Pensar é transgredir
Pensar é transgredir
Pensar é transgredir
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
asileira quanto minha amiguinha Rosa Fernandes,<br />
ou nossa cozinheira negra Julieta, e acabou-se.”<br />
Lembro que foi em um almoço de família, e que os<br />
adultos me olharam – não pela primeira nem última<br />
vez –, como sempre que aquela menininha de id<strong>é</strong>ias<br />
esquisitas questionava alguma coisa estabelecida sem<br />
explicação nem fundamento. Para eles era assim, “e<br />
acabou-se”.<br />
Mas para mim nada era assim “e acabou-se”. Se eu<br />
não o pudesse entender, ou ao menos sentir firmeza na<br />
misteriosa explicação de algum adulto, não cumpria e<br />
acabou-se.<br />
Muito castigo levei por isso.<br />
Hoje, quando escuto comentários (exóticos) sobre<br />
quem <strong>é</strong> ou não brasileiro, minha resposta <strong>é</strong> a minha<br />
certeza – ou pelo menos a minha particular verdade,<br />
que aqui repito: sou tão brasileira quanto qualquer<br />
negra que vende acaraj<strong>é</strong> nas ruas de Salvador.<br />
Diferenças? Bom, a cor da pele e dos olhos; o<br />
sobrenome; talvez – não mais necessariamente –<br />
diferenças econômicas; e o fato de que os<br />
antepassados dela vieram de navio, acorrentados, para<br />
trabalhar aqui, e os meus vieram de navio –quem sabe<br />
na mesma <strong>é</strong>poca – não acorrentados mas quase, em<br />
condições dificílimas, tamb<strong>é</strong>m para trabalhar aqui.<br />
_________________________<br />
Lya Luft – <strong>Pensar</strong> <strong>é</strong> <strong>transgredir</strong><br />
57