Pensar é transgredir
Pensar é transgredir Pensar é transgredir
_________________________ Lya Luft – Pensar é transgredir 29 Para não dizer adeus 1. O coração explode na dor acumulada e na fadiga: o morto ensaia novos passos ao ritmo de sua amante estranha. Morrer foi mais do que uma escolha: foi render-se enfim àquela melodia. Baixa uma cunha de luz sobre os que velam: enlaçado à sua amada, o morto espreita atrás da cortina enquanto se arma o cenário. Na platéia, silêncio e surdez: somos os não-iniciados. Mas alguém conhece o roteiro, alguém distribui os papéis, alguém vai pronunciar nossos nomes. Ninguém será esquecido no palco que nos aguarda: seremos vistos, seremos registrados, também seremos chamados. 2. *** Caminho entre as minhas perdas – que são insetos escuros – e os meus ganhos, douradas borboletas. 105
A luz de uma paixão, o dedo da morte, o lento pincel da solidão desenharam meus contornos, firmaram meu chão. Que liberdade não precisar pensar; que alívio não ter de administrar a minha vida: apenas andar, apenas olhar, apenas ouvir essa voz, essas vozes que vêm de longe, passam por mim e não me dão a menor importância porque no vasto oceano a minha eventual desarmonia é apenas uma gota desafinada. Mais nada. _________________________ Lya Luft – Pensar é transgredir 106
- Page 56 and 57: indevidas cobranças, entender que
- Page 58 and 59: asileira quanto minha amiguinha Ros
- Page 60 and 61: _________________________ Lya Luft
- Page 62 and 63: - Mas ninguém tem a originalidade
- Page 64 and 65: _________________________ Lya Luft
- Page 66 and 67: Há pouco veio me falar, com olhos
- Page 68 and 69: perdas forma em parte a nossa human
- Page 70 and 71: _________________________ Lya Luft
- Page 72 and 73: Criar personagens trágicos não si
- Page 74 and 75: Corte, mas algumas davam cursos pú
- Page 76 and 77: Questionar é um bom começo. Para
- Page 78 and 79: “Não conta pra sua mãe que queb
- Page 80 and 81: fiquei um pouco aliviada: os meus p
- Page 82 and 83: antigos. A Idade Média. As Cruzada
- Page 84 and 85: _________________________ Lya Luft
- Page 86 and 87: Por que uma velha dama não pode mo
- Page 88 and 89: Será pior ter mais equilíbrio, ma
- Page 90 and 91: _________________________ Lya Luft
- Page 92 and 93: Dois holofotes azuis como só menin
- Page 94 and 95: lamuriosas, frívolas e agitadas, c
- Page 96 and 97: encantamento e magia, ainda que o n
- Page 98 and 99: Parada, atônita, mãos em garra pe
- Page 100 and 101: _________________________ Lya Luft
- Page 102 and 103: positivo, não me enxergando como a
- Page 104 and 105: imprevisível, começa a dizer em v
- Page 108 and 109: _________________________ Lya Luft
- Page 110 and 111: precisaria ser assim. Labutamos com
- Page 112 and 113: _________________________ Lya Luft
- Page 114 and 115: Que não se insinue com minha secre
- Page 116 and 117: _________________________ Lya Luft
- Page 118 and 119: Não foi na morte que mais pensei,
- Page 120 and 121: porque era uma bruxa. Pouca gente s
- Page 122 and 123: pessoas ainda jogavam lixo na rua o
- Page 124 and 125: Tatinha não entendeu muito bem aqu
- Page 126 and 127: _________________________ Lya Luft
- Page 128 and 129: exterior, mas tinha dois filhos peq
- Page 130 and 131: mal, subordinando nossas capacidade
- Page 132 and 133: _________________________ Lya Luft
- Page 134 and 135: que o patrão ou a patroa não pode
- Page 136 and 137: _________________________ Lya Luft
- Page 138 and 139: Colheremos quem sabe ainda uma vez
- Page 140 and 141: poder ficar quieto. Porque também
- Page 142 and 143: _________________________ Lya Luft
- Page 144 and 145: foge às definições e permanece m
- Page 146 and 147: _________________________ Lya Luft
- Page 148 and 149: aprendemos lendo e estudando, mas t
- Page 150 and 151: dia minha mãe disse que ela é um
- Page 152 and 153: sensatez, como o perfume das maçã
- Page 154 and 155: _________________________ Lya Luft
_________________________<br />
Lya Luft – <strong>Pensar</strong> <strong>é</strong> <strong>transgredir</strong><br />
29<br />
Para não dizer adeus<br />
1.<br />
O coração explode na dor acumulada e na fadiga: o<br />
morto ensaia novos passos ao ritmo de sua amante<br />
estranha.<br />
Morrer foi mais do que uma escolha: foi render-se<br />
enfim àquela melodia.<br />
Baixa uma cunha de luz sobre os que velam: enlaçado<br />
à sua amada, o morto espreita atrás da cortina<br />
enquanto se arma o cenário.<br />
Na plat<strong>é</strong>ia, silêncio e surdez: somos os não-iniciados.<br />
Mas algu<strong>é</strong>m conhece o roteiro, algu<strong>é</strong>m distribui os<br />
pap<strong>é</strong>is, algu<strong>é</strong>m vai pronunciar nossos nomes.<br />
Ningu<strong>é</strong>m será esquecido no palco que nos aguarda:<br />
seremos vistos, seremos registrados, tamb<strong>é</strong>m seremos<br />
chamados.<br />
2.<br />
***<br />
Caminho entre as minhas perdas – que são insetos<br />
escuros – e os meus ganhos, douradas borboletas.<br />
105