PENSANDO A RELAÇÃO TEORIA E PRÁTICA NA ... - CCE
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Primeiramente, se estabelecermos a teoria como conhecimento acadêmico,<br />
temos um saber que não é produzido pelo professor 1 , porém, nem por isso podemos<br />
dizer que ele foi construído em completa separação com a prática. O autor não conhece<br />
a especificidade de cada contexto, é verdade, no entanto quem o produziu possui<br />
conhecimento sobre o fazer docente, ainda que naquele momento não esteja atuando.<br />
Para que alguém produza conhecimento sobre o ensino é necessário que esta<br />
pessoa, se não estiver atuando nesse contexto, tenha um vasto conhecimento desse<br />
processo. Alguém que se dedica ao estudo de um assunto e procura conhecê-lo<br />
profundamente sabe que os livros não são suficientes, é preciso voltar-se para a<br />
realidade do que se pretende compreender. Ainda assim, poderíamos argumentar que tal<br />
estudioso parte do ponto de vista de uma comunidade e, por isso, seus saberes não<br />
seriam relevantes em contextos com realidades variadas.<br />
Se aceitarmos o fato de que apenas o contexto é suficiente para garantir a<br />
relevância de uma teoria, estaremos desprezando o papel do professor que irá interagir<br />
com aquele conhecimento. Por um longo tempo, acreditou-se que os professores<br />
deveriam aplicar à sua prática o conhecimento produzido por estudiosos. Isso causou a<br />
rejeição de algumas propostas e logo se popularizou a tão conhecida idéia: “teoria é uma<br />
coisa, prática é outra”. Hoje, sabemos que o conhecimento não chega pronto até o<br />
professor, e que, ao entrar em contato com uma teoria acadêmica, ele precisa<br />
ressignificá-la de acordo com sua realidade. Será essa interação que poderá tornar a<br />
teoria acadêmica relevante ou não em diferentes contextos.<br />
Seguindo esse pensamento, nenhuma teoria acadêmica chegaria até o professor<br />
pronta para fazer sentido em sua prática. Esta teoria seria de certa forma inacabada,<br />
pois, ao atingir realidades diversas, será a ressignificação de sua proposta, feita pelos<br />
atores daqueles contextos, que lhe atribuirá sentido.<br />
Com os argumentos apresentados, demonstramos nosso ponto de vista sobre<br />
como a teoria acadêmica estaria permeada por aspectos da prática. Vejamos agora os<br />
argumentos para abordar uma prática que também esteja sempre conjugada a uma<br />
teoria.<br />
Ao adotarmos uma definição de prática, afirmamos que esta é a ação que<br />
transforma o conhecimento e a realidade. Temos então uma relação direta entre teoria<br />
(conhecimento) e prática. Além desse conhecimento que a prática do professor irá<br />
transformar, temos o seu conhecimento pessoal que, entre outros fatores, determinará de<br />
que forma tal transformação ocorrerá em um determinado contexto. O que acontece é<br />
que este conhecimento que dá suporte ao fazer do professor nem sempre é aquele<br />
produzido por pesquisadores. O conhecimento mobilizado pelo professor em sua prática<br />
tem raízes em muitos saberes, dentre os quais aquele adquirido pela experiência.<br />
Este conhecimento que advém da experiência e que nem sempre é valorizado<br />
constitui as teorias pessoais dos professores. Segundo Handal e Lauvas (1987, apud<br />
Zeichner e Liston, 1996), tais teorias têm sua origem nas experiências pessoais, no<br />
conhecimento transmitido e nos valores essenciais. Trata-se então de um conhecimento<br />
que fundamenta-se, entre outros aspectos, no conhecimento acadêmico adquirido por<br />
cada professor. Contudo, o professor muitas vezes não está consciente ou consegue<br />
sistematizar este conjunto de saberes que formam suas teorias pessoais, isso faz com<br />
que eles não consigam precisar quais os princípios que embasam a sua prática.<br />
1 O professor também pode se tornar um pesquisador e produzir conhecimento acadêmico. Porém, da forma que<br />
sistematizamos aqui, ao fazer isso, este professor se tornaria também um estudioso. Professores seriam, então,<br />
aqueles que estão, até o momento, dedicando-se apenas à atividade de ensino.<br />
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