Pensar é transgredir
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foge às definições e permanece mesmo depois de uma separação. Desde que não se abafe essa possibilidade debaixo de camadas de rancor e desejo de vingança. Hoje começamos a entender e admitir que relacionamentos mudam ou se desgastam, contratos afetivos se refazem, e a família, que não vai acabar, abre portas e janelas para novas maneiras de se relacionar mesmo depois que o casamento termina. Tudo o que se viveu de bom ou ruim liga para sempre, se foi intenso ou prolongado. Nem divórcio nem morte apagam a presença do outro, que em qualquer dessas circunstâncias há de continuar lançando a sua sombra: boa ou negativa. Será preciso tempo, descoberta e cultivo de outros interesses, abertura para novos afetos, para que essa ferida feche: e ela fecha, não deixando necessariamente cicatrizes inflamadas. Por outro lado, nada cresce bem no terreno de uma relação ruim. Viver lado a lado em silêncios ressentidos, críticas pronunciadas ou abafadas, isolamento e indiferença pode ser uma condenação. Velhos casais não são sempre amigos. Jovens casais não são sempre amantes. Relacionamentos podem ser mortais. O que mais identifica um par é o clima que circula entre eles além de palavras e gestos: uma química de _________________________ Lya Luft – Pensar é transgredir 143
pele e emoção, mel ou veneno, emoções que, se forem positivas, vão nos abrir para vivências. O primeiro toque sobre uma criança ao nascer vai definir parte de seu destino: é a atmosfera de amor ou de hostilidade e frieza, que reina entre seus pais. Nascendo, caímos nessas marés sombrias ou positivas. Se forem menos saudáveis, chegamos ao mundo como quem naufraga. Serão precisos muito esforço pessoal e afetos bons para nos salvar. Laços negativos podem unir mais que os do amor. E matam. Torna-se impossível viver, respirar, sem o inimigo de dentro da casa: mulheres dominadoras, maridos grosseiros, filhos assustados e revoltados, uma violência que não precisa ser de gritos e golpes, mas a violência inominável da indiferença. Arma-se uma rede que prende e lentamente sufoca toda a alegria. Onde quer que morem essas famílias, sobre a porta de entrada pode-se ler a sentença que vai recair também sobre os mais inocentes: “Aqui revogou-se a esperança. _________________________ Lya Luft – Pensar é transgredir 144
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foge às definições e permanece mesmo depois de uma<br />
separação. Desde que não se abafe essa possibilidade<br />
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Hoje começamos a entender e admitir que<br />
relacionamentos mudam ou se desgastam, contratos<br />
afetivos se refazem, e a família, que não vai acabar,<br />
abre portas e janelas para novas maneiras de se<br />
relacionar mesmo depois que o casamento termina.<br />
Tudo o que se viveu de bom ou ruim liga para sempre,<br />
se foi intenso ou prolongado. Nem divórcio nem<br />
morte apagam a presença do outro, que em qualquer<br />
dessas circunstâncias há de continuar lançando a sua<br />
sombra: boa ou negativa.<br />
Será preciso tempo, descoberta e cultivo de outros<br />
interesses, abertura para novos afetos, para que essa<br />
ferida feche: e ela fecha, não deixando<br />
necessariamente cicatrizes inflamadas. Por outro lado,<br />
nada cresce bem no terreno de uma relação ruim.<br />
Viver lado a lado em silêncios ressentidos, críticas<br />
pronunciadas ou abafadas, isolamento e indiferença<br />
pode ser uma condenação.<br />
Velhos casais não são sempre amigos. Jovens casais<br />
não são sempre amantes. Relacionamentos podem ser<br />
mortais.<br />
O que mais identifica um par <strong>é</strong> o clima que circula<br />
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