Revista Atlântica de cultura ibero-americanat
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mártir, ia recebendo notícias da família e<br />
cria que o filho se chamaria André e teria já<br />
doze anos. Era verda<strong>de</strong>, o vigário da vara <strong>de</strong><br />
Portimão, no processo <strong>de</strong> restituição dos<br />
bens do <strong>de</strong>funto, confirmou que João havia<br />
casado, «in facie ecclesiae conforme ao sagrado<br />
concilio tri<strong>de</strong>ntino», com Maria Vaz, filha<br />
<strong>de</strong> mareantes, e que o filho fora baptizado<br />
com o nome <strong>de</strong> André. Esse algarvio aventureiro<br />
estava acompanhado <strong>de</strong> outros conterrâneos<br />
e parentes envolvidos em negócios<br />
da China, através <strong>de</strong> Acapulco. Gostava<br />
<strong>de</strong> jogar xadrez e damas, vestia roupa <strong>de</strong><br />
tafetá, <strong>de</strong> terciopelo, <strong>de</strong> seda, <strong>de</strong> algodão,<br />
usava um palito <strong>de</strong> prata e guardava as moedas<br />
num mealheiro <strong>de</strong> lata.<br />
Um António da Veiga, também natural<br />
<strong>de</strong> Vila Nova, conhecido como o<br />
«Bacalhau», serviu praça <strong>de</strong> marinheiro no<br />
patacho do mestre Manuel Tomé, seu conterrâneo,<br />
que transportava negros <strong>de</strong> registo<br />
<strong>de</strong> Angola para o México. Durante a travessia,<br />
perseguido por inimigos, arribou à<br />
ilha <strong>de</strong> Porto Rico.Aqui, a mando do governador,António<br />
embarcou, com outros mari-<br />
Portimão na Foz do Ara<strong>de</strong>. Foto <strong>de</strong> Paulo Arez Cartagena das Índias. Foto <strong>de</strong> Juan Diego Duque<br />
nheiros <strong>de</strong> Portimão, num navio <strong>de</strong> Bartolomeu<br />
Gonçalves, também <strong>de</strong>sta vila, que<br />
saiu a pelejar os corsários que o mataram<br />
com um balázio. Os 49.480 maravedis que<br />
<strong>de</strong>ixou como herança, alegadamente resultantes<br />
<strong>de</strong> «seus vestidos» e do soldo que<br />
Sua Majesta<strong>de</strong> lhe <strong>de</strong>via, foram <strong>de</strong>stinados a<br />
sua mãe, mulata muito pobre sem bens para<br />
se sustentar. O prior da igreja <strong>de</strong> Portimão,<br />
na missa da terça <strong>de</strong> um dia festivo, leu o<br />
papel «<strong>de</strong> verbo ad verbum» dos senhores da<br />
Contra-tação para averiguar dos her<strong>de</strong>iros.<br />
Só Catarina Afonso, a mãe, se manifestou.<br />
Mas os senhores da Contratação <strong>de</strong> Sevilha<br />
não consi<strong>de</strong>ravam que a morte por um balázio<br />
ao serviço do rei fosse suficiente para<br />
esclarecer uma história, em seu interesseiro<br />
enten<strong>de</strong>r, mal contada.<br />
E, em geral, era assim a vida <strong>de</strong> marinheiro.<br />
Os pobres, nem mortos tinham <strong>de</strong>scanso.<br />
Vaga gente, raramente afortunada.<br />
Melhor sorte tinham aqueles que, em terra,<br />
lá para as bandas do Peru ou do México, se<br />
<strong>de</strong>dicavam ao trato <strong>de</strong> mercadorias.<br />
Armavam navios com a ma<strong>de</strong>ira da serra <strong>de</strong> Monchique, prenhe <strong>de</strong><br />
castanheiros, incentivados pelos privilégios concedidos por D. Sebastião aos<br />
moradores <strong>de</strong> Portimão para a construção naval. Iam para Sevilha e daqui<br />
para a América espanhola, como se fossem naturais <strong>de</strong> Castela, diziam eles.