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2<br />
editorial<br />
VISÃO JUDAICA • julho de 2003 • Av • 5763<br />
A falta que fará o Consulado de Israel<br />
Publicação mensal independente da<br />
EMPRESA JORNALÍSTICA VISÃO<br />
JUDAICA LTDA.<br />
Redação, Administração e Publicidade<br />
visaojudaica@visaojudaica.com.br<br />
Curitiba • PR • Brasil<br />
Fone/fax: 55 41 3018-8018<br />
Diretora de Operações<br />
e Marketing<br />
SHEILLA FIGLARZ<br />
Diretor de Redação<br />
SZYJA B. LORBER<br />
Diretora Comercial<br />
HANA KLEINER<br />
Criação e Diagramação<br />
SONIA OLESKOVICZ<br />
Colaboram nesta edição:<br />
Adelaide Sprenger, Antonio Carlos<br />
Coelho, Aristide Brodeschi, Daniela<br />
Kresch, Dalton Catunda Rocha, Edda<br />
Bergmann, Eugen Wilfried Sprenger,<br />
Henrique Kuchnir (Neno), Jane<br />
Bichimacher de Glasman, Kalman<br />
Packouz, Marcos Wasserman, Rav<br />
Berg, Sérgio Feldman, Shmuel Lemle,<br />
Teja Fiedler e Yossi Groisseoign.<br />
Os artigos assinados não representam<br />
necessariamente a opinião do jornal<br />
anunciado encerramento das atividades do<br />
Consulado Geral de Israel em São Paulo,<br />
por determinação do Ministério das Relações<br />
Exteriores israelense, em função de<br />
rigorosos cortes nas despesas governamentais<br />
está causando uma movimentação sem<br />
igual nas lideranças das entidades judaicas brasileiras,<br />
na tentativa de obter a reversão da medida.<br />
Mas preocupa sobremaneira aos judeus de<br />
São Paulo e também os do resto do País a idéia<br />
de ter que conviver sem a presença da representação<br />
diplomática israelense, que os fortalece em<br />
espírito e em corpo no sentimento de amor pela<br />
terra de seus antepassados.<br />
É certo que as dificuldades econômicas advindas<br />
da Intifada nos dois últimos anos comprimiram<br />
as finanças israelenses. E em conseqüência<br />
dos bárbaros e covardes atentados perpetrados por<br />
assassinos tresloucados o turismo reduziu sensivelmente<br />
a entrada de divisas em Israel. Além disso,<br />
o boicote comercial e institucional europeu,<br />
comandado principalmente a partir da Bélgica, resultou<br />
num quadro recessivo da economia de Israel.<br />
Mas se nesse aspecto o panorama atual não<br />
é promissor, a moral dos israelenses está firme e<br />
inquebrantável. E não é o Road Map, que ainda<br />
Nossa capa<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Acendimento<br />
das velas de shabat<br />
em Curitiba<br />
constitui uma séria dúvida ao sonho de paz. É<br />
pela própria natureza da alma do sabra, que mesmo<br />
nos momentos mais difíceis não se deixa abater.<br />
É típico do israelense não esmorecer nunca.<br />
Mas voltemos ao Consulado. Ele tem um papel<br />
preponderante na defesa de Israel, justamente<br />
agora que recrudescem o anti-semitismo<br />
e o anti-sionismo, no Brasil e no mundo. E o faz<br />
isso de uma maneira muito mais direta e precisa<br />
do que qualquer instituição judaica ou judeu<br />
brasileiro, por melhor experiência ou conhecimento<br />
que possuam. Querem um exemplo simples<br />
disso? Recentemente a Veja On-line, que<br />
edita um noticiário eletrônico para milhões de<br />
leitores em todo o Brasil, veiculou material completamente<br />
distorcido sobre Israel e seu primeiro-ministro<br />
Ariel Sharon.<br />
A reação não se fez esperar e veio fulminante<br />
e enérgica, exatamente como deve ser nesses casos.<br />
E a resposta partiu do cônsul de Israel, em<br />
São Paulo, Medad Medina, que escreveu, entre<br />
outras coisas o seguinte: “Causa-me estranheza<br />
um veículo de comunicação de tanta repercussão<br />
no Brasil, como Veja On-line, ter publicado informações<br />
falsas do perfil do primeiro-ministro de<br />
Israel Ariel Sharon” (...) “Sobre os lamentáveis<br />
A capa reproduz o quadro cujo título é “Preparação<br />
para Bar-Mitzvá”, pintado com a técnica<br />
Crayon Conté sobre papel bege, e dimensões<br />
32,5 x 46,5 cm, criação de Aristide Brodeschi<br />
e que pertence a coleção particular da família<br />
Sauerman, Antuérpia - Bélgica.<br />
Aristide Brodeschi nasceu em Bucareste,<br />
Romênia. É Arquiteto e Artista Plástico e vive<br />
em Curitiba desde 1978. Já desenvolveu trabalhos<br />
em várias técnicas, dentre elas pintura, gravura e tapeçaria. Recebeu<br />
premiações por seus trabalhos no Brasil e nos EUA. Suas obras estão espalhadas<br />
por vários países e tem no judaísmo, uma de suas principais fontes de inspiração.<br />
É colaborador das capas do jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong>.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
julho e agosto<br />
DATA HORA<br />
18/7 17h25<br />
25/7 17h28<br />
1º/8 17h32<br />
8/8 17h35<br />
15/8 17h38<br />
22/8 17h41<br />
17 de julho<br />
• Jejum de 17 de Tamuz<br />
26 de julho<br />
• Shabat Mevarechim - Chazak<br />
30 de julho<br />
• Rosh Chodesh (início do mês)<br />
2 de agosto<br />
• Shabat Chazon<br />
6 de agosto<br />
• Véspera de Tishá Be Av<br />
7 de agosto<br />
• Jejum de Tishá Be Av<br />
9 de agosto<br />
• Shabat Nachamu<br />
Datas importantes<br />
acontecimentos nos campos de refugiados Sabra<br />
e Chatila, não houve nenhuma chacina por parte<br />
do exército israelense. Confundir seus soldados<br />
com os membros da Falange libanesa é outra distorção.<br />
O Exército de Defesa de Israel não estava<br />
ciente de que iria acontecer e foram os membros<br />
da Falange os invasores dos campos”.<br />
Sim, o Consulado fará muita falta. É ele quem<br />
divulga e promove a cultura, as artes plásticas,<br />
os espetáculos de música e dança, de teatro e de<br />
cinema de Israel entre os brasileiros. É ele quem<br />
patrocina e assiste a vinda de intelectuais israelenses,<br />
como o historiador Ely Ben Gal, que proferiu<br />
conferências em importantes universidades<br />
brasileiras ajudando a mudar a opinião de professores<br />
e estudantes acerca de Israel. E é o Consulado<br />
que além dos serviços diplomáticos que<br />
presta aos cidadãos israelenses no Brasil e aos<br />
brasileiros que viajam a Israel, constitui parte<br />
fundamental no intercâmbio tecnológico e científico<br />
entre instituições dos dois países. É o consulado<br />
que promove e estimula as missões oficiais<br />
ou privadas que resultam na expansão do<br />
comércio bilateral entre Israel e o Brasil. Do fundo<br />
do coração, esperamos, sinceramente, que o nosso<br />
consulado não seja fechado.<br />
Falecimentos<br />
A Redação<br />
Faleceu no dia 4/7<br />
a querida Fany<br />
Grimberg<br />
Schweidson. Deixa<br />
saudades a muitas<br />
gerações que<br />
conviveram com ela<br />
na Escola, no CIP e<br />
na B’nai B’rith. À<br />
família desejamos<br />
nossos<br />
sentimentos.<br />
Dia 7/7 faleceu<br />
Chaim Ejszis.<br />
Deixou a<br />
comunidade mais<br />
triste, pois com sua<br />
simpatia<br />
contagiante<br />
personificava a<br />
figura do judeu<br />
típico da velha<br />
Europa. Nossos<br />
sentimentos<br />
também para sua<br />
família.
grande dúvida de alguns<br />
amigos meus é se a modernização<br />
do Judaísmo<br />
não levará ao seu desaparecimento.<br />
Acreditam<br />
que para conservá-lo, não<br />
podemos alterá-lo e nem aceitar influências<br />
do meio em que vivemos. O<br />
que seria correto?<br />
O judaísmo sobreviveu por dois<br />
milênios de Diáspora e supõe-se que<br />
exista há três ou quatro mil anos. Alguns<br />
apologistas afirmariam que se<br />
trata de uma capacidade judaica inata;<br />
até mesmo, de uma predestinação<br />
divina que gerou esta superioridade.<br />
Pessoalmente, não creio e nunca acreditei<br />
em superioridade de nenhum<br />
tipo. O último que pregou tais diferenças<br />
entre os seres humanos matou<br />
seis milhões e meio de judeus e muitos<br />
milhões de não judeus, a maioria<br />
vítimas inocentes de um ideal de superioridade.<br />
Acredito, sim, que há inúmeras<br />
razões relativas e nenhuma resposta<br />
absoluta a essa questão. Entre<br />
as diversas razões e opiniões válidas,<br />
gostaria de expor aquela que considero<br />
a mais importante: a capacidade de<br />
se transformar e evoluir nas suas formas,<br />
sem alterar o seu conteúdo global<br />
e nem a sua essência, que seria uma<br />
parte fundamental desse enigma da sobrevivência<br />
do Judaísmo. Em todos os<br />
períodos da História, os judeus foram<br />
defrontados com adversários de todos<br />
os tipos. Alguns violentos<br />
como Haman, Amalek e<br />
Hitler; outros que seduziram<br />
os judeus com os<br />
valores de outras culturas.<br />
É o caso do helenismo,<br />
uma cultura de inegável<br />
valor e de profundos<br />
e avançados saberes.<br />
A tradição judaica<br />
tenta às vezes resumir o<br />
encontro das duas culturas<br />
(judaica e helenista),<br />
na luta dos macabeus,<br />
celebrada na festa de Chanuká, como<br />
sendo a resistência e a vitória do Judaísmo<br />
sobre o Helenismo. Isso é impreciso.<br />
Os macabeus venceram de<br />
maneira parcial e lenta os reis seleucidas<br />
da Síria, helenizados e que tentavam<br />
impor a sua cultura aos seus<br />
súditos judeus. Os reis macabeus (ou<br />
hashmoneus) vencem e expulsam os<br />
seleucidas, mas em poucas décadas<br />
seguem influenciados pela cultura<br />
contra a qual lutaram. Um contato<br />
tenso e repleto de contratempos, mas<br />
que ao final resultou enriquecedor<br />
VISÃO JUDAICA • julho de 2003 • Av • 5763<br />
Intolerância X evolução<br />
Sérgio Feldman *<br />
Baal Shem Tov<br />
para as duas culturas.<br />
O melhor exemplo é o que ocorreu<br />
com os judeus de Alexandria. Os conflitos<br />
entre judeus e egípcios helenizados<br />
foram constantes. Houve até<br />
choques armados e mortes. Em outro<br />
ângulo da questão tivemos Fílon de<br />
Alexandria, filósofo e exegeta judeu.<br />
Conhecia profundamente a Torá e fez<br />
uma tentativa de conciliar as idéias<br />
metafísicas de Platão com a Torá e os<br />
Profetas. Inúmeros sábios judeus e cristãos<br />
farão o mesmo, a partir de Fílon,<br />
no final do Mundo Antigo e por toda a<br />
Idade Média. Haveria lógica e fundamentos<br />
filosóficos na Lei divina?<br />
Essa capacidade de síntese dialética<br />
entre duas tendências opostas,<br />
não foi feita com facilidade. Ocorreram<br />
choques e dificuldades. A intolerância<br />
e a tentativa de destruir o<br />
Judaísmo não provinha só de inimigos<br />
externos: os nossos radicais e<br />
intolerantes exerciam uma força centrífuga<br />
que objetivava que o judaísmo<br />
não sofresse influências do mundo<br />
externo. È irônico a gente ver algumas<br />
pessoas que se declaram judias,<br />
nos dias de hoje, argumentando<br />
sobre a imutabilidade e defendendo<br />
um monolitismo arcaico e retrógado<br />
que é um antijudaísmo.<br />
O radicalismo e a intolerância nunca<br />
nos ajudou e nem fez evoluir. Geralmente<br />
foi prejudicial. O caminho do<br />
diálogo com o mundo não judaico,<br />
através de sínteses que não jogassem<br />
os valores básicos e a essência<br />
judaica, foi o segredo<br />
vital da sobrevivência<br />
judaica.<br />
Um exemplo inicial:<br />
a revolta contra Roma<br />
em 66-70 d.e.C. os romanos<br />
estavam em vias<br />
de destruir Jerusalém e<br />
são auxiliados pelas lutas<br />
fraticidas entre zelotes,<br />
pacifistas, sicários e<br />
outros dissidentes. O já<br />
superado, mas sempre<br />
utilizado Dubnow diz deste episódio:<br />
“em vez de se aliarem todos esses<br />
partidos em uma luta contra o inimigo<br />
comum, travaram um combate violento<br />
entre si mesmos...” (Dubnow<br />
Historia <strong>Judaica</strong>, 1948, p. 232).<br />
O segundo exemplo, encontrei em<br />
1985 durante as celebrações do Ano<br />
Internacional da Unesco. O tema foi<br />
Maimônides, célebre rabino, médico e<br />
filósofo. Um gênio da humanidade e<br />
um judeu militante e respeitado até<br />
hoje. Duas orações do Sidur (livro de<br />
orações) têm sua autoria. O seu saber<br />
era enciclopédico: Talmud, Medicina,<br />
Astrologia e muito mais. Escreveu “Responsas”<br />
(correspondência rabínica)<br />
para inúmeras comunidades judaicas.<br />
Muitos de seus contemporâneos consideravam-no<br />
um herético. Por que? Por<br />
ter feito uma síntese harmoniosa entre<br />
o Judaísmo e a Filosofia<br />
grega (mundo externo!).<br />
Ele seguia a senda de<br />
grandes rabinos como Saadia<br />
Gaon e Fílon. O pior<br />
sobreveio alguns anos após<br />
sua morte, quando estalou<br />
uma violenta crise no sul<br />
da França em virtude da<br />
propagação das idéias de<br />
Maimônides e outros sábios<br />
judeus que eram considerados<br />
“livres pensadores”.<br />
Numa absurda “caça às bruxas”<br />
alguns rabinos tradicionalistas liderados<br />
pelo rabino Salomão de Montpellier,<br />
denunciaram os livros de<br />
Maimônides aos frades dominicanos,<br />
responsáveis pela Inquisição que na<br />
época perseguia os hereges albigenses,<br />
no sul da França. Como a Inquisição<br />
não cuidava de judeus, mas sim<br />
de hereges, os opositores de Maimônides<br />
disseram que ele era um herético<br />
judeu muito perigoso. Afirmaram<br />
que se os dominicanos exterminavam<br />
os hereges cristãos, deveriam exterminar<br />
“também aos nossos, queimando-lhes<br />
os livros daninhos” (Dubnow<br />
Historia <strong>Judaica</strong>, 1948, p. 347). Com<br />
o apoio de tão renomados rabinos,<br />
houve busca, coleta e queima publica<br />
do “Guia dos Perplexos” e do “Livro<br />
da Ciência” em Montpellier em<br />
1232 e mais tarde em Paris. Uma horrenda<br />
aliança entre rabinos e inquisidores<br />
contra as obras do genial Maimônides.<br />
Tudo em nome da intolerância<br />
e da crença que há apenas uma<br />
única verdade: nada mais anti-judaico.<br />
Na analise do autor Hans Borger,<br />
essa queima de livros foi inspiradora<br />
de outra: “Não tardou e, em 1242, já<br />
não era mais Maimônides, mas o próprio<br />
Talmud que era condenado à morte”<br />
(Borger, Uma história do povo<br />
judeu, 1999, p. 400). Sob a ridícula<br />
acusação de blasfêmias contra Cristo,<br />
o Talmud foi julgado e condenado:<br />
grandes fogueiras foram ateadas<br />
em pilhas de livros. Um “remake” será<br />
feito de maneira tão trágica por Hitler.<br />
O modelo e a inspiração foi a<br />
intolerância anti Maimônides.<br />
O terceiro e último caso é a intolerância<br />
dos grandes sábios judeus<br />
com o rabi Israel ben Eliezer, mais<br />
conhecido como Baal Shem Tov, o<br />
Maimônides<br />
fundador do Chassidismo. Um grande<br />
e inspirado rabino, repleto de uma<br />
sensibilidade ímpar e da compreensão<br />
das necessidades de seus irmãos<br />
judeus da Polônia, realizando uma sutil<br />
transformação da vida judaica. O<br />
que eu chamaria de maneira simplista:<br />
uma “popularização e<br />
participação popular” dos<br />
judeus empobrecidos na<br />
cultura e na religião. A<br />
miséria que grassava nas<br />
aldeias judaicas após os<br />
massacres dos cossacos<br />
ocorridos na metade do<br />
séc. XVII (c.1648/1650)<br />
deixara uma amarga herança:<br />
um vazio cultural<br />
com altos índices de analfabetismo<br />
e ignorância.<br />
As massas miseráveis da Europa Oriental<br />
não podiam mais estudar o dia<br />
todos as Escrituras e os comentários<br />
talmúdicos e rabínicos. Baal Shem Tov<br />
propôs uma alternativa real a isto:<br />
os líderes chassídicos, denominados<br />
tsadikim intermediavam entre seus seguidores<br />
e todo este saber, tratando<br />
de fazê-lo acessível às massas empobrecidas<br />
e ignorantes. A música e a<br />
dança ajudavam o fiel na tentativa<br />
de aproximação a D-us; a alegria era<br />
indispensável; as parábolas chassídicas<br />
passavam de maneira simples, os<br />
valores e o saber judaico. Os rabinos<br />
eruditos liderados pelo Gaon de Vilna<br />
ficaram indignados: era uma vulgarização<br />
do Judaísmo, uma heresia,<br />
uma absurda simplificação da cultura<br />
e da religião. Os chassidim foram<br />
perseguidos e anatemizados.<br />
Hoje o que vemos? Muitos defendem<br />
visões monolíticas de uma verdade<br />
única para o Judaísmo e para alguém<br />
ser judeu. Negam posturas mais<br />
modernas para entender e praticar o<br />
Judaísmo. Optam por excluir a mulher<br />
de participação igualitária nos serviços<br />
religiosos; por manter relativa rigidez<br />
de tradições negando a modernidade;<br />
por tentar manter uma espécie<br />
de gueto cultural e isolando o<br />
Judaísmo do mundo. A sobrevivência<br />
do Judaísmo não<br />
se deve à rigidez e ao fa-<br />
natismo, mas sim a capacidade<br />
de seguir<br />
com seus valores e<br />
com sua essência,<br />
mas sabendo modificar<br />
sua forma, adequando-se<br />
às novas<br />
realidades: como Fílon,<br />
Maimônides e Baal Shem<br />
Tov. O debate está aberto.<br />
* Sérgio Feldman é<br />
professor adjunto de<br />
História Antiga do<br />
Curso de História da<br />
Universidade Tuiuti do<br />
Paraná e doutorando<br />
em História<br />
pela UFPR.<br />
3
4<br />
VISÃO JUDAICA • julho de 2003 • Av • 5763<br />
Alunos de escola municipal<br />
aprendem a comer melhor<br />
Pais e alunos de Santa Felicidade envolvidos no trabalho<br />
sobre importância da alimentação e qualidade de vida<br />
As férias de julho não são apenas tempo de brincadeiras<br />
e diversão, mas também o período em que<br />
os pais devem ficar atentos à alimentação correta<br />
das crianças. O alerta foi feito no início deste mês<br />
por alunos da Escola Municipal Santo Inácio, em<br />
Santa Felicidade, durante exposição dos trabalhos<br />
realizados no semestre. O tema foi qualidade de vida,<br />
que teve como foco a alimentação e o caminho para<br />
uma vida saudável.<br />
Pais, professores e alunos participaram de peças<br />
teatrais e apresentações de música e dança. O objetivo,<br />
segundo a pedagoga da escola, Luci Francisca da<br />
Silva, foi conscientizar as famílias sobre a importância<br />
da continuidade do trabalho iniciado na escola.<br />
“As famílias mudam de rotina durante as férias, e a<br />
falta da disciplina escolar e o excesso de brincadeiras<br />
acabam fazendo com que as crianças consumam mais<br />
doces, salgadinhos ou lanches pouco nutritivos. Tentamos<br />
fazer com que pais e filhos aprendessem a montar<br />
cardápios saborosos, mas saudáveis”, disse Luci.<br />
O trabalho envolveu todas as disciplinas. Em sala<br />
de aula, as crianças conheceram formas de aproveitar<br />
corretamente os alimentos. As folhas de beterraba,<br />
por exemplo, serviram como ingrediente de uma omelete.<br />
Depois de discutir a questão em sala, cada aluno<br />
preparou a receita em casa para servir a família.<br />
O prato virou o tema de pesquisa. Com a ajuda<br />
dos computadores do Digitando o Futuro, os resultados<br />
foram transformados em gráficos. “Das 78 pessoas<br />
entrevistadas, 59 aprovaram a nossa receita e<br />
apenas 19 não gostaram do sabor da folha da beterraba”,<br />
disse o aluno Julio Staak, de 10 anos.<br />
Cada professor trabalhou o tema relacionando-o<br />
com a com a sua disciplina. Nas aulas de educação<br />
artística, os alunos fizeram a leitura de obras e imagens<br />
que retratam a alimentação, mostrando aos<br />
alunos como a arte se apropriou do tema e inspirou<br />
artistas consagrados como Van Gogh, Rembrandt e<br />
Paul Klee. Nas aulas de educação física, atividades<br />
corporais e jogos atuaram como apoio na conscientização<br />
da importância do alimento no desenvolvimento<br />
do corpo. Os alunos também assistiram filmes,<br />
desenvolveram coreografias de dança, produziram<br />
textos e gráficos.<br />
“O trabalho realizado pela escola é fundamental<br />
para prevenir e controlar a obesidade infantil, um<br />
problema que está crescendo em todo o mundo. O<br />
período escolar é o momento da formação dos hábitos<br />
da criança”, disse a nutricionista da Secretaria<br />
Municipal da Educação (SME), Sirlei Valaski. Segundo<br />
ela, a família e a escola são prioridade no combate<br />
à obesidade através de atenção à dieta alimentar<br />
equilibrada, incentivo à atividade física diária e<br />
cuidados gerais com a saúde.<br />
A SME está planejando novo curso de alimentação<br />
e nutrição para os professores da rede. Há dois<br />
anos, representantes das escolas municipais participaram<br />
de 20 horas de capacitação que possibilitou<br />
aos professores, o desenvolvimento de ações<br />
relacionadas ao tema.<br />
Transporte coletivo<br />
Pessoas com mais de 65 anos devem<br />
renovar cartão até o fim deste mês<br />
Quase 45 mil idosos<br />
usuários da Rede Integrada<br />
de Transporte (RIT) estão<br />
embarcando nos ônibus com<br />
o cartão-transporte vencido.<br />
A Urbs, empresa que gerencia<br />
a RIT, lembra que as pessoas<br />
com 65 anos ou mais<br />
que tenham feito o seu cartão<br />
entre março e julho do<br />
Idosos devem renovar o cartão<br />
nas Ruas da Cidadania<br />
ano passado devem renovar o documento até o fim deste mês.<br />
Com o cartão-transporte os idosos de Curitiba embarcam nos<br />
ônibus pela porta da frente como todos os passageiros.<br />
“Cerca de 18 mil idosos já renovaram o cartão. É importante<br />
que todos que fizeram o documento há um ano procurem<br />
as Ruas da Cidadania para atualizar os dados”, disse Edson<br />
Berleze, da Urbs. É necessário apenas levar o cartão e o<br />
documento de identidade. Quem trocou de endereço deve<br />
informar a mudança.<br />
A renovação pode ser feita nas Ruas da Cidadania da Matriz,<br />
Boa Vista, Carmo, Pinheirinho e Fazendinha, das 8h30<br />
às 17h. Berleze informou que não é necessário chegar cedo<br />
porque o atendimento é rápido e tranqüilo. O recadastramento<br />
pode ser feito perto de casa e não é preciso ir ao<br />
centro para isso.<br />
Os dados dos usuários do cartão transporte com direito a<br />
gratuidade devem ser confirmados anualmente. A revalidação<br />
é necessária para que o benefício seja garantido exclusivamente<br />
aos que têm direito a ele. Em Curitiba, 98.250 idosos<br />
usam o cartão.<br />
A partir de agosto, quem não tiver recadastrado verá no<br />
validador do ônibus, no momento do embarque, uma mensagem<br />
com o prazo para a renovação e poderá até perder o<br />
direito à gratuidade se o cadastro não for renovado.<br />
Cesar Brustolin/SMCS
VISÃOpanorâmica<br />
Indenizações<br />
• Yossi Groisseoign •<br />
Sobreviventes do Holocausto da<br />
Segunda Guerra Mundial, em 31 países,<br />
receberão US$ 15 milhões em<br />
ajuda, neste ano, de seguradoras alemãs.<br />
Serão dez pagamentos anuais.<br />
dinheiro deverá ser usado para pagar<br />
atendimento médico domiciliar<br />
e outros serviços para os sobreviventes<br />
do Holocausto. Do total distribuído<br />
neste ano, US$ 6 milhões irão<br />
para Israel e US$ 2,4 milhões para<br />
os Estados Unidos.<br />
Ela não foi ao paraíso<br />
A Autoridade Palestina divulgou<br />
que evitou um ataque suicida. No relatório<br />
dizem que uma moça de 18<br />
anos de idade deixou um bilhete de<br />
despedida para sua família dizendo<br />
estar a caminho um ataque suicida<br />
contra israelenses. A família chamou<br />
a polícia palestina que iniciou uma<br />
caçada de várias horas até encontrála<br />
no posto de fronteira de Karni e<br />
prender a moça com o cinturão de explosivos<br />
dela. Pouco depois, a agência<br />
Reuters divulgou uma nota onde<br />
a polícia palestina soltou a coitadinha<br />
que não conseguiu se explodir e<br />
a mandou para casa.<br />
Os “alvos militares”<br />
Horas antes da entrada em vigor<br />
do Road Map, um atentado feriu mortalmente<br />
um motorista que dirigia seu<br />
carro na região de Jerusalém. Nele estava<br />
uma família de judeus norte-americanos<br />
da qual Tzvi Goldstein, 47<br />
anos, morreu e seu pais, idosos, com<br />
73 anos foram gravemente feridos a<br />
bala. Mesmo ferido, Tzvi acelerou e<br />
conseguiu tirar o carro da zona de<br />
matança, salvando a vida de sua esposa<br />
e seus pais. Mas o tiro que tomou<br />
no peito foi fatal e cerca de 8 km<br />
depois Tzvi perdeu o controle do carro<br />
e capotou. Estava a caminho do Holyland<br />
Hotel, onde além da festa do<br />
casamento de seu filho, haveria a festa<br />
de 50 anos de casado de seus pais,<br />
e os 27 anos de seu próprio casamento.<br />
A emboscada covarde ocorreu perto<br />
de Ofra, ao norte de Ramallah. Os<br />
“heróis” da resistência do Hamas assumiram<br />
a autoria e disseram tratarse<br />
de...alvos militares...<br />
Quem apóia o Hamas?<br />
Sabe quem apóia o Hamas? É o<br />
país da Igualdade, Liberdade e Fraternidade.<br />
Isso mesmo: a França. Ela<br />
se posicionou contra a União Européia<br />
quando esta quis colocar o Hamas<br />
na lista dos fora-da-lei e cortar<br />
a ajuda financeira; a França é palco<br />
dos mais violentos incidentes contra<br />
a comunidade judaica desde a década<br />
de 1930 com a perseguição na Alemanha<br />
Nazista. Nos últimos 3 anos,<br />
mais de 1.800 incidentes violentos<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
foram registrados (desde espancamento<br />
e apedrejamento de judeus até<br />
incêndios criminosos de sinagogas<br />
que as queimaram até os alicerces);<br />
o governo francês diz que não existe<br />
anti-semitismo na França; a Meca-<br />
Cola, manobra para financiar indiretamente<br />
os grupos palestinos, ongs<br />
de apoio e anti-americanas, patrocinar<br />
manifestações anti-globalização,<br />
anti-americanas e contra a guerra no<br />
Iraque é produzida na França.<br />
Palestinos anunciam<br />
“cessar-fogo”<br />
A Fatah, organização liderada por<br />
Yasser Arafat anunciou sua adesão ao<br />
Road Map, que também foi declarada<br />
horas antes pelos grupos palestinos<br />
radicais Hamas e Jihad Islâmica. Do<br />
ramo da Fatah, só as Brigadas dos<br />
Mártires da Al-Aksa não aceitaram o<br />
cessar-fogo e executaram um ataque<br />
no mesmo dia em que entrou em vigência,<br />
matando um trabalhador búlgaro.<br />
Além disso, foguetes continuam<br />
sendo disparados e caindo em Israel.<br />
Ainda assim, Israel retirou suas<br />
tropas de Beit Hanun, no norte da<br />
Faixa de Gaza e de Belém, dando novo<br />
impulso ao plano de paz, o chamado<br />
“Mapa da Estrada”. Apesar de saudarem<br />
a trégua anunciada pelos três<br />
movimentos palestinos, os EUA insistiram<br />
que o desmantelamento da infra-estrutura<br />
terrorista continua sendo<br />
necessário. Nas declarações das<br />
três organizações responsáveis pelos<br />
atentados em Israel nenhuma palavra<br />
à eliminação do terrorismo ou<br />
mesmo de reconhecimento de Israel.<br />
Aliah da Índia<br />
(com informações das agências<br />
AP, Reuters, AFP e EFE e<br />
jornal Alef na internet)<br />
Em 3 de junho foi realizada no Muro<br />
das Lamentações uma cerimônia religiosa<br />
especial pela chegada de 50 novos<br />
imigrantes que dizem ser Bnei Menashe,<br />
Filhos de Menashe, uma das 10<br />
tribos perdidas. O grupo veio do Estado<br />
de Mizoram, na Índia. Atualmente a<br />
cerca de cinco mil integrantes deste<br />
grupo vivem como judeus no Nordeste<br />
da Índia. Com essa chegada dos novos<br />
olim (imigrantes) essa comunidade em<br />
Israel sobe para 750 pessoas.<br />
Campeão europeu de judô<br />
Arik Zeevi venceu o campeonato<br />
europeu de judô na categoria de 100<br />
kg, derrotando o campeão holandês<br />
Elco van der Geest em 69 segundos de<br />
luta. A final aconteceu no dia 28 de<br />
maio em Weiseldorf, Alemanha.<br />
Fechamento do consulado<br />
A deputada Célia Leão, presidente<br />
do Comitê de Assuntos Internacionais<br />
da Assembléia Legislativa do<br />
Estado de São Paulo e o vereador paulistano<br />
Gilberto Natalini, do PSDB,<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
autor do projeto de lei estabelecendo<br />
laços de “cidades-irmãs” entre São<br />
Paulo e Tel Aviv, como forma de promover<br />
o intercâmbio no campo da<br />
saúde, da educação e da gestão dos<br />
recursos hídricos, manifestaram-se ao<br />
Ministério das Relações Exteriores de<br />
Israel contra o fechamento do consulado<br />
israelense em São Paulo. Além<br />
disso, dirigentes de entidades judaicas<br />
de todo o Brasil e abaixo-assinados<br />
percorrem as comunidades do País<br />
na tentativa de reverter a decisão do<br />
fechamento do consulado, considerado<br />
importante ponto de apoio pelos<br />
judeus brasileiros.<br />
Sanções à BBC<br />
O governo israelense anunciou ter<br />
cortado contatos com a rede de rádio e<br />
TV britânica BBC por causa do que qualificou<br />
de cobertura comparável à “propaganda<br />
nazista”. A decisão foi tomada<br />
depois que um documentário da<br />
rede, intitulado “A Arma Secreta de Israel”<br />
e transmitido internacionalmente<br />
no fim de semana, acusou o país de<br />
armazenar secretamente armas químicas<br />
e nucleares. Israel considera que o<br />
documentário é o mais recente de uma<br />
série de programas da BBC que questionam<br />
o direito de Israel de existir.<br />
A rede britânica respondeu que<br />
apoiava seu programa e lamentava qualquer<br />
resposta que imponha obstáculos<br />
a seu jornalismo. O Escritório de Imprensa,<br />
a Chancelaria e o escritório do<br />
primeiro-ministro Ariel Sharon não vão<br />
mais autorizar entrevistas exclusivas a<br />
jornalistas da BBC nem lhes oferecer<br />
serviços prestados a outros correspondentes<br />
estrangeiros. A rede britânica,<br />
entretanto, poderá continuar transmitindo<br />
de Israel e acompanhando entrevistas<br />
coletivas do governo.<br />
E agora?<br />
Israel saiu de Gaza e de Belém, deu<br />
autonomia aos palestinos, libertou em<br />
junho 70 presos e mais 300 estão sendo<br />
libertados, exceto terroristas do Hamas<br />
e Jihad Islâmica. Abu Mazen foi<br />
convidado a visitar o Knesset pelo partido<br />
Shinui e, em contrapartida o que<br />
recebeu em troca? Os palestinos falam<br />
em hudna (a mídia traduz como trégua),<br />
a Jihad Islâmica quebra a “trégua”<br />
e realiza atentado em Tel Aviv e<br />
mata uma senhora de 65 anos, Arafat<br />
recebe US$ 30 milhões dos EUA e mais<br />
10 milhões de euros da Europa, Abu<br />
Mazen ameaça renunciar depois de criticado<br />
por Arafat e seu grupo Fatah.<br />
Enquanto não soltarem os terroristas do<br />
Jihad e Hamas a hudna persiste e o Irã<br />
realiza teste de mísseis e diz abertamente<br />
que é para atingir Israel. E agora?<br />
Alguém viu por aí os pacifistas?<br />
Que tal uma manifestação na porta<br />
da casa do Arafat?<br />
Pesquisas<br />
O Instituto de Pesquisas Harry Truman<br />
para o Avanço da Paz, da Universidade<br />
Hebraica de Jerusalém e o<br />
Centro Palestino de Pesquisas para Política<br />
publicaram os resultados de<br />
suas últimas pesquisas de opinião<br />
pública israelense e palestina, mos-<br />
VISÃO JUDAICA • julho de 2003 • Av • 5763<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
trando grande apoio à solução de Dois<br />
Estados para Dois Povos e ao Road<br />
Map. Israelenses e palestinos foram<br />
questionados sobre se haveria um reconhecimento<br />
mútuo: 52% dos palestinos<br />
concordaram e 46% discordaram<br />
da proposta, enquanto 65% dos<br />
israelenses concordaram e 33% discordaram.<br />
Entre os palestinos 56%<br />
querem o fim do incitamento contra<br />
Israel e 36% apóiam a prisão dos que<br />
conduzem ataques contra israelenses;<br />
Entre os israelenses, 65% apóiam a<br />
retirada do exército de Israel para<br />
suas posições anteriores à Intifada e<br />
a transferência da segurança dessas<br />
áreas para a Autoridade Palestina;<br />
54% apóia a reabertura de instituições<br />
palestinas em Jerusalém Oriental<br />
que foram fechadas; e 61% apóiam<br />
o desmantelamento de postos avançados<br />
de assentamentos.<br />
É ou não é?<br />
O ministro da Justiça Márcio Thomaz<br />
Bastos ainda estuda o pedido de<br />
extradição do governo paraguaio para<br />
Assad Ahmad Barakat, apontado por<br />
aquele país como líder do grupo xiita<br />
Hezbollah na Tríplice Fronteira. Libanês<br />
naturalizado paraguaio e residente<br />
em Foz do Iguaçu, Barakat é um embaraço<br />
ao Brasil. Na visita que fez em<br />
junho ao país, o primeiro-ministro do<br />
Líbano, Rafik Hariri, intercedeu por<br />
Barakat. E disse que o Hezbollah não é<br />
uma organização terrorista, mas um<br />
partido político, uma entidade religiosa<br />
e assistencialista. Mas não é a opinião<br />
do Departamento de Estado americano,<br />
que mantém o Hezbollah na lista<br />
das organizações terroristas. Para os<br />
EUA, Barakat é o caso mais concreto<br />
do envolvimento com terrorismo de<br />
membros da comunidade árabe da fronteira<br />
Brasil-Paraguai-Argentina. Barakat<br />
assume ter arrecadado dinheiro<br />
para entidades de assistência aos familiares<br />
de militantes mortos em ações<br />
do Hezbollah. Ou seja, além de partido<br />
político e entidade religiosa, promove<br />
“ações”. Que ações? Terroristas, evidentemente.<br />
As arrecadações teriam somado<br />
milhões de dólares por ano.<br />
Museu judaico<br />
Quando esteve em Curitiba, em junho,<br />
o rabino Simon Moguilevksy convocou<br />
a comunidade e incentivou as<br />
lideranças de Curitiba a preservar as<br />
lembranças das famílias judaicas num<br />
museu, nos moldes do existente em<br />
Buenos Aires. A idéia é que as famílias<br />
doem objetos cerimoniais e peças<br />
como candelabros, chanukiót, baixelas,<br />
toalhas de mesa toalhas que<br />
cobrem chalót trazidas da Europa, livros<br />
antigos, fotografias de época da<br />
família, passaportes etc. O Museu<br />
Judio de Buenos Aires “Dr. Salvador<br />
Kibrick” que pertence á Congregação<br />
Israelita Argentina existe desde 1967<br />
e já tem inclusive um boletim quinzenal<br />
de notícias e funciona com voluntários<br />
sob o lema: “Museu é memória<br />
ou esquecimento — você escolhe”.<br />
Todos os visitantes, desde<br />
escolares, até universitários e pesquisadores<br />
recebem um folheto explicativo<br />
bilíngüe. Resta saber qual a escolha<br />
de Curitiba.<br />
5
6<br />
Sessão do<br />
julgamento do STF<br />
em que Ellwanger<br />
recebeu mais votos<br />
condenando-o por<br />
crime de racismo:<br />
placar de 7 a 1<br />
VISÃO JUDAICA • julho de 2003 • Av • 5763<br />
STF nega habeas corpus a editor condenado por racismo<br />
Após o pedido de vista do ministro<br />
Carlos Ayres de Britto, o Supremo Tribunal<br />
Federal interrompeu novamente,<br />
no dia 26 de junho, o julgamento do<br />
habeas corpus (HC 82424) requerido pela<br />
defesa do editor Siegfried Ellwanger,<br />
condenado pelo crime de racismo. A votação,<br />
porém já tem maioria, com 7 vo-<br />
STF<br />
tos a 1. A maioria dos ministros já se<br />
posicionou sobre o caso e negou o pedido<br />
por entender que a prática de racismo<br />
abrange a discriminação contra<br />
os judeus. O relator do processo, Moreira<br />
Alves — que já se aposentou, deixando<br />
o STF — até o presente momento,<br />
foi o único favorável à concessão da<br />
ordem e declarar prescrito o crime.<br />
Gilmar Mendes, Carlos Velloso, Nelson<br />
Jobim, Ellen Gracie e Antonio Peluso,<br />
que votaram dia 26/6, seguiram<br />
os votos de Maurício Corrêa e Celso de<br />
Mello, que abriram a dissidência, no<br />
sentido de que o crime no caso foi<br />
mesmo de racismo. O delito, portanto,<br />
é imprescritível, conforme prevê o artigo<br />
5º, inciso XLII da Constituição.<br />
Ainda faltam votar os ministros Carlos<br />
Britto, Marco Aurélio e Sepúlveda Pertence.<br />
O ministro Joaquim Barbosa não<br />
tem voto porque é o atual ocupante da<br />
cadeira do relator, Moreira Alves.<br />
Gilmar Mendes<br />
Ao trazer os autos de volta ao Plenário<br />
após o pedido de vista, o ministro<br />
Gilmar Mendes iniciou seu voto abordando<br />
o conceito de racismo. Ele citou<br />
obras de diversos autores que apresentaram<br />
reflexões sobre o racismo e o antisemitismo,<br />
tais como Kevin<br />
Boyle e Norberto Bobbio, e<br />
lembrou que o Brasil é signatário<br />
de tratados internacionais<br />
“que não deixam dúvida<br />
sobre o claro compromisso<br />
no combate ao racismo<br />
em todas as suas formas<br />
de manifestação, inclusive o<br />
anti-semitismo”. Sua interpretação<br />
foi no sentido de<br />
que a Constituição brasileira<br />
compartilha desse sentido,<br />
de que “o racismo configura<br />
conceito histórico e cultural<br />
assente em referências<br />
supostamente raciais, aqui<br />
incluído o anti-semitismo”.<br />
Em seguida, o ministro<br />
Gilmar passou a confrontar as<br />
manifestações de caráter racista com a<br />
direito à liberdade de expressão. “A liberdade<br />
de expressão, em todas as suas<br />
formas, constitui pedra angular do próprio<br />
sistema democrático”, afirmou. Por<br />
outro lado, “a discriminação racial levada<br />
a efeito pelo exercício da liberdade<br />
de expressão compromete um dos pilares<br />
do sistema democrático, a própria<br />
idéia de igualdade. (...) Em tese, é possível<br />
o livro ser instrumento de discriminação,<br />
não parece haver dúvida”.<br />
A partir daí, Gilmar Mendes passou a<br />
analisar a questão sob o ponto de vista<br />
do princípio da proporcionalidade. Ele argumentou<br />
que “a liberdade de expressão<br />
não se afigura absoluta no nosso texto<br />
constitucional”, pois houve ressalvas, por<br />
exemplo quanto à liberdade de informação,<br />
que deveria ser exercida de modo<br />
compatível como o direito à imagem, à<br />
honra e à vida privada (art. 5º, inciso<br />
X). “Da mesma forma, não se pode atri-<br />
buir primazia à liberdade de expressão,<br />
no contexto de uma sociedade pluralista,<br />
em face de valores outros como os da<br />
igualdade e da dignidade humana. Daí<br />
ter o texto constitucional de 1988 erigido,<br />
de forma clara e inequívoca, o racismo<br />
como crime inafiançável e imprescritível<br />
(CF, art. 5º, XLII), além de ter determinado<br />
que a lei estabelecesse outras<br />
formas de repressão às manifestações<br />
discriminatórias (art. 5º, XLI).”<br />
Por fim, o ministro concluiu que a<br />
decisão do Tribunal de Justiça do Rio<br />
Grande do Sul (TJ/RS), de condenar<br />
Siegfried Ellwanger, foi adequada e proporcional<br />
e alcançou o fim almejado, que<br />
é o de “salvaguarda de uma sociedade<br />
pluralista, onde reine a tolerância”. Ele<br />
disse estar evidente, pelo acórdão do<br />
TJ/RS, que os livros publicados pelo<br />
editor não continham simples discriminação,<br />
mas são textos que, de maneira<br />
reiterada, estimulam o ódio e a violência<br />
contra os judeus.<br />
Carlos Velloso<br />
O ministro Carlos Velloso pediu antecipação<br />
de voto e também foi pelo indeferimento<br />
do habeas corpus. Ele fez um<br />
histórico sobre a proteção dos direitos<br />
humanos desde o advento da idéia de<br />
Constituição, surgida a partir da segunda<br />
metade do século XVIII até os dias<br />
atuais e citou parecer do jurista Celso<br />
Lafer ao conceituar o racismo, afirmando<br />
que “ele constitui-se no atribuir aos<br />
seres humanos características raciais para<br />
instaurar a desigualdade e a discriminação.”<br />
Ele entendeu que o anti-semitismo<br />
é uma forma de racismo.<br />
Segundo Velloso, nos livros publicados<br />
por Ellwanger, os judeus são percebidos<br />
como raça, porque há pontos<br />
em que se fala em “inclinação racial e<br />
parasitária dos judeus”, “tendências do<br />
sangue judeu”, “judeus como culpados<br />
e beneficiários da Segunda Guerra”,<br />
entre outras. “Não tenho dúvidas<br />
em afirmar que a conduta do paciente<br />
implica prática de racismo, o que a<br />
Constituição considera crime grave e<br />
imprescritível”, disse.<br />
Velloso também enfocou a matéria<br />
sob o ponto de vista do direito à<br />
liberdade de expressão, argumentando<br />
que embora seja garantia consagrada<br />
pela Constituição, não tem caráter<br />
absoluto. “Se se tem conflito<br />
aparente de direitos fundamentais, a<br />
questão se resolve pela prevalência do<br />
direito que melhor realiza o sistema<br />
de proteção de direitos e garantias<br />
inscritos na Lei Maior,” concluiu.<br />
Nelson Jobim<br />
O ministro Nelson Jobim também antecipou<br />
seu voto e acompanhou o relator,<br />
pelo indeferimento do habeas corpus.<br />
Ele julgou que Siegfried Ellwenger<br />
não editou os livros por motivos históricos,<br />
mas como instrumentos para produzir<br />
o anti-semitismo.<br />
Rejeitou o ministro a linha proposta<br />
pela defesa, segundo a qual, sendo<br />
os judeus um povo e não uma raça,<br />
não estariam amparados pela Constituição<br />
Federal, em relação à imprescritibilidade<br />
do suposto crime de racismo.<br />
Conforme Jobim, a tese “parte<br />
do pressuposto de que a expressão<br />
racismo usada na Constituição teria<br />
conotação e um conceito antropológico<br />
que não existe”, disse.<br />
O ministro considerou a matéria em<br />
julgamento um “caso típico” de fomentação<br />
do racismo. “Vejo nitidamente nas<br />
condutas traduzidas no acórdão e aquilo<br />
que está nos autos a evidente e clara<br />
destinação da prática daquilo que está<br />
coibido na Constituição. A Constituição<br />
meramente determina que a legislação<br />
infraconstitucional não pode tratar esse<br />
tipo de ilícito com as regras da prescrição<br />
(...)”, afirmou.<br />
Ellen Gracie<br />
A ministra iniciou seu voto pela definição<br />
de raça, constante da Enciclopédia<br />
<strong>Judaica</strong>, editada no Brasil pela editora<br />
Tradição, do Rio de Janeiro. O verbete<br />
lido por ela narra que “a concepção<br />
de que a humanidade está dividida em<br />
raças diferentes encontra-se de maneira<br />
vaga e imprecisa na Bíblia, onde, no entanto,<br />
como já acentuavam os rabinos, a<br />
unidade essencial de todas as raças é<br />
sugerida na narrativa da criação e da origem<br />
comum de todos os homens. (...)”.<br />
“É impossível, assim me parece, admitir-se<br />
a argumentação segundo a qual<br />
se não há raças, não é possível o delito<br />
de racismo”, concluiu Ellen Gracie.<br />
Cezar Peluso<br />
O ministro recém-empossado Antonio<br />
Cezar Peluso seguiu a maioria e votou<br />
pela denegação do habeas corpus.<br />
Ele disse concordar com o ministro Nelson<br />
Jobim, para quem a definição de racismo<br />
deve ser pragmática.<br />
“A discriminação é uma perversão<br />
moral, que põe em risco os fundamentos<br />
de uma sociedade livre”, disse Peluso.<br />
O ministro acentuou que, neste<br />
caso, o que lhe chamou atenção foi o<br />
fato de que o mesmo editor se tornou<br />
especialista na publicação dos livros.<br />
“Se ele se propusesse como um editor<br />
de excentricidades eu até consideraria,<br />
com alguma generosidade, este habeas<br />
corpus. Mas ele, na verdade, se especializou<br />
em editar e publicar, como autor,<br />
uma série de livros que instigam a discriminação.<br />
E, portanto, isso tem o significado<br />
óbvio, do meu ponto de vista,<br />
que se trata de uma prática que contraria<br />
a tutela constitucional”.
VISÃO JUDAICA • julho de 2003 • Av • 5763<br />
Entrevista com Celso Lafer O LEITOR<br />
sobre decisão do Supremo ESCREVE<br />
O ex-ministro das Relações Exteriores<br />
do Brasil, Celso Lafer, cujo parecer foi citado<br />
por diversos ministros do STF, entrevistado<br />
logo após o julgamento do dia 26/<br />
6, explicou seu ponto de vista acerca do<br />
resultado sessão.<br />
“Acho o resultado esplendido. O ponto<br />
de partida de tudo foi o voto do ministro<br />
Maurício Corrêa, foi ele que teve a<br />
intuição da importância do caso, pediu<br />
vista em dezembro, quando o ministro<br />
Moreira Alves deu seu voto e concedeu o<br />
habeas corpus solicitado por Elwabger. O<br />
primeiro ponto a realçar é o sentido de<br />
justiça e depois, a qualidade do voto do<br />
ministro Mauricio Correa.<br />
O voto dado também pelo ministro Celso<br />
Mello foi muito importante. E agora nós<br />
tivemos vários votos. O do ministro Gilmar<br />
Mendes representa uma análise e uma construção<br />
jurídica perfeita, seja sobre o crime<br />
da prática de racismo, seja sobre o tema da<br />
interpretação constitucional quando há mais<br />
de um direito que precisa ser preservado, a<br />
dignidade da pessoa humana, foi a opção<br />
que ele com toda a clareza colocou.<br />
Destaco também o voto do ministro<br />
Velloso, que fez referência à toda temática<br />
de direitos humanos e à relação entre<br />
o direito interno e o direito internacional<br />
nessa matéria. O voto do ministro<br />
Jobim foi mais curto, mas foi preciso na<br />
FILME<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
VJ INDICA<br />
DVD - VHS<br />
FOCUS<br />
compreensão do que deve ser a interpretação<br />
constitucional. O voto da ministra Ellen<br />
foi de grande sensibilidade, muito agudo<br />
na percepção daquilo que é um valor<br />
muito importante para a comunidade judaica,<br />
em toda a reflexão que fez sobre o antisemitismo<br />
e o racismo. Creio que o voto do<br />
novo ministro Cezar Peluso, foi um voto no<br />
calor da hora, inclusive sem estudo prévio,<br />
mas motivado por aquilo que é a prática de<br />
racismo feita pelo editor Ellwanger, ou seja<br />
não é a edição de um o livro ou de outro, é<br />
uma organização de livros, inclusive de sua<br />
própria autoria, deliberadamente voltados<br />
para propagação do racismo e do anti-semitismo,<br />
como racismo inequívoco.<br />
Tivemos uma decisão que será um leading<br />
case, em relação ao tema, que transcende à<br />
comunidade judaica, sendo um voto importante<br />
para todos aqueles que são ou podem vir a<br />
ser objeto de discriminação e a mais perversa<br />
delas todas que é a do racismo.<br />
Entendo que a imprescritibilidade foi<br />
deliberada como política de direito pelo<br />
constituinte, com o objetivo de evitar a<br />
reincidência, justamente como se deseja no<br />
Brasil — e a Constituição de 1988 é clara<br />
neste sentido — a construção de uma sociedade<br />
fraterna sem discriminações, impedir<br />
a reincidência através da imprescritibilidade<br />
está de acordo com o espírito e<br />
com a letra da Constituição.<br />
Direção: Neal Slavin<br />
Elenco : William H. Macy, Laura Dern, David Paymer, Meat Loaf, Kay Hawtrey,<br />
Michael Copeman, Kenneth Welsh, Joseph Ziegler<br />
Áudio e legendas: (no DVD) Português, inglês e espanhol<br />
Duração: 107 minutos<br />
Sinopse: Em Nova York, durante a<br />
2ª Guerra, Lawrence Newman e sua<br />
esposa Gertrude têm suas identidades<br />
contestadas pelos vizinhos anti-semitas<br />
do Brooklyn que os consideram judeus.<br />
Excluídos gradativamente do bairro<br />
onde moram e trabalham, eles aprendem<br />
o valor do reconhecimento pessoal<br />
e da solidariedade, enquanto lutam<br />
para manter uma vida digna e encontrar<br />
a tão sonhada felicidade. Um filme<br />
denso, nada piegas, baseado no<br />
romance de Arthur Miller e com interpretação<br />
brilhante de William H. Macy.<br />
O anti-semita Norberto Toedter<br />
Aos Editores:<br />
Acabei de receber <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong>,<br />
este excelente informativo<br />
e gostaria de unir-me com esta<br />
mensagem às opiniões sobre o<br />
destaque que o jornal O Estado<br />
do Paraná deu ao revisionista,<br />
que só contribui para gerar mais<br />
ódio e racismo neste nosso mundo<br />
já tão intolerante.<br />
“A cadela que o pariu está no<br />
cio outra vez“. Esta frase de aparência<br />
chula faz parte de uma das<br />
falas do personagem principal da<br />
famosa peça Arturo Ui, do teatrólogo<br />
Bertold Brecht - uma parábola<br />
do nazismo que faz uma alusão ao<br />
renascimento das idéias de Hitler.<br />
Esta obra foi escrita em 1941<br />
e hoje em pleno ano de 2003 estamos<br />
em trabalho de parto aliados<br />
à inseminação artificial da intolerância<br />
e racismo.<br />
Skinheads matam e torturam no<br />
Brasil e no mundo, sinagogas são<br />
arrombadas e incendiadas; homensbomba<br />
se lançam em pizzarias e<br />
ônibus populares, matando dezenas<br />
de inocentes, nazi-fascistas escrevem<br />
livros negando o Holocausto e<br />
fazendo com que a memória de seis<br />
milhões de pessoas que tiveram<br />
suas vidas ceifadas de forma cruel e<br />
selvagem seja tripudiada<br />
Como se não bastassem as<br />
“obras” do revisionista Ellwanger,<br />
cujo crime de discriminação racial<br />
ainda transita no STF, surge agora<br />
no cenário literário nacional o<br />
paranaense de origem alemã Norberto<br />
Troedter que com suas teses<br />
e estatísticas escreve em seu<br />
livro E a Guerra Continua, - uma<br />
produção independente, pois nenhuma<br />
editora quis bancar esta vil<br />
literatura — que Hitler não passou<br />
de um ingênuo, como ingênuo foi<br />
todo o povo alemão nas questões<br />
políticas e militares. Em outro trecho<br />
do livro Troedter diz que “houve<br />
sim perseguição de Hitler aos<br />
judeus, mas era somente porque<br />
eles ocupavam todo os cargos e<br />
posições estratégicas na Alemanha<br />
e sua intenção era apenas<br />
acabar com esse domínio”. O que<br />
o senhor Norberto não comenta,<br />
entretanto, é que o meio mais eficaz<br />
para fazer isso era exterminando<br />
todos os judeus com a operação<br />
chamada de Solução Final.<br />
E à medida que o tempo nos<br />
distancia do mais macabro episódio<br />
da humanidade, que perdemos<br />
7<br />
nossos sobreviventes-testemunhas<br />
vivas das máquinas de morte do<br />
Terceiro Reich — espaços vão se<br />
abrindo para os que tentam inverter<br />
os papéis das vítimas, negam o<br />
Holocausto e encontram respaldo<br />
na má-fé daqueles que apregoam<br />
a liberdade de expressão. Corremos<br />
o risco de nos tornarmos vilões<br />
de nossas próprias mazelas<br />
Márcia Cherman Sasson<br />
Rio de Janeiro<br />
Um novo leitor<br />
Prezados Senhores,<br />
Sou membro da Sociedade Israelita<br />
Brasileira Beth Jacob, de<br />
Campinas, Estado de São Paulo.<br />
Tendo lido <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong>, gostaria<br />
de pedir-lhes a gentileza de<br />
recebê-la pelo correio.<br />
Sérgio Rosvald Donaire<br />
Campinas, São Paulo<br />
Isac Nudelman<br />
Aos editores do jornal:<br />
Congratulamo-nos com Isac<br />
Nudelman pelos quatro anos de<br />
atuação brilhante e competente à<br />
frente da entidade mantenedora da<br />
Escola Israelita Brasileira Salomão<br />
Guelmann. Fazer trabalho comunitário<br />
não é fácil, exige dedicação,<br />
amor e até sacrifício da vida pessoal<br />
e profissional. Mas ele soube<br />
enfrentar desafios e com coragem<br />
conseguiu elevar o nome e o prestigio<br />
da querida Escola Israelita.<br />
Continue sua trajetória de vida<br />
com muito sucesso e realizações.<br />
Nosso muito obrigado. Kol Hacavod.<br />
Na’Amat Pioneiras<br />
Centro Curitiba<br />
Uma obra que cresce<br />
Prezados amigos:<br />
É uma alegria renovada a cada<br />
edição ver uma colaboração minha<br />
pequena que seja no seu jornal,<br />
que dá prazer de ler, além de<br />
(voltando a afirmar) ver a continuidade<br />
e crescimento de uma obra<br />
que, sem ostentação, congrega<br />
grandes escritores e artigos, lindíssimas<br />
ilustrações, despertando<br />
interesse e admiração de todos a<br />
quem mostro. Mazal Tov!<br />
Jane Bichmacher de Glasman<br />
Professora e escritora<br />
Rio de Janeiro<br />
Para escrever ao jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong> basta<br />
passar um fax pelo telefone 3018-8018 ou um<br />
e-mail para visaojudaica@visaojudaica.com.br
8<br />
VISÃO JUDAICA • julho de 2003 • Av • 5763<br />
17 de Tamuz a 9 de Av:<br />
O pranto que se faz ouvir<br />
As três semanas: 17 de julho a 7 de agosto de 2003<br />
Três semanas inteiras de nosso ano —<br />
as três semanas “entre os apertos” de 17<br />
de Tamuz e 9 de Av — são designadas como<br />
um período de luto pela destruição do<br />
Templo Sagrado e o conseqüente exílio físico<br />
e deslocamento espiritual — no qual<br />
ainda nos encontramos.<br />
17 de Tamuz: Quinta-feira, 17 de julho<br />
Horário de jejum: de 5h47 à 18h02<br />
O jejum de 17 de Tamuz, o dia em que<br />
Moisés quebrou as Tábuas da Lei ao ver o<br />
povo judeu adorando o bezerro de ouro,<br />
“coincidentemente” provou ser o mesmo<br />
dia em que os romanos irromperam pelas<br />
muralhas de Jerusalém para dar início à<br />
destruição do Segundo Templo.<br />
Os nove dias: Quarta-feira, 30 de julho<br />
a quinta-feira, 7 de agosto<br />
“Quando começa o mês de Av, reduzimos<br />
nosso júbilo...” (Talmud, Tratado Ta’anit 26).<br />
Começando em 1º de Av, usualmente nos abstemos<br />
de diversas atividades que estão associadas<br />
à alegria.<br />
9 de Av: Quinta-feira, 7 de agosto de 2003<br />
O dia 9 de Av, Tish’á Beav, celebra uma<br />
lista de catástrofes tão graves que é claramente<br />
um dia especialmente amaldiçoado por<br />
D-us. O Primeiro Templo foi destruído neste<br />
dia. Cinco séculos mais tarde, conforme os<br />
romanos se aproximavam do Segundo Templo,<br />
prontos para incendiá-lo, os judeus ficaram<br />
chocados ao perceber que o Segundo<br />
Templo foi destruído no mesmo dia que o<br />
Primeiro.<br />
Quando os judeus se rebelaram contra o<br />
governo romano, acreditavam que seu líder,<br />
Shimon bar Kochba, preencheria suas ânsias<br />
messiânicas. Mas suas esperanças foram cruelmente<br />
destroçadas quando os judeus rebeldes<br />
foram brutalmente esquartejados na batalha<br />
final em Betar, em 9 de Av.<br />
Os judeus foram expulsos da Inglaterra<br />
também em Tish’á Beav. Em 1492, a Idade de<br />
Ouro da Espanha terminou, quando a Rainha<br />
Isabel e seu marido Fernando ordenaram que<br />
os judeus fossem banidos do país. O decreto<br />
de expulsão foi assinado em 31 de março de<br />
1492, e os judeus tiveram exatamente três<br />
meses para colocar seus negócios em ordem<br />
e deixar o país. A data hebraica na qual nenhum<br />
judeu mais teve permissão de permanecer<br />
no país onde tinha desfrutado de receptividade<br />
e prosperidade foi 9 de Av.<br />
A Segunda Guerra Mundial e o Holocausto,<br />
concluem os historiadores, foi na verdade<br />
a finalização arrastada da Primeira Guerra.<br />
E a Primeira Guerra Mundial começou, no<br />
calendário hebraico, em 9 de Av - Tish’á Beav.<br />
Os judeus vêem estes fatos como outra<br />
confirmação da convicção profundamente enraizada<br />
de que a História não ocorre por aca-<br />
so; os acontecimentos — mesmo os terríveis<br />
— são parte de um plano Divino, e têm um<br />
significado espiritual. A mensagem do tempo<br />
é que há um propósito racional, muito<br />
embora não possamos entendê-lo.<br />
7 de agosto de 2003 – 9 de Av – Início do<br />
jejum às 17h45 (do dia 6) e término às<br />
18h10 (do dia 7)<br />
Tishá Beav<br />
O dia 9 de Av – Tishá Beav – é um dia<br />
de jejum publico (semelhante ao de Iom<br />
Kipur) e luto pela destruição dos dois Templos<br />
de Jerusalém.<br />
Depois do Iom Kipur, Tishá Beav é o dia<br />
de jejum mais importante do calendário judaico.<br />
Ele marca o último dia do período<br />
de três semanas de intenso luto nacional<br />
pelos eventos que levaram à perda da independência<br />
judaica.<br />
Tal como no Iom Kipur, o jejum começa<br />
antes do pôr-do-sol e termina após o pôrdo-sol<br />
no dia seguinte. Nada pode ser comido<br />
ou bebido, inclusive água. Na sinagoga a<br />
cortina existente na frente da Arca é retirada.<br />
No serviço do anoitecer, acendem-se velas<br />
suficientes para a leitura do serviço e os<br />
fiéis não se sentam em bancos ou cadeiras,<br />
mas no chão ou em banquinhos baixos e descalços<br />
que são sinal de luto.<br />
Na ultima refeição antes do jejum,<br />
come-se pãezinhos redondos e ovos e às<br />
vezes se espalham cinzas sobre os ovos. O<br />
círculo não tem começo nem fim, assim<br />
como a eternidade. Portanto, estes alimentos<br />
têm sido, desde longa data, associados<br />
com o luto e a vida eterna.<br />
Após o serviço ao anoitecer, lê-se o Livro<br />
das Lamentações, e isto é seguido pela leitura<br />
de elegias, hinos e preces de luto, que<br />
são publicadas num livreto especial e mantidas<br />
na sinagoga para este dia.<br />
Há cinco coisas proibidas em Nove de Av:<br />
comer e beber, lavar-se, untar-se com óleo,<br />
vestir sapatos de couro e coabitar.<br />
Todos devem jejuar em Nove de Av,<br />
incluindo mulheres grávidas e mães em fase<br />
de amamentação. Quem estiver doente, porém,<br />
pode comer, mesmo se sua doença não<br />
lhe ameaça a vida. Entretanto, uma pessoa<br />
doente deve abster-se de comer iguarias e<br />
deveria ingerir somente o que for absolutamente<br />
necessário para seu bem-estar físico.<br />
Costuma-se dizer que a pessoa que come<br />
ou bebe em Nove de Av sem ter de fazê-lo<br />
por razões de saúde não merecerá ver o júbilo<br />
de Jerusalém. E quem prantear sobre<br />
Jerusalém merecerá ver sua felicidade, como<br />
promete o versículo (Yeshayahu 66:10): “Rejubile-se<br />
grandemente com ela, todos que<br />
por ela pranteiam.”<br />
O que é a hudna?<br />
Ela entrou em vigor dias atrás e deverá ser válida por três meses. Não<br />
espere que os jornais e TVs digam a você o que é hudna. Para a grande mídia,<br />
que não consegue traduzir nem Road Map to Peace para Roteiro da Paz, hudna<br />
significa trégua. Só que “trégua” no sentindo ocidental da palavra, enquanto<br />
ela é proferida por muçulmanos mais fundamentalistas ou menos fundamentalistas<br />
no seu próprio conceito geopolítico e não no nosso.<br />
Nas agências de notícias internacionais, hudna está sendo traduzida como<br />
truce (em inglês) que significa claramente “suspensão (temporária) das hostilidades”.<br />
“Trégua” em português tem o mesmo significado. No contexto militar<br />
ocidental uma trégua é declarada para recolher feridos no campo de batalha, por<br />
exemplo, para evacuar civis, ou num momento de exaustão das forças que leva<br />
há um rendição e fim de conflito maior ou localizado. A Segunda Guerra Mundial,<br />
por exemplo, não terminou após uma trégua: terminou a após a tomada da<br />
capital da Alemanha e uma rendição incondicional. A guerra do Vietnã terminou<br />
com a fuga do exército americano e a invasão de Saigon pelas tropas do Norte.<br />
A Guerra da Coréia ainda não terminou... A Associated Press declarou que “o<br />
sucesso do processo de paz pode ficar estagnado em um conceito legal datando<br />
do nascimento do Islã: a hudna, ou trégua de duração fixa”.<br />
O New York Times acrescentou que a hudna vai constituir “o maior avanço...<br />
após 33 meses de violência”. Hudna tem um significado distinto para os<br />
fundamentalistas islâmicos bem versados em sua própria história: o profeta<br />
Maomé declarou uma lendária hudna de 10 anos com a tribo Quraysh que<br />
controlava Meca no século VII. Durante os dois anos seguintes, Maomé rearmou<br />
seu exército e usou uma desculpa de quebra da hudna por uma infração<br />
cometida pela tribo Quraysh para lançar um ataque total e conquistar Meca, a<br />
cidade mais sagrada para o Islã. Portanto, o significado islâmico de hudna é:<br />
o meu lado fazer uma trégua para que o meu lado se prepare para a conquista<br />
final do inimigo. Como um dos objetivos dos fundamentalistas islâmicos é a<br />
idealização de uma sociedade islâmica como nos tempos do profeta, é por aí<br />
que eles devem estar pensando. A hudna não é uma trégua técnica: é um<br />
trégua estratégica. Para a mídia ocidental a declaração de uma hudna pelo<br />
Hamas significa um compromisso com um resolução pacífica, quando na verdade<br />
significa a preparação para esmagar o inimigo.<br />
Essa não é a primeira hudna declarada no processo de paz entre israelenses<br />
e palestinos. Em 1994, Yasser Arafat explicou, em árabe, para os palestinos<br />
que os acordos de Oslo eram uma hudna no caminho para Jerusalém.<br />
Depois, em 2000, usando como pretexto a visita de Ariel Sharon à Esplanada<br />
das Mesquitas, criou a tal da “pequena infração inimiga” quebrando a hudna<br />
e se lançando à nova guerra, conhecida como Intifada de Al Aqsa, ou Intifada<br />
II. Em relação ao Hamas, a coisa não é muito diferente. Nos últimos 10<br />
anos o grupo declarou 10 situações de cessar-fogo, mas nunca parou de<br />
lutar. Essa é apenas a décima-primeira.<br />
É claro que qualquer pessoa racional espera que os termos ocidentais da<br />
“trégua” prevaleçam e é muito improvável que isso ocorra. Nestes próximos 3<br />
meses deverão ser implementados outros itens e fases do Roteiro da Paz. Um<br />
deles é a continuação da construção do muro de 350 km de extensão. Já pipocam<br />
na mídia militante as comparações de que esse muro (dentro de Israel) e<br />
que não cerca os territórios palestinos é pior que o muro de 14 km do Gueto de<br />
Varsóvia, que enclausurava os judeus para o extermínio pela fome e doença<br />
dentro da capital polonesa. Dentro do direito internacional, cada país cuida de<br />
suas fronteiras, de seu lado, como quiser. Poucos se importam com os muros e<br />
fossos entre os Estados Unidos e México para tentar conter a imigração ilegal.<br />
Mas cá entre nós: quanto tempo você acha que a hudna vai durar? Três<br />
meses? Uma semana? Um dia? Algumas horas? Agora se trata de achar o tal do<br />
incidente catalisador da quebra da hudna. Como os israelenses não têm hudna<br />
nenhuma, estão cumprindo sua parte do acordo e retirando o exército da Faixa<br />
de Gaza imediatamente. E o que os palestinos fizeram?<br />
No primeiro dia, depois da meia-noite, hora de Israel, com a hudna já em<br />
vigor um morteiro atingiu Gush Katif, um míssil antitanque foi disparado contra<br />
posições do Exército de Israel em Nvei Dekalim e outro posto do Exército<br />
foi atacado a tiros em Rafiach. Pela manhã, os palestinos, num ato heróico de<br />
sublime coragem atacaram um grupo de trabalhadores que asfaltava um trecho<br />
de estrada perto de Kalkilya, matando Raskov Karisto, 45, trabalhador búlgaro<br />
estrangeiro. Isso ocorreu algumas horas depois da Brigada dos Mártires de Al<br />
Aqsa, parte da Fatah dirigida por Yasser Arafat declarar que vai aceitar a hudna.<br />
Na sua declaração oficial de propaganda após o assassinato, este grupo<br />
declarou que o ataque “é em resposta à hudna”. Você entendeu? Nem precisa:<br />
os eles têm o direito de continuar assassinando quem bem quiserem enquanto<br />
os ocidentais pensam em trégua e paz.<br />
Às primeiras horas de segunda-feira, foram passando e a estrada Tancher,<br />
em Gaza foi reaberta para a circulação de palestinos. Menos de quatro horas<br />
depois da reabertura, posições do exército israelense foram atacadas a tiros<br />
por palestinos a partir dessa estrada. Essa é a grande trégua pacífica islâmica.<br />
Para os palestinos, o primeiro dia da hudna foi como qualquer outro. Será que<br />
amanhã as coisas serão diferentes?
TURISMO<br />
Porta de Sion – bairro judeu (1)<br />
O Monte Sion guarda locais de importância para judeus e cristãos, conforme<br />
vimos na última edição. Além disso, do monte pode-se ter ampla visão<br />
das montanhas que cercam Jerusalém. Olhando-se a partir do oeste vê-se o<br />
monte das oliveiras, o Monte Scopus, onde está a Universidade Hebraica de<br />
Jerusalém (o monte tem o nome de Scopus porque foi de lá que Flavio Josefo<br />
teve a última vista da cidade), a Augusta Vitória, a Viri Galilei ou Jardim do<br />
Caçador, onde está o palácio do patriarca greco-ortodoxo, o Monte da Ascensão<br />
e o Monte da Ofensa, local que, segundo conta-se, Salomão permitiu a<br />
construção de um templo para os ídolos da sua mulher (1Reis 11:7).<br />
A Porta de Sion é uma das sete entradas<br />
da antiga Jerusalém. Esta porta<br />
teve conservada a forma de L, sistema<br />
que garantia maior segurança durante<br />
ataques inimigos. Nela há uma mezuzah<br />
de ferro e, se a minha memória não falha,<br />
esta é a única das portas que possui<br />
essa marca judaica. Pode-se ver ainda, nas<br />
pedras que emolduram a porta, as marcas<br />
dos combates da guerra de 48.<br />
Entrando pela Porta de Sion, seguindo<br />
à esquerda, pela rua Ha-Patriarkhiya<br />
chega-se ao bairro armênio, um dos bairros<br />
cristãos da cidade antiga; pela direita,<br />
chega-se à rua Habad, uma das entradas<br />
do bairro judeu. Este bairro foi<br />
A Porta de Sion<br />
totalmente destruído entre dezembro de<br />
47 a maio de 48, na Guerra da Independência.<br />
Em junho de 67, Israel o reconquistou, reconstruindo-o totalmente,<br />
preservando a característica arquitetônica da cidade: traçado das ruas, desenho<br />
dos edifícios, tipos de pedras, etc.<br />
Muitos são os locais de interesse neste bairro. Temos o Museu da Antiga<br />
Comunidade, que preserva relíquias da vida judaica no bairro, quando este<br />
não passava de um gueto. Neste museu se pode também ver objetos que<br />
mostram as diferenças de estilos artísticos entre as comunidades sefaradita e<br />
asquenazita. Nas proximidades do museu está a Casa Habad e o Cardo Maximus<br />
– a Champs Elysées do período romano e bizantino em Jerusalém.<br />
O cardo (coração), rua principal da cidade romana – foi restaurado,<br />
mantendo a forma tradicional das antigas ruas da Jerusalém conquistada<br />
por Roma, quando passou a ser chamada de Aelia Capitolina. Passando pelo<br />
cardo, pode-se imaginar como eram as antigas ruas do comércio. Na sua<br />
parte coberta – uma galeria – encontram-se luxuosas lojas de artes, artigos<br />
religiosos, moda, etc. No nível inferior do piso, pode-se ver as ruínas dos<br />
séculos II e I a.e.c. Elas são um exemplo da influência helênica na cultura<br />
hebraica durante dinastia hasmonea<br />
(142-63 a.e.c). Há ainda, no nível<br />
inferior do piso, restos do muro de<br />
proteção da antiga cidade. Na diferença<br />
das suas pedras é possível distinguir<br />
os diferentes períodos de dominações<br />
por que passou Jerusalém<br />
ao longo dos seus 3007 anos.<br />
Retornando-se do cardo, sentido<br />
bairro judeu, pode-se comer um<br />
bom falafel, um belo pedaço de pizza<br />
ou uma bureka gigante numa das<br />
lanchonetes situadas na praça vizinha<br />
à Sinagoga Hurva.<br />
A antiga sinagoga de Ramban, fundada<br />
por Rabi Moshê ben Nachman –<br />
Nachmanides (famoso exegeta que,<br />
após ser exilado da Espanha, criou em<br />
Jerusalém a mais antiga comunidade<br />
judaica após a destruição do Templo),<br />
O famoso arco da Sinagoga de Hurva<br />
serviu de base para a construção da<br />
Jerusalém (3)<br />
VISÃO JUDAICA • julho de 2003 • Av • 5763<br />
Sinagoga Hurva. Esta sinagoga, que data do<br />
princípio do século XVIII, foi idealizada pelo<br />
Rabi Yehuda Hahasid (discípulo de Sabbatai<br />
Zevi) que veio da Polônia acompanhado de um<br />
pequeno grupo de seguidores para habitar em<br />
Eretz Israel. Em 1721 foi destruída pelos otomanos<br />
– quando passou a ser chamada de Hurva<br />
(ruína – destruição). Foi reconstruída no início<br />
do século XIX pela comunidade asquenazita,<br />
tornando-se a mais importante sinagoga<br />
de Israel. Em 1898, a sinagoga símbolo do retorno<br />
a Sion, foi visitada por Theodor Herzl.<br />
Após a Guerra da Independência, foi novamente<br />
destruída pelos jordanianos.<br />
Atualmente a antiga é lembrada<br />
por um imenso arco que invade o azul do céu,<br />
dominando a paisagem do bairro, simbolizando<br />
a destruição no passado, o renascimento do presente<br />
e a continuidade futura da vida judaica<br />
em Jerusalém.<br />
Antonio Carlos Coelho<br />
Antônio Carlos Coelho da Costa é professor e diretor do Instituto Ciência e Fé<br />
Brian Hendler<br />
9<br />
Ha Rová,<br />
o Jewish<br />
Quarter ou o<br />
bairro judeu
10<br />
Um grupo destemido<br />
— Colonos judeus<br />
defendem uma<br />
colônia dos ataques<br />
árabes em 1904, na<br />
Galiléia<br />
A Jerusalém no<br />
tempo dos otomanos<br />
— Uma visão da<br />
“cidade eterna”, no<br />
século 19. Na época<br />
os judeus viviam na<br />
parte antiga da cidade<br />
desde séculos<br />
VISÃO JUDAICA • julho de 2003 • Av • 5763<br />
A quem pertence a Terra Santa?<br />
Diante do anti-semitismo da Europa<br />
os judeus vão para a Palestina.<br />
Para eles, a imigração significa<br />
um direito bíblico, mas<br />
para os árabes uma invasão.<br />
Os conflitos sangrentos são<br />
constantes. Enquanto isso, a política<br />
pendular britânica na Palestina,<br />
só agravou a situação.<br />
Teja Fiedler*<br />
“Nada os assustou,<br />
nada os deteve,<br />
nem o deserto, nem<br />
a selvageria dos árabes,<br />
e também não<br />
o desconhecimento<br />
da língua e dos costumes<br />
locais”. Assim<br />
descreve, numa carta<br />
à sua família, um<br />
colono judeu à luz<br />
de uma lâmpada de<br />
querosene sua situação<br />
e a dos seus companheiros. “Ninguém,<br />
longe daqui, pode imaginar como<br />
é ficar dias sem uma gota de água, deitar<br />
em barracas apertadas e ser incomodado<br />
por répteis de todos os tipos.<br />
Tão pouco consegue entender o que<br />
nossas mulheres,<br />
crianças e mães, sofrem<br />
quando os árabes<br />
nos atacam. Então<br />
é esta a terra<br />
prometida”? E a propaganda<br />
em casa<br />
queria nos fazer entender<br />
que era, “um<br />
país sem povo para<br />
um povo sem país”.<br />
Mesmo assim, alguns<br />
milhares de judeus, a maioria deles da<br />
Rússia, foram para Palestina no final do<br />
século 19. Sua comunidade, em tempos<br />
recentes, ainda sob o domínio dos czares,<br />
havia sofrido pesadas perseguições.<br />
Mais de dois milhões deles esco-<br />
Voltando à sua terra natal e encontrando inimigos... de 1890 à 1939<br />
lheram como sua terra prometida os<br />
Estados Unidos. Mas uma pequena minoria<br />
que imigrou para a Palestina<br />
(que estava sob o domínio dos otomanos),<br />
estava convencida de que<br />
“para o povo de Israel não havia salvação<br />
além de instalar um governo<br />
próprio no país Israel”.<br />
Durante alguns anos essa iniciativa<br />
visionária vegetou na escassa<br />
terra da Palestina. Até o surgimento<br />
de Theodor Herzl, e com ele o Sionismo<br />
político. Herzl, um jornalista de<br />
Viena, que amava a ópera e que tinha<br />
escrito algumas peças de teatro,<br />
de algum sucesso, publicou em 1896<br />
uma tese: “O Estado Judeu - a tentativa<br />
de uma solução moderna para a<br />
questão judaica”.<br />
Desde a emigração da Judéia, depois<br />
da destruição de Jerusalém pelos<br />
romanos, no ano 70 e. C., as comunidades<br />
judaicas na Europa viveram mais de<br />
um milênio num equilíbrio extremamente<br />
instável nesse ambiente. Vistos pelos<br />
cristãos como “culpados pela morte<br />
de Jesus na cruz”, eles foram empurrados<br />
para a margem da sociedade.<br />
Na Idade Média, por exemplo, foi<br />
proibido aos judeus serem proprietários<br />
de terras e casas, assim como<br />
exercer um ofício, e foram obrigados<br />
a morar em bairros próprios, chamados<br />
guetos. Ao mesmo tempo, precisavam<br />
deles como comerciantes e financistas<br />
para empréstimos em dinheiro.<br />
E eram excelentes bodes-expiatórios:<br />
A convivência com seus<br />
vizinhos cristãos foi sempre interrompida<br />
por massacres e expulsões.<br />
No final do século 19 o anti-semitismo<br />
ganhou nova força: Pogroms na Rússia,<br />
excessos na França, e um prefeito<br />
popular, mas extremamente anti-semita<br />
em Viena, a cidade natal de Herzl. Palavras<br />
de ordem demagógica como: “Jüdische<br />
Zinsknechtschaft” (domínio judaico<br />
dos juros) e “Saujud” (judeu porco) viraram<br />
palavrões e xingamentos.<br />
“Nós sempre tentamos, honestamente,<br />
nos assemelhar às comunidades<br />
onde vivemos, e queríamos só<br />
manter a fé (religião) de nossos pais.<br />
Mas eles não deixam. Em vão, somos<br />
patriotas fiéis e até exagerados patriotas<br />
em alguns lugares, mas em vão<br />
fazemos sacrifícios de sangue e de<br />
bens, como nossos concidadãos”. Assim<br />
escreveu Theodor Herzl em sua<br />
tese. Só havia uma saída: Um Estado<br />
independente para os judeus. Um Estado<br />
que devia mudar por completo a<br />
característica de um povo suprimido e<br />
espalhado pelo mundo. Assim nasceria<br />
uma maravilhosa nação de judeus. “Os<br />
macabeus iriam ressuscitar”. (Os macabeus,<br />
na Antigüidade tinham libertado<br />
Israel do domínio estrangeiro).<br />
Um Estado judaico na Argentina<br />
Herzl tinha em vista dois possíveis<br />
territórios, Argentina ou Palestina: “A<br />
Argentina é, pela própria natureza, um<br />
dos países mais ricos da terra, com<br />
vastas extensões, com pouca população<br />
e clima ameno”. Mas a Palestina<br />
foi a alternativa que mais inspirou<br />
Herzl: “A Palestina é nossa inesquecível<br />
pátria histórica... Caso sua majestade<br />
o sultão nos ceda a Palestina, poderíamos<br />
regular as finanças de toda a<br />
Turquia. Para a Europa iríamos representar<br />
uma barreira contra a Ásia e seríamos<br />
um posto avançado de cultura<br />
contra a barbárie”.<br />
Um ano depois, o primeiro Congresso<br />
Sionista Mundial na Basiléia determinou<br />
a Palestina como a velha e a<br />
nova Pátria do Povo Judeu. Naquela<br />
ocasião o jornalista liberal Herzl não<br />
queria um Estado com caráter religioso<br />
ou militar: “Nós saberemos manter<br />
nossos sacerdotes em seus templos,<br />
assim como saberemos manter também<br />
nosso exército nos seus quartéis. Eles<br />
não devem interferir nos assuntos de<br />
Estado, porque assim iriam provocar<br />
dificuldades externas e internas”.<br />
Um categórico não foi a resposta<br />
do sultão para o avançado posto judaico<br />
de proteção contra a barbárie.<br />
Mesmo assim, ele não conseguiu evitar<br />
a imigração dos ativistas sionistas<br />
vindos da Europa. A população<br />
local sentiu-se ameaçada, na medida<br />
em que crescia o número dos colonos,<br />
porque esse não era o tipo de<br />
judeus com o qual os árabes conviviam<br />
desde séculos.<br />
Com esses “judeus antigos” eles<br />
geralmente conseguiam conviver muito<br />
bem. Afinal, foram os muçulmanos<br />
que (depois da conquista de Jerusalém<br />
em 1638 e. C.) extinguiram a lei romana<br />
que proibia os judeus de entrar em<br />
Jerusalém. Eles respeitavam a fé judaica,<br />
mas só mediante a obrigação do<br />
pagamento de um sobrecarregado imposto<br />
religioso.<br />
Em 1881, pouco antes do surgimento<br />
da manifestação de Herzl, viviam 450<br />
mil árabes, mas só 24 mil judeus, na<br />
maioria trabalhadores com seus ofícios<br />
ou pequenos comércios.<br />
A maioria muçulmana os tratava<br />
– conforme o historiador Elie Kadourie<br />
– com “desprezível tolerância”. Por<br />
outro lado, temiam os “judeus novos”<br />
porque esses vinham “da imoral Europa<br />
e queriam apropriar-se das terras<br />
e tirar da população local sua<br />
pátria e sua cultura”.<br />
Teodor Herzl não concordava com<br />
isso. Entre árabes e judeus poderia reinar<br />
a paz. A imigração judaica traria<br />
também para os árabes vantagens –<br />
escolas, pavimentação, hospitais. O<br />
teórico do Estado Judeu Teodor Herzl<br />
escreveu numa carta para o sábio islâmico<br />
Yusuf Diya al-Khalidi: “Meu D-us,<br />
o mundo é grande que chega, e ainda<br />
existem países não de todo habitados<br />
onde se poderia assentar milhões de<br />
judeus. Em nome do Todo-Poderoso,<br />
deixem a Palestina em Paz!”.<br />
Khalidi se preocupava com a lenta<br />
desapropriação de terras que começou<br />
com a primeira onda de imigração.<br />
Pelo menos no início, latifundiários<br />
árabes colaboraram bastante<br />
com isso. Eles venderam suas terras<br />
a preços exorbitantes aos judeus. Os<br />
arrendatários foram obrigados a se<br />
retirar. “O medo da desapropriação e<br />
expulsão seria o principal impulso da<br />
resistência árabe contra o sionismo<br />
até 1948 (quando houve a primeira<br />
guerra)“, assim escreveu o professor<br />
israelense de História Benny Morris.<br />
No ano de 1900 existiam 60 mil judeus<br />
na Palestina. Dificilmente os recém-chegados<br />
da Europa tinham conflitos<br />
de consciência. Para os religiosos,<br />
a volta à Terra Prometida significava<br />
a realização da promissão bíblica,<br />
portanto a vontade de D-us, e fora de<br />
qualquer crítica. Os outros viram os<br />
árabes com os olhos do tempo, quer dizer,<br />
com os olhos do colonialismo. “Não<br />
podemos esquecer que se trata de um<br />
povo semi-selvagem que possui idéias<br />
extremamente primitivas. E isso faz parte<br />
da sua natureza: quando o árabe sente<br />
tua força, ele se submete e esconde o<br />
seu ódio contra você. Quando ele sente<br />
tua fraqueza, ele te dominará”, assim<br />
Dia no gueto — Aspecto da cidade de<br />
Wilna, na Letônia, onde os judeus do<br />
Leste europeu viviam, muitas vezes,<br />
segregados em bairros próprios. Por<br />
isso, muita gente desconfiava deles
O Schtetl - um mundo<br />
à parte - e o pogrom<br />
Quando o poeta Heinrich Heine<br />
viu as condições em que vivia a gente<br />
do Schtetl, sentiu a principio asco<br />
e em seguida compaixão. “Depois vi<br />
mais de perto o estado em que as<br />
pessoas se encontravam e os buracos<br />
como chiqueiros onde moravam,<br />
onde rezavam, faziam seus pequenos<br />
negócios e viviam em verdadeira<br />
miséria”, disse ele. Mesmo havendo<br />
essa miséria, para os moradores<br />
do Schtetl (vilarejo ou bairro judaico<br />
dentro de uma cidade pequena)<br />
isso significava um mundo intacto.<br />
Ali havia sinagoga, cemitério e mikve<br />
– (casa de banho ritual). Tudo<br />
no Schtetl era judaico: as roupas, a<br />
língua e os costumes.<br />
No final do século 19 as leis russas<br />
permitiam aos judeus somente<br />
trabalhos restritos. Por isso, muitos<br />
deles vagavam a procura de um emprego.<br />
Só uma minoria deles saía de<br />
seus bairros. Eles levavam sua vida<br />
entre eles próprios.<br />
Os judeus não tinham acesso à<br />
sociedade e transformaram-se em<br />
corpos estranhos —eram vistos com<br />
desconfiança pelos russos, eles mesmo<br />
vivendo na miséria. Na virada do<br />
século 19 para o 20, essa desconfiança<br />
desaguou em ódio e barbárie.<br />
Por exemplo, em Kishinev, o dia<br />
6 de abril de 1903 foi feriado. Enquanto<br />
os cristãos russos–ortodoxos<br />
festejavam o domingo de Páscoa, as<br />
comunidades judaicas comemoravam<br />
o último dia do Pessach. Foi um dia<br />
excepcionalmente quente. Na praça<br />
Chuflinski estavam montadas barracas<br />
de venda e o carrossel. Após o<br />
longo período de jejum, “jorrava”<br />
novamente o álcool. Depois do almoço,<br />
os primeiros cristãos já estavam<br />
bêbados. Enquanto as crianças<br />
davam voltas no carrossel, os adolescentes<br />
começaram a cercar alguns<br />
judeus, gritavam com eles e os ame-<br />
escreveu Moshe Smilansky. Muitos colonos<br />
que antes na Europa foram reprimidos,<br />
desenvolveram agora contra seus<br />
trabalhadores diaristas árabes, “uma<br />
tendência de despotismo, que sempre<br />
acontece, quando um escravo vira dono”<br />
assim escreveu Ahad Haam, um dos poucos<br />
críticos da época.<br />
Os britânicos prometem<br />
tudo a todos<br />
Em 1909 um árabe mostrando e<br />
balançando seu punhal, assaltou um<br />
jovem colono no caminho acidentado<br />
entre dois assentamentos judaicos:<br />
Sejera e Yavniel. O agressor feriu sua<br />
açavam, até estes conseguirem fugir<br />
deles. Mais adultos se juntavam à<br />
multidão. Quando não havia mais<br />
judeus à vista, eles se mobilizavam<br />
para procurar novos judeus. Pequenos<br />
grupos de 10 a 15 homens se<br />
dirigiram em direção dos bairros judeus.<br />
Na frente iam os agitadores<br />
apontando com os dedos as casas e<br />
lojas que em seguida os outros atacavam<br />
com pedras. Junto, ia uma<br />
turba que saqueava as vitrines quebradas<br />
e o que se encontrava atrás<br />
das portas. Alguns policiais que tentaram<br />
conter os agitadores simplesmente<br />
foram empurrados. Tarde da<br />
noite a multidão se dispersou.<br />
Mas na manhã seguinte novamente<br />
o bairro judeu foi invadido.<br />
Quando saqueavam uma loja de roupas,<br />
ainda na rua homens e mulheres<br />
provavam calças e saias. Quando,<br />
nas lojas de bebidas, eles bebiam<br />
ali mesmo. Logo as ruas estavam<br />
repletas de cacos de vidro e por<br />
todos os lados voavam as penas dos<br />
acolchoados dilacerados. Quando<br />
encontravam um judeu, este era<br />
puxado para fora de seu esconderijo<br />
e surrado até desfalecer.<br />
O balanço da festa de Páscoa de<br />
Kishinev: 49 judeus mortos, 500 feridos,<br />
700 casas saqueadas e destruídas,<br />
700 lojas totalmente destruídas,<br />
2000 famílias judaicas ficaram<br />
desabrigadas.<br />
Raramente um pogrom ficou tão<br />
bem documentado como o de Kishinev.<br />
Dos outros schtetls não existe lista<br />
com os nomes dos mortos e das<br />
existências destruídas. Cerca de 2,5<br />
milhões de judeus do Leste europeu<br />
fugiram entre 1881 e 1914 dos países<br />
onde nasceram. Entre 80 e 85%<br />
deles, emigraram para a América. Alguns<br />
foram para o país de seus antepassados,<br />
para Eretz Israel. Eles se<br />
tornaram os primeiros pioneiros.<br />
vítima levemente com pontadas do punhal,<br />
arrancou dele sua pasta e fugiu<br />
sem ser reconhecido por sua presa. O<br />
assaltado chamava-se David Ben Gurion<br />
e deveria mais tarde ser o grande condutor<br />
da Independência de Israel. Já<br />
semanas antes, Ben Gurion sentiu de<br />
perto a guerra de guerrilhas entre árabes<br />
e colonos judeus. Os árabes tinham<br />
roubado o gado dos judeus e incendiaram<br />
suas plantações. Havia mortes em<br />
ambos os lados. O jovem participava<br />
na perseguição dos agressores, munido<br />
somente com uma pistola Browning.<br />
Mas somente agora, quando ele estava<br />
sangrando e sem sua pasta, uma coisa<br />
ficou clara para Ben Gurion: “nossos<br />
vizinhos árabes nos odeiam”. Tinha<br />
nascido a resistência palestina.<br />
Em 1913 um artigo na revista “Filastin”<br />
exigiu dos governantes otomanos<br />
medidas drásticas contra a compra<br />
de terras realizadas pelos judeus.<br />
“Os sionistas conseguem o domínio<br />
sobre nossa terra, vilarejo por vilarejo,<br />
cidade por cidade, amanhã<br />
será vendida toda Jerusalém e depois<br />
toda a Palestina”. Em 1914 um panfleto<br />
jogado de avião, dava a palavra<br />
de ordem que a partir disso determinou<br />
a relação entre judeus e árabes:<br />
“Concidadãos! Vocês querem ser escravos<br />
dos sionistas, que vieram para<br />
expulsar vocês de seu país, e que dizem<br />
que este país lhes pertence?”<br />
Como reação houve um aumento das<br />
restrições contra judeus.<br />
Então estourou a Primeira Guerra<br />
Mundial. O império otomano ficou<br />
do lado da Alemanha e da monarquia<br />
dos Habsburgos. A Grã-Bretanha,<br />
França e Rússia foram os principais<br />
opositores. A Inglaterra procurava<br />
aliados no Oriente Médio para<br />
assegurar o Canal de Suez.<br />
Os árabes se ofereceram, porque<br />
queriam se livrar finalmente do domínio<br />
otomano (os turcos). Em 1915,<br />
numa carta dirigida ao Xerife de<br />
Meca, os britânicos prometeram (de<br />
uma forma vaga) como recompensa<br />
para uma revolta a “independência<br />
dos países árabes”.<br />
Com receio de que o sionismo se<br />
declarasse a favor do “Deutsches Kaiserreich”<br />
(o Império alemão) o ministro<br />
do exterior Balfour escreveu para a<br />
comunidade judaica na Grã-Bretanha<br />
uma carta parecida com a que ele tinha<br />
escrito para o Xerife de Meca, a<br />
famosa “Declaração Balfour”: “O governo<br />
de sua majestade vê com satisfação<br />
a criação de um estado nacional para<br />
o povo judeu e faria o maior esforço<br />
para alcançar este objetivo”.<br />
Desde então, ambos os lados poderiam<br />
crer, com razão, que isso significava<br />
a aceitação de seus planos.<br />
O que eles não sabiam é que numa negociação<br />
secreta em 1916, a Inglaterra<br />
e a França, o tal chamado “Acordo<br />
Sykes-Picot”, concordaram em dividir<br />
entre eles aquela região e que não<br />
VISÃO JUDAICA • julho de 2003 • Av • 5763<br />
galvão<br />
deveria haver estados nacionais independentes.<br />
A política oportunista de<br />
balançar de lá pra cá dos<br />
britânicos tinha começado.<br />
Ela foi fatídica.<br />
Depois do desmantelamento<br />
do império otomano<br />
no final da Segunda<br />
Guerra Mundial a região<br />
foi ocupada pelos<br />
britânicos e franceses. A<br />
seguir, Faisal, o filho do<br />
Xerife de Meca, encontrou-se<br />
em janeiro de 1919 com<br />
Chaim Weizmann, que nessa época era<br />
o político sionista mais influente. Faisal<br />
precisava de aliados para arrancar<br />
o grande império árabe das mãos dos<br />
britânicos, que o tinham prometido a<br />
seu pai em 1915. Ele decidiu tomar uma<br />
iniciativa, que Israel até hoje avalia<br />
como prova de que os árabes inicialmente<br />
eram favoráveis a um Estado judaico:<br />
Caso os judeus estivessem a favor<br />
dessa iniciativa, Faisal concordaria<br />
em excluir a Palestina de um Estado<br />
árabe e a deixaria aos<br />
judeus como “Estado-Pátria”.<br />
Faisal declarou: “Todas<br />
as medidas necessárias<br />
deviam ser tomadas,<br />
para que a imigração judaica<br />
à Palestina fosse<br />
encorajada e apoiada em<br />
grande escala”.<br />
Faisal, em carta dirigida<br />
à mulher de Weizmann,<br />
disse: “Mostremlhes<br />
desprezo, nós não<br />
os vemos como árabes”.<br />
Os palestinos amargaram<br />
a experiência que seus irmãos<br />
árabes, sem escrúpulos, fizeram passando<br />
por cima deles e que simplesmente<br />
os deixaram para trás em seus<br />
direitos na Palestina.<br />
Por precaução, o príncipe de Meca<br />
adicionou, escrito a próprio punho e<br />
em árabe, que esse acordo teria validade,<br />
caso realmente resultasse um<br />
Estado árabe independente. Em 1920,<br />
conforme o acordo secreto, a França<br />
recebeu o Líbano e a Síria sob “região<br />
continua na página 12<br />
11<br />
Trabalho no campo<br />
sob as armas — Um<br />
veículo blindado<br />
puxando um arado<br />
num campo perto de<br />
Haifa (em 1929).<br />
Contra os constantes<br />
ataques dos francoatiradores<br />
árabes, os<br />
colonos judeus se<br />
protegeiam com<br />
patrulhas e milícias<br />
A luta por Nablus —<br />
Essa cidade na<br />
Cisjordânia é uma das<br />
mais turbulentas. Ali<br />
aconteceram mais<br />
levantes e luta<br />
armada nas ruas<br />
entre revolucionários<br />
árabes e o exército<br />
britânico do que em<br />
outros lugares. O<br />
exercito britânico<br />
contra-atacava os<br />
palestinos com<br />
tanques
12<br />
Em 1896 o jornalista<br />
Theodor Herzl<br />
escreveu o<br />
“Judenstaat “ (O<br />
Estado Judeu) – o<br />
livro virou o guia do<br />
movimento sionista<br />
Pogroms — Os<br />
judeus eram<br />
segregados nas<br />
cidades e<br />
perseguidos na<br />
Europa. No final do<br />
século 19 voltou o<br />
anti-simetismo. Por<br />
isso, muitos foram<br />
embora. Estes<br />
ataques eram<br />
freqüentes no<br />
império dos czares<br />
VISÃO JUDAICA • julho de 2003 • Av • 5763<br />
continuação da página 11 seguiram mais ou menos, manter a paz.<br />
de mandato”, enquanto a Grã–Bretanha<br />
recebia o Iraque, a Transjordânia e a<br />
Palestina. (a palavra “colônia” havia<br />
então caído fora de moda). Os árabes<br />
da região nunca concordaram com a iniciativa<br />
particular de Faisal. Aos britânicos<br />
eles protestaram contra o crescente<br />
número de imigrantes judeus e<br />
fundaram entidades como a “Mão-Preta“<br />
para “matar a lesma sionista enquanto<br />
jovem“. Um equilíbrio para eles<br />
parecia impossível:<br />
“Iremos jogar os judeus no mar ou<br />
eles nos expulsarão para o deserto”, diziam.<br />
O lado judeu compartilhou, a princípio,<br />
esta avaliação: “Realmente não sei<br />
qual árabe irá concordar com um Estado<br />
judeu. Nós, como nação, queremos que<br />
este país seja nosso. Os árabes como nação,<br />
querem que seja deles”,<br />
escreveu Ben Gurion em 1919.<br />
Os ingleses acreditaram<br />
num equilíbrio e seguiram<br />
com seu “zigue–zague”. Por<br />
um lado, eles repetitivamente<br />
limitavam o número dos<br />
imigrantes, e por outro, reconheceram<br />
a Agência <strong>Judaica</strong><br />
como a associação oficial dos judeus<br />
na Palestina. Winston Churchill,<br />
na época ministro colonial, escreveu:<br />
“Nós pensamos que ela é boa para o<br />
mundo, boa para os judeus, boa para o<br />
império britânico, mas também bom<br />
para os árabes que vivem na Palestina.<br />
Eles irão participar dos benefícios e<br />
avanços do sionismo”.<br />
Durante dez anos os britânicos con-<br />
Mas o tempo trabalhava a favor dos judeus.<br />
Em 1931 já se contavam 175 mil<br />
imigrantes (e 880 mil palestinos). A<br />
modernidade européia e a tradição árabe<br />
se confrontavam visivelmente. Um<br />
observador europeu escreveu: “Lá, o<br />
árabe leva a safra em cima de um camelo<br />
ou um burro. Aqui o judeu a leva de<br />
caminhão. Entre os fellachen (tribo árabe)<br />
as galinhas correm no pátio atrás<br />
do muro, enquanto entre os judeus, as<br />
galinhas vivem em galinheiros feitos<br />
com chapas metálicas onduladas, cientificamente<br />
aprovadas. Lá, o galo é de<br />
cor e miúdo, e aqui a raça branca é poedeira.<br />
Lá, sai um minúsculo ovo, enquanto<br />
aqui, um produto agrícola de<br />
primeira linha. Lá, tem estaganção, enquanto<br />
aqui, o sucesso”.<br />
Em 1929 as tensões se descarregaram<br />
numa revolta generalizada. O ponto<br />
de partida foi uma demonstração judaica<br />
no Muro das Lamentações, em Jerusalém,<br />
que para os árabes significa uma parte<br />
do lugar sagrado chamado Mesquita de<br />
Al-Aksa. O ápice dessa revolta foi o massacre<br />
de Hebron. Uma multidão árabe<br />
enfurecida matou ali 66 judeus. O relatório<br />
do chefe da Polícia britânica dizia:<br />
“Escutei um grito, subi correndo a escada<br />
e vi um árabe que estava prestes a<br />
degolar uma criança. Ele já havia atingido<br />
por uma vez a cabeça da criança, e<br />
queria, naquele momento, perpetrar o<br />
segundo golpe. Quando me viu, quis me<br />
golpear, mas como estava na frente do<br />
meu rifle, consegui paralisá-lo com um<br />
tiro na virilha”.<br />
Estranhamente não foram massacra-<br />
Os Husseini contra os sionistas<br />
Quando Musa al-Husseini construía em<br />
1897 seu palácio no monte Scopus, com uma<br />
impressionante escada suspensa, iniciava a<br />
primeira onda de<br />
imigrantes judeus.<br />
A cidade ainda estava<br />
sob domínio<br />
do sultão na distante<br />
cidade de<br />
Istambul. Seus<br />
emissários se mostravamentusias-<br />
Husseini apoiava o nazismo mados com tanto<br />
e encontrava-se com Hitler<br />
luxo oriental que o<br />
pequeno castelo<br />
da Rua Abu-Obeida mostrava. Até o monarca<br />
Hailé Selassié, da Etiópia, e o imperador alemão<br />
Guilherme II tomaram chá nessa vila, hoje<br />
conhecida sob o nome “Casa do Oriente”, um<br />
símbolo do passado na Palestina.<br />
Até a primeira metade do século 20, os<br />
Husseini dominavam o cenário em Jerusalém.<br />
A família se dizia descendente de Hussein,<br />
neto do profeta Maomé. Seus antepassados<br />
teriam vindo 700 anos antes de Meca para<br />
Jerusalém. Desde o século 17 foram eles chefes<br />
supremos da parte santa da cidade. Quase<br />
sempre o clã Husseini ocupava cargos religiosos<br />
tão importante como o de mufti ou conselheiro<br />
da justiça e possuía extensos latifúndios<br />
na então Palestina. Muitas vezes o prefeito<br />
também descendia dos Husseini. Bairros<br />
inteiros, como o Monte das Oliveiras, pertenciam<br />
à parentela que contava 3 mil membros.<br />
Um membro da família contava orgu-<br />
lhoso que “os judeus eram obrigados a sair da<br />
calçada quando ali passava um Husseini”. Desde<br />
o inicio, a família foi contra o sionismo. O mais<br />
radical era Haj Amin al-Husseini, o fundador do<br />
nacionalismo árabe. Quando em abril de 1920<br />
estourou a revolta em Jerusalém, o brilhante pregador<br />
foi condenado a 10 anos de reclusão pelo<br />
governo do mandato britânico por causa dos motins<br />
que insuflava. Mas esse homem de 27 anos<br />
fugiu para a Síria e foi-lhe dado o perdão. Logo<br />
era nomeado grão-mufti. Esse homem, magro, de<br />
cara pálida e cabelos ruivos, sempre tentou internacionalizar<br />
o conflito palestino. E para isso viajou<br />
atravessando toda a Arábia. Sob seu domínio<br />
sempre aconteciam massacres — até na revolta<br />
contra os britânicos e judeus. Novamente o aristocrata<br />
conseguiu se salvar através da fuga —<br />
desta vez para Bagdá. Mas Haj Amin cometeu um<br />
erro fatal: Em 1941 ele mudou-se para Berlim, elogiou<br />
Hitler como “o guia admirado em todo mundo<br />
árabe“, e em 1943 recrutou na Bósnia-Herzegovina<br />
os “muçulgermânicos” para o exército das SS.<br />
Em seguida ele exigiu dos nazistas ataques aéreos<br />
contra Tel Aviv. Nunca mais o desprezado grão-mufti<br />
voltou à Palestina. Solitário, morreu em 1974 em<br />
Beirute. Nenhuma rua, nenhuma praça tem seu nome<br />
porque ele foi responsabilizado pela “Nakba” – a<br />
catástrofe da perda da terra palestina. Mas sua imagem<br />
esta mudando. Até mesmo pesquisadores<br />
israelenses vêem o descendente dos Husseini também<br />
como um patriota palestino. E para os experts<br />
árabes, Haj Amin-al Husseini não só fez o pacto<br />
com os nazistas por causa de motivos ideológicos,<br />
mas também simplesmente agiu conforme o lema: O<br />
inimigo do meu inimigo é meu amigo.<br />
dos os novos imigrantes, mas os “antigos<br />
judeus” de Hebron. Até aí, eles viviam<br />
passivamente com seus vizinhos<br />
muçulmanos. O conflito da Terra Santa,<br />
que até então fora uma disputa<br />
entre imigrantes que precisavam de<br />
terras e agricultores nativos, agora<br />
ganhava uma nova dimensão: Judeus e<br />
palestinos estavam em oposição.<br />
O mufti de Jerusalém (que pertencia<br />
ao clã dos Husseini), conclamou todos<br />
os “guerreiros santos” para “a revolta<br />
contra o inimigo que fere a honra<br />
do Islã, que estupra nossas mulheres<br />
e assassinam nossas viúvas e bebês”.<br />
No Norte da Palestina Izzedin al-<br />
Qassam pregava a Jihad contra os “invasores”.<br />
As brigadas armadas do Hamas<br />
fundamentalista, usam até hoje<br />
este nome. No inicio dos anos 30, os<br />
sacerdotes muçulmanos se opuseram à<br />
reivindicação judaica às terras, declarando<br />
a Palestina como “Waqf”, a terra<br />
santa para todos os muçulmanos: “A<br />
venda de terras islâmicas para um estrangeiro<br />
não-muçulmano, não tem<br />
valor nenhum e é uma traição para Dus<br />
e seu profeta”. O abismo entre eles<br />
ficara enorme.<br />
Muitos judeus fogem<br />
dos nazistas<br />
Os britânicos também suspeitavam<br />
disso. Assustados com a perseguição<br />
aos judeus, principalmente na<br />
Alemanha, eles começaram a retirar<br />
as limitações da imigração dos judeus.<br />
Logo a seguir, em 1936, estourou<br />
a revolta árabe que se dirigiu contra<br />
os judeus e britânicos que viraram<br />
“protetores dos invasores”. Houve confrontos<br />
sangrentos e uma greve geral<br />
que se alastrou por meses.<br />
A Grã–Bretanha reagiu como sempre:<br />
Instalou uma Comissão de Inquérito<br />
dirigida por Lord Peel. Ela mostrou<br />
notavelmente uma clara visão:<br />
“Aproximadamente um milhão de árabes<br />
estão em luta aberta e latente<br />
contra 400 mil judeus. Não coincidem<br />
em nenhum ponto suas vidas cultural<br />
e social, como sua maneira de pensar e<br />
levar a vida, como seus esforços nacionais”.<br />
Por isso, Peel propôs em 1937<br />
uma divisão que deixaria aos judeus um<br />
mini estado na costa entre Tel-Aviv,<br />
Haifa e o Lago Genesaré (Kineret),<br />
aproximadamente 1/5 da Palestina. O<br />
restante ficaria nas mãos dos árabes.<br />
Após algumas hesitações, David Ben<br />
Gurion concordou: “Os judeus seriam tolos<br />
se não concordassem mesmo se o país<br />
cedido a eles tivesse só o tamanho de<br />
uma toalha de mesa. Um estado judaico<br />
numa parte da Palestina não significa o<br />
fim, mas apenas um início”. Mas os árabes<br />
o rejeitaram. Eles não viam razão para<br />
entregar nem um palmo de terra e receavam<br />
que Ben Gurion quisesse só por “um<br />
pé na porta”, para mais tarde criar um<br />
Israel maior. A revolta recomeçara.<br />
De volta ao Muro das Lamentações —<br />
Em 1918, sob a vigilância de soldados<br />
britânicos, judeus rezam em Jerusalém<br />
no lugar mais sagrado de sua religião<br />
Os árabes ocuparam temporariamente<br />
numerosos vilarejos e cidades,<br />
e até por alguns dias Jerusalém. Os<br />
britânicos reagiram com muito vigor.<br />
Eles dinamitaram casas dos rebeldes e<br />
destruíram as plantações de cítricos.<br />
Mais de 100 árabes foram enforcados.<br />
Para evitar sabotagem nos trens, foram<br />
amarrados nas locomotivas os rebeldes<br />
e seus parentes. Na primavera<br />
de 1939 a revolta árabe fracassou. A<br />
revolta custou mais de 6 mil mortos.<br />
Seus líderes foram presos ou fugiram<br />
para o exterior. Parecia que a causa<br />
dos palestinos chegava ao fim. Aí o<br />
governo britânico novamente mudou<br />
seu curso político.<br />
A Europa estava ameaçada por uma<br />
segunda guerra mundial. Mais uma vez<br />
a Grã–Bretanha não podia se dar ao<br />
luxo de irritar os árabes. Porque sem o<br />
petróleo do Oriente Médio não se podia<br />
ganhar a guerra. “Subitamente os<br />
árabes passavam a contar estratégica<br />
e economicamente mais do que os colonos<br />
judeus”, assim escreveu Benny<br />
Morris. Uma nova declaração do governo<br />
de Londres chocou os judeus. Mesmo<br />
que seus irmãos fé fossem perseguidos<br />
pelos nazistas, eles só deixariam entrar<br />
nos 10 anos seguintes 75 mil judeus e<br />
depois, só tantos quantos os árabes<br />
concordassem, e ninguém mais.<br />
“O governo de sua majestade, está<br />
convicto que a Declaração Balfour não<br />
tinha a intenção de que a Palestina<br />
pudesse ficar contra a vontade de sua<br />
população árabe, ser transformada num<br />
Estado judeu”, assim dizia a frase principal<br />
dessa manifestação britânica. Os<br />
judeus juraram lutar contra essas medidas<br />
com toda sua força. Aí Hitler atacou<br />
a Polônia. A Segunda Guerra Mundial<br />
havia começado.<br />
Os árabes tinham esperança que a<br />
Alemanha de Hitler fosse vencer os<br />
ocupantes britânicos. Os judeus também<br />
viam os britânicos como uma pedra<br />
no caminho de seu próprio Estado.<br />
Mas a ameaça nazista contra seu próprio<br />
povo tinha mais peso em sua concepção.<br />
Por isso, Ben Gurion deu a palavra<br />
de ordem para os seis anos seguintes:<br />
“Os judeus vão lutar nesta<br />
guerra junto com a Grã–Bretanha como<br />
se a manifestação britânica não existisse.<br />
E lutar contra essa manifestação<br />
como se não existisse a guerra”.<br />
* Teja Fiedler escreve na revista semanal alemã Stern. O presente artigo foi<br />
publicado na edição nº 21 de 16/5/2002. Tradução, adaptação e compilação de<br />
Eugen Wilfried e Adelaide Sprenger
Não Matarás, óleo sobre tela, 1943, de<br />
Samuel Bak<br />
Jane Bichmacher de Glasman*<br />
Arte e Judaísmo<br />
conceito de arte judaica<br />
pode parecer, a alguns, uma<br />
contradição devido à proibição<br />
explícita do quarto<br />
mandamento: “Não farás<br />
para ti imagem de escultura,<br />
nem qualquer semelhança do que há em<br />
cima, nos céus, nem embaixo, na terra,<br />
nem nas águas abaixo da terra” (Êxodo<br />
20:4), que em Deuteronômio 4:16-8, ao<br />
proibir imagens esculpidas, particulariza<br />
em termos que não deixam lugar a<br />
ambigüidade: “à semelhança de macho<br />
ou fêmea, de qualquer animal que esteja<br />
na terra, de qualquer ave alada que<br />
voa nos céus, de qualquer peixe que esteja<br />
na água abaixo da terra.”<br />
O Refugiado, óleo sobre tela pintado em<br />
1939 por Felix Nusbaum<br />
Esta interdição, vista como antagônica<br />
a todo desenvolvimento artístico,<br />
implicaria numa visão muito estreita do<br />
escopo e funções da arte, pois nem toda<br />
arte é representativa e, mesmo nesta, existem<br />
motivos desvinculados de figura humana<br />
ou animal. O certo é que nem sempre<br />
foi interpretada assim, mesmo entre<br />
judeus mais observantes. O próprio Pentateuco,<br />
com as suas instruções detalhadas<br />
a respeito do querubim que seria colocado<br />
na Arca, sugere que a proibição do<br />
Decálogo deveria ser lida em conjunção<br />
com o versículo seguinte: “Não te curvarás<br />
ante elas e não as servirás” – isto é,<br />
que nenhuma imagem deve ser feita com<br />
o propósito de idolatria, tanto representando<br />
quanto substituindo a Divindade.<br />
Através da história judaica atitudes<br />
e interpretações variaram por regiões e<br />
gerações. Às vezes a proibição era total;<br />
em outras, chegava-se ao extremo<br />
oposto, incorporando figuras humanas<br />
até a objetos ritualísticos. Era mantida<br />
somente no que se refere a “imagens<br />
esculpidas” tridimensionais de seres<br />
humanos, isto é, bustos e estátuas. Estes<br />
só começam a aparecer nos séculos<br />
17 e 18, embora, mesmo no período clássico,<br />
ocorreressem algumas exceções<br />
significativas, como belos exemplos de<br />
mosaicos e afrescos em ruínas de sinagogas<br />
dos seis primeiros séculos e.c.,<br />
VISÃO JUDAICA • julho de 2003 • Av • 5763<br />
Holocausto e Arte<br />
como Dura Europos.<br />
Era também proibida a reprodução<br />
dos utensílios do Templo. Por extensão,<br />
não se poderia usar qualquer forma de<br />
arte em partes do culto religioso.<br />
No período medieval uma forma que<br />
possibilitou aos judeus expressão artística<br />
foi a dos manuscritos iluminados,<br />
com variados tipos de ilustração, dependendo<br />
da origem, por exemplo “páginas<br />
de tapete” entre os judeus de países islâmicos,<br />
ou figuras humanas (obviamente<br />
chinesas) em Meguilot (Rolos, livros<br />
bíblicos) usados pelos judeus da China.<br />
Uma forma comum era a micrografia, que<br />
consistia em escrever um texto em letras<br />
minúsculas formando uma figura. Um<br />
dos textos favoritos dos ilustradores era<br />
a Hagadá de Pessach, pois, sendo lida<br />
em casa não era levada à sinagoga, permitindo<br />
ao artista maior liberdade de<br />
criação. A invenção da imprensa marcou<br />
o fim da iluminura, embora tenha permanecido<br />
na decoração de Ketubot (contratos<br />
matrimoniais) e até nas primeiras<br />
versões impressas do Mahzor (livro de<br />
orações para Iamim Noraim).<br />
A atitude judaica era condicionada por<br />
duas forças opostas: repulsão e atração.<br />
O fato é que as artes foram desenvolvidas<br />
e acompanharam o percurso do povo judeu,<br />
em todas as formas de expressão.<br />
Objetos ritualísticos artísticos são usados<br />
no ciclo da vida judaica e adornam os lares,<br />
identificando-os desde sua entrada,<br />
com as mezuzot. Obras de artistas plásticos<br />
judeus figuram nos museus do mundo,<br />
além de crescerem os museus especificamente<br />
judaicos. A literatura em hebraico,<br />
idiomas e dialetos judaicos e outras<br />
línguas é a base da religião além de<br />
constituir a expressão da alma humana,<br />
através dos tempos. “A área de maior criatividade<br />
artística não foi a das artes plásticas,<br />
mas a de expressão sonora: música,<br />
canto e, em particular, a arte de contar<br />
histórias, porque nelas a imaginação foi<br />
capaz de voar livremente, sem limitações.”<br />
(Unterman, p.32)<br />
Todos estes aspectos marcam o testemunho<br />
da presença judaica no mundo,<br />
mesmo, ou principalmente, de onde fomos<br />
banidos, expulsos ou massacrados.<br />
Arte <strong>Judaica</strong> e Holocausto<br />
Este tema desdobra-se em inúmeras<br />
questões, desde o que foi preservado da<br />
arte judaica após o abalo apocalíptico<br />
nazista, o que foi produzido durante e<br />
como o Holocausto foi representado nas<br />
artes, por testemunhas, sobreviventes<br />
e pelos que não viveram pessoalmente.<br />
Há ainda o aspecto da múltipla representação<br />
artística, em todas as suas<br />
manifestações, das artes plásticas e<br />
visuais, como pintura, escultura, arquitetura<br />
e arte ritualística, até a literatura,<br />
hebraica, judaica e universal.<br />
O Prof. Salo Baron (1970) baseado<br />
num memorando quando convidado a depor<br />
no Processo Eichman em 1961 sobre<br />
as comunidades judaicas destruídas pelos<br />
nazistas, escreveu que: “Foi por reconhecer<br />
a importância cultural dos judeus que<br />
os nazistas, quase imediatamente após<br />
terem chegado ao poder, procuraram combatê-los<br />
intelectualmente.”Estabeleceram<br />
uma divisão especial de pesquisa judaica<br />
em Munique, no Reichsinstitut seguida<br />
pelo lnstitut zur Erforschuing der Judenfrage<br />
em Frankfurt, dirigido pelo ideólogo<br />
do movimento nazista, Alfred Rosenberg,<br />
que reuniu uma biblioteca judaica e<br />
hebraica para utilizar no ataque aos judeus<br />
e ao judaísmo, confiscando coleções<br />
francesas e alemãs, incluindo os arquivos<br />
Rothschild e a biblioteca da Alliance Israélite<br />
Universelle. Com a expansão da Nova<br />
Ordem, os alemães estabeleceram instituições<br />
similares para o estudo da “questão<br />
judaica” em Paris e em Lodz. Sob a pressão<br />
nazista, a Itália criou instalações, em<br />
1942, para o estudo da raça e das questões<br />
judaicas nas universidades de Florença,<br />
Bolonha, Trieste e Milão.<br />
É difícil ser preciso acerca das perdas<br />
totais judaicas na Europa, pois os<br />
alemães destruíram não só o povo, mas<br />
também os documentos em que cálculos<br />
mais apurados poderiam ter-se baseado.<br />
A maioria das estimativas converge ao<br />
redor de seis milhões de judeus mortos,<br />
número citado no processo dos criminosos<br />
de guerra em Nuremberg.<br />
A tragédia foi maior onde a vida<br />
comunitária cultural judaica era mais<br />
florescente. Tesouros culturais seculares,<br />
3000 Kehilot e suas instituições<br />
desapareceram. Grandes escolas de instrução<br />
superior, jornais, revistas, editores<br />
e centros artísticos foram arrasados.<br />
Além da enorme porcentagem de<br />
judeus mortos durante a Shoá, sua elite<br />
intelectual estava tão dizimada, que<br />
sobreviventes procurando realizar algo,<br />
estavam privados de seus líderes, fossem<br />
rabinos, literatos ou eruditos.<br />
Atualmente o mundo tem participado<br />
das pesquisas e debates sobre os<br />
tesouros roubados pelos nazistas, além<br />
do resgate (?) dos mesmos e da questão<br />
das indenizações. Mas seria possível<br />
atribuir qualquer tipo de valor material<br />
à arte perdida, roubada ou destruída?<br />
E a vida humana: tem preço?<br />
Parece-me mais que óbvio que não.<br />
Outra questão, mais complexa a meu<br />
ver, é tentar compreender: como no seio<br />
da barbárie, conseguia a alma humana<br />
criar, pintar, escrever e até cantar?<br />
A Fênix <strong>Judaica</strong>: Arte e Cinzas<br />
Em um artigo sobre o Museu de Arte<br />
do Holocausto, parte do Yad Vashem,<br />
Yehudit Inbar escreveu que durante o<br />
Holocausto, artistas registraram o que<br />
testemunhavam e sentiam em sucatas de<br />
papel, usando lápis, carvão ou qualquer<br />
coisa que servisse para esboçar uma linha.<br />
É difícil entender de onde eles tiravam<br />
força psicológica para serem criativos,<br />
quando sua preocupação precípua<br />
era a sobrevivência imediata. Como eles<br />
reuniram força expressiva que irrompe tão<br />
poderosamente dos seus esboços desesperados?<br />
Como tal arte foi produzida na<br />
escuridão daquele período de horror?<br />
Para alguns artistas a arte era um<br />
modo de descrever o que eles e os ao<br />
seu redor viam e vivenciavam. Sendo a<br />
arte a única ferramenta documental<br />
com a qual eles estavam familiarizados,<br />
usaram-na para aquele fim.<br />
Para outros, a arte foi um mecanis-<br />
mo que tornou a sobrevivência<br />
psicológica possível.<br />
Era o seu modo pessoal<br />
de confrontar-se com<br />
a crise que os tinha acometido.<br />
Alguns pintaram o<br />
passado, para escapar do<br />
presente por alguns momentos<br />
passageiros; outros<br />
pintaram para o futuro.<br />
Todas estas obras de<br />
arte têm uma qualidade notável, a<br />
maioria manifesta no seu dualismo de<br />
força e fragilidade.<br />
O Museu de Arte de Yad Vashem possui<br />
a maior coleção de Arte do Holocausto<br />
no mundo. Arte criada<br />
predominantemente por<br />
artistas judeus que viveram<br />
sob a ocupação alemã, em<br />
cidades, guetos e campos de<br />
concentração durante a Segunda<br />
Guerra. Seu testemunho<br />
permite, embora brevemente,<br />
que nos aproximemos<br />
de uma realidade que é<br />
tão freqüentemente descrita<br />
como indescritível. Estes<br />
esboços, desenhos e pinturas<br />
são acima de tudo a manifestação<br />
de uma das formas<br />
mais altas de heroísmo, um gesto<br />
de desafio que proclama o triunfo do<br />
espírito. Arte criada em condições onde<br />
a simples tarefa de encontrar materiais<br />
era uma realização maior e onde<br />
habilidades eram usadas para sobreviver<br />
é uma afirmação do ímpeto<br />
criativo tão forte que não<br />
sucumbiu sob as condições mais<br />
atrozes. Para muitos, tal coragem<br />
custou suas vidas. A preservação<br />
destas obras de arte assume<br />
uma feição milagrosa, bem<br />
como sua recuperação.<br />
O próximo dia 19 de agosto<br />
(21 de Av) marca 50 anos da fundação<br />
do Yad Vashem. Envie felicitações<br />
para o e-mail international.relations@yadvashem.org.il<br />
E visite o Museu on-line http://<br />
www.yadvashem.org.il<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
UNTERMAN, Alen. Dicionário Judaico de Lendas<br />
e Tradições. RJ: Zahar, 1992.<br />
BARON, Salo. História e Historiografia. SP,<br />
Perspectiva, 1974.<br />
ENCICLOPÉDIA JUDAICA. RJ, Ed. Tradição, 1967.<br />
INBAR, Yehudit. Art in the Face of Adversity:<br />
The New Museum of Holocaust Art. Copyright<br />
©2001 Yad Vashem The Holocaust Martyrs’ and<br />
Heroes’ Remembrance Authority http://<br />
www.yadvashem.org.il<br />
The Art Institute of Chicago. Eileen Harakal,<br />
Executive Director of Public Affairs Copyright © 2000<br />
* Jane Bichmacher de Glasman é<br />
doutora em Língua Hebraica,<br />
Literaturas e Cultura <strong>Judaica</strong>-USP,<br />
professora adjunta, fundadora e exdiretora<br />
do Programa de Estudos<br />
Judaicos–UERJ, professora e<br />
coordenadora do Setor de Hebraico-<br />
UFRJ (aposentada), coordenadora do<br />
Grupo de Estudos Beer Miriam–ARI e<br />
escritora. (janebg@hotmail.com ou<br />
janeglasman@terra.com.br)<br />
13<br />
Taleskpten, técnica<br />
mista (guache, carvão<br />
e crayon sobre papel)<br />
pintado em 1944 por<br />
Zinovvi Tolkatcher<br />
Em memória aos<br />
tchecos<br />
transportados para<br />
as câmaras de gás,<br />
1945, carvão, de<br />
Yehuda Bacon<br />
Resgate de um<br />
ferido, pintado<br />
em tinta sobre<br />
papel, em 1943<br />
por Alexander<br />
Bogen<br />
Telas da coleção<br />
do Museu de Arte<br />
do Holocausto<br />
do Yad Vashem,<br />
em Jerusalém
14<br />
VISÃO JUDAICA • julho de 2003 • Av • 5763<br />
Dalton Catunda Rocha *<br />
Supremo Tribunal Federal decidiu<br />
em definitivo. O escritor<br />
gaúcho Siegfried Ellwanger foi<br />
condenado por crime de racismo.<br />
Tal figura, que costuma assinar<br />
os livros que escreve sob o<br />
pseudônimo S. E. Castan foi condenado<br />
em definitivo. Reconheço que o julgamento<br />
não acabou, por causa do pedido<br />
de vistas do processo, por parte de<br />
um dos novos juízes do STF. Ainda assim,<br />
o pseudo-historiador Ellwanger já foi condenado.<br />
A maioria absoluta dos juízes do<br />
STF já o condenou. Como disse antes, não<br />
cabe recurso a esta condenação. O julgamento<br />
não terminou, mas a maioria absoluta<br />
dos juízes condenou Ellwanger.<br />
Criou-se uma jurisprudência. A discriminação<br />
contra grupo religioso, agora é<br />
considerada racismo no Brasil.<br />
Argumentavam os advogados de<br />
Ellwanger, que judeus não são uma raça.<br />
Há judeus pretos, brancos, mulatos. Judeus<br />
são um grupo religioso e não racial.<br />
Ainda assim, todas as instâncias da justiça<br />
brasileira decidiram, pela condenação<br />
do pseudo-historiador Ellwanger. Decidiram<br />
eles que ao publicar livros, com<br />
fatos falsos e absurdos sobre a História<br />
judaica, Ellwanger cometeu crimes de racismo.<br />
Ainda não sendo os atingidos de<br />
uma raça, mas de um grupo religioso,<br />
Ellwanger foi condenado. E a condenação<br />
é definitiva, sem recurso.<br />
Se o mesmo critério, de condenar pessoas<br />
pelo fato delas difundirem farsas<br />
absurdas e caluniosas, sobre povos,<br />
Ellwanger teria que ser seguido por muitas<br />
centenas de pseudo-historiadores.<br />
Ellwanger não é nem de longe, o único<br />
caluniador de povos que tem por aí.<br />
Exemplo de caluniadores de povos,<br />
são aqueles, que “garantem” que os brasileiros<br />
massacraram mais de 1 milhão de<br />
paraguaios, na guerra do Paraguai. Na<br />
verdade, a população paraguaia, antes do<br />
início daquela guerra, sequer chegava a<br />
300 mil almas. Outra maluquice é a transformação<br />
de Solano Lopez, em herói e<br />
figura a ser admirada, até mesmo por<br />
descendentes de parte das vítimas deles,<br />
os brasileiros. O supostamente heróico<br />
Solano Lopez, dentre outros feitos, mandou<br />
prender e torturar a própria mãe. Para<br />
completar, mandou matar dois cunhados,<br />
por imaginárias traições. Livros que se<br />
dizem didáticos dizem, que o Brasil entrou<br />
em guerra contra o Paraguai, a fim<br />
de agradar os imperialistas britânicos. Na<br />
verdade, o Brasil entrou em guerra, contra<br />
Lopez, não para agradar os imperialistas<br />
britânicos, mas sim devido à não<br />
provocada invasão de nosso território.<br />
Há outros caluniadores de povos, que<br />
preferem caluniar com base em farsas, da<br />
História recente. Um exemplo são as dúzias<br />
de caluniadores, que garantiram que<br />
quem havia armado o Iraque, tinham sido<br />
os americanos. Na verdade, menos de 1%<br />
do arsenal do deposto ditador Saddam<br />
Hussein, era de origem americana. A<br />
maioria absoluta era de origem soviéti-<br />
Discípulos de Ellwanger<br />
ca. A França vinha em segundo lugar.<br />
Usando o mesmo critério, de calunia<br />
a povos, Ellwanger ficaria cercado<br />
de centenas de companheiros<br />
de pena. Brasileiros e americanos,<br />
não são raças, mas sim povos. Há<br />
brasileiros e americanos brancos,<br />
negros, mulatos, etc.<br />
Mesmo no caso de calúnias diretas<br />
ou indiretas aos judeus, Ellwanger<br />
tem muitos discípulos. A maioria<br />
destes discípulos gosta de caluniar<br />
Israel e os judeus que vivem<br />
nele. A maioria das mentiras dirigidas<br />
contra Israel é indireta.<br />
A maioria liga-se ao suposto tratamento<br />
dado aos palestinos pelos<br />
governos de Israel. Sempre quando<br />
um palestino, mesmo com uma ficha<br />
quilométrica de crimes terroristas,<br />
contra judeus, é eliminado ou<br />
sofre ferimentos, a maioria da mídia<br />
brasileira anuncia.<br />
Quando muçulmanos massacram<br />
em massa, outros muçulmanos ou<br />
não muçulmanos, a maioria da mídia<br />
brasileira cala a boca. Sim, o finado<br />
ditador Hafez Assad da Síria, mandou<br />
massacrar toda a população de<br />
uma cidade síria por uma rebelião<br />
contra ele. Quando tal ditador morreu<br />
no poder, não vi nenhum grande<br />
jornal brasileiro que lembrasse este<br />
fato da vida de Assad.<br />
Quando este ou aquele palestino<br />
é morto, a mídia anuncia em coro.<br />
Ao lado disto, há um silêncio sepulcral<br />
sobre a escravidão de negros, por<br />
parte de muçulmanos no Sudão. Quando<br />
o regime talebã no Afeganistão<br />
decretou pena de morte a crianças<br />
que soltassem pipas ou mulheres que<br />
pintassem as unhas, mal se falou<br />
nisto. Toda vez que Israel resolve<br />
controlar, com toque de recolher, os<br />
palestinos, a mídia tece imensos<br />
comentários. É aquilo que George<br />
Orwell, em seu livro “1984”, chamou<br />
de duplipensar, se manifesta.<br />
Um exemplo do ódio da maioria<br />
da imprensa brasileira, a Israel é o<br />
eterno enfoque aos tiros e bombas,<br />
que de fato ocorrem por lá. Considerando-se<br />
as mortes totais de pessoas,<br />
por causas violentas, em Israel e territórios<br />
palestinos, tenho que dizer<br />
que Israel é muito mais calmo que o<br />
Rio de Janeiro. A revista “Força Aérea”<br />
nº 31, que está nas bancas atualmente,<br />
mostra que para o mesmo<br />
período de tempo, houve mais de quatro<br />
vezes mais mortes violentas no Rio<br />
de Janeiro, que em Israel mais Gaza e<br />
Cisjordânia. Quem duvide que leia a<br />
página 101, da referida revista. O autor<br />
do artigo é Carlos Lorch. A mídia<br />
simplemente recusa-se a dizer, que o<br />
Exército de Israel é uma criança inocente,<br />
comparado ao comando vermelho<br />
(CV) ou ao terceiro comando. Ambos<br />
vampiros insaciáveis, tanto o CV,<br />
como o terceiro comando, não têm<br />
em geral, qualquer cuidado na escolha<br />
de quem vão matar.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
No entanto, a maioria da imprensa<br />
brasileira condena sempre Israel.<br />
Sempre destaca aquele país, como se<br />
ele fosse o mais violento do mundo.<br />
O que é uma clara mentira. E difundida<br />
como se fosse verdade. Israel é<br />
muitas vezes mais calmo que o Brasil,<br />
embora jamais eu vi nenhum telejornal<br />
importante dizer isto.<br />
Um outro exemplo recente foi o<br />
ataque terrorista à maior cidade judaica<br />
do mundo, Nova York em 11/<br />
09/2001. Mais de 3.600 mortos, sendo<br />
muitos deles judeus. Ainda assim,<br />
não faltaram aqueles que “garantiram”<br />
serem as vítimas, os verdadeiros<br />
culpados. Quando a reação americana<br />
começou, um político brasileiro,<br />
chamou tal reação de “injusta<br />
agressão ao povo afegão”.<br />
Mais recentemente, um outro conhecido<br />
político brasileiro, declarou<br />
que o terrorismo se deve à fome. Como<br />
se Osama Bin Laden não fosse filho<br />
de um bilionário saudita, tendo Bin<br />
Laden herdado várias centenas de milhões<br />
de dólares.<br />
O mesmo conhecido político resolveu<br />
reagir com todo um palavrório<br />
contra a invasão americana ao Iraque<br />
de Saddam Hussein. Vale lembrar que<br />
o curriculum vitae de Saddam é horroroso.<br />
Saddam mandou jogar gás venenoso<br />
contra seu próprio povo, invadiu<br />
e massacrou iranianos, Saddam<br />
mandou enforcar em massa judeus em<br />
praças públicas do Iraque, Saddam<br />
torturou e matou pessoalmente judeus,<br />
etc. No entanto, segundo este<br />
conhecido político brasileiro, os americanos<br />
tinham que ter o aval da ONU<br />
VJ INDICA<br />
LIVRO<br />
para depor o anti-semita Saddam.<br />
Nunca uma pessoa viu este mesmo<br />
político brasileiro exigir aval da ONU<br />
para a então URSS invadir a Hungria<br />
(1956), a Tchecoslováquia (1968) ou o<br />
Afeganistão (1979). Este mesmo político<br />
brasileiro jamais exigiu aval da<br />
ONU para Fidel Castro financiar e armar<br />
guerrilhas no Brasil, Uruguai, Bolívia,<br />
Argentina, Chile, Venezuela, etc.<br />
Quando Fidel Castro enviou ajuda à Síria<br />
na guerra contra Israel, em 1973,<br />
não houve nenhuma resolução da ONU<br />
apoiando isso. No entanto, este político<br />
não exigiu de Fidel nenhuma resolução<br />
da ONU para nenhuma das várias<br />
intervenções patrocinadas pelo mais<br />
antigo ditador do mundo ao longo de<br />
mais de 44 anos de ditadura. Pelo contrário,<br />
todos sabem que este político<br />
brasileiro é o maior amigo de Fidel Castro<br />
no mundo inteiro. Pelo que dá entender<br />
este político, não é necessário<br />
que nenhum país inimigo de Israel tenha<br />
aval da ONU para intervir em qualquer<br />
outro país. Quando se deseja depor<br />
um inimigo de Israel, tem que haver<br />
aval da ONU para tal. Dois pesos e<br />
duas medidas: ambos contra Israel.<br />
Ellwanger não faria melhor.<br />
Concluindo: há menos o que comemorar<br />
com a condenação definitiva<br />
de Ellwanger do que se pensa. Gente<br />
tão mentirosa quanto o pseudo-historiador<br />
Ellwanger está por aí. Esta gente<br />
repete todos os dias um monte de farsas<br />
contra Israel. Eles difundem a farsa<br />
de um Israel cruel, malvado, violento<br />
e etc. Não poucos desses mentirosos<br />
são pessoas respeitadas, poderosas<br />
e em altos postos.<br />
* Dalton Catunda é engenheiro-agrônomo desempregado.<br />
E-mail:dalton@fortalnet.com.br<br />
Guia dos Perplexos<br />
Maimônides - Editora Sêfer<br />
O pensamento de Maimônides, o grande Rambam, talmudista, filósofo,<br />
codificador de leis, matemático e médico que<br />
viveu de 1135 a 1204, passa a fazer parte da coleção<br />
Clássicos da Editora Sêfer através desta edição<br />
única, uma obra compilada e comentada dos temas<br />
que compõem o famoso Guia dos Perplexos. O<br />
trabalho desvenda de maneira fascinante as relações<br />
que Maimônides estabelece entre filosofia e<br />
judaísmo. Profundo e acessível a um só tempo,<br />
apresenta a razão como caminho que leva o<br />
homem a D-us.<br />
A iniciativa encontrou obstáculos, mas o saber<br />
ímpar do genial Rambam prevaleceu e, graças<br />
a ele, estudiosos e leitores interessados puderam,<br />
século após século, compreender a verdade<br />
que tece os nítidos vínculos entre razão e<br />
religião. O lançamento desta edição especial de O<br />
Guia dos Perplexos em português permite que, a partir de agora,<br />
também o público brasileiro desfrute, explore e discuta as idéias e conceitos<br />
de um dos maiores luminares intelectuais da Humanidade – formulações<br />
tão atuais hoje quanto há 800 anos, quando foram escritas.
Melancólico fim de<br />
uma era romântica<br />
Marcos Wasserman*<br />
Como todo bom judeu da minha geração também<br />
nasci no Bom Retiro. Fui aluno do Renascença,<br />
na época da 2ª Guerra Mundial. Da minha casa até a<br />
escola era uma boa caminhada, talvez uns dois quilômetros.<br />
O caminho era cheio de perigos. Bandos<br />
de moleques, entre eles filhos de lituanos e de outros<br />
imigrantes, atacavam os meninos judeus, por<br />
mero divertimento, ou para roubar a lancheira, ou<br />
alguns míseros centavos que levávamos no bolso.<br />
Ao término da guerra o Bom Retiro regurgitava<br />
de jovens que ativavam em diferentes movimentos<br />
sionistas. O trauma do Holocausto e a proclamação<br />
do Estado de Israel foram dois acontecimentos que<br />
causaram uma verdadeira revolução na vida judaica.<br />
Para começar os jovens se organizaram, e os<br />
perseguidos até então limparam as ruas do Bom<br />
Retiro dos jovens hooligans anti-semitas. A proclamação<br />
do Estado de Israel insuflou em todos<br />
um misto sentimento de orgulho e de segurança.<br />
O regozijo era enorme como se o próprio Messias<br />
tivesse chegado.<br />
Alguém se lembra da enorme manifestação realizada<br />
no Estádio do Pacaembu, (sim em pleno Estádio)<br />
onde milhares e milhares de judeus se aglomeravam<br />
nas arquibancadas; e na pista, que marginava<br />
o Campo de Futebol, desfilavam os jovens<br />
dos movimentos sionistas, judeus que chegaram<br />
de todos os cantos do Estado de São Paulo, desfilando<br />
em delegações de todas as cidades, Santos,<br />
Sorocaba, Itu, Ribeirão Preto, Santo André, São<br />
Bernardo etc. etc.<br />
Quando o primeiro navio israelense o Theodor<br />
Herzl, encostou no cais do porto de Santos, um<br />
público enorme invadiu o navio e quase o depredaram,<br />
pois cada um queria levar consigo uma lembrança,<br />
como se cada objeto que ali se encontrava<br />
fosse um pedacinho de Israel.<br />
A apoteose foi à chegada do primeiro Embaixador<br />
de Israel no Brasil, e o coração dos judeus paulistas<br />
se expandiu de felicidade, no dia em que foi<br />
inaugurado o Consulado de Israel em São Paulo.<br />
Mais de meio século depois o Consulado de Israel<br />
em São Paulo está sendo fechado. Decisão<br />
tomada em Israel, por alguns burocratas por questões<br />
orçamentárias, decisão sancionada pelo Ministro<br />
do Exterior de Israel. Uma decisão merecedora<br />
de todas as críticas possíveis e imaginárias.<br />
A comunidade judaica paulista, em sua maioria,<br />
mantém-se apática e indiferente a tão triste<br />
acontecimento. Tirando algumas tímidas cartas e<br />
modestos abaixo-assinados não houve nenhuma<br />
outra reação mais séria.<br />
Quem “ganha” com o fechamento do Consulado?<br />
Do lado israelense os funcionários frios e indiferentes<br />
cumpriram ciosamente com a sua tarefa<br />
de fazer cortes no orçamento. Do lado judaico<br />
paulista “ganhou” a corrente cuja linha de pensamento,<br />
entre outras, enfatiza pugnar pela continuidade<br />
do povo judeu, desvinculada de Israel. Não<br />
foi obra do acaso a discussão se deveriam ser mudados<br />
os nomes das entidades denominadas “israelitas”,<br />
para “judaicas”.<br />
Quem perdeu? Na realidade muito são os que perderam.<br />
Israel perde um importante Consulado, na mais<br />
importante cidade da América Latina. A comunidade<br />
fica órfã como se tivesse perdido um pai.<br />
O fechamento do Consulado de Israel simboliza<br />
o fim de uma era. O fim melancólico em São<br />
Paulo, da era romântica do Sionismo.<br />
* Marcos Wasserman é advogado e presidente do<br />
Centro Cultural Israel-Brasil em Tel Aviv.<br />
Email: mlwadvog@netvision.net.il<br />
• Na’Amat Pioneiras convida a<br />
comunidade para a inauguração<br />
da sala Bella Chamecki Glock<br />
z“l, no Cip, dia 3 de agosto<br />
(domingo) as 17h. Homenagem<br />
merecida a esta Pioneira.<br />
• Em comemoração ao Dia dos<br />
Pais, a Wizo programou para o<br />
dia 2 de agosto um jantar jogo<br />
(de cartas) no CIP, com sorteio<br />
de prêmios para os pais<br />
presentes.<br />
Em 2002 o seminário foi muito animado<br />
Fotos: Szyja Lorber<br />
• De 15 a 17 de agosto estará<br />
acontecendo o 3º Seminário do<br />
Beit Chabad de Curitiba, no<br />
Mata Atlântica Park Hotel. Este<br />
ano o tema será “Saúde e<br />
judaísmo: meu corpo e minha<br />
alma”. O renomado Rabino<br />
Avraham Beuthner, do Rio de<br />
Janeiro, estará conosco para<br />
falar sobre: “Energização<br />
positiva do corpo”, “Shabat e o<br />
judeu cardíaco”, “Alegria: terapia<br />
mística anti-stress”,<br />
“Alimentação saudável conforme<br />
Maimônides” e muito mais neste<br />
fim-de-semana em meio à<br />
natureza e toda a infra-estrutura<br />
do hotel, com atividades<br />
especiais para as crianças, além<br />
do encontro de novos e velhos<br />
amigos. Reservas e informações<br />
no Beit Chabad, tel. 243-0818 e<br />
244-8266.<br />
• Fani Lerner, ex-secretária da<br />
Criança e Assuntos da Família<br />
do Paraná, será homenageada<br />
em com o Prêmio Hanna Neil,<br />
oferecido pela<br />
organização<br />
americana<br />
World of<br />
Children. A<br />
premiação é a<br />
mais importante<br />
do mundo na<br />
área de ação<br />
Fani Lerner social para a<br />
saúde e o<br />
desenvolvimento das crianças. É<br />
a primeira vez que uma<br />
brasileira receberá esta<br />
homenagem. Fani foi<br />
selecionada entre 140<br />
candidatos de vários países de<br />
todos os continentes. A<br />
cerimônia de premiação será de<br />
VISÃO JUDAICA • julho de 2003 • Av • 5763<br />
18 a 20 de novembro, em<br />
Columbus, Ohio, cidade sede da<br />
World of Children. Não é todo o<br />
dia que um paranaense recebe<br />
homenagem desse quilate. Em<br />
qualquer outro estado brasileiro,<br />
teríamos um mês de<br />
comemorações. Aqui, silêncio e<br />
autofagia. Shalom Fani, você<br />
merece!<br />
• A coluna da jornalista Ruth<br />
Bolognese do dia 1º/7 em “O<br />
Estado do Paraná” errou na nota<br />
com o título ”Pragmatismo”<br />
quando afirmou que o Jornal<br />
Israelita do Paraná é “tradutor da<br />
opinião da colônia”. Não é. Nem<br />
nós somos! Todos sabem que<br />
ninguém da comunidade recebe<br />
essa publicação desde que seu<br />
fundador Ben Ami Saltz faleceu,<br />
embora vez por outra continue<br />
sendo impresso e usando o<br />
nome da colônia. O que se<br />
estranha é o silêncio e a falta<br />
de uma resposta dos dirigentes<br />
da comunidade israelita a<br />
respeito. Dizem que quem cala,<br />
consente...<br />
• No dia 9 de agosto, Alex<br />
Grupenmacher lerá a haftará de<br />
Shabat, em honra do seu Bar<br />
Mitzvá. Aos pais, Betina e<br />
Francisco, a coluna deseja<br />
muitas “naches” do filho.<br />
• Martha e Mauricio Schulman<br />
comemoraram 46 anos de<br />
casados. Mazal Tov.<br />
• No período de 19 a 22 de junho<br />
nosso time de futsal esteve no<br />
Rio de Janeiro participando da<br />
Seletiva de Futsal para os X<br />
Jogos Pan-americanos<br />
Macabeus que serão realizados<br />
em Santiago no Chile em<br />
dezembro de 2003. Os<br />
resultados alcançados foram<br />
excelentes. Ficamos com a 2ª<br />
colocação nas duas categorias<br />
que participamos. Obtivemos<br />
sucesso também nas<br />
convocações: André Camlot foi<br />
convocado para jogar na<br />
categoria Júnior, o atleta Pedro<br />
London foi convocado para a<br />
categoria Juvenil, o professor<br />
Gustavo Meier Brasil foi<br />
convocado para a Comissão<br />
Técnica da categoria Juvenil.<br />
• De 28 de julho a 1º de agosto o<br />
CIP estará organizando a 2ª<br />
Colônia de Férias da Kehilá<br />
para crianças de 4 a 7 anos.<br />
Horário: das 14 às 18h. Preço:<br />
R$ 80,00 Informações na<br />
secretaria do clube.<br />
• No dia 7/7 aconteceu encontro<br />
de confraternização do Grupo<br />
Apoio, no salão de festas do<br />
casal Alegre e Felipe Bronfman.<br />
Apresentou-se o Grupo<br />
15<br />
Tunguendesse (Vem nos guiar)<br />
de Angola. O grupo original<br />
compõe-se de oito elementos,<br />
mas nesta noite apresentaramse<br />
seis. Cantaram musicas em<br />
dialetos angolanos. Todos os<br />
componentes do grupo estão<br />
estudando em universidades<br />
curitibanas. Encontro alto astral<br />
e o ingresso, como sempre, foi<br />
material de limpeza para o<br />
Instituto Paranaense de Cegos.<br />
Nelson Barbalat e Isac Nudelman<br />
• Terminado o mandato de Isac<br />
Nudelman frente à direção da<br />
Escola Israelita, aliás, numa<br />
bela gestão, assume Nelson<br />
Barbalat, encabeçando a equipe<br />
e sua diretoria: Ilana Lerner<br />
Hofmann, Sally Reich, Silviane<br />
Sasson Hass e o Joel Ilan<br />
Paciornik, acompanhando a<br />
distância e integrando a equipe<br />
no início do ano que vem. Os<br />
membros da atual diretoria<br />
foram convidados a somar com<br />
a nova equipe e a Esther deverá<br />
ter participação mais<br />
efetiva. Boa sorte a todos e<br />
contem com <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong>.<br />
• Com o tema “Os desafios de<br />
Israel hoje” Yoel Schwartz que<br />
esteve em Curitiba dia 3 de<br />
julho<br />
ministrou<br />
palestra no<br />
Centro<br />
Israelita do<br />
Paraná<br />
(CIP), em<br />
evento<br />
promovido<br />
pelo Eitan.<br />
Yoel é<br />
sheliach da<br />
Yoel Schwartz<br />
Sochnut e<br />
trabalha na<br />
Congregação Israelita Paulista.<br />
Foi madrich do machon le<br />
madrichim. Na manhã do<br />
mesmo dia ele esteve na escola<br />
conversando com as crianças.<br />
• O Dror fará realizar a machané<br />
local de 14 a 18 de julho, para<br />
crianças de 9 a 13 anos, que<br />
freqüentam o movimento e o<br />
preço será de R$ 160,00. De 23<br />
a 31 de julho acontecerá<br />
machané central, para jovens a<br />
partir de 14 anos, com um custo<br />
de R$ 360,00. Maiores<br />
informações no Dror.
16<br />
VISÃO JUDAICA • julho de 2003 • Av • 5763<br />
OLHAR<br />
HIGH-TECH<br />
Israel ajudará o ‘Fome Zero´<br />
O Instituto Weizmann de Ciências, de Israel,<br />
vai participar do programa Fome<br />
Zero. Um convênio de cooperação mútua<br />
com o governo brasileiro para a transferência<br />
de conhecimentos tecnológicos nas<br />
áreas agrícola e de energia, será assinado<br />
este ano, com investimento israelense<br />
que pode chegar a US$ 500 mil. Arie<br />
Zehavi, vice-presidente de assuntos internacionais<br />
e relações-públicas para<br />
América Latina do Instituto Weizmann,<br />
disse que o instituto vai ajudar o Brasil<br />
no combate à fome através de técnicas<br />
agrícolas de última geração. “São técnicas<br />
modernas de adaptação de produtos<br />
alimentícios a terrenos áridos”. Cientistas<br />
israelenses trabalharão em conjunto<br />
com brasileiros para transferir conhecimentos<br />
científicos, especialmente na área<br />
de engenharia genética. O Instituto Weizmann<br />
também está oferecendo ao Brasil<br />
técnicas para aproveitamento de energia<br />
solar para abastecer populações que não<br />
recebem energia elétrica.<br />
Fome Zero 2<br />
Zehavi chega ao Brasil no dia 4 de agosto.<br />
Pretende agendar junto ao governo brasileiro<br />
a data de assinatura do convênio entre<br />
o presidente do instituto israelense, Ilan<br />
Chet, e representantes do programa Fome<br />
Zero. Segundo Zehavi, o instituto considera<br />
o combate à fome uma “causa nobre”.<br />
Na ocasião da assinatura entre os dois países,<br />
Lula receberá do Instituto Weizmann<br />
o prêmio de ciências e humanidades, uma<br />
honraria já entregue a vários líderes mundiais,<br />
mas pela primeira vez será dada a<br />
um representante do Brasil. “´É uma homenagem<br />
ao presidente Lula pela iniciativa<br />
de combate e erradicação da fome no país,<br />
que deve servir de exemplo para o mundo.<br />
Gostaríamos de oferecer o prêmio durante<br />
uma possível visita [de Lula] a Israel, mas<br />
ainda não há confirmação de que isto aconteça”,<br />
afirmou Zehavi.<br />
Produto contra o Sars<br />
A empresa israelense Medex Screen saiu<br />
na frente na luta contra a Síndrome de<br />
Imunodeficiência Respiratória (Sars) e desenvolveu<br />
um produto que poderá identificar<br />
a moléstia em seus estágios iniciais,<br />
fornecendo, ainda, o diagnóstico em dez<br />
minutos. Os primeiros testes já foram realizados<br />
em pacientes internados num hospital<br />
de Cingapura. Fundada na cidade de<br />
Dimona em 1999, a Medex Screen tem se<br />
dedicado ao desenvolvimento de instrumentos<br />
não invasivos que permitam a detecção<br />
de males nos órgãos internos.<br />
Senac e Sapir College<br />
O Senac de São Paulo e o Sapir College, de<br />
Israel, firmam um acordo co-patrocinado<br />
pelas câmaras de comércio e indústria Brasil-Israel<br />
e Israel-Brasil. O objetivo é o<br />
intercâmbio de tecnologias educacionais,<br />
visitas de professores entre as diversas faculdades<br />
do Senac São Paulo e do Sapir<br />
College, troca de experiências entre profissionais<br />
e educadores de ambas instituições<br />
e convênios para projetos especiais,<br />
principalmente nas áreas de Meio Ambiente,<br />
Fotografia, Informática e Comunicações.<br />
Abram Szajman, presidente da Federação<br />
do Comércio do Estado de São Paulo,<br />
e Tzvi Chazan, presidente da Câmara<br />
de Comércio e Indústria Israel-Brasil, assinaram<br />
o acordo, na presença de Luiz<br />
Francisco de Assis Salgado, diretor regional,<br />
e Luiz Carlos Dourado, superintendente<br />
de Desenvolvimento, ambos do Senac<br />
São Paulo; Nelson Grunebaum e Jayme<br />
Pasmanik, vice-presidentes, e Francisco<br />
Gotthilf, diretor, da Câmara Brasil-Israel<br />
de Comércio e Indústria.<br />
Uma pílula-câmera I<br />
Pacientes com problemas<br />
estomacais e<br />
intestinais cansados<br />
de fazer exames<br />
“desconfortáveis”<br />
como endoscopia já<br />
podem respirar aliviados.<br />
A empresa<br />
israelense Given<br />
Imaging está fazendo<br />
sucesso com a M2A, pílula usada para<br />
diagnosticar problemas de saúde nos estômagos<br />
e intestinos de pacientes em<br />
todo o mundo. Segundo a empresa, até<br />
agora, cerca de 40 mil pessoas já usaram<br />
a pílula sem problemas. Uma das organizações<br />
mais criteriosas para aprovação de<br />
medicamentos, a Food and Drug Administration<br />
(FDA), deu sinal verde para a adoção<br />
da M2A nos Estados Unidos, que usa<br />
a pílula em exames desde 2002. O modo<br />
de funcionamento da M2A é bem simples:<br />
o paciente engole a cápsula, que contém<br />
uma minúscula “câmera”. O transmissor<br />
dentro da cápsula envia as imagens para<br />
um computador que a exibe aos médicos<br />
para análise e diagnósticos.<br />
Pílula-câmera II<br />
A M2A não é muito maior que uma aspirina,<br />
com cerca de 11mm x 26mm e 4<br />
gramas de peso. Apesar de bem pequena,<br />
ela inclui uma fonte de luz, bateria, um<br />
transmissor e uma antena. Depois de feito<br />
o exame, a M2A é expelida naturalmente<br />
e nunca é absorvida pelo corpo.<br />
Para receber as imagens, o paciente usa<br />
um gravador wireless de dados e imagens,<br />
que fica preso ao seu corpo como um cinto,<br />
bastante similar à um walkman portátil.<br />
Os sinais enviados informam a trajetória<br />
da pílula dentro do organismo, sem<br />
causar nenhuma dor ou desconforto ao<br />
paciente, que pode continuar com suas<br />
atividades normais enquanto a câmera<br />
trabalha internamente e os sensores do<br />
cinto gravam os dados recebidos. O processo<br />
dura cerca de oito horas.<br />
Pílula-câmera III<br />
Depois, um computador com software apropriado<br />
processa os dados e produz um vídeo<br />
que alia as imagens às informações de<br />
cada região gravada. Com estes dados, os<br />
médicos podem ver, editar e gravar as imagens<br />
produzidas pela cápsula. Há informações<br />
de que o Hospital Albert Einstein, em<br />
São Paulo, já trabalha com esta cápsula.<br />
Considerando a alta tecnologia, custa algo<br />
em torno de US$ 500,00 nos EUA.<br />
O Judaísmo acredita em<br />
uma vida após a vida?<br />
oshe Maimônides, o Rambam<br />
(1135-1204) compilou os 13<br />
Princípios Básicos do Judaísmo.<br />
O décimo e o décimo-primeiro<br />
princípio declaram que D-us sabe<br />
de todas nossas ações e que Ele recompensa<br />
e pune conforme nossas atitudes.<br />
Uma vez que não enxergamos o mal ser sempre<br />
punido ou o bem ser sempre recompensado,<br />
é lógico que, se existe um D-us bom e<br />
justo, deve existir um Mundo de Almas, uma<br />
vida após a vida, que seja o grande equalizador.<br />
Lá, o mal que não foi punido neste<br />
mundo é castigado e os bons atos que não<br />
foram recompensados são sim premiados.<br />
Existem alusões à vida após a vida na<br />
Torá, embora não explicitamente escritas ou<br />
declaradas (o Talmud, no Tratado Sanhedrin,<br />
capítulo 10, discute o assunto ‘vida após a<br />
vida’). Quando o Patriarca Yaácov (Jacob)<br />
faleceu, a Torá relata: “... ele morreu e uniuse<br />
ao seu Povo (Gênesis 49:33)”. A Torá então<br />
nos informa que os egípcios ficaram de<br />
luto por Yaácov por 70 dias antes que seu<br />
filho, Yossêf (José) recebesse permissão para<br />
enterrar seu pai na Caverna Hamachpelá, em<br />
Hebron, Israel. O que a Torá quis dizer com<br />
“ele uniu-se ao seu Povo?” A resposta é que<br />
esta é uma referência de que sua alma foi<br />
levada para uma vida após a vida.<br />
Mais adiante, no livro de Bamidbár (Números),<br />
a Torá relata a história de Bilaam, o<br />
diabólico profeta gentio, que foi contratado<br />
pelo rei Balak para amaldiçoar o Povo de Israel.<br />
Em meio à história, Bilaam manifestase<br />
da seguinte maneira: “Permita-me morrer<br />
a morte dos justos e que meu fim seja como<br />
o deles (os Judeus justos) (Números 23:10)”.<br />
Será que os justos morrem melhor que os<br />
malvados? Na verdade Bilaam estava querendo<br />
dizer: “Deixe-me viver minha vida nos<br />
meus termos e segundo meus próprios desejos,<br />
mas quando chegar para a vida após a<br />
vida, permita que minha alma seja recompensada<br />
como os justos são recompensados”.<br />
Creio que estas duas alusões são válidas,<br />
mas não emocionalmente convincentes. Se a<br />
vida após a vida é uma parte tão essencial<br />
da fé <strong>Judaica</strong>, por que a Torá a aborda de<br />
uma maneira indireta? A Torá poderia ter<br />
descrito o Mundo Vindouro em detalhes, mas<br />
preferiu não fazê-lo. Por que?<br />
Por dois motivos:<br />
1) A Torá é um livro de instruções para<br />
esta vida. Ela estabelece instruções sobre<br />
como vivermos uma vida sagrada, elevada e<br />
cheia de significado, e como melhorarmos a<br />
nós e ao mundo em que vivemos. O Todo-<br />
B”S<br />
Kalman Packouz *<br />
Poderoso deseja que foquemos nossos esforços<br />
em nossas obrigações nesta vida. A vida<br />
após a vida irá se manifestar por si só.<br />
2) Mesmo se a Torá descrevesse detalhadamente<br />
a vida após a vida, como alguém<br />
poderia verificar sua existência? Ninguém<br />
jamais retornou do Mundo Vindouro para<br />
confirmar ou negar qualquer coisa.<br />
Muitas pessoas e seitas fazem um retrato<br />
da vida após a vida. O Talmud nos ensina:<br />
“Aquele que quer mentir diz que suas testemunhas<br />
estão em algum lugar longínquo”. Por<br />
exemplo: Uma pessoa vai a um juiz alegando<br />
que fulano está lhe devendo uma enorme<br />
quantia de dinheiro. O fulano é intimado e<br />
fala o seguinte para o juiz: “Já lhe devolvi o<br />
dinheiro, mas acontece por acaso que minhas<br />
testemunhas estão viajando pela Europa”. É<br />
como alguém dizer: “Tenha fé em nós e você<br />
ganhará o paraíso”. Em ambos os casos, não<br />
há maneira de validar o que foi alegado.<br />
Apesar de o Judaísmo crer na vida após a<br />
vida, um Mundo Vindouro, a Torá não faz nenhuma<br />
promessa ‘longínqua’. A Torá nos conta<br />
sobre as recompensas e punições neste<br />
mundo, em resposta às nossas ações e atitudes.<br />
Na verdade não precisamos ir mais longe<br />
do que o que está escrito nesta porção semanal<br />
da Torá: “Se vocês seguirem Meus decretos<br />
e cumprirem Meus mandamentos, Eu irei<br />
prover-lhes chuvas no momento certo, e a<br />
terra dará sua produção e as árvores darão<br />
seus frutos ... e comerão pão até se saciarem<br />
e morarão em segurança em sua terra. Garantirei<br />
paz em sua terra e vocês poderão dormir<br />
sem preocupações... Farei vocês florescerem<br />
e se multiplicar... (Vaikrá 25:3-9)”<br />
Por que a recompensa e a punição são<br />
tão importantes para nós? O Rabino Yaácov<br />
Weinberg, em seu livro ‘Fundamentals<br />
and Faith’, nos responde: “Um mundo sem<br />
recompensa ou punição é um mundo de absoluta<br />
indiferença, e a indiferença é a<br />
maior demonstração possível de rejeição.<br />
Uma pessoa não pode viver com indiferença.<br />
Para que haja um relacionamento entre<br />
D-us e o homem, D-us precisa reagir às<br />
ações do homem. Nosso reconhecimento<br />
desta reação (através de recompensas ou<br />
punições) nos informa que o Todo-Poderoso<br />
se importa conosco e que nossas atitudes<br />
realmente fazem diferença para ele.<br />
Sem recompensa e punição a vida não tem<br />
significado e também é injusta, pois o que<br />
o homem faz ou deixa de fazer não fará<br />
nenhuma diferença!”<br />
Extraído do semanário Meor<br />
Hashabat, de autoria do Rabino Kalman<br />
Packouz, com permissão do autor<br />
* Kalman Packouz é rabino, especialista em tecnologia e educador. Vive nos Estados<br />
Unidos. Publicou livros e fundou o Serviço Judaico para Encontro de Casais via<br />
Computador (the Jewish Computer Dating Service). Packouz é casado e pai de nove filhos.<br />
Coordena as atividades da Organização Êsh Ha Torá a nível internacional como diretor<br />
executivo e abriu um escritório americano para os programas mundiais do Êsh Ha Torá, de<br />
onde escreve o Meór Ha Shabat Fax semanal, proporcionando uma visão moderna e<br />
entusiasmante sobre a vida, crescimento pessoal e a Torá. Este boletim é lido hoje por mais<br />
de 150 mil leitores via e-mail em todo o mundo, em inglês, português, persa e russo.
Ser terrorista – o direito dos povos<br />
que não reconhecem os direitos<br />
Edda Bergmann*<br />
O terrorismo sempre inclui riscos individuais para quem o pratica,<br />
mas nunca se transformou, com raríssimas exceções em destruição<br />
do próprio eu, em sacrifício total de quem se envolve com ele.<br />
Este é um fenômeno relativamente novo no Século 21,<br />
com certeza novo na quantidade e qualidade dos seus praticantes,<br />
assim como na extensão de suas ações e no alcance<br />
de seus objetivos.<br />
Trata-se de desvios mentais de comportamento incentivados<br />
pelo ódio exacerbado e pelo furor mágico contra a vida, em detrimento<br />
da vida terrestre e esperança da vida triunfal do Além.<br />
Sempre houve seitas que pregaram o ódio e o fanatismo liderados<br />
por fanáticos intransigentes, retrógrados e repressores da vida.<br />
Sempre houve ódio sobre a face da Terra. Mas tanto ódio<br />
reprimido por pessoas normais que saem da vida diária, de<br />
uma vida aparentemente útil, de uma família aparentemente<br />
constituída e numerosa, de uma casa e de um povoado ou<br />
cidade onde sempre moraram, para cometer atos suicidas e<br />
levar à morte inúmeras pessoas até então totalmente desconhecidas<br />
tentando matar e ferir gravemente o maior número<br />
possível delas para receber sua recompensa plena no paraíso,<br />
isto realmente nunca houve.<br />
Tamanho desvio de comportamento, tamanho desvio de relacionamento<br />
humano de pessoas aparentemente normais e<br />
esclarecidas, de pessoas que vivem em sociedade demonstram<br />
a existência de uma sociedade doente, no mínimo com idéias<br />
distorcidas sobre a existência do mundo, deste mundo caótico<br />
que com certeza não é o preconizado por Maomé, que seria<br />
o enviado de Alá na Terra.<br />
Bater palmas ao terrorismo, acalentá-lo em seu berço e fazer<br />
dele o ideal supremo da vida é tão caótico quanto irreal.<br />
Quem poderia prever um novo século desta natureza desconhecida<br />
e não palpável? Quem poderia admitir que isso fosse<br />
acalentado em meio à globalização, aos computadores, às<br />
viagens espaciais e à centena de médicos debruçados sobre<br />
seus doentes a fim de prolongar a vida das pessoas e sua<br />
permanência no planeta terra?<br />
O avanço da vida humana, a 3ª, a 4ª e 5ª idade já se fazem<br />
presentes nos dias de hoje com sua participação ainda ativa nas<br />
atividades normais da vida e do cérebro. As tentativas de vencer<br />
doenças até ontem incuráveis, todo o esforço para salvar uma<br />
vida quando outras tantas são jogadas estupidamente fora.<br />
Se formos verificar quantas crianças palestinas e árabes estão<br />
em hospitais israelenses para sobreviver a doenças até ontem<br />
mortais, e quantas já foram curadas veremos que a missão<br />
da paz é muito superior à da guerra.<br />
Numa guerra estúpida, sem presente nem futuro, que destrói<br />
por destruir, que não cria e não recria nada, um povo que<br />
diz não ao futuro, não pode dizer sim ao presente porque ele<br />
simplesmente não o tem.<br />
Mas será que o mundo todo perdeu a cabeça e não é mais<br />
capaz de entender que isto não é caminho para nada?<br />
É preciso que surja alguém que saiba sonhar, não no devaneio,<br />
não no imprevisível, mas que saiba sonhar com uma<br />
humanidade mais coesa, mais amiga, mais coerente e mais<br />
afeiçoada a si mesma, pessoas que gostem de pessoas, pessoas<br />
que respeitem pessoas que saibam que os destinos de<br />
todos e o de cada um, são resolvidos por um ser superior e<br />
não pelos seus ditames sanguinários e irreversíveis. Pessoas<br />
que saibam dizer sim à paz, mesmo que ela seja precária,<br />
difícil e complicada. A paz são três letras totalmente necessárias<br />
à sobrevivência do ser humano no planeta Terra.<br />
Saber sonhar é como dizia Theodor Herzl; “Se tu quiseres<br />
será apenas um sonho, mas se realmente o quiseres poderás torná-lo<br />
realidade”.<br />
Isto não depende apenas de nós, mas também depende de<br />
nós, de todos nós!!!<br />
* Edda Bergmann é presidente da B’nai B’rith do Brasil<br />
Rabi Isaac Luria<br />
O Ari<br />
O século 16 trouxe consigo o cabalista mais influente<br />
na história: Rabi Isaac Luria.<br />
Um estudioso brilhante com a idade de 13 anos, ele<br />
era chamado de “Ari,” que significa “O Leão Sagrado.”<br />
O Ari tinha o dom de explorar as profundezas internas<br />
do Zohar. Ele viveu como um ermitão por 13 anos,<br />
sondando seus mistérios. Não era incomum que o Ari<br />
meditasse acerca de um versículo do Zohar durante muitos<br />
meses, até que o sentido oculto lhe fosse revelado.<br />
O Ari descobriu segredos extraordinários dentro das<br />
palavras poéticas do Zohar. Ele descreveu um sistema<br />
de evolução que ia muito além daquilo que Darwin viria<br />
a explicar séculos depois. O Ari escreveu:<br />
Chegará uma época em que homens da ciência irão,<br />
em sua busca pelo elo perdido entre o homem e o animal,<br />
tentar considerar o macaco como a forma vivente<br />
da qual o homem evoluiu.<br />
— Árvore da Vida, Portão 42, Cap. 1<br />
O Ari explica, entretanto, que o macaco é uma “imagem<br />
fraudulenta” do homem. Como o homem, o macaco<br />
tem cinco dedos em cada mão. Mas diferentemente<br />
do homem, ele não é capaz de usar a operação do polegar.<br />
O polegar corresponde à dimensão mais elevada<br />
numa realidade de dez dimensões — um nível conhecido<br />
como Keter. O polegar é a chave para a inteligência<br />
humana, de acordo com o Ari.<br />
De fato, Keter é a fonte de toda a inteligência que<br />
permeia o nosso mundo físico. Embora possamos nos<br />
maravilhar com a inteligência do macaco, seu DNA físico<br />
(e metafísico) é preestabelecido — um macaco não<br />
é capaz de sair de sua categoria animal. Essa limitação<br />
de inteligência é demonstrada por sua incapacidade de<br />
operar seu polegar.<br />
Surpreendentemente, os cientistas agora nos dizem<br />
que a vantagem evolutiva do homem tinha origem no<br />
“polegar oposto”. O polegar nos permitiu criar ferramentas<br />
e portanto era a chave para o desenvolvimento<br />
da inteligência humana.<br />
O Ari revelou um código notável explicando a forma<br />
como a energia espiritual do Messias começaria a se<br />
expressar em nosso mundo físico no ano de 1948, numa<br />
sexta-feira de tarde.<br />
Cerca de 500 anos depois, o Estado de Israel nasceu<br />
no ano de 1948. A posição de Israel como um estado<br />
foi ratificada pela ONU numa sexta-feira de tarde.<br />
O Ari demonstrou poderes misteriosos durante sua<br />
vida. Foi relatado que em uma ocasião ele reuniu seus<br />
discípulos para uma longa viagem até Jerusalém para<br />
passar ali o sábado. Todos ficaram desconcertados so-<br />
VISÃO JUDAICA • julho de 2003 • Av • 5763<br />
17<br />
Rav Berg*<br />
bre como poderiam chegar a tempo à cidade, pois faltava<br />
pouco tempo até o sábado.<br />
O Ari era um homem que vivia o conceito da mente<br />
estar acima da matéria. Disse ele:<br />
“Os elementos de tempo, espaço, e movimento são<br />
meramente uma expressão das limitações impostas pelo<br />
corpo físico sobre a alma. Quando a alma tem poder sobre<br />
o corpo, esses fatores limitantes deixam de existir.<br />
Vamos agora prosseguir até Jerusalém, pois nossos corpos<br />
físicos perderam sua influência sobre nossas almas.”<br />
Depois de entrarem em meditação e cantarem canções<br />
místicas, o Ari e seus discípulos chegaram antes<br />
do sol se pôr, para receber o sábado.<br />
O maior legado do Ari foi sua composição cabalística<br />
Os Escritos do Ari, compilados pelo seu aluno mais<br />
prezado, Rabi Chaim Vital. Essa obra profunda gerou o<br />
que é conhecido como Cabala Luriânica.<br />
A Cabala Luriânica tornou-se a escola definitiva do<br />
pensamento cabalístico, e teve um impacto dramático<br />
sobre o mundo. Estudiosos contemporâneos eminentes<br />
só agora estão descobrindo a profunda influência que<br />
este grande cabalista da Renascença teve sobre intelectuais<br />
notáveis como Sir Isaac Newton.<br />
Professor Allison P. Coudert afirma em seu livro O<br />
Impacto da Cabala no Século Dezessete:<br />
“A Cabala Luriânica merece um lugar que nunca recebeu<br />
nas histórias dos desenvolvimentos científico e<br />
cultural do ocidente.”<br />
O grande matemático e filósofo Leibniz, que inventou<br />
o cálculo e, assim sendo, aquelas aulas cansativas de matemática<br />
que tivemos que agüentar no colégio e na universidade,<br />
foi profundamente influenciado pela Cabala. Isaac<br />
Newton — considerado por muitos como o maior cientista<br />
de todos os tempos — estudava Cabala secretamente, onde<br />
ele encontrou idéias que carregam uma semelhança notável<br />
com algumas de suas maiores descobertas científicas.<br />
Todo o conhecimento e material que aparecem no website<br />
www.kabbalah.com têm origem na Cabala Luriânica.<br />
Com apenas 38 anos, Isaac Luria deixou este mundo<br />
depois de causar um impacto impressionante sobre<br />
a Cabala, no dia 5 de Av.<br />
Ele deixou um sistema espiritual que, quando totalmente<br />
desenredado e decifrado, capacitará à humanidade<br />
tomar controle sobre seu destino individual e coletivo —<br />
um mapa rodoviário e um guia para o corpo e a alma que<br />
livrará as pessoas de seu caos, medo, dor e sofrimento.<br />
Diz-se que Luria veio a este mundo por um único<br />
propósito: instruir seu discípulo, Rabi Chaim Vital, no<br />
sistema Luriânico de Cabala.<br />
* Rav Berg é cabalista, diretor internacional do Centro de Cabala e escreveu Dos ensinamentos do cabalista Rav<br />
Berg (www.kabbalah.com).Tradução e adaptação de Shmuel Lemle, professor do centro de Cabala do Rio de<br />
Janeiro (shmuel.lemle@kabbalah.com).
18<br />
VISÃO JUDAICA • julho de 2003 • Av • 5763<br />
Fundação Raoul Wallenberg<br />
homenageou três religiosos<br />
O rabino Simón Moguilevsky,<br />
membro do Conselho<br />
Diretivo da Fundação Raoul<br />
Wallenberg, esteve em Curitiba<br />
para homenagear<br />
com a medalha Souza Dantas<br />
três religiosos que se<br />
empenham no combate ao<br />
antijudaísmo, e visitou escola<br />
municipal que leva o<br />
nome do embaixador sueco, que salvou<br />
centenas de vítimas do nazismo.<br />
Moguilevsky, que foi rabino de Curitiba<br />
por nove anos, e atualmente é rabino<br />
na Congregação Israelita da República<br />
Argentina (Templo Libertad),<br />
rendeu tributo à memória de Luiz Martins<br />
de Souza Dantas, diplomata brasi-<br />
A diretora do CEI Raoul Wallenberg, no São Braz, Maria Agostinha Drulla Felipe, o<br />
aluno com melhor média e o rabino Simón Moguilevsky<br />
A Medalha<br />
Souza Dantas<br />
leiro que salvou judeus e outros perseguidos<br />
durante o Holocausto.<br />
Na ocasião do cabalat shabat do dia<br />
13 de junho, as irmãs Adola e Nehamia,<br />
religiosas Evangélicas de Maria, receberam<br />
a medalha Souza Dantas, da<br />
Fundação Raoul Wallenberg, pelo<br />
importante trabalho que fazem<br />
para a conscientização<br />
dos cristãos quanto a<br />
Shoá, combatendo o preconceito<br />
e o antijudaísmo<br />
existente no meio<br />
cristão. A fundadora de<br />
irmandade foi madre Basilea,<br />
que assumiu uma<br />
postura muito destemida<br />
durante o regime de Hitler.<br />
Como líder das estudantes cristãs<br />
na Alemanha entre 1933 e 1935<br />
a madre Basilea recusou-se a aderir à<br />
política nazista que proibia a assistência<br />
das cristãs de origem judias nas reuniões<br />
da congregação. Arriscou sua vida<br />
e carreira falando publicamente do singular<br />
destino de Israel, o povo de Dus.<br />
Presa duas vezes pela Gestapo, foi<br />
libertada apesar de sua firme postura.<br />
Por outro lado, outra das fundadoras,<br />
madre Martiria, dirigia estudos bíblicos<br />
para jovens a quem ensinava o Antigo<br />
Testamento, atividade que era<br />
proibida pelo regime de Hitler.<br />
Além das duas irmãs evangélicas foi<br />
homenageado, na segunda-feira, 16 de<br />
junho, o padre claretiano Vitor Calixto<br />
dos Santos, diretor do Studium Theologicum<br />
de Curitiba, por seu empenho na<br />
formação de religiosos dentro de uma<br />
consciência aberta ao judaísmo, mantendo<br />
no currículo regular as disciplinas<br />
de Diálogo Religioso e freqüentes<br />
seminários sobre a religião judaica. Padre<br />
Vitor mantém na biblioteca do Studium<br />
um invejável acervo de livros judaicos,<br />
visando dar suporte à formação<br />
dos futuros padres. Em 1998, ocasião<br />
da realização da assembléia<br />
anual da Comissão<br />
Nacional de Diálogo Religioso<br />
Católico Judaico,<br />
o arcebispo de Curitiba,<br />
Dom Pedro Fedalto e o<br />
professor Antonio Carlos<br />
Coelho receberam a medalha<br />
Raoul Wallenberg.<br />
Ainda na tarde do<br />
dia 16 o rabino visitou<br />
o Centro de Educação Integral<br />
Raoul Wallenberg.<br />
Na sua visita, o rabino<br />
falou sobre a vida do diplomata<br />
sueco e de Souza<br />
Dantas, embaixador<br />
brasileiro em Paris, que<br />
salvou 425 judeus, concedendo<br />
vistos para judeus<br />
perseguidos pelo<br />
regime nazista. O Centro de Educação Integral<br />
Raoul Wallenberg, é uma escola<br />
municipal que leva o nome do diplomata<br />
sueco salvador de dezenas de milhares<br />
de vidas na Hungria ocupada de 1944.<br />
Ali foi recebido pela diretora da instituição,<br />
Maria Agostinha Drulla Felipe.<br />
O CEI Raoul Wallenberg se localiza<br />
no bairro São Braz e atende a 410 alunos<br />
durante todo o dia. Os alunos têm<br />
aulas de português, matemática, história,<br />
geografia e ciências, além de<br />
participar de projetos de música, biblioteca,<br />
xadrez, artes, laboratório de<br />
matemática e educação ambiental.<br />
A escola, construída e inaugurada<br />
quando era prefeito Jaime Lerner, numa<br />
gestão do rabino Moguilevsky, educa<br />
jovens que vivem nas vizinhanças. Seu<br />
objetivo é proporcionar aos alunos, além<br />
de una educação formal, a possibilidade<br />
de que desenvolvam suas potencialidades.<br />
A escola também educa crianças<br />
de nível pré-escolar provenientes<br />
de áreas de poucos recursos econômicos<br />
para que seus pais possam trabalhar.<br />
Dedicando-se à educação escolar<br />
integral para crianças da faixa etária dos<br />
6 aos 10 anos a escola cumpre com sua<br />
missão social de Educar para a vida.<br />
Valdecir Galor/SMCS<br />
Moguilevsky distinguiu o estabelecimento<br />
educacional com a medalha<br />
Raoul Wallenberg Um dos alunos com<br />
melhor média foi o encarregado de receber<br />
a láurea.<br />
A Fundação Wallenberg é uma organização<br />
privada, não-governamental,<br />
dedicada a manter viva a memória do<br />
diplomata sueco, difundindo o seu<br />
exemplo por todo o mundo, desenvolvendo<br />
projetos educativos baseados no<br />
conceito de solidariedade e entendimento.<br />
Com sedes em Jerusalém, Nova York,<br />
Buenos Aires e Caracas, a fundação tem<br />
por objetivo perpetuar e valorizar as<br />
ações humanitárias, especialmente daqueles<br />
que puseram suas vidas em risco<br />
durante a Segunda Guerra Mundial, como<br />
Raoul Wallenberg, Cardeal Angelo Roncalli,<br />
Aristides Souza Mendes, Jan Karsky<br />
e outros tantos.<br />
Raoul Wallenberg<br />
Raoul Wallenberg chegou a Budapeste<br />
em 1944, portando um passaporte diplomático.<br />
Sua missão era relatar a situação<br />
dos judeus e outras minorias na<br />
capital húngara. O governo sueco atendia<br />
um pedido neste sentido feito, entre<br />
outros, pelo Congresso Judaico Mundial.<br />
Desde março daquele ano, os nazistas<br />
haviam ocupado a Hungria.<br />
As tropas chegaram acompanhadas<br />
das famigeradas SS e Gestapo, que dominavam<br />
à revelia das minorias. Adolf<br />
Eichmann organizava a deportação de<br />
judeus húngaros para os campos de<br />
concentração. Até a chegada de Wallenberg,<br />
já haviam sido levadas 437 mil<br />
pessoas. O jovem sueco impôs-se a tarefa<br />
de salvar os 200 mil que ainda restavam,<br />
expedindo salvo-condutos em<br />
nome da representação diplomática.<br />
Para melhor atingir seus objetivos,<br />
Wallenberg aproveitou-se da grande influência<br />
de sua família (Scania). Esta,<br />
Crianças em atividades no Cei Raoul Wallnberg, São Braz<br />
O diplomata sueco Raoul Wallenberg<br />
por seu lado, mantinha contatos com<br />
a Alemanha nazista. Os negócios do tio<br />
de Raoul, Jakob, beneficiavam a indústria<br />
armamentista alemã. Estas ligações<br />
eram acompanhadas pelo serviço de espionagem<br />
russo.<br />
Em janeiro de 1945, o governo sueco<br />
foi informado por Moscou que Raoul<br />
havia sido preso pelos russos em Budapeste.<br />
Wallenberg foi visto em liberdade<br />
pela última vez em 17 de janeiro<br />
de 1945, em Budapeste, quando tinha<br />
32 anos. O então Ministério russo do<br />
Interior ordenou que ele fosse levado<br />
imediatamente à capital soviética, onde<br />
suas pistas se perderam nas malhas do<br />
serviço de espionagem.<br />
Em fevereiro de 1957, Gromiko informou<br />
à embaixada da Suécia em Moscou<br />
que Wallenberg morrera de enfarte<br />
numa prisão do serviço secreto em<br />
1947. Mais tarde, Alexander Iakovlev,<br />
chefe da Comissão de Reabilitação da<br />
presidência russa, confessou que o sueco<br />
foi executado a tiros. O mistério,<br />
entretanto, prossegue.<br />
Durante muito tempo, acreditou-se<br />
que ele ainda vivia e que estivesse internado<br />
numa clínica psiquiátrica até<br />
1989. Neste ano, o governo russo chamou<br />
os familiares de Raoul a Moscou<br />
para buscarem seus pertences pessoais:<br />
passaporte, agenda de endereços, dinheiro<br />
e uma cigarreira.<br />
Em dezembro de 2000, a Rússia voltou<br />
a admitir oficialmente que o diplomata<br />
sueco foi erroneamente encarcerado<br />
pelos soviéticos até sua morte. Uma
declaração de duas páginas da Procuradoria-Geral<br />
russa revela em parte as<br />
circunstâncias do misterioso desaparecimento<br />
de Wallenberg em 1945.<br />
A Procuradoria afirmou ter concluído<br />
que Wallenberg e seu motorista<br />
“foram reprimidos pelas autoridades<br />
soviéticas’’. Eles foram detidos<br />
por serem considerados, sem<br />
justificativa, indivíduos “socialmente<br />
perigosos’’. O termo repressão<br />
compreende várias formas de perseguição<br />
política da época soviética,<br />
inclusive exílio, encarceramento<br />
e execução de presos políticos.<br />
O procurador-geral Vladimir Ustinov<br />
assinou um veredicto póstumo<br />
que reabilita Wallenberg e seu<br />
motorista argentino, Vilmos Langfelder,<br />
qualificando-os como “vítimas<br />
da repressão política”. O documento<br />
apenas confirma que morreram<br />
em prisões soviéticas, sem esclarecer<br />
maiores detalhes. Durante muito<br />
tempo acreditou-se que estariam<br />
internados num sanatório russo. Os<br />
familiares de Wallenberg e o governo<br />
sueco sustentam que eles foram<br />
executados pelos soviéticos.<br />
Um diplomata da chancelaria sueca,<br />
Jan Lundvik, elogiou a decisão da<br />
Rússia de “admitir o trágico erro cometido<br />
naqueles momentos’’. Mas a<br />
meia-irmã de Wallenberg, Nina Lagergren,<br />
não ficou satisfeita com a confissão<br />
e disse que aguarda mais detalhes<br />
e provas dos fatos.<br />
A partir da esquerda, Antonio Carlos<br />
Coelho, padre Vítor Calixto dos<br />
Santos, diretor do Studium<br />
Theologicum e o rabino Simón<br />
Moguilevsky entregando a Medalha<br />
Souza Dantas<br />
Luís Martins de Souza Dantas<br />
Nos anos 40 o Estado Novo perseguia<br />
a todos que desafiassem a<br />
qualquer determinação do governo<br />
de Getúlio Vargas. Conforme o<br />
caso, eram inevitáveis a prisão e<br />
a tortura. Na Europa a situação era<br />
pior. O nazismo tinha estabelecido<br />
o reino do terror.<br />
Foi nessas circunstâncias que<br />
se desenrolou o capítulo mais palpitante<br />
da vida do embaixador<br />
Luís Martins de Souza Dantas. Por<br />
20 anos, Souza Dantas esteve à<br />
frente da missão diplomática do<br />
Brasil na França. Motivado, pelo<br />
que chamou mais tarde de “sentimento<br />
cristão de piedade”, ele<br />
desafiou duas ditaduras ao mesmo<br />
tempo, concedendo vistos di-<br />
O Brasil teve seu<br />
próprio Oscar Schindler.<br />
Como o famoso<br />
empresário retratado<br />
no filme de Steven<br />
Spielberg, o diplomata<br />
Luiz Martins de<br />
Souza Dantas (1876-<br />
1954), embaixador<br />
brasileiro em Paris de<br />
1922 até 1942, foi<br />
reconhecido oficialmente<br />
pelo Museu do<br />
Holocausto (Yad Vashem)<br />
em Jerusalém,<br />
por ter emitido centenas<br />
de vistos durante<br />
os anos mais<br />
duros da repressão nazista na Europa.<br />
Sem alarde e lutando contra recomendações<br />
oficiais do governo<br />
Getúlio Vargas, Souza Dantas salvou<br />
comprovadamente 475 pessoas de<br />
morrerem em campos de extermínio.<br />
O número certo de pessoas —<br />
judeus, homossexuais, comunistas e<br />
outras vítimas do nazismo — que<br />
encontraram a salvação graças à assinatura<br />
de Souza Dantas não é conhecido.<br />
O historiador carioca Fábio<br />
Koifman, 38 anos, diretor de Pesquisas<br />
da Universidade Estácio de Sá,<br />
acredita que possa passar de mil. Foi<br />
graças a Koifman e a seu livro Quixote<br />
nas Trevas, que o diplomata foi<br />
reconhecido, por unanimidade, com<br />
meio século de atraso, pelo conselho<br />
do museu, no dia 2 de junho.<br />
Koifman deve ir a Jerusalém para a<br />
cerimônia, a ser realizada ainda este<br />
ano, na qual o diplomata receberá,<br />
postumamente, honrarias.<br />
Só 18 diplomatas foram reconhecidos,<br />
até hoje, como ‘’Justos<br />
entre as Nações’’ (denominação dada<br />
aos que arriscaram suas vidas para<br />
ajudar vítimas do Holocausto). Souza<br />
Dantas é o 19º. Não fosse por<br />
ele, o ator e teatrólogo polonês<br />
Zbignew Ziembinski, por exemplo,<br />
nunca teria chegado ao Brasil.<br />
Outro que teria perecido na Europa<br />
seria o ‘’anônimo’’ brasileiro,<br />
nascido em Antuérpia, Raphael Zi-<br />
metbaum, 75 anos, morador<br />
do Rio.<br />
— Ele falou para os<br />
meus pais e tios que tinha<br />
certeza de que estaria<br />
salvando as nossas vidas<br />
— conta Zimetbaum,<br />
que nunca conheceu o diplomata<br />
pessoalmente,<br />
mas o idolatra.<br />
Na lista dos 18 diplomatas<br />
‘’justos’’ figura uma<br />
brasileira: Aracy de Carvalho-Guimarães<br />
Rosa, que<br />
foi assistente do embaixador<br />
brasileiro em Berlim<br />
durante a Segunda Guerra<br />
Mundial. Também pouco<br />
conhecida, ela salvou cerca de 80 pessoas,<br />
emitindo vistos por conta própria.<br />
O feito de Souza Dantas, no entanto, é<br />
considerado bem maior, não pela quantidade<br />
de pessoas a quem conseguiu dar<br />
asilo, mas pelo risco pessoal que correu.<br />
Souza Dantas foi várias vezes advertido<br />
pelo Ministério das Relações<br />
Exteriores e ficou numa espécie de prisão<br />
domiciliar alemã por 14 meses. Além<br />
disso, escapou por pouco das penalidades<br />
de um inquérito administrativo<br />
aberto pessoalmente por Getúlio Vargas,<br />
em outubro de 1941. O processo só não<br />
foi até o fim porque, no ano seguinte,<br />
o Brasil cortaria relações com a Alemanha<br />
e Getúlio decidiu abafar o caso.<br />
— Estamos muito felizes com o reconhecimento<br />
oficial. Naquela época,<br />
poucos governos estavam abertos a dar<br />
asilo às vítimas dos nazistas — diz Eitan<br />
Surkis, ministro conselheiro da Embaixada<br />
de Israel em Brasília.<br />
O historiador Fábio Koifman não esconde<br />
sua admiração pelo personagem<br />
que decidiu desvendar, há seis anos. Conversando<br />
com a documentarista Kátia<br />
Lerner, que ajudava na coleta de entrevistas<br />
de sobreviventes do Holocausto<br />
para a Fundação Shoá, do cineasta Steven<br />
Spielberg, descobriu que o Brasil<br />
teve seu próprio Oscar Schindler — o<br />
empresário que salvou 1.200 judeus durante<br />
a guerra. No caso brasileiro, tratava-se<br />
de um diplomata: Luiz Martins de<br />
VISÃO JUDAICA • julho de 2003 • Av • 5763<br />
Schindler brasileiro é<br />
reconhecido em Jerusalém<br />
Embaixador salvou centenas de vidas durante o Holocausto<br />
Souza Dantas nos anos 40<br />
plomáticos para entrar no Brasil a<br />
centenas de pessoas que, sob o<br />
ponto de vista da política brasileira<br />
de imigração, eram consideradas<br />
indesejáveis: judeus, comunistas e<br />
homossexuais que tentavam escapar<br />
do horror nazista. Souza Dantas<br />
livrou aproximadamente 800<br />
pessoas do extermínio.<br />
A nobreza dos atos praticados<br />
pelo diplomata ficou esquecida durante<br />
anos. Somente agora ganhou o seu<br />
merecido lugar na história. O Museu do<br />
Holocausto, de Jerusalém, reconheceuo<br />
como um “Justo Entre as Nações”.<br />
Souza Dantas é o 19 º herói a receber<br />
tal distinção do Museu Yad Vashem.<br />
Sua biografia, de recente publicação<br />
em português esta relatada no livro<br />
“Quixote nas trevas. O embaixador<br />
Daniela Kresch*<br />
Souza Dantas (1876-1954), embaixador<br />
do Brasil na França de 1922 a 1944. Assinando<br />
pessoalmente vistos e passaportes<br />
diplomáticos, Souza Dantas salvou<br />
comprovadamente 475 pessoas. Mas<br />
o número pode passar dos mil.<br />
— Sua humildade e humanismo fizeram<br />
com que o embaixador não deixasse<br />
muitos documentos — conta<br />
Koifman, diretor de pesquisas da Universidade<br />
Estácio de Sá.<br />
‘’Fiz o que teria feito, com a nobreza<br />
d’alma dos brasileiros, o mais frio<br />
deles, movido pelos mais elementares<br />
sentimentos de piedade cristã’’, diz<br />
Souza Dantas, ao explicar por que dava<br />
os vistos, num dos 7.500 documentos<br />
arquivados por Koifman.<br />
O embaixador, que não figura em nenhum<br />
livro de História brasileiro, foi reconhecido<br />
pelo Museu do Holocausto de<br />
Jerusalém (Yad Vashem), como Justo entre<br />
as Nações. Só quem preenche pelo<br />
menos uma de três condições merece o<br />
título concedido pelo museu: arriscar cargo<br />
e posição social, arriscar a própria<br />
vida e salvar um número expressivo de<br />
pessoas. O diplomata não arriscou sua<br />
vida, mas quase perdeu o emprego e o<br />
status por assinar centenas de vistos para<br />
perseguidos do nazismo<br />
na França ocupada.<br />
Na época, Souza Dantas<br />
ficou conhecido como<br />
um exemplo de diplomata.<br />
Quando voltou ao Brasil,<br />
em maio de 1944, planejou-se<br />
uma grande festa<br />
com desfile em carro<br />
aberto pela Avenida Rio<br />
Branco e decretação de<br />
feriado nas escolas do<br />
Rio. Assessores de Getú-<br />
Fábio Koifman<br />
lio Vargas, porém, desmobilizaram<br />
as boas-vindas.<br />
— O grande vilão da história é Getúlio<br />
— diz Koifman. — Como esse humanista<br />
pôde, até hoje, passar desapercebido<br />
no hall dos heróis nacionais?<br />
(Colaborou Pedro Malburg)<br />
* Daniela Kresch é jornalista da<br />
Folha de S. Paulo<br />
Souza Dantas e os refugiados do nazismo”<br />
(Editora Record, Rio de Janeiro<br />
- São Paulo), do acadêmico brasileiro<br />
Fabio Koifman.<br />
Luís Martins de Souza Dantas morreu<br />
em Paris em 1954. No seu quarto,<br />
no Grand Hotel de Paris, foi encontrado<br />
e registrado como sendo seu bem<br />
mais valioso, um cordão de ouro com<br />
uma medalha do Barão do Rio Branco.<br />
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VISÃO JUDAICA • julho de 2003 • Av • 5763<br />
Encontro reúne curitibanos em Israel<br />
Por Henrique Kuchnir (Neno)<br />
De Israel - Numa manhã ensolarada,<br />
dia 28 de junho, lá vamos nós para<br />
o Encontro dos Curitibanos. O encontro<br />
é num parque natural às margens<br />
de um riacho, o Mekorot<br />
Hayarkon (nascente do rio Yarkon).<br />
Vieram 110 adultos e um número<br />
sem fim de crianças. Foi emocionante<br />
encontrar aqueles que desde Curitiba<br />
não vimos mais.<br />
E até houve aqueles a quem tivemos<br />
de perguntar quem seriam. Eis alguns<br />
nomes dos presentes<br />
e peço desculpas<br />
pelos que não consigo<br />
recordar. Começando<br />
pelas visitas; a<br />
Rosa (avó da Mihal), o<br />
casal Hirsch, o casal<br />
Kuperstein e mais outros<br />
que não conheço.<br />
Antes de mais<br />
nada, a comissão organizadora<br />
que merece<br />
os nossos parabéns:<br />
Gilberto e Billy, Fábio e Cybele,<br />
Marcelo (Piupa) e Miri, Evelyn e Sérgio,<br />
e David e Miriam (com a Mihal).<br />
O pessoal de Bror Chail: Mina e Pedro,<br />
Raquel e Schlomo, Fany e Bucki,<br />
Mário e esposa, Zelio e esposa, e<br />
... Eugenia e José Etrog, Ester e Akiva<br />
Ronen (Bronfman), Ydel e Sonia<br />
(Zukerman) Idan, Rebeca Daitchman,<br />
Bracha (Gandelsman) e Arie Ben<br />
Shemen, Ana e Moisés Fucks, Clara e<br />
Marcos Guelmann, Limor e Marcelo<br />
Guelmann, Eva (Miller) e o marido,<br />
Fany (Mohamed) e o marido, a Sônia<br />
irmã da Fany, Dina e Neno, Maiana<br />
Laredo (Kuchnir), Avri e Guila<br />
Kuchnir, Yossi Kuchnir, Ilana<br />
(Zveibil) e Yoram Bialik, Íris (Zveibil),<br />
Mauro e Ida Zveibil, Tito (Milgrom)<br />
Rimon e esposa, Maurício (Milgrom)<br />
Rimon e esposa, Suzi e Tzvi Rubinstein,<br />
Arturo Rubinstein, Neni Rubinstein<br />
e esposa, Beatriz (Lichtenstein)<br />
e Yehuda e mais uns quarenta cujos<br />
nomes não recordo.<br />
A programação não foi extensa,<br />
mas sempre tem aqueles que quiseram<br />
contar as lembranças do passado.<br />
Organizaram alguns jogos para a<br />
criançada (alguns marmanjos também<br />
participaram).<br />
E na mesa central estavam as comidas<br />
— variedade sem fim, um lindo<br />
colorido, um cheiro apetitoso. Claro,<br />
não faltou nem a famosa caipirinha de<br />
cachaça (foram doze litros).<br />
De tardezinha a debandada e a promessa<br />
de que no ano que vem, de novo<br />
estaremos nos encontrando.