Pensar é transgredir
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Criar personagens trágicos não significa que o autor<br />
seja pessimista: muitos humoristas são calados e<br />
deprimidos. Na vida real sou muito mais simples e<br />
engraçada do que diria quem apenas me conhece de<br />
livro. Raramente a trajetória de meus personagens tem<br />
a ver com a minha.<br />
Mas sou mãe desses que dormem dentro de mim<br />
como filhos possíveis.<br />
Tenho um olho otimista que vive (e convive) e se<br />
volta para a beleza, a alegria, a decência e a<br />
compaixão. Mas meu olho pensativo, o outro, namora<br />
a sombra, espia em frestas, parteja suas ficções. Eu<br />
simplesmente escrevo tais coisas porque <strong>é</strong> isso que –<br />
bem ou mal – eu sei fazer.<br />
E me salva, como me salvam a chuva nas folhas<br />
diante da minha janela, o vento quando caminho ao<br />
sol, o olhar de quem me ama, a mão do amigo, e de<br />
certo modo todo esse pungente impulso da vida que<br />
pede para ser decifrada, e se recolhe na mesma<br />
medida em que a perseguimos.<br />
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Lya Luft – <strong>Pensar</strong> <strong>é</strong> <strong>transgredir</strong><br />
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