Pensar é transgredir
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Um escritor respondeu que se parasse de escrever<br />
morreria, portanto escrevia para não morrer; uma<br />
mulher dizia que escrevia para não enlouquecer, outra<br />
revela que o faz para ser amada.<br />
Sou dos que escrevem como quem assobia no escuro:<br />
falando do que me inquieta desde criança, dialogando<br />
com o fascinante (eventualmente assustador) que<br />
espreita sobre meu ombro nas atividades mais triviais.<br />
Escrever <strong>é</strong> escutar as águas interiores e espreitar<br />
vultos no fundo – ou são minha imagem refletida na<br />
superfície?<br />
Tudo isso <strong>é</strong> jogo – contraponto da vida concreta,<br />
onde, ao contrário do que alguns pensam, gosto mais<br />
do sol do que da sombra. Mas a sombra me interessa<br />
mais.<br />
Outra pergunta quase constante: qual a sua relação<br />
com seus personagens? (Leitor e jornalista de olho<br />
para ver se num escorregão o autor revela trag<strong>é</strong>dias da<br />
infância ou pessimismos mortais.)<br />
É verdade que minha literatura não anda por águas<br />
tranqüilas: fala de minhas perplexidades enquanto ser<br />
humano.<br />
Embora alguns de meus livros recentes sejam mais<br />
próximos de uma conversa ao p<strong>é</strong> do ouvido do leitor –<br />
meu amigo imaginário –, que hoje tanto me agrada,<br />
quase sempre escrevo sobre o que não sei, e por ser<br />
obscuro me leva a escrever.<br />
_________________________<br />
Lya Luft – <strong>Pensar</strong> <strong>é</strong> <strong>transgredir</strong><br />
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