PENSANDO A RELAÇÃO TEORIA E PRÁTICA NA ... - CCE
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O que pretendemos demonstrar, então, é que o fato de não se tratar de um<br />
conhecimento explícito não o descaracteriza, como muitas vezes se supõe. Trata-se de<br />
um conhecimento construído pelo próprio professor e de domínio particular, todavia<br />
isso não o torna menos importante do que o conhecimento que foi tornado público.<br />
Como encontramos em Tardif (2000, p. 236),<br />
[o] trabalho – como toda práxis – exige, por conseguinte, um sujeito do trabalho, isto é, um<br />
ator que utiliza, mobiliza e produz os saberes de seu trabalho. Não poderia ser diferente<br />
com os professores, os quais realizam um trabalho que não é simples nem previsível, mas<br />
complexo e enormemente influenciado pelas próprias decisões e ações desses atores.<br />
Retomando brevemente o que foi dito, a teoria é vista neste trabalho sob duas<br />
acepções: uma acadêmica, que, além de não ser produzida em completa separação com<br />
a prática, necessita da ação do professor para fazer sentido em seu contexto de atuação;<br />
e uma pessoal, fruto, entre outros aspectos, da própria experiência do professor.<br />
Esperamos assim ter demonstrado a relação que, a nosso ver, impossibilita a separação<br />
entre teoria e prática.<br />
Uma discussão semelhante pode ser encontrada em Tardif (2000), que chama a<br />
atenção para a importância dos saberes que formam a subjetividade do professor. A idéia<br />
de valorização desses saberes se opõe à concepção tradicional que estabelecia o saber<br />
como sendo existente apenas do lado da teoria acadêmica. À prática relegava-se um falso<br />
saber, fruto de crenças e do senso comum. Sendo assim estabelecida a relação, tínhamos o<br />
saber produzido apenas por pesquisadores, o qual por sua vez distanciava-se da prática,<br />
onde deveria ser aplicado.<br />
Ainda segundo Tardif (2000), subjacente a esta concepção está o princípio de<br />
que nas universidades é possível produzir um saber independente de atores e de suas<br />
subjetividades, teorias desvencilhadas de práticas e conhecimentos que não partem de<br />
ações. Ao posicionar-se a respeito dessa concepção, Tardif (2000, p. 235) também<br />
afirma que<br />
a concepção tradicional não é apenas profundamente redutora, ela também é contrária à<br />
realidade. Hoje, sabemos que aquilo que chamamos de “teoria”, de “saber” ou de<br />
“conhecimentos” só existe através de um sistema de práticas e de atores que as produzem e<br />
assumem.<br />
Após essas considerações, além de demonstrar nosso entendimento a respeito da<br />
relação entre teoria e prática, é preciso também discutir o valor atribuído a esses dois<br />
conhecimentos – o acadêmico e o pessoal.<br />
Tradicionalmente, a separação entre teoria e prática promoveu uma valorização do<br />
conhecimento acadêmico, tornado público por meio de livros ou revistas especializadas,<br />
quando comparado ao conhecimento pessoal. Isso gerou uma hierarquia entre pesquisadores e<br />
professores, os primeiros como produtores de conhecimento e os últimos como consumidores<br />
desse saber.<br />
Acerca dessa separação encontramos novamente em Tardif (2000, p. 236) a<br />
seguinte reflexão:<br />
[...] a ilusão tradicional de uma teoria sem prática e de um saber sem subjetividade gera a ilusão<br />
inversa que vem justificá-la: a de uma prática sem teoria e de um sujeito sem saberes. De fato, é<br />
como se o trabalho dos professores fosse permeado por diferentes saberes [...], mas esses saberes<br />
não pudessem nem devessem ser produzidos pelos próprios professores. Compreender por que<br />
isso acontece é uma questão de poder e não de saber [...].<br />
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