

brincadeiras <strong>das</strong> crianças, o encantamento <strong>das</strong> girân<strong>do</strong>las colori<strong>das</strong> e<br />

artesanalmente confecciona<strong>das</strong>, a rapidez <strong>do</strong>s foguetes rasgan<strong>do</strong> o céu..<br />

.<br />

RITA APAGA LUMINÁRIA 1<br />

RITA: Acho que tu tá meio abilola<strong>do</strong>.<br />

SEVERINO APAGA LUMINÁRIA 2<br />

SEVERINO: É tu que ta abilolada <strong>do</strong> juízo.<br />

RITA: Eu gostava tanto da subida poética e <strong>do</strong>s balões nas noites de São João, <strong>das</strong> velhas<br />

superstições para quem mexe com fogo, da canjica, da pamonha, da fatia de bolo,<br />

<strong>das</strong> simpatias á Santo Antônio casamenteiro, ele fazia tantas promessas de<br />

amizade e juras de amor no meio da quadrilha... No ritmo de "balancê".<br />

SEVERINO: Deixe de lembranças Rita e vamos encarar a realidade de frente.<br />

RITA: Tu disse Rita?<br />

SONOPLASTA<br />

MÚSICA 14<br />

“Tema Rita”<br />

ALTO >>>> BAIXO<br />

Como tu sabia que eu era Rita? Me diz. (parte para agressão) como tu sabia que eu<br />

era Rita? Eu não sou Rita. Sou Biu, Biu. Entendeu? Aquele Biu que sempre amou de<br />

verdade, aquele que se casou com Rita, aquele que foi arrasta<strong>do</strong> por aquele cavalo<br />

desgoverna<strong>do</strong>, aquele que morreu para os outros, mas que continua vivinho dentro de<br />

mim, aquele que sempre vai está vivo dentro de mim. Eu sou Biu.<br />

34


SOLTAR MÁQUINA DE FUMAÇA<br />

SEVERINO: Nem que você tivesse vestida de lampião, eu te reconheceria. Viva hoje que aquele<br />

tempo já passou.<br />

RITA: Aquele tempo...?<br />

SEVERINO: Sim! Agora deixe Biu descansar em paz.<br />

RITA: (PAUSA) Mesmo que a morte me mate. E se passe mais trinta anos, não vou quebrar<br />

minha promessa feita no dia de santo Antonio.<br />

SEVERINO: ACENDE A LAMPARINA<br />

BLACKOUT<br />

LUZ DA LAMPARINA<br />

ENTREGA A LAMPARINA A RITA<br />

E VAI SAINDO DE CENA...)<br />

Avia Rita...Bora que ele ta esperan<strong>do</strong> agente.<br />

RITA: Quem ta esperan<strong>do</strong>? Biu?<br />

SEVERINO: O TEMPO...<br />

SAI DE CENA<br />

RITA: O tempo foi algo que inventaram...<br />

Para que as coisas não acontecessem to<strong>das</strong> de uma vez.<br />

(RITA APAGA A LAMPARINA)<br />

AO FINAL DA MUSICA “O tempo”<br />

quan<strong>do</strong> os atores voltam ao palco para palmas...<br />

Texto Basea<strong>do</strong> na literatura de cordel<br />

Adaptação: Cecéu Trajano<br />

Ayga<strong>do</strong>ux, maio de 2009<br />

Fim<br />

SONOPLASTA<br />

MÚSICA 15<br />

“O tempo”<br />

ALTO<br />

SONOPLASTA<br />

MÚSICA 16<br />

“Nanoux”<br />

MÉDIO<br />

35

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!