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Ao cultivar os estágios da prática do Buda da Medicina – os ...

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<strong>Ao</strong> <strong>cultivar</strong> <strong>os</strong> estági<strong>os</strong> <strong>da</strong> <strong>prática</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> <strong>–</strong> <strong>os</strong> estági<strong>os</strong> <strong>da</strong><br />

geração e <strong>da</strong> compleição <strong>–</strong> não apenas alcançam<strong>os</strong> benefíci<strong>os</strong> para nós<br />

mesm<strong>os</strong>, mas de fato cultivam<strong>os</strong> o potencial para beneficiar <strong>os</strong> outr<strong>os</strong>. E, ao<br />

fazer essas <strong>prática</strong>s, é certo que abençoam<strong>os</strong> o ambiente e tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres<br />

que nele estão.<br />

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O Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong><br />

Uma <strong>prática</strong> extremamente eficaz em eliminar <strong>do</strong>enças<br />

O muito venerável Thrangu Rinpoche<br />

Em Cascade Mountains, Washington, Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong>, em junho de 1999, o muito venerável Khenchen<br />

Thrangu Rinpoche organizou um retiro de oito dias para ensinar a sadhana e o sutra <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>. O Rinpoche ensinou em tibetano e foi traduzi<strong>do</strong> oralmente por Lama Yeshe Gyamtso. A seguir,<br />

a transcrição edita<strong>da</strong>.<br />

G<strong>os</strong>taria de começar <strong>da</strong>n<strong>do</strong> as boas‐vin<strong>da</strong>s a tod<strong>os</strong> aqui hoje e agradecer<br />

por terem vin<strong>do</strong>. Estou muito feliz por esta oportuni<strong>da</strong>de de encontrá‐l<strong>os</strong>,<br />

estu<strong>da</strong>r a <strong>prática</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> com vocês e conversar sobre o Dharma.<br />

Como de hábito, começarem<strong>os</strong> com a recitação <strong>da</strong> súplica à linhagem. Enquanto<br />

o fazem<strong>os</strong>, por gentileza, gerem uma forte devoção pelo lama raiz e a<strong>os</strong> outr<strong>os</strong><br />

gurus <strong>da</strong> linhagem, como Vajradhara, Tilopa, Naropa, e <strong>os</strong> demais.<br />

[recitação <strong>da</strong> súplica à linhagem]<br />

Primeiro, para ouvir <strong>os</strong> ensinament<strong>os</strong> adequa<strong>da</strong>mente, por favor, gerem<br />

a atitude de bodhicitta, necessária para a <strong>prática</strong> <strong>do</strong> Dharma em geral e,<br />

particularmente, para <strong>prática</strong>s como a <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>. Enquanto ouvem<br />

<strong>os</strong> ensinament<strong>os</strong>, pensem que estão ouvin<strong>do</strong> [<strong>os</strong> gurus] e que praticarão as<br />

lições a fim de serem de grande benefício, o maior p<strong>os</strong>sível, para tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres.<br />

Podem<strong>os</strong> pensar que há uma contradição entre a motivação com que<br />

praticam<strong>os</strong> o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> e a motivação <strong>da</strong> bodhicitta. Podem<strong>os</strong> pensar<br />

que praticam<strong>os</strong> o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> fun<strong>da</strong>mentalmente para beneficiar a n<strong>os</strong>s<strong>os</strong><br />

própri<strong>os</strong> corp<strong>os</strong>, enquanto a motivação <strong>da</strong> bodhicitta é o desejo de beneficiar a<br />

tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres. Mas, de fato, não há contradição, porque, a fim de serm<strong>os</strong><br />

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efetiv<strong>os</strong> em aju<strong>da</strong>r outr<strong>os</strong> seres, precisam<strong>os</strong> realizar um samadhi excelente ou<br />

absorção meditativa; e, para alcançar tal feito, bem assim o insight e a realização<br />

que ele traz, precisam<strong>os</strong> ter uma <strong>prática</strong> estável. Para term<strong>os</strong> uma <strong>prática</strong><br />

estável e profun<strong>da</strong>, precisam<strong>os</strong> estar física e mentalmente saudáveis,<br />

confortáveis, porque, ao n<strong>os</strong> sentirm<strong>os</strong> confortáveis em n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> corp<strong>os</strong> e em<br />

n<strong>os</strong>sa mente, estarem<strong>os</strong> livres de obstácul<strong>os</strong> à diligência na <strong>prática</strong> e ao cultivo<br />

<strong>da</strong> absorção meditativa. Portanto, praticam<strong>os</strong> o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> para obter<br />

estad<strong>os</strong> de saúde e equilíbrio mental e físico, não apenas para n<strong>os</strong>so próprio<br />

benefício, mas para o d<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> também.<br />

Logo, não há contradição entre a motivação para praticar<br />

especificamente o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> e para praticar o Dharma em geral.<br />

Praticam<strong>os</strong> o Dharma a fim de atingir o esta<strong>do</strong> de Bu<strong>da</strong>, e com o mesmo<br />

objetivo praticam<strong>os</strong> o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>. Podem<strong>os</strong> praticá‐lo com o intuito de<br />

obter um esta<strong>do</strong> de saúde mental e física nesta vi<strong>da</strong>, mas quan<strong>do</strong> assim<br />

praticam<strong>os</strong>, não estam<strong>os</strong> realmente limitan<strong>do</strong> n<strong>os</strong>sa motivação a que nós<br />

mesm<strong>os</strong> tenham<strong>os</strong> saúde física e mental, porque por meio <strong>da</strong> <strong>prática</strong> podem<strong>os</strong><br />

realizar grandes benefíci<strong>os</strong> para nós e para <strong>os</strong> outr<strong>os</strong>, e podem<strong>os</strong> completar<br />

n<strong>os</strong>sa <strong>prática</strong> <strong>do</strong> Dharma com sucesso, no senti<strong>do</strong> de atingir o esta<strong>do</strong> de Bu<strong>da</strong>.<br />

Ademais, ao praticarm<strong>os</strong> o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, não apenas alcançam<strong>os</strong><br />

saúde nesta vi<strong>da</strong>, como também conseguim<strong>os</strong> obter suas bênçã<strong>os</strong> em n<strong>os</strong>sas<br />

vi<strong>da</strong>s futuras. E ao <strong>cultivar</strong> <strong>os</strong> estági<strong>os</strong> <strong>da</strong> <strong>prática</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> <strong>–</strong> <strong>os</strong><br />

estad<strong>os</strong> de geração e de conclusão <strong>–</strong> não apenas alcançam<strong>os</strong> benefíci<strong>os</strong> para nós<br />

mesm<strong>os</strong>, como também cultivam<strong>os</strong> o potencial para beneficiar <strong>os</strong> outr<strong>os</strong>. <strong>Ao</strong><br />

fazer essas <strong>prática</strong>s, de fato abençoam<strong>os</strong> o espaço e tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres que nele<br />

vivem.<br />

A <strong>prática</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> é fun<strong>da</strong>mentalmente uma <strong>prática</strong> mental,<br />

uma <strong>prática</strong> de meditação. Vocês podem pensar: como algo que fazem<strong>os</strong><br />

basicamente com n<strong>os</strong>sa mente poderia afetar n<strong>os</strong>so corpo? Como a <strong>prática</strong> <strong>do</strong><br />

Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> pode preservar n<strong>os</strong>sa saúde física ou aliviar o mal‐estar <strong>do</strong><br />

n<strong>os</strong>so corpo? Vocês podem pensar que, fun<strong>da</strong>mentalmente, a mente e o corpo<br />

não se relacionam e que, portanto, a <strong>prática</strong> <strong>da</strong> meditação não pode afetar n<strong>os</strong>so<br />

corpo. Na reali<strong>da</strong>de, corpo e mente estão extremamente inter‐relacionad<strong>os</strong>. O<br />

corpo é o suporte ou o recipiente <strong>da</strong> n<strong>os</strong>sa mente, bem como a mente é a sua<br />

base. Então, a <strong>prática</strong> de meditação de fato afeta seu corpo e seu esta<strong>do</strong> mental.<br />

Especificamente, na <strong>prática</strong> meditativa <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, além de visualizá‐<br />

lo à sua frente, vocês também visualizam seu corpo como o <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>. Esta e outras visualizações, a recitação d<strong>os</strong> mantras e tu<strong>do</strong> o mais,<br />

que inicialmente ou primeiramente parecem afetar apenas a mente, de fato<br />

afetam também o corpo.<br />

Praticam<strong>os</strong>, fun<strong>da</strong>mentalmente, com n<strong>os</strong>sas mentes, mas essa <strong>prática</strong><br />

afeta e beneficia amb<strong>os</strong>, mente e corpo. Como geralmente se ensina, o que<br />

identificam<strong>os</strong> como n<strong>os</strong>sa mente consiste de oito diferentes consciências, ou<br />

funções de consciência. Elas aparecem como são por causa <strong>da</strong> conexão entre<br />

corpo e mente. Por exemplo, uma <strong>da</strong>s oito consciências é a consciência d<strong>os</strong><br />

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olh<strong>os</strong>, a consciência visual. Ela se dá em função de três coisas: seu objeto, que<br />

são as formas visíveis; sua base orgânica, que é o olho como o órgão <strong>da</strong> visão; e<br />

a consciência, que é a mente funcionan<strong>do</strong> em conexão com <strong>os</strong> <strong>do</strong>is. Bem, o<br />

ponto é que a consciência visual nunca surge isola<strong>da</strong> <strong>do</strong> objeto e <strong>da</strong> base<br />

orgânica. Ela surge porque a base orgânica é capaz de detectar o objeto<br />

apropria<strong>do</strong> <strong>–</strong> nesse caso, a forma visível. Portanto, pelo fato de o objeto, o órgão<br />

e a mente estarem tão intimamente inter‐relacionad<strong>os</strong> ou inter‐conectad<strong>os</strong>, a<br />

transformação de qualquer um deles necessariamente afetará o aspecto ou o<br />

jeito d<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> <strong>do</strong>is. Então, quan<strong>do</strong> o objeto mu<strong>da</strong>, isso afeta a consciência<br />

visual <strong>da</strong>quele objeto em relação ao órgão; e quan<strong>do</strong> o órgão sofre alguma<br />

transformação, isso afeta a consciência visual e o objeto percebi<strong>do</strong>; <strong>do</strong> mesmo<br />

mo<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> a consciência se transforma, o que acontece pela <strong>prática</strong> <strong>da</strong><br />

meditação, isso afeta a percepção d<strong>os</strong> objet<strong>os</strong> e a própria base orgânica.<br />

De maneira semelhante, n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> sentid<strong>os</strong> surgem como<br />

consciências em conexão com seus objet<strong>os</strong> e suas bases orgânicas. Toman<strong>do</strong><br />

como exemplo o ouvi<strong>do</strong>, surge o que se chama de consciência auditiva, ou a<br />

audição, que experiencia seu objeto, <strong>os</strong> sons. Da relação com a base orgânica <strong>do</strong><br />

nariz, surge a consciência olfativa, que detecta <strong>os</strong> cheir<strong>os</strong>. Da relação com a<br />

língua, surge a consciência palatal, que detecta o g<strong>os</strong>to. E <strong>da</strong> relação com a base<br />

orgânica <strong>do</strong> corpo e seus nerv<strong>os</strong>, surge a consciência corporal, que detecta ou<br />

experiencia as sensações tácteis. To<strong>da</strong>s essas consciências surgem ou são<br />

gera<strong>da</strong>s a partir <strong>da</strong> presença de um objeto que é encontra<strong>do</strong> por um órgão<br />

apropria<strong>do</strong>. Às vezes, elas surgem no próprio órgão que experimenta a<br />

sensação, mas, em qualquer caso, as sensações d<strong>os</strong> cinco sentid<strong>os</strong> que<br />

experienciam<strong>os</strong> são funções d<strong>os</strong> órgã<strong>os</strong> e d<strong>os</strong> objet<strong>os</strong> experienciad<strong>os</strong> por esses<br />

órgã<strong>os</strong>, o que gera a consciência apropria<strong>da</strong>. Devi<strong>do</strong> ao fato de a consciência<br />

permear a experiência <strong>do</strong> seu objeto e a experiência <strong>do</strong> órgão em si, se a<br />

consciência se transformar, ou o mo<strong>do</strong> de alguém experienciar a consciência se<br />

transformar em aparência pura, então as aparências d<strong>os</strong> objet<strong>os</strong>, e também a<br />

d<strong>os</strong> órgã<strong>os</strong>, se tornará pura ou sagra<strong>da</strong>. É dessa maneira que a <strong>prática</strong> dessa<br />

forma de meditação pode beneficiar não apenas a mente, mas também o corpo.<br />

Soman<strong>do</strong>‐se às consciências d<strong>os</strong> cinco sentid<strong>os</strong>, a sexta consciência, que é<br />

a consciência mental, também surge em conexão com a experiência física. Bem,<br />

de acor<strong>do</strong> com o AbhiDharma, a consciência mental não se encontra<br />

exclusivamente em uma base orgânica específica, como as outras consciências<br />

sensoriais. A condição que leva ao surgimento <strong>da</strong> consciência mental é o<br />

momento prévio <strong>da</strong> consciência em si. De maneira geral, ela surge em boa parte<br />

<strong>da</strong>s impressões produzi<strong>da</strong>s pelas experiências físicas d<strong>os</strong> sentid<strong>os</strong>. Então,<br />

indiretamente, podem<strong>os</strong> dizer que a base orgânica para a consciência mental é o<br />

momentum de to<strong>da</strong>s as consciências conecta<strong>da</strong>s às suas experiências sensoriais.<br />

Mas a consciência mental em si é o que gera e experiencia to<strong>da</strong>s as varie<strong>da</strong>des<br />

de emoções e pensament<strong>os</strong> que conhecem<strong>os</strong> <strong>–</strong> apego, aversão, encantamento,<br />

apatia, orgulho, sentiment<strong>os</strong> de alegria e prazer, sentiment<strong>os</strong> de tristeza,<br />

sentiment<strong>os</strong> de fé e compaixão, etc. <strong>–</strong> tod<strong>os</strong> esses diferentes estad<strong>os</strong> emocionais<br />

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e tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> pensament<strong>os</strong> a eles ligad<strong>os</strong> são varie<strong>da</strong>des de experiências <strong>da</strong> sexta<br />

consciência, ou consciência mental. Enquanto esses vári<strong>os</strong> pensament<strong>os</strong> e<br />

emoções passam pela n<strong>os</strong>sa mente, eles transformam e influenciam aquela<br />

mesma consciência. Mas não apenas isso, eles também afetam as cinco<br />

consciências sensoriais. Por exemplo, quan<strong>do</strong> você está muito triste e olha para<br />

alguma coisa, você a perceberá como algo triste ou desagradável. Se você olha<br />

para o mesmo objeto quan<strong>do</strong> está alegre, você verá a mesma coisa como<br />

agradável. E se você o olhar quan<strong>do</strong> está com raiva, você novamente verá esse<br />

objeto de forma inteiramente diferente. Esse é um exemplo muito simples de<br />

como a consciência mental, em particular, e a mente, em geral, afetam n<strong>os</strong>sa<br />

experiência d<strong>os</strong> objet<strong>os</strong> d<strong>os</strong> sentid<strong>os</strong>, <strong>da</strong>s consciências sensoriais e d<strong>os</strong> própri<strong>os</strong><br />

órgã<strong>os</strong> d<strong>os</strong> sentid<strong>os</strong>.<br />

Das oito consciências, as mais evidentes em n<strong>os</strong>sas experiências são essas<br />

seis consciências, ou seis funções: as cinco consciências sensoriais e a<br />

consciência mental. Mas além dessas, há outras duas funções <strong>da</strong> mente, que são<br />

chama<strong>da</strong>s de funções ou consciências estáveis ou subjacentes. Elas são a sétima<br />

consciência, que é a súbita aflição mental, e a oitava consciência, que é a base de<br />

tu<strong>do</strong>. A sétima consciência, que é a raiz <strong>da</strong> aflição mental, refere‐se à súbita e<br />

fun<strong>da</strong>mental falta de compreensão quanto à existência de um self, ou a fixação<br />

em um self. Essa fixação é a própria raiz <strong>do</strong> samsara. Entretanto, ela não é vista<br />

como algo não virtu<strong>os</strong>o ou negativo em si. Ela é moralmente neutra. Porém,<br />

porque ela é ignorância e a base para mais ignorância p<strong>os</strong>terior, ela é vista como<br />

a coisa mais fun<strong>da</strong>mental e importante a ser aban<strong>do</strong>na<strong>da</strong> ou extinta. De fato,<br />

podem<strong>os</strong> dizer que <strong>os</strong> ensinament<strong>os</strong> <strong>do</strong> Buddhadharma são, principalmente,<br />

sobre como aban<strong>do</strong>nar essa fixação no self. É por essa razão que há tanta ênfase<br />

no Buddhadharma nas meditações sobre o não‐eu, a vacui<strong>da</strong>de, etc. Por essas<br />

meditações, pode‐se realizar o não‐eu, por meio <strong>do</strong> que se extinguem <strong>os</strong> kleshas<br />

e, afinal, se atinge a liberação.<br />

A meditação sobre o não‐eu, contu<strong>do</strong>, e especificamente a meditação<br />

sobre a não existência de um ver<strong>da</strong>deiro self pessoal, não consistem em tentar<br />

imaginar ou convencer‐se de que você não é na<strong>da</strong>. Especificamente nas <strong>prática</strong>s<br />

tântricas de visualização <strong>da</strong> fase de geração, colocam<strong>os</strong> outra coisa no lugar de<br />

n<strong>os</strong>so sóli<strong>do</strong> senti<strong>do</strong> de n<strong>os</strong>sa própria existência. No caso <strong>da</strong> <strong>prática</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>, eliminam<strong>os</strong> o pensamento “eu sou eu, eu sou a pessoa que acho que<br />

sou” e trocam<strong>os</strong> por “eu sou o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>”. A técnica primária dessa<br />

meditação consiste em imaginar você mesmo como o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>,<br />

conceber‐se a si mesmo como o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>. <strong>Ao</strong> trocar o pensamento de<br />

você como você mesmo pelo pensamento de você como Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, você<br />

gradualmente combate e remove a fixação em seu self. E, enquanto essa fixação<br />

é removi<strong>da</strong>, o poder <strong>da</strong> sétima consciência é reduzi<strong>do</strong>. E assim, <strong>os</strong> kleshas e as<br />

aflições mentais gradualmente se enfraquecem, o que proporciona uma<br />

experiência ca<strong>da</strong> vez maior de bem‐estar ao corpo e à mente.<br />

A oitava consciência é a base de tu<strong>do</strong>, assim chama<strong>da</strong> porque é o terreno<br />

onde germinam <strong>os</strong> hábit<strong>os</strong>, tanto <strong>os</strong> bons quanto <strong>os</strong> ruins. Nós experienciam<strong>os</strong><br />

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as coisas <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> em que fazem<strong>os</strong> por causa d<strong>os</strong> hábit<strong>os</strong> que acumulam<strong>os</strong>.<br />

Quan<strong>do</strong> acumulam<strong>os</strong> bons hábit<strong>os</strong>, tem<strong>os</strong> experiências p<strong>os</strong>itivas e quan<strong>do</strong><br />

acumulam<strong>os</strong> maus hábit<strong>os</strong> tem<strong>os</strong> experiências negativas. A razão fun<strong>da</strong>mental<br />

de n<strong>os</strong>so mergulho no samsara é a acumulação de maus hábit<strong>os</strong>, alguns mais<br />

nociv<strong>os</strong> que outr<strong>os</strong>. O processo de sairm<strong>os</strong> <strong>do</strong> samsara consiste em<br />

gradualmente enfraquecer <strong>os</strong> maus hábit<strong>os</strong> e fortalecer <strong>os</strong> bons. Por exemplo,<br />

quan<strong>do</strong> começam<strong>os</strong> a praticar, não tem<strong>os</strong> realmente confiança de que som<strong>os</strong> o<br />

Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>. Tem<strong>os</strong> o forte hábito negativo de n<strong>os</strong> ver como quem quer<br />

que achem<strong>os</strong> que som<strong>os</strong>. Mas se <strong>cultivar</strong>m<strong>os</strong> a técnica e a atitude de n<strong>os</strong> verm<strong>os</strong><br />

como ten<strong>do</strong> o corpo, a palavra, a mente, as quali<strong>da</strong>des e as bênçã<strong>os</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>, então essas quali<strong>da</strong>des naturais em nós aumentarão.<br />

A <strong>prática</strong> principal no Vajrayana consiste na fase <strong>da</strong> geração, a <strong>prática</strong> de<br />

se ver como uma dei<strong>da</strong>de. Do ponto de vista ordinário, podem<strong>os</strong> pensar que<br />

isso é inútil. Pensam<strong>os</strong>: “bem, eu não sou realmente uma divin<strong>da</strong>de. De que me<br />

serve fingir sê‐lo?”. De fato, porém, a raiz <strong>do</strong> samsara é o hábito <strong>da</strong> percepção<br />

impura. <strong>Ao</strong> n<strong>os</strong> verm<strong>os</strong> como uma dei<strong>da</strong>de, a<strong>os</strong> pouc<strong>os</strong> purificam<strong>os</strong>,<br />

enfraquecem<strong>os</strong> e removem<strong>os</strong> esse hábito e o trocam<strong>os</strong> pelo hábito <strong>da</strong> percepção<br />

pura. É por esse motivo que se considera tão importante a meditação de si<br />

mesmo como uma dei<strong>da</strong>de.<br />

Na maioria <strong>da</strong>s tradições religi<strong>os</strong>as, imagina‐se suas divin<strong>da</strong>des como<br />

estan<strong>do</strong> em frente a alguém. Então, visualizan<strong>do</strong> dessa forma, se reza para ela,<br />

esperan<strong>do</strong> que se receba uma bênção. Na tradição Vajrayana, no entanto,<br />

consideram<strong>os</strong> as bênçã<strong>os</strong>, as quali<strong>da</strong>des, o poder como sen<strong>do</strong> inat<strong>os</strong>, presentes<br />

na n<strong>os</strong>sa mente. Essa presença inata <strong>da</strong> sabe<strong>do</strong>ria e <strong>da</strong>s bênçã<strong>os</strong> <strong>da</strong>s divin<strong>da</strong>des<br />

em n<strong>os</strong>sa própria mente é chama<strong>da</strong> de uni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> imensidão e <strong>da</strong> sabe<strong>do</strong>ria,<br />

ou uni<strong>da</strong>de <strong>do</strong> espaço e <strong>da</strong> sabe<strong>do</strong>ria. Claro, é ver<strong>da</strong>de que quan<strong>do</strong> olham<strong>os</strong><br />

n<strong>os</strong>sa mente, tem<strong>os</strong> aflições mentais, pensament<strong>os</strong>, vári<strong>os</strong> tip<strong>os</strong> de sofriment<strong>os</strong><br />

e problemas. Mas, ao mesmo tempo, tem<strong>os</strong> o potencial inato de transcendê‐l<strong>os</strong>.<br />

E a razão pela qual tem<strong>os</strong> esse potencial inato é que a natureza <strong>da</strong> mente e a<br />

natureza de tu<strong>do</strong> que nela surge são vacui<strong>da</strong>de. Independente <strong>do</strong> que esteja<br />

passan<strong>do</strong> pela sua mente, ela é sempre um espaço ilimita<strong>do</strong> de vacui<strong>da</strong>de.<br />

O potencial inato de n<strong>os</strong>sa mente vem <strong>do</strong> fato de que ela é vazia. Por<br />

causa disso, tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> problemas, sofriment<strong>os</strong> e defeit<strong>os</strong> que lá surgem podem<br />

ser removid<strong>os</strong> ou purificad<strong>os</strong>, porque eles também são vazi<strong>os</strong>. Essa vacui<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> mente não é o na<strong>da</strong> absoluto; não é um vazio estático, morto ou neutro,<br />

porque, enquanto a vacui<strong>da</strong>de de fato é a natureza <strong>da</strong> mente, a natureza dessa<br />

vacui<strong>da</strong>de é sabe<strong>do</strong>ria <strong>–</strong> é o potencial inato <strong>do</strong> surgimento de to<strong>da</strong>s as<br />

quali<strong>da</strong>des. Nas escrituras budistas, o potencial inato é chama<strong>do</strong> de natureza de<br />

Bu<strong>da</strong>.<br />

Agora, no budismo tântrico o processo de trabalhar sua situação de vi<strong>da</strong><br />

pela <strong>prática</strong> consiste em reconhecer que sua natureza básica é aquele potencial,<br />

aquela natureza de Bu<strong>da</strong>, e então se medita sobre essa presença em si por meio<br />

<strong>da</strong> visão de si mesmo como a dei<strong>da</strong>de. A forma dessa dei<strong>da</strong>de é a encarnação<br />

ou a expressão <strong>da</strong>quele potencial, <strong>da</strong>quela uni<strong>da</strong>de de vacui<strong>da</strong>de e sabe<strong>do</strong>ria<br />

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em si mesmo. É por meio <strong>da</strong> visão de si mesmo como uma dei<strong>da</strong>de que<br />

gradualmente se erradicam <strong>os</strong> defeit<strong>os</strong> e se revelam as quali<strong>da</strong>des. A técnica<br />

primária de visualização é de n<strong>os</strong> imaginarm<strong>os</strong> como a divin<strong>da</strong>de, porque o<br />

potencial de transformar n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> problemas é inato, ao invés de externo a nós.<br />

Portanto, n<strong>os</strong>sa <strong>prática</strong> principal na meditação sobre as dei<strong>da</strong>des é a<br />

autogeração <strong>da</strong> dei<strong>da</strong>de, visualizan<strong>do</strong> a nós mesm<strong>os</strong> como a dei<strong>da</strong>de.<br />

Se você perguntar se esse é o único jeito de trabalhar com as divin<strong>da</strong>des,<br />

a resp<strong>os</strong>ta é não. Também visualizam<strong>os</strong> as dei<strong>da</strong>des à n<strong>os</strong>sa frente. Bem, na<br />

tradição comum 1 <strong>do</strong> budismo, como se pode encontrar nas escrituras <strong>da</strong><br />

tradição Therava<strong>da</strong> e outras <strong>–</strong> que não pude ler em pali mas já li nas traduções<br />

tibetanas <strong>–</strong> encontram<strong>os</strong> uma extensa apresentação feita pelo Bu<strong>da</strong> em que não<br />

há uma divin<strong>da</strong>de externa com quem devem<strong>os</strong> n<strong>os</strong> relacionar, que o caminho<br />

consiste fun<strong>da</strong>mentalmente na erradicação d<strong>os</strong> kleshas, dessa forma<br />

eventualmente atingin<strong>do</strong> completamente o esta<strong>do</strong> de arhat ou arhati. Assim,<br />

n<strong>os</strong> sutras <strong>do</strong> veículo comum, o esta<strong>do</strong> de liberação é apresenta<strong>do</strong> como livre de<br />

tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> kleshas, limitações e apeg<strong>os</strong>, mas não particularmente como uma firme<br />

e dura<strong>do</strong>ura sabe<strong>do</strong>ria.<br />

Contu<strong>do</strong>, n<strong>os</strong> sutras <strong>do</strong> Mahayana, e especialmente n<strong>os</strong> ensinament<strong>os</strong> <strong>do</strong><br />

Vajrayana, diz‐se claramente que, uma vez que alguém alcança a liberação e o<br />

Esta<strong>do</strong> de Bu<strong>da</strong>, ele não se torna um na<strong>da</strong>. O processo de purificação finalmente<br />

revela a dura<strong>do</strong>ura sabe<strong>do</strong>ria que é <strong>da</strong> natureza <strong>da</strong> compaixão não conceitual, e<br />

dessa forma permanece. A obtenção <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Bu<strong>da</strong>, o caminho por meio <strong>do</strong><br />

qual ele é obti<strong>do</strong>, de fato começa com a geração <strong>da</strong> bodhicitta, que é a intenção<br />

de alcançar a iluminação de mo<strong>do</strong> que se p<strong>os</strong>sa levar tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres a esse<br />

esta<strong>do</strong>. Em razão de ser essa a motivação com que se inicia no caminho, quan<strong>do</strong><br />

o resulta<strong>do</strong>, que é o Esta<strong>do</strong> de Bu<strong>da</strong>, é atingi<strong>do</strong>, tem‐se que o caminho é<br />

naturalmente espontâneo, imparcial, pleno de compaixão não conceitual.<br />

Então, consideram<strong>os</strong> <strong>os</strong> Bu<strong>da</strong>s como ten<strong>do</strong> uma consciência que responde às<br />

necessi<strong>da</strong>des de tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres, sen<strong>do</strong> dessa forma abert<strong>os</strong> e acessíveis às n<strong>os</strong>sas<br />

orações e súplicas. Por esse motivo, enquanto primeiramente visualizam<strong>os</strong> a<br />

nós mesm<strong>os</strong> como as dei<strong>da</strong>des, nós também visualizam<strong>os</strong> as dei<strong>da</strong>des presentes<br />

à n<strong>os</strong>sa frente.<br />

Nós complementam<strong>os</strong> a visualização de nós mesm<strong>os</strong> como as dei<strong>da</strong>des<br />

com visualizações em que imaginam<strong>os</strong> que de fato as divin<strong>da</strong>des de sabe<strong>do</strong>ria<br />

se dissolvem em nós repeti<strong>da</strong>s vezes, e assim recebem<strong>os</strong> suas bênçã<strong>os</strong>. Às<br />

vezes, nós visualizam<strong>os</strong> a dei<strong>da</strong>de a n<strong>os</strong>sa frente, separa<strong>da</strong> de nós, pensan<strong>do</strong><br />

que <strong>os</strong> rai<strong>os</strong> de luz de seu coração n<strong>os</strong> envolvem e n<strong>os</strong> penetram, conceden<strong>do</strong><br />

bênçã<strong>os</strong> divinas. Outras vezes, visualizam<strong>os</strong> que rai<strong>os</strong> de luz, que trazem as<br />

bênçã<strong>os</strong> <strong>da</strong>quela dei<strong>da</strong>de que está a n<strong>os</strong>sa frente, atingem tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres,<br />

removen<strong>do</strong> seus obstácul<strong>os</strong>, aumentan<strong>do</strong> sua longevi<strong>da</strong>de, sabe<strong>do</strong>ria, entre<br />

outr<strong>os</strong>. To<strong>da</strong>s essas visualizações são métod<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> quais despertam<strong>os</strong> a<br />

1 Nota <strong>do</strong> editor: a tradição comum é uma maneira de se referir a<strong>os</strong> ensinament<strong>os</strong> comuns a to<strong>da</strong>s as<br />

tradições budistas, que são <strong>os</strong> ensinament<strong>os</strong> Hinayana (ou <strong>do</strong> Pequeno Veículo) sobre a liberação pessoal.<br />

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compaixão de tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> Bu<strong>da</strong>s, conseguin<strong>do</strong> que nós mesm<strong>os</strong> e <strong>os</strong> outr<strong>os</strong><br />

recebam suas bênçã<strong>os</strong>.<br />

Tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> yi<strong>da</strong>ms e divin<strong>da</strong>des usad<strong>os</strong> na meditação têm a mesma<br />

natureza fun<strong>da</strong>mental e são extremamente pur<strong>os</strong>. Entretanto, eles têm<br />

diferentes aparências, que refletem as diferentes ativi<strong>da</strong>des que incorporam e<br />

em que se engajam. Essas diversas ativi<strong>da</strong>des são, em princípio, determina<strong>da</strong>s<br />

pelas aspirações individuais que eles fizeram à época em que inicialmente<br />

geraram a bodhicitta. Por exemplo, no caso <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, existe um<br />

conjunto específico de aspirações, bem assim como no caso <strong>do</strong> bodhisattva<br />

Avalokiteshvara ou <strong>da</strong> bodhisattva Arya Tara. É primeiramente em razão disso<br />

que as divin<strong>da</strong>des manifestam suas varia<strong>da</strong>s aparências <strong>–</strong> às vezes, aparecen<strong>do</strong><br />

como masculinas, em cujo caso eles incorporam o upaya, ou o méto<strong>do</strong>; outras<br />

vezes, elas aparecem como femininas, incorporan<strong>do</strong> o prajna, ou a sabe<strong>do</strong>ria;<br />

outras vezes, ain<strong>da</strong>, aparecem como pacíficas, ou como ira<strong>da</strong>s, e assim por<br />

diante. No caso <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, à época em que primeiro gerou a<br />

bodhicitta <strong>–</strong> cujo ato iniciou o caminho que culminou na obtenção <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de<br />

Bu<strong>da</strong> <strong>–</strong> sua motivação primária foi remover o sofrimento de tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres em<br />

geral, mas especificamente, remover o sofrimento físico e mental causa<strong>do</strong> pelo<br />

desequilíbrio d<strong>os</strong> element<strong>os</strong>, que conhecem<strong>os</strong> como as <strong>do</strong>enças físicas e<br />

mentais. Essa foi sua motivação, ou aspiração primária, ao longo d<strong>os</strong> três<br />

períod<strong>os</strong> de inumeráveis éons, durante <strong>os</strong> quais ele acumulou mérit<strong>os</strong> e<br />

sabe<strong>do</strong>ria, que culminou na obtenção <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Bu<strong>da</strong> na forma de Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>. Então, como Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, ele p<strong>os</strong>sui extraordinária habili<strong>da</strong>de<br />

e se envolve em extraordinária ativi<strong>da</strong>de para aliviar <strong>da</strong>s <strong>do</strong>enças. Seja quan<strong>do</strong><br />

você acessa essa ativi<strong>da</strong>de por meio <strong>da</strong> visualização de você mesmo enquanto<br />

Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, seja quan<strong>do</strong> você desperta a compaixão e a ativi<strong>da</strong>de <strong>do</strong><br />

Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> concebi<strong>do</strong> como externo a você, em qualquer um desses<br />

cas<strong>os</strong>, a <strong>prática</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> é superiormente eficaz em eliminar<br />

<strong>do</strong>enças.<br />

A <strong>prática</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> provém <strong>da</strong> singular tradição <strong>do</strong><br />

Vajrayana, o que significa que sua transmissão é feita por meio de três<br />

process<strong>os</strong>: a iniciação, que permite o amadurecimento; a instrução, que libera; e<br />

a leitura <strong>da</strong> transmissão, que dá o suporte. A função <strong>da</strong> iniciação, a cerimônia<br />

formal ou ritual de iniciação, é introduzir‐n<strong>os</strong> à <strong>prática</strong> e ao processo de<br />

visualização, e assim por diante, o que consistirá na <strong>prática</strong>. A função <strong>da</strong><br />

instrução, que libera, é n<strong>os</strong> <strong>da</strong>r o acesso completo à <strong>prática</strong> pela orientação de<br />

como fazê‐la <strong>–</strong> o que devem<strong>os</strong> fazer com n<strong>os</strong>so corpo, o que devem<strong>os</strong> dizer com<br />

n<strong>os</strong>sa fala e o que devem<strong>os</strong> pensar com n<strong>os</strong>sa mente. A função <strong>da</strong> transmissão<br />

pela leitura, que dá o suporte, é transmitir as bênçã<strong>os</strong> <strong>da</strong> linhagem <strong>da</strong> <strong>prática</strong><br />

para consagrá‐la ou abençoá‐la pelo som. Devi<strong>do</strong> ao fato de a linhagem ter si<strong>do</strong><br />

transmiti<strong>da</strong> como o som <strong>da</strong>s palavras de sua transmissão, quan<strong>do</strong> a transmissão<br />

pela leitura n<strong>os</strong> é <strong>da</strong><strong>da</strong>, nós simplesmente ouvim<strong>os</strong> esse som e pensam<strong>os</strong> que,<br />

com isso, recebem<strong>os</strong> as bênçã<strong>os</strong> <strong>da</strong> linhagem.<br />

11


Hoje, eu <strong>da</strong>rei a transmissão pela leitura, o lung, para a <strong>prática</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>. A iniciação <strong>da</strong> <strong>prática</strong>, eu a <strong>da</strong>rei no <strong>do</strong>mingo. Com relação à<br />

iniciação, é preciso entender que a <strong>prática</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> não é uma<br />

<strong>prática</strong> somente <strong>do</strong> Vajrayana. Como a <strong>prática</strong> <strong>do</strong> Mahamudra, é uma<br />

combinação de Vajrayana (tantra) e sutra. Por exemplo, enquanto se diz que o<br />

Mahamudra é ensina<strong>do</strong> primeiramente no Vajrayana, ele também é encontra<strong>do</strong><br />

em cert<strong>os</strong> sutras, como o Samadhiraja Sutra, e assim por diante. Do mesmo<br />

mo<strong>do</strong>, a <strong>prática</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> é uma combinação <strong>do</strong> que o Bu<strong>da</strong><br />

ensinou sobre ele n<strong>os</strong> sutras <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> e em vári<strong>os</strong> tantras. Por estar<br />

em conexão com o Vajrayana, é bastante apropria<strong>do</strong> receber a iniciação para<br />

fortalecer a <strong>prática</strong>; mas pelo fato dela também estar em conexão com <strong>os</strong> sutras,<br />

é igualmente aceitável que se faça a <strong>prática</strong> sem iniciação. Enquanto estiverem<br />

receben<strong>do</strong> a transmissão pela leitura, hoje, não é necessário fazer qualquer<br />

visualização em particular. Mantenham a aspiração pela bodhicitta para<br />

receberam a transmissão e pensem que, simplesmente por ouvir <strong>os</strong> sons dessas<br />

palavras enquanto as leio para vocês, vocês recebem a transmissão, ou bênção,<br />

<strong>da</strong> linhagem dessa <strong>prática</strong>.<br />

[Rinpoche dá a transmissão pela leitura]<br />

Para lhes <strong>da</strong>r o suporte para sua visualização <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>,<br />

enquanto fazem a <strong>prática</strong>, eu lhes <strong>do</strong>u a ca<strong>da</strong> um uma pequena imagem dele.<br />

Por gentileza, venham aqui para recebê‐la.<br />

[Rinpoche distribui as imagens]<br />

12


O Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong><br />

O Grande Rei <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> age para pacificar o sofrimento d<strong>os</strong> seres<br />

Continuação d<strong>os</strong> ensinament<strong>os</strong> <strong>do</strong> muito venerável Khenchen Thrangu Rinpoche sobre o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>.<br />

Vam<strong>os</strong> agora começar com o texto, a liturgia <strong>da</strong> <strong>prática</strong>, para que vocês<br />

enten<strong>da</strong>m como fazê‐la. Vocês poderão notar que a primeira parte <strong>da</strong> <strong>prática</strong> <strong>do</strong><br />

Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> é a súplica à linhagem, que consiste na súplica ao Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong> principal, <strong>os</strong> sete Bu<strong>da</strong>s <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> com ele relacionad<strong>os</strong>, <strong>os</strong><br />

dezesseis bodhisattvas e, por fim, <strong>os</strong> detentores e propaga<strong>do</strong>res d<strong>os</strong><br />

ensinament<strong>os</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>. O propósito de recitar essa súplica no<br />

início <strong>da</strong> <strong>prática</strong> é invocar e receber desde o começo a bênção <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong> pelo poder de sua fé e devoção à dei<strong>da</strong>de e à linhagem de seu<br />

ensinamento.<br />

A súplica começa com uma frase em sânscrito:<br />

!, /- 3R- SNF- !K- 3- @-


fonte <strong>da</strong> tradição, e também porque o sânscrito é uma língua que guar<strong>da</strong> uma<br />

grande bênção, a súplica inicial é feita em sânscrito, após o que se segue o corpo<br />

principal <strong>da</strong> súplica <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> em tibetano.<br />

A primeira estância <strong>da</strong> súplica é dirigi<strong>da</strong> ao principal Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>,<br />

e se baseia na apresentação feita pelo Bu<strong>da</strong> Shakyamuni sobre a motivação<br />

inicial <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> para seguir o caminho e as aspirações que este fez<br />

em razão disso, como se pode ler n<strong>os</strong> sutras <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> 2 .<br />

,2?R.- /3?- ;R/- +/- o- 35S:C- $+JA/- +- ?J


,;A-?$?- $/?- ?- *J- 2:A- *J- 2R- ;A?,<br />

,HR.- 35/- ,R?- /- 3AJ- 2lR/- 0?,<br />

,.M=- 2


A próxima estância descreve um terceiro benefício de ouvir ou relembrar<br />

o nome <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>.<br />

,$%- .$-.LJ/- .%- K- 3- .- 3- ;A?,<br />

,


Nome Excelente, Aparência de Ouro Imacula<strong>do</strong>,<br />

Glori<strong>os</strong>o Supremo Liberto <strong>da</strong> Miséria,<br />

Melodia <strong>do</strong> Dharma, Rei <strong>do</strong> Conhecimento Direto,<br />

Rei <strong>da</strong> Melodia e Rei d<strong>os</strong> Shakyas.<br />

Eu suplico a tod<strong>os</strong> vós!<br />

Esses sete Bu<strong>da</strong>s são assim chamad<strong>os</strong>: Tshen Lek, Nome Excelente; Ser<br />

Zang Dri Me Nagwa, Aparência de Puro Ouro; Nya Ngen Me Chok Pal,<br />

Glori<strong>os</strong>o Supremo Livre <strong>da</strong> Miséria; Chö Drak Yang, Ressoante Melodia <strong>do</strong><br />

Dharma; Ngön Khyen Gyalpo, Rei <strong>do</strong> Conhecimento Direto; Dra Yang Gyalpo,<br />

Rei <strong>da</strong> Melodia; e Shakya Gyalpo, Rei d<strong>os</strong> Shakyas.<br />

A próxima estância é uma súplica às outras dei<strong>da</strong>des na man<strong>da</strong>la <strong>do</strong><br />

Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>. Nem to<strong>da</strong>s estão lista<strong>da</strong>s, mas ca<strong>da</strong> grupo de dei<strong>da</strong>des é<br />

brevemente menciona<strong>do</strong> e alguns nomes de ca<strong>da</strong> um deles é pronuncia<strong>do</strong>.<br />

,:)3?- .0=- *2?- PR=- K$ - /- hR- eJ- :6B/,<br />

,5%?- .2%- o- LA/- KR$?- 28A:A- o=- 0R- 28A,<br />

,$/R.- .A/- #J- .0R/-(J/- 0R-2&- $*A?- ?R$?,<br />

,.GA=- :#R


, .J- 28A/- $>J$?- 0- 2./- IA-(R/- =3-3.R,<br />

,(/- IA- z- ;A- 3.R- #J- *A.- .%- /A,<br />

,3#/- (J/- 8A- 2- :5S?- 36.- $8%?- =- ?R$?,<br />

,.3-(R? - \J$?- 23-5S$?- =- $?R=- 2- :.J2?,<br />

Oro ao Sutra <strong>da</strong>s Aspirações d<strong>os</strong> Sete Tathagatas,<br />

Às classes d<strong>os</strong> Sutras <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>,<br />

<strong>Ao</strong>s tratad<strong>os</strong> <strong>do</strong> erudito Shantarakshita,<br />

E a<strong>os</strong> demais, à coleção d<strong>os</strong> text<strong>os</strong> <strong>do</strong> Santo Dharma.<br />

Primeiro se mencionam <strong>os</strong> <strong>do</strong>is sutras ensinad<strong>os</strong> pelo Bu<strong>da</strong> Shakyamuni<br />

sobre o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>: o Sutra <strong>da</strong>s Aspirações d<strong>os</strong> Sete Tathagatas, que<br />

significa <strong>os</strong> sete Bu<strong>da</strong>s <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> em seu cortejo, e o Sutra <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>, que é o <strong>do</strong> principal Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>.<br />

Na mesma estância se mencionam <strong>os</strong> shastras 3 , que também constituem<br />

parte <strong>da</strong> fonte escrita sobre a tradição <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>. Com relação a eles,<br />

menciona‐se como exemplo o trata<strong>do</strong> <strong>do</strong> grande abade Shantarakshita, que é<br />

uma <strong>da</strong>s mais antigas ou primeiras fontes originais sobre o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>.<br />

Então se entoa: “Suplico pelo genuíno Dharma na forma de livr<strong>os</strong>”. A razão<br />

para isso é que, em geral, de certo, o Dharma existe na forma de palavras<br />

escritas. Mas tem um significa<strong>do</strong> especial no caso dessa man<strong>da</strong>la.<br />

A autogeração <strong>–</strong> a forma <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> com a qual identificam<strong>os</strong><br />

n<strong>os</strong>so próprio corpo <strong>–</strong> é o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> sozinho, sem séquito. Porém, a<br />

visualização frontal é a <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> cerca<strong>do</strong> pela man<strong>da</strong>la. O primeiro<br />

círculo <strong>da</strong> man<strong>da</strong>la imediatamente próximo a ele consiste n<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> sete Bu<strong>da</strong>s<br />

<strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> e <strong>os</strong> text<strong>os</strong> <strong>do</strong> Dharma como o oitavo membro de seu séqüito.<br />

Durante essa súplica, se visualiza o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> senta<strong>do</strong> no céu à sua<br />

frente no centro de um lótus de oito pétalas completamente aberto e, ao re<strong>do</strong>r<br />

dele, em ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s sete pétalas tirante a que fica exatamente à sua frente, <strong>os</strong><br />

outr<strong>os</strong> sete Bu<strong>da</strong>s <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>.<br />

Na pétala <strong>do</strong> lótus diretamente em frente ao Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, se<br />

visualiza <strong>os</strong> text<strong>os</strong> <strong>do</strong> Dharma, <strong>os</strong> sutras, e assim por diante, que apresentam a<br />

<strong>prática</strong>.<br />

A próxima estância suplica à linhagem <strong>da</strong> <strong>prática</strong>.<br />

,2R- KA- ?-


,2o.- 0:A- ]- 3- .3- 0- ,3?- &.- .%- ,<br />

,(R?- GA- .2%- K$- ?R$?- =- $?R=- 2- :.J2?,<br />

Oro ao Bodhisattva Trisong Deutsen e a<strong>os</strong> demais,<br />

<strong>Ao</strong>s tradutores, erudit<strong>os</strong>, reis, ministr<strong>os</strong>, Bodhisattvas,<br />

Os sant<strong>os</strong> lamas <strong>da</strong> linhagem e ao Poder<strong>os</strong>o <strong>do</strong> Dharma.<br />

Inicia‐se mencionan<strong>do</strong> <strong>os</strong> que primeiro levaram a tradição <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong> <strong>da</strong> Índia para o Tibete. Onde se lê bodhisattva, se quer dizer o abade<br />

Shantarakshita, que concedeu esse ensinamento a muit<strong>os</strong> estu<strong>da</strong>ntes, incluso o<br />

rei tibetano <strong>do</strong> Dharma, Trisong Deutsen, a quem se menciona em segui<strong>da</strong>.<br />

Então se suplica a tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> tradutores <strong>do</strong> Tibete e <strong>os</strong> pânditas <strong>da</strong> Índia, que<br />

permitiram que essa tradição se espalhasse pelo Tibete com suas traduções,<br />

ensinament<strong>os</strong>, explicações, etc. Em segui<strong>da</strong>, se faz menção a<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> herdeir<strong>os</strong><br />

dessa tradição, bodhisattvas sob a forma de reis <strong>do</strong> Dharma, ministr<strong>os</strong>, e demais<br />

formas. Por fim, suplica‐se a tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> gurus dessa linhagem de <strong>prática</strong>, em<br />

especial ao lama raiz particular. Essa súplica foi comp<strong>os</strong>ta e edita<strong>da</strong> pelo<br />

ilustra<strong>do</strong> e realiza<strong>do</strong> mestre Karma Chagmey Rinpoche, que também suplica ao<br />

seu lama raiz, Chökyi Wangchuk, cita<strong>do</strong> aqui.<br />

A estância final <strong>da</strong> súplica dedica seu poder a<strong>os</strong> fins que desejam<strong>os</strong> atingir.<br />

,.J- v


pode <strong>da</strong>r erra<strong>do</strong> <strong>–</strong> nesta vi<strong>da</strong>. No longo prazo, pedim<strong>os</strong> que não renasçam<strong>os</strong><br />

n<strong>os</strong> estad<strong>os</strong> ou rein<strong>os</strong> inferiores e que, uma vez que o me<strong>do</strong> de lá renascer tenha<br />

si<strong>do</strong> transcendi<strong>do</strong>, poderem<strong>os</strong> alcançar o renascimento em Sukhavati, o reino<br />

de Amitabha. Isso completa a súplica à linhagem.<br />

Após a súplica à linhagem, vem a toma<strong>da</strong> de refúgio e a geração de<br />

bodhicitta que, como preliminares necessárias, são sempre recita<strong>da</strong>s no começo<br />

de qualquer <strong>prática</strong> Vajrayana. Ca<strong>da</strong> uma tem uma função específica. A função<br />

<strong>da</strong> toma<strong>da</strong> de refúgio é prevenir que sua <strong>prática</strong> siga um caminho incorreto. A<br />

função <strong>da</strong> geração de bodhicitta é prevenir que sua <strong>prática</strong> siga um caminho<br />

inferior. No caso desta <strong>prática</strong>, ca<strong>da</strong> um desses aspect<strong>os</strong> <strong>–</strong> refúgio e bodhicitta <strong>–</strong><br />

ocupa duas linhas de uma estância de quatro.<br />

/- 3R,<br />

.!R/- 3(R$- $?3- .%- l- 2- $?3;<br />

*2?- $/?- i3?- =- *-2?- ?- 3(A;<br />

Homenagem!<br />

Eu tomo refúgio em to<strong>da</strong>s as fontes de refúgio:<br />

Nas Três Raras e Sublimes e nas Três Raízes.<br />

A primeira linha <strong>do</strong> refúgio identifica as fontes de refúgio como sen<strong>do</strong><br />

duas: as Três Jóias e as Três Raízes. As Três Jóias, que são as fontes comuns de<br />

refúgio 4 , são o Bu<strong>da</strong>, em quem tomam<strong>os</strong> refúgio por aceitá‐lo como um mestre e<br />

como exemplo; o Dharma, em que tomam<strong>os</strong> refúgio por aceitá‐lo como o<br />

caminho; e a Sangha, em que tomam<strong>os</strong> refúgio por aceitá‐la como <strong>os</strong><br />

companheir<strong>os</strong> e guias no caminho. Identificar as Três Jóias como as fontes<br />

iniciais de refúgio indica que, ao tomar refúgio nelas, nós n<strong>os</strong> liberam<strong>os</strong> <strong>da</strong><br />

p<strong>os</strong>sibili<strong>da</strong>de de seguir um caminho incorreto.<br />

Porém, há as fontes incomuns de refúgio, que são únicas ao Vajrayana.<br />

Elas são conheci<strong>da</strong>s como as Três Raízes: <strong>os</strong> gurus, que são a raiz <strong>da</strong>s bênçã<strong>os</strong>;<br />

<strong>os</strong> yi<strong>da</strong>ms ou dei<strong>da</strong>des, que são a raiz <strong>da</strong> obtenção; e <strong>os</strong> Dharmapalas, ou<br />

protetores <strong>do</strong> Dharma, que são a raiz <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de. Em primeiro lugar, estão <strong>os</strong><br />

gurus, que são a fonte <strong>da</strong>s bênçã<strong>os</strong>. As bênçã<strong>os</strong> se referem ao poder <strong>do</strong> Dharma<br />

<strong>–</strong> aquilo que no Dharma é realmente efetivo, o que de fato traz <strong>os</strong> resultad<strong>os</strong> <strong>do</strong><br />

Dharma. Obviamente, enquanto praticam<strong>os</strong>, precisam<strong>os</strong> que essa efetivi<strong>da</strong>de <strong>–</strong><br />

aquele poder ou bênção <strong>do</strong> Dharma <strong>–</strong> entre em nós. A fonte original dessa<br />

bênção, claro, é o Bu<strong>da</strong>, que primeiro ensinou o Dharma neste perío<strong>do</strong> histórico<br />

em particular. Infelizmente, nós não tem<strong>os</strong> a p<strong>os</strong>sibili<strong>da</strong>de de encontrar o Bu<strong>da</strong><br />

nesta vi<strong>da</strong> ou ouvir diretamente dele <strong>os</strong> ensinament<strong>os</strong>. Mas de certo tem<strong>os</strong> a<br />

oportuni<strong>da</strong>de de praticá‐l<strong>os</strong> e de atingir o mesmo resulta<strong>do</strong> que poderíam<strong>os</strong><br />

atingir se tivéssem<strong>os</strong> podi<strong>do</strong> encontrá‐lo, porque a essência de seus<br />

ensinament<strong>os</strong> <strong>–</strong> e, além disso, as bênçã<strong>os</strong> e a eficácia de seus ensinament<strong>os</strong> <strong>–</strong> foi<br />

4 Nota <strong>do</strong> editor: são comuns a to<strong>da</strong>s as tradições <strong>do</strong> Budismo.<br />

20


transmiti<strong>da</strong> adiante pela linhagem, que começou com o próprio Bu<strong>da</strong> e<br />

culminou com n<strong>os</strong>so mestre pessoal, ou lama raiz. Portanto, a primeira fonte de<br />

refúgio no Vajrayana são <strong>os</strong> gurus <strong>da</strong> linhagem <strong>–</strong> e, especialmente, o guru raiz <strong>–</strong><br />

que é a fonte <strong>da</strong> bênção <strong>do</strong> Dharma.<br />

A segun<strong>da</strong> fonte de refúgio no Vajrayana, a segun<strong>da</strong> raiz, são <strong>os</strong> yi<strong>da</strong>ms,<br />

as dei<strong>da</strong>des, que são as fontes <strong>da</strong> realização, ou fontes <strong>do</strong> siddhi. Enquanto o<br />

guru é a fonte <strong>da</strong>s bênçã<strong>os</strong> e <strong>da</strong> eficácia <strong>do</strong> Dharma, ele não pode simplesmente<br />

n<strong>os</strong> conceder o resulta<strong>do</strong> <strong>da</strong> <strong>prática</strong> <strong>do</strong> Dharma. A fonte ou raiz dessa<br />

realização é sua <strong>prática</strong> pessoal. E sua <strong>prática</strong> é a encarnação <strong>do</strong> yi<strong>da</strong>m, ou<br />

dei<strong>da</strong>de, que é a base <strong>da</strong> <strong>prática</strong>. Isso significa que nós obtem<strong>os</strong> o resulta<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>prática</strong> <strong>do</strong> Dharma pela realização de técnicas de visualização <strong>do</strong> corpo <strong>da</strong><br />

dei<strong>da</strong>de e pela <strong>prática</strong> d<strong>os</strong> estági<strong>os</strong> de geração e compleição associad<strong>os</strong> àquela<br />

dei<strong>da</strong>de. Nessa estância específica, o yi<strong>da</strong>m é o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>. <strong>Ao</strong> n<strong>os</strong><br />

identificarm<strong>os</strong> com o corpo <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, nós alcançam<strong>os</strong> o resulta<strong>do</strong>,<br />

as realizações ou siddhis, associad<strong>os</strong> ao Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, que incluem a<br />

pacificação <strong>da</strong>s <strong>do</strong>enças e de outr<strong>os</strong> sofriment<strong>os</strong> 5 . A razão pela qual essas<br />

divin<strong>da</strong>des são chama<strong>da</strong>s de yi<strong>da</strong>ms, que literalmente significa compromisso<br />

mental, é que, para praticar o Dharma, devem<strong>os</strong> ter uma direção clara e um<br />

foco preciso na técnica e no méto<strong>do</strong> <strong>da</strong> <strong>prática</strong>. A idéia de yi<strong>da</strong>m é que uma<br />

certa <strong>prática</strong> e, no caso <strong>do</strong> Vajrayana, uma certa dei<strong>da</strong>de, é por nós identifica<strong>da</strong><br />

àquela <strong>prática</strong> em que n<strong>os</strong> comprometem<strong>os</strong>, àquela direção que tomarem<strong>os</strong> na<br />

<strong>prática</strong>. Um yi<strong>da</strong>m é a dei<strong>da</strong>de sobre a qual pensam<strong>os</strong>: “é isso que praticarei.<br />

Esse é o resulta<strong>do</strong> que quero alcançar”.<br />

A terceira fonte Vajrayana de refúgio, a terceira raiz, são <strong>os</strong><br />

Dharmapalas, ou protetores, que são a raiz <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de. Ativi<strong>da</strong>de, aqui,<br />

significa a proteção contra <strong>os</strong> obstácul<strong>os</strong> à n<strong>os</strong>sa <strong>prática</strong>, de forma que<br />

p<strong>os</strong>sam<strong>os</strong> completá‐la com sucesso e conduzi‐la ao resulta<strong>do</strong> apropria<strong>do</strong>, para<br />

que sejam<strong>os</strong> capazes de efetivamente beneficiar <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> de acor<strong>do</strong> com a<br />

<strong>prática</strong>. A fim de atingir esse fim, precisam<strong>os</strong> <strong>da</strong> bênção <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de, ou<br />

proteção. Isso se obtém, principalmente, com bodhisattvas específic<strong>os</strong>, que<br />

tomam a forma de protetores e, em cert<strong>os</strong> cas<strong>os</strong>, <strong>da</strong>kinis. No caso específico <strong>do</strong><br />

Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, quan<strong>do</strong> ele ensinou <strong>os</strong> sutras de sua <strong>prática</strong>, havia certas<br />

5 Nota <strong>do</strong> editor: a <strong>prática</strong> de qualquer yi<strong>da</strong>m resultará na realização de amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> siddhis, o último e o<br />

relativo. O siddhi último é a realização estável <strong>da</strong> clari<strong>da</strong>de radiante, ou clara luz <strong>da</strong> natureza <strong>da</strong> mente, e<br />

de to<strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de que conhecem<strong>os</strong> como a completa e perfeita iluminação, ou esta<strong>do</strong> de bu<strong>da</strong>. Os siddhis<br />

relativ<strong>os</strong> são as quali<strong>da</strong>des <strong>do</strong> amor bond<strong>os</strong>o, compaixão, inteligência, poder de insight, poder espiritual,<br />

proteção e remoção de obstácul<strong>os</strong>, boa saúde, longevi<strong>da</strong>de, riquezas, magnetismo, etc. A <strong>prática</strong> <strong>da</strong><br />

dei<strong>da</strong>de atrai primeiro <strong>os</strong> siddhis relativ<strong>os</strong>. Se rezam<strong>os</strong> a Tchenrezig, o primeiro resulta<strong>do</strong>, além de<br />

simplesmente desenvolverm<strong>os</strong> concentração, será um aumento <strong>do</strong> amor bond<strong>os</strong>o e <strong>da</strong> compaixão em<br />

n<strong>os</strong>sa experiência. Se rezam<strong>os</strong> a Manjushri‐Sarasvati, pouco a pouco vam<strong>os</strong> experimentar grande<br />

perspicácia, robustez intelectual e facili<strong>da</strong>de com música e linguagem. Se praticam<strong>os</strong> Mahakala, terem<strong>os</strong><br />

proteção e <strong>os</strong> obstácul<strong>os</strong> serão removid<strong>os</strong>; se praticam<strong>os</strong> Tara Branca, desenvolverem<strong>os</strong> grande poder de<br />

insight e longevi<strong>da</strong>de; se praticarm<strong>os</strong> Tara Verde, terem<strong>os</strong> a experiência de n<strong>os</strong> liberar d<strong>os</strong> med<strong>os</strong>, a<br />

rápi<strong>da</strong> eliminação de obstácul<strong>os</strong>, alegria, compaixão e bem‐estar. Se praticarm<strong>os</strong> Vajrayogini,<br />

começarem<strong>os</strong> a desenvolver a realização <strong>do</strong> Mahamudra e terem<strong>os</strong> um aumento no calor e no<br />

magnetismo. Quem praticar amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> estági<strong>os</strong> de desenvolvimento e compleição de qualquer dei<strong>da</strong>de<br />

com suficientes devoção e aplicação, eventualmente atingirá a realização completa, ao ponto de se fazerem<br />

espontaneamente presentes tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> siddhis e tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> yi<strong>da</strong>ms.<br />

21


dei<strong>da</strong>des que se comprometeram a proteger esses ensinament<strong>os</strong> e tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seus<br />

praticantes, incluin<strong>do</strong> aqueles que meramente apenas se lembram <strong>do</strong> nome <strong>do</strong><br />

Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>. Essas divin<strong>da</strong>des protetoras estão representa<strong>da</strong>s na<br />

man<strong>da</strong>la, e incluem <strong>os</strong> <strong>do</strong>ze chefes Yakshas, <strong>os</strong> quatro grandes reis, <strong>os</strong> dez<br />

protetores <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, e <strong>os</strong> demais. Nesse senti<strong>do</strong>, nós tomam<strong>os</strong> refúgio ao<br />

aceitar o Bu<strong>da</strong> como n<strong>os</strong>so mestre; seus ensinament<strong>os</strong>, o Dharma, como o<br />

caminho; e tomam<strong>os</strong> refúgio solicitan<strong>do</strong> as bênçã<strong>os</strong> d<strong>os</strong> gurus, a realização pelo<br />

yi<strong>da</strong>m e a proteção d<strong>os</strong> Dharmapalas ou <strong>da</strong>kinis. Tal é a toma<strong>da</strong> de refúgio, que<br />

serve para proteger n<strong>os</strong>sa <strong>prática</strong> de seguir um caminho incorreto.<br />

Em segui<strong>da</strong>, vem a geração de bodhicitta, que serve para proteger n<strong>os</strong>sa<br />

<strong>prática</strong> de resvalar por um caminho inferior.<br />

:PR- !/- ?%?- o?- =- :$R.- KA


Se geram<strong>os</strong> genuinamente a bodhicitta, logo n<strong>os</strong>sa motivação para a<br />

<strong>prática</strong> se refletirá em n<strong>os</strong>so pensamento: “Estou pratican<strong>do</strong> a fim de conduzir<br />

tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres ao Despertar; não estou pratican<strong>do</strong> simplesmente porque temo<br />

meu próprio sofrimento ou porque desejo proteger de seus sofriment<strong>os</strong> apenas<br />

alguns pouc<strong>os</strong>, ou ain<strong>da</strong> desejo apenas proteger a tod<strong>os</strong> de alguns pouc<strong>os</strong> tip<strong>os</strong><br />

de sofrimento”. Desse mo<strong>do</strong>, sua motivação para a <strong>prática</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong> se torna bodhicitta, que é a seguinte atitude: “de mo<strong>do</strong> a levar tod<strong>os</strong><br />

<strong>os</strong> seres a alcançar o Esta<strong>do</strong> de Bu<strong>da</strong>, devo atingir o esta<strong>do</strong> de Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong> para que p<strong>os</strong>sa fazê‐lo com eficácia, pois no meu esta<strong>do</strong> atual não<br />

p<strong>os</strong>so efetivamente protegê‐l<strong>os</strong> ou ajudá‐l<strong>os</strong>”.<br />

O refúgio e a geração de bodhicitta se seguem <strong>da</strong> bênção ou consagração<br />

<strong>do</strong> lugar e d<strong>os</strong> utensíli<strong>os</strong> <strong>da</strong> <strong>prática</strong>.<br />

!- .$- [R%- /?- 3=- 0- ;A;<br />

$/3- ?- $%- 2:A- 3(R.- 0:A- 3A/;<br />

3n=- o=- YA.- z- 3R


Elas estiveram ali desde o princípio, motivo pelo qual se diz que emanam <strong>da</strong><br />

pureza primordial. Desde o remoto começo, é assim que as coisas de fato são e<br />

como têm si<strong>do</strong>. Nós não as estam<strong>os</strong> crian<strong>do</strong> pelo fato de as estarm<strong>os</strong><br />

imaginan<strong>do</strong>. Antes, ocorre como se n<strong>os</strong>so atual mo<strong>do</strong> de percepção estivesse<br />

imerso em um pesadelo <strong>do</strong> qual esperam<strong>os</strong> acor<strong>da</strong>r e, quan<strong>do</strong> conseguirm<strong>os</strong><br />

fazê‐lo, verem<strong>os</strong> as coisas como realmente são. É importante entender que<br />

estam<strong>os</strong> imaginan<strong>do</strong> as coisas como elas ver<strong>da</strong>deiramente são.<br />

As oferen<strong>da</strong>s compreendem man<strong>da</strong>las, <strong>os</strong> sete artig<strong>os</strong> <strong>da</strong> realeza e vári<strong>os</strong><br />

outr<strong>os</strong> tip<strong>os</strong> de oferen<strong>da</strong>s relata<strong>da</strong>s nas liturgias, juntamente com deuses e<br />

deusas que as apresentam, e assim por diante. To<strong>da</strong>s essas oferen<strong>da</strong>s são<br />

inesgotáveis; sua quanti<strong>da</strong>de é ilimita<strong>da</strong>, sua quali<strong>da</strong>de é perfeita, nunca<br />

desaparecem nem se desgastam. Esta seção é a consagração tanto <strong>da</strong>s oferen<strong>da</strong>s<br />

quanto <strong>do</strong> lugar <strong>da</strong> <strong>prática</strong>. E a atitude com que a realizam<strong>os</strong> é aquela em que<br />

começam<strong>os</strong> a purificar n<strong>os</strong>sa outrora impura percepção de n<strong>os</strong>so ambiente <strong>–</strong> de<br />

n<strong>os</strong>so corpo, de n<strong>os</strong>sa mente e de outr<strong>os</strong> materiais e element<strong>os</strong> em n<strong>os</strong>so re<strong>do</strong>r.<br />

Em segui<strong>da</strong> à consagração <strong>da</strong>s oferen<strong>da</strong>s, vem a meditação sobre as<br />

quatro incomensuráveis. Elas são as quatro atitudes que devem ser cultiva<strong>da</strong>s<br />

sem limite, que é a razão pela qual são assim chama<strong>da</strong>s. Ilimita<strong>da</strong>s no senti<strong>do</strong><br />

de quanti<strong>da</strong>de e no senti<strong>do</strong> de destinação. A primeira <strong>da</strong>s incomensuráveis,<br />

como usualmente se as classifica, é o amor. Amor incomensurável significa não<br />

ter limites com relação à quanti<strong>da</strong>de de amor e de compaixão que nós devem<strong>os</strong><br />

gerar, e também com relação a quem.<br />

:PR-!/- 2.J- w/- #$- 2}=- V=;<br />

2.J- =?-*3?- 3J.- 2+%- ~R3?- >R$;<br />

Que tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> serem sejam felizes e livres <strong>do</strong> sofrimento!<br />

Que sua felici<strong>da</strong>de não degenere!<br />

Que resi<strong>da</strong>m na equanimi<strong>da</strong>de!<br />

A imparciali<strong>da</strong>de é intrínseca a to<strong>da</strong>s estas quatro atitudes. Quan<strong>do</strong><br />

enumera<strong>da</strong>s separa<strong>da</strong>mente, a imparciali<strong>da</strong>de é a quarta <strong>da</strong>s quatro atitudes <strong>–</strong><br />

amor, compaixão, alegria e imparciali<strong>da</strong>de. Entretanto, quan<strong>do</strong> começam<strong>os</strong> a<br />

praticar, necessitam<strong>os</strong> começar com a imparciali<strong>da</strong>de. Tod<strong>os</strong> tem<strong>os</strong> alguma<br />

medi<strong>da</strong> de amor, de compaixão e de alegria. Mas para torná‐l<strong>os</strong> genuín<strong>os</strong> e<br />

realmente ilimitad<strong>os</strong>, precisam<strong>os</strong> <strong>cultivar</strong> a imparciali<strong>da</strong>de, razão pela qual ela<br />

deve ser cultiva<strong>da</strong> primeiro. Quan<strong>do</strong> dizem<strong>os</strong> que tod<strong>os</strong> tem<strong>os</strong> alguma medi<strong>da</strong><br />

de amor, querem<strong>os</strong> dizer que tod<strong>os</strong> nós desejam<strong>os</strong> que alguns seres sejam<br />

felizes e p<strong>os</strong>suam as causas <strong>da</strong> felici<strong>da</strong>de. Também tem<strong>os</strong> alguma medi<strong>da</strong> de<br />

compaixão <strong>–</strong> desejam<strong>os</strong> que alguns seres sejam livres d<strong>os</strong> sofriment<strong>os</strong> e <strong>da</strong>s<br />

causas d<strong>os</strong> sofriment<strong>os</strong>. O problema é que, geralmente, desejam<strong>os</strong> essas coisas<br />

para alguns determinad<strong>os</strong> seres e não ligam<strong>os</strong> particularmente com o que<br />

acontece a<strong>os</strong> demais. Embora n<strong>os</strong>so amor e compaixão sejam de fato amor e<br />

compaixão, eles são parciais; e por assim serem, são impur<strong>os</strong> e incomplet<strong>os</strong>. Se<br />

<strong>cultivar</strong>m<strong>os</strong> a imparciali<strong>da</strong>de, eles se tornarão ilimitad<strong>os</strong> <strong>–</strong> o que significa que<br />

24


eles se tornarão perfeit<strong>os</strong>. Logo, o primeiro estágio no cultivo <strong>da</strong>s quatro<br />

incomensuráveis é <strong>cultivar</strong> a imparciali<strong>da</strong>de com relação a<strong>os</strong> seres, ou seja,<br />

<strong>cultivar</strong> a atitude em que tem<strong>os</strong> a mesma quanti<strong>da</strong>de de amor e de compaixão<br />

para tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres. E assim, basean<strong>do</strong>‐se nisso, podem<strong>os</strong> fortalecer a atitude <strong>do</strong><br />

amor <strong>–</strong> o desejo de que tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres sejam livres de sofrimento e <strong>da</strong>s causas<br />

d<strong>os</strong> sofriment<strong>os</strong> <strong>–</strong> e, ao fazê‐lo, também fortalecerem<strong>os</strong> essa atitude com relação<br />

a tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres. Se não <strong>cultivar</strong>m<strong>os</strong> a imparciali<strong>da</strong>de desde o começo, ao<br />

fortalecer o amor por uns poderem<strong>os</strong> gerar agressão por outr<strong>os</strong>. Portanto,<br />

cultivam<strong>os</strong> em primeiro lugar a imparciali<strong>da</strong>de e, então, sobre essa base,<br />

cultivam<strong>os</strong> as outras três <strong>–</strong> amor, compaixão e alegria. Entretanto, no texto, elas<br />

são cita<strong>da</strong>s na ordem habitual, que coloca a imparciali<strong>da</strong>de <strong>–</strong> aqui referi<strong>da</strong> como<br />

equanimi<strong>da</strong>de <strong>–</strong> no final.<br />

Em essência, o amor consiste em querer que <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> sejam felizes, e a<br />

compaixão, em que <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> não sofram. Essas duas atitudes, por certo, são<br />

excelentes. Mas se elas se apresentam de forma que não haja jeito de serem<br />

realiza<strong>da</strong>s <strong>–</strong> se o amor que você sente não consegue trazer felici<strong>da</strong>de a<strong>os</strong> seres e<br />

a compaixão é priva<strong>da</strong> de qualquer maneira de remover seus sofriment<strong>os</strong> <strong>–</strong><br />

então eles serão causa de grande sofrimento e tristeza para você. Você se<br />

tornará mais sensível ao sofrimento alheio por causa de suas atitudes, mas se<br />

sentirá incapaz de ajudá‐l<strong>os</strong>. E então, ao invés de term<strong>os</strong> um ser sofren<strong>do</strong>,<br />

terem<strong>os</strong> <strong>do</strong>is, pois você também sofrerá. Se, porém, as atitudes de amor e de<br />

compaixão incluírem a compreensão de como se pode de fato trazer felici<strong>da</strong>de e<br />

liberação <strong>do</strong> sofrimento, então essas atitudes não serão fonte de depressão.<br />

Dessa forma, expandim<strong>os</strong> a atitude de amor de “que tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres sejam<br />

felizes” para “que tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres sejam felizes e p<strong>os</strong>suam as causas <strong>da</strong><br />

felici<strong>da</strong>de”. Também expandim<strong>os</strong> a atitude de compaixão de “que tod<strong>os</strong> <strong>os</strong><br />

seres se liberem d<strong>os</strong> sofriment<strong>os</strong>” para “que tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres se liberem d<strong>os</strong><br />

sofriment<strong>os</strong> e <strong>da</strong>s causas d<strong>os</strong> sofriment<strong>os</strong>”. Enquanto não se pode, com certeza,<br />

esperar que sejam<strong>os</strong> capazes de fazer felizes, de imediato, a tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres,<br />

podem<strong>os</strong> pouco a pouco fazer com que eles realizem ou acumulem as causas <strong>da</strong><br />

felici<strong>da</strong>de e evitem ou se liberem <strong>da</strong>s causas d<strong>os</strong> sofriment<strong>os</strong>. E, pelo fato de<br />

compreenderm<strong>os</strong> que, no longo prazo, serem<strong>os</strong> capazes de fazer <strong>os</strong> seres felizes<br />

e liberá‐l<strong>os</strong> <strong>do</strong> sofrimento, as atitudes de amor e compaixão se tornam certas e<br />

alegres. Desse mo<strong>do</strong>, o efeito de sentir amor e compaixão não será mais tristeza<br />

e depressão, mas alegria, que é a terceira incomensurável. Assim, treinam<strong>os</strong> ou<br />

cultivam<strong>os</strong> as quatro incomensuráveis como preliminares para a meditação <strong>do</strong><br />

Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>.<br />

Agora, aplicam<strong>os</strong> as quatro incomensuráveis ao contexto específico <strong>da</strong><br />

<strong>prática</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>: <strong>da</strong><strong>do</strong> que a causa primeira de sofrimento, neste<br />

caso, é a aflição ou <strong>do</strong>ença física, e <strong>da</strong><strong>do</strong> que esse é o foco inicial <strong>da</strong> <strong>prática</strong>,<br />

podem<strong>os</strong> focalizar nisso na n<strong>os</strong>sa meditação sobre as quatro incomensuráveis.<br />

<strong>Ao</strong> pensar que é pela remoção <strong>da</strong>s <strong>do</strong>enças n<strong>os</strong> seres que oram<strong>os</strong> ao Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>, meditam<strong>os</strong> sobre ele e recitam<strong>os</strong> seu mantra, podem<strong>os</strong> conceber as<br />

quatro incomensuráveis <strong>da</strong> seguinte forma: o amor incomensurável seria a<br />

25


atitude em que se deseja “que tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres p<strong>os</strong>suam a felici<strong>da</strong>de <strong>do</strong> bem‐estar<br />

e de suas causas”; a compaixão incomensurável seria a atitude em que se deseja<br />

“que tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres sejam livres de <strong>do</strong>enças e <strong>da</strong>s causas <strong>da</strong>s <strong>do</strong>enças”; e a<br />

alegria incomensurável seria a de se regozijar no bem‐estar d<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> e sua<br />

liberação <strong>da</strong>s <strong>do</strong>enças. A equanimi<strong>da</strong>de incomensurável seria gerar essas<br />

aspirações e atitude não apenas para <strong>os</strong> que conhecem<strong>os</strong>, como n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> amig<strong>os</strong> e<br />

família, mas para tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres, sem exceção.<br />

Quan<strong>do</strong> fazem<strong>os</strong> a <strong>prática</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> com a intenção e a<br />

aspiração de beneficiar‐se e beneficiar <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> dessa maneira, poderem<strong>os</strong><br />

talvez perceber um benefício evidente: nós mesm<strong>os</strong> ou outra pessoa se liberarão<br />

de <strong>do</strong>enças de maneira que poderem<strong>os</strong> identificar como resulta<strong>do</strong> de n<strong>os</strong>sa<br />

<strong>prática</strong>. Isso trará mais certeza à <strong>prática</strong>. Em outro momento, independente <strong>do</strong><br />

quanto pratiquem<strong>os</strong> ou o quão intensamente orem<strong>os</strong> e recitem<strong>os</strong> <strong>os</strong> mantras,<br />

não perceberem<strong>os</strong> quaisquer benefíci<strong>os</strong> evidentes. Isso poderá trazer dúvi<strong>da</strong> à<br />

n<strong>os</strong>sa <strong>prática</strong>, e poderem<strong>os</strong> pensar “bem, talvez isso de fato não funcione”. Mas<br />

precisam<strong>os</strong> manter em mente que o benefício desta <strong>prática</strong> não é como o efeito<br />

físico direto <strong>do</strong> funcionamento de uma máquina, como algo que emite um raio<br />

laser. Sempre haverá resulta<strong>do</strong> <strong>da</strong> <strong>prática</strong>, mas as maneiras em que o resulta<strong>do</strong><br />

se manifestará não é defini<strong>da</strong> de mo<strong>do</strong> absoluto. Logo, n<strong>os</strong>sa atitude com<br />

relação a<strong>os</strong> resultad<strong>os</strong> <strong>da</strong> <strong>prática</strong> deve manter foco no longo prazo. Dessa<br />

maneira, poderem<strong>os</strong> manter a <strong>prática</strong> direciona<strong>da</strong> a<strong>os</strong> quatro incomensuráveis.<br />

Com isso, completam<strong>os</strong> as preliminares para a <strong>prática</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>. Vou parar por aqui esta tarde, e concluirem<strong>os</strong> com a dedicação d<strong>os</strong><br />

mérit<strong>os</strong> deste ensinamento para a liberação de tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres.<br />

[Dedicação de mérito]<br />

26


O Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong><br />

A visualização desvela a pureza inerente d<strong>os</strong> fenômen<strong>os</strong><br />

Continuação d<strong>os</strong> ensinament<strong>os</strong> <strong>do</strong> muito venerável Khenchen Thrangu Rinpoche sobre o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>.<br />

Ontem, falam<strong>os</strong> sobre a súplica à linhagem <strong>da</strong> <strong>prática</strong>, o refúgio e a<br />

bodhicitta, a consagração <strong>do</strong> lugar <strong>da</strong> <strong>prática</strong> e d<strong>os</strong> materiais, e a meditação<br />

sobre as quatro incomensuráveis. Hoje, começarem<strong>os</strong> com a visualização de nós<br />

mesm<strong>os</strong> como Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, que faz com que obtenham<strong>os</strong> suas bênçã<strong>os</strong>, e<br />

a visualização simultânea <strong>da</strong> man<strong>da</strong>la à n<strong>os</strong>sa frente, que serve de objeto para a<br />

súplica e um campo de acumulação de mérito a partir <strong>da</strong>s oferen<strong>da</strong>s.<br />

A visualização começa com a purificação <strong>da</strong> n<strong>os</strong>sa percepção <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />

inteiro, incluin<strong>do</strong> n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> própri<strong>os</strong> corp<strong>os</strong> e mentes. Isso se faz pela simples<br />

recitação <strong>do</strong> mantra <strong>da</strong> natureza pura, ou mantra <strong>da</strong> pureza <strong>do</strong> Dharmata:<br />

!, :: ?j- Kk: J- S- 7->:R@- @),<br />

OM SOBHAUA CHUDDHA SARUA DHARMA SOBHAUA CHUDDHO HAM<br />

O significa<strong>do</strong> desse mantra reflete sua importância. Em segui<strong>da</strong> à sílaba<br />

OM, vem a palavra SOBHAUA, que quer dizer natureza, e CHUDDHA, que<br />

quer dizer pura. No nível ordinário, as coisas aparecem para nós <strong>–</strong> o mun<strong>do</strong> <strong>da</strong>s<br />

aparências exteriores e n<strong>os</strong>sa mente perceptiva interna <strong>–</strong> como impuras por<br />

causa <strong>da</strong> presença de kleshas e outras obscuri<strong>da</strong>des. O que se quer dizer aqui<br />

sobre a natureza pura é que, embora concebam<strong>os</strong> as aparências e a n<strong>os</strong>sa mente<br />

como impuras, essa não é sua ver<strong>da</strong>deira natureza. Enquanto parecem ser<br />

27


impuras, de fato, em sua natureza, nelas e delas mesmas, elas são puras. Depois<br />

<strong>da</strong> afirmação “pura em sua natureza”, estão as palavras SARUA, que significa<br />

tu<strong>do</strong>, e DHARMA, as coisas. Então, o que o mantra diz é “to<strong>da</strong>s as coisas são<br />

puras em sua natureza”.<br />

O termo Dharma, usualmente, tem <strong>do</strong>is significad<strong>os</strong>: um é Sadharma, ou<br />

Dharma genuíno, <strong>os</strong> ensinament<strong>os</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong>; o outro quer dizer coisas, coisas<br />

em geral, qualquer coisa que p<strong>os</strong>sa ser conheci<strong>da</strong>. Aqui, ele se refere a coisas.<br />

O mantra continua com as palavras SOBHAUA CHUDDHA uma<br />

segun<strong>da</strong> vez e, então, A HUM. Devi<strong>do</strong> à maneira como o sânscrito liga as<br />

palavras, o segun<strong>do</strong> CHUDDHA e o A HUM ficam junt<strong>os</strong>, forman<strong>do</strong> CHUDDO<br />

HAM. De novo, SOBHAUA CHUDDHA significa puro em sua natureza, e A<br />

HUM quer dizer self, ou a encarnação de algo. Aqui, podem<strong>os</strong> compreender que<br />

se quer dizer que não apenas as coisas são puras em sua natureza, mas que elas<br />

são nelas e delas mesmas a encarnação dessa pureza. Logo, esse mantra, em<br />

essência, é uma afirmação <strong>do</strong> porquê o caminho leva ao resulta<strong>do</strong>. Pelo fato de<br />

as coisas serem puras em sua natureza, pelo fato de essa pureza estar presente<br />

na natureza <strong>da</strong>s coisas, então ela pode se manifestar como experiência e como<br />

resulta<strong>do</strong> <strong>–</strong> seguin<strong>do</strong> a pureza inerente como caminho. Por exemplo, pelo fato<br />

<strong>do</strong> óleo de sésamo estar presente na semente de sésamo, ao triturarm<strong>os</strong> as<br />

sementes, podem<strong>os</strong> extrair o óleo. Se não houvesse óleo nas sementes, não<br />

poderíam<strong>os</strong> retirá‐lo, independente de quanta força se fizesse ao pressioná‐las.<br />

Por causa <strong>da</strong> pureza ser a natureza vela<strong>da</strong> <strong>da</strong>s coisas, se as conceberm<strong>os</strong> como<br />

puras, poderem<strong>os</strong> experienciá‐las diretamente como tal, poderem<strong>os</strong> ter a<br />

experiência direta <strong>da</strong> pureza. O mantra SOBHAUA aparece aqui para indicar<br />

isso, e também para introduzir ou começar o samadhi, que culminará com a<br />

visualização de nós mesm<strong>os</strong> como Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>.<br />

Em segui<strong>da</strong> à recitação <strong>do</strong> mantra SOBHAUA, dizem<strong>os</strong> palavras<br />

tibetanas, tong pa nyi du djur, que quer dizer que tu<strong>do</strong> se torna vazio, ou<br />

vacui<strong>da</strong>de.<br />

!R%- 0- *A.- .- I


usual imp<strong>os</strong>ição de impureza às coisas 8 . O segun<strong>do</strong> passo é a emergência <strong>da</strong><br />

expansão <strong>da</strong> vacui<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s aparências puras, que é o reino e o palácio <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>.<br />

!R%- 0:A- %%- =?-!R%- $?3- :.A-v- /- #$- $A- 1- RV%- .- I


aberto, em cujo topo se encontra um disco lunar, repousan<strong>do</strong> horizontalmente,<br />

e sobre o qual você se visualizará a si mesmo senta<strong>do</strong> <strong>da</strong> mesma forma que o<br />

Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>. No centro <strong>do</strong> palácio <strong>da</strong> visualização frontal, você imagina<br />

um lótus de dezesseis pétalas, em cujo centro se visualiza um lótus de oito<br />

pétalas. No centro deste, você visualiza um outro trono de leões, um lótus e um<br />

assento de disco lunar, como na auto‐visualização. Há lótus de oito e dezesseis<br />

pétalas na visualização frontal porque haverá mais bu<strong>da</strong>s e bodhisattvas nesses<br />

lugares.<br />

><br />

Em segui<strong>da</strong>, sobre <strong>os</strong> disc<strong>os</strong> lunares <strong>da</strong>s duas visualizações, vem<strong>os</strong> uma<br />

sílaba HUM 9 . A sílaba HUM sobre o disco lunar no palácio <strong>da</strong> auto‐visualização<br />

representa a essência <strong>da</strong> mente ou sabe<strong>do</strong>ria <strong>da</strong> dei<strong>da</strong>de auto‐visualiza<strong>da</strong>, e o<br />

mesmo acontece com a dei<strong>da</strong>de <strong>da</strong> visualização frontal. Essa sílaba, em<br />

particular, é usa<strong>da</strong> porque é o som <strong>do</strong> Dharmata, a expressão, em forma de<br />

som, <strong>da</strong> natureza 10 em si. É azul porque é a cor de que dela emergirá a dei<strong>da</strong>de<br />

<strong>–</strong> o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> é azul, assim como Vajradhara <strong>–</strong> mas também porque o<br />

azul representa aquilo que é imutável ou não fabrica<strong>do</strong> 11 .<br />

Ten<strong>do</strong> visualiza<strong>do</strong> as sílabas, visualizam<strong>os</strong> inúmer<strong>os</strong> rai<strong>os</strong> de luz<br />

irradian<strong>do</strong> de ca<strong>da</strong> uma delas simultaneamente. Na ponta de ca<strong>da</strong> raio estão<br />

incontáveis deusas de oferen<strong>da</strong>s carregan<strong>do</strong> as substâncias de oferen<strong>da</strong>s que<br />

apresentam a<strong>os</strong> Bu<strong>da</strong>s e bodhisattvas em to<strong>da</strong>s as direções pelo espaço. Esta<br />

vasta quanti<strong>da</strong>de de Bu<strong>da</strong>s e bodhisattvas recebe as oferen<strong>da</strong>s com prazer e,<br />

por conseqüência, sua compaixão não conceitual é desperta, que se manifesta<br />

como suas bênçã<strong>os</strong>, voltan<strong>do</strong> na forma de rai<strong>os</strong> de luz azul que se dissolvem no<br />

HUM. Os rai<strong>os</strong> de luz que saíram levan<strong>do</strong> oferen<strong>da</strong>s são reabsorvid<strong>os</strong> trazen<strong>do</strong><br />

bênçã<strong>os</strong> para as duas sílabas HUM. Mais uma vez, rai<strong>os</strong> de luz irradiam d<strong>os</strong><br />

<strong>do</strong>is HUM simultaneamente, desta vez purifican<strong>do</strong> to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> exterior, to<strong>do</strong><br />

o universo, tu<strong>do</strong> o que nele p<strong>os</strong>sa causar mal ou sofrimento de qualquer tipo,<br />

purifican<strong>do</strong> também <strong>os</strong> contínu<strong>os</strong> mentais de tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres, sem exceção, de<br />

qualquer tipo de sofrimento, miséria ou causa de sofrimento. Então, <strong>os</strong> rai<strong>os</strong> de<br />

luz são reabsorvid<strong>os</strong> novamente em seus respectiv<strong>os</strong> HUM. Nesse momento, as<br />

sílabas são instantânea e simultaneamente transforma<strong>da</strong>s em Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>.<br />

=?- (/- ]- {- 3.R$- 2NDG- v -2- :R.- 9J


Após essa transformação, o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> auto‐visualiza<strong>do</strong> com o<br />

qual você está se identifican<strong>do</strong> pode ser considera<strong>do</strong> como seu próprio corpo, e<br />

a visualização frontal se mantém à sua frente. O Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> é de uma cor<br />

azul brilhante, atribuí<strong>da</strong> a uma pedra preci<strong>os</strong>a chama<strong>da</strong> vaidurya, geralmente<br />

considera<strong>da</strong> como lápis‐lazúli. Em sua aparência, o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> é<br />

lumin<strong>os</strong>o, majest<strong>os</strong>o e irradia inúmer<strong>os</strong> rai<strong>os</strong> de luz, em princípio de sua<br />

própria cor. Yi<strong>da</strong>ms podem aparecer sob várias formas <strong>–</strong> pacífic<strong>os</strong>, irad<strong>os</strong> ou<br />

assusta<strong>do</strong>res; na forma nirmanakaya ou sambhogakaya, e assim por diante. O<br />

Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> aparece como pacífico e sob a forma nirmanakaya.<br />

(R?- $R?- $?3- IA?- 2[2?- 0;<br />

Está vesti<strong>do</strong> com <strong>os</strong> três mant<strong>os</strong> <strong>do</strong> Dharma.<br />

Dizer que ele aparece sob a forma nirmanakaya significa que, embora<br />

alguns yi<strong>da</strong>ms que aparecem sob a forma sambhogakaya vistam muitas jóias e<br />

mant<strong>os</strong> de se<strong>da</strong>, etc., o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> se manifesta como o que é chama<strong>do</strong><br />

de aparência sem paixões de um Bu<strong>da</strong> nirmanakaya, vestin<strong>do</strong> apenas <strong>os</strong> três<br />

mant<strong>os</strong> comuns <strong>do</strong> Dharma usad<strong>os</strong> pela sangha monástica: <strong>os</strong> mant<strong>os</strong> interno e<br />

externo d<strong>os</strong> membr<strong>os</strong> superiores e a saia para <strong>os</strong> membr<strong>os</strong> inferiores.<br />

O Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> tem <strong>do</strong>is braç<strong>os</strong>.<br />

K$- $;?- 3(R$- .A/- A-


necessi<strong>da</strong>de por contentamento, em sua mão esquer<strong>da</strong> ele segura uma tigela de<br />

mendicância.<br />

Devi<strong>do</strong> ao fato de a mente <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> ser imacula<strong>da</strong> e pura,<br />

sua forma reflete sua excelência e perfeição física.<br />

35/- .0J- mR$?- >A%- hR- eJ:A- *A=-N%- $A?- 28$?- 0;<br />

P<strong>os</strong>sui as marcas maiores e menores completas e está senta<strong>do</strong> na<br />

p<strong>os</strong>tura vajra.<br />

Ele está a<strong>do</strong>rna<strong>do</strong> com o que chamam<strong>os</strong> de marcas e sinais, as indicações<br />

primária e secundária <strong>do</strong> Despertar de um Bu<strong>da</strong>. Em tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> aspect<strong>os</strong> de sua<br />

forma física <strong>–</strong> a protuberância cranial, ou ushnisha, as imagens <strong>da</strong>s ro<strong>da</strong>s em<br />

seus pés, e assim por diante <strong>–</strong> o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> é idêntico ao Bu<strong>da</strong><br />

Shakyamuni, com a única diferença que a cor <strong>da</strong> pele deste é <strong>do</strong>ura<strong>da</strong>,<br />

enquanto a <strong>da</strong>quele é azul. Devi<strong>do</strong> ao fato de o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> estar imerso<br />

em um inabalável samadhi de absorção, na realização <strong>da</strong> natureza de to<strong>da</strong>s as<br />

coisas, e devi<strong>do</strong> ao fato de o seu samadhi ser extremamente estável, ele está<br />

senta<strong>do</strong> com suas pernas completamente cruza<strong>da</strong>s, na p<strong>os</strong>tura vajra. Nós n<strong>os</strong><br />

visualizam<strong>os</strong> nessa forma, e também à visualização frontal.<br />

Tu<strong>do</strong> o que foi descrito até este ponto <strong>–</strong> o palácio, o trono, o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong> <strong>–</strong> pertence a ambas as visualizações, a de si mesmo e a frontal. No<br />

caso desta última, porém, devem<strong>os</strong> n<strong>os</strong> lembrar de que o trono de leões está no<br />

centro de um lótus de oito pétalas, que por sua vez repousa no centro de um<br />

lótus de dezesseis pétalas. Bem, em sete <strong>da</strong>s oito pétalas, que circulam o Bu<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> na visualização frontal <strong>–</strong> nas sete pétalas tirante a que fica<br />

diretamente à frente dele <strong>–</strong> estão <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> sete Bu<strong>da</strong>s <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, o Bu<strong>da</strong><br />

Shakyamuni e seis outr<strong>os</strong>. Assim como o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, eles estão<br />

a<strong>do</strong>rnad<strong>os</strong> com as trinta e duas marcas e <strong>os</strong> oitenta sinais <strong>da</strong> perfeição física que<br />

agraciam o corpo de um Bu<strong>da</strong>.<br />

H.- 0


transcendi<strong>do</strong> 12 . A ver<strong>da</strong>de <strong>do</strong> caminho é o Dharma que praticam<strong>os</strong> e que leva a<br />

essa transcendência. O Dharma, em essência, é a experiência e a realização <strong>do</strong><br />

significa<strong>do</strong> <strong>do</strong> Dharma que está presente nas mentes <strong>da</strong>queles que praticam e<br />

alcançam resulta<strong>do</strong>. Por conseqüência, o Dharma também se refere à tradição<br />

de transmitir esse significa<strong>do</strong> e, portanto, nós visualizam<strong>os</strong> o significa<strong>do</strong><br />

passa<strong>do</strong> adiante desde o Bu<strong>da</strong> até <strong>os</strong> dias de hoje sob a forma de livr<strong>os</strong> sobre a<br />

pétala que fica diretamente em frente ao Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> <strong>da</strong> visualização<br />

frontal.<br />

.J-o2- ?J3?- .0:- 2&- S$; .J- o2- :)A$- gJ/- *R%- 2- 2&- .%- #J- .0R/- 2&-<br />

$*A?- ?R- ?R:C- :#R


conseguirem visualizar <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> sete Bu<strong>da</strong>s <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> e <strong>os</strong> text<strong>os</strong> <strong>do</strong><br />

Dharma, será bom. Se, além disso, conseguirem visualizar <strong>os</strong> dezesseis<br />

bodhisattvas, isso também será bom. Mas vocês devem estender sua<br />

visualização ao que realmente puderem fazer. Em qualquer caso, a <strong>prática</strong> será<br />

efetiva e permitirá que as bênçã<strong>os</strong> <strong>do</strong> Dharma, em geral, e as bênçã<strong>os</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, em particular, se façam presentes em vocês. Isso atenderá bem à<br />

sua função e será eficaz, independente de como você faz sua visualização. Mais<br />

importante que a quanti<strong>da</strong>de de dei<strong>da</strong>des que se visualize é entender o que<br />

você está fazen<strong>do</strong>. E mais importante ain<strong>da</strong> é entender que, ao se visualizar<br />

como o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, você não está fingin<strong>do</strong> ser algo que você não é e que,<br />

ao visualizar o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> e seu cortejo à sua frente, você não está<br />

fingin<strong>do</strong> que eles estão em um lugar em que você não está. Por definição, <strong>os</strong><br />

Bu<strong>da</strong>s são oniscientes. Sempre que alguém pensa neles ou suplica a eles, eles<br />

estão conscientes disso e respondem com sua compaixão e bênçã<strong>os</strong>. Em última<br />

análise, eles também se fazem presentes de fato em qualquer lugar em que se <strong>os</strong><br />

imagina. Portanto, é sempre apropria<strong>do</strong> considerar um Bu<strong>da</strong> presente na mente<br />

de alguém como estan<strong>do</strong> de fato à sua frente. Quan<strong>do</strong> se pensa que o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong> e seu cortejo estão presentes à sua frente, eles realmente estão.<br />

Visualizar‐se a si mesmo como o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> é também<br />

apropria<strong>do</strong> porque sua natureza fun<strong>da</strong>mental <strong>–</strong> quem você realmente é <strong>–</strong> é a<br />

natureza de Bu<strong>da</strong>. A natureza de Bu<strong>da</strong> é essencialmente o poder de atingir o<br />

Despertar. Em algum ponto <strong>do</strong> futuro, você atingirá o mesmo Despertar ou<br />

Esta<strong>do</strong> de Bu<strong>da</strong> que o próprio Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>. Visualizan<strong>do</strong>‐se como o Bu<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, você está assumin<strong>do</strong> a aparência <strong>do</strong> que você é,<br />

fun<strong>da</strong>mentalmente, mesmo agora, e a que se manifestará quan<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu<br />

Despertar. É para reconhecer essa ver<strong>da</strong>de que você assume <strong>os</strong> aspect<strong>os</strong> <strong>do</strong><br />

corpo, <strong>da</strong> palavra e <strong>da</strong> mente <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, o que, portanto, é bastante<br />

apropria<strong>do</strong>.<br />

Ain<strong>da</strong> que seja bastante adequa<strong>do</strong> visualizar‐se a si mesmo como o Bu<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> e visualizá‐lo com seu cortejo à sua frente, você pode ain<strong>da</strong> hesitar<br />

ou duvi<strong>da</strong>r que a visualização não seja na<strong>da</strong> além disso. Isso é compreensível e,<br />

portanto, a próxima fase <strong>da</strong> <strong>prática</strong> consiste em combater essa dúvi<strong>da</strong>. Para<br />

aliviar quaisquer dúvi<strong>da</strong>s residuais que você ain<strong>da</strong> p<strong>os</strong>sa ter, em segui<strong>da</strong> você<br />

convi<strong>da</strong> as dei<strong>da</strong>des de sabe<strong>do</strong>ria e as dissolve na visualização.<br />

$/?- $?3- ;A- $J- $?3- .%- ,$?- !:A- >- =?- :R.- :UR?- 0?; >J?- 0- .0$- +- 3J.- 0- ,/- S%?- /?-<br />

2.$- 3./- i3?-=- ,A3- 0


O primeiro passo para convi<strong>da</strong>r as dei<strong>da</strong>des de sabe<strong>do</strong>ria é visualizar as<br />

três sílabas OM: < AH: = HUM: > n<strong>os</strong> três lugares <strong>da</strong> auto‐visualização <strong>do</strong><br />

Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, n<strong>os</strong> três lugares <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> visualiza<strong>do</strong> à sua<br />

frente e, se p<strong>os</strong>sível, n<strong>os</strong> três lugares <strong>da</strong>s demais dei<strong>da</strong>des no cortejo. Dentro de<br />

sua cabeça, você visualiza um OM: < branco, que é a essência <strong>do</strong> corpo <strong>do</strong><br />

Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>; em sua garganta, um AH = vermelho, que é a essência <strong>da</strong><br />

palavra; e em seu coração, um HUM > azul, que é a essência <strong>da</strong> mente. Assim<br />

proceden<strong>do</strong> com o corpo <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> auto‐visualiza<strong>do</strong> e com <strong>os</strong><br />

corp<strong>os</strong> <strong>da</strong>s divin<strong>da</strong>des à sua frente, você então pensa que irradiam rai<strong>os</strong> de luz<br />

dessas três sílabas, com suas cores correspondentes <strong>–</strong> particularmente, rai<strong>os</strong> de<br />

luz azul <strong>da</strong>s sílabas HUM > n<strong>os</strong> corações <strong>da</strong>s divin<strong>da</strong>des. Essa irradiação de<br />

luz convi<strong>da</strong>, de ca<strong>da</strong> um de seus rein<strong>os</strong> búdic<strong>os</strong>, as divin<strong>da</strong>des <strong>da</strong> man<strong>da</strong>la.<br />

Ca<strong>da</strong> um d<strong>os</strong> oito Bu<strong>da</strong>s <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> <strong>–</strong> o principal e <strong>os</strong> demais sete <strong>–</strong> p<strong>os</strong>sui seu<br />

próprio reino, <strong>os</strong> quais se acredita estarem situad<strong>os</strong> na direção leste 13 . Destes<br />

diferentes rein<strong>os</strong> pur<strong>os</strong>, são convi<strong>da</strong>d<strong>os</strong> <strong>os</strong> Bu<strong>da</strong>s <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> e seus cortej<strong>os</strong> de<br />

divin<strong>da</strong>des, e tod<strong>os</strong> eles se dissolvem em você como o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> e na<br />

visualização à sua frente. Na <strong>prática</strong>, você não pensa que eles se dissolvem<br />

imediatamente em você, mas que eles se apresentam e se fazem presentes no<br />

céu à sua frente, entre <strong>os</strong> <strong>do</strong>is paláci<strong>os</strong> <strong>da</strong> auto‐visualização e <strong>da</strong> visualização<br />

frontal.<br />

>; (/- ]- 3(J.- 2o.- z- 5S$?- 3- =?- 0;<br />

$/?- :.A


- 3R- 3- @- SN- F- !K-?- 0-


Vam<strong>os</strong> parar por aqui esta manhã, mas se vocês tiverem perguntas, elas<br />

serão muito bem‐vin<strong>da</strong>s.<br />

Pergunta: O Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> tem uma consorte e, se o tiver, qual é o nome dela?<br />

Rinpoche: Neste caso, devi<strong>do</strong> ao fato de ele ser visualiza<strong>do</strong> na forma <strong>do</strong> supremo<br />

nirmanakaya, não, ele não tem. Poderia haver cas<strong>os</strong> em que ele seja visualiza<strong>do</strong> na<br />

forma sambhogakaya com uma consorte para indicar a união entre o upaya e a prajna <strong>–</strong><br />

é p<strong>os</strong>sível, mas eu não consigo pensar em um exemplo, então não p<strong>os</strong>so dizer que o<br />

nome <strong>da</strong> consorte seja este ou aquele.<br />

Pergunta: Rinpoche, na visualização, há oito pétalas e depois dezesseis pétalas em<br />

volta. As pétalas não são assim tão largas, então é difícil eu visualizar ca<strong>da</strong> uma<br />

conten<strong>do</strong> um bodhisattva e seu séqüito. Isso seria como uma janela para o mun<strong>do</strong><br />

deles, ou qual seria a melhor maneira de visualizar de mo<strong>do</strong> mais realístico?<br />

Rinpoche: N<strong>os</strong> rein<strong>os</strong> pur<strong>os</strong>, as flores podem ficar bem grandes. Mas se ficar mais fácil,<br />

as pétalas são basicamente tron<strong>os</strong> que estão de alguma forma ligad<strong>os</strong> e que têm a<br />

forma ou o estilo de pétalas de flores.<br />

Pergunta: O Rinpoche falou sobre a visualização frontal como sen<strong>do</strong> um campo para<br />

acumulação de mérito. Por que a visualização teria algo a ver com acumulação de<br />

mérito?<br />

Rinpoche: Nesta <strong>prática</strong>, como indica a liturgia, acumula‐se mérito pelas homenagens<br />

e pelas várias oferen<strong>da</strong>s <strong>–</strong> a oferen<strong>da</strong> de man<strong>da</strong>la, a oferen<strong>da</strong> de mérit<strong>os</strong>, e assim por<br />

diante <strong>–</strong> primeiramente à visualização frontal. Você acumula mérito por fazer<br />

oferen<strong>da</strong>s àquele em quem você tem confiança absoluta, qual seja, o ver<strong>da</strong>deiro Bu<strong>da</strong>.<br />

Portanto, é mais fácil acumular mérit<strong>os</strong> ao fazer oferen<strong>da</strong>s à visualização frontal, a qual<br />

você percebe como diferente e p<strong>os</strong>sivelmente superior a você.<br />

Pergunta: Quan<strong>do</strong> fazem<strong>os</strong> o mantra ao final <strong>da</strong> <strong>prática</strong>, focam<strong>os</strong> n<strong>os</strong>sa atenção<br />

primariamente em nós mesm<strong>os</strong> e no mantra em n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> corações, ou alternam<strong>os</strong> a<br />

atenção entre o Bu<strong>da</strong> à n<strong>os</strong>sa frente e nós mesm<strong>os</strong>?<br />

Rinpoche: Você a aplica a<strong>os</strong> <strong>do</strong>is. Visualize a sílaba‐semente e a guirlan<strong>da</strong> de mantra<br />

n<strong>os</strong> corações de ambas as visualizações, a auto‐visualização e a visualização frontal e,<br />

n<strong>os</strong> <strong>do</strong>is cas<strong>os</strong>, você <strong>os</strong> identifica como a encarnação <strong>da</strong> sabe<strong>do</strong>ria, ou mente <strong>da</strong><br />

dei<strong>da</strong>de. Então, você pensa que rai<strong>os</strong> de luz irradiam <strong>da</strong> sílaba‐semente e <strong>da</strong> guirlan<strong>da</strong><br />

de mantra no coração <strong>da</strong> auto‐visualização. Esses rai<strong>os</strong> de luz atingem e entram n<strong>os</strong><br />

corações <strong>da</strong>s divin<strong>da</strong>des <strong>da</strong> visualização frontal, despertan<strong>do</strong> sua compaixão, fazen<strong>do</strong><br />

com que rai<strong>os</strong> de luz venham dela, dissipan<strong>do</strong> as <strong>do</strong>enças e o sofrimento de tod<strong>os</strong> <strong>os</strong><br />

seres, e assim por diante.<br />

Pergunta: Eu não consigo fazer ao mesmo tempo a visualização frontal e a auto‐<br />

visualização como o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>. Eu deveria alternar entre elas? Eu deveria<br />

esta<strong>do</strong> de Despertar ou abertura, enquanto samaya é a experiência de ligação, de estar enraiza<strong>do</strong><br />

soli<strong>da</strong>mente na sua experiência. Jnana literalmente significa sabe<strong>do</strong>ria, ou ser sábio. Convi<strong>da</strong>‐se esse<br />

esta<strong>do</strong> de sabe<strong>do</strong>ria, esse nível de Despertar, à própria visualização imperfeita, a fim de que ela se avive<br />

com um sentimento de abertura e humor”.<br />

37


gastar uma boa parte <strong>do</strong> tempo fazen<strong>do</strong> a visualização frontal e <strong>da</strong>í voltar para fazer a<br />

auto‐visualização por mais algum tempo?<br />

Rinpoche: Está bem. Você pode ir e voltar na visualização.<br />

Pergunta: Rápi<strong>do</strong>, devagar ou de outro mo<strong>do</strong>?<br />

Rinpoche: A melhor coisa a fazer é ir e voltar tão freqüentemente quanto for<br />

confortável.<br />

Pergunta: Rinpoche, esta sadhana tem algum significa<strong>do</strong> específico para você? É de<br />

especial importância para a linhagem Thrangu?<br />

Rinpoche: Ela não tem especial importância para mim ou meu monastério, exceto pelo<br />

fato de ser uma <strong>da</strong>s três <strong>prática</strong>s de Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> que normalmente se faz na<br />

tradição Kagyü como um to<strong>do</strong>. Há uma <strong>prática</strong> longa, uma média, e esta, que é a curta.<br />

Nós a estam<strong>os</strong> estu<strong>da</strong>n<strong>do</strong> porque é a curta.<br />

Pergunta: Que palavra tibetana está sen<strong>do</strong> traduzi<strong>da</strong> como ‘pura’?<br />

Tradutor: Takpa.<br />

Pergunta: Ela é sempre traduzi<strong>da</strong> como pura?<br />

Tradutor: Por mim, sim. Muitas outras pessoas fazem várias coisas; eu não p<strong>os</strong>so<br />

garantir que elas sempre a traduzam como pura.<br />

Pergunta: Talvez o Rinpoche p<strong>os</strong>sa dizer o que esta palavra significa.<br />

Rinpoche: Você pode pensar em sinônim<strong>os</strong> para “puro” como sen<strong>do</strong> “livre de<br />

impurezas”, que, por extensão, poderia significar “livre de defeit<strong>os</strong> ou imperfeições”.<br />

Pode indicar o que é imacula<strong>do</strong>, perfeito, indefectível, e assim por diante.<br />

Pergunta: Rinpoche, há algum significa<strong>do</strong> particular para a luz que irradia <strong>do</strong> leste d<strong>os</strong><br />

rein<strong>os</strong> búdic<strong>os</strong>?<br />

Rinpoche: N<strong>os</strong> sutras <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, o Bu<strong>da</strong> descreveu seus rein<strong>os</strong> <strong>–</strong> o reino <strong>do</strong><br />

principal Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> e <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> rein<strong>os</strong> d<strong>os</strong> demais Bu<strong>da</strong>s companheir<strong>os</strong> <strong>–</strong> como<br />

sen<strong>do</strong> tod<strong>os</strong> no leste.<br />

Pergunta: Quan<strong>do</strong> visualizam<strong>os</strong> luz sain<strong>do</strong> para o universo, isso inclui tu<strong>do</strong>? Pedras,<br />

árvores, cadeiras e prédi<strong>os</strong>?<br />

Tradutor: Em que momento? Durante a criação <strong>da</strong> dei<strong>da</strong>de ou durante a recitação <strong>do</strong><br />

mantra?<br />

Pergunta: Durante a recitação <strong>do</strong> mantra.<br />

Rinpoche: Sim. Inicialmente, antes <strong>da</strong> geração <strong>da</strong> dei<strong>da</strong>de, você purifica sua percepção<br />

<strong>do</strong> universo inteiro pela visualização de que tu<strong>do</strong> se dissolve na vacui<strong>da</strong>de.<br />

Teoricamente, a partir deste ponto, to<strong>da</strong> impureza cessa. Mas quan<strong>do</strong> você inicia a<br />

repetição <strong>do</strong> mantra principal, você pode renovar essa purificação ao trazer à mente as<br />

aparências impuras e purifican<strong>do</strong>‐as com <strong>os</strong> rai<strong>os</strong> de luz que emergem <strong>do</strong> coração <strong>da</strong><br />

divin<strong>da</strong>de.<br />

38


Pergunta: Rinpoche, em outras <strong>prática</strong>s de visualização, às vezes, tem<strong>os</strong> a sensação de<br />

ver n<strong>os</strong>so próprio lama‐raiz na forma <strong>da</strong> divin<strong>da</strong>de. Há algo assim nesta <strong>prática</strong>?<br />

Rinpoche: Sim, é adequa<strong>do</strong> identificar a visualização frontal com seu guru‐raiz. As<br />

pessoas se relacionam com a visualização frontal de mod<strong>os</strong> ligeiramente diferentes. Se<br />

elas se sentem particularmente devotas ao Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, então elas irão<br />

primeiramente pensá‐la como sen<strong>do</strong> o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> mesmo. Mas elas podem<br />

pensar que a visualização frontal é, em essência, seu guru‐raiz.<br />

Assim, vam<strong>os</strong> concluir com a dedicação de mérit<strong>os</strong>.<br />

39


O Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong><br />

Por causa de sua vastidão, oferecer o universo inteiro<br />

produz grande mérito<br />

Continuação d<strong>os</strong> ensinament<strong>os</strong> <strong>do</strong> muito venerável Khenchen Thrangu Rinpoche sobre o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>.<br />

Esta manhã vim<strong>os</strong> a auto‐visualização <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, sua<br />

visualização frontal e, por fim, a dissolução <strong>da</strong> real divin<strong>da</strong>de de sabe<strong>do</strong>ria em<br />

ambas como um remédio para a percepção impura ou ordinária <strong>da</strong>s coisas.<br />

Ten<strong>do</strong> dissolvi<strong>do</strong> <strong>os</strong> seres de sabe<strong>do</strong>ria em nós e na visualização frontal <strong>–</strong><br />

como uma medicação contra <strong>os</strong> obscureciment<strong>os</strong>, as más ações e<br />

conceitualizações, agora podem<strong>os</strong> receber a iniciação. Esta fase <strong>da</strong> <strong>prática</strong> é<br />

representa<strong>da</strong> pela liturgia simplesmente pelo mantra:<br />

-Q%- ZA:A; A- SA- FJO- >;<br />

OM / HUM / TRAM / HRI / AH // ABI KENTZA / HUM //<br />

A visualização que acompanha o mantra é como a seguinte: novamente,<br />

você visualiza as três sílabas <strong>–</strong> OM AH HUM <strong>–</strong> n<strong>os</strong> três lugares em você como<br />

Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> e n<strong>os</strong> <strong>da</strong>s dei<strong>da</strong>des <strong>da</strong> visualização frontal, e também de<br />

novo rai<strong>os</strong> de luz irradiam deles <strong>–</strong> especialmente <strong>do</strong> HUM em seu coração <strong>–</strong><br />

convi<strong>da</strong>n<strong>do</strong>, desta vez, <strong>os</strong> cinco Bu<strong>da</strong>s masculin<strong>os</strong> <strong>da</strong>s cinco famílias com seus<br />

41


cortej<strong>os</strong> de seus rein<strong>os</strong> pur<strong>os</strong>. Os Bu<strong>da</strong>s estão seguran<strong>do</strong> preci<strong>os</strong><strong>os</strong> vas<strong>os</strong> 16 em<br />

suas mã<strong>os</strong>, replet<strong>os</strong> de ambr<strong>os</strong>ia <strong>da</strong> sabe<strong>do</strong>ria, que eles derramam em nós<br />

enquanto Bu<strong>da</strong>s <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> por meio <strong>da</strong> abertura no centro <strong>do</strong> topo de sua<br />

cabeça. A primeira parte deste mantra <strong>–</strong> OM HUM TRAM HRI AH <strong>–</strong> representa<br />

a iniciação <strong>da</strong><strong>da</strong> simultaneamente pel<strong>os</strong> cinco Bu<strong>da</strong>s. OM representa Vairocana;<br />

HUM, Akshobya; TRAM, Ratnasambhava; HRI, Amitabha; e AH,<br />

Amogasiddhi 17 . <strong>Ao</strong> visualizar que a pura ambr<strong>os</strong>ia preenche to<strong>do</strong> seu corpo,<br />

você pensa que ela purifica to<strong>da</strong>s as más ações, obscureciment<strong>os</strong> e corrupções<br />

de quaisquer tip<strong>os</strong>, <strong>do</strong> corpo, <strong>da</strong> palavra e <strong>da</strong> mente. As palavras<br />

ABHIKENTZA significam iniciação.<br />

A próxima seção <strong>da</strong> <strong>prática</strong> é a acumulação de mérito por meio de<br />

oferen<strong>da</strong>s. Como anteriormente indica<strong>do</strong>, a auto‐visualização apresenta<br />

oferen<strong>da</strong>s à visualização frontal. Rai<strong>os</strong> de luz emergem <strong>do</strong> coração <strong>da</strong> auto‐<br />

visualização. Nas pontas finais desses rai<strong>os</strong> estão as deusas de oferen<strong>da</strong>s<br />

seguran<strong>do</strong> várias substâncias de oferen<strong>da</strong>s, que apresentam a to<strong>da</strong>s as<br />

divin<strong>da</strong>des <strong>da</strong> auto‐visualização.<br />

>; 3J- +R$- 2.$- %R?- 3


to<strong>do</strong> o corpo <strong>da</strong>s dei<strong>da</strong>des. A sétima, água, também ofereci<strong>da</strong> às suas bocas. E a<br />

oitava são <strong>os</strong> instrument<strong>os</strong> musicais, simbolizan<strong>do</strong> <strong>os</strong> sons <strong>da</strong>s músicas,<br />

oferecid<strong>os</strong> a seus ouvid<strong>os</strong>.<br />

Ofereci<strong>da</strong>s juntamente com as oito oferen<strong>da</strong>s estão as cinco oferen<strong>da</strong>s<br />

agradáveis, percebi<strong>da</strong>s pel<strong>os</strong> cinco sentid<strong>os</strong>. São elas: as formas belas, <strong>os</strong> sons<br />

aprazíveis, <strong>os</strong> o<strong>do</strong>res, <strong>os</strong> g<strong>os</strong>t<strong>os</strong> e as sensações tácteis.<br />

Em geral, as oferen<strong>da</strong>s podem ser classifica<strong>da</strong>s em quatro tip<strong>os</strong>:<br />

exteriores, interiores, secretas e secretíssimas. As oferen<strong>da</strong>s exteriores são<br />

essencialmente tu<strong>do</strong> o que é belo e agradável no mun<strong>do</strong> exterior. O que está<br />

sen<strong>do</strong> apresenta<strong>do</strong> à dei<strong>da</strong>de, aqui, são to<strong>da</strong>s as coisas apropria<strong>da</strong>s e bonitas.<br />

<strong>Ao</strong> fazer essas oferen<strong>da</strong>s, você acumula mérit<strong>os</strong>. Portanto, o texto diz em<br />

segui<strong>da</strong>: “ao fazer essas oferen<strong>da</strong>s às divin<strong>da</strong>des, que p<strong>os</strong>sam<strong>os</strong> completar as<br />

duas acumulações”. As duas acumulações são a acumulação conceitual de<br />

mérito e acumulação não conceitual de sabe<strong>do</strong>ria. O ato de fazer oferen<strong>da</strong>s<br />

permite acumular ou completar a acumulação conceitual de mérito; quan<strong>do</strong><br />

essas oferen<strong>da</strong>s são feitas dentro <strong>do</strong> reconhecimento <strong>da</strong> não reali<strong>da</strong>de última<br />

<strong>da</strong>s oferen<strong>da</strong>s, o ofertan<strong>do</strong> e o ato de oferecer <strong>–</strong> quan<strong>do</strong> se reconhece a<br />

vacui<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s oferen<strong>da</strong>s, <strong>do</strong> ofertan<strong>do</strong> e <strong>do</strong> ato de ofertar <strong>–</strong> então completa‐se a<br />

acumulação não conceitual de sabe<strong>do</strong>ria.<br />

Finalmente, as oferen<strong>da</strong>s são apresenta<strong>da</strong>s ao final <strong>da</strong> estância com <strong>os</strong><br />

respectiv<strong>os</strong> mantras de oferen<strong>da</strong>s que as denotam. A palavra vajra no começo<br />

<strong>do</strong> mantra significa que a natureza <strong>da</strong>s substâncias de oferen<strong>da</strong>s é vacui<strong>da</strong>de.<br />

Então, as oferen<strong>da</strong>s são nomea<strong>da</strong>s em ordem e, por fim, tra ti tsa, ou pra ti cha,<br />

que significa “a ca<strong>da</strong> uma”. Logo, a ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s dei<strong>da</strong>des são apresenta<strong>da</strong>s<br />

oferen<strong>da</strong>s.<br />

Neste ponto, na maioria <strong>da</strong>s <strong>prática</strong>s Vajrayana as oferen<strong>da</strong>s externas são<br />

segui<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s oferen<strong>da</strong>s internas, secretas e secretíssimas. A oferen<strong>da</strong> interior é,<br />

geralmente, a oferen<strong>da</strong> de algum tipo de torma. Refere‐se à torma como oferen<strong>da</strong><br />

interna, neste contexto, porque sua oferta é uma maneira de aumentar o<br />

samadhi, sua absorção meditativa, que é um fenômeno interno. A oferen<strong>da</strong><br />

secreta é a <strong>da</strong> união entre êxtase e vacui<strong>da</strong>de, que é feita a fim de induzir ou<br />

estabilizar o reconhecimento dessa união no praticante. Do mesmo mo<strong>do</strong>, a<br />

oferen<strong>da</strong> secretíssima, a <strong>do</strong> reconhecimento <strong>da</strong> própria natureza última,<br />

também é feita para estabilizar o reconhecimento dela no praticante. Essas<br />

oferen<strong>da</strong>s não são feitas apenas por seguir o estilo d<strong>os</strong> sutras, dentro <strong>da</strong>s<br />

<strong>prática</strong>s Vajrayana. As que se seguem são as comumente apresenta<strong>da</strong>s n<strong>os</strong><br />

sutras em geral.<br />

O próximo conjunto de oferen<strong>da</strong>s apresenta<strong>da</strong>s são as oito substâncias<br />

auspici<strong>os</strong>as e <strong>os</strong> oito sinais ou marcas auspici<strong>os</strong><strong>os</strong>.<br />

>; N- >A?- $4S- 2R- m?- 2o.- .J;<br />

$4S- 3(R$- o=- 0R- ;%?- .!


Hum!<br />

2.$- $A?- z- =- 3(R.- 0- :2=;<br />

5S$?-$*A?- ;R%?- ?- mR$?- 0R$;<br />

3;- =)-A- F- ?A:A- >;<br />

Ofereço às dei<strong>da</strong>des as oito substâncias auspici<strong>os</strong>as:<br />

a sublime m<strong>os</strong>tar<strong>da</strong> real branca e as demais.<br />

Que as duas acumulações p<strong>os</strong>sam ser completa<strong>da</strong>s.<br />

MAN GA LAM / ARTHA / SIDDHI HUM //<br />

As oito substâncias auspici<strong>os</strong>as são assim chama<strong>da</strong>s porque estão liga<strong>da</strong>s<br />

ao surgimento <strong>do</strong> Dharma neste mun<strong>do</strong>. São considera<strong>da</strong>s auspici<strong>os</strong>as porque<br />

foram importantes para despertar <strong>os</strong> ensinament<strong>os</strong>. Os oito auspici<strong>os</strong><strong>os</strong> sign<strong>os</strong>,<br />

ou formas, aparecem no corpo de um Bu<strong>da</strong> e, por isso, são assim considera<strong>da</strong>s.<br />

As oito substâncias auspici<strong>os</strong>as incluem coisas tais como a concha retorci<strong>da</strong> no<br />

senti<strong>do</strong> horário, que o deus Indra ofereceu ao Bu<strong>da</strong> quan<strong>do</strong> lhe solicitou girasse<br />

a ro<strong>da</strong> <strong>do</strong> Dharma. A partir <strong>da</strong> oferen<strong>da</strong> de Indra, o Bu<strong>da</strong> ensinou pela primeira<br />

vez, o que resultou em que <strong>os</strong> seres têm a oportuni<strong>da</strong>de de encontrar o Dharma<br />

e alcançar suas realizações. Por essa razão, a concha retorci<strong>da</strong> no senti<strong>do</strong><br />

horário é considera<strong>da</strong> auspici<strong>os</strong>a.<br />

Outra substância auspici<strong>os</strong>a é a erva durva, que um jardineiro e vende<strong>do</strong>r<br />

de durva, cujo nome também era auspici<strong>os</strong>o, ofereceu ao Bu<strong>da</strong> quan<strong>do</strong> o<br />

encontrou logo antes de seu Despertar. O Bu<strong>da</strong> usou a erva durva para fazer um<br />

assento, no qual se sentou quan<strong>do</strong> atingiu a Iluminação. Então, por estar liga<strong>da</strong><br />

ao Despertar <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong>, que foi o evento que transformou este perío<strong>do</strong> histórico<br />

de um tempo de trevas para um de iluminação, a erva durva é também<br />

considera<strong>da</strong> uma substância auspici<strong>os</strong>a 18 .<br />

Assim, você oferece as oito substâncias auspici<strong>os</strong>as ao Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong><br />

e seu séqüito, fazen<strong>do</strong> que a aspiração complete as duas acumulações ao ofertá‐<br />

las. O mantra ao final <strong>da</strong> estância é MANGALAM, que quer dizer auspici<strong>os</strong>o, e<br />

ARTHA SIDDHI, que o transforma na realização <strong>da</strong> auspici<strong>os</strong>i<strong>da</strong>de.<br />

O próximo conjunto de oferen<strong>da</strong>s são <strong>os</strong> oito sinais, ou marcas,<br />

auspici<strong>os</strong><strong>os</strong>.<br />

>; 2N- >A?- $4S- 2R- g$?- 2o.- .J;<br />

24S- 3(R$- o=- 0R- 23- 0- ?R$?;<br />

2.$- $A?- z- =- 3(R.- 0- :2=;<br />

?J3?- &/- 5S$?- $*A?- mR$?- 0R$;<br />

3;- =&- !d- >;<br />

18 Nota <strong>do</strong> editor: Rinpoche discute essas e outras oferen<strong>da</strong>s com mais detalhes no próximo ensinamento.<br />

44


Hum!<br />

Ofereço às dei<strong>da</strong>des <strong>os</strong> oito símbol<strong>os</strong> auspici<strong>os</strong><strong>os</strong>:<br />

O sublime vaso real incomparável e tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> outr<strong>os</strong>.<br />

Que <strong>os</strong> seres sencientes p<strong>os</strong>sam completar as duas acumulações.<br />

MANGA LAM / KUMBA / HUM //<br />

Em geral, ca<strong>da</strong> Bu<strong>da</strong> é a<strong>do</strong>rna<strong>do</strong> com as trinta e duas marcas e <strong>os</strong> oitenta<br />

sinais, mas de tod<strong>os</strong> esses, há oito que são maiores. Esses oito são formas de<br />

certas partes de seus corp<strong>os</strong>, que são reminiscências de alguns emblemas. Por<br />

exemplo, a forma <strong>do</strong> topo <strong>da</strong> cabeça <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> lembra a de um pára‐sol, então o<br />

preci<strong>os</strong>o pára‐sol é um d<strong>os</strong> sinais auspici<strong>os</strong><strong>os</strong>. A forma de seus olh<strong>os</strong> é<br />

semelhante à de cert<strong>os</strong> peixes <strong>do</strong>urad<strong>os</strong>, então o peixe <strong>do</strong>ura<strong>do</strong> é outro sinal. A<br />

forma de sua garganta é como a de alguns vas<strong>os</strong>, então o preci<strong>os</strong>o vaso é outro<br />

sinal, e assim por diante. Novamente, oferecem<strong>os</strong> as oito formas ou sinais às<br />

dei<strong>da</strong>des de mo<strong>do</strong> a fazer surgir as auspici<strong>os</strong>i<strong>da</strong>des, aspiran<strong>do</strong> a que, por meio<br />

<strong>da</strong>s oferen<strong>da</strong>s, tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres, sem exceção, completem com perfeição as duas<br />

acumulações: a acumulação conceitual de mérito e a acumulação não conceitual<br />

de sabe<strong>do</strong>ria. O mantra ao final <strong>da</strong> estância é MANGALAM, que significa<br />

auspici<strong>os</strong>o, e KUMBHA, vaso. O vaso é aqui usa<strong>do</strong> para indicar tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> oito<br />

sinais ou formas. Devi<strong>do</strong> ao fato de representar a forma <strong>da</strong> garganta de Bu<strong>da</strong>, e<br />

pelo fato de ter si<strong>do</strong> por sua garganta que o Dharma fora originalmente<br />

transmiti<strong>do</strong>, o vaso é considera<strong>do</strong> de maior importância.<br />

A próxima oferen<strong>da</strong> é a d<strong>os</strong> sete artig<strong>os</strong> reais, que são p<strong>os</strong>ses 19 exclusivas<br />

de um tipo de monarca chama<strong>do</strong> de chakravartin.<br />

>; :.R.- ;R/-l- 2-


Raiz de tu<strong>do</strong> o que é agradável: a sublime jóia real e as outras.<br />

Que eu p<strong>os</strong>sa completar as duas acumulações.<br />

OM / MANI / RATNA / HUM //<br />

Um chakravartin aparece n<strong>os</strong> melhores e mais refinad<strong>os</strong> períod<strong>os</strong> <strong>da</strong><br />

História, <strong>os</strong> quais são chamad<strong>os</strong> de períod<strong>os</strong> ou éons afortunad<strong>os</strong>. Esses sete<br />

artig<strong>os</strong> distinguem um chakravartin de qualquer outro monarca; contu<strong>do</strong>, o<br />

ver<strong>da</strong>deiro significa<strong>do</strong> interior desses sete artig<strong>os</strong> é que eles representam <strong>os</strong> sete<br />

aspect<strong>os</strong> <strong>do</strong> caminho <strong>do</strong> Despertar, que é atravessa<strong>do</strong> por tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> Bu<strong>da</strong>s e<br />

bodhisattvas.<br />

Você apresenta essas oferen<strong>da</strong>s a to<strong>da</strong>s as divin<strong>da</strong>des <strong>da</strong> man<strong>da</strong>la<br />

visualiza<strong>da</strong> à sua frente, aspiran<strong>do</strong> a que, ao fazer a oferta, você completará as<br />

duas acumulações. O mantra usa<strong>do</strong> para completar essas oferen<strong>da</strong>s se refere ao<br />

primeiro d<strong>os</strong> sete artig<strong>os</strong>, a jóia preci<strong>os</strong>a. MANI quer dizer jóia e RATNA,<br />

preci<strong>os</strong>a.<br />

A oferen<strong>da</strong> seguinte, que conclui a seção principal de oferen<strong>da</strong>s, é a<br />

oferen<strong>da</strong> de man<strong>da</strong>la.<br />

>; !/- IA?- $4S- 2R-


a maneira como n<strong>os</strong> afetam que n<strong>os</strong> importa. Oferen<strong>da</strong>s não se limitam ao que<br />

você pode juntar fisicamente ao seu re<strong>do</strong>r como substâncias de oferen<strong>da</strong>s. Elas<br />

podem ser de qualquer de três tip<strong>os</strong>, <strong>os</strong> quais são chamad<strong>os</strong> de reuni<strong>da</strong>s de<br />

fato, mentalmente emana<strong>da</strong>s ou produzi<strong>da</strong>s pelo poder <strong>da</strong> aspiração. As<br />

reuni<strong>da</strong>s de fato são as presentes fisicamente, sob seu poder de oferta. As<br />

mentalmente emana<strong>da</strong>s são as que você imagina, que você não têm fisicamente<br />

presentes em seu re<strong>do</strong>r, mas que você pode oferecer de sua mente, de mo<strong>do</strong><br />

suficientemente claro. As oferen<strong>da</strong>s produzi<strong>da</strong>s pelo poder <strong>da</strong> aspiração são<br />

aquelas tão vastas e ilimita<strong>da</strong>s que você não as consegue abarcar com sua mente<br />

ou imaginar, mas ao men<strong>os</strong> pode aspirar oferecê‐las a<strong>os</strong> bu<strong>da</strong>s e bodhisattvas.<br />

Diz‐se que qualquer uma dessas três oferen<strong>da</strong>s produzirá acumulação de<br />

mérito. Usam<strong>os</strong> a oferen<strong>da</strong> <strong>do</strong> universo inteiro como uma man<strong>da</strong>la porque sua<br />

vastidão produz grande mérito.<br />

O monte Meru e <strong>os</strong> continentes que o cercam são especificamente<br />

mencionad<strong>os</strong>. Junt<strong>os</strong>, e tu<strong>do</strong> que vai neles, constituem uma man<strong>da</strong>la, que é<br />

considera<strong>da</strong> a principal dentre to<strong>da</strong>s as oferen<strong>da</strong>s. Em detalhe, a oferen<strong>da</strong><br />

consiste no monte Meru, em cujo topo fica o segun<strong>do</strong> d<strong>os</strong> rein<strong>os</strong> <strong>do</strong> deus d<strong>os</strong><br />

desej<strong>os</strong> <strong>–</strong> enumerad<strong>os</strong> de baixo para cima <strong>–</strong> chama<strong>do</strong> de paraíso ou reino divino<br />

d<strong>os</strong> trinta e três. Em volta <strong>do</strong> monte Meru estão sete círcul<strong>os</strong> 21 concêntric<strong>os</strong> de<br />

montanhas <strong>do</strong>ura<strong>da</strong>s separa<strong>da</strong>s por lag<strong>os</strong> entre elas. Nessas sete montanhas<br />

<strong>do</strong>ura<strong>da</strong>s e seus lag<strong>os</strong> vivem <strong>os</strong> deuses <strong>do</strong> primeiro reino divino d<strong>os</strong> desej<strong>os</strong> e<br />

<strong>os</strong> Quatro Grandes Reis <strong>–</strong> <strong>os</strong> mesm<strong>os</strong> reis guardiões <strong>da</strong> man<strong>da</strong>la <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>. Quan<strong>do</strong> você oferece o monte Meru, você pensa que está<br />

oferencen<strong>do</strong> to<strong>da</strong> a riqueza <strong>da</strong>queles rein<strong>os</strong> divin<strong>os</strong>. Fora dessas sete<br />

montanhas <strong>do</strong>ura<strong>da</strong>s estão <strong>os</strong> quatro principais continentes com seus oito<br />

subcontinentes, que são as habitações d<strong>os</strong> human<strong>os</strong> <strong>–</strong> cujas riquezas, p<strong>os</strong>ses,<br />

esplen<strong>do</strong>res e beleza você também oferece. Em suma, você oferece o mun<strong>do</strong>, de<br />

fato, to<strong>do</strong> o universo, e tu<strong>do</strong> o que ele contém, a to<strong>da</strong>s as dei<strong>da</strong>des, e aspira a<br />

que, por assim fazer, você complete as duas acumulações e que to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong><br />

seja libera<strong>do</strong> <strong>da</strong> <strong>do</strong>ença.<br />

Depois <strong>da</strong>s oferen<strong>da</strong>s fun<strong>da</strong>mentais <strong>–</strong> as oito tradicionais oferen<strong>da</strong>s de<br />

água, flores, incenso, etc., e <strong>da</strong>s oferen<strong>da</strong>s de tu<strong>do</strong> o que é agradável a<strong>os</strong> cinco<br />

sentid<strong>os</strong> <strong>–</strong> sucederam‐se quatro grup<strong>os</strong> diferentes de oferen<strong>da</strong>s: as oito<br />

substâncias auspici<strong>os</strong>as, <strong>os</strong> oito sinais auspici<strong>os</strong><strong>os</strong>, <strong>os</strong> sete artig<strong>os</strong> reais e, por<br />

fim, a oferen<strong>da</strong> de man<strong>da</strong>la.<br />

A oferta seguinte é a oferen<strong>da</strong> de ablução <strong>–</strong> lavar <strong>os</strong> corp<strong>os</strong> <strong>da</strong>s dei<strong>da</strong>des.<br />

Isso se faz para criar uma base auspici<strong>os</strong>a pra remover n<strong>os</strong>sas próprias más<br />

auto‐fixação começam a se dissolver e <strong>da</strong>r lugar à sabe<strong>do</strong>ria <strong>do</strong> discernimento desperto, à transparente<br />

visão caleid<strong>os</strong>cópica auto‐libera<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> que é mera aparência interdependente <strong>da</strong> clara luz <strong>da</strong> natureza <strong>da</strong><br />

mente, e uma bênção palpável que beneficia <strong>os</strong> seres. Não é em função de se tornar uma pessoa boa que se<br />

faz oferen<strong>da</strong>s; no fun<strong>do</strong>, a pessoa já é boa. Fazem‐se oferen<strong>da</strong>s para descobrir a ver<strong>da</strong>de <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de ou a<br />

ver<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s coisas, e também para ter acesso à profun<strong>da</strong> efetivi<strong>da</strong>de ao aju<strong>da</strong>r <strong>os</strong> outr<strong>os</strong>, a qual surge<br />

dessa descoberta.<br />

21 Nota <strong>do</strong> editor: são representad<strong>os</strong> usualmente como quadrad<strong>os</strong> concêntric<strong>os</strong>.<br />

47


ações, n<strong>os</strong>sas próprias corrupções, e n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> obscureciment<strong>os</strong> <strong>–</strong> <strong>os</strong><br />

obscureciment<strong>os</strong> aflitiv<strong>os</strong> e <strong>os</strong> cognitiv<strong>os</strong>.<br />

>; 2.$- $A- SA- w/- SA- (2?- GA?;<br />

2.J- $>J$?- {- =- {- O?- $?R=;<br />

z- =- SA- 3- 3A- 3%:- ;%;<br />

#A$- 1A2- .$- 0:A- gJ/- :VJ=- 2IA;<br />

;<br />

Hum!<br />

Com esta água perfuma<strong>da</strong>, Tathagatas,<br />

Queiram lavar v<strong>os</strong>s<strong>os</strong> Corp<strong>os</strong>,<br />

Pois, apesar <strong>da</strong> dei<strong>da</strong>de ser imacula<strong>da</strong>,<br />

Isso cria uma conexão<br />

Para a purificação d<strong>os</strong> véus e negativi<strong>da</strong>des.<br />

OM / SARUA / TATHAGATA / ABIKE KATE / SAMAIA / SHRI IE / HUM //<br />

Aqui, você pensa que, de seu coração na auto‐visualização, emanam<br />

rai<strong>os</strong> de luz. Nas pontas d<strong>os</strong> rai<strong>os</strong> estão as deusas de oferen<strong>da</strong>s seguran<strong>do</strong><br />

preci<strong>os</strong><strong>os</strong> vas<strong>os</strong> chei<strong>os</strong> de ambr<strong>os</strong>ia. Com a ambr<strong>os</strong>ia, elas banham <strong>os</strong> corp<strong>os</strong> <strong>do</strong><br />

principal Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, d<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> sete Bu<strong>da</strong>s <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, d<strong>os</strong> dezesseis<br />

bodhisattvas e de to<strong>da</strong>s as outras divin<strong>da</strong>des <strong>da</strong> man<strong>da</strong>la. As palavras <strong>do</strong> texto<br />

dizem: “com água perfuma<strong>da</strong>, banho o corpo <strong>do</strong> Sugata; embora a divin<strong>da</strong>de<br />

seja imacula<strong>da</strong>, com isso se cria uma base auspici<strong>os</strong>a para purificar to<strong>da</strong>s as más<br />

ações e <strong>os</strong> obscureciment<strong>os</strong>”.<br />

A oferen<strong>da</strong> de ablução culmina com o mantra OM SARWA TATAGATA<br />

ABIKEKATE SAMAIA SHRIE HUM. SARVA quer dizer tu<strong>do</strong>. TATAGATA<br />

quer dizer Bu<strong>da</strong>. ABIKE KATE se refere ao processo que, em alguns context<strong>os</strong>,<br />

significa iniciação, mas neste quer dizer ablução. Por meio dessa oferen<strong>da</strong> você<br />

aumenta o esplen<strong>do</strong>r e majestade <strong>da</strong>s divin<strong>da</strong>des; portanto, há as palavras<br />

SHRIE, que querem dizer esplêndi<strong>do</strong>, majest<strong>os</strong>o, glori<strong>os</strong>o.<br />

A próxima oferen<strong>da</strong>, que vai junto <strong>da</strong> ablução, é secar <strong>os</strong> corp<strong>os</strong> <strong>da</strong>s<br />

divin<strong>da</strong>des, que é feita pela visualização de deusas de oferen<strong>da</strong>s seguran<strong>do</strong><br />

finas e perfuma<strong>da</strong>s toalhas brancas de algodão.<br />

>;


Hum!<br />

#$- 2}=- V=- 2:A- gJ/- :VJ=- 2IA;<br />

;<br />

Com este teci<strong>do</strong> branco, macio e perfuma<strong>do</strong>,<br />

Vitori<strong>os</strong><strong>os</strong>, queiram secar v<strong>os</strong>s<strong>os</strong> Corp<strong>os</strong>,<br />

Pois, apesar <strong>da</strong> dei<strong>da</strong>de ser imacula<strong>da</strong>,<br />

Isso cria uma conexão para a liberação <strong>do</strong> sofrimento.<br />

OM / KAYA / BICHODANI / HUM //<br />

Nessas duas estâncias, afirmam<strong>os</strong> que não estam<strong>os</strong> lavan<strong>do</strong> e secan<strong>do</strong> as<br />

dei<strong>da</strong>des porque elas estão sujas ou têm máculas que precisam ser removi<strong>da</strong>s,<br />

etc.; você as seca depois de lavá‐las porque isso cria a causa interdependente de<br />

secar ou remover <strong>os</strong> sofriment<strong>os</strong> de tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres. Portanto, você aspira a que o<br />

sofrimento de tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres <strong>–</strong> especialmente <strong>os</strong> sofriment<strong>os</strong> <strong>da</strong>s <strong>do</strong>enças físicas<br />

e <strong>da</strong>s aflições mentais <strong>–</strong> sejam eliminad<strong>os</strong>. Kaya bisho<strong>da</strong>ni significa purificação<br />

<strong>do</strong> corpo.<br />

Em segui<strong>da</strong>, vem a oferen<strong>da</strong> de roupas ou vestes às divin<strong>da</strong>des <strong>da</strong><br />

man<strong>da</strong>la.<br />

>; /- 29:- 36K?- w/- %


outr<strong>os</strong>. Portanto, você diz: “embora nunca sinta frio, com isso se cria a base<br />

auspici<strong>os</strong>a para fazer florescer a vitali<strong>da</strong>de e o esplen<strong>do</strong>r físico. Como resulta<strong>do</strong><br />

dessa oferen<strong>da</strong>, vitali<strong>da</strong>de e esplen<strong>do</strong>r físico surgirão em você e n<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> por<br />

meio <strong>do</strong> poder de sua aspiração. Embora não menciona<strong>do</strong> especificamente na<br />

liturgia, as roupas ofereci<strong>da</strong>s a<strong>os</strong> bodhisattvas é adequa<strong>da</strong> à sua aparência (na<br />

forma sambhogakaya): vestes elegantes de se<strong>da</strong> multicolori<strong>da</strong> e jóias feitas de<br />

ouro e gemas preci<strong>os</strong>as, e assim por diante. Oferecem<strong>os</strong> roupas finas e jóias a<strong>os</strong><br />

bodhisattvas não porque eles lhes tenham algum apego, mas porque, com essa<br />

oferen<strong>da</strong>, criam<strong>os</strong> a base auspici<strong>os</strong>a para aumentar a vitali<strong>da</strong>de. A palavra<br />

vastra, no mantra, significa veste, roupa, teci<strong>do</strong>.<br />

Ca<strong>da</strong> uma destas seções <strong>–</strong> ablução, secagem, oferta de roupas <strong>–</strong> tem seu<br />

próprio significa<strong>do</strong> particular. O significa<strong>do</strong> fun<strong>da</strong>mental de to<strong>da</strong>s <strong>os</strong> três está<br />

liga<strong>do</strong> ao segun<strong>do</strong>, onde se diz: “faço esta oferen<strong>da</strong> para estabelecer a base<br />

auspici<strong>os</strong>a para a remoção <strong>do</strong> sofrimento”. A razão de fazer essas oferen<strong>da</strong>s é<br />

eliminar o sofrimento d<strong>os</strong> seres, o que é alcança<strong>do</strong> no nível <strong>da</strong> auspici<strong>os</strong>a<br />

interdependência <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> oferen<strong>da</strong>, a secagem. Mas, a fim de acabar com o<br />

sofrimento d<strong>os</strong> seres, você primeiro precisa remover as causas d<strong>os</strong> sofriment<strong>os</strong>,<br />

que são as más ações e <strong>os</strong> obscureciment<strong>os</strong>.<br />

Então, a secagem é precedi<strong>da</strong> <strong>da</strong> ablução, cuja função simbólica é<br />

purificar as más ações e <strong>os</strong> obscureciment<strong>os</strong>. Por fim, uma vez que o sofrimento<br />

tenha si<strong>do</strong> elimina<strong>do</strong>, o que se desenvolve em seu lugar é um esta<strong>do</strong> de bem‐<br />

estar físico e mental <strong>–</strong> incluin<strong>do</strong> vitali<strong>da</strong>de física, esplen<strong>do</strong>r e saúde <strong>–</strong> e um<br />

esta<strong>do</strong> de sabe<strong>do</strong>ria e paz interior, cuja causa interdependente de seu<br />

surgimento é a oferta de vestes e roupas, que está na terceira parte.<br />

As louvações.<br />

Seguin<strong>do</strong> as oferen<strong>da</strong>s, vêm as louvações. Elas são feitas imaginan<strong>do</strong>‐se<br />

que deusas de oferen<strong>da</strong>s emanam d<strong>os</strong> rai<strong>os</strong> de luz de seu coração e cantam<br />

louvações litúrgicas às divin<strong>da</strong>des com lin<strong>da</strong>s melodias. Louva<strong>da</strong>s são as<br />

quali<strong>da</strong>des <strong>do</strong> corpo, <strong>da</strong> palavra e <strong>da</strong> mente <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> e de seu<br />

cortejo. Essas louvações não são feitas para agra<strong>da</strong>r ao Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>;<br />

Bu<strong>da</strong>s e bodhisattvas não se agra<strong>da</strong>m de louvações nem se desagra<strong>da</strong>m de sua<br />

ausência. Fazem<strong>os</strong> as louvações para n<strong>os</strong> lembrar a nós mesm<strong>os</strong>, <strong>os</strong> praticantes,<br />

<strong>da</strong>s quali<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s divin<strong>da</strong>des. Isso faz aumentar a devoção e a resolução ou<br />

desejo de atingir o esta<strong>do</strong> divinal, o que também faz aumentar a diligência na<br />

<strong>prática</strong>.<br />

As louvações consistem de três estâncias.<br />

A primeira é uma louvação ao Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>.<br />

A segun<strong>da</strong> é uma louvação a<strong>os</strong> sete outr<strong>os</strong> Bu<strong>da</strong>s <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> e a<strong>os</strong><br />

dezesseis bodhisattvas.<br />

E a terceira é uma louvação às demais divin<strong>da</strong>des <strong>da</strong> man<strong>da</strong>la incluin<strong>do</strong><br />

<strong>os</strong> dez protetores <strong>da</strong>s dez direções, <strong>os</strong> <strong>do</strong>ze chefes Yakshas, e assim por diante.<br />

50


A primeira estância é endereça<strong>da</strong> ao Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>.<br />

>; {- 3.R$- 2NDG- ;A-


35/- =J$?-


dit<strong>os</strong> como vidyadharas e rishis, tanto <strong>os</strong> que vivem n<strong>os</strong> rein<strong>os</strong> d<strong>os</strong> deuses<br />

quanto <strong>os</strong> que vivem n<strong>os</strong> <strong>do</strong>míni<strong>os</strong> human<strong>os</strong>. Em suma, rendem‐se<br />

homenagens e louvações a to<strong>da</strong>s as dei<strong>da</strong>des desta man<strong>da</strong>la de medicina<br />

ambr<strong>os</strong>íaca.<br />

Tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> estági<strong>os</strong> <strong>da</strong> <strong>prática</strong> que vim<strong>os</strong> hoje <strong>–</strong> a visualização d<strong>os</strong> corp<strong>os</strong><br />

<strong>da</strong>s dei<strong>da</strong>des, a dissolução <strong>da</strong>s dei<strong>da</strong>des de sabe<strong>do</strong>ria, a apresentação de<br />

oferen<strong>da</strong>s e de louvações às dei<strong>da</strong>des <strong>–</strong> são aspect<strong>os</strong> <strong>da</strong> <strong>prática</strong> <strong>do</strong> estágio de<br />

geração. Em geral, a <strong>prática</strong> <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de geração precisa ter três características:<br />

aparência clara, ou clari<strong>da</strong>de <strong>da</strong> aparência; orgulho estável; lembrança <strong>da</strong><br />

pureza. O que se quer dizer por aparência clara é simplesmente que haja clara e<br />

distinta visualização <strong>do</strong> que quer que você esteja visualizan<strong>do</strong>. Seja<br />

visualizan<strong>do</strong> apenas o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, ou seja, a auto‐visualização e a<br />

visualização frontal, ou adicionan<strong>do</strong> <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> sete Bu<strong>da</strong>s <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, <strong>os</strong><br />

dezesseis bodhisattvas, ou to<strong>da</strong> a man<strong>da</strong>la com <strong>os</strong> dez protetores e <strong>os</strong> <strong>do</strong>ze<br />

generais, e assim por diante, em qualquer caso, a aparência clara significa a<br />

aparência <strong>da</strong>s dei<strong>da</strong>des <strong>–</strong> a cor, a forma, <strong>os</strong> ornament<strong>os</strong>, as vestes e as roupas, <strong>os</strong><br />

cetr<strong>os</strong> e as outras coisas que são leva<strong>da</strong>s em suas mã<strong>os</strong> <strong>–</strong> elas devem ser<br />

visualiza<strong>da</strong>s de mo<strong>do</strong> que permitam que sua mente se mantenha estável e<br />

calma enquanto gera uma clara e vívi<strong>da</strong> imagem.<br />

A segun<strong>da</strong> característica <strong>da</strong> <strong>prática</strong> <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de geração é o orgulho<br />

estável. Por óbvio, orgulho é algo de que querem<strong>os</strong> n<strong>os</strong> livrar, é um klesha. Mas<br />

aqui a palavra orgulho significa algo muito necessário nas <strong>prática</strong>s Vajrayana.<br />

Orgulho quer dizer estar livre <strong>da</strong> concepção errônea de que, ao fazer a auto‐<br />

visualização e a visualização frontal, você esteja fingin<strong>do</strong> que as coisas sejam<br />

diferentes <strong>do</strong> que elas realmente são. Orgulho estável aqui significa reconhecer<br />

que, embora você esteja meditan<strong>do</strong> no Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> como um ato<br />

consciente, apesar disso, isso é o que você realmente é. É reconhecer que você é<br />

de fato o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>. No caso <strong>da</strong> visualização frontal, é reconhecer que<br />

ela é a ver<strong>da</strong>deira presença <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>. Logo, orgulho estável<br />

certamente se refere a uma atitude de confiança e crença. É importante<br />

reconhecer que, quan<strong>do</strong> você faz a auto‐visualização e a visualização frontal,<br />

você não está meramente imaginan<strong>do</strong> algo fictício. Você não está fingin<strong>do</strong> que<br />

as coisas são diferentes <strong>do</strong> que são. Quan<strong>do</strong> faz oferen<strong>da</strong>s, admiti<strong>da</strong>mente<br />

emana<strong>da</strong>s <strong>da</strong> mente, às dei<strong>da</strong>des, você deve refletir no fato de que as oferen<strong>da</strong>s<br />

estão realmente acontecen<strong>do</strong>, estão ten<strong>do</strong> efeito. <strong>Ao</strong> fazer as oferen<strong>da</strong>s, você<br />

está de fato acumulan<strong>do</strong> mérito. À medi<strong>da</strong> em que você tem confiança na<br />

vali<strong>da</strong>de e acurácia <strong>da</strong> <strong>prática</strong>, você terá tanto mais prazer, devoção e<br />

benefíci<strong>os</strong>.<br />

A terceira característica <strong>do</strong> estágio de geração é a lembrança <strong>da</strong> pureza, o<br />

qual tem divers<strong>os</strong> significad<strong>os</strong>. O mais óbvio é o reconhecimento de que as<br />

formas <strong>da</strong>s dei<strong>da</strong>des são incríveis e esplêndi<strong>da</strong>s, que as aparências <strong>da</strong>s<br />

dei<strong>da</strong>des não são desagradáveis, que elas não são estranhas nem têm formas<br />

inadequa<strong>da</strong>s, que elas são belas e prazer<strong>os</strong>as de to<strong>da</strong>s as maneiras. Mas, além<br />

disso, é o reconhecimento de que a natureza <strong>da</strong> forma <strong>da</strong> dei<strong>da</strong>de é a<br />

53


encarnação de sua sabe<strong>do</strong>ria. Os corp<strong>os</strong> divin<strong>os</strong> não têm carne e sangue <strong>–</strong><br />

corp<strong>os</strong> gr<strong>os</strong>seir<strong>os</strong> como <strong>os</strong> n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> <strong>–</strong> nem são objet<strong>os</strong> sólid<strong>os</strong> inanimad<strong>os</strong>, como<br />

se f<strong>os</strong>sem feit<strong>os</strong> de terra, pedra ou madeira. São a pura corporificação <strong>da</strong><br />

sabe<strong>do</strong>ria, que significa que são a expressão <strong>da</strong> vacui<strong>da</strong>de em forma de clara e<br />

vívi<strong>da</strong> aparência. Falan<strong>do</strong> em term<strong>os</strong> prátic<strong>os</strong>, quan<strong>do</strong> as estiver visualizan<strong>do</strong>,<br />

você deve vê‐las ou imaginá‐las como aparência vívi<strong>da</strong> <strong>–</strong> com suas cores<br />

distintivas, ornament<strong>os</strong>, cetr<strong>os</strong> e o mais <strong>–</strong> que é, entretanto, sem densa<br />

substanciali<strong>da</strong>de. Sua aparência é lumin<strong>os</strong>a e vívi<strong>da</strong> mas insubstancial, como a<br />

de um arco‐íris. O significa<strong>do</strong> fun<strong>da</strong>mental desse terceiro ponto é que as<br />

divin<strong>da</strong>des são a encarnação em forma de sabe<strong>do</strong>ria, e, portanto, sua forma não<br />

é samsárica em nenhum aspecto <strong>–</strong> não é produzi<strong>da</strong> por nenhuma causa ou<br />

condição liga<strong>da</strong> ao samsara.<br />

Vam<strong>os</strong> parar aqui esta tarde e concluir com a dedicação de mérit<strong>os</strong>.<br />

Quan<strong>do</strong> o fizerem, pensem que dedicam o mérito desta seção ao despertar de<br />

tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres em geral e especialmente, em curto prazo, à liberação deste<br />

mun<strong>do</strong> de to<strong>da</strong>s as formas de <strong>do</strong>enças.<br />

54


O Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong><br />

Da origem d<strong>os</strong> auspíci<strong>os</strong> nas substâncias e n<strong>os</strong> símbol<strong>os</strong><br />

Continuação d<strong>os</strong> ensinament<strong>os</strong> <strong>do</strong> muito venerável Khenchen Thrangu Rinpoche sobre o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>.<br />

Eu g<strong>os</strong>taria de começar desejan<strong>do</strong> a tod<strong>os</strong> um bom dia. Como vocês sem<br />

dúvi<strong>da</strong> notaram, usualmente começo as seções de ensinament<strong>os</strong> com a súplica<br />

curta à linhagem, que começa com as palavras: “Grande Vajradhara” 23 . Usam<strong>os</strong><br />

essa súplica porque é uma <strong>da</strong>s <strong>prática</strong>s mais freqüentes n<strong>os</strong> centr<strong>os</strong> <strong>da</strong> tradição<br />

Kagyü e d<strong>os</strong> praticantes Kagyü em qualquer lugar. Ela foi comp<strong>os</strong>ta por Pengar<br />

Jampal Zangpo, o maior discípulo <strong>do</strong> sexto Gyalwang Karmapa, Thogwa<br />

Dönden, e guru‐raiz <strong>do</strong> sétimo Gyalwang Karmapa, Chödrak Gyamtso. Depois<br />

de receber as instruções <strong>do</strong> sexto Gyalwang Karmapa, Pengar Jampal Zangpo<br />

foi para Lago Celeste, no norte <strong>do</strong> Tibete, para praticar. No meio desse lago,<br />

havia uma ilha chama<strong>da</strong> Semo<strong>do</strong>, que por sua vez tinha uma montanha com<br />

uma caverna. Nessa caverna, extremamente isola<strong>da</strong>, ele praticou por dezoito<br />

an<strong>os</strong>. O isolamento lá é completo, porque é muito difícil chegar até àquela ilha<br />

exceto no meio <strong>do</strong> inverno. Portanto, ele praticou em total isolamento por<br />

dezoito an<strong>os</strong> e desenvolveu uma extraordinária realização <strong>do</strong> Mahamudra. Da<br />

súplica à linhagem, que ele compôs após o perío<strong>do</strong> de retiro, diz‐se que é o<br />

conteú<strong>do</strong> <strong>da</strong> essência e <strong>da</strong> bênção de sua realização, motivo pelo qual nós a<br />

usam<strong>os</strong>. Quan<strong>do</strong> a entoarem, por favor, façam‐no com fé e devoção.<br />

[Rinpoche e alun<strong>os</strong> recitam a súplica.]<br />

23 Nota <strong>do</strong> editor: ver Shenpen Ösel, vol. 3, n.3, PP. 11, para uma tradução para o inglês.<br />

55


Antes de discutir a recitação <strong>do</strong> mantra, eu g<strong>os</strong>taria de me estender sobre<br />

o que eu disse ontem sobre as oferen<strong>da</strong>s. Durante a lição sobre as oito<br />

substâncias auspici<strong>os</strong>as, mencionam<strong>os</strong> a concha e a erva durva, mas eu g<strong>os</strong>taria<br />

de falar sobre a origem d<strong>os</strong> auspíci<strong>os</strong> em ca<strong>da</strong> uma delas com mais detalhes.<br />

A concha branca<br />

A primeira <strong>da</strong>s oferen<strong>da</strong>s é a concha. Imediatamente após o Despertar <strong>do</strong><br />

Bu<strong>da</strong>, ele percebeu que, embora tivesse visto perfeita e completamente a<br />

natureza de to<strong>da</strong>s as coisas, o Dharmata <strong>–</strong> que é profun<strong>do</strong> e tranqüilo e além de<br />

qualquer elaboração <strong>–</strong> se ele tentasse explicar para mais alguém, ninguém seria<br />

capaz de entender. Então, ele decidiu permanecer no samadhi, sozinho na<br />

floresta. Após ter fica<strong>do</strong> lá por quarenta e nove dias, o deus Indra, emanação de<br />

um bodhisattva, apareceu à sua frente e ofereceu‐lhe uma concha branca<br />

espirala<strong>da</strong> no senti<strong>do</strong> horário como uma oferen<strong>da</strong> para encorajar o Bu<strong>da</strong> a<br />

ensinar. Foi em resp<strong>os</strong>ta a essa primeira oferen<strong>da</strong> que o Bu<strong>da</strong> decidiu girar o<br />

Dharmachakra [a Ro<strong>da</strong> <strong>do</strong> Dharma], ou seja, ensinar o Dharma.<br />

O iogurte<br />

A segun<strong>da</strong> substância auspici<strong>os</strong>a é o iogurte. Ele está liga<strong>do</strong> a<strong>os</strong><br />

ensinament<strong>os</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> em razão de que, para praticar o Dharma<br />

adequa<strong>da</strong>mente, precisam<strong>os</strong> aban<strong>do</strong>nar ou transcender <strong>do</strong>is extrem<strong>os</strong> na<br />

condução de n<strong>os</strong>sa vi<strong>da</strong>. Um desses extrem<strong>os</strong> é o he<strong>do</strong>nismo, cujo objetivo é<br />

buscar o máximo de prazer p<strong>os</strong>sível <strong>–</strong> incluin<strong>do</strong> a aquisição de roupas finas,<br />

comi<strong>da</strong> refina<strong>da</strong>, etc. O problema com esse extremo é que, se ele se torna seu<br />

objetivo ou obsessão, não deixa tempo ou energia para a <strong>prática</strong> <strong>do</strong> Dharma.<br />

56


Mas também precisam<strong>os</strong> aban<strong>do</strong>nar o outro extremo, que é a<br />

mortificação <strong>do</strong> corpo 24 , porque a tentativa de alcançar algo pelo tormento ou<br />

privação <strong>do</strong> que o corpo físico precisa não leva ao Despertar, e de fato pode<br />

atrasar o progresso em direção ao desenvolvimento <strong>da</strong> profun<strong>da</strong> visão. De<br />

mo<strong>do</strong> a <strong>da</strong>r o exemplo de que é necessário aban<strong>do</strong>nar o extremo <strong>do</strong> he<strong>do</strong>nismo,<br />

o Bu<strong>da</strong> deixou o palácio de seu pai, que era um rei, e viveu por seis an<strong>os</strong> à beira<br />

<strong>do</strong> rio Naranjana em condições de máxima austeri<strong>da</strong>de. Mas também para<br />

m<strong>os</strong>trar que é necessário aban<strong>do</strong>nar o extremo <strong>da</strong> mortificação, ele aceitou<br />

imediatamente antes de seu Despertar a oferen<strong>da</strong> de uma mistura de iogurte<br />

com leite condensa<strong>do</strong>, que lhe foi <strong>da</strong><strong>do</strong> por uma mulher brâmane de nome<br />

Lekshe. Imediatamente após consumir essa oferta de iogurte, to<strong>da</strong>s as marcas e<br />

sinais <strong>da</strong> perfeição física que a<strong>do</strong>rnam o corpo de um Bu<strong>da</strong>, que de alguma<br />

forma ficaram indistinguíveis durante seus an<strong>os</strong> de austeri<strong>da</strong>des, logo<br />

apareceram nítid<strong>os</strong> e resplandecentes.<br />

A erva durva<br />

A terceira substância auspici<strong>os</strong>a é a erva durva, ofereci<strong>da</strong> ao Bu<strong>da</strong> pelo<br />

jardineiro e vende<strong>do</strong>r chama<strong>do</strong> Tashi <strong>–</strong> que significa auspici<strong>os</strong>o <strong>–</strong> logo antes de<br />

seu Despertar, <strong>do</strong> qual ele fez um assento na forma de um pequeno tapete e no<br />

qual se sentou à época de sua iluminação.<br />

O pigmento vermelho<br />

A quarta substância preci<strong>os</strong>a é o pigmento vermelho. A origem de seus<br />

auspíci<strong>os</strong> é esta: quan<strong>do</strong> o Bu<strong>da</strong> estava no processo de atingir o Despertar, bem<br />

24 Nota <strong>do</strong> editor: isto é, ascetismo extremo.<br />

57


quan<strong>do</strong> ele o estava quase alcançan<strong>do</strong>, o deus Mara apareceu‐lhe, exibin<strong>do</strong><br />

vári<strong>os</strong> tip<strong>os</strong> desagradáveis de demonstrações mágicas a fim de obstruir o Bu<strong>da</strong>,<br />

e finalmente o desafiou, dizen<strong>do</strong>: “Você não conseguirá atingir o Despertar!<br />

Não pode fazer isso!”. Em resp<strong>os</strong>ta, o Bu<strong>da</strong> disse: “Sim, eu p<strong>os</strong>so, porque<br />

completei as duas acumulações durante <strong>os</strong> três períod<strong>os</strong> de inúmer<strong>os</strong> éons”. E<br />

Mara disse: “Bem, quem poderá ser sua testemunha? Quem você pode trazer<br />

para provar isso?”. E então, o Bu<strong>da</strong> estendeu sua mão direita, passan<strong>do</strong> por seu<br />

joelho direito, e tocou o solo. A deusa <strong>da</strong> terra apareceu <strong>do</strong> chão e, oferecen<strong>do</strong> o<br />

pigmento vermelho ao Bu<strong>da</strong>, disse: “Eu sou testemunha de que ele completou<br />

as duas acumulações ao longo d<strong>os</strong> três períod<strong>os</strong> de inumeráveis éons”.<br />

O fruto bilva<br />

A quinta substância auspici<strong>os</strong>a é a fruta bilva. A origem d<strong>os</strong> auspíci<strong>os</strong><br />

dessa fruta é que, quan<strong>do</strong> o Bu<strong>da</strong>, enquanto vivia no complexo de paláci<strong>os</strong> de<br />

seu pai, o rei d<strong>os</strong> Shakyas, percebeu pela primeira vez <strong>os</strong> sofriment<strong>os</strong> <strong>do</strong><br />

nascimento, velhice, <strong>do</strong>ença e morte, e resolveu se liberar deles, ele se dirigiu à<br />

raiz de uma árvore e começou a praticar meditação lá. Nesse perío<strong>do</strong>, ele<br />

desenvolveu um perfeito esta<strong>do</strong> de shamatha, em cujo reconhecimento a deusa<br />

ou o espírito <strong>da</strong> árvore lhe ofereceu uma fruta bilva.<br />

O Bu<strong>da</strong> pratican<strong>do</strong> austeri<strong>da</strong>des<br />

58


O espelho<br />

A sexta substância auspici<strong>os</strong>a é o espelho. A origem de seus auspíci<strong>os</strong> é<br />

que, quan<strong>do</strong> o Bu<strong>da</strong> recebeu e consumiu o iogurte que lhe foi ofereci<strong>do</strong> pela<br />

brâmane Lekshe, sua forma física, extremamente emagreci<strong>da</strong> devi<strong>do</strong> a<strong>os</strong> seis<br />

an<strong>os</strong> de austeri<strong>da</strong>des, restaurou seu pleno vigor e majestade, fazen<strong>do</strong> com que<br />

as trinta e duas marcas e oitenta sinais <strong>da</strong> perfeição física se tornassem vívid<strong>os</strong> e<br />

aparentes, em resp<strong>os</strong>ta a que a deusa <strong>da</strong> forma <strong>–</strong> em cuja história aparece como<br />

uma deusa <strong>do</strong> reino divino d<strong>os</strong> desej<strong>os</strong> <strong>–</strong> surgiu em frente ao Bu<strong>da</strong> e lhe<br />

ofereceu um espelho, a fim de que ele pudesse testemunhar sua própria<br />

majestade física e esplender.<br />

O medicamento extraí<strong>do</strong> <strong>do</strong> cérebro <strong>do</strong> elefante<br />

A sétima substância auspici<strong>os</strong>a é chama<strong>da</strong> givam, uma substância<br />

medicinal deriva<strong>da</strong> de alguma parte <strong>do</strong> corpo de um elefante <strong>–</strong> p<strong>os</strong>sivelmente<br />

de sua vesícula biliar. É auspici<strong>os</strong>a porque comemora a ocasião em que, longo<br />

depois que o Bu<strong>da</strong> despertou, seu primo Deva<strong>da</strong>ta <strong>–</strong> que sempre tentou matar o<br />

Bu<strong>da</strong> ou fazer‐lhe mal, e o tentou por muitas vi<strong>da</strong>s porque era afligi<strong>do</strong> por<br />

grande inveja <strong>–</strong> finalmente tentou assassinar o Bu<strong>da</strong> man<strong>da</strong>n<strong>do</strong> um elefante<br />

enfureci<strong>do</strong> corren<strong>do</strong> pelo caminho em que ele estava caminhan<strong>do</strong>. O Bu<strong>da</strong> fez<br />

surgir dez leões de seus dez ded<strong>os</strong>, o que fez parar o elefante. O elefante então<br />

fez uma reverência ao Bu<strong>da</strong> e ofereceu‐se‐lhe a si mesmo, incluin<strong>do</strong> seu corpo.<br />

Logo, o givam, que é um remédio eficaz, vem <strong>do</strong> corpo <strong>do</strong> elefante, como<br />

lembrança de quan<strong>do</strong> o Bu<strong>da</strong> conquistou a agressão de um elefante<br />

enlouqueci<strong>do</strong>.<br />

59


Os grã<strong>os</strong> branc<strong>os</strong> de m<strong>os</strong>tar<strong>da</strong><br />

A oitava substância auspici<strong>os</strong>a é a semente de m<strong>os</strong>tar<strong>da</strong> branca,<br />

ofereci<strong>da</strong> ao Bu<strong>da</strong> por Vajrapani em um d<strong>os</strong> quinze dias em que Bu<strong>da</strong> exibiu<br />

milagres. À época <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong>, havia seis eminentes professores não<br />

budistas na Índia. Em algum momento, eles se juntaram e, a fim de tentar<br />

desacreditar o Bu<strong>da</strong>, desafiaram‐no a uma competição de milagres. O Bu<strong>da</strong><br />

aceitou 25 , e a competição ocorreu no começo <strong>do</strong> que agora é o primeiro mês d<strong>os</strong><br />

calendári<strong>os</strong> tibetano e asiático. A exibição de milagres <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> aconteceu <strong>do</strong><br />

primeiro ao décimo quinto dias <strong>do</strong> primeiro mês lunar. Pel<strong>os</strong> primeir<strong>os</strong> oito<br />

dias, <strong>os</strong> seis outr<strong>os</strong> professores religi<strong>os</strong><strong>os</strong> que estavam competin<strong>do</strong> ain<strong>da</strong><br />

estavam presentes, mas no oitavo dia, o Bu<strong>da</strong> <strong>os</strong> espantou <strong>da</strong> seguinte maneira:<br />

<strong>do</strong> trono <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong>, surgiu o bodhisattva Vajrapani, acompanha<strong>do</strong> de cinco<br />

assusta<strong>do</strong>res rakshasas. <strong>Ao</strong> vê‐l<strong>os</strong>, <strong>os</strong> seis tirtikas correram o mais que puderam e<br />

nunca mais voltaram. Pelo restante <strong>da</strong> semana, o Bu<strong>da</strong> exibiu milagres sem<br />

qualquer competição. Quan<strong>do</strong> Vajrapani emergiu <strong>do</strong> trono <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong>, ele lhe<br />

ofereceu a semente <strong>da</strong> m<strong>os</strong>tar<strong>da</strong> branca, que, dessa forma, marca a celebração<br />

dessa ocasião.<br />

As oito substâncias auspici<strong>os</strong>as são coisas aparentemente comuns, mas<br />

têm grande significa<strong>do</strong> auspici<strong>os</strong>o porque ca<strong>da</strong> uma comemora uma ocasião<br />

específica liga<strong>da</strong> ao surgimento <strong>do</strong> Dharma neste mun<strong>do</strong>, seu ensinamento, sua<br />

expansão e a demonstração de seu poder e benefíci<strong>os</strong>.<br />

25 Nota <strong>do</strong> editor: é uma história muito interessante, porque o Bu<strong>da</strong> aceitou mas depois<br />

p<strong>os</strong>tergou esse evento por muitas vezes, antes de finalmente aceitar o desafio. Para mais<br />

explicações sobre esse acontecimento, ver o livro de Thich Nhat Hanh, Old path White clouds.<br />

60


O segun<strong>do</strong> conjunto de oferen<strong>da</strong>s são <strong>os</strong> oito sinais, ou marcas,<br />

auspici<strong>os</strong><strong>os</strong> 26 . As marcas ou formas desses itens lembram as formas de certas<br />

partes <strong>do</strong> corpo <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong>, considera<strong>da</strong>s emblemas <strong>do</strong> Buddhadharma.<br />

26 Nota <strong>do</strong> editor: gerealmente chamad<strong>os</strong> de oito símbol<strong>os</strong> auspici<strong>os</strong><strong>os</strong>.<br />

61


O primeiro desses, que mencionei ontem, é o pára‐sol. Sua forma circular<br />

lembra a bela forma arre<strong>do</strong>n<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>da</strong> cabeça <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong>.<br />

O segun<strong>do</strong> sinal ou símbolo é o peixe auspici<strong>os</strong>o; sua forma representa a<br />

d<strong>os</strong> olh<strong>os</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> que estavam meio cerrad<strong>os</strong> quan<strong>do</strong> ele se encontrava em<br />

p<strong>os</strong>tura de meditação.<br />

O terceiro é o vaso auspici<strong>os</strong>o, que representa a garganta <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong>, em<br />

parte por causa <strong>da</strong> forma de seu pescoço, mas também porque <strong>da</strong> garganta <strong>do</strong><br />

Bu<strong>da</strong> emerge o sagra<strong>do</strong> Dharma que, assim como a ambr<strong>os</strong>ia de um vaso<br />

preci<strong>os</strong>o, satisfaz as necessi<strong>da</strong>des de tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres, alivia a sede <strong>do</strong> samsara,<br />

remove o sofrimento, traz a felici<strong>da</strong>de, e é inexaurível.<br />

62


O quarto sinal é a concha, que neste caso representa a palavra <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong>.<br />

Ela é usa<strong>da</strong> como um instrumento musical e como uma trombeta para chamar<br />

pessoas de uma longa distância. É fam<strong>os</strong>a por ter um som alto e claro. Do<br />

mesmo mo<strong>do</strong>, a palavra <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> tem sempre volume apropria<strong>do</strong> e melodia. Se<br />

você está senta<strong>do</strong> perto <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong>, sua voz não soa tão alto, mas se você está mais<br />

distancia<strong>do</strong>, você pode mesmo ouvi‐lo bem.<br />

O quinto é o estan<strong>da</strong>rte vitori<strong>os</strong>o. O preci<strong>os</strong>o estan<strong>da</strong>rte vitori<strong>os</strong>o<br />

representa a adequa<strong>da</strong> e bela quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> forma de um Bu<strong>da</strong> em geral, que é<br />

perfeitamente proporcional. Tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seus membr<strong>os</strong> têm o tamanho ideal em<br />

relação a to<strong>do</strong> o corpo; não é como se ele tivesse uma cabeça enorme e braç<strong>os</strong><br />

bem pequen<strong>os</strong>, ou suas pernas menores ain<strong>da</strong>, ou coisas <strong>do</strong> tipo. Seu corpo é<br />

perfeitamente proporcional.<br />

O sexto é o glori<strong>os</strong>o nó 27 , que representa seu coração, ou mente. Isso não<br />

significa literalmente que ele tenha o desenho de um nó glori<strong>os</strong>o em seu peito,<br />

mas sim que seu coração ou mente sabem tu<strong>do</strong> completa e claramente, sem<br />

qualquer limitação.<br />

27 Nota <strong>do</strong> editor: chama<strong>do</strong> algumas vezes de nó infinito ou nó <strong>da</strong> eterni<strong>da</strong>de.<br />

63


O sétimo é o lótus, que representa a língua <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong>, que é curva, fina e<br />

esguia. Com ela, ele pode falar claramente. Qualquer coisa que ele queira dizer,<br />

sua enunciação é perfeita; além disso, sua língua e saliva melhoram o sabor de<br />

tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> aliment<strong>os</strong>.<br />

O oitavo é a ro<strong>da</strong> auspici<strong>os</strong>a, que podem<strong>os</strong> ver desenha<strong>da</strong> nas solas d<strong>os</strong><br />

pés <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>–</strong> a imagem de uma ro<strong>da</strong> <strong>do</strong>ura<strong>da</strong>. Ela representa o girar <strong>da</strong> ro<strong>da</strong><br />

<strong>do</strong> Dharma, por meio <strong>da</strong> qual <strong>os</strong> seres são liberad<strong>os</strong> 28 .<br />

Devi<strong>do</strong> ao fato de essas oito marcas, ou sinais, serem imagens que aparecem<br />

n<strong>os</strong> corp<strong>os</strong> d<strong>os</strong> Bu<strong>da</strong>s ou lembrem algumas de suas quali<strong>da</strong>des, elas se<br />

tornaram receptácul<strong>os</strong>, nelas e delas mesmas, de auspíci<strong>os</strong> e bon<strong>da</strong>de. Portanto,<br />

acredita‐se que tê‐las em casa, ou trazê‐las consigo, seja bastante auspici<strong>os</strong>o.<br />

Nesta sadhana, nós as oferecem<strong>os</strong> e, por isso, acumulam<strong>os</strong> grandes mérit<strong>os</strong>,<br />

razão pela qual são neutraliza<strong>da</strong>s as circunstâncias desfavoráveis que inibem a<br />

<strong>prática</strong> <strong>do</strong> Dharma para o praticante e para <strong>os</strong> seres em geral.<br />

O terceiro conjunto de oferen<strong>da</strong>s nessa seção <strong>da</strong> <strong>prática</strong> são <strong>os</strong> sete artig<strong>os</strong><br />

reais, <strong>os</strong> quais são, literalmente, coisas (e tip<strong>os</strong> de animais e de pessoas) sempre<br />

encontra<strong>da</strong>s na companhia de um chakravartin, o monarca que governa to<strong>do</strong><br />

um mun<strong>do</strong> ou um universo. Como mencionei ontem, eles correspondem<br />

internamente a<strong>os</strong> sete fatores <strong>do</strong> caminho <strong>do</strong> Despertar, que são as sete<br />

quali<strong>da</strong>des que tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> bu<strong>da</strong>s e bodhisattvas p<strong>os</strong>suem como fatores <strong>da</strong> sua<br />

realização.<br />

28 Nota <strong>do</strong> editor: o ponto de parti<strong>da</strong> para essa descrição é o Bu<strong>da</strong> Shakyamuni, mas devem<strong>os</strong> entender<br />

que esses atribut<strong>os</strong> se encontram igualmente em tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> bu<strong>da</strong>s, masculin<strong>os</strong> e feminin<strong>os</strong>.<br />

64


A preci<strong>os</strong>a jóia que realiza tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> desej<strong>os</strong><br />

O primeiro d<strong>os</strong> sete artig<strong>os</strong> reais é a jóia preci<strong>os</strong>a, que corresponde à<br />

virtude <strong>da</strong> fé. Um bodhisattva deve p<strong>os</strong>suir fé abun<strong>da</strong>nte e excelente pra servir<br />

de solo para o desenvolvimento de to<strong>da</strong>s as boas quali<strong>da</strong>des. O significa<strong>do</strong><br />

disso é que, se alguém tem fé, então to<strong>da</strong>s as outras quali<strong>da</strong>des, como a<br />

estabili<strong>da</strong>de meditativa, a diligência, insight sobre o significa<strong>do</strong> <strong>do</strong> Dharma, e o<br />

mais, definitivamente despertarão, e sobre essa base, pode‐se erradicar tu<strong>do</strong> o<br />

que há para ser transcendi<strong>do</strong> ou aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>.<br />

A ro<strong>da</strong> preci<strong>os</strong>a<br />

O segun<strong>do</strong> ramo <strong>do</strong> Despertar é o conhecimento ou insight, também<br />

chama<strong>do</strong> prajna. D<strong>os</strong> sete artig<strong>os</strong> reais, o conhecimento corresponde à ro<strong>da</strong><br />

preci<strong>os</strong>a, que permite ao chakravartin vencer tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> tip<strong>os</strong> de invasões ou<br />

guerras. Igualmente, é o conhecimento, ou prajna, que n<strong>os</strong> dá condições de<br />

conquistar <strong>os</strong> kleshas e a ignorância 29 .<br />

29 Nota <strong>do</strong> editor: é importante entender que o termo prajna inclui em si as noções de<br />

conhecimento, sabe<strong>do</strong>ria e consciência primordial, ou transcendental, que é a mais alta forma<br />

de prajna. Conhecimento terreno <strong>–</strong> medicina, literatura, gerência de negóci<strong>os</strong>, economia ou<br />

antropologia <strong>–</strong> é uma forma de prajna. O conhecimento d<strong>os</strong> ensinament<strong>os</strong> de Bu<strong>da</strong> e de outr<strong>os</strong><br />

seres iluminad<strong>os</strong> é a prajna espiritual. Amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> tip<strong>os</strong> de prajna, terreno e espiritual, baseiam‐se<br />

na aquisição de informação e, embora tenham bastantes benefíci<strong>os</strong> prátic<strong>os</strong>, não poderão, por si<br />

só, liberar <strong>os</strong> seres <strong>da</strong>s causas‐raiz <strong>do</strong> sofrimento. Apenas a mais alta forma de prajna, a jnana <strong>–</strong><br />

65


Os brinc<strong>os</strong> <strong>da</strong> preci<strong>os</strong>a rainha<br />

O terceiro ramo <strong>do</strong> Despertar é o samadhi, ou absorção meditativa, que<br />

serve como o solo necessário para o conhecimento, ou prajna. Se a prajna for<br />

enraiza<strong>da</strong> no samadhi, então ela será tranqüila, efetiva, apropria<strong>da</strong> e correta. Se<br />

não o for, então ela se desviará <strong>do</strong> caminho, será incorreta e correrá solta,<br />

loucamente, tornan<strong>do</strong>‐se assim mais um problema que um benefício. O terceiro<br />

artigo real é a consorte <strong>do</strong> monarca, que serve para mantê‐lo no caminho,<br />

pacificá‐lo e treiná‐lo. Portanto, a consorte corresponde ao samadhi.<br />

Os brinc<strong>os</strong> <strong>do</strong> preci<strong>os</strong>o ministro<br />

O quarto ramo <strong>do</strong> Despertar é a alegria, que surge <strong>da</strong> correta presença e<br />

aplicação de amb<strong>os</strong> samadhi e prajna. Alegria, aqui, refere‐se, por exemplo,<br />

àquela <strong>da</strong> realização <strong>do</strong> primeiro nível de bodhisattva, chama<strong>do</strong> de Extrema<br />

Alegria. D<strong>os</strong> sete artig<strong>os</strong> reais, a alegria corresponde ao preci<strong>os</strong>o ministro. Em<br />

muitas citações, esse ministro é o que dá sábi<strong>os</strong> conselh<strong>os</strong> ao monarca e, por<br />

isso, promove alegria. Às vezes, a alegria é também chama<strong>da</strong> de preci<strong>os</strong>o<br />

guardião <strong>da</strong> casa, que é um súdito <strong>do</strong> rei que também lhe oferece conselh<strong>os</strong><br />

apropriad<strong>os</strong>.<br />

O chifre <strong>do</strong> preci<strong>os</strong>o Unicórnio (ou cavalo)<br />

consciência primordial, que é livre <strong>da</strong> imp<strong>os</strong>ição sobre a experiência de alguém que percebe e<br />

<strong>do</strong> que é percebi<strong>do</strong> <strong>–</strong> poderá liberar <strong>os</strong> seres <strong>da</strong>s causas‐raiz <strong>do</strong> sofrimento.<br />

66


O quinto ramo <strong>do</strong> Despertar é a diligência e corresponde ao preci<strong>os</strong>o<br />

cavalo excelente. Assim como um ótimo cavalo leva o monarca aonde ele deseja<br />

ir, e com grande veloci<strong>da</strong>de, também a p<strong>os</strong>se <strong>da</strong> diligência permite ao<br />

bodhisattva <strong>cultivar</strong> as quali<strong>da</strong>des <strong>do</strong> samadhi ou prajna e, por meio deles,<br />

erradicar <strong>os</strong> kleshas e aumentar to<strong>da</strong>s as quali<strong>da</strong>des p<strong>os</strong>itivas.<br />

As presas <strong>do</strong> preci<strong>os</strong>o elefante<br />

O sexto artigo real é o preci<strong>os</strong>o elefante. Seu significa<strong>do</strong> é que ele é<br />

extremamente pacífico e dócil, de forma que representa a facul<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

consciência, que é a mente tranqüila e sempre atenta ao que se passa na mente e<br />

nas ações.<br />

O broche <strong>do</strong> preci<strong>os</strong>o general<br />

O sétimo e último ramo <strong>do</strong> Despertar é a equanimi<strong>da</strong>de, um esta<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

mente em que o bodhisattva está livre <strong>da</strong>s aflições <strong>do</strong> apego a algumas coisas e<br />

<strong>da</strong> aversão a outras. Pela facul<strong>da</strong>de <strong>da</strong> equanimi<strong>da</strong>de, o bodhisattva supera a<br />

guerra d<strong>os</strong> kleshas. D<strong>os</strong> sete artig<strong>os</strong> reais, é representa<strong>da</strong> como o preci<strong>os</strong>o<br />

general, porque ele vence as guerras e as agressões. Esses são, então, <strong>os</strong> sete<br />

artig<strong>os</strong> reais, oferecid<strong>os</strong> como símbol<strong>os</strong> d<strong>os</strong> sete ram<strong>os</strong>, ou fatores, <strong>do</strong><br />

Despertar.<br />

67


Externamente, oferecem‐se simbolicamente <strong>os</strong> sete artig<strong>os</strong> reais, mas<br />

internamente, oferecem‐se <strong>os</strong> sete ram<strong>os</strong> <strong>do</strong> Despertar. Oferecê‐l<strong>os</strong> significa<br />

<strong>cultivar</strong> essas virtudes em si mesmo. <strong>Ao</strong> fazê‐lo, entra‐se no ver<strong>da</strong>deiro e<br />

genuíno caminho que leva ao Despertar, que é a coisa mais prazer<strong>os</strong>a de to<strong>da</strong>s<br />

para tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> Bu<strong>da</strong>s e bodhisattvas. O cultivo dessas e de outras virtudes é a<br />

oferen<strong>da</strong> última ou a mais ver<strong>da</strong>deira <strong>da</strong>s oferen<strong>da</strong>s a<strong>os</strong> bu<strong>da</strong>s e a<strong>os</strong><br />

bodhisattvas, motivo pela qual são ofereci<strong>da</strong>s a esta altura <strong>da</strong> <strong>prática</strong>.<br />

Em segui<strong>da</strong>, chegam<strong>os</strong> à visualização que acompanha a recitação <strong>do</strong><br />

mantra. O texto n<strong>os</strong> diz para visualizar, no centro <strong>do</strong> coração de nós mesm<strong>os</strong><br />

como Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> e no centro <strong>do</strong> coração <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> <strong>da</strong><br />

visualização frontal, a sílaba‐semente HUM, cerca<strong>da</strong> pela guirlan<strong>da</strong> <strong>do</strong> mantra.<br />

Em detalhe, devem<strong>os</strong> visualizar o disco lunar <strong>–</strong> um disco de luz branca que<br />

representa a lua <strong>–</strong> deita<strong>do</strong> no centro <strong>do</strong> n<strong>os</strong>so corpo, no nível <strong>do</strong> coração. Ereta,<br />

sobre esse disco, está a sílaba‐semente <strong>da</strong> dei<strong>da</strong>de, o HUM azul, que representa<br />

sua mente, ou sabe<strong>do</strong>ria. Em volta <strong>do</strong> HUM, visualizam<strong>os</strong> a guirlan<strong>da</strong> <strong>do</strong><br />

mantra, <strong>da</strong> qual emanam rai<strong>os</strong> de luz, e assim por diante 30 .<br />

2.$- 3./- ,$?- !- =- }$?- UJ%- $A?-2 {R


+H- ,;


itmo na visualização, você desenvolverá uma confiança real, e um sentimento<br />

real de bênçã<strong>os</strong> entran<strong>do</strong> em você.<br />

Quan<strong>do</strong> você recebe as bênçã<strong>os</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, e d<strong>os</strong> Bu<strong>da</strong>s e<br />

bodhisattvas em geral, várias coisas desagradáveis <strong>–</strong> obstácul<strong>os</strong>, <strong>do</strong>enças,<br />

perturbações demoníacas <strong>–</strong> serão pacifica<strong>da</strong>s, e a compaixão, a fé, a devoção, o<br />

insight e o mais florescerão e aumentarão. Com o objetivo de praticar a<br />

recepção de bênçã<strong>os</strong> de mo<strong>do</strong> mais efetivo, é uma boa idéia focar as bênçã<strong>os</strong> em<br />

qualquer que seja que o esteja afligin<strong>do</strong> em um momento particular. Por<br />

exemplo, se você está ten<strong>do</strong> algum problema físico <strong>–</strong> uma <strong>do</strong>ença, o que quer<br />

que seja <strong>–</strong> ou um problema mental <strong>–</strong> um klesha, um tipo de stress, preocupações<br />

<strong>–</strong> você pode pensar que as bênçã<strong>os</strong> caem sobre elas. Você pode pensar na<br />

remoção <strong>da</strong>s más ações e d<strong>os</strong> obscureciment<strong>os</strong> em geral, mas especialmente no<br />

que considera como sen<strong>do</strong> a maior preocupação <strong>do</strong> momento. Por exemplo,<br />

você pode pensar que lhe falta uma quali<strong>da</strong>de específica, seja insight,<br />

compaixão ou fé, você pode pensar que as bênçã<strong>os</strong> servem para promover essa<br />

quali<strong>da</strong>de que você sente que lhe falta. Sinta que, pela absorção dessas bênçã<strong>os</strong>,<br />

você de fato se enche dessa quali<strong>da</strong>de como se f<strong>os</strong>se uma substância de que seu<br />

corpo é realmente repleto.<br />

Estas visualizações são para a <strong>prática</strong> usual, formal, <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>. Em seu livro Mountain Dharma: instructions for retreat, Karma Chakme<br />

Rinpoche recomen<strong>da</strong> a seguinte visualização para um ver<strong>da</strong>deiro alívio <strong>da</strong><br />

<strong>do</strong>ença. Você pode visualizar a si mesmo como Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, se desejar,<br />

mas o foco principal é realmente visualizar um Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> em tamanho<br />

pequeno, não maior que a altura de cinco ded<strong>os</strong> junt<strong>os</strong>, bem na parte de seu<br />

corpo que está sen<strong>do</strong> afligi<strong>da</strong>. Se é uma <strong>do</strong>ença ou <strong>do</strong>r na cabeça, visualize um<br />

pequeno Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> na cabeça; se é na mão, visualize‐o na mão; se no<br />

pé, visualize‐o lá. Visualize o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> no lugar e pense que dessa<br />

forma pequena, porém vívi<strong>da</strong>, emitem‐se rai<strong>os</strong> de luz. Esses não são<br />

simplesmente luz, que é seca, mas uma luz líqui<strong>da</strong> com a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

ambr<strong>os</strong>ia. Essa ambr<strong>os</strong>ia lumin<strong>os</strong>a ou luz líqui<strong>da</strong> de fato limpa e remove a<br />

<strong>do</strong>ença ou a <strong>do</strong>r <strong>–</strong> o que quer que seja. Você pode fazer isso não apenas para<br />

você, mas também para outr<strong>os</strong>, visualizan<strong>do</strong> o pequeno Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> na<br />

parte específica de seus corp<strong>os</strong>. O mesmo ocorre para a irradiação de rai<strong>os</strong> de<br />

luz de ambr<strong>os</strong>ia, e o mais.<br />

Isso pode ser aplica<strong>do</strong> não apenas para a <strong>do</strong>ença física mas também em<br />

problemas mentais. Se você quer se livrar de um tipo particular de ansie<strong>da</strong>de,<br />

stress, depressão, me<strong>do</strong> ou qualquer outro tipo de experiência mental<br />

desagradável, você pode visualizar o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> senta<strong>do</strong> sobre o topo<br />

de sua cabeça e pensar que, <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong> como dito anteriormente, uma<br />

ambr<strong>os</strong>ia lumin<strong>os</strong>a ou luz líqui<strong>da</strong> emerge <strong>do</strong> corpo dele, enchen<strong>do</strong> seu corpo e<br />

limpan<strong>do</strong>‐lhe de qualquer problema, o que quer que seja.<br />

Você pode pensar que tu<strong>do</strong> isso soa um pouco infantil, mas isso de fato<br />

funciona, e você poderá descobrir se experimentar.<br />

70


Em segui<strong>da</strong> à recitação <strong>do</strong> mantra, vem a conclusão <strong>da</strong> <strong>prática</strong>.<br />

#A$- v%- !/- 2>$?- .$J- 2- L%- (2- 2} R;<br />

/.- $.R/- #$- 2}=- V=- 2:A- 2N- >A?- >R$;<br />

Confesso to<strong>da</strong>s as negativi<strong>da</strong>des e que<strong>da</strong>s e dedico to<strong>da</strong> virtude ao Despertar.<br />

Que haja a auspici<strong>os</strong>a liberação d<strong>os</strong> sofriment<strong>os</strong>, <strong>do</strong>enças e influências<br />

negativas.<br />

Primeiro, vem a confissão d<strong>os</strong> err<strong>os</strong>. Com uma atitude de<br />

arrependimento pelo que quer que tenha feito de erra<strong>do</strong> ou inapropria<strong>do</strong>, você<br />

simplesmente diz: “Confesso tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> err<strong>os</strong> e que<strong>da</strong>s”. Imediatamente depois,<br />

você dedica <strong>os</strong> mérit<strong>os</strong> ou virtudes <strong>da</strong> <strong>prática</strong> ao Despertar de tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres,<br />

dizen<strong>do</strong>: “e dedico to<strong>da</strong> virtude ao Despertar”. Então, você faz a aspiração<br />

auspici<strong>os</strong>a que dá foco à sua dedicatória, dizen<strong>do</strong>: “por essa dedicação de<br />

mérito, que haja liberação de <strong>do</strong>enças, espírit<strong>os</strong> malign<strong>os</strong> e sofrimento para<br />

tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres”.<br />

Em segui<strong>da</strong>, vem a dissolução <strong>da</strong> man<strong>da</strong>la:<br />

:)A$- gJ/- 0- i3?- J?- .3- 5B$- z- i3?- 2.$- =- ,A3;<br />

!- .$- !/- 29%- [R%- .- AJ- 3- @R;<br />

Os mun<strong>da</strong>n<strong>os</strong> retornam a<strong>os</strong> seus lugares. As divin<strong>da</strong>des <strong>da</strong><br />

Sabe<strong>do</strong>ria e d<strong>os</strong> Compromiss<strong>os</strong> se dissolvem em mim e eu me<br />

dissolvo na expansão de to<strong>do</strong> o Bem, Pureza Primordial.<br />

E Ma Ho!<br />

Primeiro, há uma solicitação dirigi<strong>da</strong> às divin<strong>da</strong>des mun<strong>da</strong>nas, que é<br />

segui<strong>da</strong> <strong>da</strong> dissolução <strong>da</strong> auto‐visualização e <strong>da</strong> visualização frontal <strong>da</strong>s<br />

divin<strong>da</strong>des de sabe<strong>do</strong>ria. Quan<strong>do</strong> você diz: “<strong>os</strong> mun<strong>da</strong>n<strong>os</strong> retornam a seus<br />

própri<strong>os</strong> mund<strong>os</strong>, vajramu”, você pensa que <strong>os</strong> dez protetores <strong>da</strong>s dez direções,<br />

<strong>os</strong> <strong>do</strong>ze chefes Yakshas e <strong>os</strong> quatro grandes reis <strong>–</strong> to<strong>da</strong>s as divin<strong>da</strong>des<br />

mun<strong>da</strong>nas que circun<strong>da</strong>m a visualização frontal <strong>–</strong> retornam ao lugar em que<br />

residem 31 . Restam apenas <strong>os</strong> oito bu<strong>da</strong>s <strong>da</strong> medicina e <strong>os</strong> dezesseis bodhisattvas<br />

na visualização frontal. Essas divin<strong>da</strong>des, que são as dei<strong>da</strong>des <strong>da</strong> sabe<strong>do</strong>ria<br />

31 Nota <strong>do</strong> editor: o que o tradutor aqui chama de divin<strong>da</strong>des mun<strong>da</strong>nas (de fato, se conhecêssem<strong>os</strong> um<br />

deles, imagina‐se que não se poderia considerá‐l<strong>os</strong> terren<strong>os</strong>, <strong>da</strong> mesma forma que, se encontrássem<strong>os</strong> o<br />

Flash Gor<strong>do</strong>n ou o Darth Vader, nós dificilmente <strong>os</strong> consideraríam<strong>os</strong> assim) são freqüentemente chama<strong>da</strong>s<br />

de divin<strong>da</strong>des desse mun<strong>do</strong>, o que significa que, embora se diga que eles resi<strong>da</strong>m n<strong>os</strong> rein<strong>os</strong> divin<strong>os</strong> e que<br />

sejam bastante poder<strong>os</strong><strong>os</strong>, eles não são iluminad<strong>os</strong>. Os budistas reconhecem a reali<strong>da</strong>de relativa dessas<br />

dei<strong>da</strong>des, fazem‐lhes oferen<strong>da</strong>s para agradá‐l<strong>os</strong>, pedem‐lhes gentilmente que não perturbem <strong>os</strong><br />

praticantes <strong>do</strong> Dharma, pedem‐lhes sua proteção, até mesmo às vezes lhes pedem para aju<strong>da</strong>r com o<br />

tempo, mas nunca tomam refúgio nelas, porque elas mesmas não estão libera<strong>da</strong>s <strong>do</strong> samsara.<br />

71


incorporan<strong>do</strong> suas imagens visualiza<strong>da</strong>s 32 , se dissolvem no coração <strong>da</strong> auto‐<br />

visualização. Então, a auto‐visualização a<strong>os</strong> pouc<strong>os</strong> se dissolve em luz e na<br />

expansão <strong>da</strong> vacui<strong>da</strong>de, em cujo momento você diz: “e eu me dissolvo na<br />

expansão <strong>da</strong> pureza primordial de to<strong>da</strong> a bon<strong>da</strong>de”. Neste ponto, você repousa<br />

sua mente na experiência <strong>da</strong> vacui<strong>da</strong>de.<br />

To<strong>da</strong>s as <strong>prática</strong>s de yi<strong>da</strong>m incluem <strong>do</strong>is estági<strong>os</strong>: o estágio de geração e<br />

o estágio <strong>da</strong> conclusão. Tu<strong>do</strong>, até agora <strong>–</strong> a visualização <strong>da</strong>s formas <strong>da</strong>s<br />

divin<strong>da</strong>des, a apresentação de oferen<strong>da</strong>s e o mais, a recitação <strong>do</strong> mantra que<br />

acompanha as visualizações <strong>–</strong> são tod<strong>os</strong> aspect<strong>os</strong> <strong>da</strong> <strong>prática</strong> <strong>do</strong> estágio de<br />

geração. Quan<strong>do</strong>, em segui<strong>da</strong> à dissolução <strong>da</strong> visualização, você descansa sua<br />

mente na vacui<strong>da</strong>de, essa é a <strong>prática</strong> <strong>do</strong> estágio <strong>da</strong> compleição. É por meio <strong>da</strong><br />

<strong>prática</strong> desses <strong>do</strong>is estági<strong>os</strong> que você de fato realiza o Dharmata, a natureza <strong>da</strong>s<br />

coisas. Visualizações e outras <strong>prática</strong>s <strong>do</strong> estágio de geração agem para<br />

enfraquecer <strong>os</strong> kleshas, enquanto as <strong>prática</strong>s <strong>do</strong> estágio de compleição, que<br />

incluem as <strong>prática</strong>s de shamata e vipashyana, servem para erradicá‐l<strong>os</strong>.<br />

Mencionei ontem que há três <strong>prática</strong>s de Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> usa<strong>da</strong>s em<br />

n<strong>os</strong>sa tradição <strong>–</strong> uma longa, uma média e uma curta <strong>–</strong> e que esta é a curta.<br />

Embora seja curta, é, no entanto, considera<strong>da</strong> a mais eficaz. As formas longa e<br />

média são inteiramente orienta<strong>da</strong>s para <strong>os</strong> sutras tanto no estilo quanto no<br />

conteú<strong>do</strong>. Esta <strong>prática</strong> é uma mistura <strong>da</strong> tradição <strong>do</strong> sutra e <strong>da</strong> tradição tântrica,<br />

ou Vajrayana. Portanto, embora tenha a liturgia mais curta, é a mais completa,<br />

porque tem as visualizações mais elabora<strong>da</strong>s.<br />

Nas formas longa e média <strong>da</strong> <strong>prática</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, devi<strong>do</strong> ao<br />

fato de terem uma abor<strong>da</strong>gem orienta<strong>da</strong> a<strong>os</strong> sutras, existe uma meditação<br />

preliminar na vacui<strong>da</strong>de, após a qual você imagina um palácio ou mora<strong>da</strong> para<br />

a visualização frontal e então convi<strong>da</strong> as dei<strong>da</strong>des a ficarem lá. Não há o<br />

desenvolvimento detalha<strong>do</strong> <strong>da</strong> forma <strong>da</strong>s divin<strong>da</strong>des, nem a auto‐visualização,<br />

porque está volta<strong>da</strong> a<strong>os</strong> sutras. Essa <strong>prática</strong> que estam<strong>os</strong> usan<strong>do</strong> inclui a <strong>prática</strong><br />

Vajrayana <strong>da</strong> auto‐visualização e seus detalhes precis<strong>os</strong>. Logo, é considera<strong>da</strong><br />

mais eficaz, mais poder<strong>os</strong>a.<br />

Pergunta: Rinpoche, eu fiquei interessa<strong>do</strong> em ouvir sobre as diferentes elaborações d<strong>os</strong><br />

sete artig<strong>os</strong> <strong>da</strong> oferen<strong>da</strong> de man<strong>da</strong>la. Fiz a oferen<strong>da</strong> de man<strong>da</strong>la na minha <strong>prática</strong> de<br />

ngöndro e nela as oferen<strong>da</strong>s parecem ser muito mais concretas que as descrições d<strong>os</strong><br />

mesm<strong>os</strong> artig<strong>os</strong> que ouvim<strong>os</strong> de você mais ce<strong>do</strong> hoje. Sua descrição d<strong>os</strong> sete artig<strong>os</strong> <strong>do</strong><br />

chakravartin as apresentou mais como representações simbólicas. Existem <strong>prática</strong>s em<br />

que elas são mais concretas? Há <strong>prática</strong>s diferentes? Elas são pont<strong>os</strong> de vista<br />

diferentes? Elas vêm d<strong>os</strong> sutras, d<strong>os</strong> comentári<strong>os</strong>, <strong>do</strong> Vajrayana? Ou elas variam a<br />

depender <strong>da</strong> pessoa? Eu também tenho uma pergunta particular sobre a pessoa <strong>do</strong><br />

chakravartin, o monarca universal. Aqui no Ocidente, estejam<strong>os</strong> errad<strong>os</strong> ou cert<strong>os</strong>,<br />

tem<strong>os</strong> a noção de que a democracia é o melhor caminho. Estou pensan<strong>do</strong> <strong>–</strong> esse<br />

chakravartin parece ser um ser maravilh<strong>os</strong>o, seja homem ou mulher <strong>–</strong> você não<br />

mencionou nenhum gênero em particular <strong>–</strong> essa pessoa parece precisar de aju<strong>da</strong> com a<br />

fé, com a estabili<strong>da</strong>de, com o esforço, com muitas quali<strong>da</strong>des diferentes. Nós aqui no<br />

32 Nota <strong>do</strong> editor: por exemplo, <strong>os</strong> jnanasattvas e <strong>os</strong> samayasattvas.<br />

72


Ocidente aprendem<strong>os</strong> que tal espécie de monarca ou governante universal<br />

normalmente resulta em engano. Você poderia me dizer o que tem esse chakravartin<br />

de diferente que torna seu governo tão bem sucedi<strong>do</strong>, uma vez que não tivem<strong>os</strong> essa<br />

experiência?<br />

Rinpoche: Com relação a sua primeira pergunta, a correspondência entre <strong>os</strong> sete<br />

artig<strong>os</strong> reais, com as p<strong>os</strong>ses características de um chakravartin, e <strong>os</strong> sete ram<strong>os</strong> <strong>do</strong><br />

Despertar <strong>–</strong> que são recurs<strong>os</strong> necessári<strong>os</strong> no caminho <strong>do</strong> bodhisattva <strong>–</strong> é padrão. Em<br />

cas<strong>os</strong> em que o significa<strong>do</strong> simbólico <strong>da</strong> oferen<strong>da</strong> d<strong>os</strong> sete artig<strong>os</strong> reais não é explica<strong>da</strong>,<br />

significa simplesmente que é uma explicação mais breve <strong>do</strong> significa<strong>do</strong> <strong>da</strong>quela<br />

oferen<strong>da</strong>. Essa correspondência realmente funciona em tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seus us<strong>os</strong> como<br />

substâncias ou itens de oferen<strong>da</strong>s. Quanto à sua segun<strong>da</strong> pergunta, o chakravartin<br />

apenas aparece em cert<strong>os</strong> períod<strong>os</strong> <strong>da</strong> História, chamad<strong>os</strong> de melhores temp<strong>os</strong> ou<br />

melhores eras. O que distingue o chakravartin de um tipo de dita<strong>do</strong>r cósmico é o<br />

surgimento <strong>do</strong> chakravartin na socie<strong>da</strong>de humana nestes moment<strong>os</strong> como uma solução<br />

para <strong>os</strong> problemas, ao invés <strong>do</strong> início deles. Um chakravartin aparece em um tempo em<br />

que há uma disputa sobre quem deve liderar a socie<strong>da</strong>de. O chakravartin não está<br />

particularmente ansi<strong>os</strong>o por fazê‐lo, mas é altruísta, capaz e aclama<strong>do</strong> pela socie<strong>da</strong>de<br />

como um to<strong>do</strong>, que o coloca em sua p<strong>os</strong>ição de autori<strong>da</strong>de. Agora, é de fato p<strong>os</strong>sível<br />

que, após o reina<strong>do</strong> de um chakravartin, se uma dinastia se estabelece, as coisas podem<br />

degenerar, como indica sua pergunta. Mas então eles já não mais seriam chakravartins.<br />

Pergunta: Então, você está dizen<strong>do</strong> que pode haver uma mulher como monarca<br />

universal, uma chakravartini?<br />

Rinpoche: Sim, claro.<br />

Pergunta: Qual é o nome sânscrito para Sangye Menla?<br />

Tradutor: O nome mais comum encontra<strong>do</strong> n<strong>os</strong> sutras é Bhaishajyai Guru, que quer<br />

dizer o que ensina a medicina. É traduzi<strong>do</strong> para o tibetano como Mengyi Lama, ou só<br />

Menla. É por isso que o chamam<strong>os</strong> de Sangye Menla, ou Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>. Menla<br />

literalmente quer dizer guru <strong>da</strong> medicina.<br />

Pergunta: Rinpoche, muitas vezes você falou sobre como, de certo mo<strong>do</strong>, to<strong>da</strong>s essas<br />

<strong>prática</strong>s são um pano de fun<strong>do</strong> para o que a <strong>prática</strong> realmente é, que é a fé e a devoção<br />

de que a <strong>prática</strong> de fato funcionará. Parece que to<strong>da</strong>s essas <strong>prática</strong>s, de certo mo<strong>do</strong>,<br />

poderiam se concentrar em intensificá‐las. Você diz “súplica intensa” e houve<br />

moment<strong>os</strong> em minhas <strong>prática</strong>s em que isso apareceu e eu senti o fervor <strong>da</strong> fé. Em<br />

outr<strong>os</strong> moment<strong>os</strong>, eu g<strong>os</strong>taria de poder tê‐lo, porque eu realmente estava precisan<strong>do</strong>.<br />

Você fala sobre gerar bodhicitta, gerar fé. O que é esse processo de geração? Eu p<strong>os</strong>so<br />

até chegar a pensar sobre isso, mas há também uma dúvi<strong>da</strong> resistente e um cinismo<br />

permanente... eu venho de um certo tipo de cultura de dúvi<strong>da</strong> e de questionamento e<br />

de fil<strong>os</strong>ofia inútil, então é bastante difícil para mim que eu fale desses conceit<strong>os</strong> com fé<br />

absoluta. Qual é o méto<strong>do</strong> de gerar fé intensa?<br />

Rinpoche: A abor<strong>da</strong>gem é tentar desenvolver uma fé informa<strong>da</strong>. Ela vem com a<br />

investigação. Pela investigação <strong>do</strong> significa<strong>do</strong> <strong>do</strong> Dharma você descobre razões váli<strong>da</strong>s<br />

<strong>do</strong> porquê é apropria<strong>do</strong> ter fé nele. Isso naturalmente tornará a fé uma questão de bom<br />

senso.<br />

73


Pergunta: Rinpoche, qual é a tradução <strong>do</strong> mantra? E quan<strong>do</strong> param as visualizações<br />

<strong>da</strong>s bênçã<strong>os</strong> vin<strong>do</strong> na forma de pequen<strong>os</strong> bu<strong>da</strong>s <strong>da</strong> medicina, e <strong>da</strong> tigela de<br />

mendicância, e <strong>da</strong> fruta e <strong>do</strong> mantra? E quan<strong>do</strong> elas param, ain<strong>da</strong> não é a dissolução,<br />

não é isso? Em que estam<strong>os</strong> repousan<strong>do</strong> neste momento?<br />

Tradutor: Você se refere ao momento em que a desci<strong>da</strong> <strong>da</strong>s bênçã<strong>os</strong> termina, antes de<br />

você dissolver a visualização?<br />

Pergunta: Sim.<br />

Rinpoche: O mantra que você recita é basicamente uma elaboração <strong>do</strong> nome <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>. É mais ou men<strong>os</strong> como recitar o nome dele em sânscrito. O ponto em que<br />

você pára de visualizar as bênçã<strong>os</strong> <strong>do</strong> corpo, <strong>da</strong> palavra e <strong>da</strong> mente sen<strong>do</strong> absorvi<strong>da</strong>s<br />

em você por várias vezes só depende de você. Você pode continuar essa visualização<br />

enquanto durar a recitação <strong>do</strong> mantra, caso em que não existe muita distinção entre ela<br />

e a dissolução <strong>da</strong> man<strong>da</strong>la. Ou, de temp<strong>os</strong> em temp<strong>os</strong>, você pode parar de fazer a<br />

visualização e apenas repousar em devoção. Não é o caso de você precisar despender<br />

absolutamente ca<strong>da</strong> instante de recitação <strong>do</strong> mantra dissolven<strong>do</strong> coisas em você.<br />

Enquanto houver fé e devoção, então ela não precisa ser constante.<br />

Pergunta: Esse é o melhor mantra pra ser usa<strong>do</strong> para animais que estão morren<strong>do</strong>, e o<br />

que dizer sobre <strong>os</strong> animais que morreram recentemente, talvez de forma rápi<strong>da</strong>?<br />

Rinpoche: Também beneficiará um animal que tenha morri<strong>do</strong> recentemente; mas será<br />

mais eficaz, claro, se recita<strong>do</strong> para animais antes que eles morram. Mas eles também se<br />

beneficiarão depois.<br />

Pergunta: Rinpoche, obriga<strong>da</strong> pelo ensinamento. Da<strong>da</strong>s as aspirações <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>, seria apropria<strong>do</strong> ter uma representação sua no coração <strong>da</strong> casa, a sala <strong>da</strong><br />

família, e particularmente se o resto <strong>da</strong> família pensa que a mãe é completamente<br />

maluca? [ris<strong>os</strong>]. E ain<strong>da</strong>, eu ouvi que se deve recitar om mani peme hung perto de<br />

animais que estão morren<strong>do</strong> ou que morreram. Seria mais apropria<strong>do</strong> recitar o mantra<br />

<strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>?<br />

Rinpoche: Recitar om mani peme hung ou o nome <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> ou seu mantra<br />

para um animal que está morren<strong>do</strong> terá praticamente o mesmo benefício, então você<br />

escolhe. Amb<strong>os</strong> Avalokiteshvara e o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> fizeram aspirações específicas<br />

de beneficiar <strong>os</strong> seres. Não importa, qualquer um deles é bom. Com relação à sua<br />

primeira pergunta, sobre se colocar uma enorme imagem <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> no<br />

centro de sua casa traria benefíci<strong>os</strong> de longo prazo para seus familiares, sim, mas como<br />

sua pergunta indica, também poderia criar mais problemas no curto prazo.<br />

Especificamente, pode criar mais resistência. Provavelmente, seria melhor permitir que<br />

sua família encontrasse o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> de forma, digam<strong>os</strong>, quase que acidental,<br />

ao invés de tê‐lo estampa<strong>do</strong> em sua cara.<br />

Pergunta: Uma pequena thangka na parede seria melhor?<br />

Rinpoche: Se não causar desarmonia no lar, então é claro que seria bom. Mas se criar<br />

desarmonia, então é melhor que eles a encontrem em algum lugar fora <strong>da</strong> casa.<br />

Vam<strong>os</strong> terminar aqui por esta manhã e concluir com a dedicação de mérit<strong>os</strong>.<br />

74


Ritual de Sanguie Menla<br />

75


!, ,$- :A- 5B$- 2./- $?R=- :.J2- LA/- _2?- 3A/- 1%- .%R?- P2- (


$-


,$?R=- :.J2?- /A,<br />

Prece<br />

/- 3R- SNF- !K- 3- @-


,:)3?- .0=- *2?- PR=- K$ - /- hR- eJ- :6B/, ,5%?- .2%- o- LA/- KR$?- 28A:A- o=- 0R- 28A,<br />

,$/R.- .A/- #J- .0R/-(J/- 0R-2&- $*A?- ?R$?, ,.GA=- :#RJ$?- 0- 2./- IA-(R/- =3-3.R, ,(/- IA- z- ;A- 3.R- #J- *A.- .%- /A,<br />

,3#/- (J/- 8A- 2- :5S?- 36.- $8%?- =- ?R$?, ,.3-(R? - \J$?- 23- 5S$?- =- $?R=- 2- :.J2?,<br />

Oro ao Sutra <strong>da</strong>s Aspirações d<strong>os</strong> Sete Tathagatas, às classes d<strong>os</strong> Sutras <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>, a<strong>os</strong> tratad<strong>os</strong> <strong>do</strong> erudito Shantarakshita, e a<strong>os</strong> demais, à coleção d<strong>os</strong> text<strong>os</strong> <strong>do</strong><br />

Santo Dharma.<br />

,2R- KA- ?-


O rio de lápis‐lazúli<br />

Ritual de Menla, extraí<strong>do</strong> <strong>do</strong> Nam Tcho Gni,<br />

comp<strong>os</strong>ição retira<strong>da</strong> <strong>do</strong> Claro <strong>do</strong>mínio <strong>da</strong> mente, um tesouro inspira<strong>do</strong>.<br />

!, ,/- 3R- 3- @- SN-F- !KK-;, :.A- =- :6S3- /- (/- ] :A- 8=- ,%- 3./- .- 8A- 2:A-3 (R.- 0- 3n- =- ?R$?- &A- : LR3?- 0?-<br />

5S$?- mR$?, 3J.- /- 3./- 2 *J.- .J


:: ?j- Kk: J- S- 7->:R@- @), !R%- 0- *A.- .- I


NAMO / MAHA / BEKADZE / SAPARIUARA / BENDZA / SAMAIA / DZA DZA //<br />

BENDZA / SAMAIA / TIKTA HLEN //<br />

OM / HUM / TRAM / HRI / A // ABI KENTSA / HUM //<br />

>; 3J- +R$- 2.$- %R?- 3A?- $4S- 2R- m?- 2o.- .J; $4S- 3(R$- o=- 0R- ;%?- .!;<br />

Hum! Ofereço às dei<strong>da</strong>des as oito substâncias auspici<strong>os</strong>as: a sublime m<strong>os</strong>tar<strong>da</strong> real<br />

branca e as demais. Que as duas acumulações p<strong>os</strong>sam ser completa<strong>da</strong>s.<br />

MAN GA LAM / ARTHA / SIDDHI HUM //<br />

>; 2N- >A?- $4S- 2R- g$?- 2o.- .J; 24S- 3(R$- - o=- 0R- 23- 0- ?R$?; 2.$- $A?- z- =-<br />

3(R.- 0- :2=; ?J3?- &/- 5S$?- $*A?- mR$?- 0R$; 3;- =&- !d- >;<br />

Hum! Ofereço às dei<strong>da</strong>des <strong>os</strong> oito símbol<strong>os</strong> auspici<strong>os</strong><strong>os</strong>: o sublime vaso real<br />

incomparável e tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> outr<strong>os</strong>. Que <strong>os</strong> seres sencientes p<strong>os</strong>sam completar as duas<br />

acumulações.<br />

MANGA LAM / KUMBA / HUM //<br />

>; :.R.- ;R/-l- 2-


; 2.$- $A- SA- w/- SA- (2?- GA?; 2.J- $>J$?- {- =- {- O?- $?R=; z- =- SA- 3- 3A- 3%:-<br />

;%; #A$- 1A2- .$- 0:A- gJ/- :VJ=- 2IA; ;<br />

Hum! Com esta água perfuma<strong>da</strong>, Tathagatas, queiram lavar v<strong>os</strong>s<strong>os</strong> Corp<strong>os</strong>, pois,<br />

apesar <strong>da</strong> dei<strong>da</strong>de ser imacula<strong>da</strong>, isso cria uma conexão para a purificação d<strong>os</strong> véus e<br />

negativi<strong>da</strong>des.<br />

OM / SARUA / TATHAGATA / ABIKE KATE / SAMAIA / SHRI IE / HUM //<br />

>;


Eu v<strong>os</strong> louvo e me pr<strong>os</strong>terno diante de vós, divin<strong>da</strong>des <strong>do</strong> néctar medicinal, Brahma,<br />

Indra, <strong>os</strong> Grandes Reis, <strong>os</strong> Guardiões <strong>da</strong>s Dez Direções, <strong>os</strong> <strong>do</strong>ze chefes Yakshas e tod<strong>os</strong><br />

<strong>os</strong> seus aju<strong>da</strong>ntes, <strong>os</strong> sábi<strong>os</strong>, deuses e human<strong>os</strong>, detentores <strong>do</strong> conhecimento <strong>da</strong><br />

medicina.<br />

2.$- 3./- ,$?- !- =- }$?- UJ%- $A?-2 {R


$?R/- 0R:A-{- J- 2:A- 1A2-.R%- =- (/- ]- 3- $+R$?- $8/- (R- $- 3A- .R$, ,;/- =$- S$- &- $?%- $A-2N- >A?- >R$,<br />

,3,:- :.?- SA- 3J.- ,$?- GA- 2N- >A?- >R$, ,o=- 2:A- {- $?%- ,$?- GA- 2N- >A?- >R$,<br />

86


Que haja a auspici<strong>os</strong>i<strong>da</strong>de <strong>do</strong> v<strong>os</strong>so Corpo, imutável como a Montanha! Que haja a<br />

auspici<strong>os</strong>i<strong>da</strong>de <strong>da</strong> v<strong>os</strong>sa Palavra com 60 quali<strong>da</strong>des! Que haja a auspici<strong>os</strong>i<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

v<strong>os</strong>sa Mente imacula<strong>da</strong> e ilimita<strong>da</strong>! Que haja a auspici<strong>os</strong>i<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Corpo, Palavra e<br />

Mente <strong>do</strong> Vence<strong>do</strong>r!<br />

,2$J$?-


No caso <strong>da</strong> <strong>prática</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, você suprime o pensamento “eu<br />

sou eu, eu sou a pessoa que eu penso que sou” e o substitui por “Eu sou o<br />

Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>”.<br />

Thrangu Rinpoche, ensinamento sobre o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong><br />

88


Aspiração para o mun<strong>do</strong><br />

Na extensão <strong>da</strong> preci<strong>os</strong>a terra neste vasto mun<strong>do</strong>,<br />

P<strong>os</strong>sa o benefício para <strong>os</strong> seres surgir como infinit<strong>os</strong> reflex<strong>os</strong> <strong>da</strong> lua<br />

Cuja presença refrescante traz o bem‐estar dura<strong>do</strong>uro e felici<strong>da</strong>de,<br />

Para abrir uma disp<strong>os</strong>ição florescente de líri<strong>os</strong> <strong>da</strong> noite,<br />

Sinais de paz e alegria.<br />

O décimo‐sétimo Karmapa Urgyen Trinle Dordje<br />

89


O Sutra <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong><br />

Doze extraordinárias aspirações para o benefício d<strong>os</strong> seres senscientes<br />

O muito venerável Thrangu Rinpoche<br />

Em Cascade Mountains, Washington, Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong>, em junho de 1999, o muito venerável Khenchen<br />

Thrangu Rinpoche organizou um retiro de oito dias para ensinar a sadhana e o sutra <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>. O último volume de Shenpen Ösel publicou <strong>os</strong> ensinament<strong>os</strong> <strong>do</strong> Rinpoche sobre a sadhana.<br />

Esta edição é dedica<strong>da</strong> a<strong>os</strong> seus ensinament<strong>os</strong> sobre o sutra. O Rinpoche ensinou em tibetano e foi<br />

traduzi<strong>do</strong> oralmente por Lama Yeshe Gyamtso. A seguir, a transcrição edita<strong>da</strong>.<br />

Concluím<strong>os</strong> o estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> <strong>prática</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> <strong>–</strong> com fazê‐la, em<br />

que devem<strong>os</strong> meditar, qual seu significa<strong>do</strong>. Se você puder fazer a <strong>prática</strong><br />

completa regularmente, isso será extremamente benéfico, porque ela traz<br />

grande bênção. Mas mesmo que você p<strong>os</strong>sa fazê‐la apenas ocasionalmente,<br />

ain<strong>da</strong> haverá grande benefício, devi<strong>do</strong> ao seu envolvimento com ela. Há<br />

também uma forma curta que você pode usar quan<strong>do</strong> não tiver tempo de fazer<br />

a longa. Ela se encontra na última página <strong>do</strong> seu livro de cant<strong>os</strong> 33 . É uma curta<br />

súplica ao nome <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, que serve como veículo para <strong>cultivar</strong> a<br />

fé e a devoção a ele. Como é ensina<strong>do</strong> no sutra de Amitabha e no sutra <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, relembrar e recitar o nome <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> traz benefíci<strong>os</strong><br />

incalculáveis. Muit<strong>os</strong> d<strong>os</strong> benefíci<strong>os</strong> associad<strong>os</strong> ao Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> estão<br />

ligad<strong>os</strong> às <strong>do</strong>ze aspirações que ele fez quan<strong>do</strong> de sua inicial geração de<br />

33 Nota <strong>do</strong> editor: ver página 70 <strong>da</strong> última edição de Shenpen Ösel.<br />

91


odhicitta 34 , e muitas delas estão liga<strong>da</strong>s de alguma forma a seu nome.<br />

Portanto, muit<strong>os</strong> d<strong>os</strong> benefíci<strong>os</strong> atribuíd<strong>os</strong> ao Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> podem ser<br />

obtid<strong>os</strong> pela lembrança e recitação de seu nome.<br />

Há três sutras que originalmente dizem respeito ao Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>.<br />

Um apresenta as <strong>do</strong>ze aspirações <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>. Outro, as aspirações<br />

d<strong>os</strong> sete Bu<strong>da</strong>s <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>. O terceiro, um sutra extremamente curto,<br />

apresenta a dharani, ou mantras de vári<strong>os</strong> Bu<strong>da</strong>s <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>. Neste momento,<br />

explicarei o principal deles, o sutra que fala <strong>da</strong>s <strong>do</strong>ze aspirações <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>. Antes de começar, vou explicar a diferença entra sutras e shastras. Os<br />

sutras são <strong>os</strong> ensinament<strong>os</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong>, e <strong>os</strong> shastras são comentári<strong>os</strong> sobre eles.<br />

Shastras são elaborad<strong>os</strong> a fim de resumir o significa<strong>do</strong>; dessa forma, chegam<br />

diretamente ao ponto <strong>–</strong> enquanto <strong>os</strong> sutras começam com uma introdução que<br />

descreve o cenário de qualquer que seja o ensinamento <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong>. Um sutra lhe<br />

dirá onde o Bu<strong>da</strong> estava viven<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> deu aquele ensinamento em<br />

particular, porque ele o ensinou, quem lhe pediu para ensinar, quem e quant<strong>os</strong><br />

estavam lá quan<strong>do</strong> ele o fez, e exatamente o que ele disse e o que <strong>os</strong> outr<strong>os</strong><br />

disseram, que o fizeram dizer o que ele disse. O Bu<strong>da</strong> viajou por to<strong>da</strong> a Índia. O<br />

cenário para este específico sutra foi Vaisali, uma <strong>da</strong>s seis maiores ci<strong>da</strong>des<br />

indianas de seu tempo. O cortejo que o acompanhava quan<strong>do</strong> ele o ensinou era<br />

bastante grande. Consistia de muit<strong>os</strong> grandes monges e monjas e de grandes<br />

bodhisattvas, masculin<strong>os</strong> e feminin<strong>os</strong>. Consistia também de monarcas, seus<br />

ministr<strong>os</strong> e de pessoas comuns d<strong>os</strong> rein<strong>os</strong> desses monarcas. Havia também<br />

inúmer<strong>os</strong> espírit<strong>os</strong> e divin<strong>da</strong>des locais na audiência, que se reuniram para ouvir<br />

seus ensinament<strong>os</strong>.<br />

O discípulo mais proeminente na multidão <strong>–</strong> de fato, a pessoa que pediu<br />

especificamente ao Bu<strong>da</strong> que ele desse a explicação que mais tarde se tornou o<br />

Sutra <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> <strong>–</strong> era o bodhisattva Manjushri. O sutra começa com<br />

Manjushri toman<strong>do</strong> uma certa p<strong>os</strong>tura física e fazen<strong>do</strong> o pedi<strong>do</strong>. A p<strong>os</strong>tura que<br />

ele fez é a mesma que fazem<strong>os</strong> quan<strong>do</strong> tomam<strong>os</strong> o voto de refúgio, quan<strong>do</strong><br />

tomam<strong>os</strong> outras formas de ordenação pratimoksha e quan<strong>do</strong> tomam<strong>os</strong> o voto de<br />

bodhisattva. O joelho esquer<strong>do</strong> de Manjushri está levanta<strong>do</strong>; o direito, sobre o<br />

chão 35 , e as palmas <strong>da</strong>s mã<strong>os</strong> estão juntas em um gesto de devoção em frente a<br />

34 Nota <strong>do</strong> editor: a geração de bodhicitta é basea<strong>da</strong> no desejo altruístico de levar tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres senscientes<br />

ao bem‐estar e, por fim, à liberação de to<strong>da</strong>s as formas de sofrimento. O que distingue a bodhicitta <strong>da</strong>s<br />

aspirações compassivas ordinárias para aju<strong>da</strong>r <strong>os</strong> outr<strong>os</strong>, compartilha<strong>da</strong>s por to<strong>da</strong>s as pessoas de boa<br />

vontade, é o reconhecimento de que não se pode, afinal, realizar essas aspirações até que se tenha atingi<strong>do</strong><br />

um esta<strong>do</strong> de purificação mental e de liberação, que é o esta<strong>do</strong> de bu<strong>da</strong>, a fonte de to<strong>da</strong>s as quali<strong>da</strong>des<br />

p<strong>os</strong>itivas, incluin<strong>do</strong> a onisciência que permite ver, uma a uma, as causas d<strong>os</strong> sofriment<strong>os</strong> e as causas e o<br />

caminho <strong>da</strong> liberação desses sofriment<strong>os</strong>. Compreender isso permite despertar, em algum momento, a<br />

geração <strong>da</strong> aspiração de atingir o esta<strong>do</strong> de bu<strong>da</strong> com o intuito de liberar tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres <strong>do</strong> sofrimento e<br />

estabelecê‐l<strong>os</strong> em tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> estad<strong>os</strong> de felici<strong>da</strong>de. A isso chamam<strong>os</strong> aspiração de bodhicitta, à qual deve se<br />

seguir a aspiração de realização, ou bodhicitta de perseverança, que é o treinamento na bon<strong>da</strong>de amor<strong>os</strong>a,<br />

na compaixão, nas seis paramitas, ou perfeições transcendentes, etc., que levam à realização <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de<br />

bu<strong>da</strong>. A bodhicitta de aspiração e a bodhicitta de realização estão ambas incluí<strong>da</strong>s na expressão bodhicitta<br />

relativa. A bodhicitta absoluta é o insight direto sobre a natureza última. Este esta<strong>do</strong> de consciência<br />

primordial é a própria compaixão e bon<strong>da</strong>de amor<strong>os</strong>a e, espontaneamente e sem preconceit<strong>os</strong>, dá início à<br />

ativi<strong>da</strong>de compassiva.<br />

35 Nota <strong>do</strong> editor: o suplicante está também geralmente senta<strong>do</strong> sobre seu calcanhar direito.<br />

92


seu coração. Ele ficou nesta p<strong>os</strong>tura porque é aquela em que <strong>os</strong> discípul<strong>os</strong> de<br />

Bu<strong>da</strong> sempre ficavam quan<strong>do</strong> se dirigiam a ele. E a razão pela qual hoje<br />

tomam<strong>os</strong> esta p<strong>os</strong>tura em cerimônias formais é que eles assim procediam. Nós a<br />

fazem<strong>os</strong> para n<strong>os</strong> lembrarm<strong>os</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> quan<strong>do</strong> tomam<strong>os</strong> refúgio ou outra<br />

ordenação.<br />

Olhan<strong>do</strong> para o Bu<strong>da</strong> e colocan<strong>do</strong>‐se naquela p<strong>os</strong>ição, Manjushri<br />

reporta‐se a ele, pedin<strong>do</strong>‐lhe que ensine sobre <strong>os</strong> Bu<strong>da</strong>s que fizeram aspirações<br />

extraordinárias para o benefício d<strong>os</strong> seres <strong>–</strong> o que foram essas aspirações, e<br />

quais <strong>os</strong> benefíci<strong>os</strong> de se lembrar de seus nomes búdic<strong>os</strong>. Ele lhe pediu que<br />

explicasse essas coisas para o benefício d<strong>os</strong> seres no futuro.<br />

A primeira resp<strong>os</strong>ta de Bu<strong>da</strong> para o pedi<strong>do</strong> de Manjushri foi elogiá‐lo por ter<br />

solicita<strong>do</strong> a explicação. Dirigin<strong>do</strong>‐se a Manjushri, o Bu<strong>da</strong> disse: “É excelente e<br />

adequa<strong>do</strong> que você tenha feito este pedi<strong>do</strong>, porque sua motivação para fazê‐lo é<br />

compaixão e desejo de trazer <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> para purificar as obscuri<strong>da</strong>des em geral<br />

e, especificamente, <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> para erradicar as <strong>do</strong>enças d<strong>os</strong> seres no futuro”.<br />

Enquanto elogiava Manjushri por ter feito a solicitação, o Bu<strong>da</strong> o convi<strong>da</strong> para<br />

ouvir bem à detalha<strong>da</strong> explicação que ele estava por <strong>da</strong>r. Os comentaristas têm<br />

explica<strong>do</strong> que essa interpelação tem três significad<strong>os</strong> específic<strong>os</strong>. O Bu<strong>da</strong> disse:<br />

“Manjushri, por esta razão, escute bem, escute com concentração, e mantenha<br />

isto em mente”. Ca<strong>da</strong> um desses três pont<strong>os</strong> <strong>–</strong> escutar bem, escutar com<br />

concentrar e manter em mente <strong>–</strong> tem um significa<strong>do</strong> particular que diz respeito<br />

a como escutar <strong>os</strong> ensinament<strong>os</strong>. A primeira interpelação <strong>–</strong> “escute bem” <strong>–</strong><br />

significa: ouça com motivação apropria<strong>da</strong>. Se você tem uma boa motivação para<br />

ouvir, então o Dharma que você ouve será reti<strong>do</strong> em forma pura na sua mente.<br />

De outro mo<strong>do</strong>, se você o ouve com motivação impura <strong>–</strong> com apego ou aversão,<br />

ou o que quer que seja <strong>–</strong> então sua mente será como o recipiente que contém<br />

veneno, que nisso transformará, por sua vez, qualquer coisa que nele for<br />

entorna<strong>da</strong>.<br />

A segun<strong>da</strong> interpelação <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>–</strong> “escute com concentração” <strong>–</strong> significa:<br />

ouça com atenção. Você pode ter uma boa motivação para ouvir <strong>os</strong><br />

ensinament<strong>os</strong>, mas se estiver distraí<strong>do</strong> <strong>–</strong> se não direciona sua mente para o que<br />

está sen<strong>do</strong> dito <strong>–</strong> então a escuta é inútil. Sua mente será como um recipiente<br />

vira<strong>do</strong> de cabeça para baixo, na<strong>da</strong> poderá ser derrama<strong>do</strong> nele.<br />

A terceira interpelação <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> é: “mantenha isto em mente”. Mesmo<br />

que você tenha boa motivação e escute bem, se você esquecer o que foi<br />

ensina<strong>do</strong>, então o ensinamento desaparece de sua mente. Sua mente será como<br />

o recipiente fura<strong>do</strong> que, não importa o que seja nele derrama<strong>do</strong>, tu<strong>do</strong> vazará.<br />

Então, o Bu<strong>da</strong> diz a Manjushri que, na direção leste, depois de<br />

inumeráveis rein<strong>os</strong> <strong>–</strong> isto é, se você atravessar este reino, o de Bu<strong>da</strong><br />

Shakyamuni, e seguir em direção ao leste, passan<strong>do</strong> por muit<strong>os</strong> e muit<strong>os</strong> outr<strong>os</strong><br />

rein<strong>os</strong> <strong>–</strong> você chegará ao reino búdico chama<strong>do</strong> Luz de Vaidurya ou Luz Lápis‐<br />

lazúli. Naquele reino, vive o Bu<strong>da</strong> Guru Bhaishajyai, o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>,<br />

também conheci<strong>do</strong> como Luz Lápis‐lazúli ou Luz de Vaidurya, que lá ensina o<br />

Dharma. O Bu<strong>da</strong> diz que, devi<strong>do</strong> às <strong>do</strong>ze extraordinárias aspirações feitas pelo<br />

93


Bu<strong>da</strong> Guru Bhaishajyai antes dele atingir a iluminação, quan<strong>do</strong> ele ain<strong>da</strong> estava<br />

fazen<strong>do</strong> as <strong>prática</strong>s de bodhisattva, há um tremen<strong>do</strong> benefício de se relembrar<br />

de seu nome e grande bênção em suplicar a ele. De fato, <strong>os</strong> benefíci<strong>os</strong> que se<br />

acumulam <strong>da</strong> devoção ao Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> baseiam‐se primeiramente nas<br />

aspirações que ele fez quan<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> era um bodhisattva 36 .<br />

A primeira <strong>da</strong>s <strong>do</strong>ze aspirações <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> enquanto ain<strong>da</strong><br />

bodhisattva é: “no futuro, quan<strong>do</strong> eu atingir o perfeito Despertar e me tornar<br />

um Bu<strong>da</strong>, que meu corpo lumin<strong>os</strong>o p<strong>os</strong>sa iluminar incontáveis mund<strong>os</strong>, e que<br />

tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres que o virem p<strong>os</strong>sam ter um corpo como aquele, a<strong>do</strong>rna<strong>do</strong> com as<br />

trinta e duas marcas e <strong>os</strong> oitenta sinais <strong>do</strong> corpo de um Bu<strong>da</strong>”. A aspiração<br />

essencial aqui é ter, quan<strong>do</strong> <strong>do</strong> Despertar, a forma extraordinariamente<br />

lumin<strong>os</strong>a de um Bu<strong>da</strong> e, com base nisso, permitir a tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> que assim o virem<br />

transformar a liberação em esta<strong>do</strong> de Bu<strong>da</strong>. Isto quer dizer que, ver o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>, mesmo uma imagem dele, ou mesmo ouvir sobre suas trinta e duas<br />

marcas e <strong>os</strong> oitenta sinais búdic<strong>os</strong>, instiga um hábito em sua mente. O quanto<br />

<strong>do</strong> hábito é instiga<strong>do</strong> depende <strong>da</strong> sua atitude com relação ao que você vê, ou<br />

encontra. Se você tem muita fé e devoção ao Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, então um forte<br />

hábito se instalará. Se você tem alguma devoção, então algum nível de conduta<br />

será estabeleci<strong>do</strong>. Se você tem pouca devoção, então terá pouco hábito. E se<br />

você tem a menor devoção, então haverá a mesma equivalência no hábito.<br />

Independente <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>de, se pouca ou muita, por fim, este hábito o levará a<br />

atingir aquela mesma forma <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, bem assim à perfeita<br />

realização <strong>do</strong> que ele aspirou atingir 37 . Se você tem grande fé no Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>, isto acontecerá mais rapi<strong>da</strong>mente, mas se não tiver fé nenhuma,<br />

acontecerá nem mais devagar. Porém, definitivamente, acontecerá. É devi<strong>do</strong> à<br />

sua primeira aspiração que há tanto benefício em ver sua imagem, seja<br />

freqüentemente ou ocasionalmente <strong>–</strong> de qualquer forma, trará grande benefício.<br />

A segun<strong>da</strong> aspiração <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> é também liga<strong>da</strong> à sua<br />

aparência, como podem<strong>os</strong> ver a seguir: “no futuro, quan<strong>do</strong> eu atingir o perfeito<br />

Despertar e me tornar um Bu<strong>da</strong>, que meu corpo p<strong>os</strong>sa ser tão brilhante e<br />

lustr<strong>os</strong>o quanto a jóia vaidurya ou lápis‐lazúli. Que seja imacula<strong>do</strong> e lumin<strong>os</strong>o,<br />

vasto, agradável, glori<strong>os</strong>o, majest<strong>os</strong>o, e o mais. Que tod<strong>os</strong> que o vejam sejam<br />

36 Nota <strong>do</strong> editor: diz‐se algumas vezes que <strong>os</strong> bu<strong>da</strong>s não desejam beneficiar ou liberar <strong>os</strong> seres no senti<strong>do</strong><br />

dualístico ordinário de um “eu” aju<strong>da</strong>n<strong>do</strong> um “outro”. Por óbvio, isso não quer dizer que um bu<strong>da</strong> não se<br />

importa, mas sim que a ativi<strong>da</strong>de natural e espontânea de natureza de clara luz totalmente purifica<strong>da</strong> de<br />

sua mente trabalha espontaneamente para o bem de tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres senscientes, sem quaisquer idéias<br />

preconcebi<strong>da</strong>s, sem qualquer esforço, sem pensament<strong>os</strong> condicionad<strong>os</strong> pelo hábito. Esta ativi<strong>da</strong>de está<br />

condiciona<strong>da</strong>, entretanto, à aspiração que o bu<strong>da</strong> faz antes dele ou dela atingirem o esta<strong>do</strong> de bu<strong>da</strong>, e<br />

particularmente pelas aspirações que o futuro faz quan<strong>do</strong> ele ou ela no caminho Mahayana <strong>do</strong><br />

bodhisattva. Daí, a grande ênfase coloca<strong>da</strong> nas aspirações que o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> fez quan<strong>do</strong> era um<br />

bodhisattva. A ativi<strong>da</strong>de de um bu<strong>da</strong> também é condiciona<strong>da</strong> pelo mérito e pelas aspirações d<strong>os</strong> seres<br />

senscientes.<br />

37 Nota <strong>do</strong> editor: não se deve, certamente, impedir alguém de ter grande fé no Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong><br />

simplesmente porque, ao olhar para sua forma de cor azul profun<strong>da</strong>, masculina, monástica, alguém não se<br />

sinta inclina<strong>do</strong> a seguir um estilo de vi<strong>da</strong> monástico masculino e prefira se parecer com Vajrayogini, Tara<br />

Branca ou Guru Rinpoche. O esta<strong>do</strong> de bu<strong>da</strong> último traz enorme liber<strong>da</strong>de para a mente, o que significa<br />

que um bu<strong>da</strong> pode se manifestar à vontade em qualquer forma que ele ou ela desejem.<br />

94


eneficiad<strong>os</strong> por ele”. O resulta<strong>do</strong> óbvio de sua aspiração é a forma que ele<br />

exibe no reino puro, que p<strong>os</strong>sui, literalmente, as quali<strong>da</strong>des lumin<strong>os</strong>a, brilho e<br />

majest<strong>os</strong>a, etc. Mas uma conseqüência adicional de sua aspiração é que ele exibe<br />

sua forma, indiretamente, mesmo quan<strong>do</strong> n<strong>os</strong> mund<strong>os</strong> impur<strong>os</strong>, de mo<strong>do</strong> que<br />

<strong>os</strong> seres que ignorem o que deve ser aceito e o que deve ser rejeita<strong>do</strong>, o que<br />

deve e não deve ser feito, p<strong>os</strong>sam ain<strong>da</strong> se inspirar em sua imagem ou mesmo<br />

por apenas ouvir seu nome. Como conseqüência, embora <strong>os</strong> seres não estejam<br />

diretamente interessad<strong>os</strong> em ouvir o que deve ou não ser feito, uma devoção<br />

pela ação correta gradualmente crescerá em suas mentes, pelo fato de ter feito<br />

ou ouvi<strong>do</strong> essas coisas.<br />

A terceira aspiração <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> é que, quan<strong>do</strong> de seu<br />

Despertar, por meio <strong>da</strong> prajna e <strong>da</strong> upaya (conhecimento e méto<strong>do</strong>), ele f<strong>os</strong>se<br />

capaz de levar pr<strong>os</strong>peri<strong>da</strong>de a tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres. Essa aspiração refere‐se<br />

particularmente ao alívio de um tipo de sofrimento muito comum no reino<br />

humano, que se manifesta em sua forma extrema como pobreza. Mas mesmo<br />

quan<strong>do</strong> nós, seres human<strong>os</strong>, não som<strong>os</strong> pobres, ain<strong>da</strong> pensam<strong>os</strong> que o som<strong>os</strong>.<br />

Tem<strong>os</strong> não apenas o sofrimento de serm<strong>os</strong> pobres, mas também o <strong>da</strong> ambição<br />

incessante <strong>–</strong> e também o <strong>da</strong> luta constante de n<strong>os</strong> garantirm<strong>os</strong>, de garantirm<strong>os</strong><br />

ca<strong>da</strong> vez mais pr<strong>os</strong>peri<strong>da</strong>de. As primeiras duas aspirações diziam respeito a<br />

levar <strong>os</strong> seres à liberação última. Esta está mais liga<strong>da</strong> a beneficiá‐l<strong>os</strong>,<br />

especialmente <strong>os</strong> human<strong>os</strong>, no curto prazo. É muito importante, porque<br />

tendem<strong>os</strong> às vezes a pensar que <strong>os</strong> cui<strong>da</strong>d<strong>os</strong> e aspirações d<strong>os</strong> Bu<strong>da</strong>s apenas n<strong>os</strong><br />

aju<strong>da</strong>m no longo prazo <strong>–</strong> que eles apenas se preocupam com n<strong>os</strong>sa liberação e<br />

não n<strong>os</strong> trazem nenhuma aju<strong>da</strong> nesta vi<strong>da</strong>. Esta aspiração indica que isso não é<br />

ver<strong>da</strong>de. Ela é feita para trazer aju<strong>da</strong> imediata. Isso significa que, se você pedir<br />

ao Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, poderá haver efeit<strong>os</strong> em sua pr<strong>os</strong>peri<strong>da</strong>de nesta vi<strong>da</strong>.<br />

Não funcionará de maneira tão imediata como tomar um comprimi<strong>do</strong>, mas de<br />

fato pode fazer diferença.<br />

A quarta aspiração <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> é que ele f<strong>os</strong>se capaz de retirar<br />

<strong>os</strong> seres d<strong>os</strong> caminh<strong>os</strong> incorret<strong>os</strong> e colocá‐l<strong>os</strong> n<strong>os</strong> que levam à liberação. Tod<strong>os</strong><br />

querem<strong>os</strong> ser felizes, e escolhem<strong>os</strong> alguns jeit<strong>os</strong> de levar n<strong>os</strong>sas vi<strong>da</strong>s que<br />

pensam<strong>os</strong> n<strong>os</strong> farão felizes. Para ca<strong>da</strong> um de nós, este é o caminho.<br />

Infelizmente, enquanto alguns de nós escolhem maneiras de ser felizes de fato,<br />

muit<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> <strong>–</strong> pensan<strong>do</strong> em ser também felizes <strong>–</strong> escolhem maneiras que são<br />

causas de mais e mais sofrimento. O foco primário desta aspiração é ser capaz<br />

de tirar <strong>os</strong> seres desses caminh<strong>os</strong> contra produtiv<strong>os</strong> e levar a<strong>os</strong> caminh<strong>os</strong> que<br />

conduzem à liberação. Isto se faz pela exibição <strong>da</strong>s formas de Bu<strong>da</strong>, pela<br />

presença de suas palavras na forma de sutras, pela demonstração de suas<br />

ativi<strong>da</strong>des, e assim por diante. Essas coisas já aconteceram em n<strong>os</strong>sas vi<strong>da</strong>s. De<br />

um jeito ou de outro, nós entram<strong>os</strong> em contato com algumas formas de imagens<br />

<strong>do</strong> Bu<strong>da</strong>, ouvim<strong>os</strong> <strong>os</strong> sutras seus ensinament<strong>os</strong>, ou n<strong>os</strong> inspiram<strong>os</strong> por lugares<br />

ligad<strong>os</strong> à vi<strong>da</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong>. Em suma, de qualquer maneira, a ativi<strong>da</strong>de d<strong>os</strong> Bu<strong>da</strong>s<br />

já n<strong>os</strong> causou alguma uma mu<strong>da</strong>nça no curso de n<strong>os</strong>sas ações.<br />

95


A segun<strong>da</strong> parte desta quarta aspiração é o desejo de também estabelecer<br />

aqueles seres ocupad<strong>os</strong> apenas com sua própria liberação no caminho que<br />

conduz à completa liberação de tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres <strong>–</strong> ou seja, o caminho Mahayana.<br />

Isto se refere em parte ao que está escrito claramente em A Jóia Ornamento <strong>da</strong><br />

Liberação, que se lê que, após alguém atingir o esta<strong>do</strong> de arhat ou arhati <strong>–</strong> seja<br />

como um shravaka ou como um pratyekabuddha <strong>–</strong> e ter atingi<strong>do</strong> a completa<br />

liberação <strong>do</strong> samsara para eles mesm<strong>os</strong> <strong>–</strong> eventualmente, às vezes após longo<br />

tempo, um Bu<strong>da</strong> revelará sua forma ao arhat ou arhati, inspiran<strong>do</strong> àquela<br />

pessoa a entrar no caminho <strong>do</strong> Mahayana e atingir o completo esta<strong>do</strong> de Bu<strong>da</strong>.<br />

A segun<strong>da</strong> parte <strong>da</strong> quarta aspiração é uma aspiração para fazer simplesmente<br />

isto <strong>–</strong> exibir sua forma de mo<strong>do</strong> que se faça com que <strong>os</strong> seres imergid<strong>os</strong> n<strong>os</strong><br />

caminh<strong>os</strong> que levam apenas à liberação pessoal sejam conduzid<strong>os</strong> ao caminho<br />

que leva à liberação de tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres e, dessa forma, inspirá‐l<strong>os</strong> a aumentar seu<br />

amor, sua compaixão e sua bodhicitta.<br />

A quinta aspiração <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> é que, em segui<strong>da</strong> a seu<br />

Despertar ou Esta<strong>do</strong> de Bu<strong>da</strong>, ele f<strong>os</strong>se capaz de inspirar morali<strong>da</strong>de em tod<strong>os</strong><br />

<strong>os</strong> seres. Nas palavras <strong>do</strong> sutra, o que ele sugere é a disciplina moral de um<br />

monge ou uma monja. Por extensão, refere‐se também à <strong>prática</strong> <strong>da</strong> morali<strong>da</strong>de<br />

em geral, ou seja, conduzir‐n<strong>os</strong> física, verbal e mentalmente de mo<strong>do</strong> que seja<br />

benéfico, e não prejudicial, a<strong>os</strong> outr<strong>os</strong>. A idéia aqui é que a aspiração de um<br />

Bu<strong>da</strong> n<strong>os</strong> inspira a n<strong>os</strong> comportar moralmente. Ver a imagem de um Bu<strong>da</strong> ou<br />

ouvir seus ensinament<strong>os</strong> n<strong>os</strong> faz entrar pela porta <strong>do</strong> Dharma e mu<strong>da</strong>r n<strong>os</strong>sa<br />

conduta física, verbal e mental, em alguma medi<strong>da</strong>. Seja começan<strong>do</strong> a <strong>prática</strong><br />

<strong>do</strong> Dharma com extrema diligência, o que é maravilh<strong>os</strong>o, ou não, o que ain<strong>da</strong><br />

está bom, ain<strong>da</strong> haverá alguma melhora em sua conduta. A aspiração primária<br />

aqui é que, por meio <strong>da</strong> bênção <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, <strong>os</strong> praticantes sejam<br />

capazes de manter uma morali<strong>da</strong>de sem igual. A aspiração secundária é que <strong>–</strong><br />

uma vez que <strong>os</strong> seres, de temp<strong>os</strong> em temp<strong>os</strong>, vão se desviar <strong>da</strong> conduta moral e<br />

tornar‐se confus<strong>os</strong> <strong>–</strong> o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> seja capaz de prevenir que aqueles<br />

que caem na imorali<strong>da</strong>de continuem nesse esta<strong>do</strong> de conduta inapropria<strong>da</strong>, de<br />

mo<strong>do</strong> que eles voltem à conduta moral e evitem renascer em rein<strong>os</strong> inferiores.<br />

Parte <strong>da</strong> quinta aspiração é que <strong>os</strong> seres que tenham se desvia<strong>do</strong> <strong>do</strong> caminho,<br />

tenham se afasta<strong>do</strong> <strong>da</strong> conduta moral, tenham como o mais importante sem<br />

suas mentes <strong>os</strong> hábit<strong>os</strong> p<strong>os</strong>itiv<strong>os</strong> que criaram no passa<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> a<strong>do</strong>taram a<br />

conduta moral, por meio <strong>da</strong>s bênçã<strong>os</strong> d<strong>os</strong> bu<strong>da</strong>s, fazen<strong>do</strong> que eles retornem à<br />

conduta moral.<br />

A sexta aspiração diz respeito àqueles que nascem com problemas<br />

congênit<strong>os</strong> físic<strong>os</strong>. É uma aspiração <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> que ele seja capaz, por<br />

meio de suas bênçã<strong>os</strong>, curar qualquer pessoa que nasça com qualquer problema<br />

congênito físico ou necessi<strong>da</strong>des especiais, seja n<strong>os</strong> sentid<strong>os</strong>, n<strong>os</strong> membr<strong>os</strong> ou<br />

com <strong>do</strong>enças virulentas. Do ponto de vista <strong>do</strong> pensamento ordinário, você deve<br />

pensar que é imp<strong>os</strong>sível que a condição de alguém que tenha nasci<strong>do</strong> assim<br />

p<strong>os</strong>sa ser alivia<strong>da</strong>. Mas ain<strong>da</strong> assim é p<strong>os</strong>sível que tal pessoa se beneficie por<br />

meio de intensa súplica ao Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>. E, n<strong>os</strong> cas<strong>os</strong> em que sejam<br />

96


incapazes de melhorar sua condição de maneira imediata, a súplica e a<br />

lembrança <strong>do</strong> nome <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> e a <strong>prática</strong> de sua sadhana ain<strong>da</strong><br />

gerará grande e dura<strong>do</strong>uro benefício.<br />

A sétima aspiração <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> é que, meramente ao ouvir a<br />

pronúncia de seu nome p<strong>os</strong>sa aliviar <strong>os</strong> sofriment<strong>os</strong> <strong>da</strong>s <strong>do</strong>enças e <strong>da</strong> pobreza<br />

que afligem aqueles que se encontram seriamente <strong>do</strong>entes, sem aju<strong>da</strong>, sem<br />

amig<strong>os</strong>, e sem recurs<strong>os</strong>; que meramente por ouvir ou lembrar seu nome ou ver<br />

uma imagem sua, <strong>os</strong> seres sejam liberad<strong>os</strong> <strong>da</strong> <strong>do</strong>ença que sofrem e <strong>da</strong> pobreza<br />

que reforça essa <strong>do</strong>ença; e, ademais, aqueles seres, ten<strong>do</strong> ouvi<strong>do</strong> seu nome uma<br />

vez, nunca mais se tornem <strong>do</strong>entes por to<strong>da</strong>s as suas existências até que atinjam<br />

o Esta<strong>do</strong> de Bu<strong>da</strong>. Isto soa como uma aspiração extremamente ampla e<br />

profun<strong>da</strong>, até mesmo exagera<strong>da</strong>. Mas não é de forma alguma imp<strong>os</strong>sível que<br />

seja realiza<strong>da</strong>, especialmente para alguém que tenha intensa devoção ao Bu<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, lembre de seu nome, suplique‐lhe, e o mais. Esta aspiração é um<br />

exemplo de um d<strong>os</strong> particulares benefíci<strong>os</strong> de se lembrar de seu nome.<br />

Freqüentemente, som<strong>os</strong> testemunhas <strong>da</strong> morte de algum pequeno<br />

animal, um inseto, um passarinho, ou de alguma criatura que está prestes a <strong>da</strong>r<br />

seu último suspiro. Está arfan<strong>do</strong> em seus últim<strong>os</strong> moment<strong>os</strong> de vi<strong>da</strong>. Por causa<br />

de n<strong>os</strong>sa Natureza de Bu<strong>da</strong> e <strong>da</strong> Natureza de Bu<strong>da</strong> nesses seres, é certo que<br />

tenham<strong>os</strong> empatia ou compaixão por eles. Mas a compaixão pode parecer fútil,<br />

porque nós simplesmente não sabem<strong>os</strong> o que fazer. Devi<strong>do</strong> às bênçã<strong>os</strong> d<strong>os</strong><br />

Bu<strong>da</strong>s e d<strong>os</strong> bodhisattvas, entretanto, há coisas que podem<strong>os</strong> fazer. Uma, por<br />

exemplo, é recitar o nome <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> ao ouvi<strong>do</strong> <strong>do</strong> animal que está<br />

morren<strong>do</strong>. Provavelmente, isto não irá curá‐lo de sua <strong>do</strong>ença imediatamente.<br />

Passarinh<strong>os</strong> moribund<strong>os</strong> não irão, de repente, acor<strong>da</strong>r e sair voan<strong>do</strong>. Mas o que<br />

isto proporcionará será, no longo termo, muito melhor: estabelecerá a base<br />

futura <strong>da</strong> liberação <strong>da</strong>quele animal.<br />

A oitava aspiração refere‐se a liberar particularmente <strong>os</strong> seres human<strong>os</strong><br />

de situações de discriminação. Diz respeito a situações como o sistema de<br />

castas, que existia na Índia na época <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong>. Acontece freqüentemente nas<br />

socie<strong>da</strong>des humanas que uma classe ou grupo de pessoas seja isola<strong>do</strong> <strong>do</strong> resto e<br />

considera<strong>do</strong> inferior, de mo<strong>do</strong> que até mesmo sua humani<strong>da</strong>de é questiona<strong>da</strong>,<br />

como aconteceu várias vezes com a casta indiana conheci<strong>da</strong> como “intocáveis”.<br />

A idéia aqui é que, se algum desses seres vir a imagem <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> ou<br />

ouvir seu nome, essa pessoa gerará bastante confiança em sua humani<strong>da</strong>de;<br />

reconhecerá e confiará no fato de que ela é um ser humano completo, o mesmo<br />

ser humano que a está discriminan<strong>do</strong>, e que ela será capaz de sair dessa<br />

situação. Aconteceu muitas vezes que pessoas que nasceram em castas<br />

inferiores, em socie<strong>da</strong>des como a <strong>da</strong> Índia, puderam escapar <strong>da</strong>s restrições <strong>do</strong><br />

sistema de castas de várias maneiras, o que pode ser visto como um exemplo<br />

<strong>da</strong>s bênçã<strong>os</strong> d<strong>os</strong> Bu<strong>da</strong>s.<br />

97


O Sutra <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong><br />

O Bu<strong>da</strong> Shakyamuni ensinou este sutra para n<strong>os</strong> inspirar a praticar<br />

A Ro<strong>da</strong> <strong>da</strong>s Existências<br />

Continuação d<strong>os</strong> ensinament<strong>os</strong> <strong>do</strong> muito venerável Khenchen Thrangu Rinpoche sobre o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>.<br />

Até este ponto, discutim<strong>os</strong> as oito primeiras <strong>da</strong>s <strong>do</strong>ze aspirações <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> apresenta<strong>da</strong>s no Sutra <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>. To<strong>da</strong>s essas vastas<br />

aspirações nasceram <strong>da</strong> geração de bodhicitta pelo Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> no<br />

começo de seu caminho. Elas são explica<strong>da</strong>s no sutra para que p<strong>os</strong>sam<strong>os</strong><br />

entender como as bênçã<strong>os</strong> <strong>do</strong> corpo, <strong>da</strong> palavra e <strong>da</strong> mente <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong> podem entrar em nós e que benefíci<strong>os</strong> elas trarão. O Bu<strong>da</strong><br />

Shakyamuni ensinou este sutra para n<strong>os</strong> inspirar a praticar. A idéia transmiti<strong>da</strong><br />

aqui é que a meditação sobre o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, a súplica a ele e a lembrança<br />

de seu nome trazem benefíci<strong>os</strong> extraordinári<strong>os</strong>. <strong>Ao</strong> entender isso, você terá<br />

entusiasmo pela <strong>prática</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>. Esse entusiasmo lhe permitirá<br />

praticar, o que, em troca, lhe permitirá obter <strong>os</strong> resultad<strong>os</strong> <strong>da</strong> <strong>prática</strong>. Agora,<br />

99


então, vam<strong>os</strong> começar por onde param<strong>os</strong> <strong>da</strong> última vez, começan<strong>do</strong> com a nona<br />

aspiração.<br />

A nona aspiração <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> é liberar tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres <strong>do</strong> nó ou<br />

laço <strong>do</strong> deus Mara. O laço de Mara se refere àquilo que obstrui a liberação.<br />

Neste caso, significa qualquer visão cultiva<strong>da</strong> de maneira suficientemente<br />

incorreta que n<strong>os</strong> leva a seguir o caminho erra<strong>do</strong>, qualquer visão que de fato<br />

n<strong>os</strong> leve para longe <strong>da</strong> liberação, ao invés de irm<strong>os</strong> ao seu encontro. Bem,<br />

qualquer tipo de visão <strong>–</strong> ou seja, qualquer tipo de entendimento<br />

conscientemente cultiva<strong>do</strong> e desenvolvi<strong>do</strong> de como as coisas são <strong>–</strong> é produzi<strong>do</strong><br />

pela investigação e análise <strong>do</strong> fenômeno, ao usarm<strong>os</strong> n<strong>os</strong>so intelecto e<br />

inteligência. Essa análise pode ser correta, e então produzir uma visão correta,<br />

ou pode ser incorreta, ou falha, dessa forma produzin<strong>do</strong> uma visão incorreta.<br />

Da<strong>da</strong> n<strong>os</strong>sa inteligência inata, tod<strong>os</strong> nós tem<strong>os</strong> a capaci<strong>da</strong>de de realizarm<strong>os</strong> tais<br />

análises; logo, som<strong>os</strong> capazes de chegar a conclusões corretas ou incorretas. Se a<br />

visão que você tem <strong>da</strong>s coisas é basicamente correta, então ela será uma forte<br />

causa <strong>da</strong> sua liberação. E, ao causar a sua liberação, ela será a causa indireta <strong>da</strong><br />

liberação d<strong>os</strong> outr<strong>os</strong>. Em suma, uma visão correta de como as coisas são produz<br />

to<strong>do</strong> tipo de felici<strong>da</strong>de. Caso contrário, se sua visão é suficientemente incorreta<br />

e de fato torna perverso e desvia<strong>do</strong> o uso <strong>da</strong> sua inteligência, então ela obstruirá<br />

seu caminho para a liberação, de forma a impedi‐lo de liberar <strong>os</strong> outr<strong>os</strong>,<br />

tornan<strong>do</strong>‐se um obstáculo à felici<strong>da</strong>de.<br />

Há <strong>do</strong>is tip<strong>os</strong> de inteligência desvia<strong>da</strong> ou defeitu<strong>os</strong>a. Um é um<br />

entendimento fortemente incorreto de como as coisas são, o que de fato leva ao<br />

caminho erra<strong>do</strong>; o outro, é uma análise que o leva a duvi<strong>da</strong>r <strong>do</strong> que é<br />

ver<strong>da</strong>deiro e, então, leva a serm<strong>os</strong> incapazes de aceitar a ver<strong>da</strong>de. Em qualquer<br />

caso, a aspiração <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> é liberar <strong>os</strong> seres de tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> tip<strong>os</strong> de<br />

falta de entendimento e compreensão <strong>da</strong>s coisas, de forma a estabelecê‐l<strong>os</strong> no<br />

caminho <strong>da</strong> liberação.<br />

A outra parte desta nona aspiração está liga<strong>da</strong> à conduta d<strong>os</strong> seres. Se<br />

sua visão for correta, então ela o levará a ter uma conduta apropria<strong>da</strong>, que é a<br />

conduta <strong>do</strong> bodhisattva. Se sua visão for incorreta, sua conduta também será<br />

incorreta. O que se entende aqui por conduta correta é aquela que não prejudica<br />

<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> ou nós mesm<strong>os</strong>, mas n<strong>os</strong> beneficia a tod<strong>os</strong>. Esta conduta provém <strong>do</strong><br />

entendimento correto, uma visão correta de como as coisas são. A aspiração <strong>do</strong><br />

Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, aqui, é que a bênção e a ativi<strong>da</strong>de de seu ensinamento,<br />

florescid<strong>os</strong> quan<strong>do</strong> de sua realização <strong>da</strong> budei<strong>da</strong>de, levará <strong>os</strong> seres ao correto<br />

entendimento e, então, <strong>os</strong> levará a alcançar a liberação.<br />

A décima aspiração <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> é liberar <strong>os</strong> seres <strong>da</strong><br />

perseguição de seus governantes. Literalmente, significa que, por sua bênção,<br />

ele libertará e protegerá <strong>os</strong> seres <strong>da</strong>s prisões, <strong>da</strong>s execuções, e to<strong>da</strong>s as<br />

dificul<strong>da</strong>des ou cruel<strong>da</strong>des que governantes p<strong>os</strong>sam impor a seus súdit<strong>os</strong> ou<br />

ci<strong>da</strong>dã<strong>os</strong>. Mas, por extensão, também se refere a to<strong>da</strong>s as situações análogas em<br />

que alguma coisa no mun<strong>do</strong> exterior venha a interferir no n<strong>os</strong>so bem‐estar <strong>–</strong><br />

<strong>do</strong>enças, abus<strong>os</strong>, perseguições, independente de quem <strong>os</strong> promova <strong>–</strong> e de to<strong>da</strong>s<br />

100


as outras formas de perig<strong>os</strong> e desastres que constantemente n<strong>os</strong> ameaçam.<br />

Devi<strong>do</strong> à natureza de n<strong>os</strong>sa existência neste mun<strong>do</strong> ser a impermanência,<br />

estam<strong>os</strong> constantemente enfrentan<strong>do</strong> algum perigo. Vivem<strong>os</strong> com me<strong>do</strong> de que<br />

algo n<strong>os</strong> aconteça. O ponto desta aspiração é que, pela bênção <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>, <strong>os</strong> seres estejam protegid<strong>os</strong> desses perig<strong>os</strong> e med<strong>os</strong>.<br />

Uma imagem bem comum que representa o samsara, chama<strong>da</strong> Ro<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

Existência, m<strong>os</strong>tra em seu centro <strong>os</strong> três venen<strong>os</strong> 38 e, no seu exterior, <strong>os</strong> seis<br />

rein<strong>os</strong> 39 . Fora desses seis rein<strong>os</strong>, to<strong>da</strong> a ro<strong>da</strong> <strong>da</strong> existência transmigratória está<br />

sen<strong>do</strong> segura<strong>da</strong> pel<strong>os</strong> dentes, no colo de uma figura ira<strong>da</strong>. Essa figura ira<strong>da</strong><br />

representa o perigo e o me<strong>do</strong> que caracteriza a existência samsárica. Como<br />

m<strong>os</strong>tra<strong>do</strong> na imagem, às vezes alguém está feliz; outras vezes, está triste. Em<br />

qualquer um d<strong>os</strong> cas<strong>os</strong>, porém, a natureza básica <strong>da</strong> existência é a mu<strong>da</strong>nça.<br />

Porque é mu<strong>da</strong>nça, é incerteza, e porque é incerteza, é perigo. E porque é<br />

perigo, é me<strong>do</strong>. E tu<strong>do</strong> isso, incerteza, perigo, me<strong>do</strong>, é representa<strong>do</strong> por aquela<br />

figura ira<strong>da</strong>. Durante a vi<strong>da</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong>, seus alun<strong>os</strong> mais antig<strong>os</strong> e <strong>os</strong> shravakas<br />

eram questionad<strong>os</strong> por muita gente sobre seus ensinament<strong>os</strong>. Havia to<strong>do</strong> tipo<br />

de questão. Quan<strong>do</strong> eles voltavam para o Bu<strong>da</strong> e diziam que nem sempre<br />

conseguiam responder às pessoas, ele teve a idéia de pintar esta Ro<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

Existência na porta de to<strong>do</strong> templo budista para servir de representação, em<br />

uma só imagem, <strong>do</strong> Buddhadharma.<br />

O propósito <strong>do</strong> Buddhadharma é, por óbvio, liberar‐n<strong>os</strong> d<strong>os</strong> med<strong>os</strong> e<br />

perig<strong>os</strong>. É com esse fim que o Bu<strong>da</strong> ensinou o Dharma, inclusive o Sutra <strong>do</strong><br />

Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>. Tod<strong>os</strong> tem<strong>os</strong> med<strong>os</strong> e ansie<strong>da</strong>des, que vêm <strong>do</strong> fato de que a<br />

existência samsárica, ou existência cíclica, é fun<strong>da</strong>mentalmente repleta de<br />

impermanência e, portanto, repleta de sofrimento. Se você perguntar: “mas não<br />

há jeito de transcender estes med<strong>os</strong> e ansie<strong>da</strong>des?”, a resp<strong>os</strong>ta é: “sim, há um<br />

jeito. Se você praticar o Dharma e, por causa disso, você se ligar às bênçã<strong>os</strong>,<br />

compaixão e aspirações d<strong>os</strong> bu<strong>da</strong>s, bem assim o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, então<br />

med<strong>os</strong> e ansie<strong>da</strong>des podem ser transcendid<strong>os</strong>”, isto é, se você praticar com<br />

diligência, você irá, de uma vez por to<strong>da</strong>s, transcender tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> med<strong>os</strong>. Porém,<br />

mesmo que você não pratique com tanta diligência, se praticar só um pouco, ou<br />

se você tem ocasional contato com o Dharma, haverá benefíci<strong>os</strong>. Isso aju<strong>da</strong>rá,<br />

em alguma medi<strong>da</strong>. E, por fim, você alcançará um esta<strong>do</strong> de liberação muito<br />

além de to<strong>do</strong> o me<strong>do</strong>. Então, nesta décima aspiração, a aspiração expressa de<br />

liberar <strong>os</strong> seres de governantes injust<strong>os</strong> em reali<strong>da</strong>de se refere a liberar <strong>os</strong> seres<br />

de tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> sofriment<strong>os</strong> <strong>do</strong> samsara, ou seja, liberá‐l<strong>os</strong> <strong>da</strong>s garras <strong>da</strong><br />

impermanência. O ponto é que é p<strong>os</strong>sível transcender ao me<strong>do</strong> e ao perigo que<br />

a impermanência n<strong>os</strong> impõe.<br />

A décima primeira e a décima segun<strong>da</strong> aspirações têm em comum o fato<br />

de que estão liga<strong>da</strong>s a liberar <strong>os</strong> seres <strong>do</strong> sofrimento <strong>da</strong> pobreza.<br />

38 Nota <strong>do</strong> editor: <strong>os</strong> três venen<strong>os</strong> são as três aflições mentais básicas <strong>–</strong> paixão, agressão e ignorância <strong>–</strong><br />

representa<strong>da</strong>s por um galo, uma cobra e um porco, e <strong>da</strong>s quais surge o samsara.<br />

39 Nota <strong>do</strong> editor: as seis categorias básicas de existência samsárica são: <strong>os</strong> rein<strong>os</strong> infernais, <strong>os</strong> rein<strong>os</strong> d<strong>os</strong><br />

espírit<strong>os</strong> famint<strong>os</strong>, <strong>os</strong> rein<strong>os</strong> animais, <strong>os</strong> rein<strong>os</strong> human<strong>os</strong>, <strong>os</strong> rein<strong>os</strong> d<strong>os</strong> asuras ou deuses invej<strong>os</strong><strong>os</strong> e <strong>os</strong><br />

rein<strong>os</strong> d<strong>os</strong> deuses.<br />

101


Especificamente, a décima primeira aspiração é a de liberar <strong>os</strong> seres <strong>do</strong><br />

sofrimento <strong>da</strong> falta de atendimento <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des básicas <strong>–</strong> <strong>do</strong> sofrimento <strong>da</strong><br />

fome e <strong>da</strong> sede, <strong>do</strong> sofrimento de ter de constantemente lutar para sobreviver.<br />

Esta é a aspiração <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> de liberar <strong>os</strong> seres <strong>da</strong> falta de comi<strong>da</strong> e<br />

bebi<strong>da</strong> e de terem de lutar para consegui‐l<strong>os</strong> e, por extensão, levar a tod<strong>os</strong> <strong>os</strong><br />

seres a experiência <strong>do</strong> que o Bu<strong>da</strong> quer dizer como o delici<strong>os</strong>o sabor <strong>do</strong><br />

Dharma. Isso significa que o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> aspirou não apenas a <strong>da</strong>r a<strong>os</strong><br />

seres <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> físic<strong>os</strong> de sua sobrevivência, nutrição, mas também <strong>da</strong> nutrição<br />

espiritual <strong>do</strong> Dharma.<br />

O delici<strong>os</strong>o sabor <strong>do</strong> Dharma significa ouvi‐lo e saboreá‐lo desse mo<strong>do</strong>,<br />

praticá‐lo e, como conseqüência, tornar‐se ver<strong>da</strong>deiramente feliz. Quan<strong>do</strong><br />

alguém pratica o Dharma a ponto de atingir um ver<strong>da</strong>deiro e estável esta<strong>do</strong> de<br />

felici<strong>da</strong>de, ela não precisa mais experienciar <strong>os</strong> sofriment<strong>os</strong> <strong>do</strong> samsara, o que<br />

significa que não mais haverá sofrimento físico nem miséria mental. O benefício<br />

<strong>do</strong> Dharma, e o mo<strong>do</strong> como se prova seu delici<strong>os</strong>o sabor, pode acontecer em<br />

vári<strong>os</strong> níveis e de várias maneiras. Às vezes, alguém se beneficia somente ao<br />

ouvir o Dharma; outr<strong>os</strong>, por refletir sobre seu significa<strong>do</strong>; outr<strong>os</strong>, ain<strong>da</strong>, por<br />

meditar sobre ele. Às vezes, o grau <strong>do</strong> benefício limita‐se a ter um breve contato<br />

com ele. Mas, em qualquer caso, tod<strong>os</strong> esses são maneiras em que, por meio <strong>da</strong><br />

aspiração d<strong>os</strong> Bu<strong>da</strong>s, o Dharma beneficia <strong>os</strong> seres e <strong>os</strong> libera d<strong>os</strong> sofriment<strong>os</strong>.<br />

A décima segun<strong>da</strong> aspiração <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> foca na pobreza em si<br />

e, especificamente, na falta de coisas que n<strong>os</strong> dêem conforto. Primeiro, o Bu<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> aspira a que ele seja capaz de prover roupas para <strong>os</strong> desprovid<strong>os</strong><br />

que, por isso, sofrem com o calor ou frio; com <strong>os</strong> element<strong>os</strong>, como <strong>os</strong> vent<strong>os</strong>, e<br />

assim por diante. Além disso, ele aspira a que seja capaz de prover ornament<strong>os</strong>,<br />

como jóias, e o mais, para <strong>os</strong> que não as têm. Na mesma linha, ele aspira a que<br />

p<strong>os</strong>sa prover instrument<strong>os</strong> musicais, sons e música na vi<strong>da</strong> d<strong>os</strong> que não <strong>os</strong> têm.<br />

Esta aspiração centra‐se em realizar <strong>os</strong> desej<strong>os</strong> d<strong>os</strong> seres e <strong>da</strong>r a eles o que<br />

querem e o que <strong>os</strong> fará felizes no curto prazo. De um certo ponto de vista, você<br />

pode estar pensan<strong>do</strong> que, simplesmente por orar ao Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, você<br />

receberá uma chuva de roupas de grife ou de quaisquer instrument<strong>os</strong> musicais<br />

você deseje. Então, você pode começar a rezar com estas expectativas, e se<br />

tornar bastante decepciona<strong>do</strong> por não ver suas preces realiza<strong>da</strong>s. Isso não quer<br />

dizer, entretanto, que a aspiração <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> foi sem senti<strong>do</strong> ou<br />

ineficaz. O mo<strong>do</strong> como esta aspiração vem a ter efeito e, de fato, o mo<strong>do</strong> como<br />

to<strong>da</strong>s elas se realizam, é que, pela aspiração e poder <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> <strong>os</strong><br />

seres entram em contato com o Dharma. Os seres encontram as imagens,<br />

representações, ou outras expressões de sua ativi<strong>da</strong>de ou <strong>da</strong> de outr<strong>os</strong> bu<strong>da</strong>s.<br />

Como resulta<strong>do</strong>, aban<strong>do</strong>nam as más ações e <strong>os</strong> maus pensament<strong>os</strong> que<br />

reforçam suas obscuri<strong>da</strong>des, gradualmente enfraquecen<strong>do</strong> ou se livran<strong>do</strong> de<br />

to<strong>da</strong>s as obscuri<strong>da</strong>des e, pouco a pouco, acumulan<strong>do</strong> mérit<strong>os</strong> e sabe<strong>do</strong>ria por<br />

meio de ações inspira<strong>da</strong>s pelo Dharma e pel<strong>os</strong> Bu<strong>da</strong>s. Isso mu<strong>da</strong> sua situação.<br />

Seja nesta vi<strong>da</strong>, ou em uma próxima vi<strong>da</strong>, eles começam a adquirir as coisas que<br />

querem e que lhes faltaram até hoje. Logo, não significa que a décima segun<strong>da</strong><br />

102


aspiração seja sem senti<strong>do</strong> só porque roupas não começam a cair sobre n<strong>os</strong>sa<br />

cabeça imediatamente. Ela funciona, mas de um jeito men<strong>os</strong> direto e mais<br />

gradual.<br />

Então, no Sutra <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, o Bu<strong>da</strong> Shakyamuni apresentou<br />

estas <strong>do</strong>ze aspirações feitas pelo Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> quan<strong>do</strong> ele começou a gerar<br />

a bodhicitta. Daí, continuan<strong>do</strong> a se referir a Manjushri, que lhe havia pedi<strong>do</strong><br />

este ensinamento, o Bu<strong>da</strong> apontou que, como resulta<strong>do</strong> <strong>da</strong>s aspirações <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, suas quali<strong>da</strong>des <strong>–</strong> ambas as quali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> forma e <strong>do</strong> ser e as<br />

quali<strong>da</strong>des de seu <strong>do</strong>mínio, que surgiu de suas aspirações <strong>–</strong> são ilimita<strong>da</strong>s. O<br />

Bu<strong>da</strong> Shakyamuni mencionou também que no reino <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> há<br />

<strong>do</strong>is discípul<strong>os</strong> principais em seu séquito <strong>–</strong> bodhisattvas chamad<strong>os</strong> de<br />

Lumin<strong>os</strong>o como o Sol e Lumin<strong>os</strong>o como a Lua. Além disso, o Bu<strong>da</strong> disse que<br />

qualquer homem ou mulher que tenha fé e, portanto, diligência e insight,<br />

deveria orar para o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, meditar sobre ele e relembrar seu nome.<br />

Em segui<strong>da</strong>, o Bu<strong>da</strong> fala d<strong>os</strong> demais benefíci<strong>os</strong> de suplicar ao Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>. Ele diz que há pessoas tão avarentas, que não suportam <strong>da</strong>r<br />

absolutamente na<strong>da</strong>. Ele afirma que, quan<strong>do</strong> isso acontece, é fun<strong>da</strong>mentalmente<br />

porque elas não reconhecem o benefício de assim fazer. Essa falta de<br />

reconhecimento é o que <strong>os</strong> torna tão obcecad<strong>os</strong> com suas p<strong>os</strong>ses. Essas pessoas<br />

nunca pensam em gener<strong>os</strong>i<strong>da</strong>de. Se, pela força <strong>da</strong>s circunstâncias, elas têm de<br />

<strong>da</strong>r alguma coisa, isso as faz extremamente infelizes, mesmo que seja para<br />

pessoas de sua própria família. O problema com isso é que, se alguém tem esse<br />

nível de avareza, é p<strong>os</strong>sível que tenha um renascimento infeliz. Neste ponto, o<br />

Bu<strong>da</strong> diz que, mesmo se tal pessoa avarenta ouvir o nome <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>, e assim fizer algum tipo de conexão com ele <strong>–</strong> o que basicamente<br />

significa saber algo sobre suas quali<strong>da</strong>des <strong>–</strong> então isso a inspirará a entender o<br />

valor <strong>da</strong> gener<strong>os</strong>i<strong>da</strong>de. <strong>Ao</strong> se tornar gener<strong>os</strong>a, não mais terá um renascimento<br />

desagradável. E, por to<strong>da</strong>s as suas vi<strong>da</strong>s futuras, este momentum de<br />

gener<strong>os</strong>i<strong>da</strong>de estará presente, de forma que ela será sempre gener<strong>os</strong>a e também<br />

inspirará outras pessoas a serem gener<strong>os</strong>as também.<br />

Essa é a explicação, n<strong>os</strong> sutras, sobre <strong>os</strong> benefíci<strong>os</strong> de se lembrar o nome<br />

<strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> e de rezar para ele. Para o segun<strong>do</strong> benefício, o Bu<strong>da</strong><br />

continua falan<strong>do</strong> com Manjushri, dizen<strong>do</strong> que, de forma semelhante, há pessoas<br />

que não conseguem se comportar. Elas não têm nenhum interesse na<br />

morali<strong>da</strong>de, acham que é sem senti<strong>do</strong>. A razão disso é que elas não entendem<br />

seu valor. Não compreendem <strong>os</strong> benefíci<strong>os</strong> de se comportar moralmente, nem<br />

<strong>os</strong> problemas que advêm <strong>do</strong> mau comportamento. <strong>Ao</strong> mesmo tempo, não têm o<br />

mínimo interesse no Dharma ou espirituali<strong>da</strong>de, porque não entendem seu<br />

valor. Não conhecen<strong>do</strong> seu valor, não têm, então, interesse nisso. Mas mesmo<br />

essa pessoa, com esse radical pensamento, ao ouvir o nome <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>, passará a respeitar e se interessar pela morali<strong>da</strong>de e a <strong>prática</strong> <strong>do</strong><br />

Dharma. Em conseqüência, elas passarão a se comportar apropria<strong>da</strong>mente e<br />

estu<strong>da</strong>rão e praticarão o Dharma, o que não apenas as tornará felizes nesta<br />

vi<strong>da</strong>, mas também se tornarão melhores e mais felizes em ca<strong>da</strong> uma de suas<br />

103


próximas vi<strong>da</strong>s. O momentum de sua conduta e de seu estu<strong>do</strong> e <strong>prática</strong> se<br />

manterá, e aumentará com o passar <strong>do</strong> tempo. Podem<strong>os</strong> ver esse<br />

desenvolvimento acontecen<strong>do</strong> em n<strong>os</strong>sa própria experiência. Muit<strong>os</strong> de nós<br />

começam<strong>os</strong> sem saber na<strong>da</strong> <strong>do</strong> Dharma e, portanto, não tem<strong>os</strong> muito respeito<br />

ou fé, simplesmente porque não sabem<strong>os</strong> o que ele é. Pode ser que tenham<strong>os</strong><br />

ti<strong>do</strong> tantas perguntas e dúvi<strong>da</strong>s sobre as noções de morali<strong>da</strong>de que já ouvim<strong>os</strong><br />

que acabam<strong>os</strong> por não respeitar na<strong>da</strong>. Mas, em algum ponto, alguma coisa n<strong>os</strong><br />

inspirou. Vim<strong>os</strong> algo, como a imagem de um Bu<strong>da</strong>, ou ouvim<strong>os</strong> explicações<br />

sobre o Dharma ou o nome <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong>. Algo n<strong>os</strong> prendeu a atenção, e n<strong>os</strong> fez<br />

pensar sobre a idéia de praticar o Dharma, o que n<strong>os</strong> leva a mu<strong>da</strong>r de vi<strong>da</strong> e<br />

começar a praticá‐lo. Seja você um novato na <strong>prática</strong> <strong>do</strong> Dharma, ou alguém<br />

que já está completamente imerso nele, em amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> cas<strong>os</strong>, algo aconteceu. Esse<br />

“algo” é exatamente o que se está explican<strong>do</strong> sobre o benefício de ouvir o nome<br />

<strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>. Como se lê n<strong>os</strong> sutras, um ser, tal como nós, entra em<br />

contato com alguma espécie de ativi<strong>da</strong>de ou bênção de um Bu<strong>da</strong> <strong>–</strong> uma<br />

imagem, seu nome, seus ensinament<strong>os</strong> <strong>–</strong> e, sen<strong>do</strong> por eles inspira<strong>do</strong>, finalmente<br />

desenvolvem algum nível de fé e compaixão por outr<strong>os</strong> seres (o que leva ao<br />

desenvolvimento de outras boas quali<strong>da</strong>des).<br />

Certamente, n<strong>os</strong>sa fé e devoção ao Dharma não são absolutamente<br />

inabaláveis. Há vezes em que aparentemente tem<strong>os</strong> forte fé e devoção, e outras<br />

vezes em que as dúvi<strong>da</strong>s vêm e parecem obstruir ou impedir n<strong>os</strong>sa fé e<br />

devoção. Em qualquer desses cas<strong>os</strong>, precisam<strong>os</strong> <strong>da</strong> mesma coisa: suplicar ou<br />

rezar com to<strong>da</strong> a fé e devoção que tem<strong>os</strong>, com base na n<strong>os</strong>sa confiança<br />

fun<strong>da</strong>mental n<strong>os</strong> bu<strong>da</strong>s e em seus ensinament<strong>os</strong>. Se você assim rezar, quan<strong>do</strong><br />

tiver fé, ela aumentará. E quan<strong>do</strong> rezar desse mo<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> tiver dúvi<strong>da</strong>s, sua<br />

fé aumentará e suas dúvi<strong>da</strong>s diminuirão. Então, esteja você ou não hesitante ou<br />

duvid<strong>os</strong>o sobre o Dharma, você deve fazer a mesma coisa. Como o Bu<strong>da</strong><br />

destaca, nesta parte <strong>do</strong> sutra, as súplicas a<strong>os</strong> bu<strong>da</strong>s, com to<strong>da</strong> a fé e devoção<br />

que alguém conseguir reunir, é sempre importante.<br />

O Bu<strong>da</strong> Shakyamuni afirmou que havia quatro benefíci<strong>os</strong> de se ouvir ou<br />

de se lembrar <strong>do</strong> nome <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, <strong>do</strong>is d<strong>os</strong> quais acabam<strong>os</strong> de<br />

discutir: o alívio <strong>da</strong> avareza e o alívio <strong>da</strong> imorali<strong>da</strong>de. Eu g<strong>os</strong>taria de parar por<br />

aqui esta manhã, porque ontem havia muitas pessoas na fila para poder<br />

perguntar e não tiveram a chance de fazê‐lo 40 . Se ain<strong>da</strong> quiserem fazer<br />

perguntas, por favor, sigam em frente.<br />

Pergunta: Rinpoche, você poderia explicar a visualização para a <strong>prática</strong> curta <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>?<br />

Rinpoche: Há <strong>do</strong>is mod<strong>os</strong> de fazê‐la. Um é fazer a súplica, renden<strong>do</strong> homenagem ao<br />

Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, pensan<strong>do</strong> que ele está de fato presente e visualizá‐lo com a aju<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

lembrança de sua aparência, sua cor, o que ele está seguran<strong>do</strong>, o que ele está vestin<strong>do</strong>,<br />

e assim por diante. Outro mo<strong>do</strong>, igualmente váli<strong>do</strong>, é pensar que você está renden<strong>do</strong><br />

homenagem a ele onde quer que ele esteja, caso em que você não tem de visualizá‐lo.<br />

40 Nota <strong>do</strong> editor: a seção anterior de perguntas está incluí<strong>da</strong> na Shenpen Ösel, vol. 4, n. 1.<br />

104


Pergunta: Rinpoche, tenho um problema corrente que sempre acontece nas minhas<br />

visualizações. A dei<strong>da</strong>de <strong>–</strong> Dordje Tchang ou o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> <strong>–</strong> está em frente a<br />

mim e eu consigo ver um la<strong>do</strong> perfeitamente claro e detalha<strong>do</strong> em cores, mas o outro<br />

la<strong>do</strong> está praticamente no escuro. É indefini<strong>do</strong>, na sombra; a cor não tem distinção, e<br />

fico tão cansa<strong>do</strong> que não consigo ver na<strong>da</strong> <strong>da</strong>quele la<strong>do</strong>.<br />

Rinpoche: É sempre <strong>do</strong> mesmo la<strong>do</strong>?<br />

Pergunta: Quase sempre. É o meu la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong>, ou seja, o la<strong>do</strong> direito <strong>da</strong> dei<strong>da</strong>de,<br />

que é o la<strong>do</strong> claro. O outro la<strong>do</strong> não é. Além disso, quan<strong>do</strong> estou senta<strong>do</strong>, olhan<strong>do</strong><br />

para frente, visualizan<strong>do</strong> a dei<strong>da</strong>de à minha frente, se meus olh<strong>os</strong> ficam parcialmente<br />

fechad<strong>os</strong>, parece que a dei<strong>da</strong>de foi para um outro la<strong>do</strong>. Eu fico ajeitan<strong>do</strong> meu corpo<br />

para melhorar, mas ele já está ereto, e eu sinto como se estivesse senta<strong>do</strong><br />

diagonalmente e olhan<strong>do</strong> para o outro la<strong>do</strong>.<br />

Rinpoche: Isso lhe está acontecen<strong>do</strong> espontaneamente, você não o está causan<strong>do</strong>,<br />

então, se você apenas relaxar e continuar com sua <strong>prática</strong>, isso se ajustará por si só.<br />

Pergunta: Rinpoche, tenho três perguntas. Na desci<strong>da</strong> <strong>da</strong>s bênçã<strong>os</strong> <strong>do</strong> corpo, palavra e<br />

mente, elas entram respectivamente pel<strong>os</strong> três centr<strong>os</strong>, ou geralmente caem para o<br />

corpo to<strong>do</strong>? Segun<strong>da</strong>, você poderia n<strong>os</strong> <strong>da</strong>r mais detalhes sobre a seqüência <strong>da</strong> <strong>prática</strong><br />

com o pequeno Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> em certo lugar de n<strong>os</strong>so corpo ou <strong>do</strong> corpo de<br />

alguém? Isso pode ser feito fora <strong>da</strong> <strong>prática</strong> formal? Por último, há alguma conexão<br />

entre o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> e Jambhala? Se existe, qual é? E se há diferença, qual é? Há<br />

algum benefício em se ligar mais a um <strong>do</strong> que com outro?<br />

Rinpoche: Quanto à sua primeira questão, no caso <strong>da</strong> sadhana <strong>da</strong> <strong>prática</strong> ou <strong>da</strong><br />

recitação <strong>do</strong> mantra, quan<strong>do</strong> você está receben<strong>do</strong> as bênçã<strong>os</strong> d<strong>os</strong> três portões <strong>da</strong><br />

dei<strong>da</strong>de e eles se dissolvem em você, você pode pensar que eles se dissolvem<br />

geralmente por to<strong>do</strong> o seu corpo, sem lugares de entra<strong>da</strong> específic<strong>os</strong>, como sua cabeça,<br />

coisas assim. No caso de uma abhisheka, ou iniciação, então eles se dissolvem em partes<br />

específicas de seu corpo. Com relação à sua segun<strong>da</strong> pergunta, você pode fazer a<br />

<strong>prática</strong> de aplicação <strong>da</strong> visualização <strong>do</strong> pequeno Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> em uma parte<br />

específica <strong>do</strong> seu corpo ou <strong>do</strong> corpo de alguém, seja durante a fase de recitação <strong>do</strong><br />

mantra, enquanto realiza a <strong>prática</strong> formal <strong>da</strong> sadhana, ou no perío<strong>do</strong> pós‐meditação<br />

em qualquer tempo. Com referência à terceira questão, existe sim uma conexão entre o<br />

Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> e Jambhala. Basicamente, <strong>os</strong> <strong>do</strong>ze chefes Yakshas, guardiães <strong>do</strong><br />

Sutra <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> e de seus ensinament<strong>os</strong>, são <strong>da</strong> mesma classe, ou clã, d<strong>os</strong><br />

Jambhalas. Portanto, de certo mo<strong>do</strong> um Jambhala é também um guardião d<strong>os</strong><br />

ensinament<strong>os</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>. Eu tive a prova disso quan<strong>do</strong> estava pratican<strong>do</strong> a<br />

sadhana <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> repeti<strong>da</strong>mente em um monastério taiwanês chama<strong>do</strong><br />

Shi Lung Si. Os monges e outr<strong>os</strong> participantes estavam pratican<strong>do</strong> bastante<br />

intensamente também. Uma <strong>da</strong>s razões para fazerem isso, segun<strong>do</strong> me disseram, foi<br />

que sempre que eles praticam em grupo, as coisas vão bem no monastério, o que eles<br />

achavam que tinha algo a ver com a ativi<strong>da</strong>de de Jambhala vin<strong>do</strong> automaticamente<br />

junto com a súplica e a <strong>prática</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>. Portanto, eu diria que, se você<br />

tivesse que escolher apenas uma delas para rezar, a melhor escolha seria o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>, uma vez que, se você rezar a ele, a assistência de Jambhala vem sem demora.<br />

Pergunta: Rinpoche, esta <strong>prática</strong> está me parecen<strong>do</strong> tão maravilh<strong>os</strong>a e completa que<br />

estou ten<strong>do</strong> dificul<strong>da</strong>des para entender por que não ouvim<strong>os</strong> muito sobre ela até<br />

105


ecentemente. Eu vejo que não tenho pratica<strong>do</strong> por tanto tempo assim, mas fico<br />

pensan<strong>do</strong> sobre qual seria o lugar <strong>da</strong> <strong>prática</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>. É algo que era feito<br />

bastante só n<strong>os</strong> monastéri<strong>os</strong>? Por que demorou tanto a aparecer?<br />

Rinpoche: Quanto ao lugar que a <strong>prática</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> ocupa na tradição<br />

monástica <strong>do</strong> Tibete, há muitas variações. Em alguns monastéri<strong>os</strong> se faz muito; em<br />

outr<strong>os</strong>, bem pouco. E em outras medi<strong>da</strong>s também. Não há uma regra rígi<strong>da</strong>. Quanto ao<br />

fato de você não ter ouvi<strong>do</strong> sobre ela até agora, não se esqueça que o Vajrayana é<br />

bastante recente no Ocidente. Basicamente, podem<strong>os</strong> dizer que o Vajrayana está<br />

presente neste país [Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong>] pel<strong>os</strong> últim<strong>os</strong> trinta an<strong>os</strong> [a contar <strong>da</strong> <strong>da</strong>ta <strong>da</strong><br />

publicação desta revista]. Tem<strong>os</strong> de olhar para como o Bu<strong>da</strong> ensinou. Quan<strong>do</strong> ele<br />

ensinou o Dharma, ele começou com o que chamam<strong>os</strong> de Veículo Comum. E assim,<br />

pouco a pouco, aprofun<strong>do</strong>u sua apresentação à medi<strong>da</strong> que as pessoas se tornavam<br />

mais prepara<strong>da</strong>s por causa de suas <strong>prática</strong>s. Do mesmo mo<strong>do</strong>, <strong>os</strong> professores têm<br />

introduzi<strong>do</strong> e ensina<strong>do</strong> o Dharma gradualmente neste país, simplesmente porque<br />

enquanto suas <strong>prática</strong>s progridem, também aumentam sua fé, devoção e compreensão.<br />

Por exemplo, a maioria d<strong>os</strong> professores que começou a ensinar no Ocidente começou<br />

ensinan<strong>do</strong> a <strong>prática</strong> de shamata, que é algo que não envolve muita fé e com a qual você<br />

pode experienciar diretamente sua mente. A vali<strong>da</strong>de disso ficou óbvia desde o início.<br />

Se eles tivessem começa<strong>do</strong> por dizer que esta é a <strong>prática</strong> fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> n<strong>os</strong>sa<br />

tradição, que vocês devem visualizar o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> e acreditar em mim quan<strong>do</strong><br />

digo que ele existe, que ele tem bênçã<strong>os</strong> tremen<strong>da</strong>s, provavelmente vocês não teriam<br />

acredita<strong>do</strong>.<br />

Pergunta: Esta <strong>prática</strong> se relaciona diretamente com a <strong>prática</strong> tibetana <strong>da</strong> medicina?<br />

Rinpoche: Sim. A <strong>prática</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> é usa<strong>da</strong> para consagrar <strong>os</strong> remédi<strong>os</strong><br />

enquanto são preparad<strong>os</strong>. Além disso, a linhagem <strong>da</strong> medicina vem de um rishi<br />

chama<strong>do</strong> Rigpe Yeshe <strong>–</strong> “sabe<strong>do</strong>ria desperta” <strong>–</strong> que era uma emanação <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>. E quan<strong>do</strong> olham<strong>os</strong> para a história <strong>da</strong> medicina tibetana, vem<strong>os</strong> que <strong>os</strong><br />

maiores médic<strong>os</strong> <strong>do</strong> Tibete, inclusive o grande siddha Yönten Gonpo, e outr<strong>os</strong>, assim<br />

que tiveram visões <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> e receberam suas bênçã<strong>os</strong>, se tornaram<br />

capazes de descobrir nov<strong>os</strong> diagnóstic<strong>os</strong>, nov<strong>os</strong> preparad<strong>os</strong> medicinais, e também<br />

escreveram livr<strong>os</strong> sobre o assunto.<br />

Pergunta: Obriga<strong>do</strong>, Rinpoche, por sua transmissão e ensinamento. Até agora, eu<br />

havia ouvi<strong>do</strong> que há basicamente três maneiras de aju<strong>da</strong>r <strong>os</strong> seres a atravessar o<br />

oceano <strong>do</strong> samsara até as praias <strong>da</strong> iluminação: como um rei, que lidera a tod<strong>os</strong> até a<br />

liberação; como um balseiro, que coloca to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> no mesmo barco com ele e<br />

atravessa junto com to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>; ou como um pastor, que faz questão de se certificar<br />

que tod<strong>os</strong> estejam segur<strong>os</strong> antes dele mesmo ir. Eu fiquei confuso sobre ser um pastor,<br />

por um la<strong>do</strong>, e por outro, curar e iluminar a mim mesmo antes d<strong>os</strong> outr<strong>os</strong>. Você<br />

poderia falar mais sobre isso, por favor?<br />

Rinpoche: Como você disse, há três maneiras de a bodhicitta ser gera<strong>da</strong>, de acor<strong>do</strong><br />

com a tradição d<strong>os</strong> sutras. Essas três maneiras diferentes de gerar bodhicitta, embora<br />

sejam to<strong>da</strong>s aceitáveis, correspondem ao seu grau de egoísmo. Quan<strong>do</strong> alguém é muito<br />

gener<strong>os</strong>o, completa e absolutamente altruísta, quan<strong>do</strong> gera a bodhicitta, a atitude que<br />

desenvolve é: “Eu não vou atingir o Esta<strong>do</strong> de Bu<strong>da</strong>, eu me recuso a atingir o Esta<strong>do</strong> de<br />

Bu<strong>da</strong>, até que tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres o tenham realiza<strong>do</strong>”. Essa é chama<strong>da</strong> de bodhicitta <strong>do</strong><br />

106


pastor, como você mencionou em sua pergunta. É considera<strong>da</strong> o melhor estilo de<br />

geração de bodhicitta, <strong>do</strong> ponto de vista d<strong>os</strong> sutras; a melhor, pois é completamente<br />

desapega<strong>da</strong>. A segun<strong>da</strong> melhor é o seguinte pensamento: “bem, eu quero atingir o<br />

Esta<strong>do</strong> de Bu<strong>da</strong>, tod<strong>os</strong> eles o querem também, então espero que tod<strong>os</strong> nós consigam<strong>os</strong><br />

atingir o Esta<strong>do</strong> de Bu<strong>da</strong> junt<strong>os</strong>. Eu levarei a mim e tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres ao Esta<strong>do</strong> de Bu<strong>da</strong><br />

ao mesmo tempo”. Esse estilo, chama<strong>do</strong> estilo <strong>do</strong> barqueiro, é um pouco mais egoísta<br />

que o primeiro, mas ain<strong>da</strong> é bastante desapega<strong>do</strong>. O terceiro estilo, que realmente traz<br />

mais um tanto de egoísmo, é o pensamento: “eu realmente quero atingir o Esta<strong>do</strong> de<br />

Bu<strong>da</strong>. Eu realmente quero atingir o completo Despertar. Mas depois de tê‐lo feito, eu<br />

também vou liberar tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres. Mas, em primeiro lugar, eu quero, definitivamente,<br />

atingir o Esta<strong>do</strong> de Bu<strong>da</strong>”. Essa é a bodhicitta <strong>do</strong> rei, que tem algum egoísmo nela, mas<br />

devi<strong>do</strong> ao fato de ain<strong>da</strong> conter a aspiração de liberar outr<strong>os</strong> seres, ain<strong>da</strong> é a autêntica<br />

bodhicitta.<br />

O estilo de geração de bodhicitta <strong>do</strong> Vajrayana parece bastante com a <strong>do</strong> estilo <strong>do</strong> rei,<br />

mas ela não é para ser assim. A atitude Vajrayana é simplesmente realista. Se você não<br />

atingir o Esta<strong>do</strong> de Bu<strong>da</strong>, você não consegue liberar <strong>os</strong> seres. Esta atitude não é egoísta,<br />

é realista. Poderia se tornar egoísta. Você poderia transformá‐la em bodhicitta <strong>do</strong> estilo<br />

<strong>do</strong> rei, ou usá‐la como uma desculpa para ser assim. Mas a bodhicitta não é para ser<br />

gera<strong>da</strong> dessa maneira. A motivação básica <strong>da</strong> bodhicitta <strong>do</strong> Vajrayana é: “tu<strong>do</strong> o que<br />

eu quero é liberar <strong>os</strong> seres. Obviamente, não p<strong>os</strong>so fazer isso agora. Se eu me tornar um<br />

bodhisattva, com a realização de um bodhisattva, eu poderei fazer alguma coisa, mas<br />

não poderei liberá‐l<strong>os</strong> completamente, <strong>da</strong> forma que um Bu<strong>da</strong> pode. Então, embora o<br />

que eu queira seja liberar <strong>os</strong> seres e a mim mesmo, para fazer isso de maneira efetiva,<br />

eu terei de atingir o esta<strong>do</strong> de Bu<strong>da</strong> primeiro”.<br />

Pergunta: Existe alguma <strong>prática</strong> de Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> que envolva a imp<strong>os</strong>ição de<br />

mã<strong>os</strong>?<br />

Rinpoche: A imp<strong>os</strong>ição de mã<strong>os</strong> pode, de alguma forma, ser combina<strong>da</strong> com a <strong>prática</strong><br />

<strong>da</strong> visualização de um Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> de tamanho pequeno na parte feri<strong>da</strong> <strong>do</strong><br />

corpo <strong>da</strong> pessoa <strong>do</strong>ente.<br />

Pergunta: Rinpoche, tenho outra questão sobre a escolha <strong>da</strong>s <strong>prática</strong>s. Consideran<strong>do</strong> a<br />

<strong>prática</strong> de tonglen e a <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, como poderem<strong>os</strong> decidir por qual delas<br />

usar, <strong>da</strong><strong>do</strong> que tenham<strong>os</strong> as duas transmissões?<br />

Rinpoche: Você se refere ao seu próprio desenvolvimento ou para beneficiar outra<br />

pessoa?<br />

Pergunta: O tonglen que usam<strong>os</strong> para aju<strong>da</strong>r <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> e nós mesm<strong>os</strong>. E também, a<br />

Pema Chödron já falou sobre um jeito de usarm<strong>os</strong> tonglen para aju<strong>da</strong>r nós mesm<strong>os</strong>.<br />

Rinpoche: Ambas são igualmente benéficas de to<strong>da</strong> maneira. O que você deve<br />

enfatizar na sua <strong>prática</strong> é em que ela se baseia, em que você tem maior confiança, em<br />

que você tem mais fé, e a que você tem mais inclinação. Logo, se você tem mais<br />

confiança no tonglen, ele será mais efetivo. Se você tem mais confiança na <strong>prática</strong> <strong>do</strong><br />

Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, então ela será mais efetiva. Historicamente, podem<strong>os</strong> ver nas várias<br />

linhagens que alguns professores enfatizaram o tonglen como sua <strong>prática</strong> primária,<br />

outr<strong>os</strong> enfatizaram a <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> ou outras semelhantes. De fato, depende de<br />

sua inclinação pessoal.<br />

107


108


O Sutra <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong><br />

Mudras, ou gest<strong>os</strong> rituais, aju<strong>da</strong>m a clarificar a visualização<br />

Continuação d<strong>os</strong> ensinament<strong>os</strong> <strong>do</strong> muito venerável Khenchen Thrangu Rinpoche sobre o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>.<br />

Alguns de vocês têm pergunta<strong>do</strong> sobre <strong>os</strong> mudras, <strong>os</strong> gest<strong>os</strong> rituais,<br />

desta <strong>prática</strong>, então eu vou começar a seção desta manhã com sua explicação.<br />

Como vocês já sabem, o principal elemento em n<strong>os</strong>sa <strong>prática</strong> é a meditação,<br />

incluin<strong>do</strong> a visualização, que, por natureza, é mental. Mas nós usam<strong>os</strong> outras<br />

de n<strong>os</strong>sas facul<strong>da</strong>des, o corpo e a palavra, para clarificar e reforçar este processo<br />

mental. Usam<strong>os</strong> a palavra, por exemplo, para clarificar visualizações usan<strong>do</strong><br />

descrições litúrgicas, e assim por diante, e usam<strong>os</strong> o corpo para clarificar as<br />

visualizações por meio <strong>da</strong>s p<strong>os</strong>turas físicas e <strong>os</strong> gest<strong>os</strong> chamad<strong>os</strong> de mudras. O<br />

ponto principal, por óbvio, é a própria <strong>prática</strong> <strong>da</strong> visualização. Porém, é<br />

aceitável, sob certas condições especiais, fazer a <strong>prática</strong> inteiramente com a<br />

mente, sem usar <strong>os</strong> mudras.<br />

A primeira vez, nesta <strong>prática</strong>, que se usa um mudra específico é quan<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> convite à dei<strong>da</strong>de <strong>–</strong> quan<strong>do</strong> você já se visualizou como Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> e o<br />

109


visualizou também à sua frente, e está pedin<strong>do</strong> que a dei<strong>da</strong>de de sabe<strong>do</strong>ria, o<br />

Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, se aproxime e finalmente se dissolva em você enquanto<br />

auto‐visualização e também na visualização frontal 41 .<br />

Este e outr<strong>os</strong> pont<strong>os</strong> <strong>da</strong> <strong>prática</strong> se destacam pelo uso <strong>do</strong> sânscrito como<br />

parte <strong>da</strong> liturgia. A culminação <strong>do</strong> convite, o ápice de ca<strong>da</strong> seção de oferen<strong>da</strong>s,<br />

bem assim o mantra essencial repeti<strong>do</strong> durante o principal corpo <strong>da</strong> <strong>prática</strong> são<br />

falad<strong>os</strong> em sânscrito. Isso é padrão para to<strong>da</strong>s as <strong>prática</strong>s Vajrayana. A razão<br />

para tal é que o Bu<strong>da</strong> ensinou em sânscrito, e diz‐se que tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> Bu<strong>da</strong>s futur<strong>os</strong><br />

também ensinarão nessa língua. Então, usam<strong>os</strong> o sânscrito nas partes<br />

destaca<strong>da</strong>s <strong>da</strong> <strong>prática</strong> de mo<strong>do</strong> a <strong>cultivar</strong> o hábito ou criar uma ligação com essa<br />

língua.<br />

Na conclusão <strong>do</strong> convite na liturgia dizem<strong>os</strong> o mantra em sânscrito:<br />

NAMO MAHA BEKENDZE SAPARIWARA BENZA SAMAYADZA DZA.<br />

O que estam<strong>os</strong> dizen<strong>do</strong> é: “Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> e seu séqüito, por favor,<br />

lembrem‐se de seu samaya [voto] vajra e aproximem‐se”.<br />

Neste ponto, visualizam<strong>os</strong> o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> e seu cortejo aparecen<strong>do</strong><br />

no céu à sua frente, antes de se dissolver em você e na visualização frontal. O<br />

mudra que acompanha este mantra é chama<strong>do</strong> de mudra <strong>da</strong> assembléia, e se<br />

faz cruzan<strong>do</strong> <strong>os</strong> braç<strong>os</strong> na altura d<strong>os</strong> puls<strong>os</strong> com a mão direita em frente e a<br />

esquer<strong>da</strong> mais próxima de seu peito, e se estalam <strong>os</strong> ded<strong>os</strong>.<br />

O significa<strong>do</strong> de cruzar <strong>os</strong> braç<strong>os</strong> na altura d<strong>os</strong> puls<strong>os</strong> representa a<br />

coesão <strong>do</strong> samaya desimpedi<strong>do</strong>, que traz as dei<strong>da</strong>des de sabe<strong>do</strong>ria. O estalar<br />

d<strong>os</strong> ded<strong>os</strong> quer dizer imediatamente, agora mesmo. De fato, tem o significa<strong>do</strong><br />

específico de se referir a uma uni<strong>da</strong>de de tempo chama<strong>da</strong> instante. Um instante,<br />

neste caso, se refere à menor parte de tempo medi<strong>do</strong> em qualquer sistema. Por<br />

exemplo, no sistema geral usa<strong>do</strong> na Índia à época <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong>, o dia era dividi<strong>do</strong><br />

em trinta partes que, por sua vez, eram dividid<strong>os</strong> em trinta partes, e assim por<br />

diante, até chegar a uma fração tão pequena de tempo difícil de descrever, o<br />

que era então chama<strong>do</strong> de instante ou momento. No Kalachakra Tantra, o dia é<br />

dividi<strong>do</strong> em horas, que são dividi<strong>da</strong>s em subseções, dividi<strong>da</strong>s ca<strong>da</strong> vez mais até<br />

chegar a um perío<strong>do</strong> de tempo tão pequeno que, na n<strong>os</strong>sa percepção, não tem<br />

duração, algo como se o tempo não existisse, ou algo como vacui<strong>da</strong>de. Em<br />

qualquer caso, um instante se refere à menor uni<strong>da</strong>de p<strong>os</strong>sível de tempo que se<br />

p<strong>os</strong>sa imaginar. O estalar de ded<strong>os</strong> no ritual significa, então, um instante. No<br />

caso <strong>do</strong> convite, ao estalar <strong>os</strong> ded<strong>os</strong> você está dizen<strong>do</strong>: “por favor, aparecei aqui<br />

e se dissolvei em mim neste instante, sem qualquer demora”. Durante as<br />

oferen<strong>da</strong>s, o que você está dizen<strong>do</strong> ao estalar <strong>os</strong> ded<strong>os</strong> na conclusão <strong>da</strong><br />

oferen<strong>da</strong> de mudras é: “por favor, aceitai estas oferen<strong>da</strong>s agora. Que elas lhes<br />

estejam disponíveis e que vós podeis apreciá‐las agora mesmo, sem espera”. No<br />

caso de uma cerimônia comum, como a cerimônia de refúgio, o estalar de ded<strong>os</strong><br />

serve para designar o exato instante ou momento no tempo em que você recebe<br />

o voto.<br />

41 Nota <strong>do</strong> editor: Ver Shenpen Ösel, vol. 4, nº 1, p. 29 e/ou p.61.<br />

110


Em segui<strong>da</strong>, recitam<strong>os</strong> VAJRA SAMAYA TIKTRA LEN, que significa:<br />

“pelo poder <strong>da</strong> lembrança de v<strong>os</strong>so voto vajra, por favor, permaneçais estável”.<br />

<strong>Ao</strong> longo <strong>do</strong> mantra anterior, quan<strong>do</strong> convi<strong>da</strong>m<strong>os</strong> as dei<strong>da</strong>des de sabe<strong>do</strong>ria,<br />

nós as convi<strong>da</strong>m<strong>os</strong> e as dissolvem<strong>os</strong> em nós mesm<strong>os</strong>. Quan<strong>do</strong> recitam<strong>os</strong><br />

VAJRA SAMAYA TIKTRA LEN, dissolvemo‐las na visualização frontal e<br />

pedim<strong>os</strong>‐lhes que permaneçam estáveis como campo de oferen<strong>da</strong> para<br />

acumulação de mérito. O gesto, aqui, é o de virar as mã<strong>os</strong> sobre elas mesmas,<br />

de mo<strong>do</strong> que as palmas fiquem à frente de seu peito. É bastante semelhante ao<br />

jeito elabora<strong>do</strong> e poli<strong>do</strong> de pedir que alguém se sente.<br />

Depois, chegam<strong>os</strong> à iniciação. As primeiras cinco sílabas <strong>do</strong> mantra de<br />

iniciação, “OM HUM TRAM HRI AH ABHIKENTSA HUM” 42 , se referem a<strong>os</strong><br />

cinco Bu<strong>da</strong>s masculin<strong>os</strong> <strong>da</strong>s cinco famílias. É uma iniciação para você e para a<br />

visualização frontal. OM representa Vairochana; HUM, Akshobya; TRAM,<br />

Ratnasambhava; HRI, Amitabha; e AH, Amogasiddhi.<br />

Destes cinco Bu<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s cinco famílias às vezes se diz que são Bu<strong>da</strong>s em<br />

cinco rein<strong>os</strong> pur<strong>os</strong> diferentes extern<strong>os</strong> a nós. Outras vezes se diz que cinco<br />

aspect<strong>os</strong> de n<strong>os</strong>sa sabe<strong>do</strong>ria intrínseca, ou inata. No caso de serem <strong>os</strong> cinco<br />

aspect<strong>os</strong> <strong>da</strong> sabe<strong>do</strong>ria intrínseca, eles correspondem às cinco sabe<strong>do</strong>rias de um<br />

Bu<strong>da</strong>. Então, por exemplo, Vairochana, que é de uma família de Bu<strong>da</strong>s, é a<br />

sabe<strong>do</strong>ria <strong>do</strong> dharmadhatu, que é o reconhecimento <strong>da</strong> natureza não nasci<strong>da</strong>,<br />

ou vacui<strong>da</strong>de, de to<strong>da</strong>s as coisas, e que também permeia outras sabe<strong>do</strong>rias,<br />

motivo pelo qual leva este nome em particular.<br />

Essas sabe<strong>do</strong>rias não são, de fato, coisas separa<strong>da</strong>s. Elas são enumera<strong>da</strong>s<br />

separa<strong>da</strong>mente para m<strong>os</strong>trar as quali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> sabe<strong>do</strong>ria. De mo<strong>do</strong> geral, pode‐<br />

se dizer que a sabe<strong>do</strong>ria de um Bu<strong>da</strong> inclui <strong>do</strong>is aspect<strong>os</strong>, <strong>do</strong>is tip<strong>os</strong> de<br />

sabe<strong>do</strong>ria, que não são realmente separa<strong>da</strong>s. Uma delas é a sabe<strong>do</strong>ria que sabe<br />

como as coisas são, o que se refere ao reconhecimento <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de absoluta ou<br />

<strong>da</strong> natureza <strong>da</strong>s coisas. Esse aspecto <strong>da</strong> sabe<strong>do</strong>ria equivale à sabe<strong>do</strong>ria <strong>do</strong><br />

dharmadhatu 43 . É a sabe<strong>do</strong>ria que sabe como as coisas são, ou que conhece a<br />

natureza de to<strong>da</strong>s as coisas.<br />

A outra sabe<strong>do</strong>ria de um Bu<strong>da</strong> é a sabe<strong>do</strong>ria que sabe o que existe. A<br />

sabe<strong>do</strong>ria que sabe como as coisas são conhece a natureza de to<strong>da</strong>s as coisas, ou<br />

a ver<strong>da</strong>de absoluta. Mas, ao mesmo tempo, um Bu<strong>da</strong> sabe também o que existe,<br />

isto é, as distintas feições <strong>da</strong>s ver<strong>da</strong>des relativas ou <strong>da</strong>s coisas relativas, cuja<br />

ver<strong>da</strong>de absoluta é sua natureza. Isso significa que, enquanto <strong>os</strong> Bu<strong>da</strong>s<br />

reconhecem a natureza não nasci<strong>da</strong> de ca<strong>da</strong> uma e to<strong>da</strong>s as coisas, a vacui<strong>da</strong>de<br />

de ca<strong>da</strong> uma e to<strong>da</strong>s as coisas, eles, entretanto, vêem a manifestação ou<br />

aparência <strong>da</strong>quela coisa de mo<strong>do</strong> claro, sem que essa clara visão produza<br />

qualquer tipo de reificação, ou ilusão de solidez. Portanto, o mo<strong>do</strong> como <strong>os</strong><br />

Bu<strong>da</strong>s vêem a ver<strong>da</strong>de relativa é semelhante a ver algo em um espelho. A<br />

imagem vista é extremamente clara e vívi<strong>da</strong>, mas não há na<strong>da</strong> lá, de fato, no<br />

42 Nota <strong>do</strong> editor: Ver Shenpen Ösel, vol. 4, nº 1, p. 34 e p. 62.<br />

43 Nota <strong>do</strong> editor: Às vezes, traduzi<strong>da</strong> como sabe<strong>do</strong>ria <strong>do</strong> espaço que tu<strong>do</strong> abarca, ou sabe<strong>do</strong>ria <strong>do</strong> espaço<br />

que tu<strong>do</strong> permeia.<br />

111


espelho [na<strong>da</strong> além que mera aparência], e isso também é sabi<strong>do</strong>. Então, a<br />

percepção, ou sabe<strong>do</strong>ria de um Bu<strong>da</strong>, é chama<strong>da</strong> de sabe<strong>do</strong>ria semelhante ao<br />

espelho, que significa ver que, enquanto as coisas são não nasci<strong>da</strong>s, elas,<br />

entretanto, têm aparências distintas. A sabe<strong>do</strong>ria semelhante ao espelho é o<br />

Bu<strong>da</strong> Akshobya.<br />

A terceira sabe<strong>do</strong>ria de um Bu<strong>da</strong> é chama<strong>da</strong> de sabe<strong>do</strong>ria <strong>da</strong> igual<strong>da</strong>de.<br />

Isto se refere ao fato de que, <strong>do</strong> ponto de vista <strong>do</strong> próprio espelho,<br />

independente <strong>do</strong> que aparece nele, enquanto aparece de maneira distinta e<br />

enquanto o espelho tem a capaci<strong>da</strong>de de m<strong>os</strong>trar a imagem, não há conceit<strong>os</strong> na<br />

superfície refletora <strong>do</strong> espelho. Não há divisão entre self e outro, na imagem<br />

refleti<strong>da</strong>. Não há divisão, na imagem, entre bom e mau, ou entre qualquer outro<br />

conceito. O fato de que <strong>os</strong> Bu<strong>da</strong>s, com sua sabe<strong>do</strong>ria que reconhece esta<br />

imagem, estão livres destes conceit<strong>os</strong> ilusóri<strong>os</strong>, é a sabe<strong>do</strong>ria <strong>da</strong> igual<strong>da</strong>de, que<br />

é o Bu<strong>da</strong> Ratnasambhava.<br />

O quarto Bu<strong>da</strong> é Amitabha, que corporifica a sabe<strong>do</strong>ria <strong>do</strong><br />

discernimento. Um Bu<strong>da</strong> <strong>–</strong> nós, quan<strong>do</strong> atingirm<strong>os</strong> o esta<strong>do</strong> de Despertar, ou<br />

qualquer outro Bu<strong>da</strong> <strong>–</strong> p<strong>os</strong>sui as três sabe<strong>do</strong>rias, que já explicam<strong>os</strong>: a sabe<strong>do</strong>ria<br />

<strong>do</strong> dharmadhatu, a sabe<strong>do</strong>ria semelhante ao espelho e a sabe<strong>do</strong>ria <strong>da</strong><br />

igual<strong>da</strong>de. Sen<strong>do</strong> as características <strong>da</strong> sabe<strong>do</strong>ria de um Bu<strong>da</strong>, fica claro que eles<br />

vêem ou estão conscientes sem qualquer tipo de conceitualização. Mas, porque<br />

eles estão livres de conceitualizações, você pode assumir, erroneamente, que<br />

eles são incapazes de distinguir as características <strong>da</strong>s coisas. Em outras<br />

palavras, porque <strong>os</strong> Bu<strong>da</strong>s estão livres d<strong>os</strong> conceit<strong>os</strong> de bom ou mau, isso<br />

significa que eles são incapazes de distinguir entre bom e mau, na ver<strong>da</strong>de<br />

relativa? Porque eles estão livres d<strong>os</strong> conceit<strong>os</strong> de vermelho e branco, isso<br />

significa que eles são incapazes de distinguir entre uma coisa vermelha e uma<br />

coisa branca? De fato, não. Os Bu<strong>da</strong>s são perfeitamente capazes de distinguir as<br />

diferentes características <strong>da</strong>s coisas relativas, ou d<strong>os</strong> fenômen<strong>os</strong> relativ<strong>os</strong>. Essa<br />

sabe<strong>do</strong>ria é chama<strong>da</strong> de sabe<strong>do</strong>ria <strong>do</strong> discernimento, que é um aspecto <strong>da</strong><br />

sabe<strong>do</strong>ria que sabe o que existe <strong>–</strong> <strong>do</strong> ponto de vista <strong>do</strong> discernimento d<strong>os</strong><br />

aspect<strong>os</strong> <strong>da</strong> sabe<strong>do</strong>ria, de acor<strong>do</strong> com aquilo que sabe como as coisas são e<br />

aquilo que sabe o que existe. Isso corresponde ao Bu<strong>da</strong> Amitabha.<br />

A quinta sabe<strong>do</strong>ria é a sabe<strong>do</strong>ria <strong>da</strong> realização, que é corporifica<strong>da</strong> pelo<br />

Bu<strong>da</strong> Amogasiddhi. Isso significa que, devi<strong>do</strong> à sua sabe<strong>do</strong>ria, <strong>os</strong> Bu<strong>da</strong>s são<br />

espontaneamente capazes de realizar sua ativi<strong>da</strong>de sem conceitualização ou<br />

esforço. Sua ativi<strong>da</strong>de é incessante e ininterrupta. A ativi<strong>da</strong>de de um Bu<strong>da</strong><br />

nunca falha em realizar seu objetivo no tempo certo. Isto é o que quer dizer a<br />

sabe<strong>do</strong>ria <strong>da</strong> realização. Logo, a iniciação que você recebe, neste ponto <strong>da</strong><br />

<strong>prática</strong>, enquanto repete as sílabas OM HUM TRAM HRI AH, corresponde<br />

internamente à iniciação <strong>da</strong>s cinco sabe<strong>do</strong>rias e, externamente, à iniciação d<strong>os</strong><br />

cinco bu<strong>da</strong>s masculin<strong>os</strong>.<br />

Existem mudras que acompanham ca<strong>da</strong> uma destas sílabas. O mudra de<br />

Vairochana, que segue o OM, é juntar as mã<strong>os</strong>, entrelaçan<strong>do</strong> bem <strong>os</strong> ded<strong>os</strong>, de<br />

forma que as duas mã<strong>os</strong> formem um punho, e então estender junt<strong>os</strong> <strong>os</strong> <strong>do</strong>is<br />

112


ded<strong>os</strong> médi<strong>os</strong>. O mudra de Akshobhya, que segue o HUM, é juntar as mã<strong>os</strong><br />

forman<strong>do</strong> um punho com <strong>os</strong> <strong>do</strong>is ded<strong>os</strong> indica<strong>do</strong>res estendid<strong>os</strong>. O mudra de<br />

Ratnasambhava, que segue o TRAM, é juntar as mã<strong>os</strong> forman<strong>do</strong> um punho com<br />

<strong>os</strong> <strong>do</strong>is ded<strong>os</strong> anelares estendid<strong>os</strong> junt<strong>os</strong>. O mudra de Amitabha, que segue o<br />

HRI, é juntar as mã<strong>os</strong> forman<strong>do</strong> um punho com <strong>os</strong> <strong>do</strong>is polegares estendid<strong>os</strong><br />

junt<strong>os</strong>. E, por fim, o mudra de Amogasiddhi, que segue AH, é juntar as mã<strong>os</strong><br />

com <strong>os</strong> <strong>do</strong>is ded<strong>os</strong> mínim<strong>os</strong> estendid<strong>os</strong> junt<strong>os</strong>.<br />

Estes mudras estão ligad<strong>os</strong> ao mo<strong>do</strong> como estes Bu<strong>da</strong>s são percebid<strong>os</strong> <strong>–</strong> o<br />

que é comum em tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> tantras <strong>–</strong> <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> como estão no mun<strong>do</strong> exterior. O<br />

Bu<strong>da</strong> Vairochana, <strong>da</strong> família búdica, habita um reino central, chama<strong>do</strong><br />

Densamente Arranja<strong>do</strong>. O Bu<strong>da</strong> Akshobhya, <strong>da</strong> família Vajra, habita um reino<br />

no leste, chama<strong>do</strong> Manifestamente Glori<strong>os</strong>o. O Bu<strong>da</strong> Ratnasambhava, <strong>da</strong><br />

família Ratna, ou família <strong>da</strong> jóia, habita um reino no sul que se chama Glori<strong>os</strong>o.<br />

O Bu<strong>da</strong> Amitabha, <strong>da</strong> família Padma, ou <strong>da</strong> família <strong>do</strong> lótus, habita um reino a<br />

oeste que se chama Extático, ou Sukhavati. E o Bu<strong>da</strong> Amogasidhi, <strong>da</strong> família<br />

Karma, ou família <strong>da</strong> ação, habita um reino no norte chama<strong>do</strong> Perfeito, ou<br />

Ativi<strong>da</strong>de Perfeitamente Completa. O Bu<strong>da</strong> central, Vairochana, é visto como<br />

penetrante, permean<strong>do</strong> tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> Bu<strong>da</strong>s e to<strong>da</strong>s as suas ativi<strong>da</strong>des. Ca<strong>da</strong><br />

um d<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> quatro bu<strong>da</strong>s também é liga<strong>do</strong> a um estilo específico de<br />

ativi<strong>da</strong>de, um mo<strong>do</strong> específico de beneficiar <strong>os</strong> seres. Akshobhya incorpora a<br />

pacificação. Ratnasambhava incorpora o enriquecimento e a expansão.<br />

Amitabha, o magnetismo. E Amogasiddhi, a ativi<strong>da</strong>de direta e efetiva.<br />

Quan<strong>do</strong> falam<strong>os</strong> destes cinco rein<strong>os</strong>, dizem<strong>os</strong> que estão no leste, no sul,<br />

no oeste, no norte e ao centro, mas obviamente estas direções são meras<br />

designações. Eles não têm reali<strong>da</strong>de absoluta, ou local certo. Não podem<strong>os</strong><br />

dizer realmente onde fica o leste, porque o leste de um lugar será o oeste de<br />

outro. Será também o sul e o norte de outro. O lugar fica, de fato, no leste ou<br />

oeste? Talvez seja no sul, talvez seja no norte. Não se pode dizer. Logo, as<br />

direções, por óbvio, são vazias. São váli<strong>da</strong>s para a ver<strong>da</strong>de relativa. Em algum<br />

contexto específico que tenham<strong>os</strong> determina<strong>do</strong>, podem<strong>os</strong> realmente dizer que<br />

um lugar fica a leste ou a oeste de outro lugar. Então, são válid<strong>os</strong> para a<br />

ver<strong>da</strong>de relativa, mas apenas o são relativamente um ao outro e, portanto, não<br />

têm vali<strong>da</strong>de absoluta, e são vazi<strong>os</strong>. Dessa forma, não podem<strong>os</strong> dizer onde fica<br />

um reino ao leste, exceto com relação a n<strong>os</strong>so próprio corpo. Portanto, na<br />

tradição budista, chamam<strong>os</strong> de leste a qualquer lugar que você olhe.<br />

Por esta razão <strong>–</strong> e agora <strong>os</strong> mudras vão ficar um pouco mais complicad<strong>os</strong><br />

<strong>–</strong> pelo fato de o leste se identificar com qualquer lugar para o qual você olhar,<br />

entende‐se que, na parte relativa a<strong>os</strong> convites, na liturgia, um Bu<strong>da</strong> convi<strong>da</strong><strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> leste <strong>–</strong> por exemplo, Akshobhya <strong>–</strong> se aproximará de você pela frente. Um<br />

Bu<strong>da</strong> convi<strong>da</strong><strong>do</strong> <strong>do</strong> sul, como Ratnasambhava, se aproximará de você pela<br />

direção <strong>da</strong> sua orelha direita. Um Bu<strong>da</strong> convi<strong>da</strong><strong>do</strong> <strong>do</strong> oeste, como Amitabha, se<br />

aproximará por trás em direção à parte traseira de sua cabeça. E um Bu<strong>da</strong><br />

convi<strong>da</strong><strong>do</strong> <strong>do</strong> norte, como Amogasiddhi, se aproximará de você pela esquer<strong>da</strong>.<br />

Então, quan<strong>do</strong> você recebe a iniciação destes cinco bu<strong>da</strong>s e <strong>os</strong> visualiza se<br />

113


dissolven<strong>do</strong> em você, eles o fazem a partir destas direções. Portanto, <strong>os</strong> mudras<br />

que explicam<strong>os</strong> previamente tocam cinco pont<strong>os</strong> em sua cabeça. Porque<br />

Vairochana, representa<strong>do</strong> pelo de<strong>do</strong> médio, fica no centro, você toca as mã<strong>os</strong><br />

juntas, forman<strong>do</strong> um punho com <strong>os</strong> ded<strong>os</strong> médi<strong>os</strong> estendid<strong>os</strong>, bem no centro<br />

<strong>do</strong> topo de sua cabeça. Porque Akshobhya, representa<strong>do</strong> pel<strong>os</strong> ded<strong>os</strong><br />

indica<strong>do</strong>res, relaciona‐se com a frente, você toca as mã<strong>os</strong> juntas com <strong>os</strong> ded<strong>os</strong><br />

indica<strong>do</strong>res estendid<strong>os</strong> na testa. Porque Ratnasambhava, representa<strong>do</strong> pel<strong>os</strong><br />

ded<strong>os</strong> anelares, vem <strong>do</strong> sul, você toca as mã<strong>os</strong> juntas com <strong>os</strong> ded<strong>os</strong> anelares<br />

estendid<strong>os</strong> sobre sua orelha direita. Porque Amitabha, representa<strong>do</strong> pel<strong>os</strong><br />

polegares estendid<strong>os</strong>, se aproxima de você pelo oeste, você toca suas mã<strong>os</strong><br />

juntas com <strong>os</strong> polegares estendid<strong>os</strong> atrás de sua cabeça, ou o máximo que<br />

conseguir chegar perto. Finalmente, porque Amogasiddhi, representa<strong>do</strong> pel<strong>os</strong><br />

ded<strong>os</strong> mínim<strong>os</strong>, se aproxima de você pelo norte, você toca as mã<strong>os</strong> juntas com<br />

<strong>os</strong> ded<strong>os</strong> mínim<strong>os</strong> estendid<strong>os</strong> sobre o la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> <strong>da</strong> sua cabeça, sobre a<br />

orelha esquer<strong>da</strong>. Os mudras e seus toques são coordenad<strong>os</strong> pela recitação <strong>da</strong>s<br />

sílabas.<br />

Quan<strong>do</strong> você realiza estes mudras, <strong>os</strong> três primeir<strong>os</strong> são óbvi<strong>os</strong>. Mas<br />

quan<strong>do</strong> você chega ao HRI, que representa Amitabha, <strong>os</strong> polegares voltad<strong>os</strong><br />

para o la<strong>do</strong> de trás de sua cabeça, você não deve passar por cima dela. Você vai<br />

pela direita o máximo que puder. Depois, você faz o AH pela esquer<strong>da</strong>.<br />

A realização destes cinco mudras, enquanto se recita OM HUM TRAM HRI<br />

AH, acompanha a iniciação destes cinco Bu<strong>da</strong>s, que então se dissolvem em<br />

você. Quan<strong>do</strong> você recita o restante <strong>do</strong> mantra, ABHIKENTSA HUM, de forma<br />

a reconhecer que <strong>os</strong> cinco Bu<strong>da</strong>s se dissolveram em você, você estende as<br />

palmas <strong>da</strong>s mã<strong>os</strong> para cima e então as gira em direção a si mesmo, até que<br />

fiquem mais ou men<strong>os</strong> com as palmas para baixo, representan<strong>do</strong> a dissolução<br />

d<strong>os</strong> Bu<strong>da</strong>s em você.<br />

Estes são <strong>os</strong> mudras <strong>da</strong>s iniciações. Em segui<strong>da</strong>, passam<strong>os</strong> a<strong>os</strong> mudras<br />

<strong>da</strong>s oferen<strong>da</strong>s 44 . O primeiro mudra de oferen<strong>da</strong> acompanha o mantra<br />

ARGHAM. ARGHAM se refere à oferta <strong>da</strong> água de beber. Então o mudra faz a<br />

forma, com suas mã<strong>os</strong>, de um cálice ou recipiente que contém água de beber, <strong>do</strong><br />

mo<strong>do</strong> como Rinpoche m<strong>os</strong>trou [juntan<strong>do</strong> as pontas d<strong>os</strong> ded<strong>os</strong>, com <strong>os</strong> ded<strong>os</strong> e<br />

as palmas se juntan<strong>do</strong> pelo la<strong>do</strong> exterior d<strong>os</strong> ded<strong>os</strong> mínim<strong>os</strong> e pela parte<br />

interna <strong>da</strong>s palmas, virad<strong>os</strong> para cima, com <strong>os</strong> polegares repousad<strong>os</strong> sobre as<br />

palmas e <strong>os</strong> ded<strong>os</strong> indica<strong>do</strong>res].<br />

A segun<strong>da</strong> oferen<strong>da</strong>, PADYAM, representa a água de lavar <strong>os</strong> pés. O<br />

c<strong>os</strong>tume, à época <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong>, era que a água era derrama<strong>da</strong> de uma concha sobre<br />

<strong>os</strong> pés. O mudra se faz seguran<strong>do</strong> a parte de baixo d<strong>os</strong> ded<strong>os</strong> indica<strong>do</strong>res com a<br />

junta superior <strong>do</strong> polegar, estenden<strong>do</strong> <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> ded<strong>os</strong> com as palmas vira<strong>da</strong>s<br />

para cima, que é o mudra <strong>da</strong> concha, como o Rinpoche demonstrou.<br />

A terceira oferen<strong>da</strong>, PUPE, é a oferen<strong>da</strong> de flores. O mudra ilustra o lançamento<br />

de pétalas de flores com suas mã<strong>os</strong> [as unhas d<strong>os</strong> quatro ded<strong>os</strong> de ambas as<br />

44 Nota <strong>do</strong> editor: Ver Shenpen Ösel, vol. 4, n. 1, PP. 34 e PP. 62.<br />

114


mã<strong>os</strong>, com as palmas aponta<strong>da</strong>s para cima como num leve punho seguro pel<strong>os</strong><br />

polegares, repentinamente solt<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> polegares e estendid<strong>os</strong> para fora.<br />

DUPE é a oferen<strong>da</strong> de incenso, cujo gesto representa recipientes de pó de<br />

incenso finamente perfuma<strong>do</strong> [ambas as mã<strong>os</strong> juntas em punho, ded<strong>os</strong><br />

arranjad<strong>os</strong> sobre no topo de ca<strong>da</strong> uma delas, seguran<strong>do</strong> o polegar, que aponta<br />

para baixo].<br />

A próxima oferen<strong>da</strong>, ALOKE, representa lâmpa<strong>da</strong>s ou luzes. A p<strong>os</strong>ição<br />

<strong>da</strong>s mã<strong>os</strong>, com <strong>os</strong> polegares estendid<strong>os</strong> para cima, ilustra uma vela com o pavio<br />

[o mesmo mudra <strong>do</strong> incenso, com exceção que <strong>os</strong> polegares, agora virad<strong>os</strong> para<br />

cima, não estão pres<strong>os</strong> com <strong>os</strong> ded<strong>os</strong> fechad<strong>os</strong> em punho].<br />

A oferen<strong>da</strong> seguinte, GUENDE, representa a aspersão de água perfuma<strong>da</strong> pelo<br />

corpo, então o gesto com as mã<strong>os</strong> se assemelha à ação de aspergir o corpo de<br />

alguém com água perfuma<strong>da</strong> [ambas as mã<strong>os</strong> seguras, as palmas volta<strong>da</strong>s para<br />

frente, perpendiculares ao chão, <strong>os</strong> ded<strong>os</strong> apontad<strong>os</strong> para frente, moven<strong>do</strong><br />

gentilmente.<br />

A oferen<strong>da</strong>, na seqüência, é NEVEDE, ou NEWIDE, que é comi<strong>da</strong>,<br />

representa<strong>da</strong> pela torma de NEVEDE, que se encontra em uma tigela apropria<strong>da</strong><br />

no altar. O mudra, aqui, ilustra esta imagem, com as mã<strong>os</strong> espalma<strong>da</strong>s para<br />

cima, <strong>os</strong> ded<strong>os</strong> anelares estendid<strong>os</strong> para cima, de forma a ilustrar a torma que<br />

fica sobre o altar.<br />

CHAPDA, que significa som, na primeira vez que aparece nesta<br />

oferen<strong>da</strong>, é a oferen<strong>da</strong> de música. O gesto, aqui, é semelhante ao mo<strong>do</strong> como se<br />

bate no tambor de barro com <strong>os</strong> ded<strong>os</strong> [<strong>os</strong> polegares de ca<strong>da</strong> mão seguran<strong>do</strong> <strong>os</strong><br />

anelares e ded<strong>os</strong> mínim<strong>os</strong>, o de<strong>do</strong> médio e o de<strong>do</strong> indica<strong>do</strong>r estendid<strong>os</strong> para<br />

frente, o de<strong>do</strong> indica<strong>do</strong>r em cima, moven<strong>do</strong> levemente para cima e para baixo<br />

como se estivesse baten<strong>do</strong>].<br />

Seguin<strong>do</strong> estas oito oferen<strong>da</strong>s, vêm as cinco oferen<strong>da</strong>s desta seção que,<br />

como você pode lembrar, são as oferen<strong>da</strong>s d<strong>os</strong> objet<strong>os</strong> d<strong>os</strong> cinco sentid<strong>os</strong>. A<br />

primeira, RUPA, significa forma, que aqui quer dizer bela forma. O mudra que<br />

o representa é o <strong>do</strong> espelho, com sua mão direita estendi<strong>da</strong>, palma para fora, e a<br />

mão esquer<strong>da</strong> em punho com o polegar estendi<strong>do</strong> para cima, tocan<strong>do</strong> a palma<br />

<strong>da</strong> mão direita em sua base, como se f<strong>os</strong>se o cabo <strong>do</strong> espelho. Isso representa o<br />

fato de que as formas são percebi<strong>da</strong>s como imagens ou reflex<strong>os</strong> em um espelho.<br />

O segun<strong>do</strong> mudra é CHAPDA, que aqui se refere a<strong>os</strong> sons. O mudra,<br />

entretanto, é sempre algo que lembra um instrumento musical. Algumas<br />

pessoas, neste segun<strong>do</strong> mudra, fazem o mudra <strong>da</strong> flauta, ou <strong>do</strong> violão, porém,<br />

minha própria tradição é a de simplesmente repetir o mudra anterior, o <strong>do</strong><br />

tambor.<br />

GUENDE, que representa <strong>os</strong> bel<strong>os</strong> perfumes, é o mesmo mudra anterior,<br />

o que representa especificamente o perfume.<br />

RASA, que é a oferen<strong>da</strong> de sabores, é o mesmo mudra de ARGAM, com<br />

exceção de que, neste caso, é o recipiente de comi<strong>da</strong>, ao invés de água.<br />

115


SAPARCHE, que representa as sensações tácteis, é o mudra de elevar com as<br />

mã<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> tecid<strong>os</strong>, o que se faz giran<strong>do</strong> as mã<strong>os</strong> até que as palmas virem para<br />

fora, tocan<strong>do</strong> o polegar no de<strong>do</strong> anelar.<br />

Quan<strong>do</strong> você diz TRATITSA, que quer dizer individualmente, você gira<br />

de volta <strong>da</strong>s mã<strong>os</strong>, voltan<strong>do</strong> as palmas para cima, estalan<strong>do</strong> <strong>os</strong> ded<strong>os</strong>.<br />

Durante a próxima seção de oferen<strong>da</strong>s <strong>–</strong> oferen<strong>da</strong> <strong>da</strong>s oito substâncias<br />

auspici<strong>os</strong>as, <strong>os</strong> oito sign<strong>os</strong> auspici<strong>os</strong>as e <strong>os</strong> sete artig<strong>os</strong> reais <strong>–</strong> você continua<br />

manten<strong>do</strong> suas mã<strong>os</strong> em p<strong>os</strong>ição de oração, o mudra <strong>da</strong> súplica, ou <strong>da</strong> prece,<br />

como se faz em to<strong>da</strong>s as seções de oferen<strong>da</strong>s. Não há mudras específic<strong>os</strong> para<br />

eles, nem estalar de ded<strong>os</strong>.<br />

Quan<strong>do</strong> oferecem<strong>os</strong> a man<strong>da</strong>la com o mantra OM RATNA MANDALA<br />

HUM, fazem<strong>os</strong> o usual mudra <strong>da</strong> man<strong>da</strong>la.<br />

Tradutor: Penso que há várias pessoas aqui que não devem conhecer esse mudra.<br />

Coloque suas mã<strong>os</strong> vira<strong>da</strong>s, palma com palma. Cruze <strong>os</strong> ded<strong>os</strong> de forma que fiquem<br />

visíveis sobre elas, e não atrás, nas c<strong>os</strong>tas <strong>da</strong>s mã<strong>os</strong>. Então, com seus polegares, segure<br />

as pontas d<strong>os</strong> ded<strong>os</strong> mínim<strong>os</strong> de ca<strong>da</strong> mão op<strong>os</strong>itora. O mesmo com <strong>os</strong> ded<strong>os</strong><br />

indica<strong>do</strong>res, enganchan<strong>do</strong> as pontas d<strong>os</strong> ded<strong>os</strong> médi<strong>os</strong> <strong>da</strong>s mã<strong>os</strong> op<strong>os</strong>itoras. Agora,<br />

desenrole <strong>os</strong> ded<strong>os</strong> anelares, de forma que eles fiquem de eret<strong>os</strong>, enc<strong>os</strong>tan<strong>do</strong> suas<br />

c<strong>os</strong>tas um no outro. Esse é o mo<strong>do</strong> mais simples que consigo descrever. E não há<br />

estalar de ded<strong>os</strong> também.<br />

Rinpoche: As três seções de oferen<strong>da</strong>s restantes <strong>–</strong> ablução, secagem e vestimenta <strong>–</strong> não<br />

têm mudras, a não ser as palmas juntas [no mudra <strong>da</strong> súplica, ou <strong>da</strong> prece]. Entretanto,<br />

a maneira como juntam<strong>os</strong> as mã<strong>os</strong>, nestes mudras, é bem específica. Não apertam<strong>os</strong> as<br />

mã<strong>os</strong> de mo<strong>do</strong> que fiquem cola<strong>da</strong>s uma à outra. Devem<strong>os</strong> deixar um espaço entre elas,<br />

para que suas mã<strong>os</strong> assumam a forma de um botão de flor. Isso é chama<strong>do</strong> de mudra<br />

<strong>do</strong> lótus, que representa a flor de lótus que está prestes a se abrir. O lótus é o símbolo<br />

<strong>do</strong> Dharma, em geral. Ele nasce na lama, ou em pântan<strong>os</strong>, mas quan<strong>do</strong> a flor emerge,<br />

ela é imacula<strong>da</strong> e lin<strong>da</strong>. Então, o lótus <strong>–</strong> e, por extensão, o mudra <strong>–</strong> representa a <strong>prática</strong><br />

116


<strong>do</strong> Dharma e, portanto, para que você se lembre sempre disso, as palmas <strong>da</strong>s mã<strong>os</strong> se<br />

juntam dessa maneira. Se tiverem perguntas, por favor, sintam‐se à vontade.<br />

Pergunta: Rinpoche, o senhor disse que, no futuro, o Dharma seria ensina<strong>do</strong> em<br />

sânscrito pel<strong>os</strong> demais Bu<strong>da</strong>s. Poderia explicar por quê? Há algo na língua sânscrita<br />

que n<strong>os</strong> conecta mais diretamente com o esta<strong>do</strong> ilumina<strong>do</strong>? Ou serem<strong>os</strong> nós, no futuro,<br />

enquanto praticam<strong>os</strong> o Dharma, chegan<strong>do</strong> mais perto, espero, <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> ilumina<strong>do</strong>,<br />

capazes de entender e tornar estes sons mais inteligíveis? Ou este não é um<br />

ensinamento definitivo e, dessa forma, deve ser interpreta<strong>do</strong> <strong>do</strong> ponto de vista <strong>da</strong><br />

época em que o Bu<strong>da</strong> deu <strong>os</strong> ensinament<strong>os</strong>?<br />

Rinpoche: Em primeiro lugar, quanto ao fato de tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> Bu<strong>da</strong>s <strong>do</strong> futuro ensinarem<br />

ou não em sânscrito ser uma afirmação definitiva ou uma afirmação com uma intenção<br />

oculta <strong>–</strong> isto é, que não diz o que realmente quer dizer, mas significa que algo está<br />

indica<strong>do</strong> no que quer dizer <strong>–</strong> é algo que eu simplesmente não p<strong>os</strong>so resolver. Eu não<br />

p<strong>os</strong>so dizer: “é uma afirmação e deve ser entendi<strong>da</strong> literalmente”, ou “é uma afirmação<br />

simbólica com um significa<strong>do</strong> oculto”. Eu não p<strong>os</strong>so resolver essa questão porque sua<br />

fonte é o Sutra Badhrakalpa, ou Sutra <strong>do</strong> Éon Afortuna<strong>do</strong>, em que o Bu<strong>da</strong> diz <strong>os</strong> nomes<br />

d<strong>os</strong> parentes, o estilo de ensinar, a extensão <strong>do</strong> ensinamento, o número e as quali<strong>da</strong>des<br />

<strong>do</strong> séqüito que acompanha <strong>os</strong> ensinament<strong>os</strong>, e assim por diante, para ca<strong>da</strong> um d<strong>os</strong> mil<br />

Bu<strong>da</strong>s deste kalpa em particular. Isso inclui <strong>os</strong> três Bu<strong>da</strong>s que o precederam, e <strong>os</strong><br />

outr<strong>os</strong> que o sucederão. É nesse sutra que ele afirma, por exemplo, que Maitreya será o<br />

quinto Bu<strong>da</strong> deste kalpa e que Rugi<strong>do</strong> <strong>do</strong> Leão será o sexto. Ele discute sobre <strong>os</strong> mil<br />

Bu<strong>da</strong>s até o último, chama<strong>do</strong> Rochana. E, onde o Bu<strong>da</strong> prediz suas vin<strong>da</strong>s, ele diz<br />

também que eles tod<strong>os</strong> ensinarão em sânscrito. É difícil tentar aferir qual era sua<br />

intenção quan<strong>do</strong> fez essa afirmação. O efeito de se usar sânscrito nas <strong>prática</strong>s litúrgicas<br />

é basicamente o de estabelecer as bênçã<strong>os</strong> [<strong>da</strong>s palavras originais Bu<strong>da</strong>] nas partes mais<br />

importantes <strong>da</strong> sadhana <strong>–</strong> n<strong>os</strong> mantras, que se repetem 45 , e nas partes indica<strong>da</strong>s, como<br />

a culminação <strong>do</strong> convite, a culminação <strong>da</strong>s várias oferen<strong>da</strong>s, entre outras. Por essa<br />

razão, então, mesmo quan<strong>do</strong> estas <strong>prática</strong>s foram realiza<strong>da</strong>s fora <strong>da</strong> língua sânscrita,<br />

estas seções permaneceram no original e não foram traduzi<strong>da</strong>s. Que isso implique ou<br />

não em que o sânscrito p<strong>os</strong>sa ser considera<strong>do</strong> uma língua fun<strong>da</strong>mentalmente superior,<br />

depende não tanto <strong>da</strong> idéia dela ser superior, mas por ser sagra<strong>da</strong>, porque acreditam<strong>os</strong><br />

que o Bu<strong>da</strong> ensinou em sânscrito. Há algumas tradições budistas que mantêm a visão<br />

de que o <strong>os</strong> ensinament<strong>os</strong> originais foram <strong>da</strong>d<strong>os</strong> em páli. Mas a tradição Vajrayana<br />

insiste em que a maior parte d<strong>os</strong> ensinament<strong>os</strong> originais foram <strong>da</strong>d<strong>os</strong> em sânscrito. Em<br />

razão disso, usan<strong>do</strong> o sânscrito na <strong>prática</strong> litúrgica, sentim<strong>os</strong> que n<strong>os</strong> chega a bênção<br />

<strong>do</strong> Bu<strong>da</strong>, a bênção de sua palavra, à n<strong>os</strong>sa <strong>prática</strong>.<br />

Pergunta: Então, esta predição está sujeita ao ensinamento <strong>da</strong> impermanência?<br />

Rinpoche: O que você quer dizer?<br />

Pergunta: O que quero dizer é, se isso está grava<strong>do</strong> em pedra, ou se recai sob a<br />

orientação que n<strong>os</strong> foi ensina<strong>da</strong>, de que na<strong>da</strong> é permanente?<br />

Rinpoche: O aspecto impermanente disto é uma variação <strong>do</strong> uso <strong>do</strong> sânscrito no<br />

mun<strong>do</strong>. No tempo de Bu<strong>da</strong>, as pessoas na socie<strong>da</strong>de em que ele vivia realmente<br />

45 Nota <strong>do</strong> editor: a repetição <strong>do</strong> mantra principal, ou d<strong>os</strong> mantras <strong>da</strong> sadhana, enquanto realizam<strong>os</strong> várias<br />

visualizações, geralmente condensa o corpo principal <strong>da</strong> qualquer sadhana.<br />

117


falavam sânscrito. Hoje, ninguém fala; ela é considera<strong>da</strong> uma língua morta. Mas, de<br />

acor<strong>do</strong> com o sutra, ela retornará, e será usa<strong>da</strong> como língua, e então morrerá, e<br />

novamente retornará, será usa<strong>da</strong> e morrerá, e assim por diante. Isso é um exemplo de<br />

impermanência.<br />

Pergunta: Rinpoche, eu g<strong>os</strong>taria de compartilhar as fitas destes ensinament<strong>os</strong> com a<br />

sangha <strong>do</strong> KTC, e g<strong>os</strong>taria de saber se isso é algo apropria<strong>do</strong> para se fazer, ou se seria<br />

apropria<strong>do</strong> praticar o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> em grupo, incluin<strong>do</strong> pessoas que não<br />

receberam a iniciação. E também se seria apropria<strong>do</strong> fazer a <strong>prática</strong> curta de Mahakala<br />

<strong>do</strong> livro de canto, sozinho, em casa?<br />

Rinpoche: Quanto à sua primeira pergunta, qualquer pessoa pode praticar o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>, ten<strong>do</strong> a iniciação ou não. Quanto a instituir sua <strong>prática</strong> em grupo, se for<br />

parte <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> KTC, você precisa primeiro ter permissão d<strong>os</strong> professores<br />

apropriad<strong>os</strong>. Em segun<strong>do</strong> lugar, se você tem fé na <strong>prática</strong> curta <strong>do</strong> Mahakala, por certo<br />

está tu<strong>do</strong> bem em fazê‐la em casa.<br />

Pergunta: Rinpoche, esta pergunta não tem na<strong>da</strong> a ver com o tópico ensina<strong>do</strong>, mas<br />

como envolve questões como fé e devoção, eu pensei que pudesse ser relevante e<br />

benéfico. Tem a ver com a natureza e a aparição d<strong>os</strong> Gyalwang Karmapas em geral.<br />

Como o senhor sabe, eu tenho reza<strong>do</strong> ao Karmapa como parte de minha <strong>prática</strong>, e se<br />

diz, na tradição Kagyü, que o Karmapa é um bodhisattva <strong>do</strong> décimo nível. Eu<br />

realmente creio nisso, mesmo nunca ten<strong>do</strong> ti<strong>do</strong> contato com o Karmapa. Mas, uma vez,<br />

estava ten<strong>do</strong> dificul<strong>da</strong>des com minha <strong>prática</strong>, e fui ler as canções <strong>do</strong> oitavo Gyalwang<br />

Karmapa, o Mikyo Dordje, no Kagyü Gurtso. Lá, Mikyo Dordje se refere a ele mesmo<br />

como um ser ordinário. Minha mente pequena não consegue compreender como um<br />

bodhisattva de altíssimo nível pode se pensar como um ser ordinário. Rinpoche, o<br />

senhor poderia dispersar esta minha confusão?<br />

Tradutor: P<strong>os</strong>so abreviar isso?<br />

Pergunta: Oh, sim, por favor.<br />

Rinpoche: Esse tipo de afirmação, como a <strong>do</strong> Gyalwang Mikyo Dordje que você<br />

encontrou no Kagyü Gurtso, é típica d<strong>os</strong> grandes mestres, porque sua primeira<br />

responsabili<strong>da</strong>de é servir como um bom exemplo para seus estu<strong>da</strong>ntes, de maneira que<br />

eles devem demonstrar um mo<strong>do</strong> livre de arrogância. Então, embora não seja uma<br />

ver<strong>da</strong>de literal que eles sejam seres ordinári<strong>os</strong>, eles invariavelmente dirão coisas como:<br />

“Eu sou uma pessoa ordinária, cheia de kleshas, sem nenhuma quali<strong>da</strong>de”. <strong>Ao</strong> dizer<br />

isso, eles n<strong>os</strong> m<strong>os</strong>tram a importância de não ser arrogante. Você não deve levar essas<br />

afirmações ao pé <strong>da</strong> letra.<br />

Pergunta: Rinpoche, é apropria<strong>do</strong> e benéfico praticar a sadhana <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong><br />

se ain<strong>da</strong> não fiz nenhuma parte <strong>do</strong> ngöndro?<br />

Rinpoche: Não faz nenhuma diferença.<br />

Pergunta: Eu assisto a part<strong>os</strong> e aju<strong>do</strong> mulheres durante o trabalho de parto, e g<strong>os</strong>taria<br />

de saber se há algo que eu p<strong>os</strong>sa fazer, depois que o bebê chegou, para honrar o novo<br />

ser e sua mãe.<br />

118


Rinpoche: Haverá algo para isso no ensinamento <strong>do</strong> sutra <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> que<br />

poderá responder sua questão.<br />

Pergunta: P<strong>os</strong>so fazer ain<strong>da</strong> outra pergunta? Estava pensan<strong>do</strong> se o senhor poderia falar<br />

algo sobre qual seria a melhor conduta se você estivesse sen<strong>do</strong> ataca<strong>da</strong> por um<br />

estupra<strong>do</strong>r. Se pudéssem<strong>os</strong> n<strong>os</strong> defender, o que seria a melhor coisa a fazer?<br />

Tradutor: Você quer dizer: como se defender?<br />

Pergunta: Sim.<br />

Tradutor: O que fazer a ele?<br />

Pergunta: Estaria tu<strong>do</strong> bem se pudéssem<strong>os</strong> machucá‐lo?<br />

Tradutor: Como machucá‐lo ou não?<br />

Pergunta: Qual seria a coisa certa a fazer?<br />

Rinpoche: Eu tenho que pensar mais sobre essa pergunta.<br />

Pergunta: Rinpoche, enquanto estou aqui, fica bem claro para mim que a melhor coisa<br />

a fazer é voltar para casa e organizar minha vi<strong>da</strong> de tal mo<strong>do</strong> que eu p<strong>os</strong>sa praticar<br />

muitas horas por dia. Mas o que acontece quan<strong>do</strong> chego em casa é que a ligação com <strong>os</strong><br />

ensinament<strong>os</strong> fica mais distante, e o que se torna mais imediato e real são as<br />

necessi<strong>da</strong>des em minha volta. Eu começo a pensar que praticar tanto é egoísta e<br />

autocentra<strong>do</strong>, e que seria mais benéfico aju<strong>da</strong>r outras pessoas. Mas acho que isso é um<br />

erro. O senhor poderia comentar sobre isso?<br />

Rinpoche: Bem, de fato, amb<strong>os</strong> estão corret<strong>os</strong>. Nenhum deles é um erro. Desejar<br />

praticar bastante é correto, e ser atenci<strong>os</strong>o com a necessi<strong>da</strong>de d<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> a sua volta,<br />

colocá‐l<strong>os</strong> em primeiro lugar, também é correto. Você tem que encontrar o equilíbrio de<br />

acor<strong>do</strong> com sua situação em particular, usan<strong>do</strong> seu insight. A única regra é não ser<br />

extremo em nenhum caso. Não se extremar na quanti<strong>da</strong>de de <strong>prática</strong> de mo<strong>do</strong> que<br />

você não preste atenção a<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> e suas necessi<strong>da</strong>des, ou se extremar em limitar sua<br />

<strong>prática</strong> ao benefício d<strong>os</strong> outr<strong>os</strong>, de mo<strong>do</strong> que não pratique nem um pouco.<br />

Pergunta: Rinpoche, eu me confun<strong>do</strong> com algumas visualizações. Eu entendi que o<br />

senhor disse que a visualização <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> é como um espelho que reflete<br />

meu próprio Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> interior. Se ele é um espelho, por que o senhor disse<br />

que ele é maior que eu? Isso não cria confusão?<br />

Tradutor: Você quer dizer que onde estiver sua mão direita será a mão esquer<strong>da</strong>, no<br />

espelho? É isso que você quer dizer ou é apenas quanto ao tamanho dele?<br />

Pergunta: Ele apresentou a visualização frontal como sen<strong>do</strong> maior que a que eu<br />

visualizo como eu mesmo. E em algum momento eu ouvi que ele era o mesmo que eu.<br />

Então, por que eu tenho que imaginar o frontal como sen<strong>do</strong> maior? Isso cria uma<br />

insegurança em mim, como se eu nunca f<strong>os</strong>se bom o suficiente.<br />

Tradutor: Mais largo, você quer dizer que o corpo dele é maior? Você não está falan<strong>do</strong><br />

só <strong>do</strong> cortejo?<br />

Pergunta: Não. É como se isso me fizesse sentir que ele tem mais poder que eu.<br />

Tradutor: Ele nunca disse que a visualização frontal f<strong>os</strong>se maior.<br />

119


Pergunta: Deve estar no texto, talvez...<br />

Tradutor: Oh, sim, aqui está.<br />

Rinpoche: Bem, o autor <strong>do</strong> texto deve ter ti<strong>do</strong> algum motivo para dizer isso àquela<br />

época.<br />

Pergunta: Eu imaginei que f<strong>os</strong>se para me <strong>da</strong>r mais confiança, mas ao mesmo tempo eu<br />

penso que poderia visualizá‐lo <strong>do</strong> mesmo tamanho que o <strong>da</strong> auto‐visualização.<br />

Rinpoche: Você pode imaginá‐lo <strong>do</strong> mesmo tamanho.<br />

Pergunta: Rinpoche, um samaya é primariamente manti<strong>do</strong> pela fé e devoção,<br />

sobrepon<strong>do</strong>‐se a, p<strong>os</strong>sivelmente, poder completar a <strong>prática</strong>? Por exemplo, se você está<br />

fazen<strong>do</strong> as <strong>prática</strong>s e encontra outra como esta e decide que quer fazê‐la. É basicamente<br />

a fé a devoção, em op<strong>os</strong>ição às etapas para completar qualquer <strong>prática</strong>?<br />

Rinpoche: Sim, basicamente um samaya é manti<strong>do</strong> por sua fé e devoção.<br />

120


O Sutra <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong><br />

Os benefíci<strong>os</strong> de ouvir e relembrar o nome <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong><br />

Continuação d<strong>os</strong> ensinament<strong>os</strong> <strong>do</strong> muito venerável Khenchen Thrangu Rinpoche sobre o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>.<br />

O Sutra <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> explica, em primeiro lugar, as <strong>do</strong>ze<br />

aspirações <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, após o que o Bu<strong>da</strong> começa a falar sobre <strong>os</strong><br />

benefíci<strong>os</strong> de se lembrar ou de ao men<strong>os</strong> ouvir seu nome. O primeiro é que,<br />

mesmo aqueles mais avarent<strong>os</strong>, ao ouvirem o nome <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, serão<br />

liberad<strong>os</strong> <strong>da</strong> avareza e de suas conseqüências. O segun<strong>do</strong> é que aqueles que se<br />

comportam de maneira imoral, ao ouvirem o nome <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>,<br />

passarão a se comportar moralmente e, assim, serão liberad<strong>os</strong> d<strong>os</strong> resultad<strong>os</strong><br />

kármic<strong>os</strong> <strong>da</strong> imorali<strong>da</strong>de. O terceiro benefício é para aqueles que são<br />

intensamente invej<strong>os</strong><strong>os</strong> e competitiv<strong>os</strong>, de mo<strong>do</strong> que sempre se fazem muit<strong>os</strong><br />

elogi<strong>os</strong>, tentan<strong>do</strong> maximizar suas quali<strong>da</strong>des e prestígio em detrimento de<br />

outr<strong>os</strong>. Tais pessoas se devotam a combater e minimizar <strong>os</strong> outr<strong>os</strong>, fazen<strong>do</strong>‐<strong>os</strong><br />

parecer ruins. Se continuarem fazen<strong>do</strong> assim, renascerão em um d<strong>os</strong> três rein<strong>os</strong><br />

inferiores <strong>–</strong> o reino animal, o reino d<strong>os</strong> pretas, ou o reino infernal <strong>–</strong> e<br />

experimentarão grandes sofriment<strong>os</strong>. Mas, e ouvirem o nome <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>, pela bênção e aspiração de se o ouvir, eles se tornarão muito men<strong>os</strong><br />

competitiv<strong>os</strong>, deixarão de minimizar <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> e se liberarão d<strong>os</strong> resultad<strong>os</strong><br />

kármic<strong>os</strong> de tais ações.<br />

121


O que acontece, para estas pessoas, como conseqüência de ouvir o nome<br />

<strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, é que sua atitude mu<strong>da</strong>rá. Elas se tornarão mais<br />

reflexivas, e pelo desenvolvimento dessa reflexão, se tornarão mais habilid<strong>os</strong>as<br />

e apropria<strong>da</strong>s quan<strong>do</strong> <strong>da</strong> escolha de suas ações. <strong>Ao</strong> mesmo tempo, suas mentes<br />

começarão a ficar mais calmas e se tornarão tranqüilas. Eventualmente, se<br />

tornarão diligentes na <strong>prática</strong> <strong>da</strong>s virtudes e se encontrarão cerca<strong>da</strong>s de amig<strong>os</strong><br />

virtu<strong>os</strong><strong>os</strong> <strong>–</strong> amig<strong>os</strong> que têm intenções virtu<strong>os</strong>as e que se comportam de maneira<br />

adequa<strong>da</strong>. Sem a intervenção <strong>da</strong> bênção <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, que provém de<br />

se ouvir seu nome, <strong>da</strong><strong>da</strong> sua prévia tendência de comportamento, elas<br />

dificilmente encontrariam amig<strong>os</strong> virtu<strong>os</strong><strong>os</strong>. Os amig<strong>os</strong> virtu<strong>os</strong><strong>os</strong> que as cercam<br />

<strong>–</strong> incluin<strong>do</strong> mestres, mas também, em geral, ao men<strong>os</strong> amig<strong>os</strong> <strong>–</strong> são uma <strong>da</strong>s<br />

condições que as influencia e permite mu<strong>da</strong>r seus mod<strong>os</strong>. Quan<strong>do</strong> alguém é<br />

intensa e impied<strong>os</strong>amente competitiva e invej<strong>os</strong>a, elas fazem mal a<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> e<br />

acumulam muito karma negativo. Essa feroz competitivi<strong>da</strong>de e seu<br />

conseqüente estilo de vi<strong>da</strong> são chamad<strong>os</strong> de laço ou nó de Mara [em tibetano,<br />

shakpa]. Esse nó é corta<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> a pessoa ouve o nome <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>.<br />

Até este ponto, a limitação de sua configuração, que reforça sua ativa e<br />

agressiva competitivi<strong>da</strong>de, é um obscurecimento, ou ignorância, que é como<br />

estar preso dentro <strong>da</strong> casca de um ovo. Sem condições de quebrá‐la, ela não<br />

pode crescer. Sua capaci<strong>da</strong>de inata para a reflexão e sabe<strong>do</strong>ria é impedi<strong>da</strong> de se<br />

desenvolver. Quan<strong>do</strong> ouve o nome <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, ela se liberta <strong>da</strong> casca<br />

de ovo, o que permite que sua capaci<strong>da</strong>de inata para a reflexão e a sabe<strong>do</strong>ria se<br />

desenvolva. Essa reflexão seca seus kleshas, especialmente o klesha <strong>da</strong> inveja,<br />

que é como um rio de forte corrente. Esse rio, pouco a pouco, seca. Claro, isso<br />

não acontece automaticamente, ou sem nenhum esforço. Pela bênção de se<br />

ouvir o nome <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, tais pessoas encontram mestres e outras<br />

pessoas que as influenciam para a direção virtu<strong>os</strong>a, enquanto, ao mesmo tempo,<br />

sua própria reflexão se desenvolve. Como resulta<strong>do</strong>, elas se envolvem<br />

ativamente com métod<strong>os</strong> que irão erradicar ou secar esses kleshas.<br />

Estes são <strong>os</strong> benefíci<strong>os</strong> de curto prazo. No longo prazo, a pessoa que<br />

ouve o nome <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> será libera<strong>da</strong> d<strong>os</strong> sofriment<strong>os</strong> <strong>do</strong><br />

nascimento, velhice e morte. O nascimento, por óbvio, é o início <strong>do</strong><br />

envelhecimento, que sempre culmina na morte; logo, nascimento e morte são<br />

considerad<strong>os</strong> um processo. Enquanto <strong>os</strong> event<strong>os</strong> <strong>do</strong> nascimento, velhice e morte<br />

são normais em n<strong>os</strong>sas vi<strong>da</strong>s, pelo fato de ouvir o nome <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>,<br />

por fim, n<strong>os</strong> liberarem<strong>os</strong> d<strong>os</strong> sofriment<strong>os</strong> a eles associad<strong>os</strong>. Esse é o terceiro<br />

benefício.<br />

O quarto benefício de ouvir o nome <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> é que ele<br />

pacifica disputas. Há pessoas que g<strong>os</strong>tam de brigar. Elas brigam em qualquer<br />

oportuni<strong>da</strong>de. G<strong>os</strong>tam de causar discórdia. G<strong>os</strong>tam de caluniar e fazer mal a<strong>os</strong><br />

outr<strong>os</strong> de to<strong>do</strong> mo<strong>do</strong> que puderem. Elas fazem mal às pessoas fisicamente,<br />

verbalmente e, às vezes, até mesmo as amaldiçoam por meio de magia. São<br />

malévolas e realmente podem ferir as pessoas. Nesse caso, se a pessoa<br />

malevolente ou a vítima de sua malevolência ouvirem o nome <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

122


<strong>Medicina</strong>, to<strong>da</strong> a situação se acalmará. Se a malevolente, a calunia<strong>do</strong>ra, ouvir o<br />

nome <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, então sua malevolência diminuirá. Perderão seu<br />

desejo de a to<strong>da</strong> hora brigar e caluniar. Se a vítima <strong>da</strong> malevolência ouvir o<br />

nome <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, a malevolente será incapaz de lhe fazer mal. E, se<br />

acaso tiverem arregimenta<strong>do</strong> espírit<strong>os</strong> ou demôni<strong>os</strong> locais para o serviço de<br />

seus objetiv<strong>os</strong> maléfic<strong>os</strong> e ambições, esses espírit<strong>os</strong> se encontrarão sem poder de<br />

prejudicar o objeto de suas pragas. Isso não quer dizer que, pelo poder <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, esses espírit<strong>os</strong> serão violentamente repelid<strong>os</strong>. Significa, sim, que<br />

tais espírit<strong>os</strong> se tornarão benevolentes e, eventualmente, a pessoa que ouve o<br />

nome <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> e, por fim, a pessoa que ouve o nome <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong> e que seja o objeto <strong>da</strong> malevolência e também a pessoa que prejudica<br />

<strong>–</strong> o feiticeiro, ou algo assim <strong>–</strong> também se tornarão benevolentes.<br />

Até este ponto, explicam<strong>os</strong> o alívio d<strong>os</strong> problemas, as condutas negativas<br />

e <strong>os</strong> resultad<strong>os</strong> negativ<strong>os</strong> <strong>da</strong> avareza, imorali<strong>da</strong>de, inveja e malevolência. A<br />

seguir, o sutra expõe <strong>os</strong> benefíci<strong>os</strong> diret<strong>os</strong> <strong>do</strong> nome, as quali<strong>da</strong>des e vári<strong>os</strong><br />

outr<strong>os</strong> benefíci<strong>os</strong> que trazem a audição e a lembrança <strong>do</strong> nome <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>. Diz que, qualquer pessoa de fé que lembra o nome <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>, a<strong>do</strong>ta a conduta moral d<strong>os</strong> oito compromiss<strong>os</strong> ou vot<strong>os</strong> de renovação<br />

e purificação por um mês, uma semana ou mesmo alguns dias <strong>–</strong> ou, de outra<br />

forma, comporta‐se adequa<strong>da</strong>mente com o corpo e a palavra e aspira a que<br />

renasça no reino de Sukavhati, o reino de Amitabha, essa pessoa<br />

miracul<strong>os</strong>amente renascerá no instante após sua morte. Os que não quiserem<br />

renascer em Sukavhati, renascerão n<strong>os</strong> rein<strong>os</strong> d<strong>os</strong> deuses e gozarão d<strong>os</strong><br />

esplen<strong>do</strong>res e alegrias desses rein<strong>os</strong>. E <strong>–</strong> embora, normalmente, quan<strong>do</strong> alguém<br />

renasce em um reino divino, depois que o mérito que produziu este<br />

renascimento divinal se esgota, a pessoa renasce em alguma forma men<strong>os</strong><br />

agradável <strong>do</strong> samsara <strong>–</strong> aqueles que lembram o nome <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> e se<br />

comportam de maneira apropria<strong>da</strong> não sofrerão de um renascimento inferior.<br />

Suas existências continuarão agradáveis. Se, em particular, eles desejarem<br />

renascer novamente como human<strong>os</strong>, eles renascerão nas circunstâncias mais<br />

afortuna<strong>da</strong>s e agradáveis <strong>do</strong> reino humano. Serão saudáveis, coraj<strong>os</strong><strong>os</strong>,<br />

inteligentes e bond<strong>os</strong><strong>os</strong> e, devi<strong>do</strong> a essas características, continuarão a se<br />

comportar de maneira p<strong>os</strong>itiva e inspirarão outr<strong>os</strong> a fazer o mesmo.<br />

O Bu<strong>da</strong>, até este ponto <strong>do</strong> sutra, falou sobre <strong>os</strong> cinco benefíci<strong>os</strong> de<br />

lembrar o nome <strong>–</strong> o alívio d<strong>os</strong> quatro problemas e <strong>os</strong> benefíci<strong>os</strong> diret<strong>os</strong>. Agora,<br />

Manjushri se dirige ao Bu<strong>da</strong> e à assembléia que está assistin<strong>do</strong> ao seu<br />

ensinamento e discorre sobre a importância <strong>do</strong> sutra. Diz que é importante<br />

lembrar o sutra, lê‐lo, escrevê‐lo, guar<strong>da</strong>r uma cópia dele con<strong>os</strong>co, venerá‐lo<br />

por meio de flores, incenso e outras oferen<strong>da</strong>s e proclamar seu significa<strong>do</strong> a<strong>os</strong><br />

outr<strong>os</strong>. Se assim se fizer, ele diz, muit<strong>os</strong> benefíci<strong>os</strong> serão acumulad<strong>os</strong>. To<strong>da</strong> a<br />

região em que essas ativi<strong>da</strong>des tomarem lugar será abençoa<strong>da</strong> e protegi<strong>da</strong> pel<strong>os</strong><br />

quatro grandes reis e outras dei<strong>da</strong>des presentes na man<strong>da</strong>la.<br />

Em resp<strong>os</strong>ta à Manjushri, o Bu<strong>da</strong> adiciona que, quem quer que venere o<br />

Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, deve construir ou adquirir uma imagem dele <strong>–</strong> uma estátua,<br />

123


uma pintura, algum tipo de ilustração <strong>–</strong> ou deve visualizá‐lo. Veneran<strong>do</strong>‐o por<br />

uma semana ou por qualquer outro perío<strong>do</strong> de tempo, devem suplicar<br />

intensamente a ele, comen<strong>do</strong> comi<strong>da</strong> pura <strong>–</strong> isto é, comi<strong>da</strong> que se obtém sem<br />

causar mal a outr<strong>os</strong> <strong>–</strong> lavan<strong>do</strong>‐se freqüentemente, vestin<strong>do</strong> roupas limpas, e<br />

assim por diante, e, desse mo<strong>do</strong>, venerar o sutra e a imagem por meio de<br />

oferen<strong>da</strong>s físicas, incluin<strong>do</strong> pára‐sol, bandeiras <strong>da</strong> vitória, e outr<strong>os</strong>.<br />

Para que a veneração seja efetiva, aquele que venera deve ter uma boa intenção,<br />

defini<strong>da</strong> por quatro características. A primeira é venerar com a mente<br />

imacula<strong>da</strong>, que significa livre <strong>da</strong>s manchas <strong>do</strong> egoísmo e <strong>da</strong> competitivi<strong>da</strong>de.<br />

Sua intenção ao fazer a <strong>prática</strong> não deve ser a de meramente beneficiar‐se, mas<br />

também tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres, sem competitivi<strong>da</strong>de. A segun<strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de uma boa<br />

intenção é ser imacula<strong>da</strong>, que aqui significa ter fé imacula<strong>da</strong>, fé sem reservas, fé<br />

sem sentimento de antipatia para com o objeto <strong>da</strong> fé, sem a dúvi<strong>da</strong> claudicante<br />

que não funciona.<br />

A terceira característica é a ausência de malevolência. A malevolência<br />

pode assumir diferentes formas. Há a raiva expressa, aquela que é evidente e se<br />

manifestará a qualquer momento. Há o ressentimento. O ressentimento ain<strong>da</strong> é<br />

malevolência, mas é algo que você carrega sob a superfície e que espera que o<br />

momento futuro oportuno apareça. Há malícia, que o faz querer dizer ou fazer<br />

algo ruim. E, então, há o desejo de fazer mal a<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> de maneira mais<br />

planeja<strong>da</strong> <strong>do</strong> que meramente malici<strong>os</strong>a. A ausência de to<strong>da</strong>s essas formas de<br />

malevolência é uma atitude em que sinceramente se deseja que <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> sejam<br />

felizes e que se liberem de qualquer sofrimento, de mo<strong>do</strong> que, se você vir<br />

alguém feliz, você se regozija e deseja que ele seja ain<strong>da</strong> mais feliz e que se<br />

libere de qualquer outro sofrimento que o p<strong>os</strong>sa atingir. Se você vir alguém<br />

sofren<strong>do</strong>, você deseja que essa pessoa seja livre de to<strong>do</strong> o sofrimento pelo qual<br />

esteja passan<strong>do</strong> e que seja completamente feliz.<br />

A quarta característica de uma boa intenção é a imparciali<strong>da</strong>de, uma<br />

atitude que direciona a benevolência igualmente a tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres, sem exceção.<br />

Não há preferência por seres em particular, em detrimento de outr<strong>os</strong>. A atitude<br />

é a de que tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres são mais ou men<strong>os</strong> viajantes companheir<strong>os</strong> na mesma<br />

estra<strong>da</strong>.<br />

Com essa boa intenção, se o praticante fisicamente circular ao re<strong>do</strong>r de<br />

uma imagem <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, mentalmente lembrar suas <strong>do</strong>ze aspirações<br />

e recitar seu mantra, ou ao men<strong>os</strong> lembrar <strong>os</strong> benefíci<strong>os</strong> <strong>do</strong> nome <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>, como descrito no sutra, então, a pessoa realizará seus desej<strong>os</strong>.<br />

A razão pela qual se diz que a pessoa realizará seus desej<strong>os</strong> é que há muit<strong>os</strong><br />

diferentes desej<strong>os</strong>. Alguns anseiam pela longevi<strong>da</strong>de, o que podem alcançar ao<br />

se envolver com essas ativi<strong>da</strong>des <strong>–</strong> suplicar ao Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, an<strong>da</strong>n<strong>do</strong> ao<br />

re<strong>do</strong>r de sua imagem, ten<strong>do</strong> fé e devoção por ele, e assim por diante. Algumas<br />

pessoas não se importam muito com o quanto irão viver; estão mais<br />

interessa<strong>da</strong>s em ter riquezas, o que poderão alcançar se aplicarem este méto<strong>do</strong>.<br />

Algumas pessoas nem estão preocupa<strong>da</strong>s com riquezas, mas querem filh<strong>os</strong>. E<br />

124


elas podem ter filh<strong>os</strong> com este méto<strong>do</strong>, embora não exclusivamente por ele 46 .<br />

Algumas pessoas desejam sucesso no mun<strong>do</strong> material, n<strong>os</strong> negóci<strong>os</strong>, e podem<br />

alcançá‐lo aplican<strong>do</strong> este méto<strong>do</strong>. Quer dizer, você pode alcançar o que deseja<br />

no mun<strong>do</strong> material, n<strong>os</strong> negóci<strong>os</strong>, mas com men<strong>os</strong> esforço.<br />

Do mesmo mo<strong>do</strong>, se alguém é afligi<strong>do</strong> por pesadel<strong>os</strong>, sonh<strong>os</strong> maus, vê<br />

sinais não auspici<strong>os</strong><strong>os</strong>, vê coisas que julgam ser de má sorte, experienciam<br />

coisas que lhes trazem distúrbi<strong>os</strong> ou ansie<strong>da</strong>des, se fizerem oferen<strong>da</strong>s ao Bu<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, rezarem para ele, lembrarem seu sutra e suas <strong>do</strong>ze aspirações, e<br />

assim por diante, então <strong>os</strong> sinais não auspici<strong>os</strong><strong>os</strong> e <strong>os</strong> sonh<strong>os</strong> maus<br />

gradualmente desaparecerão.<br />

Não apenas desaparecerão <strong>os</strong> sinais não auspici<strong>os</strong><strong>os</strong>, mas se você estiver<br />

em perigo, seja pelo fogo, pela água, por veneno, por armas, cain<strong>do</strong> de um<br />

precipício, cain<strong>do</strong> vítima de qualquer outro tipo de incidente, ou também por<br />

elefantes, leões, tigres, urs<strong>os</strong>, cobras venen<strong>os</strong>as, escorpiões ou centopéias <strong>–</strong> se<br />

estiver em perigo por qualquer uma dessas coisas <strong>–</strong> se suplicar ao Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>, estes perig<strong>os</strong> desaparecerão.<br />

Suplicar ao Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> também o livrará d<strong>os</strong> perig<strong>os</strong> <strong>da</strong> guerra <strong>–</strong><br />

ser preso em meio à guerra <strong>–</strong> de ser rouba<strong>do</strong> e de outras bandi<strong>da</strong>gens.<br />

Se alguém tem fé no Buddhadharma, especialmente no Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>, seja homem ou mulher, tome algum tipo de ordenação <strong>–</strong> vot<strong>os</strong> de<br />

toma<strong>da</strong> de refúgio, de upasaka ou upasika [vot<strong>os</strong> de disciplina para <strong>os</strong> leig<strong>os</strong>], de<br />

bodhisattva, ou de ordenação monástica <strong>–</strong> pela bênção <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, a<br />

pessoa será capaz de mantê‐l<strong>os</strong>, na maioria d<strong>os</strong> cas<strong>os</strong>. Mas se a pessoa não <strong>os</strong><br />

mantiver, ela se tornará depressiva. Ela pensará: “eu tomei tal e tal vot<strong>os</strong> e fui<br />

incapaz de mantê‐l<strong>os</strong>. Obviamente, sou incapaz concluir qualquer coisa que me<br />

presto a fazer. As coisas não estão in<strong>do</strong> bem, coisas horríveis acontecerão<br />

comigo nesta vi<strong>da</strong> e, assim que morrer, renascerei em rein<strong>os</strong> inferiores”. Se isso<br />

acontecer, suplique ao Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, faça‐lhe oferen<strong>da</strong>s e tenha‐lhe<br />

devoção, e assim você se livrará d<strong>os</strong> perig<strong>os</strong> destes desastres e renasciment<strong>os</strong><br />

inferiores.<br />

A próxima coisa menciona<strong>da</strong> no sutra é, de fato, a resp<strong>os</strong>ta à questão<br />

pergunta<strong>da</strong> mais ce<strong>do</strong>. É dito no sutra que, quan<strong>do</strong> uma mulher está em<br />

trabalho de parto e está ten<strong>do</strong> muita dificul<strong>da</strong>de <strong>–</strong> muita agonia e sofrimento <strong>–</strong><br />

se ela suplicar ao Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, o parto ocorrerá sem dificul<strong>da</strong>des<br />

extremas. A criança nascerá facilmente, sem machucar a mãe e ela mesma, e<br />

será saudável, inteligente e forte desde o nascimento.<br />

Até aqui, o Bu<strong>da</strong> mencionou numer<strong>os</strong><strong>os</strong> extraordinári<strong>os</strong> benefíci<strong>os</strong> de<br />

suplicar e fazer oferen<strong>da</strong>s ao Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>. Em segui<strong>da</strong>, o Bu<strong>da</strong> se dirige<br />

não à Manjushri, mas à Anan<strong>da</strong>, porque ele ain<strong>da</strong> não é um grande bodhisattva.<br />

Ele é um shravaka, um praticante <strong>do</strong> caminho Hinayana. O Bu<strong>da</strong> ensinou o sutra<br />

e explicou seus benefíci<strong>os</strong>. Falou <strong>da</strong>s extraordinárias quali<strong>da</strong>des <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>, suas <strong>do</strong>ze aspirações e seus efeit<strong>os</strong>, <strong>os</strong> efeit<strong>os</strong> de lembrar seu nome,<br />

46 Nota <strong>do</strong> editor: isto é, elas podem remover obstácul<strong>os</strong> para ter filh<strong>os</strong>.<br />

125


entre outr<strong>os</strong>. Então, dirigin<strong>do</strong>‐se à Anan<strong>da</strong>, o Bu<strong>da</strong> disse: “Anan<strong>da</strong>, você<br />

acredita no que eu disse? Você tem fé ou duvi<strong>da</strong> disso?”<br />

Em resp<strong>os</strong>ta à pergunta <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong>, Ana<strong>da</strong> disse: “Não tenho nenhuma<br />

dúvi<strong>da</strong> na ver<strong>da</strong>de <strong>do</strong> que o senhor disse. Eu acredito em tu<strong>do</strong> o que disse. A<br />

bem <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de, acredito em tu<strong>do</strong> o que o senhor tenha já dito, porque<br />

testemunhei as quali<strong>da</strong>des de seu corpo, de sua palavra e de sua mente.<br />

Testemunhei seus milagres e sua imersão no samadhi. Por isso, sei que é<br />

imp<strong>os</strong>sível que o senhor manipule as coisas, e não tenho nenhuma dúvi<strong>da</strong><br />

quanto à vali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> que o senhor diz. Mas há alguns seres que não acreditarão<br />

nisso. Há seres que, ou ouvir isso, pensarão que é imp<strong>os</strong>sível ou mentir<strong>os</strong>o. Eles<br />

não incorrerão em tremen<strong>do</strong> karma negativo e terão antipatia, ou descrédito?”<br />

ele conclui, fazen<strong>do</strong> uma pergunta ao Bu<strong>da</strong>.<br />

A razão pela qual Anan<strong>da</strong> faz essa pergunta é porque, em tese, pode<br />

haver um problema nesta situação. Teoricamente, se alguém pensar que é<br />

mentir<strong>os</strong>o o que um Bu<strong>da</strong> diz sobre outro Bu<strong>da</strong> ou seus benefíci<strong>os</strong> ou bênçã<strong>os</strong>,<br />

isso pode se tornar um obstáculo para o ser em direção ao Despertar. Mas o<br />

Bu<strong>da</strong> responde o seguinte: “Anan<strong>da</strong>, a bem <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de, não há tal perigo neste<br />

caso. É p<strong>os</strong>sível que algum ser inicialmente desacredite dessas coisas, mas, pelo<br />

fato de terem ouvi<strong>do</strong> o nome <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, por essa bênção, será<br />

imp<strong>os</strong>sível que sua antipatia e seu descrédito durem muito tempo, o que é um<br />

exemplo <strong>da</strong>s quali<strong>da</strong>des e <strong>do</strong> poder deste Bu<strong>da</strong>. Isto é tão profun<strong>do</strong> que apenas<br />

<strong>os</strong> bodhisattvas podem compreender. 47 ” <strong>Ao</strong> fim, significa que o descrédito<br />

inicial não se tornará um obstáculo à sua liberação, e não causará o acúmulo de<br />

karma negativo de forma que provoque o renascimento em rein<strong>os</strong> inferiores, e<br />

assim por diante. Se alguém tem dúvi<strong>da</strong>s, descrença ou mesmo antipatia pelo<br />

sutra, não será um grande problema por causa a bênção transmiti<strong>da</strong> pelo Bu<strong>da</strong>,<br />

pela maneira como ele ensinou o sutra e pelas aspirações <strong>do</strong> próprio Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>.<br />

É importante saber isso, porque, de temp<strong>os</strong> em temp<strong>os</strong>, nós tem<strong>os</strong><br />

dúvi<strong>da</strong>s. Lem<strong>os</strong> algo n<strong>os</strong> sutras, como estas palavras, e pensam<strong>os</strong>: “Mas isto é<br />

imp<strong>os</strong>sível!”. E, em segui<strong>da</strong>: “Oh, não, tenho uma visão incorreta <strong>do</strong> sutra, algo<br />

terrível irá me acontecer!”. Em qualquer caso, não haverá problema.<br />

Vou parar aqui esta tarde, acabou de me ocorrer que, n<strong>os</strong> últim<strong>os</strong> dias, eu falei<br />

bastante, mas não pratiquei com vocês, nem me sentei junto a vocês. Como as<br />

pessoas me pedem para meditar com elas, vam<strong>os</strong> meditar agora por alguns<br />

minut<strong>os</strong>.<br />

47 Nota <strong>do</strong> editor: uma <strong>da</strong>s características de atingir o primeiro bhumi ou nível de bodhisattva é que,<br />

devi<strong>do</strong> ao entendimento <strong>da</strong> vacui<strong>da</strong>de e interdependência, ele ou ela começam a ter e desenvolver o tipo<br />

de visão que <strong>os</strong> permite entender to<strong>da</strong>s as várias abor<strong>da</strong>gens <strong>do</strong> desenvolvimento espiritual, seja budista<br />

ou não budista, e entender <strong>os</strong> vári<strong>os</strong> métod<strong>os</strong> e <strong>os</strong> divers<strong>os</strong> tip<strong>os</strong> de tecnologias espirituais ensinad<strong>os</strong> pelo<br />

Bu<strong>da</strong>.<br />

126


O Sutra <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong><br />

Súplicas regulares ao Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> trazem proteção<br />

Continuação d<strong>os</strong> ensinament<strong>os</strong> <strong>do</strong> muito venerável Khenchen Thrangu Rinpoche sobre o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>.<br />

Quan<strong>do</strong> você recebe instruções sobre o Dharma, a motivação pela qual<br />

você o faz é extremamente importante. Reconheça que as instruções que<br />

recebeu são a base para sua <strong>prática</strong> <strong>do</strong> Dharma e que ela é de grande benefício.<br />

Esse benefício não é limita<strong>do</strong> a apenas você ou a alguns pouc<strong>os</strong>, mas, ao fim e<br />

ao cabo, o benefício de sua <strong>prática</strong> será usufruí<strong>do</strong> por tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres que<br />

preenchem o espaço. Portanto, quan<strong>do</strong> receber <strong>os</strong> ensinament<strong>os</strong>, faça‐o<br />

lembran<strong>do</strong>‐se disso e com a motivação de que, ao receber as instruções, pela<br />

meditação, pela súplica ao Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> e pelo estu<strong>do</strong> de seu sutra, você<br />

será capaz de praticar de forma a liberar tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres.<br />

Concluím<strong>os</strong> <strong>da</strong> última vez com a apresentação d<strong>os</strong> benefíci<strong>os</strong> <strong>do</strong> sutra e<br />

<strong>da</strong> lembrança <strong>do</strong> nome <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>. O próximo acontecimento<br />

descrito no diálogo é que o grande bodhisattva Chagdrul, uma d<strong>os</strong> dezesseis<br />

bodhisattvas <strong>do</strong> séquito <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, presentes no ensinamento <strong>do</strong><br />

Bu<strong>da</strong> Shakyamuni, levanta‐se de seu assento, a<strong>do</strong>ta a mesma p<strong>os</strong>tura de<br />

127


Manjushri para pedir o ensinamento, e se dirige ao Bu<strong>da</strong>. Colocan<strong>do</strong>‐se dessa<br />

maneira perante o Bu<strong>da</strong> e à assembléia reuni<strong>da</strong> ao seu re<strong>do</strong>r, Chagdrul não<br />

está, de fato, fazen<strong>do</strong> uma pergunta. Ele está dizen<strong>do</strong> outr<strong>os</strong> benefíci<strong>os</strong> <strong>do</strong><br />

sutra. Ele começa dizen<strong>do</strong> que foi muito gener<strong>os</strong>o <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> ter <strong>da</strong><strong>do</strong> o<br />

ensinamento, explica<strong>do</strong> as <strong>do</strong>ze aspirações <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> e seus efeit<strong>os</strong>,<br />

explica<strong>do</strong> o benefício <strong>do</strong> sutra e <strong>da</strong> lembrança <strong>do</strong> nome, etc. E, então, ele diz que<br />

tem algo a acrescentar e que, pelo poder <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, se alguém cair<br />

gravemente <strong>do</strong>ente <strong>–</strong> tão <strong>do</strong>ente que esteja em agonia, cerca<strong>do</strong> de sua família e<br />

amig<strong>os</strong>, e eles estejam também agonizan<strong>do</strong> por sua <strong>do</strong>ença <strong>–</strong> e mesmo que<br />

chegue a ponto de a pessoa parecer estar morren<strong>do</strong> <strong>–</strong> quan<strong>do</strong> sua percepção <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> vai se tornan<strong>do</strong> ca<strong>da</strong> vez mais vaga e parece estar ven<strong>do</strong> o próximo<br />

mun<strong>do</strong>, o esta<strong>do</strong> intermediário <strong>–</strong> se, mesmo neste momento, houver uma<br />

intensa súplica ao Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, por sua bênção a pessoa reavivará.<br />

Chagdrul continua: “Porque benefíci<strong>os</strong> tais como estes são p<strong>os</strong>síveis <strong>–</strong><br />

benefíci<strong>os</strong> para ambas as vi<strong>da</strong>s, esta e as próximas <strong>–</strong> homens e mulheres de fé<br />

devem venerar, louvar e suplicar ao Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>. Isto é extremamente<br />

importante”.<br />

Neste momento, Anan<strong>da</strong> se volta para o bodhisattva Chagdrul, dizen<strong>do</strong>:<br />

“O senhor disse que é importante fazer oferen<strong>da</strong>s e louvar ao Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>, mas como podem<strong>os</strong> fazer isso?”. Chagdrul responde: “Para liberar a<br />

si mesmo e <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> <strong>da</strong> <strong>do</strong>ença e <strong>do</strong> sofrimento, é importante lembrar o nome<br />

<strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> sete vezes ao dia e sete vezes à noite.”<br />

Bem, quan<strong>do</strong> se diz, no sutra, que haverá tal e tal benefício de<br />

meramente se ouvir, lembrar ou manter em mente o nome <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>, isso literalmente quer dizer que haverá benefíci<strong>os</strong>, em alguma<br />

medi<strong>da</strong>, de se ouvir, lembrar e manter seu nome em mente. Mas,<br />

principalmente, quan<strong>do</strong> fala sobre a lembrança <strong>do</strong> nome, significa algo mais<br />

que a simples lembrança <strong>do</strong> nome em si. Significa a lembrança <strong>da</strong>s quali<strong>da</strong>des<br />

<strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, a lembrança de seu nome em apreciação às suas<br />

quali<strong>da</strong>des, com uma atitude de fé sincera e grande entusiasmo. Ademais, não<br />

significa simplesmente apreciar que existe um Bu<strong>da</strong> em um reino distante que<br />

tem tais e tais quali<strong>da</strong>des, mas inclui o desejo ver<strong>da</strong>deiro de imitar o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>, o desejo de alcançar aquela mesma budei<strong>da</strong>de, de produzir as<br />

mesmas aspirações e benefíci<strong>os</strong> a<strong>os</strong> seres e, portanto, o desejo de se engajar<br />

diligentemente no caminho, de mo<strong>do</strong> a atingir o mesmo esta<strong>do</strong>. Lembrar o<br />

nome realmente significa lembrar e saber as quali<strong>da</strong>des <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> e<br />

engajar‐se com ver<strong>da</strong>deiro entusiasmo no caminho que leva à obtenção dessas<br />

quali<strong>da</strong>des. Agora, não é o caso de que não há qualquer benefício em<br />

simplesmente ouvir o nome por si só; de fato, há. Mas, em último caso, <strong>os</strong><br />

grandes benefíci<strong>os</strong> que surgem <strong>da</strong> bênção <strong>do</strong> nome <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> vêm<br />

<strong>da</strong> <strong>prática</strong> basea<strong>da</strong> na devoção a ele, e não apenas de se ouvir, simplesmente,<br />

seu nome.<br />

Chagdrul segue, volta<strong>do</strong> para Anan<strong>da</strong>, dizen<strong>do</strong> que, se o praticante<br />

venerar e rezar ao Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, “seu monarca será agracia<strong>do</strong> com grande<br />

128


poder”. Isso literalmente quer dizer que o governante de um país em que esteja<br />

ocorren<strong>do</strong> este louvor será adequa<strong>da</strong>mente legitima<strong>do</strong> como seu governante.<br />

Mas o que isso implica, em ver<strong>da</strong>de, é que to<strong>do</strong> o país em que a <strong>prática</strong> ocorra<br />

será feliz, o que é simboliza<strong>do</strong> com o correto estabelecimento <strong>do</strong> governante.<br />

Isto é, pela <strong>prática</strong>, as <strong>do</strong>enças, as guerras, a ação de espírit<strong>os</strong> malevolentes <strong>–</strong><br />

como a d<strong>os</strong> espírit<strong>os</strong> ligad<strong>os</strong> a certas constelações, planetas e estrelas <strong>–</strong><br />

desastres, como ventanias fora de estação, chuva excessiva ou seca, epidemias e<br />

embates civis serão tod<strong>os</strong> evitad<strong>os</strong>. Para que assim ocorra, o praticante deve<br />

rezar e venerar o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> com grande amor e compaixão.<br />

Em outras palavras, pela súplica ao Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, <strong>os</strong> desastres serão<br />

evitad<strong>os</strong>; as <strong>do</strong>enças e a influência de espírit<strong>os</strong> malign<strong>os</strong> diminuirão, e tod<strong>os</strong> <strong>os</strong><br />

problemas e levantes no país em que a <strong>prática</strong> ocorra serão pacificad<strong>os</strong>. Isto<br />

significa que, enquanto praticam<strong>os</strong> o Dharma e, portanto, suplicam<strong>os</strong> ao Bu<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> pelo benefício de tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres, ao mesmo tempo asseguram<strong>os</strong><br />

n<strong>os</strong>sa própria felici<strong>da</strong>de e o benefício <strong>do</strong> país e <strong>da</strong> região em que se pratica.<br />

Anan<strong>da</strong> então pergunta ao bodhisattva Chagdrul ain<strong>da</strong> outra questão.<br />

Ele diz: “Como é p<strong>os</strong>sível, pela súplica e bênção <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, que<br />

alguém que esteja quase morren<strong>do</strong> seja reaviva<strong>da</strong> <strong>da</strong> maneira como Chagdrul<br />

descreveu?” E Chagdrul diz que é p<strong>os</strong>sível porque a vi<strong>da</strong> e a vitali<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

pessoa ain<strong>da</strong> não se exauriram. A condição existe para que ela quase tenha<br />

morri<strong>do</strong>, e certamente causará sua morte se não for removi<strong>da</strong>. Ele, então, lista<br />

nove diferentes condições para a morte inespera<strong>da</strong> <strong>–</strong> que aqui quer dizer<br />

desnecessária <strong>–</strong> e fala que, pela súplica ao Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> é muitas vezes<br />

p<strong>os</strong>sível remover estas condições, de forma a evitar que a pessoa morra e<br />

permitin<strong>do</strong> que ela reviva.<br />

Então, <strong>os</strong> <strong>do</strong>ze chefes Yakshas, que estavam presentes ao ensinamento <strong>do</strong><br />

Bu<strong>da</strong> e ouviram tu<strong>do</strong> o que se passou até este momento, resolveram se dirigir<br />

ao Bu<strong>da</strong> como um grupo. Eles manifestaram sua apreciação por ter ouvi<strong>do</strong> o<br />

sutra. Disseram: “Som<strong>os</strong> muito afortunad<strong>os</strong> de ter ouvi<strong>do</strong> o nome <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong> e suas quali<strong>da</strong>des e benefíci<strong>os</strong>, porque simplesmente por isso estam<strong>os</strong><br />

livres <strong>do</strong> me<strong>do</strong> de cair n<strong>os</strong> rein<strong>os</strong> inferiores.” Eles disseram isso porque eram<br />

deuses mun<strong>da</strong>n<strong>os</strong> 48 naquela época e, sem ter ouvi<strong>do</strong> o sutra estariam corren<strong>do</strong> o<br />

mesmo risco que nós de ter renasciment<strong>os</strong> inferiores. Mas ficaram confiantes de<br />

que, ten<strong>do</strong> ouvi<strong>do</strong> o nome e <strong>os</strong> benefíci<strong>os</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, eles não<br />

estavam mais em risco de renascer em um d<strong>os</strong> três rein<strong>os</strong> inferiores. Assim,<br />

disseram: “Estam<strong>os</strong> felizes por isto e, portanto, tomam<strong>os</strong> refúgio no Bu<strong>da</strong>, no<br />

Dharma e na Sangha.” Porque se inspiraram pelo sutra e pelo nome <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>, eles tomaram refúgio e se comprometeram a serem benéfic<strong>os</strong> a<strong>os</strong><br />

seres senscientes e nunca machucá‐l<strong>os</strong>. Neste senti<strong>do</strong>, eles também geraram a<br />

bodhicitta e prometeram proteger <strong>os</strong> seres.<br />

Ademais, <strong>os</strong> <strong>do</strong>ze chefes Yakshas disseram: “Em especial, protegerem<strong>os</strong><br />

qualquer lugar em que haja o sutra <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> e protegerem<strong>os</strong><br />

48 Nota <strong>do</strong> editor: divin<strong>da</strong>des mun<strong>da</strong>nas que não se iluminaram e que, por isso, ain<strong>da</strong> estão presas ao<br />

samsara.<br />

129


também quaisquer pessoas, em quaisquer lugares, que venerem o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>.” Desse mo<strong>do</strong>, <strong>os</strong> <strong>do</strong>ze chefes Yakshas <strong>–</strong> e também <strong>os</strong> quatro grandes<br />

reis <strong>–</strong> fizeram o voto de proteger <strong>os</strong> sutras e seus praticantes, liberan<strong>do</strong>‐<strong>os</strong> de<br />

to<strong>do</strong> o mal.<br />

Em resp<strong>os</strong>ta, o Bu<strong>da</strong> se dirige a<strong>os</strong> <strong>do</strong>ze chefes Yakshas e seus segui<strong>do</strong>res,<br />

dizen<strong>do</strong>: “Excelente. Como vocês disseram, ao ouvir o nome <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong> vocês agora estão livres <strong>do</strong> perigo e <strong>do</strong> me<strong>do</strong> de cair n<strong>os</strong> rein<strong>os</strong><br />

inferiores. Seu prazer e sua confiança nisso, a gratidão que expressaram e,<br />

especialmente, seu compromisso com o bem‐estar d<strong>os</strong> seres são excelentes, bem<br />

assim a inspiração que tiveram pelo ensinamento.”<br />

Agora, por esta razão, seja ven<strong>do</strong> como a bênção <strong>do</strong> próprio Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong> ou de seu nome, se você regularmente suplicar a ele, ele o protegerá.<br />

Eu p<strong>os</strong>so falar de minha própria experiência. Uma vez, quan<strong>do</strong> eu vivia no<br />

monastério de Rumtek, no Sikkim, precisei ir à ci<strong>da</strong>de. Havia um carro que<br />

regularmente fazia o trajeto <strong>do</strong> monastério à ci<strong>da</strong>de; eu conhecia o motorista e<br />

disse‐lhe que precisava ir naquele dia. Mas, por algum motivo, ele não me<br />

esperou. Partiu sem mim. Então, encontrei outro carro para ir e, com resulta<strong>do</strong>,<br />

ain<strong>da</strong> estou vivo. O primeiro carro se envolveu em um terrível acidente e,<br />

enquanto o motorista havia sobrevivi<strong>do</strong>, tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> passageir<strong>os</strong> haviam morri<strong>do</strong>.<br />

Especialmente pelo fato de eu ser bem gor<strong>do</strong>, eu definitivamente teria si<strong>do</strong><br />

esmaga<strong>do</strong>. Então, eu vejo isso como uma bênção <strong>da</strong>s três jóias que minha vi<strong>da</strong><br />

tenha si<strong>do</strong> salva, porque não havia nenhuma razão para que ele tenha parti<strong>do</strong><br />

sem mim.<br />

Bem, o motivo pelo qual estou liga<strong>do</strong> ao Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> é que, em<br />

algum momento antes, eu estive na presença de sua santi<strong>da</strong>de Sakya Trizin<br />

Rinpoche 49 e lhe pedi uma previsão para verificar se eu estava enfrentan<strong>do</strong><br />

algum obstáculo. Ele disse: “Se você fizer a <strong>prática</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> uma<br />

centena de vezes, você se liberará de quaisquer obstácul<strong>os</strong> que o p<strong>os</strong>sam<br />

afetar.” Então, eu fiz esta <strong>prática</strong> que estam<strong>os</strong> estu<strong>da</strong>n<strong>do</strong> cem vezes, e penso<br />

que, por isso, não fui morto naquele acidente. Logo, quan<strong>do</strong> se diz que a <strong>prática</strong><br />

<strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> irá protegê‐lo <strong>da</strong> morte na hora erra<strong>da</strong>, por meio de<br />

venen<strong>os</strong> e acidentes, etc., eu acredito.<br />

Neste momento, o Bu<strong>da</strong> acabou de ensinar o corpo principal <strong>do</strong> sutra. O<br />

bodhisattva Chagdrul fez seus destaques e <strong>os</strong> <strong>do</strong>ze chefes Yakshas expressaram<br />

sua apreciação e compromisso. Neste ponto, Anan<strong>da</strong> levanta‐se novamente e se<br />

dirige ao Bu<strong>da</strong>, agradecen<strong>do</strong> por ter ensina<strong>do</strong> o sutra e dizen<strong>do</strong>: “Agora que<br />

n<strong>os</strong> deu o ensinamento, como devem<strong>os</strong> chamá‐lo, no futuro? Este ensinamento<br />

deve ter um nome.”<br />

E o Bu<strong>da</strong> disse: “Vocês podem chamá‐lo de As <strong>do</strong>ze grandes aspirações <strong>do</strong><br />

Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> ou de O voto e compromisso d<strong>os</strong> <strong>do</strong>ze chefes Yakshas.”<br />

Por fim, depois que o Bu<strong>da</strong> deu o nome pelo qual o sutra deveria ser<br />

conheci<strong>do</strong> no futuro, tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> que receberam o ensinamento, destaca<strong>da</strong>mente<br />

Manjushri, Vajrapani e <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> bodhisattvas, bem assim <strong>os</strong> <strong>do</strong>ze chefes<br />

49 Nota <strong>do</strong> editor: o líder <strong>da</strong> linhagem Sakya, uma <strong>da</strong>s quatro principais linhagens <strong>do</strong> budismo Vajrayana.<br />

130


Yakshas e assim por diante, expressaram seu regozijo e alegria pelo<br />

ensinamento <strong>do</strong> sutra e disseram: “Excelente!”<br />

Logo, bem ao final <strong>do</strong> sutra, se diz: “Este é o Sutra <strong>da</strong>s grandes aspirações<br />

<strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> completo.” Essa frase aparece no final para dizer que o<br />

sutra está completo. É perfeitamente p<strong>os</strong>sível que alguém tenha apenas uma<br />

parte <strong>do</strong> sutra, sem seu final. Para m<strong>os</strong>trar que está completo e que vai <strong>do</strong> início<br />

até o fim, adicionam‐se essas palavras.<br />

Isso conclui n<strong>os</strong>sa discussão sobre o Sutra <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, então,<br />

se alguém tiver alguma pergunta, ain<strong>da</strong> tem<strong>os</strong> tempo esta manhã.<br />

Pergunta: Obriga<strong>do</strong>, Rinpoche. P<strong>os</strong>so lhe pedir uma definição de Yaksha? É um ser<br />

humano? Qual é a palavra tibetana?<br />

Tradutor: Nöjin.<br />

Pergunta: É um ser humano ou outro tipo de ser?<br />

Rinpoche: Yakshas não são human<strong>os</strong>. São seres não human<strong>os</strong> normalmente<br />

conhecid<strong>os</strong> como deuses de riquezas.<br />

Pergunta: Quan<strong>do</strong> estavam assistin<strong>do</strong> ao ensinamento <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> Shakyamuni, eles<br />

podiam ser vist<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> human<strong>os</strong> que estavam lá? Eu quero dizer, <strong>os</strong> seres human<strong>os</strong><br />

ordinári<strong>os</strong>, e não <strong>os</strong> grandes bodhisattvas e outr<strong>os</strong> <strong>do</strong> tipo.<br />

Rinpoche: Do jeito como aparece no sutra, parece que tod<strong>os</strong> podiam vê‐l<strong>os</strong>.<br />

Pergunta: E eles têm corp<strong>os</strong> carnais ou de luz?<br />

Rinpoche: Eu não sei.<br />

Pergunta: Se eles são divin<strong>da</strong>des mun<strong>da</strong>nas, eles já se iluminaram? Se não, por que<br />

estam<strong>os</strong> n<strong>os</strong> pr<strong>os</strong>ternan<strong>do</strong> para eles?<br />

Rinpoche: Bem, eu não sei se eles já atingiram o Despertar, mas terem prometi<strong>do</strong><br />

proteger <strong>os</strong> ensinament<strong>os</strong> de Bu<strong>da</strong>, naquela época, eles se tornaram dharmapalas, e por<br />

isso tomam<strong>os</strong> refúgio neles como dharmapalas mun<strong>da</strong>n<strong>os</strong>.<br />

Pergunta: Enten<strong>do</strong>. Mas se eles aparecessem, deveríam<strong>os</strong> fazer o que n<strong>os</strong> pedissem?<br />

Rinpoche: Acho melhor que sim!<br />

Pergunta: Rinpoche, em outras <strong>prática</strong>s budistas, que muit<strong>os</strong> de nós já fez <strong>–</strong> shamatha,<br />

vipashyana, várias outras sadhanas, etc. <strong>–</strong> eu tenho forte confiança. Mesmo não sen<strong>do</strong><br />

um bom praticante, tenho muita confiança de que levam a seu objetivo último. Mas<br />

estou pensan<strong>do</strong> se elas têm qualquer efeito sobre a saúde, porque muitas vezes parece<br />

que não. Ou eu não sei. Às vezes eu me sinto mal, então me pergunto se o senhor<br />

poderia comentar um pouco sobre isso.<br />

Tradutor: Que <strong>prática</strong>s? Está falan<strong>do</strong> de to<strong>da</strong>s elas como um grupo ou as <strong>prática</strong>s<br />

Vajrayana em particular?<br />

Pergunta: Tonglen, shamatha, viapshyana e outras sadhanas e coisas <strong>do</strong> gênero.<br />

131


Rinpoche: Bem, as sadhanas d<strong>os</strong> yi<strong>da</strong>ms principais, como Vajrayogini e<br />

Chakrasamvara não são reputa<strong>da</strong>s particularmente por seus efeit<strong>os</strong> sobre <strong>do</strong>enças, mas<br />

<strong>prática</strong>s tais como shamatha podem ser de bastante aju<strong>da</strong>.<br />

Pergunta: Eu conheço muitas pessoas que não estão aqui que teriam fica<strong>do</strong> felizes e<br />

gratas se pudessem ter esta<strong>do</strong> aqui. Claro, isso não foi p<strong>os</strong>sível. Mas estou pensan<strong>do</strong><br />

sobre como trabalhar com isso no futuro. Por exemplo, se tivéssem<strong>os</strong> as gravações d<strong>os</strong><br />

ensinament<strong>os</strong> deste retiro, seria aceitável que, em um centro como o n<strong>os</strong>so em Victoria<br />

[Canadá] ou em outr<strong>os</strong> lugares tivéssem<strong>os</strong> uma aula em que pudéssem<strong>os</strong> ouvir as<br />

gravações com a intenção de que Rinpoche viesse a n<strong>os</strong>so centro no futuro, talvez<br />

oferecer uma programação e <strong>da</strong>r a iniciação? Claro, as pessoas teriam de entender que<br />

deveriam ou ser budistas ou tomar refúgio como parte <strong>da</strong> iniciação.<br />

Rinpoche: Sim.<br />

Pergunta: Rinpoche, na esteira desta mesma questão, como Rinpoche sabe, n<strong>os</strong> centr<strong>os</strong><br />

Shambala sempre houve grande esforço para proteger <strong>os</strong> ensinament<strong>os</strong>, especialmente<br />

<strong>os</strong> Vajrayana, então isto é como que uma nova situação para nós que as instruções<br />

p<strong>os</strong>sam ser disponibiliza<strong>da</strong>s, de forma que ain<strong>da</strong> há o problema de como isso pode ser<br />

feito de maneira apropria<strong>da</strong>. Penso se Rinpoche poderia elaborar um pouco mais sobre<br />

outras p<strong>os</strong>sibili<strong>da</strong>des de apresentar adequa<strong>da</strong>mente estes ensinament<strong>os</strong> <strong>–</strong> de forma que<br />

as pessoas de fato recebam uma instrução correta e enten<strong>da</strong>m o que está acontecen<strong>do</strong>,<br />

enquanto ele é propaga<strong>do</strong>.<br />

Rinpoche: Penso que você pode torná‐lo livremente acessíveis, o quanto puder, porque<br />

não há hipótese de alguém ter problemas por causa disso. Isso está relaciona<strong>do</strong> com a<br />

parte <strong>do</strong> sutra em que Anan<strong>da</strong> se dirige ao Bu<strong>da</strong>, dizen<strong>do</strong>: “Não há p<strong>os</strong>sibili<strong>da</strong>de de<br />

que as pessoas que o ouvirem e o desacreditarem poderão acumular karma negativo e<br />

ficar piores <strong>do</strong> que se nunca o tivessem ouvi<strong>do</strong>?” <strong>Ao</strong> que o Bu<strong>da</strong> responde: “Não,<br />

mesmo se inicialmente reagirem com descrença e antipatia, a bênção <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong> causará a mu<strong>da</strong>nça de suas mentes.”<br />

Pergunta: A visualização frontal é uma imagem espelha<strong>da</strong>, ou acontece o contrário?<br />

Tradutor: Por imagem espelha<strong>da</strong> você quer dizer que sua mão direita é de um jeito e a<br />

mão esquer<strong>da</strong> dela assume este mesmo jeito?<br />

Pergunta: Sim, como imagem espelha<strong>da</strong>.<br />

Rinpoche: Não é, literalmente, uma imagem espelha<strong>da</strong>. Em outras palavras, em ambas<br />

as visualizações <strong>–</strong> a de si mesmo e a frontal <strong>–</strong> a mão direita <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> se<br />

estende, seguran<strong>do</strong> a arura, e a mão esquer<strong>da</strong>, em amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> cas<strong>os</strong>, está seguran<strong>do</strong> a<br />

tigela de mendicância no colo.<br />

Pergunta: Rinpoche, já houve várias instruções para <strong>os</strong> praticantes de sadhanas sobre<br />

como visualizar, e eu g<strong>os</strong>taria apenas de ouvir suas instruções sobre como fazer a auto‐<br />

visualização adequa<strong>da</strong>mente, <strong>da</strong><strong>do</strong> que tem<strong>os</strong> to<strong>do</strong> esse apego a n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> corp<strong>os</strong> e a nós<br />

mesm<strong>os</strong> e que é difícil li<strong>da</strong>r com esta situação. Eu g<strong>os</strong>taria de ouvir como você n<strong>os</strong><br />

instruiria adequa<strong>da</strong>mente a visualizar a nós mesm<strong>os</strong> enquanto dei<strong>da</strong>des.<br />

Rinpoche: Bem, aqui você não deve tentar <strong>–</strong> nem deve fazer <strong>–</strong> primeiro se livrar <strong>da</strong><br />

fixação de seu próprio corpo. A idéia é que você substitua a fixação em seu corpo<br />

ordinário adicionan<strong>do</strong> a fixação em seu corpo enquanto o corpo <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>.<br />

132


Pergunta: Desculpe‐me, Rinpoche, mas eu me sinto como a pessoa sobre a qual<br />

Anan<strong>da</strong> estava falan<strong>do</strong>, embora eu realmente queira acreditar. Quan<strong>do</strong> eu era uma<br />

garotinha em um convento em Londres, em 1939, as freiras me disseram que se eu<br />

rezasse com grande devoção e sinceri<strong>da</strong>de a Jesus para fazer de Hitler um bom<br />

homem, a guerra não aconteceria; poderíam<strong>os</strong> ser capazes de evitá‐la e n<strong>os</strong><br />

protegerm<strong>os</strong> dela. Bem, claro que eu senti que não tinha devoção o suficiente e me<br />

senti muito mal por isso. Sinto meu coração se partir quan<strong>do</strong> penso nas pessoas no<br />

Tibete, que são muito mais evoluí<strong>da</strong>s <strong>do</strong> que eu era e têm muito mais devoção, e que<br />

estão fazen<strong>do</strong> a <strong>prática</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> e ain<strong>da</strong> enfrentam uma terrível guerra. O<br />

senhor poderia por favor esclarecer isso?<br />

Rinpoche: Bem, em primeiro lugar, como eu disse, <strong>os</strong> resultad<strong>os</strong> <strong>da</strong> <strong>prática</strong> <strong>do</strong> Dharma<br />

não são normalmente imediat<strong>os</strong>. Não se manifestam como uma transformação<br />

imediata, dramática ou miracul<strong>os</strong>a <strong>da</strong>s circunstâncias. Eu mencionei, como exemplo,<br />

que se você rezar por riquezas não haverá imediatamente uma chuva de ouro cain<strong>do</strong><br />

d<strong>os</strong> céus. Mas sempre há benefíci<strong>os</strong>. O benefício se manifesta como um efeito que<br />

gradualmente emerge depois de um longo tempo e talvez como uma transformação<br />

<strong>da</strong>s circunstâncias, como na história que contei. Agora, eu não diria que suas preces<br />

quan<strong>do</strong> era criança, à beira <strong>da</strong> Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial, foram desperdiça<strong>da</strong>s. Por<br />

exemplo, você não morreu no bombardeio alemão sobre Londres, embora outras<br />

pessoas sim 50 . Quanto ao Tibete, tod<strong>os</strong> sabem que ele foi toma<strong>do</strong> em uma guerra. E<br />

50 Nota <strong>do</strong> editor: implícito nesta resp<strong>os</strong>ta está o entendimento <strong>do</strong> que podem<strong>os</strong> chamar de aspecto<br />

desenvolvimentista <strong>do</strong> karma. Se alguém comete um ato negativo, como matar, e não se arrepende disso,<br />

mas, ao invés, se torna defensivo e começar a racionalizar sobre o ato, então é mais provável que<br />

gradualmente a pessoa venha a se regozijar, dizen<strong>do</strong>: “eu estava certo em matar, e se deparar com<br />

semelhante circunstância, eu o farei novamente.” Isso leva, claro, à noção de que a pessoa que foi morta<br />

merecia sê‐lo, o que pode, por sua vez, levar à noção de que elas devem ser mortas, o que, pode levar à<br />

noção de que se deve organizar um movimento para matar estas pessoas. Isso leva ao endurecimento <strong>da</strong><br />

atitude <strong>da</strong> pessoa, e leva à pequenez <strong>da</strong> mente, que se torna ca<strong>da</strong> vez mais apega<strong>da</strong> à noção errônea <strong>do</strong><br />

que deve ser feito e, assim, a uma grande estupidez. Enquanto este tipo de desenvolvimento se espalha,<br />

leva ao ódio entre <strong>os</strong> grup<strong>os</strong> e à guerra. Por outro la<strong>do</strong>, se, logo após o assassinato, ou em algum momento<br />

p<strong>os</strong>terior, a pessoa reconhece seu erro, se arrepende profun<strong>da</strong>mente, se compromete a nunca mais ter este<br />

comportamento e se envolve em alguma ativi<strong>da</strong>de compensatória pelas suas ações negativas, o processo<br />

<strong>do</strong> desenvolvimento d<strong>os</strong> efeit<strong>os</strong> negativ<strong>os</strong> <strong>da</strong> ação nociva são suspens<strong>os</strong>. E se a pessoa continua se<br />

envolven<strong>do</strong> em ações compensatórias virtu<strong>os</strong>as, o karma negativo pouco a pouco será purifica<strong>do</strong>. Embora<br />

seja inescapável que o resulta<strong>do</strong> de um karma ruim deva ser, em último caso, colhi<strong>do</strong>, o mo<strong>do</strong> em que ele<br />

amadurecerá pode ser mitiga<strong>do</strong> tão completamente que dificilmente será experiencia<strong>do</strong>. Assim, diz‐se que<br />

o Bu<strong>da</strong> Shakyamuni, em uma vi<strong>da</strong> anterior como um bodhisattva matou o ser que mais tarde renasceu<br />

como Anan<strong>da</strong>, porque este estava planejan<strong>do</strong> matar quinhent<strong>os</strong> arhats e roubá‐l<strong>os</strong>. O bodhisattva,<br />

perceben<strong>do</strong> que não conseguia convencê‐lo <strong>do</strong> contrário de sua matança, matou‐o, evitan<strong>do</strong>, assim, que<br />

quinhent<strong>os</strong> arhats morressem, e evitan<strong>do</strong> também que o potencial assassino renascesse em uma sucessão<br />

de existências infernais, <strong>da</strong>s quais seria extremamente difícil se livrar. Por óbvio, o bodhisattva continuou<br />

renascen<strong>do</strong> como tal, envolvi<strong>do</strong> com ativi<strong>da</strong>des virtu<strong>os</strong>as ca<strong>da</strong> vez mais efetivas, continuan<strong>do</strong> a<br />

desenvolver amor e compaixão para <strong>os</strong> seres human<strong>os</strong> até que, de acor<strong>do</strong> com a tradição, ele finalmente<br />

renasceu como o Bu<strong>da</strong> Shakyamuni. Aquele potencial assassino também renasceu naquela época e se<br />

tornou Anan<strong>da</strong>, um devoto discípulo de Bu<strong>da</strong> e seu assistente pessoal durante to<strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong>. De acor<strong>do</strong><br />

com o cânone páli, o Bu<strong>da</strong> uma vez pisou em um graveto pontiagu<strong>do</strong>, e compreendeu que aquilo tinha<br />

si<strong>do</strong> o resulta<strong>do</strong> kármico de ter mata<strong>do</strong> o homem que mais tarde se tornou Anan<strong>da</strong>. Como um Bu<strong>da</strong>,<br />

obviamente ele não sofreu por causa desta experiência. Aqui, Rinpoche quer dizer que as preces <strong>da</strong> criança<br />

a Deus com respeito à Hitler foram uma forma de ação compensatória que pode ter si<strong>do</strong> responsável pela<br />

mu<strong>da</strong>nça de como seu próprio karma pessoal amadureceu, de maneira que elas realmente a protegeram,<br />

enquanto <strong>os</strong> outr<strong>os</strong>, que talvez tenham ti<strong>do</strong> o mesmo tipo de karma, não rezaram ou fizeram tarde demais,<br />

e foram mort<strong>os</strong> no bombardeio.<br />

133


simplesmente tem<strong>os</strong> de aceitar o fato de que quan<strong>do</strong> um país grande e popul<strong>os</strong>o<br />

invade um menor, eles irão vencer. É muito difícil escapar disso. Se olharm<strong>os</strong> para isso<br />

<strong>do</strong> ponto de vista político, teríam<strong>os</strong> de dizer que o Tibete se perdeu, mas, <strong>do</strong> ponto de<br />

vista dhármico, a tradição <strong>do</strong> Dharma tibetano está longe de se ter perdi<strong>do</strong>. Houve um<br />

tempo no Tibete em que, se uma pessoa viajasse para o Tibete a partir de Kalimpong,<br />

no norte <strong>da</strong> Índia, essa teria si<strong>do</strong> uma longa viagem. Mas ele se foi expandin<strong>do</strong>,<br />

levan<strong>do</strong> <strong>os</strong> ensinament<strong>os</strong> pelo mun<strong>do</strong>. Agora, praticamente não há lugar algum <strong>do</strong><br />

planeta em que não haja centr<strong>os</strong> budistas tibetan<strong>os</strong>, stupas tibetanas, retir<strong>os</strong>, etc.<br />

Pergunta: O senhor poderia explicar sobre o que está na pequena imagem que n<strong>os</strong><br />

deu?<br />

Rinpoche: No alto, a figura vermelha senta<strong>da</strong> é Amitayus, o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> longevi<strong>da</strong>de. Na<br />

parte inferior estão <strong>do</strong>is bodhisattvas. O amarelo é Manjushri e o branco é Chagdrul.<br />

Pergunta: Há uma cessação <strong>da</strong> experiência quan<strong>do</strong> atingim<strong>os</strong> o Esta<strong>do</strong> de Bu<strong>da</strong>?<br />

Tradutor: Do ponto de vista deste Bu<strong>da</strong>?<br />

Pergunta: Bem, sim, eu imagino. Mas também, se uma vez que tod<strong>os</strong>, pela visão <strong>do</strong><br />

Mahayana, são liberad<strong>os</strong>, há a cessação <strong>da</strong> experiência? Ou o que acontece,<br />

exatamente?<br />

Tradutor: Então há duas perguntas? Quan<strong>do</strong> uma pessoa atinge o Despertar, ela cessa<br />

a experiência, e quan<strong>do</strong> tod<strong>os</strong> atingem a iluminação, tu<strong>do</strong> acaba?<br />

Pergunta: Ou o que acontece? Sim, é isso.<br />

Rinpoche: Quan<strong>do</strong> alguém atinge o completo Despertar, o Esta<strong>do</strong> de Bu<strong>da</strong>, ela não<br />

pára de ter experiência. O que eles experienciam é, para n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> padrões, inconcebível, e<br />

tu<strong>do</strong> o que pode ser dito disso é que é extremamente puro. To<strong>da</strong>s as aparências que<br />

eles tomam são puras, o ambiente em que eles se experienciam é um reino puro, e<br />

assim por diante. Implícita em sua segun<strong>da</strong> pergunta está a questão: “Haverá um<br />

tempo em que tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres atingirão o Esta<strong>do</strong> de Bu<strong>da</strong>?”. Esta pergunta deve ser feita<br />

antes de se perguntar sobre o que acontecerá depois. A resp<strong>os</strong>ta é: não. Nunca haverá<br />

um tempo específico em que o samsara cessará para tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres. Nunca haverá um<br />

tempo, como é ensina<strong>do</strong>, em tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres, sem nenhuma exceção, atingirão o<br />

Despertar, porque <strong>os</strong> seres existem em número infinito. E quan<strong>do</strong> dizem<strong>os</strong>: “Eu me<br />

comprometo a fazer tal e tal até que o samsara se esvazie por completo”, fazem<strong>os</strong> para<br />

gerar ampl<strong>os</strong> e ilimitad<strong>os</strong> compromisso e aspiração. Dizem<strong>os</strong> isso não porque<br />

pensam<strong>os</strong> que chegará o tempo em que o samsara se esvaziará, mas porque não tem<strong>os</strong><br />

uma aspiração limita<strong>da</strong>. Não querem<strong>os</strong> ter uma aspiração que diga: “Eu vou beneficiar<br />

<strong>os</strong> seres, mas apenas por três an<strong>os</strong>, ou por certo perío<strong>do</strong> de tempo”. Agora, voltan<strong>do</strong> à<br />

sua primeira questão, há context<strong>os</strong> em que se ensina, por exemplo, na apresentação <strong>do</strong><br />

Despertar <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> feita pela escola <strong>do</strong> Caminho <strong>do</strong> Meio, que, após o Despertar,<br />

aquele Bu<strong>da</strong> existe apenas na percepção d<strong>os</strong> outr<strong>os</strong>, puro e impuro, e não se<br />

experiencia a si mesmo, seja homem ou mulher. Mas, no Vajrayana, não se ensina<br />

assim. No Vajrayana se ensina, definitivamente, que o ver<strong>da</strong>deiro reino de<br />

sambhogakaya, o ver<strong>da</strong>deiro ou perfeito sambhogakaya é, de fato, a auto‐experiência;<br />

é como um Bu<strong>da</strong> se experiencia a si mesmo, seja homem ou mulher.<br />

134


Pergunta: Rinpoche, o senhor entrou em grandes detalhes sobre a tradição <strong>do</strong> sutra e<br />

sobre como o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> se tornou conheci<strong>do</strong> neste mun<strong>do</strong>. Este conhecimento<br />

sobre o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> de fato se originou no Bu<strong>da</strong> Shakyamuni, o que me dá<br />

grande confiança em term<strong>os</strong> <strong>da</strong> origem desta <strong>prática</strong>, porque eu tenho grande<br />

confiança no Bu<strong>da</strong> Shakyamuni. Entretanto, uma grande parte <strong>da</strong> <strong>prática</strong> que o senhor<br />

n<strong>os</strong> transmitiu é também tântrica em sua natureza, e suas detalhadíssimas<br />

visualizações claramente vêm de outro lugar. O senhor poderia n<strong>os</strong> <strong>da</strong>r mais detalhes<br />

sobre a origem <strong>da</strong> <strong>prática</strong> para que p<strong>os</strong>sam<strong>os</strong> ter a mesma confiança e conhecimento?<br />

Rinpoche: Esta <strong>prática</strong> é uma combinação de sutra com tantra. Eu expliquei a origem<br />

<strong>do</strong> sutra. Basicamente, não há uma origem tântrica que ascende até o Bu<strong>da</strong><br />

Shakyamuni, independente de suas origens no sutra. É basicamente uma <strong>prática</strong> de<br />

sutra combina<strong>da</strong> com tantra. Em outras palavras, é uma <strong>prática</strong> de acor<strong>do</strong> com <strong>os</strong><br />

sutras que a<strong>do</strong>ta e a<strong>da</strong>pta <strong>os</strong> métod<strong>os</strong> tântric<strong>os</strong>, especificamente de alguns métod<strong>os</strong> <strong>do</strong><br />

Anuttarayoga tantra. Ela se tornou uma <strong>prática</strong> tântrica depois <strong>da</strong> época de Bu<strong>da</strong>, por<br />

meio <strong>da</strong> realização e d<strong>os</strong> ensinament<strong>os</strong> d<strong>os</strong> bodhisattvas que o receberam <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> e<br />

d<strong>os</strong> vári<strong>os</strong> mahasiddhas que receberam <strong>da</strong>queles. Neste senti<strong>do</strong>, é diferente de uma<br />

<strong>prática</strong> primariamente tântrica, como Chakrasamvara ou Kalachakra, cujas origens são<br />

um ou mais tantras específic<strong>os</strong> ensinad<strong>os</strong> pelo Bu<strong>da</strong>, pertencentes a uma certa classe de<br />

tantra, como o Anuttarayoga tantra, e outr<strong>os</strong>. E, assim, é diferente de outr<strong>os</strong> tantras<br />

menores <strong>–</strong> o yoga tantra, o carya tantra e o kriya tantra <strong>–</strong> que também se originam no<br />

Bu<strong>da</strong> Shakyamuni. Aqui, é basicamente uma <strong>prática</strong> de sutra que faz uso de métod<strong>os</strong><br />

<strong>do</strong> Anuttarayoga tantra, e não há um tantra específico que seja a base escrita que lhe<br />

sirva de suporte, assim como é o sutra.<br />

Pergunta: E quanto a tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> detalhes, to<strong>da</strong> a riqueza <strong>da</strong> visualização? Estão contid<strong>os</strong><br />

n<strong>os</strong> sutras mais long<strong>os</strong>? O palácio e suas várias cores, etc. Há um ser específico, mesmo<br />

antes <strong>da</strong> época <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong>, em que isso tem origem?<br />

Rinpoche: Bem, o palácio é basea<strong>do</strong> na descrição constante no sutra <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>, que diz que o reino <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> é chama<strong>do</strong> de tal nome, é de tal<br />

forma, tem tais e tais paláci<strong>os</strong>, e assim por diante. O cortejo também é basea<strong>do</strong> naquele<br />

sutra. No sutra, tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> oito Bu<strong>da</strong>s <strong>da</strong> medicina e <strong>os</strong> dezesseis bodhisattvas estão<br />

presentes àquele ensinamento, bem assim <strong>os</strong> <strong>do</strong>ze chefes Yakshas, <strong>os</strong> dez protetores<br />

<strong>da</strong>s direções e <strong>os</strong> quatro grandes reis. Visualizan<strong>do</strong>‐<strong>os</strong> em re<strong>do</strong>r d<strong>os</strong> bu<strong>da</strong>s e d<strong>os</strong><br />

bodhisattvas, você assegura a recepção de sua proteção e bênçã<strong>os</strong>.<br />

Pergunta: Temen<strong>do</strong> ser ain<strong>da</strong> mais repetitivo, sobre as luzes e <strong>os</strong> Bu<strong>da</strong>s <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong><br />

descen<strong>do</strong> em forma de chuva... isso também é basea<strong>do</strong> em outras <strong>prática</strong>s tântricas?<br />

Rinpoche: Sim.<br />

Pergunta: Rinpoche, quan<strong>do</strong> eu voltar para casa e conversar com minha família e meus<br />

amig<strong>os</strong>, e disser que estive em um retiro sobre o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, se me perguntarem<br />

quem ele é, eu não saberei explicar. Eu g<strong>os</strong>taria de criar uma definição que lhes trará<br />

benefício e, embora saiba que ouvir sobre o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> lhes aju<strong>da</strong>rá, eu não<br />

g<strong>os</strong>taria de simplesmente decepcioná‐l<strong>os</strong>. O senhor poderia, por favor, <strong>da</strong>r ao men<strong>os</strong><br />

uma curta resp<strong>os</strong>ta, em term<strong>os</strong> leig<strong>os</strong>? Não sei se isso seria p<strong>os</strong>sível. E, além disso, nós<br />

tem<strong>os</strong> um gatinho e eu g<strong>os</strong>taria de expô‐lo ao Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, mas pode ser que ele<br />

não fique ao altar con<strong>os</strong>co enquanto praticam<strong>os</strong>. Então, seria apropria<strong>do</strong> colocar uma<br />

135


imagem <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> perto de sua tigela de ração ou de sua caminha? Ou isso<br />

não é adequa<strong>do</strong>? Simplesmente viver com praticantes <strong>do</strong> Dharma seria benéfico para<br />

um animal, quan<strong>do</strong> ele n<strong>os</strong> ouve falan<strong>do</strong> mesmo que um pouco sobre o Dharma?<br />

Rinpoche: Para responder a primeira questão, provavelmente a coisa mais conveniente<br />

para dizer à sua família é que você foi ensina<strong>do</strong> e praticou uma forma de meditação<br />

feita para levar à saúde física e à liberação de <strong>do</strong>enças, e deixe assim. E quanto a<br />

colocar uma imagem <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> perto de onde seu gato come ou <strong>do</strong>rme,<br />

está tu<strong>do</strong> bem. Bem, o tempo acabou. Os demais podem fazer suas perguntas hoje à<br />

tarde. Ontem, eu fui pergunta<strong>do</strong> sobre como se defender de um ataque sexual ou<br />

estupro, e me pediram para eu <strong>da</strong>r uma resp<strong>os</strong>ta de acor<strong>do</strong> com o Dharma.<br />

Basicamente, a resp<strong>os</strong>ta dhármica seria o máximo de prevenção, o que pode recair em<br />

duas categorias. Em primeiro lugar, conscientemente, evite situações em que você<br />

p<strong>os</strong>sa se tornar uma vítima deste tipo de ataque. Em segun<strong>do</strong>, desencoraje qualquer<br />

um que pareça capaz de agir dessa forma, fazen<strong>do</strong>‐se de mais dura, para que o<br />

agressor não tenha a idéia de que pode chegar perto de você.<br />

Agora, vam<strong>os</strong> dedicar <strong>os</strong> mérit<strong>os</strong>.<br />

136


O Sutra <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong><br />

A visão correta com relação às divin<strong>da</strong>des e <strong>os</strong> maras<br />

Continuação d<strong>os</strong> ensinament<strong>os</strong> <strong>do</strong> muito venerável Khenchen Thrangu Rinpoche sobre o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>.<br />

Terminam<strong>os</strong> a explicação sobre o Sutra <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>. Há, porém,<br />

outro sutra a ele liga<strong>do</strong>, chama<strong>do</strong> de Sutra <strong>da</strong>s aspirações d<strong>os</strong> oito Bu<strong>da</strong>s <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>, que diz respeito ao principal Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> <strong>do</strong> Sutra <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong> e a<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> sete bu<strong>da</strong>s <strong>da</strong> medicina de seu cortejo. Estes são Bu<strong>da</strong>s<br />

diferentes, mas suas aspirações são fun<strong>da</strong>mentalmente as mesmas, então, não<br />

vou explicar o sutra separa<strong>da</strong>mente.<br />

No sutra que estivem<strong>os</strong> estu<strong>da</strong>n<strong>do</strong>, há uma grande parte encarrega<strong>da</strong> de<br />

apresentar a idéia de veneração, e mesmo a de louvar a dei<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong> e, pela veneração e louvação, alcançar o que chamam<strong>os</strong> de nó de<br />

Mara. Tem<strong>os</strong> a idéia de algum Mara externo que fica embaixo e de uma dei<strong>da</strong>de<br />

que fica mais acima. Por este tipo de apresentação, podem<strong>os</strong> concluir que, se<br />

suplicam<strong>os</strong> a uma dei<strong>da</strong>de, como o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, ele terá a onipotência e a<br />

existência externa de um cria<strong>do</strong>r, como se ele ou ela causassem as experiências<br />

agradáveis e desagradáveis pelas quais passam<strong>os</strong>. Pode parecer que, se você<br />

rezar ao Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, você receberá as realizações <strong>–</strong> a comum e a suprema<br />

<strong>–</strong> e que, se você não rezar, você terá problemas. Mas a visão Vajrayana <strong>do</strong> efeito<br />

ou <strong>da</strong> efetivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> súplica às dei<strong>da</strong>des é fun<strong>da</strong>mentalmente diferente dessa<br />

137


idéia. A concepção Vajrayana é que a bênção associa<strong>da</strong> à divin<strong>da</strong>de, a<br />

realização que você alcança por esse tipo de <strong>prática</strong>, é o resulta<strong>do</strong> de sua <strong>prática</strong><br />

<strong>do</strong> caminho 51 . A sua realização <strong>do</strong> caminho leva ao seu resulta<strong>do</strong>, o que<br />

fun<strong>da</strong>mentalmente é causa<strong>do</strong> pelo seu próprio esta<strong>do</strong> meditativo, ou samadhi,<br />

cultiva<strong>do</strong> por você dentro de você mesmo. A capaci<strong>da</strong>de que você tem de<br />

<strong>cultivar</strong> tal samadhi e, portanto, atingir o resulta<strong>do</strong>, é sua própria natureza<br />

fun<strong>da</strong>mental, a que se chama de Natureza de Bu<strong>da</strong>. Esse potencial é algo que<br />

to<strong>do</strong> e qualquer ser tem. É, porém, usualmente obscureci<strong>da</strong> pela presença de<br />

máculas temporárias e obstácul<strong>os</strong>. Essas máculas são removi<strong>da</strong>s pela <strong>prática</strong> <strong>do</strong><br />

caminho, pela <strong>prática</strong> <strong>da</strong> meditação, pela <strong>prática</strong> d<strong>os</strong> estági<strong>os</strong> <strong>da</strong> geração e <strong>da</strong><br />

compleição. E, quan<strong>do</strong> esses obscureciment<strong>os</strong> forem removid<strong>os</strong> e as quali<strong>da</strong>des<br />

inatas dessa Natureza de Bu<strong>da</strong> forem revela<strong>da</strong>s, esse será o resulta<strong>do</strong>. Logo,<br />

esta <strong>prática</strong> não é realmente a a<strong>do</strong>ração de uma divin<strong>da</strong>de externa. É,<br />

primeiramente, um meio de ter acesso à sua própria inerente ou inata<br />

sabe<strong>do</strong>ria.<br />

Devi<strong>do</strong> ao fato disso ser a visão Vajrayana sobre a natureza <strong>da</strong>s<br />

dei<strong>da</strong>des, o méto<strong>do</strong> incomum <strong>do</strong> Vajrayana é visualizarm<strong>os</strong> a nós mesm<strong>os</strong><br />

como a divin<strong>da</strong>de. Assim, nesta <strong>prática</strong> você se visualiza como o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>. Mas, no Veículo Comum, n<strong>os</strong> ensinament<strong>os</strong> básic<strong>os</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> [<strong>os</strong><br />

ensinament<strong>os</strong> Hinayana], aparece ensina<strong>do</strong> que o resulta<strong>do</strong> último <strong>do</strong> caminho<br />

é chama<strong>do</strong> de arhat sem restrições. Lá, é dito que, se alguém completa o<br />

caminho <strong>–</strong> o que significa que eles removeram ou aban<strong>do</strong>naram to<strong>da</strong>s as causas<br />

<strong>do</strong> samsara, to<strong>do</strong> o karma, tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> kleshas <strong>–</strong> então, naturalmente atingirão o<br />

resulta<strong>do</strong> desse aban<strong>do</strong>no, que é a cessação d<strong>os</strong> resultad<strong>os</strong> <strong>da</strong>quelas causas e<br />

que, por sua vez, significa a total cessação <strong>da</strong> experiência samsárica para aquela<br />

pessoa. Desde que aban<strong>do</strong>naram as causas e, portanto, experienciam a cessação<br />

d<strong>os</strong> resultad<strong>os</strong>, de acor<strong>do</strong> com o Veículo Comum, não há na<strong>da</strong> mais <strong>–</strong> e isso é<br />

chama<strong>do</strong> de arhat sem restrições. Então, <strong>do</strong> ponto de vista <strong>do</strong> Veículo Comum,<br />

a liberação de uma pessoa depende inteiramente, sem nenhuma exceção, <strong>da</strong> sua<br />

realização em meditação e não há nenhum senti<strong>do</strong> em suplicar ou rezar a<br />

alguém fora de si mesmo, porque simplesmente não há ninguém a quem orar.<br />

A visão Vajrayana é diferente desta. De acor<strong>do</strong> com o Vajrayana, e<br />

também de acor<strong>do</strong> o Mahayana, apareceram inúmer<strong>os</strong> bu<strong>da</strong>s e bodhisattvas.<br />

Tod<strong>os</strong> eles entraram no caminho geran<strong>do</strong> a bodhicitta, atravessaram [ou estão<br />

no processo de atravessar] o caminho reunin<strong>do</strong> acumulações de mérito e<br />

sabe<strong>do</strong>ria pel<strong>os</strong> três períod<strong>os</strong> de inumeráveis kalpas [segun<strong>do</strong> o Mahayana] e,<br />

por fim, completaram [ou completarão] o caminho atingin<strong>do</strong> o completo<br />

Despertar, ou esta<strong>do</strong> de Bu<strong>da</strong>. Ten<strong>do</strong> atingi<strong>do</strong> o Esta<strong>do</strong> de Bu<strong>da</strong>, eles de fato<br />

têm a capaci<strong>da</strong>de de abençoar, e é por esta razão que fazem<strong>os</strong> oferen<strong>da</strong>s, que<br />

fazem<strong>os</strong> pr<strong>os</strong>ternações, súplicas, etc. Então, no Vajrayana, não apenas n<strong>os</strong><br />

visualizam<strong>os</strong> como o yi<strong>da</strong>m, como o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, mas também o<br />

visualizam<strong>os</strong> à n<strong>os</strong>sa frente. Focan<strong>do</strong> a visualização frontal, fazem<strong>os</strong> as<br />

51 Nota <strong>do</strong> editor: isto é, não uma recompensa arbitrariamente concedi<strong>da</strong> por uma divin<strong>da</strong>de que se<br />

compraz d<strong>os</strong> elogi<strong>os</strong>, promessas, obediência de alguém, ou de outro tipo de favor obsequi<strong>os</strong>o.<br />

138


oferen<strong>da</strong>s e o mais para que façam<strong>os</strong> acumulações e suplicam<strong>os</strong> à dei<strong>da</strong>de para<br />

que n<strong>os</strong> abençoe. Logo, <strong>do</strong> ponto de vista Vajrayana, existe sim alguém a quem<br />

orar e, ao fazerm<strong>os</strong> assim, alcançar o resulta<strong>do</strong> fica mais fácil.<br />

Liga<strong>do</strong> a isso está a compreensão <strong>do</strong> objetivo <strong>da</strong> <strong>prática</strong>. Às vezes, <strong>do</strong><br />

jeito como o Dharma é apresenta<strong>do</strong>, parece que o único objetivo aceitável para<br />

se fazer <strong>prática</strong>s dhármicas é a realização <strong>do</strong> perfeito Despertar para liberar <strong>os</strong><br />

outr<strong>os</strong>, e parece que é extremamente inadequa<strong>do</strong> pensar em qualquer benefício<br />

para esta vi<strong>da</strong>, o que implica em que não existem métod<strong>os</strong> no Dharma para se<br />

beneficiar nesta existência. Em ver<strong>da</strong>de, não é este o caso. Especialmente, na<br />

tradição Vajrayana, falam<strong>os</strong> sobre a realização d<strong>os</strong> <strong>do</strong>is siddhis, ou as duas<br />

realizações. Um deles é o siddhi supremo, ou suprema realização. Pela <strong>prática</strong><br />

<strong>da</strong> meditação <strong>–</strong> pela <strong>prática</strong> d<strong>os</strong> estági<strong>os</strong> de geração e compleição <strong>–</strong> você<br />

gradualmente remove <strong>os</strong> <strong>do</strong>is obscureciment<strong>os</strong> <strong>–</strong> as aflições mentais e<br />

emocionais e <strong>os</strong> obscureciment<strong>os</strong> cognitiv<strong>os</strong> <strong>–</strong> e, por fim, alcança a budei<strong>da</strong>de.<br />

A realização <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Bu<strong>da</strong> é a suprema realização. Mas se você pensa que<br />

esse é o único benefício ou a única razão para a <strong>prática</strong>, não é bem assim. No<br />

Vajrayana também falam<strong>os</strong> d<strong>os</strong> siddhis comuns, ou realizações comuns. Pela<br />

meditação sobre um yi<strong>da</strong>m, você também pode alcançar longevi<strong>da</strong>de, liberação<br />

<strong>da</strong>s <strong>do</strong>enças, riquezas e o mais, e assim é por causa <strong>da</strong> ênfase <strong>do</strong> Vajrayana<br />

sobre as realizações comuns que existem tantas divin<strong>da</strong>des diferentes. Por<br />

exemplo, para alcançar riqueza, você faz a <strong>prática</strong> de uma divin<strong>da</strong>de de riqueza<br />

chama<strong>da</strong> Jambhala. Para obter bem‐estar físico e liberação <strong>da</strong>s <strong>do</strong>enças, você<br />

deve fazer a <strong>prática</strong> de uma dei<strong>da</strong>de como o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>. Para enriquecer<br />

seu insight sobre o significa<strong>do</strong> d<strong>os</strong> ensinament<strong>os</strong>, você deve praticar Manjushri.<br />

Fazer as <strong>prática</strong>s por estes motiv<strong>os</strong> não é considera<strong>do</strong> de mo<strong>do</strong> algum<br />

inapropria<strong>do</strong>. Como estas <strong>prática</strong>s existem, não é, obviamente, imp<strong>os</strong>sível obter<br />

seus resultad<strong>os</strong> ao fazê‐las.<br />

Esta é a visão com respeito às dei<strong>da</strong>des em quem se medita e a quem se<br />

suplica. Mas há um outro la<strong>do</strong> <strong>da</strong>s coisas, Mara ou <strong>os</strong> maras, que pensam<strong>os</strong> que<br />

existem, <strong>da</strong> mesma forma que as demais divin<strong>da</strong>des. Há duas maneiras em que<br />

usualmente concebem<strong>os</strong> um mara. Um é pensar que um mara se refere às n<strong>os</strong>sas<br />

próprias aflições mentais, n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> própri<strong>os</strong> kleshas, e não como algum tipo de<br />

ser externo a nós, que n<strong>os</strong> põe em tentação ou tenta interferir em n<strong>os</strong>so<br />

progresso espiritual. Outras vezes, pensam<strong>os</strong> que <strong>os</strong> maras são completamente<br />

extern<strong>os</strong>, e que qualquer coisa que dê erra<strong>do</strong> é causa<strong>da</strong> por alguma espécie de<br />

força maléfica que tenta n<strong>os</strong> vitimar. Ambas as visões são algo extremas.<br />

Mara é mais comumente apresenta<strong>do</strong> na tradição budista a partir de<br />

quatro tip<strong>os</strong> diferentes de maras, chamad<strong>os</strong>: devaputramara, o mara que é o filho<br />

d<strong>os</strong> deuses; kleshamara, o mara <strong>da</strong>s aflições mentais; skandhamara, o mara d<strong>os</strong><br />

agregad<strong>os</strong>; e, por fim, mrtyumara, o mara que é o senhor <strong>da</strong> morte. Esses são<br />

basicamente intern<strong>os</strong>. O primeiro deles, devaputramara, o mara que é o filho<br />

d<strong>os</strong> deuses, refere‐se não a algum tipo de força demoníaca externa, mas<br />

primeiramente a seu próprio apego e seu grande desejo. Por isso, ele se chama<br />

filho d<strong>os</strong> deuses porque, quan<strong>do</strong> é representa<strong>do</strong> iconograficamente <strong>–</strong> e porque é<br />

139


um forte desejo ou um forte querer <strong>–</strong> ele não é representa<strong>do</strong> como algo feio ou<br />

ameaça<strong>do</strong>r, mas como atraente, por causa <strong>da</strong> sensação <strong>do</strong> apego. É querer tanto<br />

as coisas que interfere na sua <strong>prática</strong> <strong>do</strong> Dharma e sua realização <strong>do</strong> Despertar.<br />

O segun<strong>do</strong> mara, kleshamara, o mara <strong>da</strong>s aflições mentais, é sua própria aflição<br />

mental. Estas se tornam maras porque, devi<strong>do</strong> ao hábito de mantê‐las e cultivá‐<br />

las desde temp<strong>os</strong> sem princípio, elas sempre continuam surgin<strong>do</strong>. Elas são<br />

difíceis de aban<strong>do</strong>nar ou mesmo suprimir e, quan<strong>do</strong> estão momentaneamente<br />

ausentes, aparecem de novo, interferin<strong>do</strong>, assim, em sua <strong>prática</strong> <strong>do</strong> Dharma.<br />

O terceiro mara é skandhamara, o mara d<strong>os</strong> agregad<strong>os</strong>. Estes aqui se<br />

referem a<strong>os</strong> cinco agregad<strong>os</strong> que formam a existência samsárica <strong>–</strong> as formas, as<br />

sensações, as percepções, <strong>os</strong> pensament<strong>os</strong> 52 e a consciência. Estes agregad<strong>os</strong> são<br />

em si mesmo mara porque, sen<strong>do</strong> componentes, são impermanentes. Sen<strong>do</strong><br />

impermanentes, estão constantemente mu<strong>da</strong>n<strong>do</strong> e, portanto, são sempre a<br />

causa, direta ou indireta, <strong>do</strong> sofrimento. Para alcançar a felici<strong>da</strong>de permanente,<br />

para transcender o sofrimento <strong>do</strong> samsara, devem<strong>os</strong> transcender <strong>os</strong> cinco<br />

agregad<strong>os</strong>. Não há, de forma alguma, meio de alcançar um esta<strong>do</strong> de felici<strong>da</strong>de<br />

permanente dentro d<strong>os</strong> limites destes agregad<strong>os</strong>.<br />

O quarto mara é a própria morte, ilustra<strong>da</strong> iconograficamente como<br />

ira<strong>da</strong> e desagradável. A morte, por óbvio, é o que mais temem<strong>os</strong>. Morte é que o<br />

que vem com grande agonia, me<strong>do</strong> e <strong>do</strong>r.<br />

Estes quatro maras são fun<strong>da</strong>mentalmente intern<strong>os</strong>; não são seres em<br />

n<strong>os</strong>sa volta. A vitória sobre <strong>os</strong> quatro maras requer a <strong>prática</strong> <strong>do</strong> Dharma, a<br />

<strong>prática</strong> <strong>da</strong> meditação. Especificamente, requer a realização <strong>do</strong> desapego <strong>da</strong>s<br />

pessoas e <strong>do</strong> desapego ou <strong>da</strong> vacui<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s coisas em geral. Para realizar esses<br />

<strong>do</strong>is aspect<strong>os</strong> <strong>do</strong> desapego, ou vacui<strong>da</strong>de, deve‐se meditar sobre o desapego e,<br />

especialmente de acor<strong>do</strong> com a tradição Vajrayana, deve‐se meditar sobre a<br />

natureza <strong>da</strong> mente, porque esta é uma vacui<strong>da</strong>de evidente, uma vacui<strong>da</strong>de<br />

óbvia ou diretamente experienciável 53 . Portanto, a <strong>prática</strong> de shamatha e<br />

vipashyana, calma mental e visão última, que toma como base o<br />

reconhecimento <strong>da</strong> natureza <strong>da</strong> mente, é o méto<strong>do</strong> direto que leva à realização<br />

<strong>da</strong> vacui<strong>da</strong>de <strong>da</strong> própria natureza e, a partir dessa realização, pode‐se<br />

gradualmente alcançar a fruição última, o Despertar final, ponto em que a<br />

pessoa conquistou, de uma vez por to<strong>da</strong>s, tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> quatro maras. É assim que<br />

se <strong>do</strong>minam <strong>os</strong> maras intern<strong>os</strong>.<br />

A <strong>prática</strong> Vajrayana, portanto, inclui ambas as <strong>prática</strong>s, shamatha e<br />

vipashyana. Mas as <strong>prática</strong>s típicas <strong>do</strong> Vajrayana não se limitam a estas duas;<br />

incluem, também, duas grandes categorias d<strong>os</strong> estági<strong>os</strong> de geração e de<br />

compleição. De acor<strong>do</strong> com o Vajrayana, <strong>os</strong> quatro maras são considerad<strong>os</strong><br />

aparências impuras, projeções confusas e a presença dessas tendências <strong>–</strong> <strong>os</strong><br />

kleshas e <strong>os</strong> obscureciment<strong>os</strong> cognitiv<strong>os</strong> <strong>–</strong> que causam estas projeções. Os<br />

52 Nota <strong>do</strong> editor: comumente chamad<strong>os</strong> samskaras ou formações mentais.<br />

53 Nota <strong>do</strong> editor: não é difícil estabelecer, pelo uso <strong>da</strong> razão, a ausência de ver<strong>da</strong>deira <strong>–</strong> isto é, singular,<br />

desagrega<strong>do</strong>, permanente <strong>–</strong> existência <strong>da</strong>s coisas físicas externas, mas é bem difícil “ver” ou experienciar<br />

diretamente tal ausência <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>deira existência <strong>da</strong>s coisas. Ver nota <strong>do</strong> editor, página 20, Shenpen Ösel,<br />

volume 2, número 2.<br />

140


quatro maras consistem em aparências impuras e suas reificações, o que inclui o<br />

karma negativo 54 . Alcançar a vitória sobre <strong>os</strong> quatro maras, segun<strong>do</strong> a tradição<br />

Vajrayana, vem <strong>da</strong> transcendência dessas aparências impuras e a realização <strong>da</strong><br />

experiência <strong>da</strong>s aparências puras. Realizam<strong>os</strong> a experiência <strong>da</strong>s aparências<br />

puras por meio <strong>da</strong> meditação sobre a pureza <strong>da</strong>s aparências, <strong>da</strong> pureza <strong>do</strong><br />

ambiente, <strong>do</strong> corpo como forma pura, e assim por diante. Bem, se f<strong>os</strong>se uma<br />

meditação diferente sobre as coisas, diferente <strong>do</strong> que elas fun<strong>da</strong>mental e<br />

ver<strong>da</strong>deiramente são, nunca funcionaria. Mas porque n<strong>os</strong>sa natureza básica é a<br />

Natureza de Bu<strong>da</strong>, e porque <strong>os</strong> obscureciment<strong>os</strong> temporári<strong>os</strong> que n<strong>os</strong> fazem<br />

perceber as coisas como impuras são secundári<strong>os</strong> a essa natureza <strong>–</strong> e, por<br />

temporário ou secundário, querem<strong>os</strong> dizer que podem ser removid<strong>os</strong>, que são<br />

vazi<strong>os</strong>, que não são intrínsec<strong>os</strong> à natureza <strong>–</strong> porque n<strong>os</strong>sa natureza básica, ou<br />

ver<strong>da</strong>deira, é a Natureza de Bu<strong>da</strong> e <strong>os</strong> obscureciment<strong>os</strong> que a escondem não são<br />

intrínsec<strong>os</strong> e podem ser removid<strong>os</strong>, portanto, assim como n<strong>os</strong>sa natureza é<br />

pura, as aparências são fun<strong>da</strong>mentalmente puras. É em função de revelar essa<br />

natureza básica e revelar essas aparências puras que praticam<strong>os</strong> o estágio <strong>da</strong><br />

geração.<br />

Inicialmente, a <strong>prática</strong> <strong>do</strong> estágio <strong>da</strong> geração é extremamente difícil,<br />

porque vai diretamente contra a semente ou a corrente de n<strong>os</strong>so hábito de<br />

projeções impuras, causa <strong>da</strong>s aparências impuras que experienciam<strong>os</strong>. Mas, por<br />

fim, [com esforço], o hábito de ver as coisas como puras é cultiva<strong>do</strong> a ponto de<br />

gerar a clara aparência ou a clara percepção <strong>da</strong>s coisas como puras. A partir<br />

deste ponto, pouco a pouco, a ver<strong>da</strong>deira e pura natureza d<strong>os</strong> fenômen<strong>os</strong> ou<br />

<strong>da</strong>s aparências começa a se revelar, e é por esta razão que praticam<strong>os</strong> o estágio<br />

<strong>da</strong> geração na meditação sobre <strong>os</strong> yi<strong>da</strong>ms. É também para revelar a pura<br />

natureza <strong>da</strong>s aparências que consideram<strong>os</strong> as coisas não como sóli<strong>da</strong>s, como<br />

parecem ser <strong>–</strong> simplesmente terra, simplesmente pedras, etc. <strong>–</strong> mas como a<br />

incorporação <strong>da</strong> vacui<strong>da</strong>de manifestan<strong>do</strong>‐se como vívi<strong>da</strong>s aparências puras.<br />

Desse mo<strong>do</strong>, pela <strong>prática</strong> d<strong>os</strong> estági<strong>os</strong> <strong>da</strong> geração e <strong>da</strong> compleição, podem<strong>os</strong><br />

alcançar o resulta<strong>do</strong> último 55 .<br />

Às vezes, quan<strong>do</strong> estam<strong>os</strong> pratican<strong>do</strong>, experimentam<strong>os</strong> condições<br />

adversas, obstácul<strong>os</strong> de vári<strong>os</strong> tip<strong>os</strong> <strong>–</strong> como <strong>do</strong>enças físicas ou depressão,<br />

54 Nota <strong>do</strong> editor: reificar é considerar algo abstrato como material ou concreto. É outra maneira de se<br />

referir ao fenômeno <strong>da</strong> solidificação que Chögyam Trungpa introduziu em n<strong>os</strong>so vocabulário.<br />

Concebermo‐n<strong>os</strong> como pequen<strong>os</strong>, insignificantes, fun<strong>da</strong>mentalmente defeitu<strong>os</strong><strong>os</strong> que sempre estão<br />

raiv<strong>os</strong><strong>os</strong>, carentes ou perturbad<strong>os</strong> é reificar, ou tomar como real, sóli<strong>do</strong> e imutável aquilo que é, de fato,<br />

meramente, o amadurecimento constantemente mutável e o esgotamento de causas e condições. E, embora<br />

este processo kármico exista como mera aparência, é vazio em sua natureza essencial. As manifestações <strong>do</strong><br />

amadurecimento <strong>do</strong> karma aparecem, mas não são, em ver<strong>da</strong>de, reais ou sólid<strong>os</strong>. Não têm existência<br />

ver<strong>da</strong>deira, e reconhecer sua vacui<strong>da</strong>de ou ausência de ver<strong>da</strong>deira existência n<strong>os</strong> libera <strong>do</strong> sofrimento a<br />

eles associa<strong>do</strong>. Se o reconhecimento <strong>da</strong> natureza essencialmente vazia <strong>do</strong> amadurecimento <strong>do</strong> karma é<br />

profun<strong>da</strong> e contínua o bastante, as aparências impuras cessam, e a aparência de nós mesm<strong>os</strong> enquanto<br />

divin<strong>da</strong>de e o ambiente em n<strong>os</strong>so re<strong>do</strong>r enquanto reino búdico espontaneamente aparece. Esse processo<br />

inicia‐se prontamente e é acelera<strong>do</strong> por meio d<strong>os</strong> métod<strong>os</strong> profund<strong>os</strong> d<strong>os</strong> estági<strong>os</strong> <strong>da</strong> geração e <strong>da</strong><br />

compleição, que Rinpoche continua a explicar.<br />

55 Nota <strong>do</strong> editor: ao final, a visão de tu<strong>do</strong> o que surge como vívi<strong>da</strong> aparência pura é o estágio de geração,<br />

e o reconhecimento de sua vacui<strong>da</strong>de é o estágio de compleição.<br />

141


muitas reviravoltas nas coisas que tentam<strong>os</strong> fazer. Isso vem de uma de uma<br />

dupla causa <strong>–</strong> de ações anteriores, ou karmas, ou <strong>do</strong> presente, de condições que<br />

de repente surgem. Embora normalmente concebam<strong>os</strong> a maturação de n<strong>os</strong>sas<br />

ações anteriores como algo que, uma vez que surge, é difícil mu<strong>da</strong>r, entretanto,<br />

se suplicam<strong>os</strong> a<strong>os</strong> Bu<strong>da</strong>s e a<strong>os</strong> bodhisattvas, fazem<strong>os</strong> oferen<strong>da</strong>s, reunim<strong>os</strong><br />

acumulações e assim por diante, podem<strong>os</strong> purificar n<strong>os</strong>so karma. Purificar o<br />

karma também purifica alguns de n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> kleshas ao mesmo tempo 56 . Tod<strong>os</strong><br />

tem<strong>os</strong> kleshas, certamente, mas eles podem ser vencid<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> remédi<strong>os</strong><br />

apropriad<strong>os</strong>, se eles forem sincera e consistentemente aplicad<strong>os</strong>. Aplican<strong>do</strong> <strong>os</strong><br />

remédi<strong>os</strong> adequad<strong>os</strong> <strong>–</strong> especialmente com a bênção d<strong>os</strong> Bu<strong>da</strong>s e d<strong>os</strong><br />

bodhisattvas <strong>–</strong> podem<strong>os</strong> alterar n<strong>os</strong>so karma e reduzir o poder d<strong>os</strong> kleshas<br />

[dessa forma, eliminan<strong>do</strong> ou reduzin<strong>do</strong> <strong>os</strong> obstácul<strong>os</strong> e as condições adversas].<br />

A outra causa de obstácul<strong>os</strong> é chama<strong>da</strong> de condições repentinas. Um tipo de<br />

condição repentina é o débito kármico, uma situação em que o que está<br />

acontecen<strong>do</strong> não é o resulta<strong>do</strong> direto de sua ação imediatamente prévia, mas<br />

lhe está sen<strong>do</strong> imp<strong>os</strong>ta por outro ser devi<strong>do</strong> à conexão kármica negativa que<br />

você tem com esta pessoa [de uma vi<strong>da</strong> prévia] <strong>–</strong> por exemplo, uma pessoa que<br />

você, em uma vi<strong>da</strong> anterior, bateu, matou, de quem você roubou, etc. Às vezes,<br />

é um ser humano que, sem nenhuma razão aparente, o detesta tanto que<br />

começa a persegui‐lo. Outras vezes, pode ser um ser não humano, um espírito<br />

sem aparência física que, por você tê‐lo prejudica<strong>do</strong> em outra vi<strong>da</strong>, aproveita<br />

ca<strong>da</strong> oportuni<strong>da</strong>de de lhe fazer surgir obstácul<strong>os</strong> nesta vi<strong>da</strong>. Essas coisas são<br />

p<strong>os</strong>síveis; elas n<strong>os</strong> acontecem. Nesta situação, se você suplicar ao Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>, fazer‐lhe oferen<strong>da</strong>s, fazer aspirações virtu<strong>os</strong>as e assim por diante, a<br />

agressão deste ser será pacifica<strong>da</strong>, e você será capaz de se livrar <strong>do</strong> obstáculo.<br />

Vou parar por aqui esta tarde. Alguns de vocês não tiveram a chance de<br />

perguntar esta manhã, então, se alguém quiser fazê‐lo, por favor, fique à<br />

vontade.<br />

Pergunta: Rinpoche, parece que no Ocidente muit<strong>os</strong> d<strong>os</strong> ensinament<strong>os</strong> que n<strong>os</strong> foram<br />

<strong>da</strong>d<strong>os</strong> colocaram grande ênfase em n<strong>os</strong>sas aflições mentais, ou kleshas, e não tem<br />

havi<strong>do</strong> muito ensinamento sobre as aflições físicas que, em certo senti<strong>do</strong>, é sobre o que<br />

viem<strong>os</strong> falar esta semana, alguns d<strong>os</strong> mod<strong>os</strong> de se li<strong>da</strong>r com as aflições físicas. Eu<br />

penso se Rinpoche poderia comentar um pouco mais sobre que visão ter <strong>–</strong> <strong>do</strong> ponto de<br />

vista relativo e absoluto <strong>–</strong> quan<strong>do</strong> ocorrem as aflições físicas, dificul<strong>da</strong>des físicas e<br />

<strong>do</strong>enças, bem assim <strong>os</strong> mod<strong>os</strong> de se tratar aflições físicas na experiência pós‐meditação.<br />

Essa é a primeira parte <strong>da</strong> pergunta.<br />

Rinpoche: Bem, claro, dificul<strong>da</strong>des físicas, sofrimento físico e <strong>do</strong>enças estão sempre<br />

n<strong>os</strong> acometen<strong>do</strong>, de um jeito ou de outro. Essas são ver<strong>da</strong>des relativas, fenômen<strong>os</strong><br />

relativ<strong>os</strong>. Como fenômen<strong>os</strong> relativ<strong>os</strong>, são interdependentes, quer dizer, ca<strong>da</strong> aspecto<br />

dessas situações é, de fato, a reunião de várias condições que dependem uma <strong>da</strong>s<br />

outras para aparecer <strong>da</strong> forma como o fazem, por exemplo, a <strong>do</strong>ença e a <strong>do</strong>r física.<br />

56 Nota <strong>do</strong> editor: <strong>os</strong> resultad<strong>os</strong> de qualquer ação em particular incluem não apenas a “revanche”, mas<br />

também a perpetuação e o reforço, na mente, <strong>do</strong> klesha ou d<strong>os</strong> kleshas que existiram como motivação para<br />

a ação.<br />

142


Portanto, por serem interdependentes, por não serem uni<strong>da</strong>des ver<strong>da</strong>deiramente<br />

imutáveis, há sempre um remédio de um tipo ou de outro. Por exemplo, no contexto<br />

<strong>da</strong> <strong>prática</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, visualizar o corpo <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, recitar seu<br />

mantra, pedir por sua bênção <strong>–</strong> tu<strong>do</strong> isso é, primeiramente, mental, aspect<strong>os</strong> primári<strong>os</strong><br />

de meditação e visualização <strong>–</strong> inicialmente pacifica sua mente, mas por pacificar sua<br />

mente, como existe a interdependência entre a mente e o corpo, essas ações começam a<br />

pacificar também a <strong>do</strong>ença física. Se você está <strong>do</strong>ente, elas vão aju<strong>da</strong>r a pacificar sua<br />

<strong>do</strong>ença. E se você não está, elas aju<strong>da</strong>rão a prevenir o surgimento de <strong>do</strong>enças. <strong>Ao</strong><br />

mesmo tempo, também usam<strong>os</strong> remédi<strong>os</strong> para as <strong>do</strong>enças. Mas, sabem<strong>os</strong> por<br />

experiência, que o remédio funcionará e, algumas vezes, por alguma razão que não é<br />

necessariamente aparente, algo interfere no funcionamento próprio <strong>do</strong> remédio, e ele<br />

não é capaz de curar efetivamente nem a <strong>do</strong>ença para a qual foi prescrito. Suplicar ao<br />

Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> aju<strong>da</strong>rá evitar esta interferência ou a ineficácia <strong>do</strong> remédio,<br />

aju<strong>da</strong>n<strong>do</strong>‐o a que ele tenha o efeito espera<strong>do</strong>.<br />

Pergunta: Eu poderia continuar? Há aqui, este fim de semana, muit<strong>os</strong> profissionais <strong>da</strong><br />

área de saúde e educa<strong>do</strong>res que freqüentemente trabalham com pessoas que não são<br />

<strong>da</strong> mesma área, mas que certamente são pessoas abertas. O Rinpoche poderia comentar<br />

um pouco sobre como nós, médic<strong>os</strong> e professores em escolas de medicina <strong>–</strong> por term<strong>os</strong><br />

começa<strong>do</strong> a praticar, entender e estu<strong>da</strong>r o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> e o que o senhor explicou<br />

<strong>–</strong> como nós podem<strong>os</strong> aplicar tu<strong>do</strong> isso enquanto trabalham<strong>os</strong> com n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> pacientes e<br />

alun<strong>os</strong>?<br />

Rinpoche: Bem, o mais importante quan<strong>do</strong> estiver com <strong>os</strong> pacientes e ensinan<strong>do</strong> a<strong>os</strong><br />

alun<strong>os</strong> de medicina é que o fun<strong>da</strong>mental para o alívio <strong>da</strong> <strong>do</strong>ença <strong>–</strong> e que deve ser<br />

compartilha<strong>do</strong> por tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> profissionais <strong>da</strong> área de saúde <strong>–</strong> é o sincero desejo de<br />

aju<strong>da</strong>r <strong>os</strong> outr<strong>os</strong>, o sincero desejo de remover o sofrimento ou, pelo men<strong>os</strong>, as causas<br />

próximas <strong>do</strong> sofrimento. Logo, as quatro puras e imacula<strong>da</strong>s atitudes que descrevem<strong>os</strong><br />

ontem no sutra é bastante importante. Estar livre de agressões e desejar beneficiar o<br />

paciente são as coisas mais importantes, e isto precisa ser transmiti<strong>do</strong> e estar sempre<br />

presente.<br />

Pergunta: Rinpoche, eu g<strong>os</strong>taria de confirmar se eu entendi bem que o Rinpoche aceita<br />

que compartilhem<strong>os</strong> as gravações desta semana e o texto <strong>da</strong> <strong>prática</strong> que usam<strong>os</strong> com <strong>os</strong><br />

outr<strong>os</strong> e que aqueles com quem compartilharem<strong>os</strong> não precisam tomar refúgio agora.<br />

Isto está correto? Porque há várias pessoas me esperan<strong>do</strong> em Portland [Estad<strong>os</strong><br />

Unid<strong>os</strong>] e eu queria estar correto.<br />

Rinpoche: Sim.<br />

Pergunta: Obriga<strong>do</strong>.<br />

Pergunta: Talvez eu esteja pedin<strong>do</strong> que o Rinpoche se repita, mas acho que preciso<br />

realmente ouvir de novo. A primeira questão é sobre a fé e a devoção. Quan<strong>do</strong><br />

suplicam<strong>os</strong> intensamente, eu g<strong>os</strong>taria de entender melhor o que é que estam<strong>os</strong><br />

fazen<strong>do</strong>. Em que devem<strong>os</strong> ter fé e em que devem<strong>os</strong> ter devoção? É ter fé em que a<br />

<strong>prática</strong> irá de fato funcionar ou que a divin<strong>da</strong>de realmente existe, ou é uma<br />

combinação d<strong>os</strong> <strong>do</strong>is?<br />

Rinpoche: É uma combinação d<strong>os</strong> <strong>do</strong>is. O ponto é que a fé e a devoção levam à<br />

realização <strong>do</strong> que quer que você esteja almejan<strong>do</strong>. Se você tem fé, você alcançará o que<br />

143


quer que seja, mas se você não tiver fé, você não conseguirá. É simplesmente assim que<br />

as coisas funcionam. Se você tem fé, então você faz. Você fará corretamente e, por<br />

assim fazer, a coisa funcionará. Você alcançará o resulta<strong>do</strong>. E, se você não tem tanta fé<br />

assim, você fará sem muito comprometimento, ou até sem comprometimento algum, e<br />

então você não conseguirá o resulta<strong>do</strong>. Então, ter fé, em ver<strong>da</strong>de, quer dizer,<br />

fun<strong>da</strong>mentalmente, confiar e acreditar no processo. Com relação à <strong>prática</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>, significa, em primeiro lugar e acima de tu<strong>do</strong>, que ela irá funcionar. Confiar<br />

no processo automaticamente ensejará <strong>–</strong> e, portanto, produzirá <strong>–</strong> fé e devoção nas<br />

divin<strong>da</strong>des envolvi<strong>da</strong>s, no lama que ensinou a <strong>prática</strong>, e assim por diante.<br />

Pergunta: E a devoção tem a ver com o reconhecimento <strong>da</strong>s quali<strong>da</strong>des superiores <strong>do</strong><br />

que quer que seja a que você seja devota<strong>do</strong>?<br />

Rinpoche: Em tibetano, a palavra que se traduz por devoção é comumente expressa<strong>da</strong><br />

em inglês por duas palavras com significad<strong>os</strong> diferentes. A primeira palavra quer dizer<br />

entusiasmo e, claro, entusiasmo quer dizer simplesmente estar muito interessa<strong>do</strong> em<br />

algo. Porém, esse tipo específico de entusiasmo, como indica<strong>do</strong> pela segun<strong>da</strong> palavra,<br />

que literalmente quer dizer respeito, toma por base, como você indicou, o<br />

reconhecimento <strong>da</strong>s extraordinárias quali<strong>da</strong>des de alguém ou de algo.<br />

Pergunta: O senhor poderia falar um pouco sobre a relação entre purificação e bênção.<br />

Rinpoche: Estes <strong>do</strong>is <strong>–</strong> purificação e bênção <strong>–</strong> são diferentes. Não são exatamente <strong>os</strong><br />

mesm<strong>os</strong>. Purificação quer dizer que <strong>os</strong> obscureciment<strong>os</strong> <strong>–</strong> o obscurecimento cognitivo,<br />

que é ignorância, e <strong>os</strong> obscureciment<strong>os</strong> aflitiv<strong>os</strong>, que são as aflições mentais e <strong>os</strong><br />

obscureciment<strong>os</strong> kármic<strong>os</strong> ou o karma negativo que você acumula <strong>–</strong> são gradualmente<br />

purificad<strong>os</strong>, ou seja, removid<strong>os</strong> de você. Receber bênçã<strong>os</strong> quer dizer que, pelas suas<br />

súplicas a<strong>os</strong> bu<strong>da</strong>s e ao Dharma, você recebe suas bênçã<strong>os</strong>. Por exemplo, quan<strong>do</strong> você<br />

suplica ao Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, pelo poder de sua súplica combina<strong>da</strong> com o poder <strong>da</strong>s<br />

<strong>do</strong>ze aspirações <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, algo acontece, o que é chama<strong>do</strong> de bênção. Por<br />

outro la<strong>do</strong>, ain<strong>da</strong> que purificação e bênção sejam distintas, uma pode causar a outra. A<br />

remoção d<strong>os</strong> obscureciment<strong>os</strong> permite que você receba as bênçã<strong>os</strong> de mo<strong>do</strong> mais<br />

desimpedi<strong>do</strong>, e recebê‐las leva à remoção d<strong>os</strong> obstácul<strong>os</strong>.<br />

Pergunta: Muito obriga<strong>do</strong> Rinpoche.<br />

Pergunta: Eu tenho duas perguntas e um desafio. Mas o senhor poderá escapar <strong>do</strong><br />

desafio, a depender de como responderá à primeira questão. A primeira pergunta é: o<br />

senhor poderia explicar a diferença entre n<strong>os</strong>sa Natureza de Bu<strong>da</strong> e um Bu<strong>da</strong> em<br />

particular, com relação às noções de onisciência e de inseparabili<strong>da</strong>de <strong>do</strong> samsara e <strong>do</strong><br />

nirvana?<br />

Tradutor: A pergunta é se ele poderia explicar a diferença entre n<strong>os</strong>sa natureza de<br />

Bu<strong>da</strong> e um Bu<strong>da</strong>, ou seja, alguém que atingiu o Esta<strong>do</strong> de Bu<strong>da</strong>, particularmente com<br />

relação à questão <strong>da</strong> onisciência e <strong>da</strong> inseparabili<strong>da</strong>de <strong>do</strong> samsara e <strong>do</strong> nirvana? Esta é<br />

a pergunta ou o desafio?<br />

Pergunta: Esta é a pergunta. De fato, há um complemento a ela. Como alguém pode<br />

atingir o Despertar sem consciência? Acho que estão liga<strong>da</strong>s, estas duas.<br />

Tradutor: Por consciência, o que você quer dizer?<br />

Pergunta: O agrega<strong>do</strong> impuro <strong>do</strong> qual ele falou mais ce<strong>do</strong>.<br />

144


Rinpoche: A Natureza de Bu<strong>da</strong> presente na n<strong>os</strong>sa natureza como a base <strong>do</strong> ser é como<br />

um pássaro em seu ovo, que ain<strong>da</strong> não emergiu dele. Um Bu<strong>da</strong> é como esse pássaro já<br />

voan<strong>do</strong> pel<strong>os</strong> céus, ten<strong>do</strong> quebra<strong>do</strong> a casca <strong>do</strong> ovo. Tod<strong>os</strong> e ca<strong>da</strong> um de nós têm o<br />

potencial inato que se manifesta como as quali<strong>da</strong>des <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de Bu<strong>da</strong>. Mas esse<br />

potencial, que é n<strong>os</strong>sa essência, está escondi<strong>do</strong> por n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> obscureciment<strong>os</strong> e, portanto,<br />

enquanto estiver escondi<strong>do</strong>, chamamo‐lo de semente. Usam<strong>os</strong> o termo Bu<strong>da</strong> para se<br />

referir a alguém cuja essência anteriormente escondi<strong>da</strong> se revelou. Então, basicamente<br />

há duas situações: um ser cuja natureza básica ain<strong>da</strong> está escondi<strong>da</strong> e um ser cuja<br />

natureza básica se revelou. Quan<strong>do</strong> esta natureza básica está escondi<strong>da</strong>, nós a<br />

chamam<strong>os</strong> de potencial, grão ou semente, a essência, ou Natureza de Bu<strong>da</strong>. E quan<strong>do</strong> a<br />

natureza básica está revela<strong>da</strong>, chamam<strong>os</strong> a esse ser de Bu<strong>da</strong>.<br />

Pergunta: O senhor não respondeu a questão sobre como se pode se realizar sem<br />

consciência.<br />

Tradutor: Oh, sim, desculpe‐me.<br />

Rinpoche: Não se perde consciência quan<strong>do</strong> alguém se torna um bu<strong>da</strong>. Você<br />

transforma a consciência. A função <strong>da</strong> consciência é transforma<strong>da</strong> em sabe<strong>do</strong>ria. Em<br />

n<strong>os</strong>so esta<strong>do</strong> atual, a consciência funciona casualmente ou de mo<strong>do</strong> imperfeito. Por<br />

vezes, n<strong>os</strong>sa consciência é tão intensa que chega a ser irresistível e, por outras, é tão<br />

obscura e embaça<strong>da</strong> que não funciona bem.<br />

Pergunta: Esta é rápi<strong>da</strong>. Um mara tem a habili<strong>da</strong>de de convencer uma pessoa de que<br />

ela é um Bu<strong>da</strong> realiza<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> de fato não é, ou que ela seja o detentor de uma<br />

linhagem ou um bodhisattva quan<strong>do</strong> ela não o é? E, em caso p<strong>os</strong>itivo, como a pessoa<br />

pode se proteger contra essa ilusão, <strong>da</strong><strong>do</strong> que ser um Bu<strong>da</strong> realiza<strong>do</strong>, ou detentor de<br />

linhagem ou bodhisattva é o que a pessoa deseja?<br />

Rinpoche: Parece que é p<strong>os</strong>sível.<br />

Pergunta: Bem, então como n<strong>os</strong> protegem<strong>os</strong> disso?<br />

Rinpoche: Basicamente, preservan<strong>do</strong> a boa motivação e cultivan<strong>do</strong> muito amor e<br />

compaixão.<br />

Pergunta: Vou deixar meu desafio para outra hora porque há várias pessoas na fila.<br />

Pergunta: Agradeço ao Rinpoche e também ao lama por sua tradução. Minha pergunta<br />

diz respeito à sangha. A maioria de nós não vê problemas em tomar refúgio no Bu<strong>da</strong> e<br />

no Dharma, mas quan<strong>do</strong> chega o momento de tomarm<strong>os</strong> refúgio na sangha, viram<strong>os</strong><br />

n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> olh<strong>os</strong> e <strong>da</strong>m<strong>os</strong> risadinhas nerv<strong>os</strong>as. Por to<strong>da</strong> esta semana, estivem<strong>os</strong> junt<strong>os</strong><br />

como uma sangha, tod<strong>os</strong> trabalhan<strong>do</strong> e cooperan<strong>do</strong> junt<strong>os</strong> mas, quan<strong>do</strong> deixarm<strong>os</strong> este<br />

lugar, voltarem<strong>os</strong> às n<strong>os</strong>sas ci<strong>da</strong>des e a n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> diferentes grup<strong>os</strong> e n<strong>os</strong> envolverem<strong>os</strong><br />

em situações nas n<strong>os</strong>sas diferentes escolas <strong>–</strong> Nyingma, Kagyü, Geluk, Sakya, e outras <strong>–</strong><br />

e com muit<strong>os</strong> professores diferentes, muit<strong>os</strong> diferentes mod<strong>os</strong> de se fazer as coisas. E o<br />

que eu tenho visto em Seattle [Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong>] é um grupo que pensa que seu jeito é o<br />

melhor, um professor por aqui disse que teve um passa<strong>do</strong> obscuro, outro professor não<br />

ensina de jeito nenhum em tibetano <strong>–</strong> com várias diferenças, e mesmo dentro de<br />

grup<strong>os</strong> particulares, ca<strong>da</strong> um com seus inúmer<strong>os</strong> conceit<strong>os</strong>. Bem, esta pessoa tomou<br />

refúgio, então é <strong>da</strong> sangha, mesmo que não pratique muito; esta outra pratica o tempo<br />

145


to<strong>do</strong>, mas não tomou refúgio; outra, ain<strong>da</strong>, pratica muito, mas não vai ao centro. Então,<br />

há várias idéias sobre o que é uma sangha e como se comportar como membro de um<br />

sangha, e eu g<strong>os</strong>taria que o Rinpoche falasse sobre o que é um sangha, o que é um<br />

praticante e qual seria a visão e o comportamento corret<strong>os</strong> em relação a eles.<br />

Rinpoche: N<strong>os</strong>sa atitude com relação à sangha é, por definição, indica<strong>do</strong> na toma<strong>da</strong> de<br />

refúgio na sangha. Tomar refúgio na sangha é aceitá‐la ou à comuni<strong>da</strong>de como<br />

companheir<strong>os</strong> de caminho. Então, a visão básica que você deve ter de outr<strong>os</strong><br />

praticantes é que eles são companheir<strong>os</strong> de viagem no mesmo caminho. Sen<strong>do</strong> este o<br />

caso, você não tem de examinar particularmente e alguém é como você ou como outro<br />

alguém que você considere um membro de boa fé <strong>da</strong> sangha. Você não deve se<br />

preocupar sobre quais critéri<strong>os</strong> para fazer esta avaliação. Não importa se alguém seja<br />

de uma certa linhagem ou não, se sua abor<strong>da</strong>gem <strong>da</strong> <strong>prática</strong> é exatamente igual à sua<br />

ou não, se tomou refúgio ou não. Eles estão no mesmo caminho, tentan<strong>do</strong> alcançar o<br />

mesmo objetivo. A função fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> sangha é <strong>–</strong> estan<strong>do</strong> tod<strong>os</strong> no mesmo<br />

caminho e perseguin<strong>do</strong> o mesmo objetivo <strong>–</strong> encorajar uns a<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> a praticar o<br />

Dharma, fazer que o outro continue envolvi<strong>do</strong> e engaja<strong>do</strong> no Dharma e na <strong>prática</strong>, ao<br />

invés de levar a pessoa ca<strong>da</strong> vez mais longe <strong>do</strong> caminho.<br />

Pergunta: A esse respeito, Rinpoche, deve‐se esperar que a sangha aumente, ao invés<br />

de se tornar ca<strong>da</strong> vez mais estreita?<br />

Tradutor: Você quer dizer, enquanto comuni<strong>da</strong>de?<br />

Pergunta: Sim.<br />

Rinpoche: Bem, é bom que seja assim, porque quanto maior o número, maior é o<br />

momentum <strong>da</strong> <strong>prática</strong> <strong>da</strong>quela sangha específica. E, quanto maior o momentum, mais<br />

coragem e mais envolvimento as pessoas terão.<br />

Pergunta: Obriga<strong>do</strong>, Rinpoche. Minha pergunta é sobre o cui<strong>da</strong><strong>do</strong> com pessoas que são<br />

<strong>do</strong>entes terminais, pessoas que estejam morren<strong>do</strong> de causas como câncer, e o alívio de<br />

sua <strong>do</strong>r. Eu ouvi dizer que é melhor não aliviar muito a <strong>do</strong>r porque ela é a fruição <strong>do</strong><br />

karma, que, se você não passar por isso agora, você o sofrerá mais tarde, na próxima<br />

vi<strong>da</strong>, ou seja, lá quan<strong>do</strong>, o que não me parece a visão mais compassiva <strong>do</strong> assunto,<br />

particularmente se a pessoa que está morren<strong>do</strong> com <strong>do</strong>r não for um praticante <strong>do</strong><br />

Dharma. O senhor poderia falar sobre isso, por favor?<br />

Rinpoche: É p<strong>os</strong>sível que a agonia de um moribun<strong>do</strong> seja o resulta<strong>do</strong> de seu karma<br />

anterior, mas <strong>da</strong>r‐lhe um remédio que reduza sua <strong>do</strong>r não irá remover o karma em<br />

funcionamento. Afeta a intensi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>do</strong>r, mas o karma continua ain<strong>da</strong><br />

amadurecen<strong>do</strong>. Logo, ao aliviar a <strong>do</strong>r de uma pessoa que está morren<strong>do</strong>, você não a<br />

estará condenan<strong>do</strong> a um destino ain<strong>da</strong> pior no futuro. Então, definitivamente, deve‐se<br />

<strong>da</strong>r‐lhe um alívio para a <strong>do</strong>r.<br />

Pergunta: Obriga<strong>do</strong>.<br />

Pergunta: O senhor falou bastante sobre as percepções puras e impuras. Estou ten<strong>do</strong><br />

dificul<strong>da</strong>des para entender ou para conceber o que deve ser algo que seja puro à<br />

percepção. É brilhante, lumin<strong>os</strong>o? E, de outro la<strong>do</strong>, o que é a percepção impura?<br />

Rinpoche: Tem mais a ver com a mente que está perceben<strong>do</strong> <strong>do</strong> que com as<br />

características físicas <strong>do</strong> que é percebi<strong>do</strong>. Um exemplo simples para isso é que, se a<br />

146


mesma pessoa olhar para o mesmo objeto em <strong>do</strong>is estad<strong>os</strong> emocionais diferentes, o<br />

objeto será visto de maneira diferente. O efeito <strong>do</strong> que ela vê é muito diferente. Por<br />

exemplo, se a pessoa olhar para um objeto enquanto estiver com raiva, sentin<strong>do</strong>‐se<br />

malici<strong>os</strong>a e mesquinha, ela o perceberá como algo irritante ou desagradável e, se a<br />

mesma pessoa olhar para o mesmo objeto enquanto seu esta<strong>do</strong> emocional é de amor e<br />

compaixão, o que é algo bem p<strong>os</strong>itivo, a pessoa perceberá o mesmo objeto como sen<strong>do</strong><br />

de boa natureza ou quali<strong>da</strong>de. Isso é o que basicamente se quer dizer sobre percepções<br />

ou aparências impuras e percepções ou aparências puras, mas a diferença entre esses<br />

<strong>do</strong>is estad<strong>os</strong> <strong>–</strong> a mesma pessoa em <strong>do</strong>is estad<strong>os</strong> emocionais <strong>–</strong> é muito sutil. Enquanto<br />

esse é o princípio em que opera, pode‐se ir ain<strong>da</strong> muito além disso. Se você pode<br />

imaginar uma mente que é pura, completamente livre de qualquer tipo de<br />

negativi<strong>da</strong>de, o que essa pessoa experienciar é o que chamam<strong>os</strong> de aparências puras,<br />

ver<strong>da</strong>deiras. E uma mente que é repleta de negativi<strong>da</strong>de de to<strong>do</strong> o tipo experiencia as<br />

aparências impuras.<br />

Pergunta: Obriga<strong>do</strong> por seus ensinament<strong>os</strong>, Rinpoche. Eu tenho algumas pessoas.<br />

Estou pensan<strong>do</strong>, no nível sutil <strong>da</strong> mente julga<strong>do</strong>ra, quan<strong>do</strong> uma pessoa se torna<br />

consciente d<strong>os</strong> julgament<strong>os</strong> que estão surgin<strong>do</strong> <strong>–</strong> não quan<strong>do</strong> a pessoa está brava, mas<br />

quan<strong>do</strong> as tendências de julgar surgem <strong>–</strong> como a pessoa pode trabalhar com um<br />

antí<strong>do</strong>to quan<strong>do</strong> isso se apresentar?<br />

Rinpoche: Você está se referin<strong>do</strong> à meditação ou ao pós‐meditação?<br />

Pergunta: <strong>Ao</strong> pós‐meditação, quan<strong>do</strong> em interação com outras pessoas ou mesmo<br />

quan<strong>do</strong> se observa a vi<strong>da</strong> cotidiana.<br />

Rinpoche: O primeiro passo é reconhecer esta tendência. Se você tiver o hábito de<br />

reconhecer estas espécies de pensament<strong>os</strong> julga<strong>do</strong>res como o que eles são, então o<br />

hábito de reconhecê‐l<strong>os</strong> e desejar não investir neles aumentarão, e eles acabarão por<br />

ocorrer ca<strong>da</strong> vez men<strong>os</strong> freqüentemente.<br />

Pergunta: Mas como isso realmente acontece?<br />

Rinpoche: Se você não está interessa<strong>do</strong> em <strong>cultivar</strong> estes pensament<strong>os</strong> e aplicar a<br />

consciência e a mente alerta, automaticamente eles acontecerão ca<strong>da</strong> vez men<strong>os</strong> e<br />

desaparecerão.<br />

Pergunta: O senhor mencionou <strong>os</strong> <strong>do</strong>is principais bodhisattvas <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, o<br />

Lumin<strong>os</strong>o como o Sol e o Lumin<strong>os</strong>o como a Lua. Eu g<strong>os</strong>taria de saber se o senhor<br />

poderia falar um pouco mais sobre isso.<br />

Rinpoche: Penso que sejam outr<strong>os</strong> nomes para Manjushri e Chagdrul. Lumin<strong>os</strong>o como<br />

o Sol seria Manjushri e Lumin<strong>os</strong>o como a Lua seria Chagdrul.<br />

Pergunta: O senhor falou um pouco sobre espírit<strong>os</strong> e não querer enraivecê‐l<strong>os</strong> ou<br />

ofendê‐l<strong>os</strong>. Estou passan<strong>do</strong> a ter mais fé no Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> e tenho certeza de que<br />

sua <strong>prática</strong> é ótima, mas penso se o senhor poderia esclarecer para aqueles que<br />

trabalham com curas que envolvem a p<strong>os</strong>sessão de espírit<strong>os</strong>, e o que fazer ou em que<br />

focar após estas seções?<br />

147


Tradutor: Você quer dizer, se a pessoa que você está tentan<strong>do</strong> curar está p<strong>os</strong>suí<strong>da</strong> por<br />

um espírito ou se você, enquanto a cura, é ataca<strong>do</strong> por um espírito?<br />

Pergunta: Bem, talvez amb<strong>os</strong>. Você está trabalhan<strong>do</strong> com uma pessoa e o espírito é<br />

desp<strong>os</strong>suí<strong>do</strong> e reclama o corpo de volta. Geralmente, o que eu tenho experimenta<strong>do</strong> é<br />

permanecer forte e com clareza, mas por vezes pode haver fatiga ou outras coisas<br />

podem acontecer depois. Então, acho que ambas as situações.<br />

Rinpoche: O mais importante nesta situação é que o praticante tenha compaixão não<br />

apenas pela pessoa p<strong>os</strong>suí<strong>da</strong>, mas também pelo espírito p<strong>os</strong>sui<strong>do</strong>r. Claro,<br />

normalmente tem<strong>os</strong> compaixão pelo p<strong>os</strong>suí<strong>do</strong>, mas talvez não tenham<strong>os</strong> pelo espírito<br />

p<strong>os</strong>sessor. O p<strong>os</strong>suí<strong>do</strong> merece n<strong>os</strong>sa compaixão porque está sofren<strong>do</strong>. Mas o espírito<br />

p<strong>os</strong>sessor <strong>–</strong> igualmente ou talvez até mais <strong>–</strong> merece n<strong>os</strong>sa compaixão, porque o que ele<br />

está fazen<strong>do</strong> causará grande sofrimento no futuro. Se você tem uma atitude de<br />

compaixão pelo espírito, isso facilitará sua desconexão, e não deixará este g<strong>os</strong>to<br />

ins<strong>os</strong>so, e o mais, que porventura se seguirá.<br />

148


O Sutra <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong><br />

De alguma forma, n<strong>os</strong>sa natureza búdica despertou<br />

e som<strong>os</strong> muito afortunad<strong>os</strong><br />

Continuação d<strong>os</strong> ensinament<strong>os</strong> <strong>do</strong> muito venerável Khenchen Thrangu Rinpoche sobre o Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Medicina</strong>.<br />

Tod<strong>os</strong> vocês, certamente, são extremamente atarefad<strong>os</strong>, mas, apesar<br />

disso, decidiram vir aqui e, por isso, eu <strong>os</strong> agradeço. Além disso, ao vir aqui,<br />

vocês praticaram e ouviram <strong>os</strong> ensinament<strong>os</strong> com grande diligência e atenção, e<br />

eu <strong>os</strong> agradeço especialmente por isso. Como está em A jóia ornamento <strong>da</strong><br />

liberação, “enquanto tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres senscientes, sem exceção, p<strong>os</strong>suem a<br />

natureza de Bu<strong>da</strong>, essa natureza está escondi<strong>da</strong> por seus obscureciment<strong>os</strong>”,<br />

como na analogia que fiz ontem, sobre o pássaro dentro <strong>do</strong> ovo. Há maneiras<br />

diferentes em que a Natureza de Bu<strong>da</strong> pode estar presente em uma pessoa.<br />

Enquanto está igualmente presente, por si, em to<strong>da</strong>s as pessoas, ela pode<br />

emergir ou não. Quan<strong>do</strong> a Natureza de Bu<strong>da</strong> está <strong>do</strong>rmente, quan<strong>do</strong> não há<br />

nenhuma evidência dela na vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> pessoa, essa pessoa não tem nenhuma<br />

oportuni<strong>da</strong>de imediata de se liberar. Por outro la<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> emergem as<br />

quali<strong>da</strong>des de Bu<strong>da</strong>, quan<strong>do</strong> elas despertam, então essas quali<strong>da</strong>des se revelam<br />

e a pessoa pode começar a alcançar a liberação. Agora, no caso de tod<strong>os</strong> vocês, o<br />

fato de terem decidi<strong>do</strong> vir aqui, o fato de terem vin<strong>do</strong> e pratica<strong>do</strong><br />

diligentemente é uma prova evidente <strong>do</strong> despertar ou <strong>da</strong> emergência <strong>da</strong><br />

149


Natureza de Bu<strong>da</strong>, e eu considero evidência de que sua <strong>prática</strong> <strong>do</strong> Dharma<br />

continuará a progredir até que vocês alcancem a liberação. Então, eu agradeço<br />

por vocês terem vin<strong>do</strong> aqui e pratica<strong>do</strong>.<br />

Enquanto estiveram aqui, vocês ouviram e praticaram especificamente o<br />

Dharma liga<strong>do</strong> ao Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> que, no longo prazo, se tornará a causa de<br />

sua completa liberação e, no curto prazo, a causa de bem‐estar físico e mental.<br />

Então, vocês são extremamente afortunad<strong>os</strong>, porque esta <strong>prática</strong> é<br />

extremamente benéfica. Agora que irão continuar com suas vi<strong>da</strong>s e tentarão<br />

integrar a <strong>prática</strong> em seu cotidiano, por vezes encontrarão oportuni<strong>da</strong>des<br />

praticamente perfeitas. Ela se encaixará bem em sua vi<strong>da</strong> sem contradição ou<br />

problema, e não haverá impedimento ou obstáculo que interfira em sua <strong>prática</strong>.<br />

Outras vezes, sentirão que haverá inúmer<strong>os</strong> obstácul<strong>os</strong> impedin<strong>do</strong> ou<br />

obstruin<strong>do</strong> sua <strong>prática</strong>, contratemp<strong>os</strong> e coisas <strong>do</strong> tipo, e poderá chegar o ponto<br />

em que vocês sentirão que não têm nenhuma oportuni<strong>da</strong>de para praticar, pelo<br />

men<strong>os</strong> não o tanto quanto g<strong>os</strong>tariam. Em tais situações, não se desencoraje. Não<br />

pensem: “tenho obstácul<strong>os</strong>, tenho problemas reais, nunca serei capaz de fazer a<br />

<strong>prática</strong>. Não importa o que eu faça, as coisas sempre <strong>da</strong>rão erra<strong>do</strong>”, e coisas <strong>do</strong><br />

gênero. Não se permitam se deprimir por conta de obstruções temporárias à sua<br />

<strong>prática</strong> e sempre se lembrem que, simplesmente encontrar o Dharma, ouvi‐lo, é<br />

algo extremamente afortuna<strong>do</strong>, extremamente benéfico em si mesmo. Qualquer<br />

contato que tiver feito e qualquer <strong>prática</strong> que tiver realiza<strong>do</strong> nunca se perderão.<br />

Seus benefíci<strong>os</strong> nunca poderão ser destruíd<strong>os</strong> ou removid<strong>os</strong> e <strong>os</strong> levarão, mais<br />

ce<strong>do</strong> ou mais tarde, à completa liberação.<br />

Diz‐se em A Jóia ornamento <strong>da</strong> liberação que, em um d<strong>os</strong> sutras, o Bu<strong>da</strong><br />

discute sobre <strong>os</strong> benefíci<strong>os</strong> de ter uma fé não muito completa. Bem, por óbvio<br />

existem as pessoas que têm uma fé intensa, completa e inquestionável nas três<br />

jóias e especialmente no Dharma, o que é maravilh<strong>os</strong>o. Mas há pessoas que têm<br />

men<strong>os</strong> fé no Dharma, ou têm alguma fé mas também têm muitas dúvi<strong>da</strong>s e<br />

questionament<strong>os</strong>. A imagem que o Bu<strong>da</strong> usa para descrever esta situação é que,<br />

se alguém tem fé completa, elas juntarão as duas mã<strong>os</strong> na altura <strong>do</strong> coração, em<br />

um gesto de extrema devoção e confiança. Mas se alguém tem men<strong>os</strong> fé, pode<br />

por apenas uma mão em frente ao peito. Então, o que o Bu<strong>da</strong> está descreven<strong>do</strong><br />

é uma situação em que a pessoa tem o que podem<strong>os</strong> chamar de “meia fé”. Ela<br />

têm fé mas também tem muita dúvi<strong>da</strong>. E o Bu<strong>da</strong> coloca a questão: “Haverá<br />

algum benefício, haverá algum resulta<strong>do</strong> em se colocar uma mão no gesto de<br />

meia fé ou meia devoção?” E a resp<strong>os</strong>ta é: “Sim, definitivamente haverá grande<br />

resulta<strong>do</strong>; haverá grande benefício, e ele nunca se perderá.” <strong>Ao</strong> final, ele levará<br />

a pessoa ao perfeito Despertar. Então, desse mo<strong>do</strong>, o Bu<strong>da</strong> elogia a atitude de fé<br />

mesmo que a considerem<strong>os</strong> incompleta.<br />

Uma segun<strong>da</strong> analogia que o Bu<strong>da</strong> oferece começa com a imaginação de<br />

um lugar de <strong>prática</strong> como este. Inicialmente, para chegar aqui, a pessoa gera a<br />

intenção de fazê‐lo. Então, ela pode pensar: “Eu preciso ir a tal lugar e praticar<br />

intensamente.” Obviamente, se ela de fato chegar e praticar, terá grande<br />

benefício; mas imagine alguém que, ten<strong>do</strong> decidi<strong>do</strong>: “Vou praticar”, dá alguns<br />

150


pass<strong>os</strong> e, logo após estes pouc<strong>os</strong> pass<strong>os</strong> no caminho, acontece uma situação que<br />

evita que ela chegue lá e pratique. E o Bu<strong>da</strong> pergunta: “Nesta situação, haverá<br />

resulta<strong>do</strong>?” E a resp<strong>os</strong>ta é sim, haverá tremen<strong>do</strong> resulta<strong>do</strong>, grande benefício;<br />

mesmo ten<strong>do</strong> <strong>da</strong><strong>do</strong> apenas pouc<strong>os</strong> pass<strong>os</strong> em direção ao lugar de <strong>prática</strong> com a<br />

intenção de praticar, mesmo que nunca se chegue lá e nunca se pratique, ain<strong>da</strong><br />

assim, ao final, isso será causa de perfeita felici<strong>da</strong>de. Então, enquanto vocês<br />

continuam com suas vi<strong>da</strong>s e com o processo que incluiu ouvir e praticar o<br />

Dharma, às vezes vocês sentirão que estão livres de impediment<strong>os</strong> e obstácul<strong>os</strong><br />

que interferem em sua <strong>prática</strong>, e outras vezes vocês vão achar que as coisas<br />

atrapalham suas <strong>prática</strong>. Mas quan<strong>do</strong> isto acontecer, não se desencorajem;<br />

lembrem‐se que tu<strong>do</strong> é sempre benéfico, e não uma situação anormal que às<br />

vezes há liber<strong>da</strong>de para a <strong>prática</strong> e, outras vezes, não. Nunca pensem mal de<br />

vocês mesm<strong>os</strong> por experienciarem impediment<strong>os</strong>.<br />

Este é o mo<strong>do</strong> como está explica<strong>do</strong> n<strong>os</strong> ensinament<strong>os</strong> <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong>, como<br />

cita<strong>do</strong> e exp<strong>os</strong>to pelo senhor Gampopa. E, se simplesmente pensarm<strong>os</strong> sobre<br />

isto, poderem<strong>os</strong> chegar à mesma conclusão. Se consideram<strong>os</strong> as aparências, este<br />

mun<strong>do</strong> como o experienciam<strong>os</strong>, normalmente experimentam<strong>os</strong> as coisas como<br />

sen<strong>do</strong> lumin<strong>os</strong>as, colori<strong>da</strong>s, poder<strong>os</strong>as e distraí<strong>da</strong>s, até mesmo sedutoras.<br />

N<strong>os</strong>sas mentes são facilmente empurra<strong>da</strong>s para tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> lad<strong>os</strong>, engana<strong>da</strong>s e<br />

seduzi<strong>da</strong>s. N<strong>os</strong>sas mentes são ingênuas. Especialmente porque tem<strong>os</strong> muit<strong>os</strong><br />

pensament<strong>os</strong> sobre n<strong>os</strong>sas experiências. Pensam<strong>os</strong> que as coisas vão<br />

permanecer as mesmas. Pensam<strong>os</strong> que elas são estáveis, e assim por diante. E<br />

usualmente n<strong>os</strong> enganam<strong>os</strong> com tod<strong>os</strong> esses pensament<strong>os</strong> basead<strong>os</strong> nas<br />

aparências. Mas, de alguma forma, tod<strong>os</strong> geram<strong>os</strong> a idéia, o pensamento, de<br />

que o Dharma e, especificamente, vir aqui e participar deste retiro, valeria a<br />

pena, que seria importante o suficiente para tomar lugar em n<strong>os</strong>sas vi<strong>da</strong>s. A<br />

maioria d<strong>os</strong> seres não pensa assim. Muit<strong>os</strong> deles não pensariam em vir aqui. A<br />

razão pela qual o fizem<strong>os</strong> é que, de alguma maneira, n<strong>os</strong>sa Natureza de Bu<strong>da</strong><br />

despertou ao men<strong>os</strong> um pouco, e as bênçã<strong>os</strong> d<strong>os</strong> Bu<strong>da</strong>s e d<strong>os</strong> bodhisattvas, de<br />

alguma forma, caíram sobre nós e n<strong>os</strong> afetaram. Então, mesmo que obstácul<strong>os</strong><br />

surjam de temp<strong>os</strong> em temp<strong>os</strong>, eles não são tão importantes quanto parecem.<br />

Eles são, em último caso, temporári<strong>os</strong> e sem importância. O processo que<br />

começou com o despertar <strong>da</strong> Natureza de Bu<strong>da</strong> e as escolhas que fizem<strong>os</strong> não<br />

pára. Por fim, ele levará à n<strong>os</strong>sa liberação. Logo, som<strong>os</strong>, de fato, muito<br />

afortunad<strong>os</strong>. Quan<strong>do</strong> você pode, quan<strong>do</strong> você tem as condições necessárias ou<br />

<strong>os</strong> recurs<strong>os</strong> para fazê‐lo, definitivamente, pratique. E quan<strong>do</strong> você não puder,<br />

quan<strong>do</strong> as coisas começarem a atrapalhar o caminho <strong>da</strong> <strong>prática</strong> e torná‐la<br />

imp<strong>os</strong>sível, não se sinta mal, e reconheça o quão afortuna<strong>do</strong> você é.<br />

151


152


As <strong>do</strong>ze grandes aspirações <strong>do</strong> Bu<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong><br />

Extraí<strong>do</strong> <strong>do</strong> sutra Mahayana:<br />

Os vast<strong>os</strong> atribut<strong>os</strong> <strong>da</strong>s preces de aspiração anteriores <strong>do</strong> Nobre Vitori<strong>os</strong>o,<br />

a Divin<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, a Luz Lápis‐lazúli.<br />

A primeira grande aspiração:<br />

“Em um tempo futuro, quan<strong>do</strong> eu tiver atingi<strong>do</strong> a insuperável, última e<br />

completamente perfeita iluminação, ten<strong>do</strong> alcança<strong>do</strong> o completo Despertar, que<br />

a luz <strong>do</strong> meu corpo faça brilhantes, estáveis e especialmente radiantes <strong>os</strong> rein<strong>os</strong><br />

deste universo, que são inumeráveis, imensuráveis, e além de qualquer conta.<br />

Que tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres senscientes sejam a<strong>do</strong>rnad<strong>os</strong> com as trinta e duas marcas e<br />

as oitenta características <strong>do</strong> grande e nobre ser. Assim, que tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres<br />

senscientes se tornem justo como eu sou.” Assim ele orou.<br />

A segun<strong>da</strong> grande aspiração:<br />

“Em um tempo futuro, quan<strong>do</strong> eu tiver atingi<strong>do</strong> a insuperável, última e<br />

completamente perfeita iluminação, ten<strong>do</strong> alcança<strong>do</strong> o completo Despertar, que<br />

meu corpo se pareça com o lápis‐lazúli, e seja plenamente a<strong>do</strong>rna<strong>do</strong> com<br />

extrema pureza, por dentro e por fora, uma clari<strong>da</strong>de radiante livre de qualquer<br />

mácula, uma grande agili<strong>da</strong>de em to<strong>da</strong>s as coisas, glória flamejante e brilho,<br />

simetria física, uma filigrana de rai<strong>os</strong> de luz mais brilhantes que o sol e a lua.<br />

Para <strong>os</strong> que nascerem neste mun<strong>do</strong> e para <strong>os</strong> que seguiram separa<strong>da</strong>mente para<br />

153


a sombra <strong>da</strong> noite, que minha luz p<strong>os</strong>sa vir de to<strong>da</strong>s as direções trazen<strong>do</strong><br />

felici<strong>da</strong>de e contentamento. Que ela também p<strong>os</strong>sa trazer ativi<strong>da</strong>de virtu<strong>os</strong>a.”<br />

Assim ele orou.<br />

A terceira grande aspiração:<br />

“Em um tempo futuro, quan<strong>do</strong> eu tiver atingi<strong>do</strong> a insuperável, última e<br />

completamente perfeita iluminação, ten<strong>do</strong> alcança<strong>do</strong> o completo Despertar,<br />

pela minha sabe<strong>do</strong>ria e minha incomensurável capaci<strong>da</strong>de, que <strong>os</strong> incontáveis<br />

rein<strong>os</strong> d<strong>os</strong> seres senscientes gozem de riquezas inexauríveis. Que ninguém seja<br />

priva<strong>do</strong> de na<strong>da</strong>.” Assim ele orou.<br />

A quarta grande aspiração:<br />

“Em um tempo futuro, quan<strong>do</strong> eu tiver atingi<strong>do</strong> a insuperável, última e<br />

completamente perfeita iluminação, ten<strong>do</strong> alcança<strong>do</strong> o completo Despertar, eu<br />

colocarei no caminho <strong>do</strong> Despertar qualquer ser sensciente que tenha entra<strong>do</strong><br />

no caminho negativo. Tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> que tiverem i<strong>do</strong> para o caminho d<strong>os</strong> shravakas<br />

ou d<strong>os</strong> pratyekabuddhas, eu levarei para o caminho Mahayana.” Assim ele<br />

orou.<br />

A quinta grande aspiração:<br />

“Em um tempo futuro, quan<strong>do</strong> eu tiver atingi<strong>do</strong> a insuperável, última e<br />

completamente perfeita iluminação, ten<strong>do</strong> alcança<strong>do</strong> o completo Despertar, que<br />

<strong>os</strong> seres senscientes a minha volta p<strong>os</strong>sam manter o celibato 57 . Da mesma forma,<br />

pelo meu poder, que outr<strong>os</strong> incontáveis seres, ten<strong>do</strong> ouvi<strong>do</strong> meu nome,<br />

mantenham seus três vot<strong>os</strong> e que sua disciplina não se deteriore. Que aqueles<br />

cuja disciplina se corrompeu não entrem n<strong>os</strong> rein<strong>os</strong> inferiores.” Assim ele orou.<br />

A sexta grande aspiração:<br />

“Em um tempo futuro, quan<strong>do</strong> eu tiver atingi<strong>do</strong> a insuperável, última e<br />

completamente perfeita iluminação, ten<strong>do</strong> alcança<strong>do</strong> o completo Despertar, que<br />

qualquer ser sensciente com corpo inferior, facul<strong>da</strong>des incompletas, cor<br />

57 Nota <strong>do</strong> editor: a idéia de rezar para renascer em um reino em que tod<strong>os</strong> são celibatári<strong>os</strong> é contrária a<br />

muit<strong>os</strong> ocidentais, de fato, para a maioria <strong>da</strong>s pessoas, mas as pessoas ficarão felizes em saber que o<br />

celibato não figura como um traço necessário em grande parte d<strong>os</strong> rein<strong>os</strong> d<strong>os</strong> deuses tântric<strong>os</strong>. Mas a<br />

oportuni<strong>da</strong>de de renascer em um reino em que o celibato seja a norma é importante para aqueles cuja<br />

obsessão pelo sexo é tão grande que sempre <strong>os</strong> envolve em perpétuo conflito emocional e mental e em<br />

degeneração social. Viver e praticar nestes ambientes segur<strong>os</strong> <strong>da</strong>r‐lhes‐á a muito necessária chance de<br />

quebrar este ciclo de degeneração emocional, física e social. Ademais, para <strong>os</strong> indivídu<strong>os</strong> que não têm<br />

outro objetivo na vi<strong>da</strong> a não ser atingir a liberação e o esta<strong>do</strong> de bu<strong>da</strong>, <strong>os</strong> vot<strong>os</strong> pratimoksha de um monge<br />

ou monja, incluin<strong>do</strong> <strong>os</strong> vot<strong>os</strong> de celibato, são a melhor <strong>–</strong> apesar de não serem <strong>os</strong> únic<strong>os</strong> <strong>–</strong> fun<strong>da</strong>ção para o<br />

caminho até que a pessoa tenha alcança<strong>do</strong> pelo men<strong>os</strong> o primeiro bhumi de bodhisattva (um compromisso<br />

com a vi<strong>da</strong> moral que inclua a fideli<strong>da</strong>de sexual é considera<strong>da</strong>, também, uma boa fun<strong>da</strong>ção ). Sob<br />

circunstâncias ordinárias, assassinato, roubo, mentira, conjunções carnais, uso de tóxic<strong>os</strong>, etc., crescem a<br />

partir d<strong>os</strong> kleshas <strong>da</strong> paixão, agressão e ignorância que, por sua vez, baseiam‐se no apego dualista, que se<br />

busca combater por meio <strong>da</strong> <strong>prática</strong>. Assim, essas ações reforçam <strong>os</strong> kleshas e a confusão na mente <strong>da</strong>s<br />

pessoas. Além disso, a conjunção carnal geralmente leva à família, o que reduz drasticamente a<br />

quanti<strong>da</strong>de de tempo e energia que a pessoa teria para se devotar à meditação formal, que é a espinha<br />

<strong>do</strong>rsal <strong>do</strong> caminho. Sob tais circunstâncias, é mais difícil, se não imp<strong>os</strong>sível, que <strong>os</strong> iniciantes no caminho<br />

desenvolvam a profun<strong>da</strong> visão <strong>do</strong> insight vipashyana <strong>–</strong> a visão <strong>da</strong> vacui<strong>da</strong>de <strong>–</strong> que é o caminho para a<br />

liberação e para o esta<strong>do</strong> de bu<strong>da</strong>.<br />

154


considera<strong>da</strong> desagradável, sofre<strong>do</strong>r de <strong>do</strong>enças virulentas e epidêmicas,<br />

membr<strong>os</strong> desiguais, corcun<strong>da</strong>, pele mancha<strong>da</strong>, que to<strong>do</strong> ser que seja débil, cego,<br />

sur<strong>do</strong>, insano, atingi<strong>do</strong> por <strong>do</strong>enças, ao ouvir meu nome, que to<strong>da</strong>s as suas<br />

facul<strong>da</strong>des sejam restaura<strong>da</strong>s e seus membr<strong>os</strong> se tornem perfeit<strong>os</strong>.” Assim ele<br />

orou.<br />

A sétima grande aspiração:<br />

“Em um tempo futuro, quan<strong>do</strong> eu tiver atingi<strong>do</strong> a insuperável, última e<br />

completamente perfeita iluminação, ten<strong>do</strong> alcança<strong>do</strong> o completo Despertar, que<br />

qualquer ser sensciente, cujo corpo é ataca<strong>do</strong> por <strong>do</strong>enças e males, que não<br />

tenha refúgio nem protetor, nem bens materiais nem remédi<strong>os</strong>, nenhum parente<br />

ou família, que seja pobre e esteja sofren<strong>do</strong>, ao ouvir meu nome chegar a seus<br />

ouvid<strong>os</strong>, que tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seus males sejam pacificad<strong>os</strong>. Até o Despertar, que ele<br />

seja livre de <strong>do</strong>enças e que permaneça seguro.” Assim ele orou.<br />

A oitava grande aspiração:<br />

“Em um tempo futuro, quan<strong>do</strong> eu tiver atingi<strong>do</strong> a insuperável, última e<br />

completamente perfeita iluminação, ten<strong>do</strong> alcança<strong>do</strong> o completo Despertar, se<br />

alguém for atingi<strong>do</strong> pelas falhas de um renascimento negativo, despreza<strong>do</strong> por<br />

ter assim nasci<strong>do</strong>, e que deseje se libertar <strong>da</strong>quele lugar de nascença, que ele<br />

seja libera<strong>do</strong> de ter esse nascimento negativo novamente. Até que ele atinja o<br />

Despertar último, que ele sempre tenha renasciment<strong>os</strong> p<strong>os</strong>itiv<strong>os</strong>.” Assim ele<br />

orou.<br />

A nona grande aspiração:<br />

“Em um tempo futuro, quan<strong>do</strong> eu tiver atingi<strong>do</strong> a insuperável, última e<br />

completamente perfeita iluminação, ten<strong>do</strong> alcança<strong>do</strong> o completo Despertar, eu<br />

liberarei tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres senscientes <strong>do</strong> nó de Mara. Eu estabelecerei na visão<br />

correta tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> que estejam em desarmonia por seus diferentes pont<strong>os</strong> de vista<br />

e problemas conflitu<strong>os</strong><strong>os</strong>. <strong>Ao</strong> final, eu <strong>os</strong> ensinarei a <strong>prática</strong> d<strong>os</strong> bodhisattvas.”<br />

Assim ele orou.<br />

A décima grande aspiração:<br />

“Em um tempo futuro, quan<strong>do</strong> eu tiver atingi<strong>do</strong> a insuperável, última e<br />

completamente perfeita iluminação, ten<strong>do</strong> alcança<strong>do</strong> o completo Despertar, que<br />

o poder de meu mérito p<strong>os</strong>sa liberar completamente <strong>os</strong> seres de to<strong>do</strong> o mal: <strong>os</strong><br />

que são aterrorizad<strong>os</strong> pelo me<strong>do</strong> a um governante, <strong>os</strong> que estão pres<strong>os</strong> e são<br />

massacrad<strong>os</strong>, <strong>os</strong> que caíram em armadilhas, <strong>os</strong> que foram sentenciad<strong>os</strong> à morte,<br />

<strong>os</strong> que estão sob <strong>os</strong> calcanhares <strong>do</strong> engano, <strong>os</strong> que não têm sucesso e aqueles<br />

cuj<strong>os</strong> corpo, palavra e mente são afligid<strong>os</strong> por sofrimento.” Assim ele orou.<br />

A décima primeira grande aspiração:<br />

“Em um tempo futuro, quan<strong>do</strong> eu tiver atingi<strong>do</strong> a insuperável, última e<br />

completamente perfeita iluminação, ten<strong>do</strong> alcança<strong>do</strong> o completo Despertar,<br />

para aqueles que queimam de fome e de sede, que cometem ações negativas em<br />

seus contínu<strong>os</strong> esforç<strong>os</strong> para obter comi<strong>da</strong>, que eu p<strong>os</strong>sa satisfazê‐l<strong>os</strong><br />

155


fisicamente com comi<strong>da</strong> de cor, o<strong>do</strong>r e g<strong>os</strong>to agradáveis. Que, mais tarde, eu <strong>os</strong><br />

p<strong>os</strong>sa levar ao extasiante sabor <strong>do</strong> Dharma.” Assim ele orou.<br />

A décima segun<strong>da</strong> grande aspiração:<br />

“Em um tempo futuro, quan<strong>do</strong> eu tiver atingi<strong>do</strong> a insuperável, última e<br />

completamente perfeita iluminação, ten<strong>do</strong> alcança<strong>do</strong> o completo Despertar,<br />

para aqueles que experimentam sofriment<strong>os</strong> dia e noite, nus, sem roupas que<br />

vestir, pobres e miseráveis, sofren<strong>do</strong> com frio ou calor extrem<strong>os</strong>, afligid<strong>os</strong> por<br />

m<strong>os</strong>cas e vermes, eu lhes <strong>da</strong>rei gener<strong>os</strong>amente tu<strong>do</strong> o que apreciarem, como<br />

roupas tingi<strong>da</strong>s de muitas cores. Eu saciarei tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seus desej<strong>os</strong> <strong>da</strong> forma<br />

como <strong>os</strong> desejarem com uma varie<strong>da</strong>de de preci<strong>os</strong><strong>os</strong> ornament<strong>os</strong> e decorações,<br />

colares, incenso, ungüent<strong>os</strong>, sons musicais, instrument<strong>os</strong> musicais e címbal<strong>os</strong>.”<br />

Assim ele orou.<br />

Manjushri, estas são as <strong>do</strong>ze aspirações feitas pelo Vitori<strong>os</strong>o, o Tathagata,<br />

o Arhant, o Perfeito Bu<strong>da</strong>, a Luz Lápis‐lazúli <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, quan<strong>do</strong> ele estava<br />

pratican<strong>do</strong> a conduta <strong>do</strong> bodhisattva.<br />

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“Se a visão que você tiver <strong>da</strong>s coisas for basicamente correta, então ela será<br />

uma forte causa para sua liberação. E, ao causar sua liberação, será uma causa<br />

indireta <strong>da</strong> liberação d<strong>os</strong> outr<strong>os</strong>. Em suma, a visão correta de como as coisas<br />

são produz to<strong>do</strong> tipo de felici<strong>da</strong>de. Por outro la<strong>do</strong>, se sua visão for<br />

suficientemente incorreta e tornar, de fato, perverti<strong>do</strong> e desorienta<strong>do</strong> o uso <strong>da</strong><br />

sua inteligência, então ela obstruirá o caminho <strong>da</strong> sua liberação e, dessa<br />

forma, evitará que você libere <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> e o tornará um obstáculo à<br />

felici<strong>da</strong>de.”<br />

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