PENSANDO A RELAÇÃO TEORIA E PRÁTICA NA ... - CCE
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importância da integração entre teoria e prática. Um fator que a participante não<br />
menciona, e que será discutido por Eduarda posteriormente, é a possibilidade de que,<br />
partindo de sua prática e dos conhecimentos que possui, o professor elabore também sua<br />
própria teoria. Ao referir-se à teoria, Cláudia o faz tendo em vista a noção do<br />
conhecimento que é produzido por pesquisadores.<br />
Temos que reconhecer, contudo, que essa relação dialógica entre teoria e<br />
prática não é facilmente estabelecida. Muitas vezes, ansiosos por resolver os<br />
problemas que enfrentam no dia-a-dia, os professores tendem a dar um maior valor às<br />
questões práticas. Uma discussão dessa questão é encontrada em Winkler (2001).<br />
Após ministrar um curso de uma semana para professores de uma zona rural, no sul da<br />
África, a autora se vê envolta em questionamentos sobre o valor da experiência, que é<br />
exatamente o que aqueles professores possuem, e a importância da teoria acadêmica,<br />
que para eles se torna de tão difícil acesso. A autora então questiona-se: “Poderiam<br />
professores com uma vasta experiência, e pouca qualificação, ser considerados<br />
competentes (experts)? E qual o papel do conhecimento formal e teórico no<br />
desenvolvimento da competência do professor (teacher’s expertise)?” (Winkler, 2001,<br />
p. 440).<br />
Como verificou Winkler (2001), a ênfase dada às questões da prática pode<br />
limitar o desenvolvimento dos professores, não permitindo que eles reconheçam a<br />
relevância dos assuntos que não oferecem uma direta aplicabilidade às suas questões<br />
diárias. A autora argumenta em seu artigo que a reflexão sobre a prática não é suficiente<br />
para a formação do professor e que a reflexão sobre a teoria acadêmica é crucial no<br />
desenvolvimento da habilidade do professor:<br />
Diferentemente da reflexão prática, a reflexão teórica não atende à pressão diária da sala de<br />
aula e, por isso, leva em conta uma interação muito mais distanciada e crítica com a<br />
realidade. Perguntas são mais importantes que respostas e, apesar de muitos professores<br />
considerarem inútil ir além do senso comum da prática, é exatamente tal conflito com a<br />
“irrelevância” da teoria que nos oferece uma plataforma externa, de onde é possível<br />
explorar e desafiar as limitações da nossa prática. (Winkler, 2001, p. 447, grifo da autora)<br />
Como ressalta Winkler (2001), por maior que seja a importância que devamos<br />
atribuir à experiência, ela não deve constituir a única forma de desenvolvimento do<br />
professor. O professor precisa ter acesso a outros tipos de conhecimento que são<br />
produzidos fora de sua sala de aula. Retomando as palavras da autora, “a experiência de<br />
ensino não levará, por si só, à competência profissional” (Winkler, 2001, p. 444). Estes<br />
conhecimentos, que revelam outros pontos de vista, possibilitam que o professor tenha<br />
acesso a olhares e perspectivas diferentes, com o auxílio dos quais ele poderá refletir<br />
sobre sua prática.<br />
Em consonância com as palavras de Winkler (2001), podemos acompanhar na<br />
fala da participante Suzana o reconhecimento de que, no processo de formação de<br />
professores, outros elementos são necessários, além da experiência:<br />
[8] Quando está falando aqui, no início desse parágrafo que a Julma citou, sobre a<br />
apprenticeship of observation que ela pode ser a blessing and a curse, eu pensei em duas<br />
palavras, uma para cada adjetivo. Eu acho que pode ser blessing quando ela se torna uma<br />
experiência na qual você pode se basear no início da sua atividade. Mas passa a ser uma<br />
maldição quando você se torna uma pessoa acomodada, que foi o que vocês falaram.<br />
Quando existe a acomodação, eu fui ensinada assim, é assim que eu sou, é assim que vai<br />
ser, aí já acho que as experiências caem por terra porque muitas coisas mudam, o tempo<br />
muda, os alunos mudam, as coisas todas são diferentes e o ensino muda. [...] E se nós,<br />
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