contribuições de zenon, eudoxo e arquimedes - SBEM-PB
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VI E<strong>PB</strong>EM – Monteiro, <strong>PB</strong> – 09, 10 e 11 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2010<br />
www.sbempb.com.br/epbem<br />
DESENVOLVIMENTO DO CÁLCULO: CONTRIBUIÇÕES DE ZENON,<br />
EUDOXO E ARQUIMEDES<br />
Izaias Nário da Silva<br />
Universida<strong>de</strong> Estadual da Paraíba<br />
Bismark Mota da Silva 1<br />
Universida<strong>de</strong> Estadual da Paraíba<br />
Resumo: Neste trabalho fazemos uma apresentação das idéias <strong>de</strong> três ilustres matemáticos gregos, Zenon,<br />
Eudoxo e Arquime<strong>de</strong>s, que ao longo <strong>de</strong> suas vidas contribuíram significativamente para o <strong>de</strong>senvolvimento do<br />
cálculo. De acordo com os historiadores pesquisados neste trabalho, a origem das discussões relacionadas ao<br />
cálculo, tomando como ponto <strong>de</strong> partida esses matemáticos gregos, começou com as discussões levantadas por<br />
Zenon com seus paradoxos a respeito da impossibilida<strong>de</strong> do movimento. Eudoxo posteriormente <strong>de</strong>u sua<br />
contribuição conseguindo calcular com o método <strong>de</strong> exaustão a área do círculo que era uma gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong><br />
dos matemáticos da época. Arquime<strong>de</strong>s, usando e aprimorando esse método <strong>de</strong> exaustão trouxe mais rigor à<br />
matemática <strong>de</strong> sua época e fez <strong>de</strong>scobertas grandiosas. O objetivo é mostrar <strong>de</strong> forma mais abrangente essas<br />
<strong>contribuições</strong>, situando-os no contexto <strong>de</strong> produção que estavam inseridos. É notável que, apesar da escassez <strong>de</strong><br />
uma linguagem e procedimentos algébricos que hoje nos são comuns, eles foram capazes <strong>de</strong> abordar dois<br />
milênios antes <strong>de</strong> Newton e Leibniz questões relacionadas ao cálculo infinitesimal, assegurando-lhe as suas<br />
origens. Trata-se <strong>de</strong> um trabalho em andamento como parte da disciplina <strong>de</strong> História da Matemática,<br />
preten<strong>de</strong>mos avançar nessa pesquisa a ponto <strong>de</strong> abordar as <strong>contribuições</strong> <strong>de</strong> matemáticos posteriores que<br />
também colaboraram no <strong>de</strong>senvolvimento do cálculo.<br />
Palavras-chave: Cálculo – Paradoxo <strong>de</strong> Zenon – Método <strong>de</strong> exaustão – Arquime<strong>de</strong>s.<br />
INTRODUÇÃO<br />
Ao estudarmos conteúdos relacionados ao cálculo infinitesimal, temos em mãos um<br />
mecanismo extraordinário <strong>de</strong> muitas utilida<strong>de</strong>s, comumente atribuído a Newton e a Leibniz.<br />
De fato, sabemos que esses dois matemáticos trouxeram às claras os principais recursos<br />
(áreas, tangentes, comprimentos <strong>de</strong> curvas, assim como pontos <strong>de</strong> máximo e <strong>de</strong> mínimo <strong>de</strong><br />
funções, <strong>de</strong>ntre outros) que hoje conhecemos no cálculo, dando-lhes <strong>de</strong>senhos mais<br />
avançados e possibilitando aos matemáticos posteriores o seu aperfeiçoamento, tornando o<br />
cálculo um ícone da matemática mo<strong>de</strong>rna.<br />
1 Trabalho realizado na disciplina História da Matemática, no curso <strong>de</strong> Licenciatura em Matemática, da UE<strong>PB</strong>,<br />
sob orientação do Prof. Mr. José Joelson Pimentel <strong>de</strong> Almeida, em 2010.2.<br />
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Uma <strong>de</strong> nossas indagações iniciais é sobre quais foram as mentes ilustres que vieram<br />
antes <strong>de</strong> Newton e Leibniz contribuindo para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sses conhecimentos. É<br />
neste âmbito que se situa este trabalho, visando uma abordagem histórica a fim <strong>de</strong> investigar<br />
as <strong>contribuições</strong> <strong>de</strong> matemáticos antece<strong>de</strong>ntes aos já citados, para o <strong>de</strong>senvolvimento do<br />
cálculo. Assim, nossa pesquisa restringe-se a três matemáticos gregos: Zenon <strong>de</strong> Eléia,<br />
Eudoxo <strong>de</strong> Cnido e Arquime<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Siracusa. Como está em <strong>de</strong>senvolvimento, até o momento<br />
este trabalho está elaborado à luz das <strong>contribuições</strong> <strong>de</strong> historiadores da Matemática, como<br />
Boyer, Bell e Eves.<br />
Primeiras discussões: os paradoxos <strong>de</strong> Zenon<br />
Em plena Grécia do século V a.C. dava-se início uma das primeiras discussões sobre<br />
problemas envolvendo continuida<strong>de</strong> e distâncias infinitas, o que muitos séculos mais tar<strong>de</strong><br />
resultaria no que conhecemos por séries geométricas e seus limites quando há convergência,<br />
ou seja, viria a ser alguns dos assuntos que hoje estudamos nas disciplinas <strong>de</strong> cálculo. De<br />
acordo com Pessoa Jr. (2009), Zenon <strong>de</strong> Eléia (495 - 435 a.C.) amigo e discípulo do filósofo<br />
Parmêni<strong>de</strong>s, que tinha como princípio a razão e o intelecto em contradição à observação, era<br />
contrário à i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> pluralida<strong>de</strong> (estado <strong>de</strong> haver muitas coisas diferentes, ao invés <strong>de</strong> uma<br />
só). Seguindo verazmente a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> seu mestre, Zenon <strong>de</strong> forma coerente aos seus anseios,<br />
negava a existência <strong>de</strong> movimento e pluralida<strong>de</strong>, criticando assim qualquer tese que tratasse a<br />
respeito <strong>de</strong> movimento; “sua estratégia era supor a tese que queria atacar, por exemplo a<br />
pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pontos em uma reta, e daí <strong>de</strong>duzir uma consequência que contradissesse sua<br />
suposição, levando assim a uma redução ao absurdo” (Pessoa Jr., 2009, p. 7)<br />
Segundo Eves (2004), os filósofos daquela época ficaram intrigados e confusos com o<br />
anúncio <strong>de</strong> três suposições feitas por Zenon, em sua visita a Atenas. Com sua simples e<br />
comum intuição, tendo como tese a impossibilida<strong>de</strong> do movimento, lançou alguns paradoxos<br />
que se tornaram motivos para reflexões e discussões até os dias atuais. Um dos paradoxos, por<br />
nome <strong>de</strong> dicotomia, <strong>de</strong>fendia que se um segmento <strong>de</strong> reta po<strong>de</strong> ser subdividido<br />
in<strong>de</strong>finidamente, então o movimento é impossível, pois, para alcançar seu percurso total, é<br />
preciso alcançar o ponto médio, que, por sua vez, é necessário alcançar um quarto do<br />
segmento, e assim por diante. Em outro paradoxo, intitulado a flecha, ele anunciou que se o<br />
tempo é formado <strong>de</strong> instantes atômicos indivisíveis, então uma flecha lançada está sempre<br />
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parada, tendo em vista que em cada instante ela ocupa uma posição fixa. Tomando isso como<br />
verda<strong>de</strong>, em cada instante temos que a flecha jamais se move.<br />
Bell (1953) apresenta outro paradoxo <strong>de</strong> Zenon, o argumento <strong>de</strong> Aquiles.<br />
Aquiles correndo atrás <strong>de</strong> uma tartaruga que se encontra diante <strong>de</strong>le jamais po<strong>de</strong><br />
alcançá-la, pois primeiro <strong>de</strong>ve chegar ao lugar <strong>de</strong> on<strong>de</strong> a tartaruga havia partido;<br />
quando Aquiles chega a este lugar, a tartaruga já não está ali, sempre caminhando<br />
adiante. Repetindo o argumento, po<strong>de</strong>mos facilmente ver que a tartaruga sempre<br />
estará adiante (Bell, 1953, p. 4. Tradução nossa) 2 .<br />
Esses três paradoxos <strong>de</strong>monstram a gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> com problemas envolvendo<br />
infinito. Como afirma Bell (1953), “estas são, em linguagem não matemática, a série <strong>de</strong><br />
dificulda<strong>de</strong>s que encontraram os primeiros que se ocuparam com assuntos relacionados à<br />
continuida<strong>de</strong> e o infinito” (I<strong>de</strong>m, pág. 5. Tradução nossa). Zenon tinha uma intuição<br />
comungada por muitos, que a soma <strong>de</strong> números infinitos <strong>de</strong> quantida<strong>de</strong>s maior que zero<br />
resulta em um número suficientemente gran<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ixando evi<strong>de</strong>nte a lacuna e a dificulda<strong>de</strong> dos<br />
gregos em questão <strong>de</strong> conhecimento sobre infinitésimos. A partir <strong>de</strong>sse ponto, dava-se início<br />
entre alguns matemáticos o estudo <strong>de</strong>sses paradoxos, uma vez que os <strong>de</strong>bates e as dúvidas<br />
acerca <strong>de</strong> distâncias infinitas levantadas por esses paradoxos serviram <strong>de</strong> motivos para alguns<br />
matemáticos, inclusive os da escola platônica que estudaram tais suposições, <strong>de</strong>ixando-os<br />
muito intrigados. Mais tar<strong>de</strong>, esses estudos foram se aprimorando até ser <strong>de</strong>finitivamente<br />
<strong>de</strong>sfeito, como veremos adiante.<br />
Primeiros passos da integração: o método <strong>de</strong> exaustão<br />
Hoje em dia, ao estudarmos geometria plana ou espacial, temos ferramentas muito<br />
avançadas que nos auxiliam no cálculo <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> figuras <strong>de</strong> variados tipos (quadrados,<br />
retângulos, triângulos, círculos, esferas, cones, cilindros etc.). No entanto, muito antes <strong>de</strong>ssas<br />
ferramentas e conhecimentos <strong>de</strong> cálculo <strong>de</strong> área chegar até nós, muitos matemáticos,<br />
principalmente os gregos, se voltaram para os estudos <strong>de</strong>ssas figuras e se <strong>de</strong>pararam com uma<br />
dificulda<strong>de</strong> enorme ao se tratar das curvas.<br />
O sofista Antífon (c. 430 a.C.), contemporâneo <strong>de</strong> Sócrates, contribuiu para problemas<br />
envolvendo quadratura do círculo, antecipando a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que ao duplicar várias vezes os<br />
lados <strong>de</strong> um polígono chegaria ao ponto que a área <strong>de</strong>sse polígono teria uma diferença<br />
2 A versão que temos <strong>de</strong>ste livro é eletrônica, disponível em : http : / / www . librosmaravillosos.com/<br />
gran<strong>de</strong>smatematicos / , sem numeração <strong>de</strong> suas páginas. A numeração da página correspon<strong>de</strong>,assim, ao ordinal<br />
da página no capítulo 2.<br />
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mínima em relação à área do círculo. Esse procedimento foi muito criticado por matemáticos<br />
da época, argumentando que se uma gran<strong>de</strong>za po<strong>de</strong> ser subdividida in<strong>de</strong>finidamente, assim<br />
esse processo não teria fim, impossibilitando o cálculo <strong>de</strong>ssa área (Eves, 2004).<br />
Essa abordagem <strong>de</strong> Antífon continha o conhecido método <strong>de</strong> exaustão creditado a<br />
Eudoxo <strong>de</strong> Cnido (408-355 a.C), que <strong>de</strong> acordo Bell (1953), em sua juventu<strong>de</strong> se mudou <strong>de</strong><br />
Tarento, on<strong>de</strong> tinha estudado com o excelente matemático Arquitas (428-347 a.C.), para<br />
Atenas, vindo a encontrar-se com Platão e fazer parte <strong>de</strong> sua aca<strong>de</strong>mia. Após <strong>de</strong>ixar Atenas<br />
foi para Cycico, on<strong>de</strong> viveu seus últimos anos. Além <strong>de</strong> sua atuação na matemática, estudou<br />
medicina e realizou significantes <strong>contribuições</strong> no estudo da astronomia.<br />
O método da exaustão <strong>de</strong>fine que uma gran<strong>de</strong>za qualquer possa ser subdividida<br />
in<strong>de</strong>finidamente e seu alicerce é a seguinte proposição: “Se <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong>za qualquer subtrai-<br />
se uma parte não menor que sua meta<strong>de</strong>, do restante subtrai-se também uma parte não menor<br />
que sua meta<strong>de</strong>, e assim por diante, se chegará por fim a uma gran<strong>de</strong>za menor que qualquer<br />
outra gran<strong>de</strong>za pre<strong>de</strong>terminada da mesma espécie” (Eves, 2004, p. 419) 3 .<br />
Segundo Bell (1953), <strong>de</strong>pois que Eudoxo <strong>de</strong>monstrou esse método <strong>de</strong> exaustão ficou<br />
notável que não havia necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar quantida<strong>de</strong>s minúsculas infinitas, pois, para<br />
fins matemáticos, cada vez que se divi<strong>de</strong>m quantida<strong>de</strong>s pequenas, elas se tornam tão pequenas<br />
que pouco influencia no resultado. A partir <strong>de</strong>sse conhecimento, os números irracionais, que<br />
tanto <strong>de</strong>ixavam os matemáticos confusos, passaram a ser tratados com o mesmo rigor que se<br />
tratavam os números racionais, surgindo a partir daí o que se tornaria a mo<strong>de</strong>rna teoria dos<br />
números irracionais. Com esse método, Eudoxo <strong>de</strong>sfez algumas contradições existentes em<br />
alguns dos paradoxos criado por Zenon relacionado a quantida<strong>de</strong>s infinitamente pequenas,<br />
que <strong>de</strong>ixou muitos filósofos da época confusos.<br />
O método <strong>de</strong> exaustão <strong>de</strong> Eudoxo foi aprimorado por Arquime<strong>de</strong>s, como veremos<br />
adiante. Mas o que chama a atenção aqui é que esse método continha o que milênios <strong>de</strong>pois se<br />
tornaria a mo<strong>de</strong>rna matemática. Ou seja, começou a se <strong>de</strong>senhar a partir <strong>de</strong>sse método <strong>de</strong><br />
exaustão o que mais tar<strong>de</strong> originaria a noção <strong>de</strong> limite e, principalmente, <strong>de</strong> integração, que<br />
revolucionou a matemática, tornando o que hoje é base das disciplinas <strong>de</strong> cálculo nas<br />
universida<strong>de</strong>s com sua aplicabilida<strong>de</strong> nas mais diversas áreas <strong>de</strong> conhecimento.<br />
Um aprimoramento do método <strong>de</strong> exaustão: <strong>contribuições</strong> <strong>de</strong> Arquime<strong>de</strong>s<br />
3 A <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong>ssa proposição encontra-se em Eves (2004, p. 419).<br />
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Ao abordar o surgimento das idéias e discussões sobre assuntos matemáticos<br />
diretamente ligados ao cálculo (áreas <strong>de</strong> figuras curvas, volumes, distâncias infinitas,<br />
continuida<strong>de</strong> etc.) nos <strong>de</strong>paramos com homens que <strong>de</strong>dicaram muito tempo <strong>de</strong> suas vidas a<br />
esses problemas, aqueles que <strong>de</strong>ixaram seus registros e marcas na história, uns com menor e<br />
outros com maior expressão. Uns, com seus estudos, <strong>de</strong>ram <strong>contribuições</strong> sucintas, enquanto<br />
outros <strong>de</strong>ram <strong>contribuições</strong> esplendorosas.<br />
Ao se tratar <strong>de</strong> <strong>contribuições</strong> esplendorosas por matemáticos ao longo da história, o<br />
nome <strong>de</strong> Arquime<strong>de</strong>s (287 – 212 a.C.) com certeza figura nessa lista. A maioria dos<br />
historiadores da Matemática cita Arquime<strong>de</strong>s como um dos maiores matemáticos <strong>de</strong> todos os<br />
tempos. Para Bell (1948) “Arquime<strong>de</strong>s foi indiscutivelmente o chefe <strong>de</strong> todos eles, ‘o<br />
respeitoso’, ‘o mais sábio’, ‘o mestre’, ‘o gran<strong>de</strong> geômetra’” (p. 7. Tradução nossa). Por sua<br />
vez, Boyer (1992) afirma que “Arquime<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Siracusa é consi<strong>de</strong>rado o maior matemático da<br />
antiguida<strong>de</strong>. Superou os outros pela quantida<strong>de</strong> e dificulda<strong>de</strong> dos problemas que tratou, pela<br />
originalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus métodos e rigor <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>monstrações” (p. 28). Po<strong>de</strong>ríamos mostrar<br />
muitas citações <strong>de</strong> outros autores enaltecendo o grandioso trabalho <strong>de</strong> Arquime<strong>de</strong>s, no<br />
entanto, nos restringimos apenas a algumas.<br />
De acordo com Bell (1953), Arquime<strong>de</strong>s era um veraz aristocrata, nascido em<br />
Siracusa. Alguns suspeitam que ele tenha sido parente do tirano rei <strong>de</strong> Siracusa, Hierão II.<br />
Teve notórias aplicações da matemática em seus inventos mecânicos, porém, não gostava<br />
<strong>de</strong>sse lado aplicado da ciência, tinha repugnância, gostava mais da matemática pura. Quando<br />
jovem, estudou em Alexandria, no Egito, fazendo amiza<strong>de</strong>s bem próximas, com Conon,<br />
matemático talentoso, com o qual Arquime<strong>de</strong>s tinha um alto respeito por sua personalida<strong>de</strong> e<br />
mente intelectual. Também fez amiza<strong>de</strong> com Eratóstenes, consi<strong>de</strong>rado um gran<strong>de</strong> matemático.<br />
Esses dois foram os homens com quem Arquime<strong>de</strong>s se sentia seguro para <strong>de</strong>bater suas idéias.<br />
Após a morte <strong>de</strong> Conon, ele passou a enviar para Dositeo, discípulo do mesmo, suas<br />
correspondências.<br />
Arquime<strong>de</strong>s, como já foi ressaltado anteriormente, teve notáveis <strong>contribuições</strong> para a<br />
matemática, tanto na área pura como aplicada. Esse trabalho tem por objetivo evi<strong>de</strong>nciar suas<br />
<strong>contribuições</strong> para o cálculo, mas suas obras são tão ricas que não po<strong>de</strong>ríamos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />
mencionar aqui idéias relacionadas a outras áreas.<br />
Seus trabalhos na mecânica foram gratificantes, segundo Boyer (1996), Arquime<strong>de</strong>s<br />
criou a lei da alavanca, com o objetivo <strong>de</strong> calcular as áreas e centros <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> <strong>de</strong> variadas<br />
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superfícies, tanto planas como sólidas, das mais diversificadas formas. Criou a ciência da<br />
hidrostática, aplicando-a para encontrar a posição <strong>de</strong> repouso e <strong>de</strong> equilíbrio <strong>de</strong> corpos<br />
flutuantes. Essa <strong>de</strong>scoberta lhe causou tanta alegria que, distraído, foi capaz <strong>de</strong> “saltar fora do<br />
banho e correr para casa nu, exclamando ‘Eureka’ (eu achei)” (Boyer, 1996; p. 84) 4 . Na<br />
aritmética, foi além do método grego <strong>de</strong> simbolizar os números, inventando um novo método<br />
para representar qualquer número, por maior que fosse.<br />
Ao se tratar <strong>de</strong> questões relacionadas ao cálculo, Arquime<strong>de</strong>s inventou métodos para<br />
calcular a área <strong>de</strong> figuras planas curvilíneas e volumes limitados por superfícies curvas.<br />
Aplicou esses métodos em casos específicos como em círculos, esferas, segmentos <strong>de</strong><br />
parábolas e também em superfícies <strong>de</strong> figuras como <strong>de</strong> cones, cilindros, parabolói<strong>de</strong>s,<br />
hiperbolói<strong>de</strong>s, esferói<strong>de</strong>s. I<strong>de</strong>alizou um método para calcular a razão da circunferência com<br />
seu diâmetro, chegando a uma aproximação razoável para o conhecido valor <strong>de</strong> π, segundo<br />
Eves (2004) o resultado do cálculo <strong>de</strong> Arquime<strong>de</strong>s sobre o círculo foi uma aproximação do<br />
valor <strong>de</strong> π, expressa em um número entre 223/71 e 22/7, uma aproximação melhor que a dos<br />
egípcios e a dos babilônios. As obras <strong>de</strong> Arquime<strong>de</strong>s mostram quanto esse matemático <strong>de</strong>u<br />
significativos avanços em sua época, e como contribuiu para formulação do que temos hoje<br />
por cálculo integral e diferencial, que muitas vezes se credita exclusivamente a Newton e<br />
Leibniz; sem falar em <strong>contribuições</strong> na física e astronomia. Alguns teóricos, como Bell<br />
(1953), afirma sem medo que:<br />
Antecipando-se a Newton e Leibniz em mais <strong>de</strong> 2000 anos, [Arquime<strong>de</strong>s] inventou<br />
o Cálculo Integral, e, em um <strong>de</strong> seus problemas, antecipou a criação do Cálculo<br />
Diferencial. Estes dois cálculos juntos constituem o que se <strong>de</strong>nomina o “cálculo<br />
infinitesimal”, consi<strong>de</strong>rado como o instrumento mais po<strong>de</strong>roso que se foi inventado<br />
para a exploração matemática do universo físico. (Bell, 1953, p. 9. Tradução nossa).<br />
Durante muito tempo alguns estudiosos ficavam <strong>de</strong>sconfiados quanto às<br />
<strong>de</strong>monstrações <strong>de</strong> Arquime<strong>de</strong>s. Segundo Boyer (1996), alguns estudiosos do século XVII<br />
achavam as <strong>de</strong>monstrações <strong>de</strong> seus métodos um pouco sem motivação, como se ele ocultasse<br />
a receita daquelas <strong>de</strong>scobertas, a fim <strong>de</strong> ser jubilado e aclamado pelos seus admiradores, um<br />
tipo <strong>de</strong> efeito para uma maior admiração <strong>de</strong> suas obras. Mas, não era bem isso que<br />
Arquime<strong>de</strong>s queria, tanto que publicou sua obra com o título <strong>de</strong> O método, que continha<br />
quinze proposições, <strong>de</strong>ixando evi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>scrições passo a passo <strong>de</strong> como chegou a suas<br />
<strong>de</strong>scobertas. Para Arquime<strong>de</strong>s, o método usado em cada problema era incompleto, ao ponto<br />
4 Quem estiver interessado em uma análise sobre as <strong>de</strong>monstrações <strong>de</strong>sses métodos <strong>de</strong> Arquime<strong>de</strong>s em suas<br />
<strong>de</strong>scobertas, consultar o livro História da Matemática <strong>de</strong> Boyer (1996).<br />
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<strong>de</strong> se tornarem somas <strong>de</strong> segmentos <strong>de</strong> reta, seu novo método era mais rigoroso, continha uma<br />
<strong>de</strong>scrição mais compassada <strong>de</strong> como ele chegou aos resultados. Ele enviou esse trabalho em<br />
forma <strong>de</strong> carta para Eratóstenes, que era bibliotecário na universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Alexandria.<br />
Demorou milênios para vir à tona o novo método que Arquime<strong>de</strong>s utilizava em seus estudos,<br />
mas, no ano <strong>de</strong> 1906, o erudito dinamarquês J. L. Heiberg <strong>de</strong>scobriu a peça que estava<br />
faltando no quebra-cabeça, o dito manuscrito que calava e enterrava qualquer suposição<br />
contra a originalida<strong>de</strong> científica <strong>de</strong> Arquime<strong>de</strong>s.<br />
Precisamos lembrar que na época não havia ainda a imprensa, que surgiu apenas na<br />
Ida<strong>de</strong> Média, dificultando e ocultando muita das vezes o fluxo <strong>de</strong>sses conhecimentos entre a<br />
população daquela época. Mas, no manuscrito encontrado por Heiberg havia “uma tentativa –<br />
felizmente não muito bem-sucedida – [que] tinha sido feita para apagar esse texto a fim <strong>de</strong><br />
usar o pergaminho para um Euchologion (uma coleção <strong>de</strong> orações e liturgias usadas na Igreja<br />
Ortodoxa Oriental) escrito por volta do século treze” (Boyer, 1996, p. 95).<br />
Arquime<strong>de</strong>s, além <strong>de</strong> ter <strong>de</strong>ixado sua marca como gran<strong>de</strong> matemático, <strong>de</strong>ixou também<br />
com seus inventos mecânicos (catapultas, cordas, polias e outros), que mantiveram à distância<br />
os soldados romanos durante a Segunda Guerra Púnica, quando Siracusa se envolveu na luta<br />
entre Roma e Cartago. Foi assassinado por um soldado romano, apesar <strong>de</strong> Marcelo, general<br />
dos soldados romanos, ter pedido que preservassem a sua vida, o que não aconteceu. O<br />
próprio Marcelo saqueou as obras <strong>de</strong> Arquime<strong>de</strong>s, como seu engenhoso planetário e todas as<br />
suas narrações (Boyer, 1996).<br />
Arquime<strong>de</strong>s e Eudoxo chegaram muito perto <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir o que hoje conhecemos por<br />
cálculo integral e limites, com o método <strong>de</strong> exaustão, porém, não conseguiram enxergar isso.<br />
Arquime<strong>de</strong>s ainda abordou em seus trabalhos questões relacionadas ao cálculo diferencial e às<br />
séries infinitas, não diretamente, mas suas idéias primárias suscitaram o que hoje conhecemos<br />
quando estudamos as disciplinas <strong>de</strong> cálculo.<br />
Consi<strong>de</strong>rações finais<br />
Após fazermos essa análise histórica, temos a noção <strong>de</strong> como foram significantes o<br />
papel <strong>de</strong>sses homens, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Zenon com suas primeiras i<strong>de</strong>ias, Eudoxo que avançou com seu<br />
método <strong>de</strong> exaurir o círculo duplicando os lados <strong>de</strong> um polígono e Arquime<strong>de</strong>s que não só<br />
teve trabalhos nessa área do cálculo como na área aplicada. Vimos que milênios antes <strong>de</strong><br />
Newton e Leibniz, já havia trabalhos que, mesmo com os poucos conhecimentos que havia<br />
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naquela época sobre questões envolvendo infinito, áreas <strong>de</strong> figuras curvas <strong>de</strong>ntre outras que<br />
estão relacionadas diretamente com o cálculo, esses matemáticos gregos se aproximaram<br />
bastante <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobri-las a ponto <strong>de</strong>, caso isso houvesse acontecido, teriam antecipado em<br />
muitos anos o <strong>de</strong>senvolvimento da matemática relacionada ao cálculo, o que só veio a<br />
acontecer <strong>de</strong> fato no século XVII.<br />
Esse trabalho está em andamento e visamos fazer uma análise da obra <strong>de</strong> outros<br />
matemáticos posteriores aos gregos que também contribuíram para o <strong>de</strong>senvolvimento do<br />
cálculo. Temos como objetivo pesquisar as <strong>contribuições</strong> <strong>de</strong> Pierre <strong>de</strong> Fermat, René Descartes<br />
e John Wallis e <strong>de</strong>pois fechar com as <strong>contribuições</strong> <strong>de</strong> Isaac Newton e Leibniz.<br />
Referências<br />
BELL, E.T. Los Gran<strong>de</strong>s Matemáticos – <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Zenon a Poincare: su vida y sus obras.<br />
Buenos Aires: Losada, 1948.<br />
BOYER, Carl Benjamim. História da Matemática. 2. ed. Tradução Elza F. Gomi<strong>de</strong>. São<br />
Paulo: Edgard Blücher, 1996.<br />
_____________Tópicos <strong>de</strong> História da matemática para o uso em sala <strong>de</strong> aula. Vol. 6.<br />
Tradução <strong>de</strong> Hygino H. Domingues. São Paulo: Atual; 1992.<br />
EVES, Howard. Introdução a História da Matemática. Tradução Hygino H. Domingues.<br />
Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2004.<br />
PESSOA Jr., Osvaldo. Filosofia da Física Clássica. In: Paradoxo <strong>de</strong> Zenon. Disponível em:<br />
www.fflch.usp.br/df/opessoa/FiFi-09-Cap02.pdf. Acessado em 24 ago. 2010.<br />
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