autores - Familia Borba Pinheiro
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NOITE INSONE - Margarida Reimão<br />
Noite insone!<br />
Os vaga-lumes de minha imaginação<br />
fazem um luzir perpendicular aos sentidos<br />
Sentidos meus que me embaraçam a fazer poesia de madrugada,<br />
na quietude de minha casa quadriculada,<br />
porque meus grilos cantam alto e atiçam esse meu poetizar.<br />
E a noite prolonga-se para fazer poesia para você,<br />
que dorme, do outro lado da selva urbana<br />
e me faz gritar, desesperada para ouvir vozes no ventre<br />
nesta noite de pedra fria que me persegue, silenciosa<br />
e eu, poeta louca, enfrento novamente o espelho do meu eu,<br />
de volta, na contramão, na contramão da vida,<br />
no silêncio do ócio, no meu simiótico estado fantasmático.<br />
No meu regaço quente como bigornas onde se funde ouro.<br />
Onde tenho arrebatações, tochas ardendo pelo pescoço e peito,<br />
E meu tempo, nada aliado, corre célere diante dos meus pedidos,<br />
da minha voz ofegante, fazendo um colar de desejo,<br />
de comando às minhas misteriosas frestras,<br />
consumidas, anunciadas, abrasadas, interditadas<br />
e manejadas por seus cordéis.<br />
Noite insone, sem guarda noturno para apitar<br />
Sem o colarinho do sol nascendo antes da hora para me conformar.<br />
Apenas o silêncio, o inquietante silêncio que levou meu pensamento<br />
a alongar-se numa rede de coisa oculta, incandescente e inesperada.<br />
Coisa vadia, sem vigia, a decantar na noite de breu<br />
soluçando a acomodação do meu espírito<br />
como uma carta marcada, açoitada e deliberada a não se soltar de mim.<br />
Noite insone, longa e perpendicular,<br />
com assombrações notívagas,<br />
Destarte pudesse encobrir-me em teu leito,<br />
para me proteger do meu feitiço.