Pensar é transgredir
Pensar é transgredir
Pensar é transgredir
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
lamuriosas, frívolas e agitadas, chantagistas: nem<br />
sempre companheiras, poucas vezes cúmplices.<br />
Está certo que andamos sobrecarregadas nesses<br />
tempos modernos, vacilando entre competência e<br />
beleza, correndo entre filhos e patrão, cartão de<br />
cr<strong>é</strong>dito ou momentinho de ócio escutando aquela<br />
música ou vendo aquele vídeo no sofá da sala em<br />
plena tarde. Sem que ningu<strong>é</strong>m nos chame com voz<br />
grossa e fatigada, ô, mãããe . Sem o fantasma de tias<br />
ou avós, mão na cintura na soleira da porta da nossa<br />
culpa ancestral, criticando: “Mas como! A essa hora,<br />
aí atirada sem fazer nada?”<br />
Mas repito que sabemos ser chatas, implicantes,<br />
indiscretas e críticas. E deixamos sozinho o nosso<br />
homem, que bem ou mal <strong>é</strong> o que está do nosso lado.<br />
Pois se for ruim demais, por que ainda estamos com<br />
ele? Não são só as mulheres que precisam falar e ser<br />
ouvidas: na sua linguagem e no seu ritmo, que não são<br />
os nossos, se pudessem abrir o coração (o que<br />
raramente fazem) muitos homens se queixariam de<br />
que ningu<strong>é</strong>m os escuta em casa. A mulher grudada<br />
nos filhos ou na televisão, no telefone com a amiga;<br />
os filhos na rua, ou fechados no quarto; e com os<br />
amigos do bar ou do escritório, os homens falam de<br />
futebol, mulher, carro... raramente de si mesmos e de<br />
sua humanidade.<br />
_________________________<br />
Lya Luft – <strong>Pensar</strong> <strong>é</strong> <strong>transgredir</strong><br />
93