Pensar é transgredir
Pensar é transgredir
Pensar é transgredir
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Não adiantou pai e mãe – mesmo sabendo que era<br />
bobagem o que estavam fazendo – pronunciarem a<br />
palavra correta – diante dele várias vezes.<br />
O correto dele era outro.<br />
Tudo começou com o pedido:<br />
– Mãe, onde tá o meu sivola?<br />
Vários minutos pra descobrir o que era. Cebola?<br />
Cavalo?<br />
Ceroula nem existia naquela casa. Finalmente ele<br />
mesmo encontrou, veio abraçado ao seu tesouro:<br />
– O, mãe, pra nanar.<br />
– Ah, isso aí <strong>é</strong> o seu travesseiro, filhinho, tra-ve-sseiro.<br />
Nos olhos de azul-porcelana imperava uma obstinação<br />
tranqüila:<br />
– Sivola.<br />
Semana depois a coisa começou a se desenroscar:<br />
– Mãe, me dá o meu sivelo.<br />
Estava melhor, mas ainda... A gente sabia que era<br />
bobagem naquela hora discutir ou ensinar. Palavras<br />
têm sua vida própria, se desenvolvem como plantas<br />
estranhas, principalmente em criança. Mesmo assim,<br />
algu<strong>é</strong>m tentava:<br />
– Filhinho, olha pra mamãe.<br />
_________________________<br />
Lya Luft – <strong>Pensar</strong> <strong>é</strong> <strong>transgredir</strong><br />
90