Pensar é transgredir
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_________________________ Lya Luft – Pensar é transgredir 41 Machos e fêmeas Histórias de amores frustrados, relações ruins ou trágicas, fracassos, decepções, dores e rancores se multiplicam. Chega a parecer, algumas vezes, que um amor bom, ao menos razoável, alegre, cúmplice, terno e sensual, que faça crescer, seja um bem tão raro quanto viver lúcido e saudável até os cem anos. Fico pensando nesse dilema, que pode parecer divertido a uma primeira leitura, mas na prática é demais complexo: se não combinamos, por que – homens e mulheres – nos queremos e nos procuramos? Pensando bem, homens e mulheres pouco têm em comum exceto a preservação da espécie: as almas são diferentes, a biologia é outra, as vontades e os interesses também. Prioridades de um e outro, nada a ver. Como tribos vizinhas mas inimigas: guerrinhas, escaramuças ou guerra total. 153
Muito é cultural, concordo. Mas cada vez mais acredito que somos imensamente determinados pelo que éramos nas cavernas. Homem saía pra caçar, voltava, fazia filhote, saía pra caçar e pra matar inimigo, voltava... e assim por diante. Mulher ficava na caverna pra ser fecundada, parir, alimentar a família e proteger as crias. Ah, e cuidar do troglodita para que ele estivesse bem nutrido e descansado ao sair em busca de comida para ela e para as crias, e a fecundar de novo... e assim por diante. Mudou o mundo, os hábitos se transformaram, incrivelmente muita coisa aconteceu – mas o homem e a mulher das cavernas ainda nos habitam sob a casca de algum requinte. Foi Tomás de Aquino ou Agostinho quem disse que o ser humano é um anjo montado num porco? Na guerra e às vezes na relação amorosa o animal predomina; na paz e nos momentos ternos funciona o anjo. O bom mesmo é a mistura, no ponto: nem de menos, nem de mais. Só a impenetrável natureza explica que seres tão diversos quanto machos e fêmeas se queiram tanto, se encantem, se façam felizes – ou se detestem, se traiam, se atormentem e, quando possível, até se destruam. Ou tudo isso ao mesmo tempo. O que os _________________________ Lya Luft – Pensar é transgredir 154
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Muito <strong>é</strong> cultural, concordo. Mas cada vez mais<br />
acredito que somos imensamente determinados pelo<br />
que <strong>é</strong>ramos nas cavernas.<br />
Homem saía pra caçar, voltava, fazia filhote, saía pra<br />
caçar e pra matar inimigo, voltava... e assim por<br />
diante.<br />
Mulher ficava na caverna pra ser fecundada, parir,<br />
alimentar a família e proteger as crias. Ah, e cuidar do<br />
troglodita para que ele estivesse bem nutrido e<br />
descansado ao sair em busca de comida para ela e<br />
para as crias, e a fecundar de novo... e assim por<br />
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Mudou o mundo, os hábitos se transformaram,<br />
incrivelmente muita coisa aconteceu – mas o homem<br />
e a mulher das cavernas ainda nos habitam sob a casca<br />
de algum requinte. Foi Tomás de Aquino ou<br />
Agostinho quem disse que o ser humano <strong>é</strong> um anjo<br />
montado num porco? Na guerra e às vezes na relação<br />
amorosa o animal predomina; na paz e nos momentos<br />
ternos funciona o anjo. O bom mesmo <strong>é</strong> a mistura, no<br />
ponto: nem de menos, nem de mais.<br />
Só a impenetrável natureza explica que seres tão<br />
diversos quanto machos e fêmeas se queiram tanto, se<br />
encantem, se façam felizes – ou se detestem, se<br />
traiam, se atormentem e, quando possível, at<strong>é</strong> se<br />
destruam. Ou tudo isso ao mesmo tempo. O que os<br />
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