PENSANDO A RELAÇÃO TEORIA E PRÁTICA NA ... - CCE
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“ah Eduarda, mas tem uma teoria que você segue mais”. Não, eu não tenho. Eu uso um<br />
método numa sala de 2ª série e na mesma série, em outra sala, eu uso outro método. De<br />
acordo com a realidade da sala. Mas não fui eu que criei. Algumas até pode ter sido<br />
(risos). Eu só não sei. Eu acho que falta estudo mesmo para eu saber mais sobre teoria,<br />
porque é correto o que eu faço? É, porque meus alunos aprendem. Mas é baseado em quê?<br />
Em que teoria? Não sei. O que falta? Eu tenho a prática, mas eu não tenho a minha<br />
reflexão. (SRT – 3º encontro – dia 28/09/2004)<br />
Observamos, então, que Eduarda afirma de forma incisiva que sua prática não<br />
está baseada na teoria de ninguém. Ela mesma cria sua forma de trabalhar com os<br />
alunos, que advém de tudo que ela estudou, aplicado diferentemente, de acordo com<br />
cada contexto. Isso gera a sua própria teoria, mas a participante não a reconhece como<br />
tal. Esta é uma participante que sempre ressalta a importância de levar em consideração<br />
o contexto em que o professor atua. Por fim, suas palavras nos deixam inferir que o que<br />
está faltando realmente é a consciência de sua forma de ação. Ela reconhece que faltou<br />
um pouco de estudo para que ela soubesse um pouco mais de teoria, neste caso de teoria<br />
acadêmica. Reconhece que faz um bom trabalho, mas não consegue precisar em que ele<br />
está embasado. Diz que tem a sua prática, mas que esta não tem sido permeada por<br />
momentos de reflexão.<br />
Contrapondo-se ao posicionamento de Eduarda, Cláudia defende a presença de<br />
uma teoria subjacente a nossa prática:<br />
[11] Olha, eu não concordo. Eu acho que a gente é fruto de uma teoria. Por exemplo, eu<br />
quando estudei era o auge da teoria behaviorista. Então eu fui treinada, embasada sob essa<br />
teoria. Então era tudo muito de você treinar, de você não errar, de você ganhar um elogio<br />
quando acerta, de ter uma recompensa e tal. Por quê? Porque essa era a teoria que estava<br />
no auge. [...] Então, eu acho que a gente é isso mesmo. (SRT – 3º encontro – dia<br />
28/09/2004)<br />
Aqui, Cláudia relata sua experiência como aprendiz de língua dentro de<br />
princípios behavioristas de ensino. Esta foi, em sua opinião, uma experiência positiva,<br />
já que proporcionou sua aprendizagem. Hoje Cláudia possui conhecimento de outras<br />
teorias de ensino, porém, é possível que haja em sua prática influências da maneira que<br />
foi ensinada. Neste momento não aprofundaremos a análise das possíveis teorias de<br />
ensino que embasam a prática desta professora<br />
Suzana então expressa sua opinião com relação ao que foi expresso pelas duas<br />
colegas:<br />
[12] Eu concordo com as duas, ao mesmo tempo que discordo (risos). Bom, de acordo com o<br />
que a Eduarda falou, ela não aplica a teoria de ninguéeem. Ela criiiia a teoria dela (risos).<br />
Muitas vezes a gente nega mesmo a teoria dos outros, a gente faz questão de negar, por<br />
quê? Porque aquilo na minha aplicação não funciona [...] E agora falando da minha amiga<br />
Cláudia, eu concordo e discordo. Concordo que na minha época também era behaviorista,<br />
(é, sou velha, mesmo). De uns anos para cá a coisa tem revolucionado, surgiram novas<br />
teorias e novas formas de aplicar aquilo, a educação mudou. Mas a gente não deixou essa<br />
forma que fomos criados, que fomos educados pra lá. A gente não consegue desvincular<br />
de tudo, porque você foi formada assim. Como diz (cita o nome de um professor de sua<br />
época de universidade), it is in the vein, so you can not deny that. (SRT – 3º encontro –<br />
dia 28/09/2004)<br />
Vemos, então, que Suzana e Cláudia estranham o fato de Eduarda não conseguir<br />
reconhecer uma teoria, neste caso a acadêmica, que embase a sua prática. Segundo o<br />
ponto de vista que adotamos neste estudo, o distanciamento visto por Eduarda entre<br />
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