Pensar é transgredir
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Alegre. A gente passava de carro sobre o trilho, e eu imaginava o horror de alguém infringir isso e ser explodido pelo monstro de ferro e fumaça. A vida há de rolar por cima da gente, reduzindo a poeirinha inútil quem se esquecer de às vezes parar pra pensar... mas sem se desmontar; olhar em torno ou para dentro: paisagens belas, ou áridas (sempre dá pra plantar um capim) ou quem sabe coloridas (a alma pode brincar de esconde-esconde entre as folhas). E escutar: a música do universo, o canto do sabiá (que tem começado às 3 da madrugada fria, atarantado neste clima estranho); a risada da criança no andar de cima; enfim, o chamado da vida que nos convoca de mil formas: anda, sai do marasmo, viveeeeeeeeeee! Que nossas agendas (também as interiores) nos permitam muitas vezes a plenitude do nada sorvido como um gole de champanha, celebrando tudo. Sem culpa. _________________________ Lya Luft – Pensar é transgredir 13
_________________________ Lya Luft – Pensar é transgredir 3 Canção das mulheres Que o outro saiba quando estou com medo, e me tome nos braços sem fazer perguntas demais. Que o outro note quando preciso de silencio e não vá embora batendo a porta, mas entenda que não o amarei menos porque estou quieta. Que o outro aceite que me preocupo com ele e não se irrite com minha solicitude, e se ela for excessiva saiba me dizer isso com delicadeza ou bom humor. Que o outro perceba minha fragilidade e não ria de mim, nem se aproveite disso. Que se eu faço uma bobagem o outro goste um pouco mais de mim, porque também preciso poder fazer tolices tantas vezes. Que se estou apenas cansada o outro não pense logo que estou nervosa, ou doente, ou agressiva, nem diga que reclamo demais. Que o outro sinta quanto me dói a idéia da perda, e ouse ficar comigo um pouco mais – em lugar de voltar logo à sua vida, indo porque lá está a sua verdade mas talvez seu medo ou sua culpa. 14
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Alegre. A gente passava de carro sobre o trilho, e eu<br />
imaginava o horror de algu<strong>é</strong>m infringir isso e ser<br />
explodido pelo monstro de ferro e fumaça.<br />
A vida há de rolar por cima da gente, reduzindo a<br />
poeirinha inútil quem se esquecer de às vezes parar<br />
pra pensar... mas sem se desmontar; olhar em torno ou<br />
para dentro: paisagens belas, ou áridas (sempre dá pra<br />
plantar um capim) ou quem sabe coloridas (a alma<br />
pode brincar de esconde-esconde entre as folhas).<br />
E escutar: a música do universo, o canto do sabiá (que<br />
tem começado às 3 da madrugada fria, atarantado<br />
neste clima estranho); a risada da criança no andar de<br />
cima; enfim, o chamado da vida que nos convoca de<br />
mil formas: anda, sai do marasmo, viveeeeeeeeeee!<br />
Que nossas agendas (tamb<strong>é</strong>m as interiores) nos<br />
permitam muitas vezes a plenitude do nada sorvido<br />
como um gole de champanha, celebrando tudo.<br />
Sem culpa.<br />
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Lya Luft – <strong>Pensar</strong> <strong>é</strong> <strong>transgredir</strong><br />
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