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PENSANDO A RELAÇÃO TEORIA E PRÁTICA NA ... - CCE

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contexto em que atua:<br />

[14] Eduarda: Foi num desses encontros que eu comecei a refletir sobre teoria, porque até então<br />

eu era super revoltada com teorias. Não, essas teorias não adiantam nada, ninguém sabe<br />

da realidade. Pega um que está lá na França e outro que está lá não sei onde e quer<br />

arrumar uma teoria pra gente que está aqui no Brasil. [...] Então eu era um pouco<br />

revoltada com esse negócio de teoria. E foi a partir de um texto que nós lemos, eu não me<br />

lembro, que estava falando muito das teorias, se não me engano foi o primeiro texto. Que<br />

até eu falei assim, “não, sou eu que faço a minha própria teoria, eu não sigo ninguém”.<br />

Até que a minha amiga Suzana assustou (risos). Então eu acho que nós sempre estamos<br />

baseados em alguma teoria. E, baseados nessa teoria, nós criamos, até sem saber, a nossa<br />

teoria de acordo com a realidade da nossa sala. Eu não posso falar que eu não criei uma<br />

teoria, se eu for parar e pensar, eu criei um método, eu criei uma teoria. [...] Então eu acho<br />

que nós, inconscientemente, desenvolvemos a nossa própria teoria, mas de acordo com a<br />

realidade da sala. Então, quer dizer, agora eu mesma discordo de quando eu falei “teoria<br />

nenhuma”. Como assim? Eu me baseei em alguém para ensinar esse método. Aí, o<br />

método dele é bom nisso, é bom naquilo? É a partir da realidade da sua turma que você<br />

vai fazendo a sua própria teoria. [...] (SRT – 7º encontro – dia 01/12/2004)<br />

Este relato de Eduarda constitui um momento em que podemos ver a ação da<br />

reflexão colaborativa em nosso estudo. Em nosso sétimo encontro, ela retoma uma<br />

colocação que havia feito no terceiro encontro e demonstra estar mais consciente acerca<br />

de uma possível relação entre teoria e prática. Eduarda expressa inicialmente um<br />

descrédito no papel exercido pelas teorias acadêmicas e, ao explicar sua fala, nos dá<br />

indício de uma compreensão de grande pertinência sobre o papel da teoria no ofício do<br />

professor. Ela revela que a incomodava o fato de pessoas que não tinham conhecimento<br />

do nosso contexto produzirem teorias que deviam ser aplicadas aqui. O sentimento de<br />

Eduarda é muito relevante, pois, como temos visto, o conhecimento só poderá fazer<br />

sentido para um professor se ele for capaz de relacioná-lo com sua prática, de<br />

reconhecer naquela proposta uma possibilidade de melhoria do seu contexto de trabalho.<br />

E, como ela bem coloca, para que tais teorias nos sirvam, precisamos ressignificá-las,<br />

trazê-las para a nossa realidade e não simplesmente aplicá-las.<br />

É importante ressaltar também o momento em que Eduarda afirma que sua<br />

compreensão melhorou a partir de um texto que lemos e discutimos em grupo. Na<br />

primeira discussão, Eduarda negou qualquer base teórica para a sua prática. Neste<br />

encontro, porém, ela retoma essa fala e diz que agora ela mesma discorda do momento<br />

em que disse não utilizar teoria nenhuma. A explicitação desta mudança demorou algum<br />

tempo, cerca de dois meses, permitindo que Eduarda refletisse e reelaborasse suas<br />

concepções. Ela termina reconhecendo que existem, sim, teorias que subjazem à sua<br />

prática; estas, porém, passam por toda a contextualização necessária para que sirvam à<br />

sua realidade e é neste momento que Eduarda cria a sua própria teoria.<br />

Em um estudo realizado por Vieira (2005), a autora pergunta a uma das<br />

participantes por que ela não se utiliza da teoria acadêmica para falar de sua prática, já<br />

que em sua prática podem ser reconhecidos tantos aspectos dessa teoria. A participante<br />

responde que não a reconhece. Aqui, acredito ser possível constatar que Eduarda inicia<br />

este reconhecimento, apesar de ainda não fazer referência a uma teoria específica.<br />

Considerações finais<br />

Após termos apresentado os dados que nos permitiram, juntamente com o<br />

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