17.04.2013 Views

Visão Judaica

Visão Judaica

Visão Judaica

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

2<br />

editorial<br />

VISÃO JUDAICA • julho de 2003 • Av • 5763<br />

A falta que fará o Consulado de Israel<br />

Publicação mensal independente da<br />

EMPRESA JORNALÍSTICA VISÃO<br />

JUDAICA LTDA.<br />

Redação, Administração e Publicidade<br />

visaojudaica@visaojudaica.com.br<br />

Curitiba • PR • Brasil<br />

Fone/fax: 55 41 3018-8018<br />

Diretora de Operações<br />

e Marketing<br />

SHEILLA FIGLARZ<br />

Diretor de Redação<br />

SZYJA B. LORBER<br />

Diretora Comercial<br />

HANA KLEINER<br />

Criação e Diagramação<br />

SONIA OLESKOVICZ<br />

Colaboram nesta edição:<br />

Adelaide Sprenger, Antonio Carlos<br />

Coelho, Aristide Brodeschi, Daniela<br />

Kresch, Dalton Catunda Rocha, Edda<br />

Bergmann, Eugen Wilfried Sprenger,<br />

Henrique Kuchnir (Neno), Jane<br />

Bichimacher de Glasman, Kalman<br />

Packouz, Marcos Wasserman, Rav<br />

Berg, Sérgio Feldman, Shmuel Lemle,<br />

Teja Fiedler e Yossi Groisseoign.<br />

Os artigos assinados não representam<br />

necessariamente a opinião do jornal<br />

anunciado encerramento das atividades do<br />

Consulado Geral de Israel em São Paulo,<br />

por determinação do Ministério das Relações<br />

Exteriores israelense, em função de<br />

rigorosos cortes nas despesas governamentais<br />

está causando uma movimentação sem<br />

igual nas lideranças das entidades judaicas brasileiras,<br />

na tentativa de obter a reversão da medida.<br />

Mas preocupa sobremaneira aos judeus de<br />

São Paulo e também os do resto do País a idéia<br />

de ter que conviver sem a presença da representação<br />

diplomática israelense, que os fortalece em<br />

espírito e em corpo no sentimento de amor pela<br />

terra de seus antepassados.<br />

É certo que as dificuldades econômicas advindas<br />

da Intifada nos dois últimos anos comprimiram<br />

as finanças israelenses. E em conseqüência<br />

dos bárbaros e covardes atentados perpetrados por<br />

assassinos tresloucados o turismo reduziu sensivelmente<br />

a entrada de divisas em Israel. Além disso,<br />

o boicote comercial e institucional europeu,<br />

comandado principalmente a partir da Bélgica, resultou<br />

num quadro recessivo da economia de Israel.<br />

Mas se nesse aspecto o panorama atual não<br />

é promissor, a moral dos israelenses está firme e<br />

inquebrantável. E não é o Road Map, que ainda<br />

Nossa capa<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Acendimento<br />

das velas de shabat<br />

em Curitiba<br />

constitui uma séria dúvida ao sonho de paz. É<br />

pela própria natureza da alma do sabra, que mesmo<br />

nos momentos mais difíceis não se deixa abater.<br />

É típico do israelense não esmorecer nunca.<br />

Mas voltemos ao Consulado. Ele tem um papel<br />

preponderante na defesa de Israel, justamente<br />

agora que recrudescem o anti-semitismo<br />

e o anti-sionismo, no Brasil e no mundo. E o faz<br />

isso de uma maneira muito mais direta e precisa<br />

do que qualquer instituição judaica ou judeu<br />

brasileiro, por melhor experiência ou conhecimento<br />

que possuam. Querem um exemplo simples<br />

disso? Recentemente a Veja On-line, que<br />

edita um noticiário eletrônico para milhões de<br />

leitores em todo o Brasil, veiculou material completamente<br />

distorcido sobre Israel e seu primeiro-ministro<br />

Ariel Sharon.<br />

A reação não se fez esperar e veio fulminante<br />

e enérgica, exatamente como deve ser nesses casos.<br />

E a resposta partiu do cônsul de Israel, em<br />

São Paulo, Medad Medina, que escreveu, entre<br />

outras coisas o seguinte: “Causa-me estranheza<br />

um veículo de comunicação de tanta repercussão<br />

no Brasil, como Veja On-line, ter publicado informações<br />

falsas do perfil do primeiro-ministro de<br />

Israel Ariel Sharon” (...) “Sobre os lamentáveis<br />

A capa reproduz o quadro cujo título é “Preparação<br />

para Bar-Mitzvá”, pintado com a técnica<br />

Crayon Conté sobre papel bege, e dimensões<br />

32,5 x 46,5 cm, criação de Aristide Brodeschi<br />

e que pertence a coleção particular da família<br />

Sauerman, Antuérpia - Bélgica.<br />

Aristide Brodeschi nasceu em Bucareste,<br />

Romênia. É Arquiteto e Artista Plástico e vive<br />

em Curitiba desde 1978. Já desenvolveu trabalhos<br />

em várias técnicas, dentre elas pintura, gravura e tapeçaria. Recebeu<br />

premiações por seus trabalhos no Brasil e nos EUA. Suas obras estão espalhadas<br />

por vários países e tem no judaísmo, uma de suas principais fontes de inspiração.<br />

É colaborador das capas do jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong>.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

julho e agosto<br />

DATA HORA<br />

18/7 17h25<br />

25/7 17h28<br />

1º/8 17h32<br />

8/8 17h35<br />

15/8 17h38<br />

22/8 17h41<br />

17 de julho<br />

• Jejum de 17 de Tamuz<br />

26 de julho<br />

• Shabat Mevarechim - Chazak<br />

30 de julho<br />

• Rosh Chodesh (início do mês)<br />

2 de agosto<br />

• Shabat Chazon<br />

6 de agosto<br />

• Véspera de Tishá Be Av<br />

7 de agosto<br />

• Jejum de Tishá Be Av<br />

9 de agosto<br />

• Shabat Nachamu<br />

Datas importantes<br />

acontecimentos nos campos de refugiados Sabra<br />

e Chatila, não houve nenhuma chacina por parte<br />

do exército israelense. Confundir seus soldados<br />

com os membros da Falange libanesa é outra distorção.<br />

O Exército de Defesa de Israel não estava<br />

ciente de que iria acontecer e foram os membros<br />

da Falange os invasores dos campos”.<br />

Sim, o Consulado fará muita falta. É ele quem<br />

divulga e promove a cultura, as artes plásticas,<br />

os espetáculos de música e dança, de teatro e de<br />

cinema de Israel entre os brasileiros. É ele quem<br />

patrocina e assiste a vinda de intelectuais israelenses,<br />

como o historiador Ely Ben Gal, que proferiu<br />

conferências em importantes universidades<br />

brasileiras ajudando a mudar a opinião de professores<br />

e estudantes acerca de Israel. E é o Consulado<br />

que além dos serviços diplomáticos que<br />

presta aos cidadãos israelenses no Brasil e aos<br />

brasileiros que viajam a Israel, constitui parte<br />

fundamental no intercâmbio tecnológico e científico<br />

entre instituições dos dois países. É o consulado<br />

que promove e estimula as missões oficiais<br />

ou privadas que resultam na expansão do<br />

comércio bilateral entre Israel e o Brasil. Do fundo<br />

do coração, esperamos, sinceramente, que o nosso<br />

consulado não seja fechado.<br />

Falecimentos<br />

A Redação<br />

Faleceu no dia 4/7<br />

a querida Fany<br />

Grimberg<br />

Schweidson. Deixa<br />

saudades a muitas<br />

gerações que<br />

conviveram com ela<br />

na Escola, no CIP e<br />

na B’nai B’rith. À<br />

família desejamos<br />

nossos<br />

sentimentos.<br />

Dia 7/7 faleceu<br />

Chaim Ejszis.<br />

Deixou a<br />

comunidade mais<br />

triste, pois com sua<br />

simpatia<br />

contagiante<br />

personificava a<br />

figura do judeu<br />

típico da velha<br />

Europa. Nossos<br />

sentimentos<br />

também para sua<br />

família.


grande dúvida de alguns<br />

amigos meus é se a modernização<br />

do Judaísmo<br />

não levará ao seu desaparecimento.<br />

Acreditam<br />

que para conservá-lo, não<br />

podemos alterá-lo e nem aceitar influências<br />

do meio em que vivemos. O<br />

que seria correto?<br />

O judaísmo sobreviveu por dois<br />

milênios de Diáspora e supõe-se que<br />

exista há três ou quatro mil anos. Alguns<br />

apologistas afirmariam que se<br />

trata de uma capacidade judaica inata;<br />

até mesmo, de uma predestinação<br />

divina que gerou esta superioridade.<br />

Pessoalmente, não creio e nunca acreditei<br />

em superioridade de nenhum<br />

tipo. O último que pregou tais diferenças<br />

entre os seres humanos matou<br />

seis milhões e meio de judeus e muitos<br />

milhões de não judeus, a maioria<br />

vítimas inocentes de um ideal de superioridade.<br />

Acredito, sim, que há inúmeras<br />

razões relativas e nenhuma resposta<br />

absoluta a essa questão. Entre<br />

as diversas razões e opiniões válidas,<br />

gostaria de expor aquela que considero<br />

a mais importante: a capacidade de<br />

se transformar e evoluir nas suas formas,<br />

sem alterar o seu conteúdo global<br />

e nem a sua essência, que seria uma<br />

parte fundamental desse enigma da sobrevivência<br />

do Judaísmo. Em todos os<br />

períodos da História, os judeus foram<br />

defrontados com adversários de todos<br />

os tipos. Alguns violentos<br />

como Haman, Amalek e<br />

Hitler; outros que seduziram<br />

os judeus com os<br />

valores de outras culturas.<br />

É o caso do helenismo,<br />

uma cultura de inegável<br />

valor e de profundos<br />

e avançados saberes.<br />

A tradição judaica<br />

tenta às vezes resumir o<br />

encontro das duas culturas<br />

(judaica e helenista),<br />

na luta dos macabeus,<br />

celebrada na festa de Chanuká, como<br />

sendo a resistência e a vitória do Judaísmo<br />

sobre o Helenismo. Isso é impreciso.<br />

Os macabeus venceram de<br />

maneira parcial e lenta os reis seleucidas<br />

da Síria, helenizados e que tentavam<br />

impor a sua cultura aos seus<br />

súditos judeus. Os reis macabeus (ou<br />

hashmoneus) vencem e expulsam os<br />

seleucidas, mas em poucas décadas<br />

seguem influenciados pela cultura<br />

contra a qual lutaram. Um contato<br />

tenso e repleto de contratempos, mas<br />

que ao final resultou enriquecedor<br />

VISÃO JUDAICA • julho de 2003 • Av • 5763<br />

Intolerância X evolução<br />

Sérgio Feldman *<br />

Baal Shem Tov<br />

para as duas culturas.<br />

O melhor exemplo é o que ocorreu<br />

com os judeus de Alexandria. Os conflitos<br />

entre judeus e egípcios helenizados<br />

foram constantes. Houve até<br />

choques armados e mortes. Em outro<br />

ângulo da questão tivemos Fílon de<br />

Alexandria, filósofo e exegeta judeu.<br />

Conhecia profundamente a Torá e fez<br />

uma tentativa de conciliar as idéias<br />

metafísicas de Platão com a Torá e os<br />

Profetas. Inúmeros sábios judeus e cristãos<br />

farão o mesmo, a partir de Fílon,<br />

no final do Mundo Antigo e por toda a<br />

Idade Média. Haveria lógica e fundamentos<br />

filosóficos na Lei divina?<br />

Essa capacidade de síntese dialética<br />

entre duas tendências opostas,<br />

não foi feita com facilidade. Ocorreram<br />

choques e dificuldades. A intolerância<br />

e a tentativa de destruir o<br />

Judaísmo não provinha só de inimigos<br />

externos: os nossos radicais e<br />

intolerantes exerciam uma força centrífuga<br />

que objetivava que o judaísmo<br />

não sofresse influências do mundo<br />

externo. È irônico a gente ver algumas<br />

pessoas que se declaram judias,<br />

nos dias de hoje, argumentando<br />

sobre a imutabilidade e defendendo<br />

um monolitismo arcaico e retrógado<br />

que é um antijudaísmo.<br />

O radicalismo e a intolerância nunca<br />

nos ajudou e nem fez evoluir. Geralmente<br />

foi prejudicial. O caminho do<br />

diálogo com o mundo não judaico,<br />

através de sínteses que não jogassem<br />

os valores básicos e a essência<br />

judaica, foi o segredo<br />

vital da sobrevivência<br />

judaica.<br />

Um exemplo inicial:<br />

a revolta contra Roma<br />

em 66-70 d.e.C. os romanos<br />

estavam em vias<br />

de destruir Jerusalém e<br />

são auxiliados pelas lutas<br />

fraticidas entre zelotes,<br />

pacifistas, sicários e<br />

outros dissidentes. O já<br />

superado, mas sempre<br />

utilizado Dubnow diz deste episódio:<br />

“em vez de se aliarem todos esses<br />

partidos em uma luta contra o inimigo<br />

comum, travaram um combate violento<br />

entre si mesmos...” (Dubnow<br />

Historia <strong>Judaica</strong>, 1948, p. 232).<br />

O segundo exemplo, encontrei em<br />

1985 durante as celebrações do Ano<br />

Internacional da Unesco. O tema foi<br />

Maimônides, célebre rabino, médico e<br />

filósofo. Um gênio da humanidade e<br />

um judeu militante e respeitado até<br />

hoje. Duas orações do Sidur (livro de<br />

orações) têm sua autoria. O seu saber<br />

era enciclopédico: Talmud, Medicina,<br />

Astrologia e muito mais. Escreveu “Responsas”<br />

(correspondência rabínica)<br />

para inúmeras comunidades judaicas.<br />

Muitos de seus contemporâneos consideravam-no<br />

um herético. Por que? Por<br />

ter feito uma síntese harmoniosa entre<br />

o Judaísmo e a Filosofia<br />

grega (mundo externo!).<br />

Ele seguia a senda de<br />

grandes rabinos como Saadia<br />

Gaon e Fílon. O pior<br />

sobreveio alguns anos após<br />

sua morte, quando estalou<br />

uma violenta crise no sul<br />

da França em virtude da<br />

propagação das idéias de<br />

Maimônides e outros sábios<br />

judeus que eram considerados<br />

“livres pensadores”.<br />

Numa absurda “caça às bruxas”<br />

alguns rabinos tradicionalistas liderados<br />

pelo rabino Salomão de Montpellier,<br />

denunciaram os livros de<br />

Maimônides aos frades dominicanos,<br />

responsáveis pela Inquisição que na<br />

época perseguia os hereges albigenses,<br />

no sul da França. Como a Inquisição<br />

não cuidava de judeus, mas sim<br />

de hereges, os opositores de Maimônides<br />

disseram que ele era um herético<br />

judeu muito perigoso. Afirmaram<br />

que se os dominicanos exterminavam<br />

os hereges cristãos, deveriam exterminar<br />

“também aos nossos, queimando-lhes<br />

os livros daninhos” (Dubnow<br />

Historia <strong>Judaica</strong>, 1948, p. 347). Com<br />

o apoio de tão renomados rabinos,<br />

houve busca, coleta e queima publica<br />

do “Guia dos Perplexos” e do “Livro<br />

da Ciência” em Montpellier em<br />

1232 e mais tarde em Paris. Uma horrenda<br />

aliança entre rabinos e inquisidores<br />

contra as obras do genial Maimônides.<br />

Tudo em nome da intolerância<br />

e da crença que há apenas uma<br />

única verdade: nada mais anti-judaico.<br />

Na analise do autor Hans Borger,<br />

essa queima de livros foi inspiradora<br />

de outra: “Não tardou e, em 1242, já<br />

não era mais Maimônides, mas o próprio<br />

Talmud que era condenado à morte”<br />

(Borger, Uma história do povo<br />

judeu, 1999, p. 400). Sob a ridícula<br />

acusação de blasfêmias contra Cristo,<br />

o Talmud foi julgado e condenado:<br />

grandes fogueiras foram ateadas<br />

em pilhas de livros. Um “remake” será<br />

feito de maneira tão trágica por Hitler.<br />

O modelo e a inspiração foi a<br />

intolerância anti Maimônides.<br />

O terceiro e último caso é a intolerância<br />

dos grandes sábios judeus<br />

com o rabi Israel ben Eliezer, mais<br />

conhecido como Baal Shem Tov, o<br />

Maimônides<br />

fundador do Chassidismo. Um grande<br />

e inspirado rabino, repleto de uma<br />

sensibilidade ímpar e da compreensão<br />

das necessidades de seus irmãos<br />

judeus da Polônia, realizando uma sutil<br />

transformação da vida judaica. O<br />

que eu chamaria de maneira simplista:<br />

uma “popularização e<br />

participação popular” dos<br />

judeus empobrecidos na<br />

cultura e na religião. A<br />

miséria que grassava nas<br />

aldeias judaicas após os<br />

massacres dos cossacos<br />

ocorridos na metade do<br />

séc. XVII (c.1648/1650)<br />

deixara uma amarga herança:<br />

um vazio cultural<br />

com altos índices de analfabetismo<br />

e ignorância.<br />

As massas miseráveis da Europa Oriental<br />

não podiam mais estudar o dia<br />

todos as Escrituras e os comentários<br />

talmúdicos e rabínicos. Baal Shem Tov<br />

propôs uma alternativa real a isto:<br />

os líderes chassídicos, denominados<br />

tsadikim intermediavam entre seus seguidores<br />

e todo este saber, tratando<br />

de fazê-lo acessível às massas empobrecidas<br />

e ignorantes. A música e a<br />

dança ajudavam o fiel na tentativa<br />

de aproximação a D-us; a alegria era<br />

indispensável; as parábolas chassídicas<br />

passavam de maneira simples, os<br />

valores e o saber judaico. Os rabinos<br />

eruditos liderados pelo Gaon de Vilna<br />

ficaram indignados: era uma vulgarização<br />

do Judaísmo, uma heresia,<br />

uma absurda simplificação da cultura<br />

e da religião. Os chassidim foram<br />

perseguidos e anatemizados.<br />

Hoje o que vemos? Muitos defendem<br />

visões monolíticas de uma verdade<br />

única para o Judaísmo e para alguém<br />

ser judeu. Negam posturas mais<br />

modernas para entender e praticar o<br />

Judaísmo. Optam por excluir a mulher<br />

de participação igualitária nos serviços<br />

religiosos; por manter relativa rigidez<br />

de tradições negando a modernidade;<br />

por tentar manter uma espécie<br />

de gueto cultural e isolando o<br />

Judaísmo do mundo. A sobrevivência<br />

do Judaísmo não<br />

se deve à rigidez e ao fa-<br />

natismo, mas sim a capacidade<br />

de seguir<br />

com seus valores e<br />

com sua essência,<br />

mas sabendo modificar<br />

sua forma, adequando-se<br />

às novas<br />

realidades: como Fílon,<br />

Maimônides e Baal Shem<br />

Tov. O debate está aberto.<br />

* Sérgio Feldman é<br />

professor adjunto de<br />

História Antiga do<br />

Curso de História da<br />

Universidade Tuiuti do<br />

Paraná e doutorando<br />

em História<br />

pela UFPR.<br />

3


4<br />

VISÃO JUDAICA • julho de 2003 • Av • 5763<br />

Alunos de escola municipal<br />

aprendem a comer melhor<br />

Pais e alunos de Santa Felicidade envolvidos no trabalho<br />

sobre importância da alimentação e qualidade de vida<br />

As férias de julho não são apenas tempo de brincadeiras<br />

e diversão, mas também o período em que<br />

os pais devem ficar atentos à alimentação correta<br />

das crianças. O alerta foi feito no início deste mês<br />

por alunos da Escola Municipal Santo Inácio, em<br />

Santa Felicidade, durante exposição dos trabalhos<br />

realizados no semestre. O tema foi qualidade de vida,<br />

que teve como foco a alimentação e o caminho para<br />

uma vida saudável.<br />

Pais, professores e alunos participaram de peças<br />

teatrais e apresentações de música e dança. O objetivo,<br />

segundo a pedagoga da escola, Luci Francisca da<br />

Silva, foi conscientizar as famílias sobre a importância<br />

da continuidade do trabalho iniciado na escola.<br />

“As famílias mudam de rotina durante as férias, e a<br />

falta da disciplina escolar e o excesso de brincadeiras<br />

acabam fazendo com que as crianças consumam mais<br />

doces, salgadinhos ou lanches pouco nutritivos. Tentamos<br />

fazer com que pais e filhos aprendessem a montar<br />

cardápios saborosos, mas saudáveis”, disse Luci.<br />

O trabalho envolveu todas as disciplinas. Em sala<br />

de aula, as crianças conheceram formas de aproveitar<br />

corretamente os alimentos. As folhas de beterraba,<br />

por exemplo, serviram como ingrediente de uma omelete.<br />

Depois de discutir a questão em sala, cada aluno<br />

preparou a receita em casa para servir a família.<br />

O prato virou o tema de pesquisa. Com a ajuda<br />

dos computadores do Digitando o Futuro, os resultados<br />

foram transformados em gráficos. “Das 78 pessoas<br />

entrevistadas, 59 aprovaram a nossa receita e<br />

apenas 19 não gostaram do sabor da folha da beterraba”,<br />

disse o aluno Julio Staak, de 10 anos.<br />

Cada professor trabalhou o tema relacionando-o<br />

com a com a sua disciplina. Nas aulas de educação<br />

artística, os alunos fizeram a leitura de obras e imagens<br />

que retratam a alimentação, mostrando aos<br />

alunos como a arte se apropriou do tema e inspirou<br />

artistas consagrados como Van Gogh, Rembrandt e<br />

Paul Klee. Nas aulas de educação física, atividades<br />

corporais e jogos atuaram como apoio na conscientização<br />

da importância do alimento no desenvolvimento<br />

do corpo. Os alunos também assistiram filmes,<br />

desenvolveram coreografias de dança, produziram<br />

textos e gráficos.<br />

“O trabalho realizado pela escola é fundamental<br />

para prevenir e controlar a obesidade infantil, um<br />

problema que está crescendo em todo o mundo. O<br />

período escolar é o momento da formação dos hábitos<br />

da criança”, disse a nutricionista da Secretaria<br />

Municipal da Educação (SME), Sirlei Valaski. Segundo<br />

ela, a família e a escola são prioridade no combate<br />

à obesidade através de atenção à dieta alimentar<br />

equilibrada, incentivo à atividade física diária e<br />

cuidados gerais com a saúde.<br />

A SME está planejando novo curso de alimentação<br />

e nutrição para os professores da rede. Há dois<br />

anos, representantes das escolas municipais participaram<br />

de 20 horas de capacitação que possibilitou<br />

aos professores, o desenvolvimento de ações<br />

relacionadas ao tema.<br />

Transporte coletivo<br />

Pessoas com mais de 65 anos devem<br />

renovar cartão até o fim deste mês<br />

Quase 45 mil idosos<br />

usuários da Rede Integrada<br />

de Transporte (RIT) estão<br />

embarcando nos ônibus com<br />

o cartão-transporte vencido.<br />

A Urbs, empresa que gerencia<br />

a RIT, lembra que as pessoas<br />

com 65 anos ou mais<br />

que tenham feito o seu cartão<br />

entre março e julho do<br />

Idosos devem renovar o cartão<br />

nas Ruas da Cidadania<br />

ano passado devem renovar o documento até o fim deste mês.<br />

Com o cartão-transporte os idosos de Curitiba embarcam nos<br />

ônibus pela porta da frente como todos os passageiros.<br />

“Cerca de 18 mil idosos já renovaram o cartão. É importante<br />

que todos que fizeram o documento há um ano procurem<br />

as Ruas da Cidadania para atualizar os dados”, disse Edson<br />

Berleze, da Urbs. É necessário apenas levar o cartão e o<br />

documento de identidade. Quem trocou de endereço deve<br />

informar a mudança.<br />

A renovação pode ser feita nas Ruas da Cidadania da Matriz,<br />

Boa Vista, Carmo, Pinheirinho e Fazendinha, das 8h30<br />

às 17h. Berleze informou que não é necessário chegar cedo<br />

porque o atendimento é rápido e tranqüilo. O recadastramento<br />

pode ser feito perto de casa e não é preciso ir ao<br />

centro para isso.<br />

Os dados dos usuários do cartão transporte com direito a<br />

gratuidade devem ser confirmados anualmente. A revalidação<br />

é necessária para que o benefício seja garantido exclusivamente<br />

aos que têm direito a ele. Em Curitiba, 98.250 idosos<br />

usam o cartão.<br />

A partir de agosto, quem não tiver recadastrado verá no<br />

validador do ônibus, no momento do embarque, uma mensagem<br />

com o prazo para a renovação e poderá até perder o<br />

direito à gratuidade se o cadastro não for renovado.<br />

Cesar Brustolin/SMCS


VISÃOpanorâmica<br />

Indenizações<br />

• Yossi Groisseoign •<br />

Sobreviventes do Holocausto da<br />

Segunda Guerra Mundial, em 31 países,<br />

receberão US$ 15 milhões em<br />

ajuda, neste ano, de seguradoras alemãs.<br />

Serão dez pagamentos anuais.<br />

dinheiro deverá ser usado para pagar<br />

atendimento médico domiciliar<br />

e outros serviços para os sobreviventes<br />

do Holocausto. Do total distribuído<br />

neste ano, US$ 6 milhões irão<br />

para Israel e US$ 2,4 milhões para<br />

os Estados Unidos.<br />

Ela não foi ao paraíso<br />

A Autoridade Palestina divulgou<br />

que evitou um ataque suicida. No relatório<br />

dizem que uma moça de 18<br />

anos de idade deixou um bilhete de<br />

despedida para sua família dizendo<br />

estar a caminho um ataque suicida<br />

contra israelenses. A família chamou<br />

a polícia palestina que iniciou uma<br />

caçada de várias horas até encontrála<br />

no posto de fronteira de Karni e<br />

prender a moça com o cinturão de explosivos<br />

dela. Pouco depois, a agência<br />

Reuters divulgou uma nota onde<br />

a polícia palestina soltou a coitadinha<br />

que não conseguiu se explodir e<br />

a mandou para casa.<br />

Os “alvos militares”<br />

Horas antes da entrada em vigor<br />

do Road Map, um atentado feriu mortalmente<br />

um motorista que dirigia seu<br />

carro na região de Jerusalém. Nele estava<br />

uma família de judeus norte-americanos<br />

da qual Tzvi Goldstein, 47<br />

anos, morreu e seu pais, idosos, com<br />

73 anos foram gravemente feridos a<br />

bala. Mesmo ferido, Tzvi acelerou e<br />

conseguiu tirar o carro da zona de<br />

matança, salvando a vida de sua esposa<br />

e seus pais. Mas o tiro que tomou<br />

no peito foi fatal e cerca de 8 km<br />

depois Tzvi perdeu o controle do carro<br />

e capotou. Estava a caminho do Holyland<br />

Hotel, onde além da festa do<br />

casamento de seu filho, haveria a festa<br />

de 50 anos de casado de seus pais,<br />

e os 27 anos de seu próprio casamento.<br />

A emboscada covarde ocorreu perto<br />

de Ofra, ao norte de Ramallah. Os<br />

“heróis” da resistência do Hamas assumiram<br />

a autoria e disseram tratarse<br />

de...alvos militares...<br />

Quem apóia o Hamas?<br />

Sabe quem apóia o Hamas? É o<br />

país da Igualdade, Liberdade e Fraternidade.<br />

Isso mesmo: a França. Ela<br />

se posicionou contra a União Européia<br />

quando esta quis colocar o Hamas<br />

na lista dos fora-da-lei e cortar<br />

a ajuda financeira; a França é palco<br />

dos mais violentos incidentes contra<br />

a comunidade judaica desde a década<br />

de 1930 com a perseguição na Alemanha<br />

Nazista. Nos últimos 3 anos,<br />

mais de 1.800 incidentes violentos<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

foram registrados (desde espancamento<br />

e apedrejamento de judeus até<br />

incêndios criminosos de sinagogas<br />

que as queimaram até os alicerces);<br />

o governo francês diz que não existe<br />

anti-semitismo na França; a Meca-<br />

Cola, manobra para financiar indiretamente<br />

os grupos palestinos, ongs<br />

de apoio e anti-americanas, patrocinar<br />

manifestações anti-globalização,<br />

anti-americanas e contra a guerra no<br />

Iraque é produzida na França.<br />

Palestinos anunciam<br />

“cessar-fogo”<br />

A Fatah, organização liderada por<br />

Yasser Arafat anunciou sua adesão ao<br />

Road Map, que também foi declarada<br />

horas antes pelos grupos palestinos<br />

radicais Hamas e Jihad Islâmica. Do<br />

ramo da Fatah, só as Brigadas dos<br />

Mártires da Al-Aksa não aceitaram o<br />

cessar-fogo e executaram um ataque<br />

no mesmo dia em que entrou em vigência,<br />

matando um trabalhador búlgaro.<br />

Além disso, foguetes continuam<br />

sendo disparados e caindo em Israel.<br />

Ainda assim, Israel retirou suas<br />

tropas de Beit Hanun, no norte da<br />

Faixa de Gaza e de Belém, dando novo<br />

impulso ao plano de paz, o chamado<br />

“Mapa da Estrada”. Apesar de saudarem<br />

a trégua anunciada pelos três<br />

movimentos palestinos, os EUA insistiram<br />

que o desmantelamento da infra-estrutura<br />

terrorista continua sendo<br />

necessário. Nas declarações das<br />

três organizações responsáveis pelos<br />

atentados em Israel nenhuma palavra<br />

à eliminação do terrorismo ou<br />

mesmo de reconhecimento de Israel.<br />

Aliah da Índia<br />

(com informações das agências<br />

AP, Reuters, AFP e EFE e<br />

jornal Alef na internet)<br />

Em 3 de junho foi realizada no Muro<br />

das Lamentações uma cerimônia religiosa<br />

especial pela chegada de 50 novos<br />

imigrantes que dizem ser Bnei Menashe,<br />

Filhos de Menashe, uma das 10<br />

tribos perdidas. O grupo veio do Estado<br />

de Mizoram, na Índia. Atualmente a<br />

cerca de cinco mil integrantes deste<br />

grupo vivem como judeus no Nordeste<br />

da Índia. Com essa chegada dos novos<br />

olim (imigrantes) essa comunidade em<br />

Israel sobe para 750 pessoas.<br />

Campeão europeu de judô<br />

Arik Zeevi venceu o campeonato<br />

europeu de judô na categoria de 100<br />

kg, derrotando o campeão holandês<br />

Elco van der Geest em 69 segundos de<br />

luta. A final aconteceu no dia 28 de<br />

maio em Weiseldorf, Alemanha.<br />

Fechamento do consulado<br />

A deputada Célia Leão, presidente<br />

do Comitê de Assuntos Internacionais<br />

da Assembléia Legislativa do<br />

Estado de São Paulo e o vereador paulistano<br />

Gilberto Natalini, do PSDB,<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

autor do projeto de lei estabelecendo<br />

laços de “cidades-irmãs” entre São<br />

Paulo e Tel Aviv, como forma de promover<br />

o intercâmbio no campo da<br />

saúde, da educação e da gestão dos<br />

recursos hídricos, manifestaram-se ao<br />

Ministério das Relações Exteriores de<br />

Israel contra o fechamento do consulado<br />

israelense em São Paulo. Além<br />

disso, dirigentes de entidades judaicas<br />

de todo o Brasil e abaixo-assinados<br />

percorrem as comunidades do País<br />

na tentativa de reverter a decisão do<br />

fechamento do consulado, considerado<br />

importante ponto de apoio pelos<br />

judeus brasileiros.<br />

Sanções à BBC<br />

O governo israelense anunciou ter<br />

cortado contatos com a rede de rádio e<br />

TV britânica BBC por causa do que qualificou<br />

de cobertura comparável à “propaganda<br />

nazista”. A decisão foi tomada<br />

depois que um documentário da<br />

rede, intitulado “A Arma Secreta de Israel”<br />

e transmitido internacionalmente<br />

no fim de semana, acusou o país de<br />

armazenar secretamente armas químicas<br />

e nucleares. Israel considera que o<br />

documentário é o mais recente de uma<br />

série de programas da BBC que questionam<br />

o direito de Israel de existir.<br />

A rede britânica respondeu que<br />

apoiava seu programa e lamentava qualquer<br />

resposta que imponha obstáculos<br />

a seu jornalismo. O Escritório de Imprensa,<br />

a Chancelaria e o escritório do<br />

primeiro-ministro Ariel Sharon não vão<br />

mais autorizar entrevistas exclusivas a<br />

jornalistas da BBC nem lhes oferecer<br />

serviços prestados a outros correspondentes<br />

estrangeiros. A rede britânica,<br />

entretanto, poderá continuar transmitindo<br />

de Israel e acompanhando entrevistas<br />

coletivas do governo.<br />

E agora?<br />

Israel saiu de Gaza e de Belém, deu<br />

autonomia aos palestinos, libertou em<br />

junho 70 presos e mais 300 estão sendo<br />

libertados, exceto terroristas do Hamas<br />

e Jihad Islâmica. Abu Mazen foi<br />

convidado a visitar o Knesset pelo partido<br />

Shinui e, em contrapartida o que<br />

recebeu em troca? Os palestinos falam<br />

em hudna (a mídia traduz como trégua),<br />

a Jihad Islâmica quebra a “trégua”<br />

e realiza atentado em Tel Aviv e<br />

mata uma senhora de 65 anos, Arafat<br />

recebe US$ 30 milhões dos EUA e mais<br />

10 milhões de euros da Europa, Abu<br />

Mazen ameaça renunciar depois de criticado<br />

por Arafat e seu grupo Fatah.<br />

Enquanto não soltarem os terroristas do<br />

Jihad e Hamas a hudna persiste e o Irã<br />

realiza teste de mísseis e diz abertamente<br />

que é para atingir Israel. E agora?<br />

Alguém viu por aí os pacifistas?<br />

Que tal uma manifestação na porta<br />

da casa do Arafat?<br />

Pesquisas<br />

O Instituto de Pesquisas Harry Truman<br />

para o Avanço da Paz, da Universidade<br />

Hebraica de Jerusalém e o<br />

Centro Palestino de Pesquisas para Política<br />

publicaram os resultados de<br />

suas últimas pesquisas de opinião<br />

pública israelense e palestina, mos-<br />

VISÃO JUDAICA • julho de 2003 • Av • 5763<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

trando grande apoio à solução de Dois<br />

Estados para Dois Povos e ao Road<br />

Map. Israelenses e palestinos foram<br />

questionados sobre se haveria um reconhecimento<br />

mútuo: 52% dos palestinos<br />

concordaram e 46% discordaram<br />

da proposta, enquanto 65% dos<br />

israelenses concordaram e 33% discordaram.<br />

Entre os palestinos 56%<br />

querem o fim do incitamento contra<br />

Israel e 36% apóiam a prisão dos que<br />

conduzem ataques contra israelenses;<br />

Entre os israelenses, 65% apóiam a<br />

retirada do exército de Israel para<br />

suas posições anteriores à Intifada e<br />

a transferência da segurança dessas<br />

áreas para a Autoridade Palestina;<br />

54% apóia a reabertura de instituições<br />

palestinas em Jerusalém Oriental<br />

que foram fechadas; e 61% apóiam<br />

o desmantelamento de postos avançados<br />

de assentamentos.<br />

É ou não é?<br />

O ministro da Justiça Márcio Thomaz<br />

Bastos ainda estuda o pedido de<br />

extradição do governo paraguaio para<br />

Assad Ahmad Barakat, apontado por<br />

aquele país como líder do grupo xiita<br />

Hezbollah na Tríplice Fronteira. Libanês<br />

naturalizado paraguaio e residente<br />

em Foz do Iguaçu, Barakat é um embaraço<br />

ao Brasil. Na visita que fez em<br />

junho ao país, o primeiro-ministro do<br />

Líbano, Rafik Hariri, intercedeu por<br />

Barakat. E disse que o Hezbollah não é<br />

uma organização terrorista, mas um<br />

partido político, uma entidade religiosa<br />

e assistencialista. Mas não é a opinião<br />

do Departamento de Estado americano,<br />

que mantém o Hezbollah na lista<br />

das organizações terroristas. Para os<br />

EUA, Barakat é o caso mais concreto<br />

do envolvimento com terrorismo de<br />

membros da comunidade árabe da fronteira<br />

Brasil-Paraguai-Argentina. Barakat<br />

assume ter arrecadado dinheiro<br />

para entidades de assistência aos familiares<br />

de militantes mortos em ações<br />

do Hezbollah. Ou seja, além de partido<br />

político e entidade religiosa, promove<br />

“ações”. Que ações? Terroristas, evidentemente.<br />

As arrecadações teriam somado<br />

milhões de dólares por ano.<br />

Museu judaico<br />

Quando esteve em Curitiba, em junho,<br />

o rabino Simon Moguilevksy convocou<br />

a comunidade e incentivou as<br />

lideranças de Curitiba a preservar as<br />

lembranças das famílias judaicas num<br />

museu, nos moldes do existente em<br />

Buenos Aires. A idéia é que as famílias<br />

doem objetos cerimoniais e peças<br />

como candelabros, chanukiót, baixelas,<br />

toalhas de mesa toalhas que<br />

cobrem chalót trazidas da Europa, livros<br />

antigos, fotografias de época da<br />

família, passaportes etc. O Museu<br />

Judio de Buenos Aires “Dr. Salvador<br />

Kibrick” que pertence á Congregação<br />

Israelita Argentina existe desde 1967<br />

e já tem inclusive um boletim quinzenal<br />

de notícias e funciona com voluntários<br />

sob o lema: “Museu é memória<br />

ou esquecimento — você escolhe”.<br />

Todos os visitantes, desde<br />

escolares, até universitários e pesquisadores<br />

recebem um folheto explicativo<br />

bilíngüe. Resta saber qual a escolha<br />

de Curitiba.<br />

5


6<br />

Sessão do<br />

julgamento do STF<br />

em que Ellwanger<br />

recebeu mais votos<br />

condenando-o por<br />

crime de racismo:<br />

placar de 7 a 1<br />

VISÃO JUDAICA • julho de 2003 • Av • 5763<br />

STF nega habeas corpus a editor condenado por racismo<br />

Após o pedido de vista do ministro<br />

Carlos Ayres de Britto, o Supremo Tribunal<br />

Federal interrompeu novamente,<br />

no dia 26 de junho, o julgamento do<br />

habeas corpus (HC 82424) requerido pela<br />

defesa do editor Siegfried Ellwanger,<br />

condenado pelo crime de racismo. A votação,<br />

porém já tem maioria, com 7 vo-<br />

STF<br />

tos a 1. A maioria dos ministros já se<br />

posicionou sobre o caso e negou o pedido<br />

por entender que a prática de racismo<br />

abrange a discriminação contra<br />

os judeus. O relator do processo, Moreira<br />

Alves — que já se aposentou, deixando<br />

o STF — até o presente momento,<br />

foi o único favorável à concessão da<br />

ordem e declarar prescrito o crime.<br />

Gilmar Mendes, Carlos Velloso, Nelson<br />

Jobim, Ellen Gracie e Antonio Peluso,<br />

que votaram dia 26/6, seguiram<br />

os votos de Maurício Corrêa e Celso de<br />

Mello, que abriram a dissidência, no<br />

sentido de que o crime no caso foi<br />

mesmo de racismo. O delito, portanto,<br />

é imprescritível, conforme prevê o artigo<br />

5º, inciso XLII da Constituição.<br />

Ainda faltam votar os ministros Carlos<br />

Britto, Marco Aurélio e Sepúlveda Pertence.<br />

O ministro Joaquim Barbosa não<br />

tem voto porque é o atual ocupante da<br />

cadeira do relator, Moreira Alves.<br />

Gilmar Mendes<br />

Ao trazer os autos de volta ao Plenário<br />

após o pedido de vista, o ministro<br />

Gilmar Mendes iniciou seu voto abordando<br />

o conceito de racismo. Ele citou<br />

obras de diversos autores que apresentaram<br />

reflexões sobre o racismo e o antisemitismo,<br />

tais como Kevin<br />

Boyle e Norberto Bobbio, e<br />

lembrou que o Brasil é signatário<br />

de tratados internacionais<br />

“que não deixam dúvida<br />

sobre o claro compromisso<br />

no combate ao racismo<br />

em todas as suas formas<br />

de manifestação, inclusive o<br />

anti-semitismo”. Sua interpretação<br />

foi no sentido de<br />

que a Constituição brasileira<br />

compartilha desse sentido,<br />

de que “o racismo configura<br />

conceito histórico e cultural<br />

assente em referências<br />

supostamente raciais, aqui<br />

incluído o anti-semitismo”.<br />

Em seguida, o ministro<br />

Gilmar passou a confrontar as<br />

manifestações de caráter racista com a<br />

direito à liberdade de expressão. “A liberdade<br />

de expressão, em todas as suas<br />

formas, constitui pedra angular do próprio<br />

sistema democrático”, afirmou. Por<br />

outro lado, “a discriminação racial levada<br />

a efeito pelo exercício da liberdade<br />

de expressão compromete um dos pilares<br />

do sistema democrático, a própria<br />

idéia de igualdade. (...) Em tese, é possível<br />

o livro ser instrumento de discriminação,<br />

não parece haver dúvida”.<br />

A partir daí, Gilmar Mendes passou a<br />

analisar a questão sob o ponto de vista<br />

do princípio da proporcionalidade. Ele argumentou<br />

que “a liberdade de expressão<br />

não se afigura absoluta no nosso texto<br />

constitucional”, pois houve ressalvas, por<br />

exemplo quanto à liberdade de informação,<br />

que deveria ser exercida de modo<br />

compatível como o direito à imagem, à<br />

honra e à vida privada (art. 5º, inciso<br />

X). “Da mesma forma, não se pode atri-<br />

buir primazia à liberdade de expressão,<br />

no contexto de uma sociedade pluralista,<br />

em face de valores outros como os da<br />

igualdade e da dignidade humana. Daí<br />

ter o texto constitucional de 1988 erigido,<br />

de forma clara e inequívoca, o racismo<br />

como crime inafiançável e imprescritível<br />

(CF, art. 5º, XLII), além de ter determinado<br />

que a lei estabelecesse outras<br />

formas de repressão às manifestações<br />

discriminatórias (art. 5º, XLI).”<br />

Por fim, o ministro concluiu que a<br />

decisão do Tribunal de Justiça do Rio<br />

Grande do Sul (TJ/RS), de condenar<br />

Siegfried Ellwanger, foi adequada e proporcional<br />

e alcançou o fim almejado, que<br />

é o de “salvaguarda de uma sociedade<br />

pluralista, onde reine a tolerância”. Ele<br />

disse estar evidente, pelo acórdão do<br />

TJ/RS, que os livros publicados pelo<br />

editor não continham simples discriminação,<br />

mas são textos que, de maneira<br />

reiterada, estimulam o ódio e a violência<br />

contra os judeus.<br />

Carlos Velloso<br />

O ministro Carlos Velloso pediu antecipação<br />

de voto e também foi pelo indeferimento<br />

do habeas corpus. Ele fez um<br />

histórico sobre a proteção dos direitos<br />

humanos desde o advento da idéia de<br />

Constituição, surgida a partir da segunda<br />

metade do século XVIII até os dias<br />

atuais e citou parecer do jurista Celso<br />

Lafer ao conceituar o racismo, afirmando<br />

que “ele constitui-se no atribuir aos<br />

seres humanos características raciais para<br />

instaurar a desigualdade e a discriminação.”<br />

Ele entendeu que o anti-semitismo<br />

é uma forma de racismo.<br />

Segundo Velloso, nos livros publicados<br />

por Ellwanger, os judeus são percebidos<br />

como raça, porque há pontos<br />

em que se fala em “inclinação racial e<br />

parasitária dos judeus”, “tendências do<br />

sangue judeu”, “judeus como culpados<br />

e beneficiários da Segunda Guerra”,<br />

entre outras. “Não tenho dúvidas<br />

em afirmar que a conduta do paciente<br />

implica prática de racismo, o que a<br />

Constituição considera crime grave e<br />

imprescritível”, disse.<br />

Velloso também enfocou a matéria<br />

sob o ponto de vista do direito à<br />

liberdade de expressão, argumentando<br />

que embora seja garantia consagrada<br />

pela Constituição, não tem caráter<br />

absoluto. “Se se tem conflito<br />

aparente de direitos fundamentais, a<br />

questão se resolve pela prevalência do<br />

direito que melhor realiza o sistema<br />

de proteção de direitos e garantias<br />

inscritos na Lei Maior,” concluiu.<br />

Nelson Jobim<br />

O ministro Nelson Jobim também antecipou<br />

seu voto e acompanhou o relator,<br />

pelo indeferimento do habeas corpus.<br />

Ele julgou que Siegfried Ellwenger<br />

não editou os livros por motivos históricos,<br />

mas como instrumentos para produzir<br />

o anti-semitismo.<br />

Rejeitou o ministro a linha proposta<br />

pela defesa, segundo a qual, sendo<br />

os judeus um povo e não uma raça,<br />

não estariam amparados pela Constituição<br />

Federal, em relação à imprescritibilidade<br />

do suposto crime de racismo.<br />

Conforme Jobim, a tese “parte<br />

do pressuposto de que a expressão<br />

racismo usada na Constituição teria<br />

conotação e um conceito antropológico<br />

que não existe”, disse.<br />

O ministro considerou a matéria em<br />

julgamento um “caso típico” de fomentação<br />

do racismo. “Vejo nitidamente nas<br />

condutas traduzidas no acórdão e aquilo<br />

que está nos autos a evidente e clara<br />

destinação da prática daquilo que está<br />

coibido na Constituição. A Constituição<br />

meramente determina que a legislação<br />

infraconstitucional não pode tratar esse<br />

tipo de ilícito com as regras da prescrição<br />

(...)”, afirmou.<br />

Ellen Gracie<br />

A ministra iniciou seu voto pela definição<br />

de raça, constante da Enciclopédia<br />

<strong>Judaica</strong>, editada no Brasil pela editora<br />

Tradição, do Rio de Janeiro. O verbete<br />

lido por ela narra que “a concepção<br />

de que a humanidade está dividida em<br />

raças diferentes encontra-se de maneira<br />

vaga e imprecisa na Bíblia, onde, no entanto,<br />

como já acentuavam os rabinos, a<br />

unidade essencial de todas as raças é<br />

sugerida na narrativa da criação e da origem<br />

comum de todos os homens. (...)”.<br />

“É impossível, assim me parece, admitir-se<br />

a argumentação segundo a qual<br />

se não há raças, não é possível o delito<br />

de racismo”, concluiu Ellen Gracie.<br />

Cezar Peluso<br />

O ministro recém-empossado Antonio<br />

Cezar Peluso seguiu a maioria e votou<br />

pela denegação do habeas corpus.<br />

Ele disse concordar com o ministro Nelson<br />

Jobim, para quem a definição de racismo<br />

deve ser pragmática.<br />

“A discriminação é uma perversão<br />

moral, que põe em risco os fundamentos<br />

de uma sociedade livre”, disse Peluso.<br />

O ministro acentuou que, neste<br />

caso, o que lhe chamou atenção foi o<br />

fato de que o mesmo editor se tornou<br />

especialista na publicação dos livros.<br />

“Se ele se propusesse como um editor<br />

de excentricidades eu até consideraria,<br />

com alguma generosidade, este habeas<br />

corpus. Mas ele, na verdade, se especializou<br />

em editar e publicar, como autor,<br />

uma série de livros que instigam a discriminação.<br />

E, portanto, isso tem o significado<br />

óbvio, do meu ponto de vista,<br />

que se trata de uma prática que contraria<br />

a tutela constitucional”.


VISÃO JUDAICA • julho de 2003 • Av • 5763<br />

Entrevista com Celso Lafer O LEITOR<br />

sobre decisão do Supremo ESCREVE<br />

O ex-ministro das Relações Exteriores<br />

do Brasil, Celso Lafer, cujo parecer foi citado<br />

por diversos ministros do STF, entrevistado<br />

logo após o julgamento do dia 26/<br />

6, explicou seu ponto de vista acerca do<br />

resultado sessão.<br />

“Acho o resultado esplendido. O ponto<br />

de partida de tudo foi o voto do ministro<br />

Maurício Corrêa, foi ele que teve a<br />

intuição da importância do caso, pediu<br />

vista em dezembro, quando o ministro<br />

Moreira Alves deu seu voto e concedeu o<br />

habeas corpus solicitado por Elwabger. O<br />

primeiro ponto a realçar é o sentido de<br />

justiça e depois, a qualidade do voto do<br />

ministro Mauricio Correa.<br />

O voto dado também pelo ministro Celso<br />

Mello foi muito importante. E agora nós<br />

tivemos vários votos. O do ministro Gilmar<br />

Mendes representa uma análise e uma construção<br />

jurídica perfeita, seja sobre o crime<br />

da prática de racismo, seja sobre o tema da<br />

interpretação constitucional quando há mais<br />

de um direito que precisa ser preservado, a<br />

dignidade da pessoa humana, foi a opção<br />

que ele com toda a clareza colocou.<br />

Destaco também o voto do ministro<br />

Velloso, que fez referência à toda temática<br />

de direitos humanos e à relação entre<br />

o direito interno e o direito internacional<br />

nessa matéria. O voto do ministro<br />

Jobim foi mais curto, mas foi preciso na<br />

FILME<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

VJ INDICA<br />

DVD - VHS<br />

FOCUS<br />

compreensão do que deve ser a interpretação<br />

constitucional. O voto da ministra Ellen<br />

foi de grande sensibilidade, muito agudo<br />

na percepção daquilo que é um valor<br />

muito importante para a comunidade judaica,<br />

em toda a reflexão que fez sobre o antisemitismo<br />

e o racismo. Creio que o voto do<br />

novo ministro Cezar Peluso, foi um voto no<br />

calor da hora, inclusive sem estudo prévio,<br />

mas motivado por aquilo que é a prática de<br />

racismo feita pelo editor Ellwanger, ou seja<br />

não é a edição de um o livro ou de outro, é<br />

uma organização de livros, inclusive de sua<br />

própria autoria, deliberadamente voltados<br />

para propagação do racismo e do anti-semitismo,<br />

como racismo inequívoco.<br />

Tivemos uma decisão que será um leading<br />

case, em relação ao tema, que transcende à<br />

comunidade judaica, sendo um voto importante<br />

para todos aqueles que são ou podem vir a<br />

ser objeto de discriminação e a mais perversa<br />

delas todas que é a do racismo.<br />

Entendo que a imprescritibilidade foi<br />

deliberada como política de direito pelo<br />

constituinte, com o objetivo de evitar a<br />

reincidência, justamente como se deseja no<br />

Brasil — e a Constituição de 1988 é clara<br />

neste sentido — a construção de uma sociedade<br />

fraterna sem discriminações, impedir<br />

a reincidência através da imprescritibilidade<br />

está de acordo com o espírito e<br />

com a letra da Constituição.<br />

Direção: Neal Slavin<br />

Elenco : William H. Macy, Laura Dern, David Paymer, Meat Loaf, Kay Hawtrey,<br />

Michael Copeman, Kenneth Welsh, Joseph Ziegler<br />

Áudio e legendas: (no DVD) Português, inglês e espanhol<br />

Duração: 107 minutos<br />

Sinopse: Em Nova York, durante a<br />

2ª Guerra, Lawrence Newman e sua<br />

esposa Gertrude têm suas identidades<br />

contestadas pelos vizinhos anti-semitas<br />

do Brooklyn que os consideram judeus.<br />

Excluídos gradativamente do bairro<br />

onde moram e trabalham, eles aprendem<br />

o valor do reconhecimento pessoal<br />

e da solidariedade, enquanto lutam<br />

para manter uma vida digna e encontrar<br />

a tão sonhada felicidade. Um filme<br />

denso, nada piegas, baseado no<br />

romance de Arthur Miller e com interpretação<br />

brilhante de William H. Macy.<br />

O anti-semita Norberto Toedter<br />

Aos Editores:<br />

Acabei de receber <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong>,<br />

este excelente informativo<br />

e gostaria de unir-me com esta<br />

mensagem às opiniões sobre o<br />

destaque que o jornal O Estado<br />

do Paraná deu ao revisionista,<br />

que só contribui para gerar mais<br />

ódio e racismo neste nosso mundo<br />

já tão intolerante.<br />

“A cadela que o pariu está no<br />

cio outra vez“. Esta frase de aparência<br />

chula faz parte de uma das<br />

falas do personagem principal da<br />

famosa peça Arturo Ui, do teatrólogo<br />

Bertold Brecht - uma parábola<br />

do nazismo que faz uma alusão ao<br />

renascimento das idéias de Hitler.<br />

Esta obra foi escrita em 1941<br />

e hoje em pleno ano de 2003 estamos<br />

em trabalho de parto aliados<br />

à inseminação artificial da intolerância<br />

e racismo.<br />

Skinheads matam e torturam no<br />

Brasil e no mundo, sinagogas são<br />

arrombadas e incendiadas; homensbomba<br />

se lançam em pizzarias e<br />

ônibus populares, matando dezenas<br />

de inocentes, nazi-fascistas escrevem<br />

livros negando o Holocausto e<br />

fazendo com que a memória de seis<br />

milhões de pessoas que tiveram<br />

suas vidas ceifadas de forma cruel e<br />

selvagem seja tripudiada<br />

Como se não bastassem as<br />

“obras” do revisionista Ellwanger,<br />

cujo crime de discriminação racial<br />

ainda transita no STF, surge agora<br />

no cenário literário nacional o<br />

paranaense de origem alemã Norberto<br />

Troedter que com suas teses<br />

e estatísticas escreve em seu<br />

livro E a Guerra Continua, - uma<br />

produção independente, pois nenhuma<br />

editora quis bancar esta vil<br />

literatura — que Hitler não passou<br />

de um ingênuo, como ingênuo foi<br />

todo o povo alemão nas questões<br />

políticas e militares. Em outro trecho<br />

do livro Troedter diz que “houve<br />

sim perseguição de Hitler aos<br />

judeus, mas era somente porque<br />

eles ocupavam todo os cargos e<br />

posições estratégicas na Alemanha<br />

e sua intenção era apenas<br />

acabar com esse domínio”. O que<br />

o senhor Norberto não comenta,<br />

entretanto, é que o meio mais eficaz<br />

para fazer isso era exterminando<br />

todos os judeus com a operação<br />

chamada de Solução Final.<br />

E à medida que o tempo nos<br />

distancia do mais macabro episódio<br />

da humanidade, que perdemos<br />

7<br />

nossos sobreviventes-testemunhas<br />

vivas das máquinas de morte do<br />

Terceiro Reich — espaços vão se<br />

abrindo para os que tentam inverter<br />

os papéis das vítimas, negam o<br />

Holocausto e encontram respaldo<br />

na má-fé daqueles que apregoam<br />

a liberdade de expressão. Corremos<br />

o risco de nos tornarmos vilões<br />

de nossas próprias mazelas<br />

Márcia Cherman Sasson<br />

Rio de Janeiro<br />

Um novo leitor<br />

Prezados Senhores,<br />

Sou membro da Sociedade Israelita<br />

Brasileira Beth Jacob, de<br />

Campinas, Estado de São Paulo.<br />

Tendo lido <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong>, gostaria<br />

de pedir-lhes a gentileza de<br />

recebê-la pelo correio.<br />

Sérgio Rosvald Donaire<br />

Campinas, São Paulo<br />

Isac Nudelman<br />

Aos editores do jornal:<br />

Congratulamo-nos com Isac<br />

Nudelman pelos quatro anos de<br />

atuação brilhante e competente à<br />

frente da entidade mantenedora da<br />

Escola Israelita Brasileira Salomão<br />

Guelmann. Fazer trabalho comunitário<br />

não é fácil, exige dedicação,<br />

amor e até sacrifício da vida pessoal<br />

e profissional. Mas ele soube<br />

enfrentar desafios e com coragem<br />

conseguiu elevar o nome e o prestigio<br />

da querida Escola Israelita.<br />

Continue sua trajetória de vida<br />

com muito sucesso e realizações.<br />

Nosso muito obrigado. Kol Hacavod.<br />

Na’Amat Pioneiras<br />

Centro Curitiba<br />

Uma obra que cresce<br />

Prezados amigos:<br />

É uma alegria renovada a cada<br />

edição ver uma colaboração minha<br />

pequena que seja no seu jornal,<br />

que dá prazer de ler, além de<br />

(voltando a afirmar) ver a continuidade<br />

e crescimento de uma obra<br />

que, sem ostentação, congrega<br />

grandes escritores e artigos, lindíssimas<br />

ilustrações, despertando<br />

interesse e admiração de todos a<br />

quem mostro. Mazal Tov!<br />

Jane Bichmacher de Glasman<br />

Professora e escritora<br />

Rio de Janeiro<br />

Para escrever ao jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong> basta<br />

passar um fax pelo telefone 3018-8018 ou um<br />

e-mail para visaojudaica@visaojudaica.com.br


8<br />

VISÃO JUDAICA • julho de 2003 • Av • 5763<br />

17 de Tamuz a 9 de Av:<br />

O pranto que se faz ouvir<br />

As três semanas: 17 de julho a 7 de agosto de 2003<br />

Três semanas inteiras de nosso ano —<br />

as três semanas “entre os apertos” de 17<br />

de Tamuz e 9 de Av — são designadas como<br />

um período de luto pela destruição do<br />

Templo Sagrado e o conseqüente exílio físico<br />

e deslocamento espiritual — no qual<br />

ainda nos encontramos.<br />

17 de Tamuz: Quinta-feira, 17 de julho<br />

Horário de jejum: de 5h47 à 18h02<br />

O jejum de 17 de Tamuz, o dia em que<br />

Moisés quebrou as Tábuas da Lei ao ver o<br />

povo judeu adorando o bezerro de ouro,<br />

“coincidentemente” provou ser o mesmo<br />

dia em que os romanos irromperam pelas<br />

muralhas de Jerusalém para dar início à<br />

destruição do Segundo Templo.<br />

Os nove dias: Quarta-feira, 30 de julho<br />

a quinta-feira, 7 de agosto<br />

“Quando começa o mês de Av, reduzimos<br />

nosso júbilo...” (Talmud, Tratado Ta’anit 26).<br />

Começando em 1º de Av, usualmente nos abstemos<br />

de diversas atividades que estão associadas<br />

à alegria.<br />

9 de Av: Quinta-feira, 7 de agosto de 2003<br />

O dia 9 de Av, Tish’á Beav, celebra uma<br />

lista de catástrofes tão graves que é claramente<br />

um dia especialmente amaldiçoado por<br />

D-us. O Primeiro Templo foi destruído neste<br />

dia. Cinco séculos mais tarde, conforme os<br />

romanos se aproximavam do Segundo Templo,<br />

prontos para incendiá-lo, os judeus ficaram<br />

chocados ao perceber que o Segundo<br />

Templo foi destruído no mesmo dia que o<br />

Primeiro.<br />

Quando os judeus se rebelaram contra o<br />

governo romano, acreditavam que seu líder,<br />

Shimon bar Kochba, preencheria suas ânsias<br />

messiânicas. Mas suas esperanças foram cruelmente<br />

destroçadas quando os judeus rebeldes<br />

foram brutalmente esquartejados na batalha<br />

final em Betar, em 9 de Av.<br />

Os judeus foram expulsos da Inglaterra<br />

também em Tish’á Beav. Em 1492, a Idade de<br />

Ouro da Espanha terminou, quando a Rainha<br />

Isabel e seu marido Fernando ordenaram que<br />

os judeus fossem banidos do país. O decreto<br />

de expulsão foi assinado em 31 de março de<br />

1492, e os judeus tiveram exatamente três<br />

meses para colocar seus negócios em ordem<br />

e deixar o país. A data hebraica na qual nenhum<br />

judeu mais teve permissão de permanecer<br />

no país onde tinha desfrutado de receptividade<br />

e prosperidade foi 9 de Av.<br />

A Segunda Guerra Mundial e o Holocausto,<br />

concluem os historiadores, foi na verdade<br />

a finalização arrastada da Primeira Guerra.<br />

E a Primeira Guerra Mundial começou, no<br />

calendário hebraico, em 9 de Av - Tish’á Beav.<br />

Os judeus vêem estes fatos como outra<br />

confirmação da convicção profundamente enraizada<br />

de que a História não ocorre por aca-<br />

so; os acontecimentos — mesmo os terríveis<br />

— são parte de um plano Divino, e têm um<br />

significado espiritual. A mensagem do tempo<br />

é que há um propósito racional, muito<br />

embora não possamos entendê-lo.<br />

7 de agosto de 2003 – 9 de Av – Início do<br />

jejum às 17h45 (do dia 6) e término às<br />

18h10 (do dia 7)<br />

Tishá Beav<br />

O dia 9 de Av – Tishá Beav – é um dia<br />

de jejum publico (semelhante ao de Iom<br />

Kipur) e luto pela destruição dos dois Templos<br />

de Jerusalém.<br />

Depois do Iom Kipur, Tishá Beav é o dia<br />

de jejum mais importante do calendário judaico.<br />

Ele marca o último dia do período<br />

de três semanas de intenso luto nacional<br />

pelos eventos que levaram à perda da independência<br />

judaica.<br />

Tal como no Iom Kipur, o jejum começa<br />

antes do pôr-do-sol e termina após o pôrdo-sol<br />

no dia seguinte. Nada pode ser comido<br />

ou bebido, inclusive água. Na sinagoga a<br />

cortina existente na frente da Arca é retirada.<br />

No serviço do anoitecer, acendem-se velas<br />

suficientes para a leitura do serviço e os<br />

fiéis não se sentam em bancos ou cadeiras,<br />

mas no chão ou em banquinhos baixos e descalços<br />

que são sinal de luto.<br />

Na ultima refeição antes do jejum,<br />

come-se pãezinhos redondos e ovos e às<br />

vezes se espalham cinzas sobre os ovos. O<br />

círculo não tem começo nem fim, assim<br />

como a eternidade. Portanto, estes alimentos<br />

têm sido, desde longa data, associados<br />

com o luto e a vida eterna.<br />

Após o serviço ao anoitecer, lê-se o Livro<br />

das Lamentações, e isto é seguido pela leitura<br />

de elegias, hinos e preces de luto, que<br />

são publicadas num livreto especial e mantidas<br />

na sinagoga para este dia.<br />

Há cinco coisas proibidas em Nove de Av:<br />

comer e beber, lavar-se, untar-se com óleo,<br />

vestir sapatos de couro e coabitar.<br />

Todos devem jejuar em Nove de Av,<br />

incluindo mulheres grávidas e mães em fase<br />

de amamentação. Quem estiver doente, porém,<br />

pode comer, mesmo se sua doença não<br />

lhe ameaça a vida. Entretanto, uma pessoa<br />

doente deve abster-se de comer iguarias e<br />

deveria ingerir somente o que for absolutamente<br />

necessário para seu bem-estar físico.<br />

Costuma-se dizer que a pessoa que come<br />

ou bebe em Nove de Av sem ter de fazê-lo<br />

por razões de saúde não merecerá ver o júbilo<br />

de Jerusalém. E quem prantear sobre<br />

Jerusalém merecerá ver sua felicidade, como<br />

promete o versículo (Yeshayahu 66:10): “Rejubile-se<br />

grandemente com ela, todos que<br />

por ela pranteiam.”<br />

O que é a hudna?<br />

Ela entrou em vigor dias atrás e deverá ser válida por três meses. Não<br />

espere que os jornais e TVs digam a você o que é hudna. Para a grande mídia,<br />

que não consegue traduzir nem Road Map to Peace para Roteiro da Paz, hudna<br />

significa trégua. Só que “trégua” no sentindo ocidental da palavra, enquanto<br />

ela é proferida por muçulmanos mais fundamentalistas ou menos fundamentalistas<br />

no seu próprio conceito geopolítico e não no nosso.<br />

Nas agências de notícias internacionais, hudna está sendo traduzida como<br />

truce (em inglês) que significa claramente “suspensão (temporária) das hostilidades”.<br />

“Trégua” em português tem o mesmo significado. No contexto militar<br />

ocidental uma trégua é declarada para recolher feridos no campo de batalha, por<br />

exemplo, para evacuar civis, ou num momento de exaustão das forças que leva<br />

há um rendição e fim de conflito maior ou localizado. A Segunda Guerra Mundial,<br />

por exemplo, não terminou após uma trégua: terminou a após a tomada da<br />

capital da Alemanha e uma rendição incondicional. A guerra do Vietnã terminou<br />

com a fuga do exército americano e a invasão de Saigon pelas tropas do Norte.<br />

A Guerra da Coréia ainda não terminou... A Associated Press declarou que “o<br />

sucesso do processo de paz pode ficar estagnado em um conceito legal datando<br />

do nascimento do Islã: a hudna, ou trégua de duração fixa”.<br />

O New York Times acrescentou que a hudna vai constituir “o maior avanço...<br />

após 33 meses de violência”. Hudna tem um significado distinto para os<br />

fundamentalistas islâmicos bem versados em sua própria história: o profeta<br />

Maomé declarou uma lendária hudna de 10 anos com a tribo Quraysh que<br />

controlava Meca no século VII. Durante os dois anos seguintes, Maomé rearmou<br />

seu exército e usou uma desculpa de quebra da hudna por uma infração<br />

cometida pela tribo Quraysh para lançar um ataque total e conquistar Meca, a<br />

cidade mais sagrada para o Islã. Portanto, o significado islâmico de hudna é:<br />

o meu lado fazer uma trégua para que o meu lado se prepare para a conquista<br />

final do inimigo. Como um dos objetivos dos fundamentalistas islâmicos é a<br />

idealização de uma sociedade islâmica como nos tempos do profeta, é por aí<br />

que eles devem estar pensando. A hudna não é uma trégua técnica: é um<br />

trégua estratégica. Para a mídia ocidental a declaração de uma hudna pelo<br />

Hamas significa um compromisso com um resolução pacífica, quando na verdade<br />

significa a preparação para esmagar o inimigo.<br />

Essa não é a primeira hudna declarada no processo de paz entre israelenses<br />

e palestinos. Em 1994, Yasser Arafat explicou, em árabe, para os palestinos<br />

que os acordos de Oslo eram uma hudna no caminho para Jerusalém.<br />

Depois, em 2000, usando como pretexto a visita de Ariel Sharon à Esplanada<br />

das Mesquitas, criou a tal da “pequena infração inimiga” quebrando a hudna<br />

e se lançando à nova guerra, conhecida como Intifada de Al Aqsa, ou Intifada<br />

II. Em relação ao Hamas, a coisa não é muito diferente. Nos últimos 10<br />

anos o grupo declarou 10 situações de cessar-fogo, mas nunca parou de<br />

lutar. Essa é apenas a décima-primeira.<br />

É claro que qualquer pessoa racional espera que os termos ocidentais da<br />

“trégua” prevaleçam e é muito improvável que isso ocorra. Nestes próximos 3<br />

meses deverão ser implementados outros itens e fases do Roteiro da Paz. Um<br />

deles é a continuação da construção do muro de 350 km de extensão. Já pipocam<br />

na mídia militante as comparações de que esse muro (dentro de Israel) e<br />

que não cerca os territórios palestinos é pior que o muro de 14 km do Gueto de<br />

Varsóvia, que enclausurava os judeus para o extermínio pela fome e doença<br />

dentro da capital polonesa. Dentro do direito internacional, cada país cuida de<br />

suas fronteiras, de seu lado, como quiser. Poucos se importam com os muros e<br />

fossos entre os Estados Unidos e México para tentar conter a imigração ilegal.<br />

Mas cá entre nós: quanto tempo você acha que a hudna vai durar? Três<br />

meses? Uma semana? Um dia? Algumas horas? Agora se trata de achar o tal do<br />

incidente catalisador da quebra da hudna. Como os israelenses não têm hudna<br />

nenhuma, estão cumprindo sua parte do acordo e retirando o exército da Faixa<br />

de Gaza imediatamente. E o que os palestinos fizeram?<br />

No primeiro dia, depois da meia-noite, hora de Israel, com a hudna já em<br />

vigor um morteiro atingiu Gush Katif, um míssil antitanque foi disparado contra<br />

posições do Exército de Israel em Nvei Dekalim e outro posto do Exército<br />

foi atacado a tiros em Rafiach. Pela manhã, os palestinos, num ato heróico de<br />

sublime coragem atacaram um grupo de trabalhadores que asfaltava um trecho<br />

de estrada perto de Kalkilya, matando Raskov Karisto, 45, trabalhador búlgaro<br />

estrangeiro. Isso ocorreu algumas horas depois da Brigada dos Mártires de Al<br />

Aqsa, parte da Fatah dirigida por Yasser Arafat declarar que vai aceitar a hudna.<br />

Na sua declaração oficial de propaganda após o assassinato, este grupo<br />

declarou que o ataque “é em resposta à hudna”. Você entendeu? Nem precisa:<br />

os eles têm o direito de continuar assassinando quem bem quiserem enquanto<br />

os ocidentais pensam em trégua e paz.<br />

Às primeiras horas de segunda-feira, foram passando e a estrada Tancher,<br />

em Gaza foi reaberta para a circulação de palestinos. Menos de quatro horas<br />

depois da reabertura, posições do exército israelense foram atacadas a tiros<br />

por palestinos a partir dessa estrada. Essa é a grande trégua pacífica islâmica.<br />

Para os palestinos, o primeiro dia da hudna foi como qualquer outro. Será que<br />

amanhã as coisas serão diferentes?


TURISMO<br />

Porta de Sion – bairro judeu (1)<br />

O Monte Sion guarda locais de importância para judeus e cristãos, conforme<br />

vimos na última edição. Além disso, do monte pode-se ter ampla visão<br />

das montanhas que cercam Jerusalém. Olhando-se a partir do oeste vê-se o<br />

monte das oliveiras, o Monte Scopus, onde está a Universidade Hebraica de<br />

Jerusalém (o monte tem o nome de Scopus porque foi de lá que Flavio Josefo<br />

teve a última vista da cidade), a Augusta Vitória, a Viri Galilei ou Jardim do<br />

Caçador, onde está o palácio do patriarca greco-ortodoxo, o Monte da Ascensão<br />

e o Monte da Ofensa, local que, segundo conta-se, Salomão permitiu a<br />

construção de um templo para os ídolos da sua mulher (1Reis 11:7).<br />

A Porta de Sion é uma das sete entradas<br />

da antiga Jerusalém. Esta porta<br />

teve conservada a forma de L, sistema<br />

que garantia maior segurança durante<br />

ataques inimigos. Nela há uma mezuzah<br />

de ferro e, se a minha memória não falha,<br />

esta é a única das portas que possui<br />

essa marca judaica. Pode-se ver ainda, nas<br />

pedras que emolduram a porta, as marcas<br />

dos combates da guerra de 48.<br />

Entrando pela Porta de Sion, seguindo<br />

à esquerda, pela rua Ha-Patriarkhiya<br />

chega-se ao bairro armênio, um dos bairros<br />

cristãos da cidade antiga; pela direita,<br />

chega-se à rua Habad, uma das entradas<br />

do bairro judeu. Este bairro foi<br />

A Porta de Sion<br />

totalmente destruído entre dezembro de<br />

47 a maio de 48, na Guerra da Independência.<br />

Em junho de 67, Israel o reconquistou, reconstruindo-o totalmente,<br />

preservando a característica arquitetônica da cidade: traçado das ruas, desenho<br />

dos edifícios, tipos de pedras, etc.<br />

Muitos são os locais de interesse neste bairro. Temos o Museu da Antiga<br />

Comunidade, que preserva relíquias da vida judaica no bairro, quando este<br />

não passava de um gueto. Neste museu se pode também ver objetos que<br />

mostram as diferenças de estilos artísticos entre as comunidades sefaradita e<br />

asquenazita. Nas proximidades do museu está a Casa Habad e o Cardo Maximus<br />

– a Champs Elysées do período romano e bizantino em Jerusalém.<br />

O cardo (coração), rua principal da cidade romana – foi restaurado,<br />

mantendo a forma tradicional das antigas ruas da Jerusalém conquistada<br />

por Roma, quando passou a ser chamada de Aelia Capitolina. Passando pelo<br />

cardo, pode-se imaginar como eram as antigas ruas do comércio. Na sua<br />

parte coberta – uma galeria – encontram-se luxuosas lojas de artes, artigos<br />

religiosos, moda, etc. No nível inferior do piso, pode-se ver as ruínas dos<br />

séculos II e I a.e.c. Elas são um exemplo da influência helênica na cultura<br />

hebraica durante dinastia hasmonea<br />

(142-63 a.e.c). Há ainda, no nível<br />

inferior do piso, restos do muro de<br />

proteção da antiga cidade. Na diferença<br />

das suas pedras é possível distinguir<br />

os diferentes períodos de dominações<br />

por que passou Jerusalém<br />

ao longo dos seus 3007 anos.<br />

Retornando-se do cardo, sentido<br />

bairro judeu, pode-se comer um<br />

bom falafel, um belo pedaço de pizza<br />

ou uma bureka gigante numa das<br />

lanchonetes situadas na praça vizinha<br />

à Sinagoga Hurva.<br />

A antiga sinagoga de Ramban, fundada<br />

por Rabi Moshê ben Nachman –<br />

Nachmanides (famoso exegeta que,<br />

após ser exilado da Espanha, criou em<br />

Jerusalém a mais antiga comunidade<br />

judaica após a destruição do Templo),<br />

O famoso arco da Sinagoga de Hurva<br />

serviu de base para a construção da<br />

Jerusalém (3)<br />

VISÃO JUDAICA • julho de 2003 • Av • 5763<br />

Sinagoga Hurva. Esta sinagoga, que data do<br />

princípio do século XVIII, foi idealizada pelo<br />

Rabi Yehuda Hahasid (discípulo de Sabbatai<br />

Zevi) que veio da Polônia acompanhado de um<br />

pequeno grupo de seguidores para habitar em<br />

Eretz Israel. Em 1721 foi destruída pelos otomanos<br />

– quando passou a ser chamada de Hurva<br />

(ruína – destruição). Foi reconstruída no início<br />

do século XIX pela comunidade asquenazita,<br />

tornando-se a mais importante sinagoga<br />

de Israel. Em 1898, a sinagoga símbolo do retorno<br />

a Sion, foi visitada por Theodor Herzl.<br />

Após a Guerra da Independência, foi novamente<br />

destruída pelos jordanianos.<br />

Atualmente a antiga é lembrada<br />

por um imenso arco que invade o azul do céu,<br />

dominando a paisagem do bairro, simbolizando<br />

a destruição no passado, o renascimento do presente<br />

e a continuidade futura da vida judaica<br />

em Jerusalém.<br />

Antonio Carlos Coelho<br />

Antônio Carlos Coelho da Costa é professor e diretor do Instituto Ciência e Fé<br />

Brian Hendler<br />

9<br />

Ha Rová,<br />

o Jewish<br />

Quarter ou o<br />

bairro judeu


10<br />

Um grupo destemido<br />

— Colonos judeus<br />

defendem uma<br />

colônia dos ataques<br />

árabes em 1904, na<br />

Galiléia<br />

A Jerusalém no<br />

tempo dos otomanos<br />

— Uma visão da<br />

“cidade eterna”, no<br />

século 19. Na época<br />

os judeus viviam na<br />

parte antiga da cidade<br />

desde séculos<br />

VISÃO JUDAICA • julho de 2003 • Av • 5763<br />

A quem pertence a Terra Santa?<br />

Diante do anti-semitismo da Europa<br />

os judeus vão para a Palestina.<br />

Para eles, a imigração significa<br />

um direito bíblico, mas<br />

para os árabes uma invasão.<br />

Os conflitos sangrentos são<br />

constantes. Enquanto isso, a política<br />

pendular britânica na Palestina,<br />

só agravou a situação.<br />

Teja Fiedler*<br />

“Nada os assustou,<br />

nada os deteve,<br />

nem o deserto, nem<br />

a selvageria dos árabes,<br />

e também não<br />

o desconhecimento<br />

da língua e dos costumes<br />

locais”. Assim<br />

descreve, numa carta<br />

à sua família, um<br />

colono judeu à luz<br />

de uma lâmpada de<br />

querosene sua situação<br />

e a dos seus companheiros. “Ninguém,<br />

longe daqui, pode imaginar como<br />

é ficar dias sem uma gota de água, deitar<br />

em barracas apertadas e ser incomodado<br />

por répteis de todos os tipos.<br />

Tão pouco consegue entender o que<br />

nossas mulheres,<br />

crianças e mães, sofrem<br />

quando os árabes<br />

nos atacam. Então<br />

é esta a terra<br />

prometida”? E a propaganda<br />

em casa<br />

queria nos fazer entender<br />

que era, “um<br />

país sem povo para<br />

um povo sem país”.<br />

Mesmo assim, alguns<br />

milhares de judeus, a maioria deles da<br />

Rússia, foram para Palestina no final do<br />

século 19. Sua comunidade, em tempos<br />

recentes, ainda sob o domínio dos czares,<br />

havia sofrido pesadas perseguições.<br />

Mais de dois milhões deles esco-<br />

Voltando à sua terra natal e encontrando inimigos... de 1890 à 1939<br />

lheram como sua terra prometida os<br />

Estados Unidos. Mas uma pequena minoria<br />

que imigrou para a Palestina<br />

(que estava sob o domínio dos otomanos),<br />

estava convencida de que<br />

“para o povo de Israel não havia salvação<br />

além de instalar um governo<br />

próprio no país Israel”.<br />

Durante alguns anos essa iniciativa<br />

visionária vegetou na escassa<br />

terra da Palestina. Até o surgimento<br />

de Theodor Herzl, e com ele o Sionismo<br />

político. Herzl, um jornalista de<br />

Viena, que amava a ópera e que tinha<br />

escrito algumas peças de teatro,<br />

de algum sucesso, publicou em 1896<br />

uma tese: “O Estado Judeu - a tentativa<br />

de uma solução moderna para a<br />

questão judaica”.<br />

Desde a emigração da Judéia, depois<br />

da destruição de Jerusalém pelos<br />

romanos, no ano 70 e. C., as comunidades<br />

judaicas na Europa viveram mais de<br />

um milênio num equilíbrio extremamente<br />

instável nesse ambiente. Vistos pelos<br />

cristãos como “culpados pela morte<br />

de Jesus na cruz”, eles foram empurrados<br />

para a margem da sociedade.<br />

Na Idade Média, por exemplo, foi<br />

proibido aos judeus serem proprietários<br />

de terras e casas, assim como<br />

exercer um ofício, e foram obrigados<br />

a morar em bairros próprios, chamados<br />

guetos. Ao mesmo tempo, precisavam<br />

deles como comerciantes e financistas<br />

para empréstimos em dinheiro.<br />

E eram excelentes bodes-expiatórios:<br />

A convivência com seus<br />

vizinhos cristãos foi sempre interrompida<br />

por massacres e expulsões.<br />

No final do século 19 o anti-semitismo<br />

ganhou nova força: Pogroms na Rússia,<br />

excessos na França, e um prefeito<br />

popular, mas extremamente anti-semita<br />

em Viena, a cidade natal de Herzl. Palavras<br />

de ordem demagógica como: “Jüdische<br />

Zinsknechtschaft” (domínio judaico<br />

dos juros) e “Saujud” (judeu porco) viraram<br />

palavrões e xingamentos.<br />

“Nós sempre tentamos, honestamente,<br />

nos assemelhar às comunidades<br />

onde vivemos, e queríamos só<br />

manter a fé (religião) de nossos pais.<br />

Mas eles não deixam. Em vão, somos<br />

patriotas fiéis e até exagerados patriotas<br />

em alguns lugares, mas em vão<br />

fazemos sacrifícios de sangue e de<br />

bens, como nossos concidadãos”. Assim<br />

escreveu Theodor Herzl em sua<br />

tese. Só havia uma saída: Um Estado<br />

independente para os judeus. Um Estado<br />

que devia mudar por completo a<br />

característica de um povo suprimido e<br />

espalhado pelo mundo. Assim nasceria<br />

uma maravilhosa nação de judeus. “Os<br />

macabeus iriam ressuscitar”. (Os macabeus,<br />

na Antigüidade tinham libertado<br />

Israel do domínio estrangeiro).<br />

Um Estado judaico na Argentina<br />

Herzl tinha em vista dois possíveis<br />

territórios, Argentina ou Palestina: “A<br />

Argentina é, pela própria natureza, um<br />

dos países mais ricos da terra, com<br />

vastas extensões, com pouca população<br />

e clima ameno”. Mas a Palestina<br />

foi a alternativa que mais inspirou<br />

Herzl: “A Palestina é nossa inesquecível<br />

pátria histórica... Caso sua majestade<br />

o sultão nos ceda a Palestina, poderíamos<br />

regular as finanças de toda a<br />

Turquia. Para a Europa iríamos representar<br />

uma barreira contra a Ásia e seríamos<br />

um posto avançado de cultura<br />

contra a barbárie”.<br />

Um ano depois, o primeiro Congresso<br />

Sionista Mundial na Basiléia determinou<br />

a Palestina como a velha e a<br />

nova Pátria do Povo Judeu. Naquela<br />

ocasião o jornalista liberal Herzl não<br />

queria um Estado com caráter religioso<br />

ou militar: “Nós saberemos manter<br />

nossos sacerdotes em seus templos,<br />

assim como saberemos manter também<br />

nosso exército nos seus quartéis. Eles<br />

não devem interferir nos assuntos de<br />

Estado, porque assim iriam provocar<br />

dificuldades externas e internas”.<br />

Um categórico não foi a resposta<br />

do sultão para o avançado posto judaico<br />

de proteção contra a barbárie.<br />

Mesmo assim, ele não conseguiu evitar<br />

a imigração dos ativistas sionistas<br />

vindos da Europa. A população<br />

local sentiu-se ameaçada, na medida<br />

em que crescia o número dos colonos,<br />

porque esse não era o tipo de<br />

judeus com o qual os árabes conviviam<br />

desde séculos.<br />

Com esses “judeus antigos” eles<br />

geralmente conseguiam conviver muito<br />

bem. Afinal, foram os muçulmanos<br />

que (depois da conquista de Jerusalém<br />

em 1638 e. C.) extinguiram a lei romana<br />

que proibia os judeus de entrar em<br />

Jerusalém. Eles respeitavam a fé judaica,<br />

mas só mediante a obrigação do<br />

pagamento de um sobrecarregado imposto<br />

religioso.<br />

Em 1881, pouco antes do surgimento<br />

da manifestação de Herzl, viviam 450<br />

mil árabes, mas só 24 mil judeus, na<br />

maioria trabalhadores com seus ofícios<br />

ou pequenos comércios.<br />

A maioria muçulmana os tratava<br />

– conforme o historiador Elie Kadourie<br />

– com “desprezível tolerância”. Por<br />

outro lado, temiam os “judeus novos”<br />

porque esses vinham “da imoral Europa<br />

e queriam apropriar-se das terras<br />

e tirar da população local sua<br />

pátria e sua cultura”.<br />

Teodor Herzl não concordava com<br />

isso. Entre árabes e judeus poderia reinar<br />

a paz. A imigração judaica traria<br />

também para os árabes vantagens –<br />

escolas, pavimentação, hospitais. O<br />

teórico do Estado Judeu Teodor Herzl<br />

escreveu numa carta para o sábio islâmico<br />

Yusuf Diya al-Khalidi: “Meu D-us,<br />

o mundo é grande que chega, e ainda<br />

existem países não de todo habitados<br />

onde se poderia assentar milhões de<br />

judeus. Em nome do Todo-Poderoso,<br />

deixem a Palestina em Paz!”.<br />

Khalidi se preocupava com a lenta<br />

desapropriação de terras que começou<br />

com a primeira onda de imigração.<br />

Pelo menos no início, latifundiários<br />

árabes colaboraram bastante<br />

com isso. Eles venderam suas terras<br />

a preços exorbitantes aos judeus. Os<br />

arrendatários foram obrigados a se<br />

retirar. “O medo da desapropriação e<br />

expulsão seria o principal impulso da<br />

resistência árabe contra o sionismo<br />

até 1948 (quando houve a primeira<br />

guerra)“, assim escreveu o professor<br />

israelense de História Benny Morris.<br />

No ano de 1900 existiam 60 mil judeus<br />

na Palestina. Dificilmente os recém-chegados<br />

da Europa tinham conflitos<br />

de consciência. Para os religiosos,<br />

a volta à Terra Prometida significava<br />

a realização da promissão bíblica,<br />

portanto a vontade de D-us, e fora de<br />

qualquer crítica. Os outros viram os<br />

árabes com os olhos do tempo, quer dizer,<br />

com os olhos do colonialismo. “Não<br />

podemos esquecer que se trata de um<br />

povo semi-selvagem que possui idéias<br />

extremamente primitivas. E isso faz parte<br />

da sua natureza: quando o árabe sente<br />

tua força, ele se submete e esconde o<br />

seu ódio contra você. Quando ele sente<br />

tua fraqueza, ele te dominará”, assim<br />

Dia no gueto — Aspecto da cidade de<br />

Wilna, na Letônia, onde os judeus do<br />

Leste europeu viviam, muitas vezes,<br />

segregados em bairros próprios. Por<br />

isso, muita gente desconfiava deles


O Schtetl - um mundo<br />

à parte - e o pogrom<br />

Quando o poeta Heinrich Heine<br />

viu as condições em que vivia a gente<br />

do Schtetl, sentiu a principio asco<br />

e em seguida compaixão. “Depois vi<br />

mais de perto o estado em que as<br />

pessoas se encontravam e os buracos<br />

como chiqueiros onde moravam,<br />

onde rezavam, faziam seus pequenos<br />

negócios e viviam em verdadeira<br />

miséria”, disse ele. Mesmo havendo<br />

essa miséria, para os moradores<br />

do Schtetl (vilarejo ou bairro judaico<br />

dentro de uma cidade pequena)<br />

isso significava um mundo intacto.<br />

Ali havia sinagoga, cemitério e mikve<br />

– (casa de banho ritual). Tudo<br />

no Schtetl era judaico: as roupas, a<br />

língua e os costumes.<br />

No final do século 19 as leis russas<br />

permitiam aos judeus somente<br />

trabalhos restritos. Por isso, muitos<br />

deles vagavam a procura de um emprego.<br />

Só uma minoria deles saía de<br />

seus bairros. Eles levavam sua vida<br />

entre eles próprios.<br />

Os judeus não tinham acesso à<br />

sociedade e transformaram-se em<br />

corpos estranhos —eram vistos com<br />

desconfiança pelos russos, eles mesmo<br />

vivendo na miséria. Na virada do<br />

século 19 para o 20, essa desconfiança<br />

desaguou em ódio e barbárie.<br />

Por exemplo, em Kishinev, o dia<br />

6 de abril de 1903 foi feriado. Enquanto<br />

os cristãos russos–ortodoxos<br />

festejavam o domingo de Páscoa, as<br />

comunidades judaicas comemoravam<br />

o último dia do Pessach. Foi um dia<br />

excepcionalmente quente. Na praça<br />

Chuflinski estavam montadas barracas<br />

de venda e o carrossel. Após o<br />

longo período de jejum, “jorrava”<br />

novamente o álcool. Depois do almoço,<br />

os primeiros cristãos já estavam<br />

bêbados. Enquanto as crianças<br />

davam voltas no carrossel, os adolescentes<br />

começaram a cercar alguns<br />

judeus, gritavam com eles e os ame-<br />

escreveu Moshe Smilansky. Muitos colonos<br />

que antes na Europa foram reprimidos,<br />

desenvolveram agora contra seus<br />

trabalhadores diaristas árabes, “uma<br />

tendência de despotismo, que sempre<br />

acontece, quando um escravo vira dono”<br />

assim escreveu Ahad Haam, um dos poucos<br />

críticos da época.<br />

Os britânicos prometem<br />

tudo a todos<br />

Em 1909 um árabe mostrando e<br />

balançando seu punhal, assaltou um<br />

jovem colono no caminho acidentado<br />

entre dois assentamentos judaicos:<br />

Sejera e Yavniel. O agressor feriu sua<br />

açavam, até estes conseguirem fugir<br />

deles. Mais adultos se juntavam à<br />

multidão. Quando não havia mais<br />

judeus à vista, eles se mobilizavam<br />

para procurar novos judeus. Pequenos<br />

grupos de 10 a 15 homens se<br />

dirigiram em direção dos bairros judeus.<br />

Na frente iam os agitadores<br />

apontando com os dedos as casas e<br />

lojas que em seguida os outros atacavam<br />

com pedras. Junto, ia uma<br />

turba que saqueava as vitrines quebradas<br />

e o que se encontrava atrás<br />

das portas. Alguns policiais que tentaram<br />

conter os agitadores simplesmente<br />

foram empurrados. Tarde da<br />

noite a multidão se dispersou.<br />

Mas na manhã seguinte novamente<br />

o bairro judeu foi invadido.<br />

Quando saqueavam uma loja de roupas,<br />

ainda na rua homens e mulheres<br />

provavam calças e saias. Quando,<br />

nas lojas de bebidas, eles bebiam<br />

ali mesmo. Logo as ruas estavam<br />

repletas de cacos de vidro e por<br />

todos os lados voavam as penas dos<br />

acolchoados dilacerados. Quando<br />

encontravam um judeu, este era<br />

puxado para fora de seu esconderijo<br />

e surrado até desfalecer.<br />

O balanço da festa de Páscoa de<br />

Kishinev: 49 judeus mortos, 500 feridos,<br />

700 casas saqueadas e destruídas,<br />

700 lojas totalmente destruídas,<br />

2000 famílias judaicas ficaram<br />

desabrigadas.<br />

Raramente um pogrom ficou tão<br />

bem documentado como o de Kishinev.<br />

Dos outros schtetls não existe lista<br />

com os nomes dos mortos e das<br />

existências destruídas. Cerca de 2,5<br />

milhões de judeus do Leste europeu<br />

fugiram entre 1881 e 1914 dos países<br />

onde nasceram. Entre 80 e 85%<br />

deles, emigraram para a América. Alguns<br />

foram para o país de seus antepassados,<br />

para Eretz Israel. Eles se<br />

tornaram os primeiros pioneiros.<br />

vítima levemente com pontadas do punhal,<br />

arrancou dele sua pasta e fugiu<br />

sem ser reconhecido por sua presa. O<br />

assaltado chamava-se David Ben Gurion<br />

e deveria mais tarde ser o grande condutor<br />

da Independência de Israel. Já<br />

semanas antes, Ben Gurion sentiu de<br />

perto a guerra de guerrilhas entre árabes<br />

e colonos judeus. Os árabes tinham<br />

roubado o gado dos judeus e incendiaram<br />

suas plantações. Havia mortes em<br />

ambos os lados. O jovem participava<br />

na perseguição dos agressores, munido<br />

somente com uma pistola Browning.<br />

Mas somente agora, quando ele estava<br />

sangrando e sem sua pasta, uma coisa<br />

ficou clara para Ben Gurion: “nossos<br />

vizinhos árabes nos odeiam”. Tinha<br />

nascido a resistência palestina.<br />

Em 1913 um artigo na revista “Filastin”<br />

exigiu dos governantes otomanos<br />

medidas drásticas contra a compra<br />

de terras realizadas pelos judeus.<br />

“Os sionistas conseguem o domínio<br />

sobre nossa terra, vilarejo por vilarejo,<br />

cidade por cidade, amanhã<br />

será vendida toda Jerusalém e depois<br />

toda a Palestina”. Em 1914 um panfleto<br />

jogado de avião, dava a palavra<br />

de ordem que a partir disso determinou<br />

a relação entre judeus e árabes:<br />

“Concidadãos! Vocês querem ser escravos<br />

dos sionistas, que vieram para<br />

expulsar vocês de seu país, e que dizem<br />

que este país lhes pertence?”<br />

Como reação houve um aumento das<br />

restrições contra judeus.<br />

Então estourou a Primeira Guerra<br />

Mundial. O império otomano ficou<br />

do lado da Alemanha e da monarquia<br />

dos Habsburgos. A Grã-Bretanha,<br />

França e Rússia foram os principais<br />

opositores. A Inglaterra procurava<br />

aliados no Oriente Médio para<br />

assegurar o Canal de Suez.<br />

Os árabes se ofereceram, porque<br />

queriam se livrar finalmente do domínio<br />

otomano (os turcos). Em 1915,<br />

numa carta dirigida ao Xerife de<br />

Meca, os britânicos prometeram (de<br />

uma forma vaga) como recompensa<br />

para uma revolta a “independência<br />

dos países árabes”.<br />

Com receio de que o sionismo se<br />

declarasse a favor do “Deutsches Kaiserreich”<br />

(o Império alemão) o ministro<br />

do exterior Balfour escreveu para a<br />

comunidade judaica na Grã-Bretanha<br />

uma carta parecida com a que ele tinha<br />

escrito para o Xerife de Meca, a<br />

famosa “Declaração Balfour”: “O governo<br />

de sua majestade vê com satisfação<br />

a criação de um estado nacional para<br />

o povo judeu e faria o maior esforço<br />

para alcançar este objetivo”.<br />

Desde então, ambos os lados poderiam<br />

crer, com razão, que isso significava<br />

a aceitação de seus planos.<br />

O que eles não sabiam é que numa negociação<br />

secreta em 1916, a Inglaterra<br />

e a França, o tal chamado “Acordo<br />

Sykes-Picot”, concordaram em dividir<br />

entre eles aquela região e que não<br />

VISÃO JUDAICA • julho de 2003 • Av • 5763<br />

galvão<br />

deveria haver estados nacionais independentes.<br />

A política oportunista de<br />

balançar de lá pra cá dos<br />

britânicos tinha começado.<br />

Ela foi fatídica.<br />

Depois do desmantelamento<br />

do império otomano<br />

no final da Segunda<br />

Guerra Mundial a região<br />

foi ocupada pelos<br />

britânicos e franceses. A<br />

seguir, Faisal, o filho do<br />

Xerife de Meca, encontrou-se<br />

em janeiro de 1919 com<br />

Chaim Weizmann, que nessa época era<br />

o político sionista mais influente. Faisal<br />

precisava de aliados para arrancar<br />

o grande império árabe das mãos dos<br />

britânicos, que o tinham prometido a<br />

seu pai em 1915. Ele decidiu tomar uma<br />

iniciativa, que Israel até hoje avalia<br />

como prova de que os árabes inicialmente<br />

eram favoráveis a um Estado judaico:<br />

Caso os judeus estivessem a favor<br />

dessa iniciativa, Faisal concordaria<br />

em excluir a Palestina de um Estado<br />

árabe e a deixaria aos<br />

judeus como “Estado-Pátria”.<br />

Faisal declarou: “Todas<br />

as medidas necessárias<br />

deviam ser tomadas,<br />

para que a imigração judaica<br />

à Palestina fosse<br />

encorajada e apoiada em<br />

grande escala”.<br />

Faisal, em carta dirigida<br />

à mulher de Weizmann,<br />

disse: “Mostremlhes<br />

desprezo, nós não<br />

os vemos como árabes”.<br />

Os palestinos amargaram<br />

a experiência que seus irmãos<br />

árabes, sem escrúpulos, fizeram passando<br />

por cima deles e que simplesmente<br />

os deixaram para trás em seus<br />

direitos na Palestina.<br />

Por precaução, o príncipe de Meca<br />

adicionou, escrito a próprio punho e<br />

em árabe, que esse acordo teria validade,<br />

caso realmente resultasse um<br />

Estado árabe independente. Em 1920,<br />

conforme o acordo secreto, a França<br />

recebeu o Líbano e a Síria sob “região<br />

continua na página 12<br />

11<br />

Trabalho no campo<br />

sob as armas — Um<br />

veículo blindado<br />

puxando um arado<br />

num campo perto de<br />

Haifa (em 1929).<br />

Contra os constantes<br />

ataques dos francoatiradores<br />

árabes, os<br />

colonos judeus se<br />

protegeiam com<br />

patrulhas e milícias<br />

A luta por Nablus —<br />

Essa cidade na<br />

Cisjordânia é uma das<br />

mais turbulentas. Ali<br />

aconteceram mais<br />

levantes e luta<br />

armada nas ruas<br />

entre revolucionários<br />

árabes e o exército<br />

britânico do que em<br />

outros lugares. O<br />

exercito britânico<br />

contra-atacava os<br />

palestinos com<br />

tanques


12<br />

Em 1896 o jornalista<br />

Theodor Herzl<br />

escreveu o<br />

“Judenstaat “ (O<br />

Estado Judeu) – o<br />

livro virou o guia do<br />

movimento sionista<br />

Pogroms — Os<br />

judeus eram<br />

segregados nas<br />

cidades e<br />

perseguidos na<br />

Europa. No final do<br />

século 19 voltou o<br />

anti-simetismo. Por<br />

isso, muitos foram<br />

embora. Estes<br />

ataques eram<br />

freqüentes no<br />

império dos czares<br />

VISÃO JUDAICA • julho de 2003 • Av • 5763<br />

continuação da página 11 seguiram mais ou menos, manter a paz.<br />

de mandato”, enquanto a Grã–Bretanha<br />

recebia o Iraque, a Transjordânia e a<br />

Palestina. (a palavra “colônia” havia<br />

então caído fora de moda). Os árabes<br />

da região nunca concordaram com a iniciativa<br />

particular de Faisal. Aos britânicos<br />

eles protestaram contra o crescente<br />

número de imigrantes judeus e<br />

fundaram entidades como a “Mão-Preta“<br />

para “matar a lesma sionista enquanto<br />

jovem“. Um equilíbrio para eles<br />

parecia impossível:<br />

“Iremos jogar os judeus no mar ou<br />

eles nos expulsarão para o deserto”, diziam.<br />

O lado judeu compartilhou, a princípio,<br />

esta avaliação: “Realmente não sei<br />

qual árabe irá concordar com um Estado<br />

judeu. Nós, como nação, queremos que<br />

este país seja nosso. Os árabes como nação,<br />

querem que seja deles”,<br />

escreveu Ben Gurion em 1919.<br />

Os ingleses acreditaram<br />

num equilíbrio e seguiram<br />

com seu “zigue–zague”. Por<br />

um lado, eles repetitivamente<br />

limitavam o número dos<br />

imigrantes, e por outro, reconheceram<br />

a Agência <strong>Judaica</strong><br />

como a associação oficial dos judeus<br />

na Palestina. Winston Churchill,<br />

na época ministro colonial, escreveu:<br />

“Nós pensamos que ela é boa para o<br />

mundo, boa para os judeus, boa para o<br />

império britânico, mas também bom<br />

para os árabes que vivem na Palestina.<br />

Eles irão participar dos benefícios e<br />

avanços do sionismo”.<br />

Durante dez anos os britânicos con-<br />

Mas o tempo trabalhava a favor dos judeus.<br />

Em 1931 já se contavam 175 mil<br />

imigrantes (e 880 mil palestinos). A<br />

modernidade européia e a tradição árabe<br />

se confrontavam visivelmente. Um<br />

observador europeu escreveu: “Lá, o<br />

árabe leva a safra em cima de um camelo<br />

ou um burro. Aqui o judeu a leva de<br />

caminhão. Entre os fellachen (tribo árabe)<br />

as galinhas correm no pátio atrás<br />

do muro, enquanto entre os judeus, as<br />

galinhas vivem em galinheiros feitos<br />

com chapas metálicas onduladas, cientificamente<br />

aprovadas. Lá, o galo é de<br />

cor e miúdo, e aqui a raça branca é poedeira.<br />

Lá, sai um minúsculo ovo, enquanto<br />

aqui, um produto agrícola de<br />

primeira linha. Lá, tem estaganção, enquanto<br />

aqui, o sucesso”.<br />

Em 1929 as tensões se descarregaram<br />

numa revolta generalizada. O ponto<br />

de partida foi uma demonstração judaica<br />

no Muro das Lamentações, em Jerusalém,<br />

que para os árabes significa uma parte<br />

do lugar sagrado chamado Mesquita de<br />

Al-Aksa. O ápice dessa revolta foi o massacre<br />

de Hebron. Uma multidão árabe<br />

enfurecida matou ali 66 judeus. O relatório<br />

do chefe da Polícia britânica dizia:<br />

“Escutei um grito, subi correndo a escada<br />

e vi um árabe que estava prestes a<br />

degolar uma criança. Ele já havia atingido<br />

por uma vez a cabeça da criança, e<br />

queria, naquele momento, perpetrar o<br />

segundo golpe. Quando me viu, quis me<br />

golpear, mas como estava na frente do<br />

meu rifle, consegui paralisá-lo com um<br />

tiro na virilha”.<br />

Estranhamente não foram massacra-<br />

Os Husseini contra os sionistas<br />

Quando Musa al-Husseini construía em<br />

1897 seu palácio no monte Scopus, com uma<br />

impressionante escada suspensa, iniciava a<br />

primeira onda de<br />

imigrantes judeus.<br />

A cidade ainda estava<br />

sob domínio<br />

do sultão na distante<br />

cidade de<br />

Istambul. Seus<br />

emissários se mostravamentusias-<br />

Husseini apoiava o nazismo mados com tanto<br />

e encontrava-se com Hitler<br />

luxo oriental que o<br />

pequeno castelo<br />

da Rua Abu-Obeida mostrava. Até o monarca<br />

Hailé Selassié, da Etiópia, e o imperador alemão<br />

Guilherme II tomaram chá nessa vila, hoje<br />

conhecida sob o nome “Casa do Oriente”, um<br />

símbolo do passado na Palestina.<br />

Até a primeira metade do século 20, os<br />

Husseini dominavam o cenário em Jerusalém.<br />

A família se dizia descendente de Hussein,<br />

neto do profeta Maomé. Seus antepassados<br />

teriam vindo 700 anos antes de Meca para<br />

Jerusalém. Desde o século 17 foram eles chefes<br />

supremos da parte santa da cidade. Quase<br />

sempre o clã Husseini ocupava cargos religiosos<br />

tão importante como o de mufti ou conselheiro<br />

da justiça e possuía extensos latifúndios<br />

na então Palestina. Muitas vezes o prefeito<br />

também descendia dos Husseini. Bairros<br />

inteiros, como o Monte das Oliveiras, pertenciam<br />

à parentela que contava 3 mil membros.<br />

Um membro da família contava orgu-<br />

lhoso que “os judeus eram obrigados a sair da<br />

calçada quando ali passava um Husseini”. Desde<br />

o inicio, a família foi contra o sionismo. O mais<br />

radical era Haj Amin al-Husseini, o fundador do<br />

nacionalismo árabe. Quando em abril de 1920<br />

estourou a revolta em Jerusalém, o brilhante pregador<br />

foi condenado a 10 anos de reclusão pelo<br />

governo do mandato britânico por causa dos motins<br />

que insuflava. Mas esse homem de 27 anos<br />

fugiu para a Síria e foi-lhe dado o perdão. Logo<br />

era nomeado grão-mufti. Esse homem, magro, de<br />

cara pálida e cabelos ruivos, sempre tentou internacionalizar<br />

o conflito palestino. E para isso viajou<br />

atravessando toda a Arábia. Sob seu domínio<br />

sempre aconteciam massacres — até na revolta<br />

contra os britânicos e judeus. Novamente o aristocrata<br />

conseguiu se salvar através da fuga —<br />

desta vez para Bagdá. Mas Haj Amin cometeu um<br />

erro fatal: Em 1941 ele mudou-se para Berlim, elogiou<br />

Hitler como “o guia admirado em todo mundo<br />

árabe“, e em 1943 recrutou na Bósnia-Herzegovina<br />

os “muçulgermânicos” para o exército das SS.<br />

Em seguida ele exigiu dos nazistas ataques aéreos<br />

contra Tel Aviv. Nunca mais o desprezado grão-mufti<br />

voltou à Palestina. Solitário, morreu em 1974 em<br />

Beirute. Nenhuma rua, nenhuma praça tem seu nome<br />

porque ele foi responsabilizado pela “Nakba” – a<br />

catástrofe da perda da terra palestina. Mas sua imagem<br />

esta mudando. Até mesmo pesquisadores<br />

israelenses vêem o descendente dos Husseini também<br />

como um patriota palestino. E para os experts<br />

árabes, Haj Amin-al Husseini não só fez o pacto<br />

com os nazistas por causa de motivos ideológicos,<br />

mas também simplesmente agiu conforme o lema: O<br />

inimigo do meu inimigo é meu amigo.<br />

dos os novos imigrantes, mas os “antigos<br />

judeus” de Hebron. Até aí, eles viviam<br />

passivamente com seus vizinhos<br />

muçulmanos. O conflito da Terra Santa,<br />

que até então fora uma disputa<br />

entre imigrantes que precisavam de<br />

terras e agricultores nativos, agora<br />

ganhava uma nova dimensão: Judeus e<br />

palestinos estavam em oposição.<br />

O mufti de Jerusalém (que pertencia<br />

ao clã dos Husseini), conclamou todos<br />

os “guerreiros santos” para “a revolta<br />

contra o inimigo que fere a honra<br />

do Islã, que estupra nossas mulheres<br />

e assassinam nossas viúvas e bebês”.<br />

No Norte da Palestina Izzedin al-<br />

Qassam pregava a Jihad contra os “invasores”.<br />

As brigadas armadas do Hamas<br />

fundamentalista, usam até hoje<br />

este nome. No inicio dos anos 30, os<br />

sacerdotes muçulmanos se opuseram à<br />

reivindicação judaica às terras, declarando<br />

a Palestina como “Waqf”, a terra<br />

santa para todos os muçulmanos: “A<br />

venda de terras islâmicas para um estrangeiro<br />

não-muçulmano, não tem<br />

valor nenhum e é uma traição para Dus<br />

e seu profeta”. O abismo entre eles<br />

ficara enorme.<br />

Muitos judeus fogem<br />

dos nazistas<br />

Os britânicos também suspeitavam<br />

disso. Assustados com a perseguição<br />

aos judeus, principalmente na<br />

Alemanha, eles começaram a retirar<br />

as limitações da imigração dos judeus.<br />

Logo a seguir, em 1936, estourou<br />

a revolta árabe que se dirigiu contra<br />

os judeus e britânicos que viraram<br />

“protetores dos invasores”. Houve confrontos<br />

sangrentos e uma greve geral<br />

que se alastrou por meses.<br />

A Grã–Bretanha reagiu como sempre:<br />

Instalou uma Comissão de Inquérito<br />

dirigida por Lord Peel. Ela mostrou<br />

notavelmente uma clara visão:<br />

“Aproximadamente um milhão de árabes<br />

estão em luta aberta e latente<br />

contra 400 mil judeus. Não coincidem<br />

em nenhum ponto suas vidas cultural<br />

e social, como sua maneira de pensar e<br />

levar a vida, como seus esforços nacionais”.<br />

Por isso, Peel propôs em 1937<br />

uma divisão que deixaria aos judeus um<br />

mini estado na costa entre Tel-Aviv,<br />

Haifa e o Lago Genesaré (Kineret),<br />

aproximadamente 1/5 da Palestina. O<br />

restante ficaria nas mãos dos árabes.<br />

Após algumas hesitações, David Ben<br />

Gurion concordou: “Os judeus seriam tolos<br />

se não concordassem mesmo se o país<br />

cedido a eles tivesse só o tamanho de<br />

uma toalha de mesa. Um estado judaico<br />

numa parte da Palestina não significa o<br />

fim, mas apenas um início”. Mas os árabes<br />

o rejeitaram. Eles não viam razão para<br />

entregar nem um palmo de terra e receavam<br />

que Ben Gurion quisesse só por “um<br />

pé na porta”, para mais tarde criar um<br />

Israel maior. A revolta recomeçara.<br />

De volta ao Muro das Lamentações —<br />

Em 1918, sob a vigilância de soldados<br />

britânicos, judeus rezam em Jerusalém<br />

no lugar mais sagrado de sua religião<br />

Os árabes ocuparam temporariamente<br />

numerosos vilarejos e cidades,<br />

e até por alguns dias Jerusalém. Os<br />

britânicos reagiram com muito vigor.<br />

Eles dinamitaram casas dos rebeldes e<br />

destruíram as plantações de cítricos.<br />

Mais de 100 árabes foram enforcados.<br />

Para evitar sabotagem nos trens, foram<br />

amarrados nas locomotivas os rebeldes<br />

e seus parentes. Na primavera<br />

de 1939 a revolta árabe fracassou. A<br />

revolta custou mais de 6 mil mortos.<br />

Seus líderes foram presos ou fugiram<br />

para o exterior. Parecia que a causa<br />

dos palestinos chegava ao fim. Aí o<br />

governo britânico novamente mudou<br />

seu curso político.<br />

A Europa estava ameaçada por uma<br />

segunda guerra mundial. Mais uma vez<br />

a Grã–Bretanha não podia se dar ao<br />

luxo de irritar os árabes. Porque sem o<br />

petróleo do Oriente Médio não se podia<br />

ganhar a guerra. “Subitamente os<br />

árabes passavam a contar estratégica<br />

e economicamente mais do que os colonos<br />

judeus”, assim escreveu Benny<br />

Morris. Uma nova declaração do governo<br />

de Londres chocou os judeus. Mesmo<br />

que seus irmãos fé fossem perseguidos<br />

pelos nazistas, eles só deixariam entrar<br />

nos 10 anos seguintes 75 mil judeus e<br />

depois, só tantos quantos os árabes<br />

concordassem, e ninguém mais.<br />

“O governo de sua majestade, está<br />

convicto que a Declaração Balfour não<br />

tinha a intenção de que a Palestina<br />

pudesse ficar contra a vontade de sua<br />

população árabe, ser transformada num<br />

Estado judeu”, assim dizia a frase principal<br />

dessa manifestação britânica. Os<br />

judeus juraram lutar contra essas medidas<br />

com toda sua força. Aí Hitler atacou<br />

a Polônia. A Segunda Guerra Mundial<br />

havia começado.<br />

Os árabes tinham esperança que a<br />

Alemanha de Hitler fosse vencer os<br />

ocupantes britânicos. Os judeus também<br />

viam os britânicos como uma pedra<br />

no caminho de seu próprio Estado.<br />

Mas a ameaça nazista contra seu próprio<br />

povo tinha mais peso em sua concepção.<br />

Por isso, Ben Gurion deu a palavra<br />

de ordem para os seis anos seguintes:<br />

“Os judeus vão lutar nesta<br />

guerra junto com a Grã–Bretanha como<br />

se a manifestação britânica não existisse.<br />

E lutar contra essa manifestação<br />

como se não existisse a guerra”.<br />

* Teja Fiedler escreve na revista semanal alemã Stern. O presente artigo foi<br />

publicado na edição nº 21 de 16/5/2002. Tradução, adaptação e compilação de<br />

Eugen Wilfried e Adelaide Sprenger


Não Matarás, óleo sobre tela, 1943, de<br />

Samuel Bak<br />

Jane Bichmacher de Glasman*<br />

Arte e Judaísmo<br />

conceito de arte judaica<br />

pode parecer, a alguns, uma<br />

contradição devido à proibição<br />

explícita do quarto<br />

mandamento: “Não farás<br />

para ti imagem de escultura,<br />

nem qualquer semelhança do que há em<br />

cima, nos céus, nem embaixo, na terra,<br />

nem nas águas abaixo da terra” (Êxodo<br />

20:4), que em Deuteronômio 4:16-8, ao<br />

proibir imagens esculpidas, particulariza<br />

em termos que não deixam lugar a<br />

ambigüidade: “à semelhança de macho<br />

ou fêmea, de qualquer animal que esteja<br />

na terra, de qualquer ave alada que<br />

voa nos céus, de qualquer peixe que esteja<br />

na água abaixo da terra.”<br />

O Refugiado, óleo sobre tela pintado em<br />

1939 por Felix Nusbaum<br />

Esta interdição, vista como antagônica<br />

a todo desenvolvimento artístico,<br />

implicaria numa visão muito estreita do<br />

escopo e funções da arte, pois nem toda<br />

arte é representativa e, mesmo nesta, existem<br />

motivos desvinculados de figura humana<br />

ou animal. O certo é que nem sempre<br />

foi interpretada assim, mesmo entre<br />

judeus mais observantes. O próprio Pentateuco,<br />

com as suas instruções detalhadas<br />

a respeito do querubim que seria colocado<br />

na Arca, sugere que a proibição do<br />

Decálogo deveria ser lida em conjunção<br />

com o versículo seguinte: “Não te curvarás<br />

ante elas e não as servirás” – isto é,<br />

que nenhuma imagem deve ser feita com<br />

o propósito de idolatria, tanto representando<br />

quanto substituindo a Divindade.<br />

Através da história judaica atitudes<br />

e interpretações variaram por regiões e<br />

gerações. Às vezes a proibição era total;<br />

em outras, chegava-se ao extremo<br />

oposto, incorporando figuras humanas<br />

até a objetos ritualísticos. Era mantida<br />

somente no que se refere a “imagens<br />

esculpidas” tridimensionais de seres<br />

humanos, isto é, bustos e estátuas. Estes<br />

só começam a aparecer nos séculos<br />

17 e 18, embora, mesmo no período clássico,<br />

ocorreressem algumas exceções<br />

significativas, como belos exemplos de<br />

mosaicos e afrescos em ruínas de sinagogas<br />

dos seis primeiros séculos e.c.,<br />

VISÃO JUDAICA • julho de 2003 • Av • 5763<br />

Holocausto e Arte<br />

como Dura Europos.<br />

Era também proibida a reprodução<br />

dos utensílios do Templo. Por extensão,<br />

não se poderia usar qualquer forma de<br />

arte em partes do culto religioso.<br />

No período medieval uma forma que<br />

possibilitou aos judeus expressão artística<br />

foi a dos manuscritos iluminados,<br />

com variados tipos de ilustração, dependendo<br />

da origem, por exemplo “páginas<br />

de tapete” entre os judeus de países islâmicos,<br />

ou figuras humanas (obviamente<br />

chinesas) em Meguilot (Rolos, livros<br />

bíblicos) usados pelos judeus da China.<br />

Uma forma comum era a micrografia, que<br />

consistia em escrever um texto em letras<br />

minúsculas formando uma figura. Um<br />

dos textos favoritos dos ilustradores era<br />

a Hagadá de Pessach, pois, sendo lida<br />

em casa não era levada à sinagoga, permitindo<br />

ao artista maior liberdade de<br />

criação. A invenção da imprensa marcou<br />

o fim da iluminura, embora tenha permanecido<br />

na decoração de Ketubot (contratos<br />

matrimoniais) e até nas primeiras<br />

versões impressas do Mahzor (livro de<br />

orações para Iamim Noraim).<br />

A atitude judaica era condicionada por<br />

duas forças opostas: repulsão e atração.<br />

O fato é que as artes foram desenvolvidas<br />

e acompanharam o percurso do povo judeu,<br />

em todas as formas de expressão.<br />

Objetos ritualísticos artísticos são usados<br />

no ciclo da vida judaica e adornam os lares,<br />

identificando-os desde sua entrada,<br />

com as mezuzot. Obras de artistas plásticos<br />

judeus figuram nos museus do mundo,<br />

além de crescerem os museus especificamente<br />

judaicos. A literatura em hebraico,<br />

idiomas e dialetos judaicos e outras<br />

línguas é a base da religião além de<br />

constituir a expressão da alma humana,<br />

através dos tempos. “A área de maior criatividade<br />

artística não foi a das artes plásticas,<br />

mas a de expressão sonora: música,<br />

canto e, em particular, a arte de contar<br />

histórias, porque nelas a imaginação foi<br />

capaz de voar livremente, sem limitações.”<br />

(Unterman, p.32)<br />

Todos estes aspectos marcam o testemunho<br />

da presença judaica no mundo,<br />

mesmo, ou principalmente, de onde fomos<br />

banidos, expulsos ou massacrados.<br />

Arte <strong>Judaica</strong> e Holocausto<br />

Este tema desdobra-se em inúmeras<br />

questões, desde o que foi preservado da<br />

arte judaica após o abalo apocalíptico<br />

nazista, o que foi produzido durante e<br />

como o Holocausto foi representado nas<br />

artes, por testemunhas, sobreviventes<br />

e pelos que não viveram pessoalmente.<br />

Há ainda o aspecto da múltipla representação<br />

artística, em todas as suas<br />

manifestações, das artes plásticas e<br />

visuais, como pintura, escultura, arquitetura<br />

e arte ritualística, até a literatura,<br />

hebraica, judaica e universal.<br />

O Prof. Salo Baron (1970) baseado<br />

num memorando quando convidado a depor<br />

no Processo Eichman em 1961 sobre<br />

as comunidades judaicas destruídas pelos<br />

nazistas, escreveu que: “Foi por reconhecer<br />

a importância cultural dos judeus que<br />

os nazistas, quase imediatamente após<br />

terem chegado ao poder, procuraram combatê-los<br />

intelectualmente.”Estabeleceram<br />

uma divisão especial de pesquisa judaica<br />

em Munique, no Reichsinstitut seguida<br />

pelo lnstitut zur Erforschuing der Judenfrage<br />

em Frankfurt, dirigido pelo ideólogo<br />

do movimento nazista, Alfred Rosenberg,<br />

que reuniu uma biblioteca judaica e<br />

hebraica para utilizar no ataque aos judeus<br />

e ao judaísmo, confiscando coleções<br />

francesas e alemãs, incluindo os arquivos<br />

Rothschild e a biblioteca da Alliance Israélite<br />

Universelle. Com a expansão da Nova<br />

Ordem, os alemães estabeleceram instituições<br />

similares para o estudo da “questão<br />

judaica” em Paris e em Lodz. Sob a pressão<br />

nazista, a Itália criou instalações, em<br />

1942, para o estudo da raça e das questões<br />

judaicas nas universidades de Florença,<br />

Bolonha, Trieste e Milão.<br />

É difícil ser preciso acerca das perdas<br />

totais judaicas na Europa, pois os<br />

alemães destruíram não só o povo, mas<br />

também os documentos em que cálculos<br />

mais apurados poderiam ter-se baseado.<br />

A maioria das estimativas converge ao<br />

redor de seis milhões de judeus mortos,<br />

número citado no processo dos criminosos<br />

de guerra em Nuremberg.<br />

A tragédia foi maior onde a vida<br />

comunitária cultural judaica era mais<br />

florescente. Tesouros culturais seculares,<br />

3000 Kehilot e suas instituições<br />

desapareceram. Grandes escolas de instrução<br />

superior, jornais, revistas, editores<br />

e centros artísticos foram arrasados.<br />

Além da enorme porcentagem de<br />

judeus mortos durante a Shoá, sua elite<br />

intelectual estava tão dizimada, que<br />

sobreviventes procurando realizar algo,<br />

estavam privados de seus líderes, fossem<br />

rabinos, literatos ou eruditos.<br />

Atualmente o mundo tem participado<br />

das pesquisas e debates sobre os<br />

tesouros roubados pelos nazistas, além<br />

do resgate (?) dos mesmos e da questão<br />

das indenizações. Mas seria possível<br />

atribuir qualquer tipo de valor material<br />

à arte perdida, roubada ou destruída?<br />

E a vida humana: tem preço?<br />

Parece-me mais que óbvio que não.<br />

Outra questão, mais complexa a meu<br />

ver, é tentar compreender: como no seio<br />

da barbárie, conseguia a alma humana<br />

criar, pintar, escrever e até cantar?<br />

A Fênix <strong>Judaica</strong>: Arte e Cinzas<br />

Em um artigo sobre o Museu de Arte<br />

do Holocausto, parte do Yad Vashem,<br />

Yehudit Inbar escreveu que durante o<br />

Holocausto, artistas registraram o que<br />

testemunhavam e sentiam em sucatas de<br />

papel, usando lápis, carvão ou qualquer<br />

coisa que servisse para esboçar uma linha.<br />

É difícil entender de onde eles tiravam<br />

força psicológica para serem criativos,<br />

quando sua preocupação precípua<br />

era a sobrevivência imediata. Como eles<br />

reuniram força expressiva que irrompe tão<br />

poderosamente dos seus esboços desesperados?<br />

Como tal arte foi produzida na<br />

escuridão daquele período de horror?<br />

Para alguns artistas a arte era um<br />

modo de descrever o que eles e os ao<br />

seu redor viam e vivenciavam. Sendo a<br />

arte a única ferramenta documental<br />

com a qual eles estavam familiarizados,<br />

usaram-na para aquele fim.<br />

Para outros, a arte foi um mecanis-<br />

mo que tornou a sobrevivência<br />

psicológica possível.<br />

Era o seu modo pessoal<br />

de confrontar-se com<br />

a crise que os tinha acometido.<br />

Alguns pintaram o<br />

passado, para escapar do<br />

presente por alguns momentos<br />

passageiros; outros<br />

pintaram para o futuro.<br />

Todas estas obras de<br />

arte têm uma qualidade notável, a<br />

maioria manifesta no seu dualismo de<br />

força e fragilidade.<br />

O Museu de Arte de Yad Vashem possui<br />

a maior coleção de Arte do Holocausto<br />

no mundo. Arte criada<br />

predominantemente por<br />

artistas judeus que viveram<br />

sob a ocupação alemã, em<br />

cidades, guetos e campos de<br />

concentração durante a Segunda<br />

Guerra. Seu testemunho<br />

permite, embora brevemente,<br />

que nos aproximemos<br />

de uma realidade que é<br />

tão freqüentemente descrita<br />

como indescritível. Estes<br />

esboços, desenhos e pinturas<br />

são acima de tudo a manifestação<br />

de uma das formas<br />

mais altas de heroísmo, um gesto<br />

de desafio que proclama o triunfo do<br />

espírito. Arte criada em condições onde<br />

a simples tarefa de encontrar materiais<br />

era uma realização maior e onde<br />

habilidades eram usadas para sobreviver<br />

é uma afirmação do ímpeto<br />

criativo tão forte que não<br />

sucumbiu sob as condições mais<br />

atrozes. Para muitos, tal coragem<br />

custou suas vidas. A preservação<br />

destas obras de arte assume<br />

uma feição milagrosa, bem<br />

como sua recuperação.<br />

O próximo dia 19 de agosto<br />

(21 de Av) marca 50 anos da fundação<br />

do Yad Vashem. Envie felicitações<br />

para o e-mail international.relations@yadvashem.org.il<br />

E visite o Museu on-line http://<br />

www.yadvashem.org.il<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

UNTERMAN, Alen. Dicionário Judaico de Lendas<br />

e Tradições. RJ: Zahar, 1992.<br />

BARON, Salo. História e Historiografia. SP,<br />

Perspectiva, 1974.<br />

ENCICLOPÉDIA JUDAICA. RJ, Ed. Tradição, 1967.<br />

INBAR, Yehudit. Art in the Face of Adversity:<br />

The New Museum of Holocaust Art. Copyright<br />

©2001 Yad Vashem The Holocaust Martyrs’ and<br />

Heroes’ Remembrance Authority http://<br />

www.yadvashem.org.il<br />

The Art Institute of Chicago. Eileen Harakal,<br />

Executive Director of Public Affairs Copyright © 2000<br />

* Jane Bichmacher de Glasman é<br />

doutora em Língua Hebraica,<br />

Literaturas e Cultura <strong>Judaica</strong>-USP,<br />

professora adjunta, fundadora e exdiretora<br />

do Programa de Estudos<br />

Judaicos–UERJ, professora e<br />

coordenadora do Setor de Hebraico-<br />

UFRJ (aposentada), coordenadora do<br />

Grupo de Estudos Beer Miriam–ARI e<br />

escritora. (janebg@hotmail.com ou<br />

janeglasman@terra.com.br)<br />

13<br />

Taleskpten, técnica<br />

mista (guache, carvão<br />

e crayon sobre papel)<br />

pintado em 1944 por<br />

Zinovvi Tolkatcher<br />

Em memória aos<br />

tchecos<br />

transportados para<br />

as câmaras de gás,<br />

1945, carvão, de<br />

Yehuda Bacon<br />

Resgate de um<br />

ferido, pintado<br />

em tinta sobre<br />

papel, em 1943<br />

por Alexander<br />

Bogen<br />

Telas da coleção<br />

do Museu de Arte<br />

do Holocausto<br />

do Yad Vashem,<br />

em Jerusalém


14<br />

VISÃO JUDAICA • julho de 2003 • Av • 5763<br />

Dalton Catunda Rocha *<br />

Supremo Tribunal Federal decidiu<br />

em definitivo. O escritor<br />

gaúcho Siegfried Ellwanger foi<br />

condenado por crime de racismo.<br />

Tal figura, que costuma assinar<br />

os livros que escreve sob o<br />

pseudônimo S. E. Castan foi condenado<br />

em definitivo. Reconheço que o julgamento<br />

não acabou, por causa do pedido<br />

de vistas do processo, por parte de<br />

um dos novos juízes do STF. Ainda assim,<br />

o pseudo-historiador Ellwanger já foi condenado.<br />

A maioria absoluta dos juízes do<br />

STF já o condenou. Como disse antes, não<br />

cabe recurso a esta condenação. O julgamento<br />

não terminou, mas a maioria absoluta<br />

dos juízes condenou Ellwanger.<br />

Criou-se uma jurisprudência. A discriminação<br />

contra grupo religioso, agora é<br />

considerada racismo no Brasil.<br />

Argumentavam os advogados de<br />

Ellwanger, que judeus não são uma raça.<br />

Há judeus pretos, brancos, mulatos. Judeus<br />

são um grupo religioso e não racial.<br />

Ainda assim, todas as instâncias da justiça<br />

brasileira decidiram, pela condenação<br />

do pseudo-historiador Ellwanger. Decidiram<br />

eles que ao publicar livros, com<br />

fatos falsos e absurdos sobre a História<br />

judaica, Ellwanger cometeu crimes de racismo.<br />

Ainda não sendo os atingidos de<br />

uma raça, mas de um grupo religioso,<br />

Ellwanger foi condenado. E a condenação<br />

é definitiva, sem recurso.<br />

Se o mesmo critério, de condenar pessoas<br />

pelo fato delas difundirem farsas<br />

absurdas e caluniosas, sobre povos,<br />

Ellwanger teria que ser seguido por muitas<br />

centenas de pseudo-historiadores.<br />

Ellwanger não é nem de longe, o único<br />

caluniador de povos que tem por aí.<br />

Exemplo de caluniadores de povos,<br />

são aqueles, que “garantem” que os brasileiros<br />

massacraram mais de 1 milhão de<br />

paraguaios, na guerra do Paraguai. Na<br />

verdade, a população paraguaia, antes do<br />

início daquela guerra, sequer chegava a<br />

300 mil almas. Outra maluquice é a transformação<br />

de Solano Lopez, em herói e<br />

figura a ser admirada, até mesmo por<br />

descendentes de parte das vítimas deles,<br />

os brasileiros. O supostamente heróico<br />

Solano Lopez, dentre outros feitos, mandou<br />

prender e torturar a própria mãe. Para<br />

completar, mandou matar dois cunhados,<br />

por imaginárias traições. Livros que se<br />

dizem didáticos dizem, que o Brasil entrou<br />

em guerra contra o Paraguai, a fim<br />

de agradar os imperialistas britânicos. Na<br />

verdade, o Brasil entrou em guerra, contra<br />

Lopez, não para agradar os imperialistas<br />

britânicos, mas sim devido à não<br />

provocada invasão de nosso território.<br />

Há outros caluniadores de povos, que<br />

preferem caluniar com base em farsas, da<br />

História recente. Um exemplo são as dúzias<br />

de caluniadores, que garantiram que<br />

quem havia armado o Iraque, tinham sido<br />

os americanos. Na verdade, menos de 1%<br />

do arsenal do deposto ditador Saddam<br />

Hussein, era de origem americana. A<br />

maioria absoluta era de origem soviéti-<br />

Discípulos de Ellwanger<br />

ca. A França vinha em segundo lugar.<br />

Usando o mesmo critério, de calunia<br />

a povos, Ellwanger ficaria cercado<br />

de centenas de companheiros<br />

de pena. Brasileiros e americanos,<br />

não são raças, mas sim povos. Há<br />

brasileiros e americanos brancos,<br />

negros, mulatos, etc.<br />

Mesmo no caso de calúnias diretas<br />

ou indiretas aos judeus, Ellwanger<br />

tem muitos discípulos. A maioria<br />

destes discípulos gosta de caluniar<br />

Israel e os judeus que vivem<br />

nele. A maioria das mentiras dirigidas<br />

contra Israel é indireta.<br />

A maioria liga-se ao suposto tratamento<br />

dado aos palestinos pelos<br />

governos de Israel. Sempre quando<br />

um palestino, mesmo com uma ficha<br />

quilométrica de crimes terroristas,<br />

contra judeus, é eliminado ou<br />

sofre ferimentos, a maioria da mídia<br />

brasileira anuncia.<br />

Quando muçulmanos massacram<br />

em massa, outros muçulmanos ou<br />

não muçulmanos, a maioria da mídia<br />

brasileira cala a boca. Sim, o finado<br />

ditador Hafez Assad da Síria, mandou<br />

massacrar toda a população de<br />

uma cidade síria por uma rebelião<br />

contra ele. Quando tal ditador morreu<br />

no poder, não vi nenhum grande<br />

jornal brasileiro que lembrasse este<br />

fato da vida de Assad.<br />

Quando este ou aquele palestino<br />

é morto, a mídia anuncia em coro.<br />

Ao lado disto, há um silêncio sepulcral<br />

sobre a escravidão de negros, por<br />

parte de muçulmanos no Sudão. Quando<br />

o regime talebã no Afeganistão<br />

decretou pena de morte a crianças<br />

que soltassem pipas ou mulheres que<br />

pintassem as unhas, mal se falou<br />

nisto. Toda vez que Israel resolve<br />

controlar, com toque de recolher, os<br />

palestinos, a mídia tece imensos<br />

comentários. É aquilo que George<br />

Orwell, em seu livro “1984”, chamou<br />

de duplipensar, se manifesta.<br />

Um exemplo do ódio da maioria<br />

da imprensa brasileira, a Israel é o<br />

eterno enfoque aos tiros e bombas,<br />

que de fato ocorrem por lá. Considerando-se<br />

as mortes totais de pessoas,<br />

por causas violentas, em Israel e territórios<br />

palestinos, tenho que dizer<br />

que Israel é muito mais calmo que o<br />

Rio de Janeiro. A revista “Força Aérea”<br />

nº 31, que está nas bancas atualmente,<br />

mostra que para o mesmo<br />

período de tempo, houve mais de quatro<br />

vezes mais mortes violentas no Rio<br />

de Janeiro, que em Israel mais Gaza e<br />

Cisjordânia. Quem duvide que leia a<br />

página 101, da referida revista. O autor<br />

do artigo é Carlos Lorch. A mídia<br />

simplemente recusa-se a dizer, que o<br />

Exército de Israel é uma criança inocente,<br />

comparado ao comando vermelho<br />

(CV) ou ao terceiro comando. Ambos<br />

vampiros insaciáveis, tanto o CV,<br />

como o terceiro comando, não têm<br />

em geral, qualquer cuidado na escolha<br />

de quem vão matar.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

No entanto, a maioria da imprensa<br />

brasileira condena sempre Israel.<br />

Sempre destaca aquele país, como se<br />

ele fosse o mais violento do mundo.<br />

O que é uma clara mentira. E difundida<br />

como se fosse verdade. Israel é<br />

muitas vezes mais calmo que o Brasil,<br />

embora jamais eu vi nenhum telejornal<br />

importante dizer isto.<br />

Um outro exemplo recente foi o<br />

ataque terrorista à maior cidade judaica<br />

do mundo, Nova York em 11/<br />

09/2001. Mais de 3.600 mortos, sendo<br />

muitos deles judeus. Ainda assim,<br />

não faltaram aqueles que “garantiram”<br />

serem as vítimas, os verdadeiros<br />

culpados. Quando a reação americana<br />

começou, um político brasileiro,<br />

chamou tal reação de “injusta<br />

agressão ao povo afegão”.<br />

Mais recentemente, um outro conhecido<br />

político brasileiro, declarou<br />

que o terrorismo se deve à fome. Como<br />

se Osama Bin Laden não fosse filho<br />

de um bilionário saudita, tendo Bin<br />

Laden herdado várias centenas de milhões<br />

de dólares.<br />

O mesmo conhecido político resolveu<br />

reagir com todo um palavrório<br />

contra a invasão americana ao Iraque<br />

de Saddam Hussein. Vale lembrar que<br />

o curriculum vitae de Saddam é horroroso.<br />

Saddam mandou jogar gás venenoso<br />

contra seu próprio povo, invadiu<br />

e massacrou iranianos, Saddam<br />

mandou enforcar em massa judeus em<br />

praças públicas do Iraque, Saddam<br />

torturou e matou pessoalmente judeus,<br />

etc. No entanto, segundo este<br />

conhecido político brasileiro, os americanos<br />

tinham que ter o aval da ONU<br />

VJ INDICA<br />

LIVRO<br />

para depor o anti-semita Saddam.<br />

Nunca uma pessoa viu este mesmo<br />

político brasileiro exigir aval da ONU<br />

para a então URSS invadir a Hungria<br />

(1956), a Tchecoslováquia (1968) ou o<br />

Afeganistão (1979). Este mesmo político<br />

brasileiro jamais exigiu aval da<br />

ONU para Fidel Castro financiar e armar<br />

guerrilhas no Brasil, Uruguai, Bolívia,<br />

Argentina, Chile, Venezuela, etc.<br />

Quando Fidel Castro enviou ajuda à Síria<br />

na guerra contra Israel, em 1973,<br />

não houve nenhuma resolução da ONU<br />

apoiando isso. No entanto, este político<br />

não exigiu de Fidel nenhuma resolução<br />

da ONU para nenhuma das várias<br />

intervenções patrocinadas pelo mais<br />

antigo ditador do mundo ao longo de<br />

mais de 44 anos de ditadura. Pelo contrário,<br />

todos sabem que este político<br />

brasileiro é o maior amigo de Fidel Castro<br />

no mundo inteiro. Pelo que dá entender<br />

este político, não é necessário<br />

que nenhum país inimigo de Israel tenha<br />

aval da ONU para intervir em qualquer<br />

outro país. Quando se deseja depor<br />

um inimigo de Israel, tem que haver<br />

aval da ONU para tal. Dois pesos e<br />

duas medidas: ambos contra Israel.<br />

Ellwanger não faria melhor.<br />

Concluindo: há menos o que comemorar<br />

com a condenação definitiva<br />

de Ellwanger do que se pensa. Gente<br />

tão mentirosa quanto o pseudo-historiador<br />

Ellwanger está por aí. Esta gente<br />

repete todos os dias um monte de farsas<br />

contra Israel. Eles difundem a farsa<br />

de um Israel cruel, malvado, violento<br />

e etc. Não poucos desses mentirosos<br />

são pessoas respeitadas, poderosas<br />

e em altos postos.<br />

* Dalton Catunda é engenheiro-agrônomo desempregado.<br />

E-mail:dalton@fortalnet.com.br<br />

Guia dos Perplexos<br />

Maimônides - Editora Sêfer<br />

O pensamento de Maimônides, o grande Rambam, talmudista, filósofo,<br />

codificador de leis, matemático e médico que<br />

viveu de 1135 a 1204, passa a fazer parte da coleção<br />

Clássicos da Editora Sêfer através desta edição<br />

única, uma obra compilada e comentada dos temas<br />

que compõem o famoso Guia dos Perplexos. O<br />

trabalho desvenda de maneira fascinante as relações<br />

que Maimônides estabelece entre filosofia e<br />

judaísmo. Profundo e acessível a um só tempo,<br />

apresenta a razão como caminho que leva o<br />

homem a D-us.<br />

A iniciativa encontrou obstáculos, mas o saber<br />

ímpar do genial Rambam prevaleceu e, graças<br />

a ele, estudiosos e leitores interessados puderam,<br />

século após século, compreender a verdade<br />

que tece os nítidos vínculos entre razão e<br />

religião. O lançamento desta edição especial de O<br />

Guia dos Perplexos em português permite que, a partir de agora,<br />

também o público brasileiro desfrute, explore e discuta as idéias e conceitos<br />

de um dos maiores luminares intelectuais da Humanidade – formulações<br />

tão atuais hoje quanto há 800 anos, quando foram escritas.


Melancólico fim de<br />

uma era romântica<br />

Marcos Wasserman*<br />

Como todo bom judeu da minha geração também<br />

nasci no Bom Retiro. Fui aluno do Renascença,<br />

na época da 2ª Guerra Mundial. Da minha casa até a<br />

escola era uma boa caminhada, talvez uns dois quilômetros.<br />

O caminho era cheio de perigos. Bandos<br />

de moleques, entre eles filhos de lituanos e de outros<br />

imigrantes, atacavam os meninos judeus, por<br />

mero divertimento, ou para roubar a lancheira, ou<br />

alguns míseros centavos que levávamos no bolso.<br />

Ao término da guerra o Bom Retiro regurgitava<br />

de jovens que ativavam em diferentes movimentos<br />

sionistas. O trauma do Holocausto e a proclamação<br />

do Estado de Israel foram dois acontecimentos que<br />

causaram uma verdadeira revolução na vida judaica.<br />

Para começar os jovens se organizaram, e os<br />

perseguidos até então limparam as ruas do Bom<br />

Retiro dos jovens hooligans anti-semitas. A proclamação<br />

do Estado de Israel insuflou em todos<br />

um misto sentimento de orgulho e de segurança.<br />

O regozijo era enorme como se o próprio Messias<br />

tivesse chegado.<br />

Alguém se lembra da enorme manifestação realizada<br />

no Estádio do Pacaembu, (sim em pleno Estádio)<br />

onde milhares e milhares de judeus se aglomeravam<br />

nas arquibancadas; e na pista, que marginava<br />

o Campo de Futebol, desfilavam os jovens<br />

dos movimentos sionistas, judeus que chegaram<br />

de todos os cantos do Estado de São Paulo, desfilando<br />

em delegações de todas as cidades, Santos,<br />

Sorocaba, Itu, Ribeirão Preto, Santo André, São<br />

Bernardo etc. etc.<br />

Quando o primeiro navio israelense o Theodor<br />

Herzl, encostou no cais do porto de Santos, um<br />

público enorme invadiu o navio e quase o depredaram,<br />

pois cada um queria levar consigo uma lembrança,<br />

como se cada objeto que ali se encontrava<br />

fosse um pedacinho de Israel.<br />

A apoteose foi à chegada do primeiro Embaixador<br />

de Israel no Brasil, e o coração dos judeus paulistas<br />

se expandiu de felicidade, no dia em que foi<br />

inaugurado o Consulado de Israel em São Paulo.<br />

Mais de meio século depois o Consulado de Israel<br />

em São Paulo está sendo fechado. Decisão<br />

tomada em Israel, por alguns burocratas por questões<br />

orçamentárias, decisão sancionada pelo Ministro<br />

do Exterior de Israel. Uma decisão merecedora<br />

de todas as críticas possíveis e imaginárias.<br />

A comunidade judaica paulista, em sua maioria,<br />

mantém-se apática e indiferente a tão triste<br />

acontecimento. Tirando algumas tímidas cartas e<br />

modestos abaixo-assinados não houve nenhuma<br />

outra reação mais séria.<br />

Quem “ganha” com o fechamento do Consulado?<br />

Do lado israelense os funcionários frios e indiferentes<br />

cumpriram ciosamente com a sua tarefa<br />

de fazer cortes no orçamento. Do lado judaico<br />

paulista “ganhou” a corrente cuja linha de pensamento,<br />

entre outras, enfatiza pugnar pela continuidade<br />

do povo judeu, desvinculada de Israel. Não<br />

foi obra do acaso a discussão se deveriam ser mudados<br />

os nomes das entidades denominadas “israelitas”,<br />

para “judaicas”.<br />

Quem perdeu? Na realidade muito são os que perderam.<br />

Israel perde um importante Consulado, na mais<br />

importante cidade da América Latina. A comunidade<br />

fica órfã como se tivesse perdido um pai.<br />

O fechamento do Consulado de Israel simboliza<br />

o fim de uma era. O fim melancólico em São<br />

Paulo, da era romântica do Sionismo.<br />

* Marcos Wasserman é advogado e presidente do<br />

Centro Cultural Israel-Brasil em Tel Aviv.<br />

Email: mlwadvog@netvision.net.il<br />

• Na’Amat Pioneiras convida a<br />

comunidade para a inauguração<br />

da sala Bella Chamecki Glock<br />

z“l, no Cip, dia 3 de agosto<br />

(domingo) as 17h. Homenagem<br />

merecida a esta Pioneira.<br />

• Em comemoração ao Dia dos<br />

Pais, a Wizo programou para o<br />

dia 2 de agosto um jantar jogo<br />

(de cartas) no CIP, com sorteio<br />

de prêmios para os pais<br />

presentes.<br />

Em 2002 o seminário foi muito animado<br />

Fotos: Szyja Lorber<br />

• De 15 a 17 de agosto estará<br />

acontecendo o 3º Seminário do<br />

Beit Chabad de Curitiba, no<br />

Mata Atlântica Park Hotel. Este<br />

ano o tema será “Saúde e<br />

judaísmo: meu corpo e minha<br />

alma”. O renomado Rabino<br />

Avraham Beuthner, do Rio de<br />

Janeiro, estará conosco para<br />

falar sobre: “Energização<br />

positiva do corpo”, “Shabat e o<br />

judeu cardíaco”, “Alegria: terapia<br />

mística anti-stress”,<br />

“Alimentação saudável conforme<br />

Maimônides” e muito mais neste<br />

fim-de-semana em meio à<br />

natureza e toda a infra-estrutura<br />

do hotel, com atividades<br />

especiais para as crianças, além<br />

do encontro de novos e velhos<br />

amigos. Reservas e informações<br />

no Beit Chabad, tel. 243-0818 e<br />

244-8266.<br />

• Fani Lerner, ex-secretária da<br />

Criança e Assuntos da Família<br />

do Paraná, será homenageada<br />

em com o Prêmio Hanna Neil,<br />

oferecido pela<br />

organização<br />

americana<br />

World of<br />

Children. A<br />

premiação é a<br />

mais importante<br />

do mundo na<br />

área de ação<br />

Fani Lerner social para a<br />

saúde e o<br />

desenvolvimento das crianças. É<br />

a primeira vez que uma<br />

brasileira receberá esta<br />

homenagem. Fani foi<br />

selecionada entre 140<br />

candidatos de vários países de<br />

todos os continentes. A<br />

cerimônia de premiação será de<br />

VISÃO JUDAICA • julho de 2003 • Av • 5763<br />

18 a 20 de novembro, em<br />

Columbus, Ohio, cidade sede da<br />

World of Children. Não é todo o<br />

dia que um paranaense recebe<br />

homenagem desse quilate. Em<br />

qualquer outro estado brasileiro,<br />

teríamos um mês de<br />

comemorações. Aqui, silêncio e<br />

autofagia. Shalom Fani, você<br />

merece!<br />

• A coluna da jornalista Ruth<br />

Bolognese do dia 1º/7 em “O<br />

Estado do Paraná” errou na nota<br />

com o título ”Pragmatismo”<br />

quando afirmou que o Jornal<br />

Israelita do Paraná é “tradutor da<br />

opinião da colônia”. Não é. Nem<br />

nós somos! Todos sabem que<br />

ninguém da comunidade recebe<br />

essa publicação desde que seu<br />

fundador Ben Ami Saltz faleceu,<br />

embora vez por outra continue<br />

sendo impresso e usando o<br />

nome da colônia. O que se<br />

estranha é o silêncio e a falta<br />

de uma resposta dos dirigentes<br />

da comunidade israelita a<br />

respeito. Dizem que quem cala,<br />

consente...<br />

• No dia 9 de agosto, Alex<br />

Grupenmacher lerá a haftará de<br />

Shabat, em honra do seu Bar<br />

Mitzvá. Aos pais, Betina e<br />

Francisco, a coluna deseja<br />

muitas “naches” do filho.<br />

• Martha e Mauricio Schulman<br />

comemoraram 46 anos de<br />

casados. Mazal Tov.<br />

• No período de 19 a 22 de junho<br />

nosso time de futsal esteve no<br />

Rio de Janeiro participando da<br />

Seletiva de Futsal para os X<br />

Jogos Pan-americanos<br />

Macabeus que serão realizados<br />

em Santiago no Chile em<br />

dezembro de 2003. Os<br />

resultados alcançados foram<br />

excelentes. Ficamos com a 2ª<br />

colocação nas duas categorias<br />

que participamos. Obtivemos<br />

sucesso também nas<br />

convocações: André Camlot foi<br />

convocado para jogar na<br />

categoria Júnior, o atleta Pedro<br />

London foi convocado para a<br />

categoria Juvenil, o professor<br />

Gustavo Meier Brasil foi<br />

convocado para a Comissão<br />

Técnica da categoria Juvenil.<br />

• De 28 de julho a 1º de agosto o<br />

CIP estará organizando a 2ª<br />

Colônia de Férias da Kehilá<br />

para crianças de 4 a 7 anos.<br />

Horário: das 14 às 18h. Preço:<br />

R$ 80,00 Informações na<br />

secretaria do clube.<br />

• No dia 7/7 aconteceu encontro<br />

de confraternização do Grupo<br />

Apoio, no salão de festas do<br />

casal Alegre e Felipe Bronfman.<br />

Apresentou-se o Grupo<br />

15<br />

Tunguendesse (Vem nos guiar)<br />

de Angola. O grupo original<br />

compõe-se de oito elementos,<br />

mas nesta noite apresentaramse<br />

seis. Cantaram musicas em<br />

dialetos angolanos. Todos os<br />

componentes do grupo estão<br />

estudando em universidades<br />

curitibanas. Encontro alto astral<br />

e o ingresso, como sempre, foi<br />

material de limpeza para o<br />

Instituto Paranaense de Cegos.<br />

Nelson Barbalat e Isac Nudelman<br />

• Terminado o mandato de Isac<br />

Nudelman frente à direção da<br />

Escola Israelita, aliás, numa<br />

bela gestão, assume Nelson<br />

Barbalat, encabeçando a equipe<br />

e sua diretoria: Ilana Lerner<br />

Hofmann, Sally Reich, Silviane<br />

Sasson Hass e o Joel Ilan<br />

Paciornik, acompanhando a<br />

distância e integrando a equipe<br />

no início do ano que vem. Os<br />

membros da atual diretoria<br />

foram convidados a somar com<br />

a nova equipe e a Esther deverá<br />

ter participação mais<br />

efetiva. Boa sorte a todos e<br />

contem com <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong>.<br />

• Com o tema “Os desafios de<br />

Israel hoje” Yoel Schwartz que<br />

esteve em Curitiba dia 3 de<br />

julho<br />

ministrou<br />

palestra no<br />

Centro<br />

Israelita do<br />

Paraná<br />

(CIP), em<br />

evento<br />

promovido<br />

pelo Eitan.<br />

Yoel é<br />

sheliach da<br />

Yoel Schwartz<br />

Sochnut e<br />

trabalha na<br />

Congregação Israelita Paulista.<br />

Foi madrich do machon le<br />

madrichim. Na manhã do<br />

mesmo dia ele esteve na escola<br />

conversando com as crianças.<br />

• O Dror fará realizar a machané<br />

local de 14 a 18 de julho, para<br />

crianças de 9 a 13 anos, que<br />

freqüentam o movimento e o<br />

preço será de R$ 160,00. De 23<br />

a 31 de julho acontecerá<br />

machané central, para jovens a<br />

partir de 14 anos, com um custo<br />

de R$ 360,00. Maiores<br />

informações no Dror.


16<br />

VISÃO JUDAICA • julho de 2003 • Av • 5763<br />

OLHAR<br />

HIGH-TECH<br />

Israel ajudará o ‘Fome Zero´<br />

O Instituto Weizmann de Ciências, de Israel,<br />

vai participar do programa Fome<br />

Zero. Um convênio de cooperação mútua<br />

com o governo brasileiro para a transferência<br />

de conhecimentos tecnológicos nas<br />

áreas agrícola e de energia, será assinado<br />

este ano, com investimento israelense<br />

que pode chegar a US$ 500 mil. Arie<br />

Zehavi, vice-presidente de assuntos internacionais<br />

e relações-públicas para<br />

América Latina do Instituto Weizmann,<br />

disse que o instituto vai ajudar o Brasil<br />

no combate à fome através de técnicas<br />

agrícolas de última geração. “São técnicas<br />

modernas de adaptação de produtos<br />

alimentícios a terrenos áridos”. Cientistas<br />

israelenses trabalharão em conjunto<br />

com brasileiros para transferir conhecimentos<br />

científicos, especialmente na área<br />

de engenharia genética. O Instituto Weizmann<br />

também está oferecendo ao Brasil<br />

técnicas para aproveitamento de energia<br />

solar para abastecer populações que não<br />

recebem energia elétrica.<br />

Fome Zero 2<br />

Zehavi chega ao Brasil no dia 4 de agosto.<br />

Pretende agendar junto ao governo brasileiro<br />

a data de assinatura do convênio entre<br />

o presidente do instituto israelense, Ilan<br />

Chet, e representantes do programa Fome<br />

Zero. Segundo Zehavi, o instituto considera<br />

o combate à fome uma “causa nobre”.<br />

Na ocasião da assinatura entre os dois países,<br />

Lula receberá do Instituto Weizmann<br />

o prêmio de ciências e humanidades, uma<br />

honraria já entregue a vários líderes mundiais,<br />

mas pela primeira vez será dada a<br />

um representante do Brasil. “´É uma homenagem<br />

ao presidente Lula pela iniciativa<br />

de combate e erradicação da fome no país,<br />

que deve servir de exemplo para o mundo.<br />

Gostaríamos de oferecer o prêmio durante<br />

uma possível visita [de Lula] a Israel, mas<br />

ainda não há confirmação de que isto aconteça”,<br />

afirmou Zehavi.<br />

Produto contra o Sars<br />

A empresa israelense Medex Screen saiu<br />

na frente na luta contra a Síndrome de<br />

Imunodeficiência Respiratória (Sars) e desenvolveu<br />

um produto que poderá identificar<br />

a moléstia em seus estágios iniciais,<br />

fornecendo, ainda, o diagnóstico em dez<br />

minutos. Os primeiros testes já foram realizados<br />

em pacientes internados num hospital<br />

de Cingapura. Fundada na cidade de<br />

Dimona em 1999, a Medex Screen tem se<br />

dedicado ao desenvolvimento de instrumentos<br />

não invasivos que permitam a detecção<br />

de males nos órgãos internos.<br />

Senac e Sapir College<br />

O Senac de São Paulo e o Sapir College, de<br />

Israel, firmam um acordo co-patrocinado<br />

pelas câmaras de comércio e indústria Brasil-Israel<br />

e Israel-Brasil. O objetivo é o<br />

intercâmbio de tecnologias educacionais,<br />

visitas de professores entre as diversas faculdades<br />

do Senac São Paulo e do Sapir<br />

College, troca de experiências entre profissionais<br />

e educadores de ambas instituições<br />

e convênios para projetos especiais,<br />

principalmente nas áreas de Meio Ambiente,<br />

Fotografia, Informática e Comunicações.<br />

Abram Szajman, presidente da Federação<br />

do Comércio do Estado de São Paulo,<br />

e Tzvi Chazan, presidente da Câmara<br />

de Comércio e Indústria Israel-Brasil, assinaram<br />

o acordo, na presença de Luiz<br />

Francisco de Assis Salgado, diretor regional,<br />

e Luiz Carlos Dourado, superintendente<br />

de Desenvolvimento, ambos do Senac<br />

São Paulo; Nelson Grunebaum e Jayme<br />

Pasmanik, vice-presidentes, e Francisco<br />

Gotthilf, diretor, da Câmara Brasil-Israel<br />

de Comércio e Indústria.<br />

Uma pílula-câmera I<br />

Pacientes com problemas<br />

estomacais e<br />

intestinais cansados<br />

de fazer exames<br />

“desconfortáveis”<br />

como endoscopia já<br />

podem respirar aliviados.<br />

A empresa<br />

israelense Given<br />

Imaging está fazendo<br />

sucesso com a M2A, pílula usada para<br />

diagnosticar problemas de saúde nos estômagos<br />

e intestinos de pacientes em<br />

todo o mundo. Segundo a empresa, até<br />

agora, cerca de 40 mil pessoas já usaram<br />

a pílula sem problemas. Uma das organizações<br />

mais criteriosas para aprovação de<br />

medicamentos, a Food and Drug Administration<br />

(FDA), deu sinal verde para a adoção<br />

da M2A nos Estados Unidos, que usa<br />

a pílula em exames desde 2002. O modo<br />

de funcionamento da M2A é bem simples:<br />

o paciente engole a cápsula, que contém<br />

uma minúscula “câmera”. O transmissor<br />

dentro da cápsula envia as imagens para<br />

um computador que a exibe aos médicos<br />

para análise e diagnósticos.<br />

Pílula-câmera II<br />

A M2A não é muito maior que uma aspirina,<br />

com cerca de 11mm x 26mm e 4<br />

gramas de peso. Apesar de bem pequena,<br />

ela inclui uma fonte de luz, bateria, um<br />

transmissor e uma antena. Depois de feito<br />

o exame, a M2A é expelida naturalmente<br />

e nunca é absorvida pelo corpo.<br />

Para receber as imagens, o paciente usa<br />

um gravador wireless de dados e imagens,<br />

que fica preso ao seu corpo como um cinto,<br />

bastante similar à um walkman portátil.<br />

Os sinais enviados informam a trajetória<br />

da pílula dentro do organismo, sem<br />

causar nenhuma dor ou desconforto ao<br />

paciente, que pode continuar com suas<br />

atividades normais enquanto a câmera<br />

trabalha internamente e os sensores do<br />

cinto gravam os dados recebidos. O processo<br />

dura cerca de oito horas.<br />

Pílula-câmera III<br />

Depois, um computador com software apropriado<br />

processa os dados e produz um vídeo<br />

que alia as imagens às informações de<br />

cada região gravada. Com estes dados, os<br />

médicos podem ver, editar e gravar as imagens<br />

produzidas pela cápsula. Há informações<br />

de que o Hospital Albert Einstein, em<br />

São Paulo, já trabalha com esta cápsula.<br />

Considerando a alta tecnologia, custa algo<br />

em torno de US$ 500,00 nos EUA.<br />

O Judaísmo acredita em<br />

uma vida após a vida?<br />

oshe Maimônides, o Rambam<br />

(1135-1204) compilou os 13<br />

Princípios Básicos do Judaísmo.<br />

O décimo e o décimo-primeiro<br />

princípio declaram que D-us sabe<br />

de todas nossas ações e que Ele recompensa<br />

e pune conforme nossas atitudes.<br />

Uma vez que não enxergamos o mal ser sempre<br />

punido ou o bem ser sempre recompensado,<br />

é lógico que, se existe um D-us bom e<br />

justo, deve existir um Mundo de Almas, uma<br />

vida após a vida, que seja o grande equalizador.<br />

Lá, o mal que não foi punido neste<br />

mundo é castigado e os bons atos que não<br />

foram recompensados são sim premiados.<br />

Existem alusões à vida após a vida na<br />

Torá, embora não explicitamente escritas ou<br />

declaradas (o Talmud, no Tratado Sanhedrin,<br />

capítulo 10, discute o assunto ‘vida após a<br />

vida’). Quando o Patriarca Yaácov (Jacob)<br />

faleceu, a Torá relata: “... ele morreu e uniuse<br />

ao seu Povo (Gênesis 49:33)”. A Torá então<br />

nos informa que os egípcios ficaram de<br />

luto por Yaácov por 70 dias antes que seu<br />

filho, Yossêf (José) recebesse permissão para<br />

enterrar seu pai na Caverna Hamachpelá, em<br />

Hebron, Israel. O que a Torá quis dizer com<br />

“ele uniu-se ao seu Povo?” A resposta é que<br />

esta é uma referência de que sua alma foi<br />

levada para uma vida após a vida.<br />

Mais adiante, no livro de Bamidbár (Números),<br />

a Torá relata a história de Bilaam, o<br />

diabólico profeta gentio, que foi contratado<br />

pelo rei Balak para amaldiçoar o Povo de Israel.<br />

Em meio à história, Bilaam manifestase<br />

da seguinte maneira: “Permita-me morrer<br />

a morte dos justos e que meu fim seja como<br />

o deles (os Judeus justos) (Números 23:10)”.<br />

Será que os justos morrem melhor que os<br />

malvados? Na verdade Bilaam estava querendo<br />

dizer: “Deixe-me viver minha vida nos<br />

meus termos e segundo meus próprios desejos,<br />

mas quando chegar para a vida após a<br />

vida, permita que minha alma seja recompensada<br />

como os justos são recompensados”.<br />

Creio que estas duas alusões são válidas,<br />

mas não emocionalmente convincentes. Se a<br />

vida após a vida é uma parte tão essencial<br />

da fé <strong>Judaica</strong>, por que a Torá a aborda de<br />

uma maneira indireta? A Torá poderia ter<br />

descrito o Mundo Vindouro em detalhes, mas<br />

preferiu não fazê-lo. Por que?<br />

Por dois motivos:<br />

1) A Torá é um livro de instruções para<br />

esta vida. Ela estabelece instruções sobre<br />

como vivermos uma vida sagrada, elevada e<br />

cheia de significado, e como melhorarmos a<br />

nós e ao mundo em que vivemos. O Todo-<br />

B”S<br />

Kalman Packouz *<br />

Poderoso deseja que foquemos nossos esforços<br />

em nossas obrigações nesta vida. A vida<br />

após a vida irá se manifestar por si só.<br />

2) Mesmo se a Torá descrevesse detalhadamente<br />

a vida após a vida, como alguém<br />

poderia verificar sua existência? Ninguém<br />

jamais retornou do Mundo Vindouro para<br />

confirmar ou negar qualquer coisa.<br />

Muitas pessoas e seitas fazem um retrato<br />

da vida após a vida. O Talmud nos ensina:<br />

“Aquele que quer mentir diz que suas testemunhas<br />

estão em algum lugar longínquo”. Por<br />

exemplo: Uma pessoa vai a um juiz alegando<br />

que fulano está lhe devendo uma enorme<br />

quantia de dinheiro. O fulano é intimado e<br />

fala o seguinte para o juiz: “Já lhe devolvi o<br />

dinheiro, mas acontece por acaso que minhas<br />

testemunhas estão viajando pela Europa”. É<br />

como alguém dizer: “Tenha fé em nós e você<br />

ganhará o paraíso”. Em ambos os casos, não<br />

há maneira de validar o que foi alegado.<br />

Apesar de o Judaísmo crer na vida após a<br />

vida, um Mundo Vindouro, a Torá não faz nenhuma<br />

promessa ‘longínqua’. A Torá nos conta<br />

sobre as recompensas e punições neste<br />

mundo, em resposta às nossas ações e atitudes.<br />

Na verdade não precisamos ir mais longe<br />

do que o que está escrito nesta porção semanal<br />

da Torá: “Se vocês seguirem Meus decretos<br />

e cumprirem Meus mandamentos, Eu irei<br />

prover-lhes chuvas no momento certo, e a<br />

terra dará sua produção e as árvores darão<br />

seus frutos ... e comerão pão até se saciarem<br />

e morarão em segurança em sua terra. Garantirei<br />

paz em sua terra e vocês poderão dormir<br />

sem preocupações... Farei vocês florescerem<br />

e se multiplicar... (Vaikrá 25:3-9)”<br />

Por que a recompensa e a punição são<br />

tão importantes para nós? O Rabino Yaácov<br />

Weinberg, em seu livro ‘Fundamentals<br />

and Faith’, nos responde: “Um mundo sem<br />

recompensa ou punição é um mundo de absoluta<br />

indiferença, e a indiferença é a<br />

maior demonstração possível de rejeição.<br />

Uma pessoa não pode viver com indiferença.<br />

Para que haja um relacionamento entre<br />

D-us e o homem, D-us precisa reagir às<br />

ações do homem. Nosso reconhecimento<br />

desta reação (através de recompensas ou<br />

punições) nos informa que o Todo-Poderoso<br />

se importa conosco e que nossas atitudes<br />

realmente fazem diferença para ele.<br />

Sem recompensa e punição a vida não tem<br />

significado e também é injusta, pois o que<br />

o homem faz ou deixa de fazer não fará<br />

nenhuma diferença!”<br />

Extraído do semanário Meor<br />

Hashabat, de autoria do Rabino Kalman<br />

Packouz, com permissão do autor<br />

* Kalman Packouz é rabino, especialista em tecnologia e educador. Vive nos Estados<br />

Unidos. Publicou livros e fundou o Serviço Judaico para Encontro de Casais via<br />

Computador (the Jewish Computer Dating Service). Packouz é casado e pai de nove filhos.<br />

Coordena as atividades da Organização Êsh Ha Torá a nível internacional como diretor<br />

executivo e abriu um escritório americano para os programas mundiais do Êsh Ha Torá, de<br />

onde escreve o Meór Ha Shabat Fax semanal, proporcionando uma visão moderna e<br />

entusiasmante sobre a vida, crescimento pessoal e a Torá. Este boletim é lido hoje por mais<br />

de 150 mil leitores via e-mail em todo o mundo, em inglês, português, persa e russo.


Ser terrorista – o direito dos povos<br />

que não reconhecem os direitos<br />

Edda Bergmann*<br />

O terrorismo sempre inclui riscos individuais para quem o pratica,<br />

mas nunca se transformou, com raríssimas exceções em destruição<br />

do próprio eu, em sacrifício total de quem se envolve com ele.<br />

Este é um fenômeno relativamente novo no Século 21,<br />

com certeza novo na quantidade e qualidade dos seus praticantes,<br />

assim como na extensão de suas ações e no alcance<br />

de seus objetivos.<br />

Trata-se de desvios mentais de comportamento incentivados<br />

pelo ódio exacerbado e pelo furor mágico contra a vida, em detrimento<br />

da vida terrestre e esperança da vida triunfal do Além.<br />

Sempre houve seitas que pregaram o ódio e o fanatismo liderados<br />

por fanáticos intransigentes, retrógrados e repressores da vida.<br />

Sempre houve ódio sobre a face da Terra. Mas tanto ódio<br />

reprimido por pessoas normais que saem da vida diária, de<br />

uma vida aparentemente útil, de uma família aparentemente<br />

constituída e numerosa, de uma casa e de um povoado ou<br />

cidade onde sempre moraram, para cometer atos suicidas e<br />

levar à morte inúmeras pessoas até então totalmente desconhecidas<br />

tentando matar e ferir gravemente o maior número<br />

possível delas para receber sua recompensa plena no paraíso,<br />

isto realmente nunca houve.<br />

Tamanho desvio de comportamento, tamanho desvio de relacionamento<br />

humano de pessoas aparentemente normais e<br />

esclarecidas, de pessoas que vivem em sociedade demonstram<br />

a existência de uma sociedade doente, no mínimo com idéias<br />

distorcidas sobre a existência do mundo, deste mundo caótico<br />

que com certeza não é o preconizado por Maomé, que seria<br />

o enviado de Alá na Terra.<br />

Bater palmas ao terrorismo, acalentá-lo em seu berço e fazer<br />

dele o ideal supremo da vida é tão caótico quanto irreal.<br />

Quem poderia prever um novo século desta natureza desconhecida<br />

e não palpável? Quem poderia admitir que isso fosse<br />

acalentado em meio à globalização, aos computadores, às<br />

viagens espaciais e à centena de médicos debruçados sobre<br />

seus doentes a fim de prolongar a vida das pessoas e sua<br />

permanência no planeta terra?<br />

O avanço da vida humana, a 3ª, a 4ª e 5ª idade já se fazem<br />

presentes nos dias de hoje com sua participação ainda ativa nas<br />

atividades normais da vida e do cérebro. As tentativas de vencer<br />

doenças até ontem incuráveis, todo o esforço para salvar uma<br />

vida quando outras tantas são jogadas estupidamente fora.<br />

Se formos verificar quantas crianças palestinas e árabes estão<br />

em hospitais israelenses para sobreviver a doenças até ontem<br />

mortais, e quantas já foram curadas veremos que a missão<br />

da paz é muito superior à da guerra.<br />

Numa guerra estúpida, sem presente nem futuro, que destrói<br />

por destruir, que não cria e não recria nada, um povo que<br />

diz não ao futuro, não pode dizer sim ao presente porque ele<br />

simplesmente não o tem.<br />

Mas será que o mundo todo perdeu a cabeça e não é mais<br />

capaz de entender que isto não é caminho para nada?<br />

É preciso que surja alguém que saiba sonhar, não no devaneio,<br />

não no imprevisível, mas que saiba sonhar com uma<br />

humanidade mais coesa, mais amiga, mais coerente e mais<br />

afeiçoada a si mesma, pessoas que gostem de pessoas, pessoas<br />

que respeitem pessoas que saibam que os destinos de<br />

todos e o de cada um, são resolvidos por um ser superior e<br />

não pelos seus ditames sanguinários e irreversíveis. Pessoas<br />

que saibam dizer sim à paz, mesmo que ela seja precária,<br />

difícil e complicada. A paz são três letras totalmente necessárias<br />

à sobrevivência do ser humano no planeta Terra.<br />

Saber sonhar é como dizia Theodor Herzl; “Se tu quiseres<br />

será apenas um sonho, mas se realmente o quiseres poderás torná-lo<br />

realidade”.<br />

Isto não depende apenas de nós, mas também depende de<br />

nós, de todos nós!!!<br />

* Edda Bergmann é presidente da B’nai B’rith do Brasil<br />

Rabi Isaac Luria<br />

O Ari<br />

O século 16 trouxe consigo o cabalista mais influente<br />

na história: Rabi Isaac Luria.<br />

Um estudioso brilhante com a idade de 13 anos, ele<br />

era chamado de “Ari,” que significa “O Leão Sagrado.”<br />

O Ari tinha o dom de explorar as profundezas internas<br />

do Zohar. Ele viveu como um ermitão por 13 anos,<br />

sondando seus mistérios. Não era incomum que o Ari<br />

meditasse acerca de um versículo do Zohar durante muitos<br />

meses, até que o sentido oculto lhe fosse revelado.<br />

O Ari descobriu segredos extraordinários dentro das<br />

palavras poéticas do Zohar. Ele descreveu um sistema<br />

de evolução que ia muito além daquilo que Darwin viria<br />

a explicar séculos depois. O Ari escreveu:<br />

Chegará uma época em que homens da ciência irão,<br />

em sua busca pelo elo perdido entre o homem e o animal,<br />

tentar considerar o macaco como a forma vivente<br />

da qual o homem evoluiu.<br />

— Árvore da Vida, Portão 42, Cap. 1<br />

O Ari explica, entretanto, que o macaco é uma “imagem<br />

fraudulenta” do homem. Como o homem, o macaco<br />

tem cinco dedos em cada mão. Mas diferentemente<br />

do homem, ele não é capaz de usar a operação do polegar.<br />

O polegar corresponde à dimensão mais elevada<br />

numa realidade de dez dimensões — um nível conhecido<br />

como Keter. O polegar é a chave para a inteligência<br />

humana, de acordo com o Ari.<br />

De fato, Keter é a fonte de toda a inteligência que<br />

permeia o nosso mundo físico. Embora possamos nos<br />

maravilhar com a inteligência do macaco, seu DNA físico<br />

(e metafísico) é preestabelecido — um macaco não<br />

é capaz de sair de sua categoria animal. Essa limitação<br />

de inteligência é demonstrada por sua incapacidade de<br />

operar seu polegar.<br />

Surpreendentemente, os cientistas agora nos dizem<br />

que a vantagem evolutiva do homem tinha origem no<br />

“polegar oposto”. O polegar nos permitiu criar ferramentas<br />

e portanto era a chave para o desenvolvimento<br />

da inteligência humana.<br />

O Ari revelou um código notável explicando a forma<br />

como a energia espiritual do Messias começaria a se<br />

expressar em nosso mundo físico no ano de 1948, numa<br />

sexta-feira de tarde.<br />

Cerca de 500 anos depois, o Estado de Israel nasceu<br />

no ano de 1948. A posição de Israel como um estado<br />

foi ratificada pela ONU numa sexta-feira de tarde.<br />

O Ari demonstrou poderes misteriosos durante sua<br />

vida. Foi relatado que em uma ocasião ele reuniu seus<br />

discípulos para uma longa viagem até Jerusalém para<br />

passar ali o sábado. Todos ficaram desconcertados so-<br />

VISÃO JUDAICA • julho de 2003 • Av • 5763<br />

17<br />

Rav Berg*<br />

bre como poderiam chegar a tempo à cidade, pois faltava<br />

pouco tempo até o sábado.<br />

O Ari era um homem que vivia o conceito da mente<br />

estar acima da matéria. Disse ele:<br />

“Os elementos de tempo, espaço, e movimento são<br />

meramente uma expressão das limitações impostas pelo<br />

corpo físico sobre a alma. Quando a alma tem poder sobre<br />

o corpo, esses fatores limitantes deixam de existir.<br />

Vamos agora prosseguir até Jerusalém, pois nossos corpos<br />

físicos perderam sua influência sobre nossas almas.”<br />

Depois de entrarem em meditação e cantarem canções<br />

místicas, o Ari e seus discípulos chegaram antes<br />

do sol se pôr, para receber o sábado.<br />

O maior legado do Ari foi sua composição cabalística<br />

Os Escritos do Ari, compilados pelo seu aluno mais<br />

prezado, Rabi Chaim Vital. Essa obra profunda gerou o<br />

que é conhecido como Cabala Luriânica.<br />

A Cabala Luriânica tornou-se a escola definitiva do<br />

pensamento cabalístico, e teve um impacto dramático<br />

sobre o mundo. Estudiosos contemporâneos eminentes<br />

só agora estão descobrindo a profunda influência que<br />

este grande cabalista da Renascença teve sobre intelectuais<br />

notáveis como Sir Isaac Newton.<br />

Professor Allison P. Coudert afirma em seu livro O<br />

Impacto da Cabala no Século Dezessete:<br />

“A Cabala Luriânica merece um lugar que nunca recebeu<br />

nas histórias dos desenvolvimentos científico e<br />

cultural do ocidente.”<br />

O grande matemático e filósofo Leibniz, que inventou<br />

o cálculo e, assim sendo, aquelas aulas cansativas de matemática<br />

que tivemos que agüentar no colégio e na universidade,<br />

foi profundamente influenciado pela Cabala. Isaac<br />

Newton — considerado por muitos como o maior cientista<br />

de todos os tempos — estudava Cabala secretamente, onde<br />

ele encontrou idéias que carregam uma semelhança notável<br />

com algumas de suas maiores descobertas científicas.<br />

Todo o conhecimento e material que aparecem no website<br />

www.kabbalah.com têm origem na Cabala Luriânica.<br />

Com apenas 38 anos, Isaac Luria deixou este mundo<br />

depois de causar um impacto impressionante sobre<br />

a Cabala, no dia 5 de Av.<br />

Ele deixou um sistema espiritual que, quando totalmente<br />

desenredado e decifrado, capacitará à humanidade<br />

tomar controle sobre seu destino individual e coletivo —<br />

um mapa rodoviário e um guia para o corpo e a alma que<br />

livrará as pessoas de seu caos, medo, dor e sofrimento.<br />

Diz-se que Luria veio a este mundo por um único<br />

propósito: instruir seu discípulo, Rabi Chaim Vital, no<br />

sistema Luriânico de Cabala.<br />

* Rav Berg é cabalista, diretor internacional do Centro de Cabala e escreveu Dos ensinamentos do cabalista Rav<br />

Berg (www.kabbalah.com).Tradução e adaptação de Shmuel Lemle, professor do centro de Cabala do Rio de<br />

Janeiro (shmuel.lemle@kabbalah.com).


18<br />

VISÃO JUDAICA • julho de 2003 • Av • 5763<br />

Fundação Raoul Wallenberg<br />

homenageou três religiosos<br />

O rabino Simón Moguilevsky,<br />

membro do Conselho<br />

Diretivo da Fundação Raoul<br />

Wallenberg, esteve em Curitiba<br />

para homenagear<br />

com a medalha Souza Dantas<br />

três religiosos que se<br />

empenham no combate ao<br />

antijudaísmo, e visitou escola<br />

municipal que leva o<br />

nome do embaixador sueco, que salvou<br />

centenas de vítimas do nazismo.<br />

Moguilevsky, que foi rabino de Curitiba<br />

por nove anos, e atualmente é rabino<br />

na Congregação Israelita da República<br />

Argentina (Templo Libertad),<br />

rendeu tributo à memória de Luiz Martins<br />

de Souza Dantas, diplomata brasi-<br />

A diretora do CEI Raoul Wallenberg, no São Braz, Maria Agostinha Drulla Felipe, o<br />

aluno com melhor média e o rabino Simón Moguilevsky<br />

A Medalha<br />

Souza Dantas<br />

leiro que salvou judeus e outros perseguidos<br />

durante o Holocausto.<br />

Na ocasião do cabalat shabat do dia<br />

13 de junho, as irmãs Adola e Nehamia,<br />

religiosas Evangélicas de Maria, receberam<br />

a medalha Souza Dantas, da<br />

Fundação Raoul Wallenberg, pelo<br />

importante trabalho que fazem<br />

para a conscientização<br />

dos cristãos quanto a<br />

Shoá, combatendo o preconceito<br />

e o antijudaísmo<br />

existente no meio<br />

cristão. A fundadora de<br />

irmandade foi madre Basilea,<br />

que assumiu uma<br />

postura muito destemida<br />

durante o regime de Hitler.<br />

Como líder das estudantes cristãs<br />

na Alemanha entre 1933 e 1935<br />

a madre Basilea recusou-se a aderir à<br />

política nazista que proibia a assistência<br />

das cristãs de origem judias nas reuniões<br />

da congregação. Arriscou sua vida<br />

e carreira falando publicamente do singular<br />

destino de Israel, o povo de Dus.<br />

Presa duas vezes pela Gestapo, foi<br />

libertada apesar de sua firme postura.<br />

Por outro lado, outra das fundadoras,<br />

madre Martiria, dirigia estudos bíblicos<br />

para jovens a quem ensinava o Antigo<br />

Testamento, atividade que era<br />

proibida pelo regime de Hitler.<br />

Além das duas irmãs evangélicas foi<br />

homenageado, na segunda-feira, 16 de<br />

junho, o padre claretiano Vitor Calixto<br />

dos Santos, diretor do Studium Theologicum<br />

de Curitiba, por seu empenho na<br />

formação de religiosos dentro de uma<br />

consciência aberta ao judaísmo, mantendo<br />

no currículo regular as disciplinas<br />

de Diálogo Religioso e freqüentes<br />

seminários sobre a religião judaica. Padre<br />

Vitor mantém na biblioteca do Studium<br />

um invejável acervo de livros judaicos,<br />

visando dar suporte à formação<br />

dos futuros padres. Em 1998, ocasião<br />

da realização da assembléia<br />

anual da Comissão<br />

Nacional de Diálogo Religioso<br />

Católico Judaico,<br />

o arcebispo de Curitiba,<br />

Dom Pedro Fedalto e o<br />

professor Antonio Carlos<br />

Coelho receberam a medalha<br />

Raoul Wallenberg.<br />

Ainda na tarde do<br />

dia 16 o rabino visitou<br />

o Centro de Educação Integral<br />

Raoul Wallenberg.<br />

Na sua visita, o rabino<br />

falou sobre a vida do diplomata<br />

sueco e de Souza<br />

Dantas, embaixador<br />

brasileiro em Paris, que<br />

salvou 425 judeus, concedendo<br />

vistos para judeus<br />

perseguidos pelo<br />

regime nazista. O Centro de Educação Integral<br />

Raoul Wallenberg, é uma escola<br />

municipal que leva o nome do diplomata<br />

sueco salvador de dezenas de milhares<br />

de vidas na Hungria ocupada de 1944.<br />

Ali foi recebido pela diretora da instituição,<br />

Maria Agostinha Drulla Felipe.<br />

O CEI Raoul Wallenberg se localiza<br />

no bairro São Braz e atende a 410 alunos<br />

durante todo o dia. Os alunos têm<br />

aulas de português, matemática, história,<br />

geografia e ciências, além de<br />

participar de projetos de música, biblioteca,<br />

xadrez, artes, laboratório de<br />

matemática e educação ambiental.<br />

A escola, construída e inaugurada<br />

quando era prefeito Jaime Lerner, numa<br />

gestão do rabino Moguilevsky, educa<br />

jovens que vivem nas vizinhanças. Seu<br />

objetivo é proporcionar aos alunos, além<br />

de una educação formal, a possibilidade<br />

de que desenvolvam suas potencialidades.<br />

A escola também educa crianças<br />

de nível pré-escolar provenientes<br />

de áreas de poucos recursos econômicos<br />

para que seus pais possam trabalhar.<br />

Dedicando-se à educação escolar<br />

integral para crianças da faixa etária dos<br />

6 aos 10 anos a escola cumpre com sua<br />

missão social de Educar para a vida.<br />

Valdecir Galor/SMCS<br />

Moguilevsky distinguiu o estabelecimento<br />

educacional com a medalha<br />

Raoul Wallenberg Um dos alunos com<br />

melhor média foi o encarregado de receber<br />

a láurea.<br />

A Fundação Wallenberg é uma organização<br />

privada, não-governamental,<br />

dedicada a manter viva a memória do<br />

diplomata sueco, difundindo o seu<br />

exemplo por todo o mundo, desenvolvendo<br />

projetos educativos baseados no<br />

conceito de solidariedade e entendimento.<br />

Com sedes em Jerusalém, Nova York,<br />

Buenos Aires e Caracas, a fundação tem<br />

por objetivo perpetuar e valorizar as<br />

ações humanitárias, especialmente daqueles<br />

que puseram suas vidas em risco<br />

durante a Segunda Guerra Mundial, como<br />

Raoul Wallenberg, Cardeal Angelo Roncalli,<br />

Aristides Souza Mendes, Jan Karsky<br />

e outros tantos.<br />

Raoul Wallenberg<br />

Raoul Wallenberg chegou a Budapeste<br />

em 1944, portando um passaporte diplomático.<br />

Sua missão era relatar a situação<br />

dos judeus e outras minorias na<br />

capital húngara. O governo sueco atendia<br />

um pedido neste sentido feito, entre<br />

outros, pelo Congresso Judaico Mundial.<br />

Desde março daquele ano, os nazistas<br />

haviam ocupado a Hungria.<br />

As tropas chegaram acompanhadas<br />

das famigeradas SS e Gestapo, que dominavam<br />

à revelia das minorias. Adolf<br />

Eichmann organizava a deportação de<br />

judeus húngaros para os campos de<br />

concentração. Até a chegada de Wallenberg,<br />

já haviam sido levadas 437 mil<br />

pessoas. O jovem sueco impôs-se a tarefa<br />

de salvar os 200 mil que ainda restavam,<br />

expedindo salvo-condutos em<br />

nome da representação diplomática.<br />

Para melhor atingir seus objetivos,<br />

Wallenberg aproveitou-se da grande influência<br />

de sua família (Scania). Esta,<br />

Crianças em atividades no Cei Raoul Wallnberg, São Braz<br />

O diplomata sueco Raoul Wallenberg<br />

por seu lado, mantinha contatos com<br />

a Alemanha nazista. Os negócios do tio<br />

de Raoul, Jakob, beneficiavam a indústria<br />

armamentista alemã. Estas ligações<br />

eram acompanhadas pelo serviço de espionagem<br />

russo.<br />

Em janeiro de 1945, o governo sueco<br />

foi informado por Moscou que Raoul<br />

havia sido preso pelos russos em Budapeste.<br />

Wallenberg foi visto em liberdade<br />

pela última vez em 17 de janeiro<br />

de 1945, em Budapeste, quando tinha<br />

32 anos. O então Ministério russo do<br />

Interior ordenou que ele fosse levado<br />

imediatamente à capital soviética, onde<br />

suas pistas se perderam nas malhas do<br />

serviço de espionagem.<br />

Em fevereiro de 1957, Gromiko informou<br />

à embaixada da Suécia em Moscou<br />

que Wallenberg morrera de enfarte<br />

numa prisão do serviço secreto em<br />

1947. Mais tarde, Alexander Iakovlev,<br />

chefe da Comissão de Reabilitação da<br />

presidência russa, confessou que o sueco<br />

foi executado a tiros. O mistério,<br />

entretanto, prossegue.<br />

Durante muito tempo, acreditou-se<br />

que ele ainda vivia e que estivesse internado<br />

numa clínica psiquiátrica até<br />

1989. Neste ano, o governo russo chamou<br />

os familiares de Raoul a Moscou<br />

para buscarem seus pertences pessoais:<br />

passaporte, agenda de endereços, dinheiro<br />

e uma cigarreira.<br />

Em dezembro de 2000, a Rússia voltou<br />

a admitir oficialmente que o diplomata<br />

sueco foi erroneamente encarcerado<br />

pelos soviéticos até sua morte. Uma


declaração de duas páginas da Procuradoria-Geral<br />

russa revela em parte as<br />

circunstâncias do misterioso desaparecimento<br />

de Wallenberg em 1945.<br />

A Procuradoria afirmou ter concluído<br />

que Wallenberg e seu motorista<br />

“foram reprimidos pelas autoridades<br />

soviéticas’’. Eles foram detidos<br />

por serem considerados, sem<br />

justificativa, indivíduos “socialmente<br />

perigosos’’. O termo repressão<br />

compreende várias formas de perseguição<br />

política da época soviética,<br />

inclusive exílio, encarceramento<br />

e execução de presos políticos.<br />

O procurador-geral Vladimir Ustinov<br />

assinou um veredicto póstumo<br />

que reabilita Wallenberg e seu<br />

motorista argentino, Vilmos Langfelder,<br />

qualificando-os como “vítimas<br />

da repressão política”. O documento<br />

apenas confirma que morreram<br />

em prisões soviéticas, sem esclarecer<br />

maiores detalhes. Durante muito<br />

tempo acreditou-se que estariam<br />

internados num sanatório russo. Os<br />

familiares de Wallenberg e o governo<br />

sueco sustentam que eles foram<br />

executados pelos soviéticos.<br />

Um diplomata da chancelaria sueca,<br />

Jan Lundvik, elogiou a decisão da<br />

Rússia de “admitir o trágico erro cometido<br />

naqueles momentos’’. Mas a<br />

meia-irmã de Wallenberg, Nina Lagergren,<br />

não ficou satisfeita com a confissão<br />

e disse que aguarda mais detalhes<br />

e provas dos fatos.<br />

A partir da esquerda, Antonio Carlos<br />

Coelho, padre Vítor Calixto dos<br />

Santos, diretor do Studium<br />

Theologicum e o rabino Simón<br />

Moguilevsky entregando a Medalha<br />

Souza Dantas<br />

Luís Martins de Souza Dantas<br />

Nos anos 40 o Estado Novo perseguia<br />

a todos que desafiassem a<br />

qualquer determinação do governo<br />

de Getúlio Vargas. Conforme o<br />

caso, eram inevitáveis a prisão e<br />

a tortura. Na Europa a situação era<br />

pior. O nazismo tinha estabelecido<br />

o reino do terror.<br />

Foi nessas circunstâncias que<br />

se desenrolou o capítulo mais palpitante<br />

da vida do embaixador<br />

Luís Martins de Souza Dantas. Por<br />

20 anos, Souza Dantas esteve à<br />

frente da missão diplomática do<br />

Brasil na França. Motivado, pelo<br />

que chamou mais tarde de “sentimento<br />

cristão de piedade”, ele<br />

desafiou duas ditaduras ao mesmo<br />

tempo, concedendo vistos di-<br />

O Brasil teve seu<br />

próprio Oscar Schindler.<br />

Como o famoso<br />

empresário retratado<br />

no filme de Steven<br />

Spielberg, o diplomata<br />

Luiz Martins de<br />

Souza Dantas (1876-<br />

1954), embaixador<br />

brasileiro em Paris de<br />

1922 até 1942, foi<br />

reconhecido oficialmente<br />

pelo Museu do<br />

Holocausto (Yad Vashem)<br />

em Jerusalém,<br />

por ter emitido centenas<br />

de vistos durante<br />

os anos mais<br />

duros da repressão nazista na Europa.<br />

Sem alarde e lutando contra recomendações<br />

oficiais do governo<br />

Getúlio Vargas, Souza Dantas salvou<br />

comprovadamente 475 pessoas de<br />

morrerem em campos de extermínio.<br />

O número certo de pessoas —<br />

judeus, homossexuais, comunistas e<br />

outras vítimas do nazismo — que<br />

encontraram a salvação graças à assinatura<br />

de Souza Dantas não é conhecido.<br />

O historiador carioca Fábio<br />

Koifman, 38 anos, diretor de Pesquisas<br />

da Universidade Estácio de Sá,<br />

acredita que possa passar de mil. Foi<br />

graças a Koifman e a seu livro Quixote<br />

nas Trevas, que o diplomata foi<br />

reconhecido, por unanimidade, com<br />

meio século de atraso, pelo conselho<br />

do museu, no dia 2 de junho.<br />

Koifman deve ir a Jerusalém para a<br />

cerimônia, a ser realizada ainda este<br />

ano, na qual o diplomata receberá,<br />

postumamente, honrarias.<br />

Só 18 diplomatas foram reconhecidos,<br />

até hoje, como ‘’Justos<br />

entre as Nações’’ (denominação dada<br />

aos que arriscaram suas vidas para<br />

ajudar vítimas do Holocausto). Souza<br />

Dantas é o 19º. Não fosse por<br />

ele, o ator e teatrólogo polonês<br />

Zbignew Ziembinski, por exemplo,<br />

nunca teria chegado ao Brasil.<br />

Outro que teria perecido na Europa<br />

seria o ‘’anônimo’’ brasileiro,<br />

nascido em Antuérpia, Raphael Zi-<br />

metbaum, 75 anos, morador<br />

do Rio.<br />

— Ele falou para os<br />

meus pais e tios que tinha<br />

certeza de que estaria<br />

salvando as nossas vidas<br />

— conta Zimetbaum,<br />

que nunca conheceu o diplomata<br />

pessoalmente,<br />

mas o idolatra.<br />

Na lista dos 18 diplomatas<br />

‘’justos’’ figura uma<br />

brasileira: Aracy de Carvalho-Guimarães<br />

Rosa, que<br />

foi assistente do embaixador<br />

brasileiro em Berlim<br />

durante a Segunda Guerra<br />

Mundial. Também pouco<br />

conhecida, ela salvou cerca de 80 pessoas,<br />

emitindo vistos por conta própria.<br />

O feito de Souza Dantas, no entanto, é<br />

considerado bem maior, não pela quantidade<br />

de pessoas a quem conseguiu dar<br />

asilo, mas pelo risco pessoal que correu.<br />

Souza Dantas foi várias vezes advertido<br />

pelo Ministério das Relações<br />

Exteriores e ficou numa espécie de prisão<br />

domiciliar alemã por 14 meses. Além<br />

disso, escapou por pouco das penalidades<br />

de um inquérito administrativo<br />

aberto pessoalmente por Getúlio Vargas,<br />

em outubro de 1941. O processo só não<br />

foi até o fim porque, no ano seguinte,<br />

o Brasil cortaria relações com a Alemanha<br />

e Getúlio decidiu abafar o caso.<br />

— Estamos muito felizes com o reconhecimento<br />

oficial. Naquela época,<br />

poucos governos estavam abertos a dar<br />

asilo às vítimas dos nazistas — diz Eitan<br />

Surkis, ministro conselheiro da Embaixada<br />

de Israel em Brasília.<br />

O historiador Fábio Koifman não esconde<br />

sua admiração pelo personagem<br />

que decidiu desvendar, há seis anos. Conversando<br />

com a documentarista Kátia<br />

Lerner, que ajudava na coleta de entrevistas<br />

de sobreviventes do Holocausto<br />

para a Fundação Shoá, do cineasta Steven<br />

Spielberg, descobriu que o Brasil<br />

teve seu próprio Oscar Schindler — o<br />

empresário que salvou 1.200 judeus durante<br />

a guerra. No caso brasileiro, tratava-se<br />

de um diplomata: Luiz Martins de<br />

VISÃO JUDAICA • julho de 2003 • Av • 5763<br />

Schindler brasileiro é<br />

reconhecido em Jerusalém<br />

Embaixador salvou centenas de vidas durante o Holocausto<br />

Souza Dantas nos anos 40<br />

plomáticos para entrar no Brasil a<br />

centenas de pessoas que, sob o<br />

ponto de vista da política brasileira<br />

de imigração, eram consideradas<br />

indesejáveis: judeus, comunistas e<br />

homossexuais que tentavam escapar<br />

do horror nazista. Souza Dantas<br />

livrou aproximadamente 800<br />

pessoas do extermínio.<br />

A nobreza dos atos praticados<br />

pelo diplomata ficou esquecida durante<br />

anos. Somente agora ganhou o seu<br />

merecido lugar na história. O Museu do<br />

Holocausto, de Jerusalém, reconheceuo<br />

como um “Justo Entre as Nações”.<br />

Souza Dantas é o 19 º herói a receber<br />

tal distinção do Museu Yad Vashem.<br />

Sua biografia, de recente publicação<br />

em português esta relatada no livro<br />

“Quixote nas trevas. O embaixador<br />

Daniela Kresch*<br />

Souza Dantas (1876-1954), embaixador<br />

do Brasil na França de 1922 a 1944. Assinando<br />

pessoalmente vistos e passaportes<br />

diplomáticos, Souza Dantas salvou<br />

comprovadamente 475 pessoas. Mas<br />

o número pode passar dos mil.<br />

— Sua humildade e humanismo fizeram<br />

com que o embaixador não deixasse<br />

muitos documentos — conta<br />

Koifman, diretor de pesquisas da Universidade<br />

Estácio de Sá.<br />

‘’Fiz o que teria feito, com a nobreza<br />

d’alma dos brasileiros, o mais frio<br />

deles, movido pelos mais elementares<br />

sentimentos de piedade cristã’’, diz<br />

Souza Dantas, ao explicar por que dava<br />

os vistos, num dos 7.500 documentos<br />

arquivados por Koifman.<br />

O embaixador, que não figura em nenhum<br />

livro de História brasileiro, foi reconhecido<br />

pelo Museu do Holocausto de<br />

Jerusalém (Yad Vashem), como Justo entre<br />

as Nações. Só quem preenche pelo<br />

menos uma de três condições merece o<br />

título concedido pelo museu: arriscar cargo<br />

e posição social, arriscar a própria<br />

vida e salvar um número expressivo de<br />

pessoas. O diplomata não arriscou sua<br />

vida, mas quase perdeu o emprego e o<br />

status por assinar centenas de vistos para<br />

perseguidos do nazismo<br />

na França ocupada.<br />

Na época, Souza Dantas<br />

ficou conhecido como<br />

um exemplo de diplomata.<br />

Quando voltou ao Brasil,<br />

em maio de 1944, planejou-se<br />

uma grande festa<br />

com desfile em carro<br />

aberto pela Avenida Rio<br />

Branco e decretação de<br />

feriado nas escolas do<br />

Rio. Assessores de Getú-<br />

Fábio Koifman<br />

lio Vargas, porém, desmobilizaram<br />

as boas-vindas.<br />

— O grande vilão da história é Getúlio<br />

— diz Koifman. — Como esse humanista<br />

pôde, até hoje, passar desapercebido<br />

no hall dos heróis nacionais?<br />

(Colaborou Pedro Malburg)<br />

* Daniela Kresch é jornalista da<br />

Folha de S. Paulo<br />

Souza Dantas e os refugiados do nazismo”<br />

(Editora Record, Rio de Janeiro<br />

- São Paulo), do acadêmico brasileiro<br />

Fabio Koifman.<br />

Luís Martins de Souza Dantas morreu<br />

em Paris em 1954. No seu quarto,<br />

no Grand Hotel de Paris, foi encontrado<br />

e registrado como sendo seu bem<br />

mais valioso, um cordão de ouro com<br />

uma medalha do Barão do Rio Branco.<br />

19


20<br />

VISÃO JUDAICA • julho de 2003 • Av • 5763<br />

Encontro reúne curitibanos em Israel<br />

Por Henrique Kuchnir (Neno)<br />

De Israel - Numa manhã ensolarada,<br />

dia 28 de junho, lá vamos nós para<br />

o Encontro dos Curitibanos. O encontro<br />

é num parque natural às margens<br />

de um riacho, o Mekorot<br />

Hayarkon (nascente do rio Yarkon).<br />

Vieram 110 adultos e um número<br />

sem fim de crianças. Foi emocionante<br />

encontrar aqueles que desde Curitiba<br />

não vimos mais.<br />

E até houve aqueles a quem tivemos<br />

de perguntar quem seriam. Eis alguns<br />

nomes dos presentes<br />

e peço desculpas<br />

pelos que não consigo<br />

recordar. Começando<br />

pelas visitas; a<br />

Rosa (avó da Mihal), o<br />

casal Hirsch, o casal<br />

Kuperstein e mais outros<br />

que não conheço.<br />

Antes de mais<br />

nada, a comissão organizadora<br />

que merece<br />

os nossos parabéns:<br />

Gilberto e Billy, Fábio e Cybele,<br />

Marcelo (Piupa) e Miri, Evelyn e Sérgio,<br />

e David e Miriam (com a Mihal).<br />

O pessoal de Bror Chail: Mina e Pedro,<br />

Raquel e Schlomo, Fany e Bucki,<br />

Mário e esposa, Zelio e esposa, e<br />

... Eugenia e José Etrog, Ester e Akiva<br />

Ronen (Bronfman), Ydel e Sonia<br />

(Zukerman) Idan, Rebeca Daitchman,<br />

Bracha (Gandelsman) e Arie Ben<br />

Shemen, Ana e Moisés Fucks, Clara e<br />

Marcos Guelmann, Limor e Marcelo<br />

Guelmann, Eva (Miller) e o marido,<br />

Fany (Mohamed) e o marido, a Sônia<br />

irmã da Fany, Dina e Neno, Maiana<br />

Laredo (Kuchnir), Avri e Guila<br />

Kuchnir, Yossi Kuchnir, Ilana<br />

(Zveibil) e Yoram Bialik, Íris (Zveibil),<br />

Mauro e Ida Zveibil, Tito (Milgrom)<br />

Rimon e esposa, Maurício (Milgrom)<br />

Rimon e esposa, Suzi e Tzvi Rubinstein,<br />

Arturo Rubinstein, Neni Rubinstein<br />

e esposa, Beatriz (Lichtenstein)<br />

e Yehuda e mais uns quarenta cujos<br />

nomes não recordo.<br />

A programação não foi extensa,<br />

mas sempre tem aqueles que quiseram<br />

contar as lembranças do passado.<br />

Organizaram alguns jogos para a<br />

criançada (alguns marmanjos também<br />

participaram).<br />

E na mesa central estavam as comidas<br />

— variedade sem fim, um lindo<br />

colorido, um cheiro apetitoso. Claro,<br />

não faltou nem a famosa caipirinha de<br />

cachaça (foram doze litros).<br />

De tardezinha a debandada e a promessa<br />

de que no ano que vem, de novo<br />

estaremos nos encontrando.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!