Pensar é transgredir
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imprevisível, começa a dizer em voz alta: “Eu sou uma pessoa! Eu sou uma pessoa!” E, sentindo-se ridícula, ri de si mesma, lágrimas nos olhos, como se tivesse acabado de nascer. Está só. Está livre, está completa, e, nesse instante, sem nenhuma culpa. É capaz – sabe disso agora. Nada a teria impedido de descobrir isso antes, não poderia acusar ninguém de estar querendo podar ou abafar sua personalidade. Eram amarras consentidas que a prendiam, muitas auto-impostas, um confortável papel que aceitara e assumira porque assim esperavam dela. Mas ali, naquela breve caminhada, libertara em si uma pequena alma transgressora, ainda que de limites tão ínfimos que alguns até achariam graça. Nesse dia compreendeu que amadurecera. Entrou numa joalheria e comprou um anel, um aro muito simples, que nunca mais tirou do dedo: sua aliança consigo mesma e com a sua verdade. Amadurecer passou a ser retirar as máscaras e ver no espelho o verdadeiro eu – onde se lia uma severa contabilidade de gastos e lucros, saldos nem sempre tranqüilizadores, pouca ousadia. Quanto de amargura, quanto de bom humor tinha sobrado, quanta capacidade e fervor para se renovar antes que a resignação encobrisse tudo? _________________________ Lya Luft – Pensar é transgredir 103
Percebeu que não importava tanto o que havia lhe acontecido naqueles quarenta anos, mas o que ela estava fazendo com o que eventualmente acontecera. Era uma oportunidade assustadora e maravilhosa: amadurecer não significava estagnar, mas reafirmar – ou reinventar – cada dia aquilo que mesmo inconscientemente ela se propunha como o sentido, o rumo e o tom de sua vida. Precisara chegar àquela cidade distante para fazer essa descoberta. Levara quarenta anos para se encontrar como pessoa: talvez levasse mais quarenta para achar que entendera todos os significados disso. Mas aí precisaria de outros quarenta para enfim ver que nada tem explicação, e que o interessante na vida não são as respostas: são os enigmas. _________________________ Lya Luft – Pensar é transgredir 104
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Percebeu que não importava tanto o que havia lhe<br />
acontecido naqueles quarenta anos, mas o que ela<br />
estava fazendo com o que eventualmente acontecera.<br />
Era uma oportunidade assustadora e maravilhosa:<br />
amadurecer não significava estagnar, mas reafirmar –<br />
ou reinventar – cada dia aquilo que mesmo<br />
inconscientemente ela se propunha como o sentido, o<br />
rumo e o tom de sua vida.<br />
Precisara chegar àquela cidade distante para fazer essa<br />
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Levara quarenta anos para se encontrar como pessoa:<br />
talvez levasse mais quarenta para achar que entendera<br />
todos os significados disso.<br />
Mas aí precisaria de outros quarenta para enfim ver<br />
que nada tem explicação, e que o interessante na vida<br />
não são as respostas: são os enigmas.<br />
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Lya Luft – <strong>Pensar</strong> <strong>é</strong> <strong>transgredir</strong><br />
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