PENSANDO A RELAÇÃO TEORIA E PRÁTICA NA ... - CCE
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Neste estudo, aos conhecimentos acadêmicos e pessoais é atribuída a mesma<br />
importância, já que o conhecimento produzido pelo professor é igualmente visto como<br />
teoria. Tal teoria fundamenta-se nas exigências da prática, nas experiências vividas pelo<br />
professor, e carrega consigo, ainda que inconscientemente, aspectos do conhecimento<br />
acadêmico.<br />
Este posicionamento nos levou à proposta de formação docente desenvolvida<br />
com as participantes deste estudo. Ao mesmo tempo em que promovemos momentos de<br />
reflexão colaborativa e discussão sobre a prática, valorizamos também a discussão de<br />
textos que pudessem trazer elementos novos para tais momentos de reflexão.<br />
Apesar do inegável valor do conhecimento que o profissional adquire<br />
diariamente em sua prática, o qual, como vimos em Schön (1983), permite que ele<br />
ultrapasse os limites do conhecimento técnico, a teoria acadêmica desempenha também<br />
um importante papel no processo de formação. Podemos dizer que, no momento em que<br />
a prática torna-se cristalizada por um conjunto de ações que se tornaram rotineiras, a<br />
teoria acadêmica poderá trazer novos elementos para a análise daquela situação.<br />
Vemos este movimento de construção e desconstrução de conhecimento, que se<br />
torna possível com a intervenção do conhecimento acadêmico e sua interação com o<br />
conhecimento pessoal, como parte essencial do processo de desenvolvimento do<br />
professor. Como veremos nos dados que discutiremos a seguir, a leitura de um texto ou<br />
o questionamento de uma colega pode causar no professor uma sensação de desconforto<br />
que há muito havia desaparecido como resultado de uma prática já consolidada.<br />
Acerca do papel da teoria acadêmica, temos um exemplo em nosso sexto<br />
encontro quando as participantes discutiam o texto Reasoning Teaching, de Johnson<br />
(1999) 2 . Este texto trata da complexidade das situações enfrentadas pelo professor, as<br />
quais requerem que este se engaje em um processo reflexivo que lhe permita levar em<br />
consideração aspectos específicos de seu contexto. A autora inicia o texto com um<br />
exemplo de uma conversa típica entre uma professora iniciante e sua orientadora. Nessa<br />
conversa a professora busca solucionar suas dúvidas fazendo perguntas à orientadora.<br />
Esta, por sua vez, responde às perguntas dizendo que depende e imediatamente faz outra<br />
pergunta à professora, de forma que ela possa, por si só, refletir sobre seu contexto e<br />
chegar às respostas de que necessita. A respeito desse texto, seguem alguns comentários<br />
de Eduarda:<br />
[1] [...] Eu achei interessante que ler esse capítulo foi uma forma de eu fazer uma reflexão<br />
mesmo. Por que depende? Por que eu vou fazer isso? Às vezes, “ah eu vou ensinar para os<br />
meus alunos esse e aquele vocabulário”, mas por quê? Por que você está ensinando?<br />
Porque é automático às vezes. (SRT – 6º encontro – dia 17/11/2004)<br />
[2] Eu achei interessante esse texto aqui que ele não avalia o professor, ele não dá teoria.<br />
Nada. Ele tenta fazer com que o professor compreenda o que ele faz. O que é isso? É uma<br />
reflexão. [...] Então, não é aquela coisa que diz é isso ou é aquilo. Ele não te dá a coisa<br />
pronta, ele faz você refletir. Você reflete o tempo inteiro. Tudo depende. E esse<br />
“depende” muitas vezes me incomodou. Não sei se incomodou a vocês também. Mas,<br />
gente, depende? E eu lia de novo. Será que eu entendi? Depende? Isso aqui também<br />
depende? De quê? Mas tudo que eu vou fazer depende? Pára e pensa. Tudo o que você vai<br />
fazer depende. Então foi um texto que eu li e me incomodou. [...] (SRT – 6º encontro –<br />
dia 17/11/2004)<br />
2 JOHNSON, K. E. Reasoning teaching. In: ______. Understanding language teaching: reasoning in action. Boston:<br />
Heinle & Heinle Publishers, 1999, p. 1-13.<br />
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