autores - Familia Borba Pinheiro

Inúmero - Márcia Possar
Hoje se poderia dançar,
estampar na cara o melhor sorriso.
Seria preciso ver regressar
tudo que ficou ao abandono.
Seria oportuno, hoje, se poder dançar.
Hoje se poderia fazer poesia,
cuidar do tempo em demasia lírica,
sem métrica resgatar ilusões,
aferir
o real valor ao valor do dia e sorrir.
Hoje se poderia dançar,
conjugar as luzes do sol e do luar,
dançar sem despedidas e ultrapassar medidas,
tornar verbo abundante, o verbo amar.
Hoje se poderia compartilhar alegria
e dançar,
mas hoje amanhece-se sozinha
pressentindo adormecimentos.
precisando reaver elementos
que se arriscaram nos lamentos.
Porém hoje,
algo nasce diferente.
Inerente à solidão
mostra-se uma impressão
que não se veste de fantasia.
Há rumor onde havia juízo.
A porta bateu e não se ouviu o tremor,
apenas limitou-se
ao entendimento do aviso.
Hoje,
sabe-se, o dia vai sobreviver
e talvez nem seja um dia desperdiçado.
Talvez no seu enfado
algo encantado se faz mais que efêmero.
Incontentável ao sabor das lágrimas.
Mas... inúmero.