Revista Atlântica de cultura ibero-americanat
Revista Atlântica de cultura ibero-americanat
Revista Atlântica de cultura ibero-americanat
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Casa <strong>de</strong> Torre Tagla. Promperú<br />
Fotografia <strong>de</strong> Coco Martín - Promperú<br />
Balcones, centro <strong>de</strong> Lima. Fotografia <strong>de</strong> Aníbal Solimano - Promperú<br />
Fundada com o nome <strong>de</strong><br />
Ciudad <strong>de</strong> los Reyes, o seu nascimento<br />
como espaço físico requeria<br />
uma nova fundação: aguardava<br />
ser escrita como uma forma<br />
<strong>de</strong> alimentar a sua natural propensão<br />
utópica; necessitava <strong>de</strong><br />
adquirir uma segunda realida<strong>de</strong><br />
que lhe conferiria uma dimensão<br />
perdurável. E efectivamente,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> as origens, a literatura foi<br />
o reflexo fiel da evolução urbana<br />
que, ao largo <strong>de</strong> cinco séculos,<br />
converteu «a triste Ciudad <strong>de</strong> los<br />
Reyes» – como a apelidara César<br />
Moro – na «Lima horrível» traçada<br />
em meados do século XX<br />
por Sebastián Salazar Bondy 1 .<br />
Um factor histórico <strong>de</strong>terminante<br />
nesta evolução foi a inevitável<br />
barreira que cercou a<br />
Lima colonial, separando-a do<br />
resto do país. Esta barreira não<br />
foi somente <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m socio<strong>cultura</strong>l,<br />
uma vez que a sua construção<br />
física data <strong>de</strong> 1685, quando<br />
Lima se converteu no lendário<br />
hortus clausum da Colónia, com a<br />
edificação <strong>de</strong> umas muralhas<br />
enormes que marcavam tanto os<br />
seus limites, como a sua fisionomia<br />
<strong>de</strong> reduto espiritual <strong>de</strong> elite.<br />
Este divórcio entre o país e a sua<br />
capital terá sido fundamental na<br />
evolução das letras peruanas e na<br />
consolidação das suas diferentes<br />
correntes literárias.Talvez a irónica<br />
<strong>de</strong>claração <strong>de</strong> Abraham Val<strong>de</strong>lomar<br />
seja uma das mais eloquentes<br />
para compreen<strong>de</strong>r o momento<br />
anterior à mudança: «Lima é o<br />
Peru, o Jirón <strong>de</strong> la Unión é Lima,<br />
o Palácio Concerto é o Jirón <strong>de</strong> la<br />
Unión, e eu sou o Palácio Concerto!»<br />
À margem da expressão,<br />
a frase é especialmente significativa<br />
na medida em que,com ela,Val<strong>de</strong>lomar<br />
dava significado àquela<br />
Lima da belle époque que, no princípio<br />
do século, mantinha a essência<br />
aristocrática da antiga cida<strong>de</strong><br />
colonial. No entanto, a mudança