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A rtigo<br />

Produção Agrícola Biológica (Orgânica) em<br />

Portugal: Evolução, Paradoxos e Desafios*<br />

Cristóvão, Artur**<br />

Koehnen, Timothy**<br />

Strecht, António***<br />

Resumo:<br />

O desenvolvimento de sistemas de agricul-<br />

tura sustentados, como a agricultura biológi-<br />

ca, protetores do ambiente e com potencial<br />

para ajudar a fortalecer a economia rural, é<br />

um desafio importante às escalas européia e<br />

global. Se, 10 ou 15 anos atrás, a produção<br />

agrícola biológica era praticamente ignorada<br />

pelas autoridades públicas e os decisores po-<br />

líticos, hoje é considerada uma alternativa de<br />

valor à agricultura convencional e uma área<br />

importante de intervenção. Em suma, a agri-<br />

cultura biológica saiu da marginalidade e progride<br />

em todo o mundo. Na União Européia o<br />

apoio à agricultura biológica cresceu conti-<br />

nuamente nos últimos cinco anos e os resultados<br />

são bem visíveis. A área de produção<br />

biológica mais do que dobrou desde 1992 e<br />

espera-se que continue a crescer. Em 1999,<br />

tal área correspondia a 2,2% da SAU e envol-<br />

via 1,45 % das explorações. Os produtos bioló-<br />

gicos representam já cerca de 3% dos produtos<br />

alimentares vendidos na UE, enquanto em<br />

*Trabalho preparado no quadro de um Projecto<br />

financiado pela União Europeia através do Centro para<br />

o Desenvolvimento da Formação Profissional<br />

(CEDEFOP). Uma versão mais completa e desenvolvida<br />

foi apresentada no IV Colóquio Hispano-Portugês<br />

de Estudos Rurais, Santiago de Compostela, 7 e 8 de<br />

Junho de 2001. (Texto em português de Portugal).<br />

**Professores da Universidade de Trás-os-Montes e<br />

Alto Douro, Portugal.<br />

E-mails: acristov@utad.pt e tkoehnen@utad.pt<br />

***Consultor Técnico e Formador em Agricultura<br />

Biológica. Email: antoniostrechtc@netc.pt<br />

1992 apenas representavam 1%. A procura dos<br />

consumidores também tem vindo a crescer e<br />

o mercado a organizar-se. Apesar de tudo, essa<br />

forma de produção ainda enfrenta muitos obstáculos,<br />

nomeadamente em áreas como a or-<br />

ganização da produção e da distribuição, a<br />

investigação, o ensino, a formação e a extensão.<br />

Esse trabalho é uma contribuição para<br />

avaliar o estado da agricultura biológica em<br />

Portugal. Para além de apresentar uma perspectiva<br />

de evolução desde 1985 até ao final<br />

de 1999, discute alguns paradoxos e desafios<br />

relativos ao desenvolvimento deste tipo de<br />

agricultura.<br />

Palavras-chave: Portugal; desenvolvimento<br />

agrícola; agricultura biológica (orgânica)<br />

1 Um terreno fértil para o<br />

desenvolvimento da<br />

agricultura biológica<br />

A segurança alimentar é hoje questão de<br />

debate público e aguda preocupação em nível<br />

político. Na União Européia (UE), dois Comis-<br />

sários, Franz Fischler e David Byrne, promo-<br />

veram recentemente uma mesa-redonda de<br />

alto nível, com representantes do sector agro-<br />

alimentar, da distribuição, dos consumidores<br />

e dos meios científicos, tendo em vista definir<br />

uma nova orientação para produção e po-<br />

lítica alimentares em termos de seguran-<br />

ça, qualidade e custos. Nela "foram discutidos<br />

os sistemas de produção, a evolução das atitu-<br />

des quanto à relação qualidade-custos, o<br />

defasamento entre a procura de qualidade e a<br />

oferta do mercado, a sensibilidade crescente aos<br />

aspectos de respeito pelo ambiente, bem-estar<br />

dos animais e responsabilidade social, a transparência<br />

necessária ao longo de todo o ciclo de<br />

37<br />

Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.2, n.4, out./dez.2001


38<br />

A rtigo<br />

produção e o papel da futura Autoridade Alimen-<br />

tar Européia na restauração da confiança dos<br />

consumidores" (Comissão Européia - DGA,<br />

2001).<br />

Na comunicação social escrita portugue-<br />

sa, tem sido crescente o número de artigos<br />

que abordam estas questões. No Notícias Ma-<br />

gazine de 8 de abril deste ano, uma entrevis-<br />

ta com o Prof. Armando Louzã, Catedrático de<br />

Saúde Pública da Faculdade de Medicina Ve-<br />

terinária de Lisboa, explorava os múltiplos<br />

riscos atuais para a segurança alimentar,<br />

nomeadamente os decorrentes da cada vez<br />

maior intensificação e artificialização da pro-<br />

dução de alimentos (uso de antibióticos,<br />

hormonas e estelerizantes, por exemplo), da<br />

ganância de lucro de produtores, industriais<br />

e comerciantes, e da homogeneização de hábitos<br />

alimentares ("fast food"). Em a Grande<br />

Reportagem de Março de 2001, em artigo as-<br />

sinado por Luís Rebelo intitulado "Comer é<br />

perigoso", desenvolvem-se algumas destas<br />

questões e analisam-se outras, com recurso<br />

a sobejos exemplos. O artigo começa (e acaba)<br />

em tom alarmante: "Carne com químicos<br />

ilegais que envenenam, vegetais com pesti-<br />

cidas em excesso, águas contaminadas, alimentos<br />

vários com detritos de fezes e bacté-<br />

rias que provocam intoxicações alimentares<br />

em série, peixe poluído por metais pesados,<br />

transgênicos por toda parte, sem que nin-<br />

guém saiba até que ponto são prejudiciais para<br />

a saúde. É difícil não perder o apetite - a ementa<br />

do país está podre". Seguem-se os porme-<br />

nores de casos diversos que têm sido alvo de<br />

estudo por equipes técnicas e científicas ligadas<br />

a organismos de saúde pública, defesa<br />

do consumidor, investigação veterinária e<br />

proteção do ambiente.<br />

É nesse contexto que o desenvolvimento de<br />

sistemas de agricultura sustentados, como a<br />

agricultura biológica (orgânica), protetores do<br />

ambiente e com potencial para ajudar a for-<br />

talecer a economia rural, se constitui como<br />

um desafio importante, às escalas européia<br />

Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.2, n.4, out./dez.2001<br />

e global. Se há 10 ou 15 anos atrás, a produ-<br />

ção agrícola biológica era praticamente igno-<br />

rada pelas autoridades públicas e os decisores<br />

políticos, hoje é considerada como uma alter-<br />

nativa de valor à agricultura convencional e<br />

uma área importante de intervenção. Em<br />

suma, a agricultura biológica parece ter saí-<br />

do definitivamente da marginalidade e não<br />

restam dúvidas de que progride em todo o<br />

mundo.<br />

Na UE o apoio à agricultura biológica cres-<br />

ceu continuamente nos últimos cinco anos e<br />

os seus resultados são já bem visíveis. A área<br />

de produção biológica mais do que dobrou des-<br />

de 1992 e espera-se que continue a crescer.<br />

Em 1999, tal área correspondia a 2,2% da SAU<br />

e envolvia 1,45 % das explorações (Chambre<br />

d'Agriculture du Pays de la Loire, 2000: 4-5).<br />

Os produtos biológicos representam já cerca<br />

de 3% dos produtos alimentares vendidos na<br />

UE, contra 1% em 1992 (CE, 2000: 22). A procura<br />

tem também vindo a crescer e o merca-<br />

do a organizar-se, sendo a Europa o primeiro<br />

consumidor mundial. Também noutras áreas<br />

do globo, por exemplo nos Estados Unidos<br />

da América, o mercado dos produtos biológi-<br />

cos é o mais dinâmico da indústria alimentar,<br />

registrando, na última década, um cres-<br />

cimento de 20% ao ano, em comparação com<br />

os cerca de 2% do setor em geral (Lane and<br />

Shortridge, 2001:210).<br />

Apesar de tudo, essa forma de produção ain-<br />

da enfrenta muitos obstáculos, nomeadamente<br />

em áreas como a organização da produção<br />

e da distribuição, a investigação, o ensino e a


A rtigo<br />

formação e a extensão. Esse trabalho é uma<br />

contribuição para avaliar o estado da agricul-<br />

tura biológica em Portugal. Para além de apre-<br />

sentar uma perspectiva de evolução desde<br />

1985 até ao final de 1999, levanta um con-<br />

junto de questões para reflexão, sob a forma<br />

de paradoxos e desafios.<br />

2 A agricultura biológica<br />

em Portugal: das origens<br />

à rápida expansão 1<br />

A agricultura biológica não é uma ativida-<br />

de nova em Portugal. De acordo com Silva<br />

(2000, 22), as primeiras iniciativas remontam<br />

a 1976 e em 1985 foi constituída a Asso-<br />

ciação Portuguesa de Agricultura Biológica<br />

(AGROBIO). Até muito recentemente, esta<br />

Associação foi, na verdade, a principal insti-<br />

tuição responsável pela difusão da idéia e pela<br />

promoção da produção, sobretudo através da<br />

experimentação, do estímulo à troca de expe-<br />

riências e da disseminação de informação<br />

entre agricultores e consumidores. Como noutros<br />

países, as origens estão sobretudo liga-<br />

das a movimentos de contestação do<br />

modelo dominante de agricultura e à<br />

busca de formas alternativas de pro-<br />

dução, respeitadoras do ambiente e<br />

defensoras da saúde dos consumidores.<br />

O número de produtores cresceu<br />

muito lentamente até 1990. Desde<br />

então a taxa de crescimento come-<br />

çou a aumentar. Em 1993, a agricul-<br />

tura biológica representava cerca de 2.790 ha,<br />

sendo Trás-os-Montes (Norte do país) a prin-<br />

cipal área de produção, tendo em conta o nú-<br />

mero de explorações (23). Cerca de 50% dessa<br />

área era ocupada por olivais, seguida por<br />

cultura arvenses (30%), árvores de fruto, vi-<br />

nhas e culturas hortícolas. Em geral, os tipos<br />

de culturas produzidas em cada região ou zona<br />

reflectiam o sistema dominante de agricul-<br />

tura. No caso de Trás-os-Montes, a olivicultura<br />

era, claramente, a atividade mais importan-<br />

te.<br />

As principais mudanças ocorreram em<br />

1996 e, desde aí, o número de agricultores e<br />

a superfície ocupada cresceram substancialmente,<br />

como visto no quadro 1. As Medidas<br />

Agroambientais da UE, especialmente atra-<br />

vés dos subsídios ao rendimento, encorajaram<br />

a emergência de novos operadores, sobretudo<br />

produtores, em particular no Alentejo, Beira<br />

Interior e Trás-os-Montes, onde as formas de<br />

produção extensiva são predominantes. Tal<br />

fato explica o crescimento rápido das áreas<br />

de olival, pastagens e outras culturas<br />

arvenses. A área apoiada por essas medidas<br />

passou de 910 ha, em 1995, para 9.938 ha,<br />

em 1997, e o número de explorações apoiadas<br />

evoluiu de 166 para 226. Tal represen-<br />

tou, contudo, uma pequena percentagem dos<br />

compromissos Agroambientais: 1,82% da área<br />

e 0,17 dos acordos em 1997 (Forest e Lampkin,<br />

1999: 18-27).<br />

Quadro 1. Taxas de crescimento do nº de<br />

operadores biológicos e da área de produ-<br />

ção (1996 -1999)<br />

Nº de Taxa de Área (ha) Taxa de<br />

Operadores Cresc. (%) Cresc. (%)<br />

1996 240 – 9.188 –<br />

1997 278 15,8 12.193 32,7<br />

1998 564 102,8 29.622 142,9<br />

1999 750 24,8 47.974 61,9<br />

96-99 – 212,5 – 389,4<br />

Fonte: Com base nos dados do Guia dos Produtos de Qualidade 2000.<br />

No final de 1999, a situação era a seguinte<br />

2 : a agricultura biológica representava<br />

47.974 ha, ou seja, cerca de 1% da área culti-<br />

vada no país; o número de operadores, na<br />

grande maioria produtores, era de 750; o<br />

Alentejo (Sul do país) tornou-se a principal<br />

região de produção biológica, em termos de<br />

área (22.917 ha) e de operadores (382), Trás-<br />

os-Montes era a terceira região, com 5.840<br />

ha e 144 operadores certificados;e a produção<br />

39<br />

Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.2, n.4, out./dez.2001


40<br />

A rtigo<br />

olivícola era dominante, representado 40% da<br />

área, seguida pelas pastagens, que correspondiam<br />

a 24% da área. Cereais, frutas, plantas<br />

aromáticas e produtos hortícolas vinham a<br />

seguir na escala de importância.<br />

Apesar do crescimento rápido observado, a<br />

agricultura biológica ainda tem uma expres-<br />

são reduzida no país, como se pode verificar<br />

no quadro 2. As comparações com a agricul-<br />

tura convencional são difíceis, mas, de acor-<br />

do com os números disponíveis, e considerando<br />

as áreas de produção, esta nova forma de<br />

agricultura representava, em 1999, apenas<br />

6% do olival, 1,5% das pastagens, 0,7% dos<br />

pomares e 0,4% das vinhas.<br />

Quadro 2. Área de produção de agricultu-<br />

ra convencional e biológica por culturas<br />

seleccionadas (ha)<br />

Convencional* Biológica**<br />

Nª %<br />

Frutos frescos 94.385 693 0,72<br />

Olival 330.336 19.415 5,93<br />

Vinha 239.720 883 0,37<br />

Pastagens 736.521 11.339 1,54<br />

* MADRP, 1998: p. 17, baseado no RGA/89 and Inquérito<br />

às Estruturas Agrárias/1995<br />

** Guia dos Produtos de Qualidade 2000<br />

3 Paradoxos e desafios urgentes<br />

A análise da evolução da agricultura bioló-<br />

gica em Portugal nos últimos anos, cruzada<br />

com o conhecimento do modelo institucional<br />

do setor e de outros aspectos de funcionamen-<br />

to do mesmo, geram todo um conjunto de ob-<br />

servações e interrogações, que aqui expri-<br />

mimos. De uma forma geral, estamos na pre-<br />

sença de um conjunto de paradoxos e desafi-<br />

os que não são exclusivos de Portugal e que<br />

merecem reflexão mais aprofundada por par-<br />

te da comunidade científica dos atores soci-<br />

ais mais ligados a essa problemática.<br />

Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.2, n.4, out./dez.2001<br />

É hoje pacífico afirmar e<br />

reconhecer que a agricultura<br />

biológica saiu da marginalidade<br />

3.1 Do discurso político às<br />

práticas institucionais<br />

É hoje pacífico afirmar e reconhecer que a<br />

agricultura biológica saiu da marginalidade.<br />

Face ao decréscimo contínuo dos preços dos<br />

produtos agrícolas convencionais e conse-<br />

qüente depressão dos rendimentos dos agri-<br />

cultores, perante a ameaça de ruptura de<br />

muitas áreas rurais e tendo em conta as cres-<br />

centes preocupações ambientais e de segu-<br />

rança alimentar dos consumidores, os governos<br />

cederam um pouco. Os movimentos<br />

de agricultores, ambientalistas e consu-<br />

midores têm aumentado o tom das suas<br />

reivindicações e marcado as decisões<br />

nessa matéria. Cada vez mais, na Euro-<br />

pa em outras áreas do mundo, se fala da<br />

necessidade de uma nova agricultura,<br />

"amiga do ambiente", "sustentável", "ver-<br />

de".<br />

Podemos, contudo, questionar a consistên-<br />

cia entre o discurso político e as práticas ins-<br />

titucionais, nomeadamente na UE e em Portugal.<br />

Efetivamente, para onde vai atualmente<br />

o grosso do orçamento agrícola? E com base<br />

em que critérios é atribuída a maior fatia de<br />

subsídios? Que percentagem cabe às medidas<br />

de apoio a uma agricultura amiga do ambien-<br />

te e da saúde dos consumidores? Essas são,<br />

por exemplo, questões que importa investigar<br />

e documentar claramente. No caso das Medi-<br />

das Agroambientais em Portugal, a verdade é<br />

que apenas uma pequena percentagem foi ca-<br />

nalizada para a agricultura biológica, como já<br />

referimos neste trabalho.<br />

Por outro lado, face ao discurso a favor de<br />

uma "agricultura verde", como se tem equi-<br />

pado tecnicamente o Estado? A nossa obser-


A rtigo<br />

vação, nomeadamente no que se relaciona<br />

com a agricultura biológica, leva-nos a con-<br />

cluir que há, no momento presente, uma quase<br />

total falta de técnicos qualificados, quer em<br />

nível central, quer em nível regional e local.<br />

Na generalidade dos serviços, seguramente,<br />

o "bio" não saiu da marginalidade.<br />

O mesmo podemos afirmar quanto à quase<br />

totalidade das instituições de ensino superior<br />

e investigação agrária, incluindo o Insti-<br />

tuto Nacional de Investigação Agrária. Os do-<br />

centes e investigadores que trabalham nesse<br />

domínio são poucos, estão isolados, contam<br />

com reduzido ou nulo apoio institucional. A<br />

maioria dos dirigentes e técnicos olha com<br />

desconfiança para esse tipo de métodos de pro-<br />

dução e está mal informada sobre a sua apli-<br />

cação, em nível da produção, da transformação,<br />

da certificação e da comercialização dos<br />

produtos.<br />

Os principais apoios institucionais aos operadores<br />

provêm do movimento associativo,<br />

nomeadamente da AGROBIO, das Associações<br />

Regionais e de Associações de Desenvolvimento<br />

Local que encorajam iniciativas ino-<br />

vadoras que possam constituir uma base para<br />

a revitalização dos seus territórios de intervenção.<br />

3.2 De elite para elite<br />

Na situação atual, que não se modificará<br />

substancialmente no curto ou médio prazo, a<br />

produção biológica é, fundamentalmente, ba-<br />

seada numa elite de produtores, como se tem<br />

demonstrado em vários estudos e ilustrado no<br />

quadro seguinte, com base em trabalho re-<br />

cente, coordenado por Carvalho (2000), que<br />

confirma e pormenoriza as conclusões de anteriores<br />

estudos (Cristóvão e Pereira, 1995;<br />

Silva, 2000). Como vemos, o produtor biológi-<br />

co médio apresenta traços bem distintos do<br />

produtor agrícola nacional médio, em termos<br />

de idade, nível de escolaridade e formação pro-<br />

fissional, sendo as suas explorações dominan-<br />

temente médias a grandes e estritamente li-<br />

gadas ao mercado.<br />

Perfil dos produtores biológicos<br />

portugueses e das suas explorações*<br />

(1) Predominantemente jovens, com idade sobretudo compreendida<br />

entre os 40 e os 49 anos;<br />

(2) Nível de escolaridade acima da média, tendo cerca de<br />

40% um curso superior;<br />

(3) A quase totalidade freqüentou um Curso de Formação<br />

Profissional de Introdução à Agricultura Biológica;<br />

(4) A grande maioria pratica a agricultura biológica há relativamente<br />

pouco tempo, menos de 6 anos;<br />

(5) As principais motivações relacionam-se com a produção<br />

de produtos saudáveis e a preservação dos solos e do ambiente<br />

em geral;<br />

(6) A maioria das explorações pratica a policultura, sendo<br />

importante a produção animal;<br />

(7) A área das explorações é muito variável, sendo dominan-<br />

tes as médias e grandes;<br />

(8) Mais de metade dos produtores dedica-se também a outras<br />

atividades ligadas ao setor, como a comercialização de pro-<br />

dutos e/ou fatores de produção, a transformação, a sensibiliza-<br />

ção dos consumidores, a divulgação e marketing, a formação e<br />

outras.<br />

* Adaptado de Carvalho, 2000: 65-70.<br />

Por outro lado, se olharmos para os (pou-<br />

cos) dados existentes sobre o mercado, verifi-<br />

ca-se que os consumidores "bio" correspondem<br />

a um nicho ainda restrito, constituído<br />

por elementos com maior poder de compra,<br />

mais informados e com mais consciência em<br />

matéria de saúde humana e ambiente. Mar-<br />

ques e Teixeira (1998), em trabalho sobre o<br />

consumo de azeites em Portugal, traçam o<br />

perfil do potencial consumidor de azeites bio-<br />

lógicos, que se caracteriza pela origem urba-<br />

no, um mínimo de 11 anos de escolaridade e<br />

preferência pela compra em hiper e super-<br />

mercados. No quadro do estudo que realiza-<br />

mos recentemente (Cristóvão et al., 2000: 67-<br />

68) entrevistamos três comerciantes especi-<br />

41<br />

Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.2, n.4, out./dez.2001


42<br />

A rtigo<br />

alizados e certificados,<br />

com importância sig-<br />

nificativa em termos<br />

do volume de vendas.<br />

Todos sublinharam<br />

que a procura está a<br />

crescer e o mercado a<br />

mudar. Todos defini-<br />

ram os clientes atuais<br />

como pessoas bem in-<br />

formadas, com rendi-<br />

mentos acima da média<br />

e criteriosos na<br />

escolha dos alimentos.<br />

A quebra deste ciclo<br />

"de elite para elite"<br />

passará por mudanças<br />

a vários níveis, em particular:<br />

(1) um substancial aumento do nú-<br />

mero de produtores, associada a uma cres-<br />

cente heterogeneidade das suas características;<br />

(2) um substancial aumento e diversi-<br />

ficação da oferta; (3) a diminuição dos preços<br />

ao consumidor; e (4) um crescimento significativo<br />

do número de consumidores e altera-<br />

ção do seu perfil. Daqui decorrem algumas<br />

questões críticas como: Quando o ciclo se quebrar,<br />

i. e., com muitos mais produtores, con-<br />

sumo alargado e poucos (ou nenhum) apoios<br />

comunitários, até que ponto continuará a<br />

haver vantagens econômicas para os produ-<br />

tores? Que impacto terá uma previsível alte-<br />

ração deste quadro de vantagens?<br />

A experiência da Áustria, referida por Gra-<br />

ça e Carvalho (1999, 9), mostra que, enquan-<br />

to se manteve o ciclo "de elite para elite", ou<br />

o equilíbrio entre uma minoria de produtores<br />

"verdes" e uma minoria de consumidores "ver-<br />

des", os produtos biológicos tinham preços bem<br />

superiores aos dos produtos da agricultura<br />

convencional.<br />

Porém, "quando o equilíbrio se rompeu, os<br />

preços dos produtos biológicos desceram apro-<br />

ximando-se ou igualando aos preços dos pro-<br />

dutos não-biológicos".<br />

Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.2, n.4, out./dez.2001<br />

3.3 A Heterogeneidade<br />

de Motivações dos<br />

Produtores<br />

As motivações dos<br />

produtores "bio" têm<br />

evoluído substancialmente<br />

nos últimos<br />

anos. Assim, se há<br />

uma, duas ou mais décadas<br />

o desenvolvi-<br />

mento da agricultura<br />

biológica era sobretudo<br />

movido por razões ide-<br />

ológicas, hoje parece<br />

ser particularmente<br />

dominado por razões<br />

econômicas. Há aqui,<br />

certamente, matéria de interesse para reflexão,<br />

da qual se podem tirar interessantes li-<br />

ções em vários domínios.<br />

No caso das motivações ideológicas, é clara<br />

a presença de um quadro de valores que<br />

questiona as bases da agricultura convencio-<br />

nal e do próprio modelo de desenvolvimento<br />

agrícola e rural. Estamos a falar de um seg-<br />

mento de agricultores que possui uma visão<br />

alternativa sobre a prática da agricultura e a<br />

sua relação com o ambiente e a sociedade.<br />

Poderíamos até, em muitos casos, falar de<br />

uma visão diferente do mundo. Estamos, na<br />

verdade, perante agricultores que colocaram<br />

em causa o paradigma dominante e que, in-<br />

dividual ou coletivamente, passaram a uma<br />

ação inovadora e de ruptura, recusando a<br />

estandartização das técnicas e a homogenei-<br />

zação dos produtos e indo contra a corrente<br />

da industrialização da agricultura, movida<br />

pelos interesses das grandes agroindústrias<br />

e do grande comércio. Pode dizer-se que compreenderam<br />

(cedo) o desafio da sustentabili-<br />

dade da agricultura e remaram contra a maré<br />

dos sistemas estabelecidos de formação, extensão<br />

e investigação, criando redes infor-<br />

mais de aprendizagem e desenvolvendo a sua


A rtigo<br />

própria experimentação.<br />

Na base da sua evolução estão, certamen-<br />

te, complexos processos de aprendizagem social,<br />

que resultaram não só no desenvolvi-<br />

mento de novos saberes, mas também na<br />

construção de uma nova ética agronômica<br />

(Ison et al. , 2000: 38). Teremos, porventura,<br />

agricultores que passaram por um processo<br />

que alguns autores, como Ison et al. (2000,<br />

46), designam por "mudança de segunda or-<br />

dem", isto é, saíram do sistema e passaram a<br />

vê-lo de outra perspectiva e outro nível, que<br />

se baseiam numa racionalidade distinta. É<br />

esse o tipo de mudança, no fundo, que encer-<br />

ra as possibilidades de mudança do próprio sistema.<br />

No caso das motivações predominante-<br />

mente econômicas, que parecem se sobressair<br />

na fase regulamentada da produção bio-<br />

lógica, temos um vasto conjunto de produto-<br />

res que, na essência, continuam a operar no<br />

quadro do paradigma dominante. Ou seja, são<br />

hoje produtores biológicos porque, no contex-<br />

to presente, daí retiram algumas vantagens<br />

econômicas, nomeadamente subsídios não<br />

desprezíveis. Não questionaram o modelo que<br />

impera, nem estará nas suas intenções<br />

mudá-lo, apenas aproveitaram as vantagens<br />

que o mesmo oferece nessa fase. Trata-se,<br />

por comparação com o caso anterior, de um<br />

processo de inovação no quadro do mesmo pa-<br />

radigma tecnológico e no âmbito do sistema<br />

dominante de produção e desenvolvimento.<br />

Parece claro que, se pensarmos nas políti-<br />

cas em geral e nas intervenções nos domíni-<br />

os da formação, extensão e investigação, mesmo<br />

no âmbito do controle e certificação, esta-<br />

mos na presença de grupos com interesses,<br />

necessidades e capacidades diferentes. Entre<br />

os primeiros, com motivação dominante-<br />

mente ideológica, encontraremos, porventu-<br />

ra, fortes aliados, quiçá elementos já envolvidos<br />

em iniciativas de formação, em redes<br />

de experimentação, em círculos de troca de<br />

idéias. Relativamente aos outros, com moti-<br />

vação sobretudo econômica, que são hoje mui-<br />

to provavelmente a grande maioria, teremos<br />

de equacionar o uso de outras abordagens, que<br />

facilitem "mudanças de segunda ordem". A<br />

questão crítica, porém, é que a maioria dos<br />

técnicos e investigadores, apesar de usarem<br />

um discurso de desenvolvimento agrícola sus-<br />

tentado, agem ainda encerrados na lógica do-<br />

minante de uma agricultura produtivista. Há<br />

aqui, pensamos, um desafio claro para uma<br />

aprendizagem conjunta, que envolva agricul-<br />

tores, técnicos, cientistas, consumidores e<br />

outros grupos de interesse, na busca de no-<br />

vos quadros de valores, de uma nova ética, e<br />

na construção de alternativas tecnológicas<br />

apropriadas (Hubert et al., 2000:15).<br />

3.4 Para mais exigência técnica…<br />

menos apoio!<br />

Este é mais um paradoxo revelado pelo estudo<br />

recente do caso português e que, certa-<br />

mente, se verifica em outros países. Na ver-<br />

dade, a prática dos métodos de produção biológica,<br />

tal como acontece com outras formas de<br />

agricultura sustentada (protecção integrada,<br />

produção integrada, agricultura com baixo<br />

nível de "inputs" etc.) exige consideráveis ca-<br />

pacidades técnicas.<br />

O produtor "bio" tem de ser um observador<br />

bem treinado, nomeadamente no que toca às<br />

condições de solo, clima e desenvolvimento<br />

da cultura (ou produção) e possíveis riscos, em<br />

especial em termos de doenças e pragas. O<br />

produtor tem, naturalmente, de ter bons co-<br />

nhecimentos dos possíveis itinerários técnicos<br />

e respectivas práticas e uma boa capaci-<br />

dade para tomar decisões atempadamente. O<br />

produtor não pode ignorar as questões do mercado<br />

e tem de construir ou procurar circuitos<br />

vantajosos de distribuição e venda. Talvez<br />

mais do que tudo isto, o produtor "bio" tem de<br />

ter uma visão "holística" ou sistêmica da sua<br />

atividade e um bom domínio de saberes agrí-<br />

colas locais ou populares, por exemplo, sobre<br />

43<br />

Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.2, n.4, out./dez.2001


44<br />

A rtigo<br />

os usos da flora e da fauna, os solos, os ciclos<br />

culturais, ou as pragas e doenças mais co-<br />

muns e as formas de as combater.<br />

Na essência, o produtor tem de aprender<br />

continuamente, num quadro de trabalho que<br />

é relativamente novo, muito exigente e sujeito<br />

a um sistema de controle e certificação.<br />

Não é de estranhar, assim, o que revelam<br />

estudos como o de Buck (2000, 157), sobre as<br />

razões para os agricultores, nesse caso ho-<br />

landeses, mudarem ou não para práticas con-<br />

sideradas sustentáveis: têm medo de não ser<br />

capazes de aprender, sendo essa uma das jus-<br />

tificações para não mudarem para os chama-<br />

dos "sistemas agrários integrados" e, especialmente,<br />

para a agricultura biológica.<br />

O que é paradoxal é que os contributos para<br />

esta aprendizagem são ainda muito escassos,<br />

nomeadamente entre nós, mas não exclusi-<br />

vamente. Isto é, a uma maior exigência téc-<br />

nica não corresponde um esforço acrescido de<br />

apoio técnico, muito pelo contrário. O estudo<br />

do caso português revela que o "sistema de<br />

conhecimentos e informação" associado à<br />

agricultura biológica é ainda muito frágil,<br />

muito desarticulado, sendo escassas as opor-<br />

tunidades de aprendizagem contínua. Mostra,<br />

em particular: o baixo empenhamento das<br />

instituições de ensino superior nessa área,<br />

apesar dos progressos recentes e dos projetos<br />

no papel; a acentuada falta de investigação e<br />

experimentação; a ausência de extensão pú-<br />

blica; a muito limitada capacidade de apoio<br />

técnico do próprio tecido associativo; a falta<br />

de formadores qualificados, apesar da cres-<br />

cente oferta de formação para agricultores.<br />

3.5 Do agricultor para o território<br />

As intervenções de promoção da agricultu-<br />

ra biológica têm sido escassas e sobretudo da<br />

responsabilidade das Associações do sector.<br />

Até recentemente, a AGROBIO era a única<br />

Associação com carácter nacional. Foi criada<br />

em 1985 e os seus 2,3 mil associados são pro-<br />

Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.2, n.4, out./dez.2001<br />

O produtor "bio" tem de ter<br />

uma visão "holística" ou sistémica<br />

da sua actividade e um bom<br />

domínio de saberes agrícolas<br />

locais ou populares<br />

dutores, técnicos e consumidores, representando<br />

vários interesses, portanto.<br />

Essa associação realiza uma atividade<br />

multifacetada, que inclui: o apoio técnico aos<br />

produtores e outros operadores (mais no pas-<br />

sado, nos primeiros tempos, do que hoje); a<br />

formação, sobretudo de agricultores; a investigação,<br />

em parceria com universidades e ou-<br />

tras instituições; a instalação de campos de<br />

demonstração; a promoção dos produtos biológicos<br />

junto dos consumidores; a educação<br />

ambiental de jovens; e a edição e difusão de<br />

informação técnica. Até 1993 a AGROBIO fez<br />

também o trabalho de certificação e controlo.<br />

Em nível regional, existem atualmente<br />

seis associações, todas criadas depois de 1995,<br />

a maioria mesmo depois de 1997. No seu con-<br />

junto cobrem praticamente todo o território<br />

nacional, incluindo as regiões autónomas dos<br />

Açores e Madeira. Todas elas visam a promo-<br />

ver a agricultura biológica através de infor-<br />

mação, formação, assistência técnica e apoio<br />

a atividades de experimentação. Algumas<br />

intervêm também no domínio da comerciali-<br />

zação dos produtos, nomeadamente as Associações<br />

dos Açores (NATURA) e do sul do con-<br />

tinente (SALVA). O seu grau de dinamismo é<br />

muito variável.<br />

Uma questão que se coloca diz respeito ao<br />

caráter da intervenção de todas estas associ-<br />

ações e à possibilidade de ampliarem ou diversificarem<br />

a sua base de ação, passando dos<br />

agricultores, tomados individualmente, para<br />

grupos mais alargados e para os seus territórios,<br />

numa perspectiva de valorização inte-<br />

grada de recursos. Na verdade, poderá residir<br />

numa intervenção menos setorializada e<br />

mais territorializada, em que a agricultura


A rtigo<br />

biológica se articule com outras iniciativas,<br />

como o turismo rural e o ecoturismo, a chave<br />

para a revitalização de muitos espaços rurais.<br />

É nessa lógica que têm trabalhado algumas<br />

Associações de Agricultores Biológicos na Itá-<br />

lia, nomeadamente articulando esforços com<br />

autarquias locais e Associações de Desenvol-<br />

vimento Local e criando "Pactos Territoriais<br />

de Desenvolvimento", geradores de dinamismo<br />

e de sinergias entre ações, visando a um<br />

desenvolvimento assente na qualidade e na<br />

sustentabilidade 3 . Na Áustria, país em que a<br />

agricultura biológica ocupa já cerca de 10%<br />

da SAU, tem também sido seguida uma políti-<br />

ca global para o desenvolvimento da agricultura<br />

de montanha, centrada na qualidade e<br />

na opção biológica, em articulação com a ati-<br />

vidade turística e a conservação da paisagem<br />

(Graça e Carvalho, 1999: 5).<br />

O envolvimento e o comprometi-<br />

mento das autoridades públicas é<br />

ainda muito incipiente, estando<br />

longe do desejável e em<br />

contradição com o discurso<br />

político oficial<br />

4 Algumas conclusões e interrogações<br />

Esse trabalho apresenta uma visão global<br />

da evolução da agricultura biológica em Por-<br />

tugal. Mostra que este novo setor da agricultura<br />

é ainda muito reduzido, representado um<br />

número limitado de operadores e uma área<br />

pequena. Mostra, igualmente, que os principais<br />

progressos se verificaram nos últimos<br />

anos, em especial a partir de meados da dé-<br />

cada de 90, e que existem condições favoráveis<br />

para promover o uso de métodos de pro-<br />

dução biológica, em benefício dos agriculto-<br />

res, dos consumidores e da sociedade no seu<br />

conjunto.<br />

O envolvimento e comprometimento das<br />

autoridades públicas é ainda muito incipien-<br />

te, estando longe do desejável e em contradição<br />

com o discurso político oficial. Porém, o<br />

aumento da densidade do tecido institucional<br />

ligado à agricultura biológica é um elemento<br />

promissor. Passo a passo, agricultores, con-<br />

sumidores, agentes de desenvolvimento e<br />

outros atores têm constituído um quadro de<br />

referência de apoio à agricultura biológica.<br />

Urge ultrapassar o fosso existente entre as<br />

necessidade de aprendizagem inerentes a<br />

uma actividade complexa como a produção<br />

"bio" e a oferta efectiva de oportunidade de<br />

aprendizagem. São muitas, em suma, as<br />

questões que merecem atenção cuidada:<br />

A agricultura biológica saiu da margina-<br />

lidade, ganhou expressão política, traduzida<br />

no seu reconhecimento e em apoios finan-<br />

ceiros crescentes. Mas existe ainda um fran-<br />

co desajustamento entre discurso e prática.<br />

Para a agricultura biológica e outras formas<br />

de produção sustentada ficam as migalhas de<br />

um grande bolo que alimenta uma agricultura<br />

européia predominantemente produtivis-<br />

ta. No caso português, há um claro desajusta-<br />

mento entre o discurso oficial e o compromisso<br />

institucional. Qual é, por exemplo, a real<br />

capacidade técnica do Ministério da Agricul-<br />

tura, nos níveis central, regional e local, para<br />

apoiar e supervisionar eficazmente a agricul-<br />

tura biológica?<br />

A produção é ainda reduzida para a maioria<br />

dos produtos, existindo um significativo<br />

potencial de crescimento. Mas como equili-<br />

brar o desenvolvimento da produção, nomeadamente<br />

reforçando as áreas da horticultura,<br />

fruticultura e o sector pecuário, cuja produ-<br />

ção intensiva é mais preocupante para o ambiente<br />

e a saúde dos consumidores? E onde<br />

está (ou como está) o imprescindível sistema<br />

institucional de apoio à agricultura biológica,<br />

45<br />

Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.2, n.4, out./dez.2001


46<br />

A rtigo<br />

nomeadamente em termos de investigação,<br />

experimentação, formação e extensão?<br />

A procura, apesar de reduzida, está a<br />

aumentar, como demonstram as importações<br />

diárias de produtos biológicos, em especial frutos,<br />

produtos lácteos e cereais (em grão ou<br />

transformados). Mas como quebrar o ciclo "de<br />

elite para elite" e que implicações isso poderá<br />

ter para o setor?<br />

As motivações dos produtores e outros<br />

operadores são hoje mais diversificadas. Passamos<br />

rapidamente de uma fase em que os<br />

produtores se moviam sobretudo por razões<br />

ideológicas, para outra, em que predominam<br />

as de caráter econômico. Como desenvolver<br />

a consciência ambiental da massa de produ-<br />

tores e criar uma nova ética da atividade agrí-<br />

BUCK, A. J.; van RIJN, I.; ROLING, N. G.;<br />

WOSSINK, G. A. Farmers Reasons for Changing<br />

or not Changing to More Sustainable Practices: An<br />

Exploratory Study of Arable Farming in the<br />

Netherlands. The Journal of Agricultural<br />

Education and Extension, v. 7, n. 3, p. 153-166,<br />

2000.<br />

CHAMBRE d'Agriculture du Pays de la Loire. Points<br />

de Repère Bio. Angers, 2000.<br />

CARVALHO, A. (Coord.). Potencialidade de<br />

criação de emprego no âmbito da Agricultura<br />

Biológica. Lisboa: IEFP, 2000.<br />

COMISSÃO EUROPEIA. Newsletter Nº 32 da<br />

Direcção Geral de Agricultura, Março, 2001.<br />

COMISSION EUROPÉENNE. La Politique<br />

Agricole: Synthèse 1999. Luxembourg: CE-DGA,<br />

2000.<br />

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BOAS, D. Study on the Quality of Agricultural<br />

Products and the Protection of the Environment:<br />

Training, Knowledge Dissemination and<br />

Certification in Portugal (CEDEFOP Contract<br />

200155). Vila Real: UTAD, 2000.<br />

CRISTÓVÃO, A.; PEREIRA, E F. Agricultura Biológica:<br />

Uma Alternativa para Trás-os-Montes? Revista<br />

Estudos Transmontanos, n. 6, p. 239-268, 1995.<br />

Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.2, n.4, out./dez.2001<br />

5 Referências Bibliográficas<br />

cola? Como facilitar "mudanças de segunda<br />

ordem" - que permitam desenvolver a inovação<br />

no quadro de outro paradigma de desen-<br />

volvimento -, ao nível dos investigadores, dos<br />

técnicos e dos agricultores?<br />

O crescimento do número de produtores<br />

foi grande nos últimos 4 a 5 anos e deveu-<br />

se, sobretudo, à implementação das medidas<br />

agroambientais. Não existiu qualquer estra-<br />

tégia de intervenção concertada entre ato-<br />

res, para além de ações de formação de agricultores<br />

e técnicos ou de sensibilização de<br />

consumidores (em feiras, por exemplo). Como<br />

evoluir para um trabalho de base territorial, que<br />

articule o desenvolvimento da agricultura bio-<br />

lógica com outras iniciativas de valorização dos<br />

recursos naturais e culturais?<br />

FOSTER, C.; LAMPKIN, N. European Organic<br />

Production Statistics 1993-1996. Hohenheim:<br />

Universitat Hohenheim, 1999.<br />

GRAÇA, L.; CARVALHO, A. Relatório de Missão<br />

à Áustria (Projecto PAMAF - IED 0036). Lisboa:<br />

INIA, EAN, 1999.<br />

Guia dos Produtos de Qualidade 2000. Lisboa:<br />

Ligalu Edições.<br />

HUBERT, B.; ISON, R. L.; ROLING, N. The<br />

"Problematique" with respect to Industrialised-<br />

Country Agricultures. In: CERF, M.; GIBBON, D.;<br />

HUBERT, B.; ISON, R.; JIGGINS, J.; PAINE, M.;<br />

PROOST, J.; ROLING, N. Cow Up a Tree: Knowing<br />

and Learning for Change in Agriculture. Case<br />

Studies from Industrialised Countries. Paris:<br />

INRA Editions, 2000. p. 13-30.<br />

ISON, R. L.; HIGH, C.; BLACKMORE, C. P.; CERF,<br />

M. Theoretical Frameworks for Learning-Based<br />

Appraches. In: CERF, M.; GIBBON, D.; HUBERT, B.;<br />

ISON, R.; JIGGINS, J.; PAINE, M.; PROOST, J.;<br />

ROLING, N. Cow Up a Tree: Knowing and<br />

Learning for Change in Agriculture. Case<br />

Studies from Industrialised Countries. Paris:<br />

INRA Editions, 2000. p. 31-35.<br />

LANE, C.; SHORTRIDGE, P. J. Organic and Non-<br />

GMO Production: A New Challenge for Agricultural<br />

Education. In: CHRISTIANSEN, J. (ed.). Proceedings<br />

A


A rtigo<br />

of the 17th Annual AIAEE Conference. Baton<br />

Rouge, EUA: AIAEE, 2001. p. 207-214.<br />

MARQUES, C.; TEIXEIRA; M. S. Perspectivas dos<br />

Consumidores Portugueses sobre o Azeite<br />

Produzido em Trás-os-Montes e Alto Douro -<br />

Estudo de Mercado. Vila Real: UTAD, DES-Unidade<br />

de Avaliação, 1998.<br />

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, DO<br />

DESENVOLVIMENTO RURAL E DAS PESCAS<br />

(MADRP). Indicadores Económicos do Sector<br />

Agrícola 1989-1994. Lisboa: Author, GPPAA, 1998.<br />

1<br />

Esta parte da comunicação segue de perto<br />

o artigo "Novas Agriculturas em Portugal: O<br />

longo caminho para o desenvolvimento da<br />

produção biológica", de A. Cristóvão, T.<br />

Koehnen, A. Strecht e D. Vilas Boas, para<br />

Publicação pelo Centro de Estudos Geográficos<br />

da Universidade de Lisboa.<br />

2<br />

Dados fornecidos oralmente pelo<br />

Presidente da AGROBIO apontam para a<br />

existência actual de 800 operadores e de uma<br />

5 Referências Bibliográficas<br />

Notas<br />

Proteger a Saúde do Consumidor, entevista com o<br />

Prof. Armando Louzã. Notícias Magazine,.n. 463,<br />

8 de Abril de 2001.<br />

REBELO, L. Comer é Perigoso. Grande Reportagem,<br />

Ano XII, 2ª Série, n.120, p. 66-74, 2001.<br />

SILVA, M. E. Agricultores e Agriculturas<br />

Biológicas em Produção de Azeitona para<br />

Azeite na Região de Trás-os-Montes e em<br />

Horticultura e Vinha na Região de Entre Douro<br />

e Minho. Tese de Mestrado em Agricultura,<br />

Ambiente e Mercados. Vila Real: UTAD, 2000.<br />

área semelhante à de 1999. No final de 2000<br />

a SOCERT-Portugal, uma das duas instituições<br />

de controlo e certificação, era responsável por<br />

cerca de 44.000 ha no continente, 28,5 ha<br />

nos Açores e 23,3 ha na Madeira.<br />

3<br />

Comunicação de Fabio Piccioli, Vice-Presidente<br />

da AGRIBIOMEDITERRANEO, ao Colóquio sobre<br />

"Agricultura Biológica e Desenvolvimento<br />

Sustentável", promovido pela AGROBIO e realizado<br />

em Tavira no dia 28 de Abril de 2001.<br />

47<br />

Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.2, n.4, out./dez.2001

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