Pensar é transgredir
Pensar é transgredir
Pensar é transgredir
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
De modo que, sim, eu acho que não somos santas nem<br />
temos obrigação de ser, mas bem que aqui e ali valeria<br />
a pena olhar dentro de si, e ao lado, onde está aquele<br />
com quem afinal partilhamos a vida. Temos escutado<br />
o que ele diz ou o que nos diz o seu silêncio? Temos<br />
ainda lembrado de agradar, elogiar, sorrir, fazer<br />
carinho, ou estamos demais ocupadas?<br />
Ainda pensamos nele, nas suas necessidades,<br />
emoções, desejos e fraquezas, como quando <strong>é</strong>ramos<br />
namorados – ou estamos enroladas com as amigas, o<br />
bingo, o carteado, o escritório, o mais recente<br />
mexerico sobre artistas de televisão ou sobre a<br />
vizinha?<br />
E se ele um dia, depois de dez anos ou mais de<br />
casamento acabado, há muito transformado em<br />
amizade, nos pedir sua liberdade, se quiser nos dar a<br />
dádiva melhor, da sinceridade, da lealdade<br />
verdadeira? Se nos propusesse: “Vamos aceitar que<br />
somos bons amigos mas viver separados” – a gente ia<br />
encarar com dignidade e afeto... ou recorrer à<br />
baixaria, cobrar, constranger, chantagear?<br />
Não sei. Receio que responder seja tão duro quanto<br />
perguntar. Não acho que a gente deva ser boazinha,<br />
gueixa submissa ou serviçal ressentida. Nem a eterna<br />
vítima, a castradora disfarçada de mártir.<br />
Importante seria não deixar que a poeira da<br />
banalidade abafasse o que havia entre a gente de<br />
_________________________<br />
Lya Luft – <strong>Pensar</strong> <strong>é</strong> <strong>transgredir</strong><br />
94