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Revista Atlântica de cultura ibero-americanat

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O referente popular dos<br />

Bairros Altos não <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado<br />

apenas como sinónimo<br />

<strong>de</strong> pobreza, mas também como<br />

uma zona <strong>de</strong> elevada <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><br />

populacional que po<strong>de</strong> explicar<br />

a edificação <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong><br />

número <strong>de</strong> cine-teatros, nas primeiras<br />

décadas do século XX, e<br />

cuja vida se prolongou mais <strong>de</strong><br />

meio século. Este indicador dos<br />

cine-teatros nos Bairros Altos,<br />

com uma afluência massiva <strong>de</strong><br />

público, estaria a <strong>de</strong>monstrar-<br />

-nos que, como «um todo vicinal»,<br />

a economia familiar pô<strong>de</strong><br />

satisfazer um consumo quotidiano<br />

e permanente. Porque se<br />

ia ao cinema «todas as semanas»,<br />

uma ou duas vezes, pais,<br />

filhos, netos, e, quando chegava<br />

um espectáculo «ao vivo» toda<br />

a família assistia. Houve casos<br />

extremos <strong>de</strong> bairroaltinos que<br />

todos os dias iam ao mesmo<br />

cinema, sem conhecer o filme, e<br />

outros que escolhiam um dia<br />

fixo da semana. Dos primeiros<br />

cinemas que apareceram no início<br />

da segunda década do século<br />

XX, o Mazzi mudou para<br />

Unión, no início <strong>de</strong> 1950, e o<br />

Ástor sofreu um incêndio,<br />

sendo substituído pelo Huáscar,<br />

os restantes continuaram a<br />

funcionar normalmente com<br />

outros cinemas que se lhe juntaram,<br />

até que todos encerraram<br />

<strong>de</strong>vido à concorrência da televisão<br />

e do VHS. Não foi por acaso<br />

que, hoje, os cinemas se transferiram<br />

para os conos, que são<br />

zonas «populares».<br />

Na época da construção dos<br />

cinemas, o município <strong>de</strong> Lima<br />

iniciou uma política <strong>de</strong> «abrir»<br />

ruas na cida<strong>de</strong> com a finalida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> facilitar a <strong>de</strong>slocação da sua<br />

população que aumentava significativamente.<br />

Nos Bairros Altos,<br />

prolongaram-se os jirones, urbanizaram-se<br />

quarteirões, construíram-se<br />

casas para satisfazer<br />

uma crescente procura da sua<br />

população. O jirón Paruro prolongou-se<br />

até à avenida Grau, e<br />

a rua Chirimoyo (jirón Puno)<br />

avançou para se encontrar com<br />

o jirón Huanaco (Cocharcas). Por<br />

Maravillas, na zona conhecida<br />

como San Isidro, abrem-se o<br />

jirón Manuel Pardo, as ruas<br />

Tenente Arancibia, Rodríguez,<br />

Centro Escolar e outras. Os Barrios<br />

Altos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua origem,<br />

foi uma zona <strong>de</strong> expansão<br />

urbana natural, tendo crescido<br />

<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nadamente com o <strong>de</strong>correr<br />

dos séculos. Aqui não se respeitou<br />

a quadrícula do tabuleiro<br />

<strong>de</strong> Pizarro, os seus quarteirões<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> extensão e as suas<br />

ruas prolongavam-se por 200 e<br />

até 300 metros, como a rua Los<br />

Naranjos que abarca, ainda<br />

hoje, três quarteirões; Rufas<br />

atravessava dois quarteirões, e<br />

algo semelhante havia acontecido<br />

com a rua La Confianza,<br />

que começava em Santa Catalina<br />

e terminava na rua Chirimoyo,<br />

sendo cortada para permitir o<br />

prolongamento dos jirones Paruro<br />

e Huanta. Relativamente aos<br />

quarteirões <strong>de</strong> solares ou hortas<br />

que existiam nos Bairros Altos,<br />

o único que <strong>de</strong>safia o tempo e<br />

que é um testemunho da vastidão<br />

<strong>de</strong>stes lugares é o histórico<br />

estádio <strong>de</strong> Buenos Aires.<br />

Em 1909 foi <strong>de</strong>struído o<br />

beco Otaiza, comunicando a<br />

avenida Ucajali com a avenida<br />

Ayacucho (<strong>de</strong>pois Miró Quesada).<br />

Prolongar avenidas e abrir ruas<br />

fez parte <strong>de</strong> uma política estatal<br />

e municipal <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização<br />

do casco urbano <strong>de</strong> Lima. De<br />

acordo com a higiene ambiental<br />

<strong>de</strong> princípios do século XX, em<br />

1909, a azinhaga «Oitaza»,<br />

i<strong>de</strong>ntificada como «foco infeccioso»,<br />

foi <strong>de</strong>struída, permitindo,<br />

ao mesmo tempo, a comunicação<br />

dos jirones Ucayali com Ayacucho<br />

(<strong>de</strong>pois Miró Quesada).<br />

Mas não havia apenas que «limpar»<br />

Lima, como também «oxigenar»<br />

a cida<strong>de</strong>, abrindo «atalhos»<br />

que economizassem tempo<br />

aos limenhos para se <strong>de</strong>slocarem<br />

<strong>de</strong> um lugar para outro. Em<br />

1911, nos Bairros Altos, expropriaram-se<br />

e <strong>de</strong>struíram-se<br />

casas da Beneficência <strong>de</strong> Lima e<br />

do convento da Buena Muerte<br />

situados na rua Carmen Alto <strong>de</strong><br />

um lado, e do outro, a horta<br />

Manuel Morales, situada na rua<br />

Los Naranjos, conseguindo-se o<br />

acesso directo entre ambas as<br />

ruas. Anos <strong>de</strong>pois, numa parte<br />

da nova rua Manuel Morales, a<br />

Beneficência <strong>de</strong> Lima construiu<br />

uma formosa quinta com duas<br />

portas <strong>de</strong> entrada que ainda<br />

hoje existe. De igual modo,<br />

rapidamente se construiu o<br />

cine-teatro Lima que em 1913<br />

anunciava os filmes «El Judio<br />

Errante y Fantomas», cobrando a<br />

entrada <strong>de</strong> um sol para um balcão<br />

<strong>de</strong> quatro lugares e 6 centavos<br />

1 por um camarote.<br />

1 Diário El Comercio, 15 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1913.

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