Revista Atlântica de cultura ibero-americanat
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SANTOS DA CASA 32<br />
Festivida<strong>de</strong>s Tirana do Tamarugal.<br />
Fotografia <strong>de</strong> Montserrat Sáenz. Prochile<br />
33<br />
Após a celebração do chamado ano<br />
<strong>de</strong> 1535 pelos conquistadores, Diego <strong>de</strong><br />
Almagro saiu <strong>de</strong> Cuzco à conquista do Sul<br />
do império. Não conseguia escon<strong>de</strong>r o<br />
orgulho por ter subjugado os incas, mas,<br />
como ia penetrar em territórios difíceis e<br />
<strong>de</strong>sconhecidos <strong>de</strong> um império <strong>de</strong> sauda<strong>de</strong><br />
tão infinita como a sua ari<strong>de</strong>z, levou como<br />
reféns o sacerdote do Templo do Sol e a sua<br />
filha, a Ñusta Huillac. Creio que, na intenção<br />
<strong>de</strong> se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> eventuais armadilhas<br />
e para gozar da mais absoluta segurança,<br />
levava consigo Paullo Túpac, irmão do<br />
príncipe Manco Capac, baptizado <strong>de</strong><br />
Paulino, e Huillac Huma, último dignitário<br />
supremo <strong>de</strong> um culto que ele pretendia<br />
dar por extinto. Sua mulher, Malgarida, tão<br />
africana como os seus escravos, envolvia-o<br />
<strong>de</strong> paz, apesar das suas noites <strong>de</strong> pesa<strong>de</strong>lo<br />
e enfermida<strong>de</strong>.<br />
Tão ilustres reféns eram tratados com<br />
respeito, ainda que pesasse sobre as suas<br />
cabeças a ameaça <strong>de</strong> que pagariam com a<br />
vida qualquer tentativa <strong>de</strong> rebelião, na<br />
caravana que integrava cerca <strong>de</strong> <strong>de</strong>z mil<br />
súbditos do império, aborígenes chamados<br />
<strong>de</strong> índios pelos espanhóis. Yanaconas e<br />
escravos africanos. Nela vinham encobertos<br />
alguns wilkas ou capitães, <strong>de</strong> importante<br />
carvina, que já tinham comandado os já<br />
dispersos exércitos incas. Também alguns<br />
acólitos do Sol se encobriam nas filas,<br />
envoltos em míseras roupagens e em aparente<br />
submissão, à espera da ocasião certa<br />
para se rebelarem.<br />
Ñusta Huillac <strong>de</strong>scendia dos senhores<br />
<strong>de</strong> Tahuantisuyu e não se resignava às humilhações<br />
sofridas como consequência da<br />
<strong>de</strong>bilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Atahualpa, tão prontamente<br />
disposto a confiar nos conquistadores.<br />
Ñusta conversou, ao largo da travessia,<br />
com Paullo Túpac sobre a forma <strong>de</strong> se separarem<br />
da expedição espanhola. Nenhum<br />
motivo os levava a continuar junto a<br />
Almagro. E foi assim que, sigilosamente,<br />
<strong>de</strong>cidiram abandonar o exército espanhol,<br />
quando a expedição ia na zona <strong>de</strong> Atacama<br />
La Gran<strong>de</strong> (mais tar<strong>de</strong> chamada Calama),<br />
on<strong>de</strong> habitavam os Kunza.<br />
Numa noite <strong>de</strong> espessa neblina, introduziram-se<br />
no <strong>de</strong>serto, até à cordilheira,<br />
em busca <strong>de</strong> um caminho que os levasse à