Introdução - Faculdade de História - UFG

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nos dias em que a moléstia grassou com intensidade, os 22 aparelhos Morse e o 27 Bodot apenas trabalharam seis telegraphistas, coadjuvados pelos chefes de trafego, as mensagens atrasaram por 8 dias. (O Goyaz, Cidade de Goiás, 23 de novembro de 1918, n. 1559, p. 03. Gabinete Literário) A epidemia desorganizou completamente o funcionamento dos telégrafos que se constituía como um dos meios de comunicação mais ágil do período, as pessoas já estavam isoladas em casas e ficaram também sem notícias de outras localidades. No momento epidêmico na Cidade de Goiás, a população teve no medo um dos sentimentos mais latentes, mas o medo não se constituía no medo do “outro”, mas no medo do contágio de algum familiar, quem estaria enfermo seria alguém da família, ou um amigo e até mesmo um conhecido. Segundo a memorialista Armênia P. Souza, a sua casa foi uma das primeiras atingidas pela epidemia, “os vizinhos, todos amigos, é que assumiram o cuidado dos enfermos e os trabalhos da casa”. (SOUZA, 1991, p. 07) A ajuda de vizinhos e parentes no tratamento dos enfermos se concretizava pela possibilidade da “conhecibilidade mútua” proposta por Simmel, para o qual a vida fora da Metrópole proporciona à população a se conviver sempre com alguém da família, amigos, vizinhos e conhecidos, onde todos se conhecem. As relações de sociabilidade na capital goiana eram permeadas pela conhecibilidade, ou seja, o enfermo não era um total desconhecido, por isso, as pessoas se ajudavam mutuamente. Alguns moradores mais abastados propunham salvaguardar suas vidas e de suas famílias com o medo do contágio, fugiam logo para suas fazendas ou para as de seus conhecidos, Dona Ângela acolheu feliz o convite da prima e vizinha, Adélia, às suas filhas Leny e Elisa para irem passar um mês em sua chácara. Os colégios estavam fechados; não perderiam aula. Retirar crianças da cidade, naquele tempo, era uma solução muito sensata. (SOUZA, op. cit., p. 06) A prática de se retirar da cidade a caminho de fazendas e chácaras se tornou fato recorrente entre a população abastada da Cidade de Goiás no período epidêmico de 1918/1919. Mas nem mesmo nas fazendas e chácaras essas pessoas estavam a salvo, 22
Ao retomar o caminho da casa, notou algo estranho na estrada que conduzia ao portão do jardim. Viu que era um cortejo, carregando uma pessoa deitada numa rede, costume largamente usado na zona rural de então, onde não havia veículos próprios, nem estradas para eles. Aproximando-se da casa, as pessoas que o compunham foram recebidas na sala e, ao entrar ali, a menina observou que colocavam a rede sobre o sofá e a abriam. Então houve um impacto inesperado: a pessoa da rede estava morta. Naqueles dias de 1918, a gripe espanhola ceifava vidas preciosas, como a daquela senhora que ela vira à tarde, mãe de muitos filhos, que ficaram na orfandade. (SOUZA, op. cit., p. 03) A epidemia de gripe espanhola vitimava nas cidades e nas chácaras, nos estudos sobre epidemias, importa mais dar ênfase aos significados que a doença representou para a sociedade vitimada do que nos apegarmos a dados quantitativos, pois conforme nos expressou Souza na citação acima, a senhora que foi vitimada durante a gripe espanhola é muito mais que um número para as estatísticas, era “mãe de muitos filhos que ficaram na orfandade”. Portanto, esses são os resultados preliminares da dissertação que desenvolvemos sobre a epidemia de gripe espanhola de 1918/1919 em Goiás. REFERÊNCIAS BERTOLLI FILHO, Cláudio. Epidemia e Sociedade: a gripe espanhola no município de São Paulo. SP, 1986, 482p. Dissertação (Mestrado em História Social) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. BERTUCCI, Liane Maria. “Conselhos ao Povo”: Educação contra a Influenza de 1918. Cad. Cedes, Campinas, v. 23, n. 59, p. 103-117, abril 2003 (Disponível em http://www.cedes.unicamp.br) Acesso em 05/09/2009. BORGES, Barsanufo Gomides. O despertar dos dormentes. Estudo sobre a Estrada de Ferro de Goiás e seu papel nas transformações das estruturas regionais: 1909-1922. Goiânia: Cegraf, 1990. KOLATA, Gina Bari. Gripe: a história da pandemia de 1918. Trad., Carlos Humberto Pimentel Duarte da Fosenca. Rio de Janeiro: Record, 2002. 23
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