Pensar é transgredir
Pensar é transgredir
Pensar é transgredir
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
_________________________<br />
Lya Luft – <strong>Pensar</strong> <strong>é</strong> <strong>transgredir</strong><br />
23<br />
Velhice, por que não?<br />
Recordo meu assombro quando me dei conta de que,<br />
no cinema, passavam-se na tela cenas tórridas de<br />
sexo, mas as palavras no letreiro, se mais “fortes”,<br />
vinham apenas com a inicial seguida de pontinhos.<br />
Os nomes de certas doenças ainda são evitados como<br />
se contagiassem. Alguns livros não queremos ler<br />
porque nos inquietam, como se a arte devesse<br />
apaziguar ou tapar o sol.<br />
Pode ser sábio não ver, não falar, não escutar, mas<br />
geralmente <strong>é</strong> alienação e pobreza.<br />
Palavras significam emoções e conceitos, portanto<br />
tamb<strong>é</strong>m preconceitos. Por isso quero falar de minha<br />
implicância com a implicância que temos com os<br />
vocábulos – e a realidade – velho, velhice. Eles<br />
inspiram receio ou repulsa como nomes de doença.<br />
Não me importa como a classifiquem as organizações<br />
de saúde, para mim a velhice começa bem depois dos<br />
setenta anos. E devíamos ter orgulho de pensar: Bom,<br />
aos oitenta anos conquistei minha velhice perdendo<br />
coisas, mas acumulando algumas, inclusive a minha<br />
83