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HUÁSCAR FIALHO PESSALI<br />

TEORIA DOS CUSTOS DE TRANSAÇÃO:<br />

UMA AVALIAÇÃO À LUZ DE DIFERENTES CORRENTES DO<br />

PENSAMENTO ECONÔMICO<br />

Dissertação apresentada como requisito<br />

parcial à obtenção do grau <strong>de</strong> Mestre.<br />

Curso <strong>de</strong> Mestrado <strong>em</strong> Desenvolvimento<br />

Econômico, Setor <strong>de</strong> Ciências Sociais<br />

Aplicadas da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do<br />

Paraná.<br />

Orientador: Professor Doutor Ramón<br />

Vicente García Fernán<strong>de</strong>z.<br />

CURITIBA<br />

1998


HUÁSCAR FIALHO PESSALI<br />

TEORIA DOS CUSTOS DE TRANSAÇÃO:<br />

UMA AVALIAÇÃO À LUZ DE DIFERENTES CORRENTES DO<br />

PENSAMENTO ECONÔMICO<br />

Dissertação apresentada como requisito<br />

parcial à obtenção do grau <strong>de</strong> Mestre.<br />

Curso <strong>de</strong> Mestrado <strong>em</strong> Desenvolvimento<br />

Econômico, Setor <strong>de</strong> Ciências<br />

Sociais Aplicadas da Universida<strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral do Paraná.<br />

Orientador: Professor Doutor Ramón<br />

Vicente García Fernán<strong>de</strong>z.<br />

CURITIBA<br />

1998


HUÁSCAR FIALHO PESSALI<br />

TEORIA DOS CUSTOS DE TRANSAÇÃO<br />

UMA AVALIAÇÃO À LUZ DE DIFERENTES CORRENTES DO<br />

PENSAMENTO ECONÔMICO<br />

Dissertação aprovada como requisito parcial para obtenção do grau <strong>de</strong><br />

Mestre no Curso <strong>de</strong> Mestrado <strong>em</strong> Desenvolvimento Econômico da<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná, pela Comissão formada pelos professores:<br />

Orientador: _________________________________________________<br />

Prof. Doutor Ramón Vicente García Fernán<strong>de</strong>z<br />

Setor <strong>de</strong> Ciências Sociais Aplicadas, UFPR<br />

_________________________________________________<br />

Profa. Doutora Leda Maria Paulani<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Economia</strong> e Administração, USP<br />

_________________________________________________<br />

Prof. Doutor José Gabriel Porcile Meirelles<br />

Setor <strong>de</strong> Ciências Sociais Aplicadas, UFPR<br />

Curitiba, 04 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1998.<br />

ii


iii<br />

Com amor e admiração, à minha mãe e à<br />

minha avó, e <strong>em</strong> m<strong>em</strong>ória <strong>de</strong> meu primo<br />

Wilton, que fez algo que um gran<strong>de</strong> amigo<br />

não <strong>de</strong>veria jamais fazer: partiu.


iv<br />

"Hoc opus, hic labor est."<br />

("Esse é o trabalho, essa é a fadiga.")<br />

Virgílio, na Eneida.


AGRADECIMENTOS<br />

Vejo hoje os últimos dois anos passar<strong>em</strong> diante dos olhos, acreditando ter<br />

tentado o melhor para fazê-los proveitosos. E é claro que várias pessoas estiveram (e<br />

muitas felizmente ainda estão) <strong>em</strong> velado conluio comigo nessa tentativa. Na parte mais<br />

lida nas dissertações, quero entregar todos os cúmplices, <strong>em</strong> or<strong>de</strong>m cronológica.<br />

Como explicou meu (corajoso) orientador, Professor Ramón, <strong>em</strong> seu tratado<br />

sobre os Agra<strong>de</strong>cimentos (nos Agra<strong>de</strong>cimentos <strong>de</strong> sua Tese <strong>de</strong> Doutoramento), não vou<br />

fazer aqui o preenchimento <strong>de</strong> um formulário: na verda<strong>de</strong>, vou passar por ele<br />

escrevendo até no verso. Não vou fazer uma relação padrão com nomes e respectivas<br />

contribuições como se tivesse que ocupar o menor espaço possível e conter sentimentos<br />

como no texto científico. Afinal <strong>de</strong> contas, este trabalho não foi fruto apenas <strong>de</strong> horas<br />

<strong>de</strong>dicadas ao estudo, <strong>de</strong>ntro e fora das salas <strong>de</strong> aula, nos <strong>de</strong>bates, s<strong>em</strong>inários, cursos,<br />

apresentações, etc. Ele foi fruto <strong>de</strong> cada uma das 24 horas <strong>de</strong> cada um dos dias que<br />

passei no Mestrado. Portanto, muitos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser l<strong>em</strong>brados.<br />

Obviamente, tudo começa com o suporte da família: obrigado à Ilka e à Dona<br />

Lodica. A elas seria preciso reservar várias páginas do formulário para expressar minha<br />

gratidão. Para poupar o leitor, vou fazê-lo pessoalmente. E se não fosse minha prima<br />

Ana Teresa, esta página não existiria. Obrigado também à Celinha.<br />

Uma vez aprovado para o Mestrado, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> me <strong>de</strong>dicar<br />

exclusivamente só foi possível com o suporte financeiro do Estado Brasileiro, através<br />

da CAPES. A eles registro meu respeitoso agra<strong>de</strong>cimento.<br />

Cristhiane me encorajou. E as amiza<strong>de</strong>s <strong>em</strong> Curitiba seguraram a barra da<br />

adaptação: Alessandra Dodl, Êdi Picolli e Sonia Han<strong>em</strong>ann. E também a Mírian o<br />

Salério e sua Claudinha. E também o pessoal da turma: Cajú, Sandra, Eduardo,<br />

An<strong>de</strong>rson e Léo. E <strong>de</strong> outras turmas: Guilherme, Ricardo e Hugo. Aos amigos que não<br />

dão a mínima para o t<strong>em</strong>po e para a distância, Leonardo e Evandro, agra<strong>de</strong>ço s<strong>em</strong>pre.<br />

É s<strong>em</strong>pre difícil saber <strong>em</strong> quanto e <strong>em</strong> que nossos professores mais<br />

contribuíram, e só o t<strong>em</strong>po po<strong>de</strong> dizer quanto subestimamos isso. Aos mestres (com<br />

carinho) Francisco Cipolla, Aldair Rizzi, Merle Faminow e Hugh Schwartz, não posso<br />

v


escon<strong>de</strong>r a gratidão pela contribuição <strong>de</strong> cada um <strong>em</strong> minha formação. Aos professores<br />

Fábio Scatolin, Divonzir Beloto, Igor Leão e Liana Carleial agra<strong>de</strong>ço o impulso<br />

constante para o <strong>em</strong>penho acadêmico e para a docência, e também aos professores<br />

Hermes Higachi e Hugo Boff. Dos cursos para as conversas nos corredores, e <strong>de</strong>las para<br />

a amiza<strong>de</strong>, foi esse o caminho mais comum. Do professor José Gabriel Porcile Meirelles<br />

guardo profunda admiração por seu brilhantismo intelectual, que convive com o mais<br />

nobre caráter, repleto <strong>de</strong> bom humor, paciência, encorajamento e respeito pelos que<br />

estão começando. Ao professor Victor Pelaez <strong>de</strong>vo ainda o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>baraço do novelo<br />

antes <strong>de</strong> entrar no labirinto, e agra<strong>de</strong>ço a paciência <strong>de</strong> conferir e ainda iluminar, no<br />

s<strong>em</strong>inário interno que prece<strong>de</strong> a <strong>de</strong>fesa, as <strong>de</strong>sventuras <strong>de</strong> Teseu. Às professoras<br />

Vanessa Petrelli e Margarida Baptista agra<strong>de</strong>ço pelas atenciosas observações e<br />

sugestões ao trabalho. "Last, but not least", meu agra<strong>de</strong>cimento ao patrão, professor<br />

Nilson Maciel <strong>de</strong> Paula, pelo apoio e atenção intermitentes, pelas sábias recomendações<br />

ao longo <strong>de</strong> todo o curso e pela confiança nas ocasiões <strong>em</strong> que forcei a restrição<br />

orçamentária do Mestrado.<br />

Quando procurei o professor Ramón Vicente García Fernán<strong>de</strong>z a fim <strong>de</strong> solicitar<br />

oficialmente orientação para a dissertação, pedi apenas que não me poupasse. Agora é<br />

minha oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> não poupá-lo. Na verda<strong>de</strong>, acho que <strong>de</strong>veria também reservar<br />

algumas páginas só para falar a respeito disso. Em primeiro lugar, agra<strong>de</strong>ço pelos<br />

valiosos <strong>em</strong>préstimos <strong>de</strong> CD's. Depois, pelos <strong>em</strong>préstimos dos livros e textos que<br />

sustentaram a pesquisa. A ele <strong>de</strong>vo muito mais que os préstimos pela orientação<br />

acadêmica, e não vou <strong>de</strong>ter-me a falar quantas e quais foram as vezes <strong>em</strong> que sua<br />

genialida<strong>de</strong> limpou trilhas sinistras <strong>em</strong> que envere<strong>de</strong>i. N<strong>em</strong> vou referir-me à serenida<strong>de</strong><br />

e à paciência com que s<strong>em</strong>pre me ouviu, aplacando as angústias não poucas. Ainda<br />

menos falarei <strong>de</strong> seu literatismo, <strong>de</strong> seu hábil e tranqüilo manejo <strong>de</strong> vastas áreas do<br />

conhecimento, e <strong>de</strong> seu irrepreensível caráter. Portanto, s<strong>em</strong> pieguice, nada tenho a<br />

falar, sequer um elogio a fazer. Apenas obrigado, Ramón.<br />

Muitíssimo <strong>de</strong>vo aos amigos Fabiano Dalto e Maurício Costa. E também ao<br />

Clau<strong>de</strong>nício Ferreira, Maria Cilene e Antônio Zanatta, Ricardo Cifuentes, Pedro Loyola,<br />

Adriana Sbicca e Fernanda.<br />

vi


Tudo teria sido muito mais complicado se não fosse o trabalho, a alegria, a<br />

jovialida<strong>de</strong>, o carinho e a elegância da Rosa. E o que seria se a Ivone não continuasse<br />

no apoio executivo com toda presteza? E s<strong>em</strong> a Dirce nas <strong>em</strong>ergências com o<br />

fliperama? Espero que a conclusão do curso me faça parar <strong>de</strong> dar (muito) trabalho à<br />

secretaria e ao CEPEC, e seja essa a mínima e <strong>de</strong>vida recompensa e o meu mais sincero<br />

agra<strong>de</strong>cimento a elas.<br />

Agra<strong>de</strong>ço aos professores D<strong>em</strong>ian Castro e Walter Shima pela disposição para<br />

um bate-papo, qual fosse o assunto, inclusive economia, e pela paciência e confiança<br />

num "rookie" para assuntos <strong>de</strong> trabalho..<br />

Há algumas pessoas que não faz<strong>em</strong> (farão ou fariam) a menor idéia da minha<br />

existência, mas ajudaram <strong>de</strong> forma inestimável a recobrar a tranqüilida<strong>de</strong> quando a<br />

pressão aumentava. Obrigado a Chris Squire, Steve Howe, Jon An<strong>de</strong>rson, Rick<br />

Wak<strong>em</strong>an, Alan White, Bill Bruford, Tony Kaye, Trevor Rabin e Geoff Downes; a<br />

Beethoven, Lloyd Cole, Cartola, Vinícius, Carlos Drummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> e ao<br />

admirável Aldous Leonard Huxley; a Goscinny e U<strong>de</strong>rzo e ao Simão; a Salvador Dalí; e<br />

a Ridley Scott e Philip K. Dick.<br />

Por fim, como não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser, agra<strong>de</strong>ço à Adriana pelo amor e pela<br />

enorme paciência. A ela atribuo a maior contradição <strong>de</strong>ste trabalho: o melhor motivo<br />

para que às vezes a pesquisa fosse interrompida, e o melhor motivo para que fosse logo<br />

terminada.<br />

vii


SUMÁRIO<br />

LISTA DE QUADROS ........................................................................................................ xi<br />

LISTA DE FIGURAS .......................................................................................................... xi<br />

LISTA DE ABREVIATURAS............................................................................................. xi<br />

RESUMO............................................................................................................................. xii<br />

ABSTRACT .......................................................................................................................xiii<br />

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................. 1<br />

2 AS IDÉIAS ORIGINAIS DE COASE ............................................................................. 11<br />

3 A TEORIA DOS CUSTOS DE TRANSAÇÃO DE OLIVER E. WILLIAMSON.......... 17<br />

3.1 A Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Análise.................................................................................................... 19<br />

3.2 Atributos Humanos e Supostos Comportamentais: Racionalida<strong>de</strong> Limitada,<br />

Oportunismo, Busca da Eficiência e o Processo Seletivo .............................................. 24<br />

3.3 As Dimensões Analíticas das Transações (Especificida<strong>de</strong> do Ativo, Incerteza e<br />

Freqüência) e os Arranjos Institucionais Decorrentes.................................................... 32<br />

4 UMA APRESENTAÇÃO ÀS CRÍTICAS DA TEORIA DOS CUSTOS DE<br />

TRANSAÇÃO ................................................................................................................ 43<br />

4.1 Fontes Críticas Evolucionistas ...................................................................................... 44<br />

4.1.1 Consi<strong>de</strong>rações dinâmicas: aprendizado, competências e construção <strong>de</strong> alternativas<br />

no processo <strong>de</strong> competição ............................................................................................. 45<br />

4.1.2 Conhecimento tácito e social, competências e os custos dinâmicos <strong>de</strong> transação ..... 49<br />

4.1.3 Regimes inovativos e eficiência estática versus eficiência dinâmica......................... 55<br />

4.1.4 No t<strong>em</strong>po real: aprendizado, cooperação e atributos humanos <strong>de</strong>senvolvidos ... 60<br />

4.1.5 Estática comparativa unidimensional e dinâmica co-evolucionária........................... 64<br />

4.1.6 O insistente convite à perspectiva evolucionista........................................................ 65<br />

4.2 Fontes Críticas na <strong>Economia</strong> Política............................................................................ 67<br />

4.2.1 Mercados e firmas: estaticamente alternativos ou dinamicamente<br />

compl<strong>em</strong>entares? ............................................................................................................ 69<br />

4.2.2 Po<strong>de</strong>r ou eficiência? O probl<strong>em</strong>a da racionalização ex post ...................................... 73<br />

4.2.3 Oportunismo: perigo <strong>em</strong>inente, relevante e ubíquo ou pobre <strong>de</strong>scrição da natureza<br />

humana?.......................................................................................................................... 82<br />

4.3 Fontes Críticas Institucionalistas (Old Institutional Economics).................................. 87<br />

4.3.1 Herança corrompida? O conceito <strong>de</strong> transação <strong>em</strong> Williamson e <strong>em</strong> Commons....... 88<br />

4.3.2 Eficiência <strong>em</strong> socorro à ortodoxia, po<strong>de</strong>r, competição e processo seletivo ............... 92<br />

4.3.3 Institucionalismo s<strong>em</strong> feed-back institucional ......................................................... 100<br />

4.3.4 Oportunismo: simplismo e inconsistências .............................................................. 103<br />

4.3.5 Racionalida<strong>de</strong> limitada e maximização: incompatibilida<strong>de</strong> à espera <strong>de</strong> resolução.. 107<br />

viii


4.4 Fontes Críticas Neoclássicas ....................................................................................... 110<br />

4.4.1 O nexo <strong>de</strong> contratos e a superfluida<strong>de</strong> da autorida<strong>de</strong>............................................... 112<br />

4.4.2 Sugestões <strong>de</strong> alianças para a TCT ............................................................................ 121<br />

5 CONCLUSÕES.............................................................................................................. 126<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 132<br />

ix


LISTA DE QUADROS<br />

1 Atributos do Processo <strong>de</strong> Contratação............................................................................ 37<br />

2 Efeitos da Difusão do Aprendizado Sobre os Limites da Firma .................................... 61<br />

LISTA DE FIGURAS<br />

1 Respostas Organizacionais à Incerteza........................................................................... 39<br />

2 Esqu<strong>em</strong>a Simples <strong>de</strong> Contratação .................................................................................. 41<br />

3 O Caso Paradigmático da Integração Vertical................................................................ 43<br />

4 Arranjos Contratuais Alternativos................................................................................ 121<br />

5 Proposta <strong>de</strong> Joskow para Integração Teórica ............................................................... 129<br />

LISTA DE ABREVIATURAS<br />

TCT - Teoria dos Custos <strong>de</strong> Transação<br />

NEI - Nova <strong>Economia</strong> Institucional<br />

OIE - Old Institutional Economics<br />

MOI - Mo<strong>de</strong>rna Organização Industrial<br />

x


RESUMO<br />

A TCT t<strong>em</strong> sido consi<strong>de</strong>rada a "nova ortodoxia" da teoria da firma. Seus<br />

pilares teóricos são constituídos pelos supostos atribuídos ao "hom<strong>em</strong><br />

contratual" <strong>de</strong> racionalida<strong>de</strong> limitada, oportunismo e busca da eficiência, que<br />

interage economicamente através <strong>de</strong> transações. As transações possu<strong>em</strong><br />

atributos analíticos el<strong>em</strong>entares (especificida<strong>de</strong> dos ativos envolvidos,<br />

freqüência <strong>de</strong> realização e incerteza envolvida) que se apresentam <strong>em</strong><br />

diferentes níveis para diferentes formas <strong>de</strong> organização das mesmas,<br />

operacionalizando o estudo dos limites entre firmas, mercados e arranjos<br />

intermediários ou híbridos. Ocupando posição tão vistosa, a TCT v<strong>em</strong><br />

recebendo críticas tanto do mainstream neoclássico, por afastar-se <strong>de</strong> seu<br />

núcleo teórico, quanto <strong>de</strong> diferentes correntes heterodoxas do pensamento<br />

econômico, que possu<strong>em</strong> vários pontos <strong>de</strong> contato. Tais interseções exist<strong>em</strong><br />

<strong>em</strong> assuntos relacionados principalmente a consi<strong>de</strong>rações analíticas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r,<br />

a processos seletivos co-<strong>de</strong>terminados e artificiais, e ao uso consistente do<br />

conceito <strong>de</strong> racionalida<strong>de</strong> limitada, com importantes implicações para a<br />

ênfase exclusiva dada pela TCT na eficiência; há também argumentos <strong>em</strong> prol<br />

<strong>de</strong> uma caracterização mais ampla <strong>de</strong> importantes atributos humanos que não<br />

apenas o oportunismo. Essas coincidências suger<strong>em</strong> novas direções para uma<br />

agenda <strong>de</strong> pesquisa reformulada <strong>em</strong> tom pluralista da teoria da firma.<br />

xi


ABSTRACT<br />

TCT has been regar<strong>de</strong>d as the "new orthodoxy" in the theory of firms. Its<br />

theoretical framework relies mainly on the assumptions of boun<strong>de</strong>d<br />

rationality, opportunism, and efficiency pursuit as features of the contracting<br />

man, who operates economic transactions with different <strong>de</strong>grees of<br />

el<strong>em</strong>entary attributes (specificity of engaged assets, frequency and un<strong>de</strong>rlying<br />

uncertainty) regarding each form of its organization, allowing for the<br />

analysis of the limits between firms, markets and hybrid forms. In such a<br />

central position, TCT is the target of several criticism from mainstream<br />

economics, for TCT be <strong>de</strong>parting from the neoclassical theoretical core, as<br />

much as from different non orthodox streams of economic thought, which<br />

i<strong>de</strong>as have several touching points. These intersections relate mainly to the<br />

relevance of power aspects, artificial or co-evolutionary selection precesses,<br />

and a more consistent use of the boun<strong>de</strong>d rationality concept, all these with<br />

paramount consequences over the very <strong>em</strong>phasis of TCT in efficiency. A<br />

broa<strong>de</strong>r treatment of human attributes in which not only opportunism play a<br />

central role is also claimed. These coinci<strong>de</strong>nces are suggestive of new<br />

directions towards a new and pluralistic research agenda for the theory of<br />

the firm.<br />

xii


1 INTRODUÇÃO<br />

O t<strong>em</strong>a e sua escolha<br />

Imagine a presença <strong>de</strong> um visitante <strong>de</strong> Marte no espaço próximo à Terra, equipado<br />

com um telescópio capaz <strong>de</strong> revelar estruturas sócio-econômicas (para ele ainda<br />

<strong>de</strong>sconhecidas <strong>em</strong> sua missão exploratória sobre nosso planeta). No foco <strong>de</strong> seu aparelho,<br />

firmas aparec<strong>em</strong> como manchas ver<strong>de</strong>s sólidas, com alguns contornos internos tênues,<br />

indicando sua divisão <strong>em</strong> setores ou <strong>de</strong>partamentos. As transações <strong>de</strong> mercado aparec<strong>em</strong><br />

como linhas vermelhas, ligando as manchas ver<strong>de</strong>s e formando re<strong>de</strong>s entre elas. Dentro das<br />

firmas, ou mesmo entre elas, o visitante observa linhas azuis pálidas, que indicam os canais<br />

<strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> ligando patrões e <strong>em</strong>pregados, e <strong>em</strong>pregados <strong>de</strong> diferentes níveis<br />

hierárquicos. Com alguma freqüência, é possível observar manchas ver<strong>de</strong>s que se divi<strong>de</strong>m<br />

ou que <strong>de</strong>spren<strong>de</strong>m <strong>de</strong> si pedaços menores, enquanto outras manchas absorv<strong>em</strong> ou são<br />

absorvidas por outras. E este é um panorama ubíquo, quer seja observando os Estados<br />

Unidos, a China urbana, ou qualquer outro país ou região do planeta, <strong>em</strong>bora a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><br />

das estruturas se apresente diferente entre elas. Tendo observado o suficiente, o visitante<br />

envia então uma mensag<strong>em</strong> para casa <strong>de</strong>screvendo o que viu: gran<strong>de</strong>s manchas ver<strong>de</strong>s<br />

ligadas por linhas vermelhas - e não um <strong>em</strong>aranhado <strong>de</strong> linhas vermelhas ligando pontos<br />

ver<strong>de</strong>s. Quando, então, toma conhecimento do que significam aqueles el<strong>em</strong>entos,<br />

surpreen<strong>de</strong>-se: se as manchas ver<strong>de</strong>s são organizações e as linhas vermelhas representam<br />

as transações <strong>de</strong> mercado, como po<strong>de</strong> aquele sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> estruturas ser apropriadamente<br />

chamado <strong>de</strong> "economia <strong>de</strong> mercado", e não <strong>de</strong> "economia organizacional"?<br />

Essa é uma breve apresentação da parábola construída por Herbert SIMON (1991,<br />

p. 27-8) para propor que na verda<strong>de</strong> nos <strong>de</strong>paramos com um rótulo enganoso para um<br />

sist<strong>em</strong>a essencial <strong>de</strong> estruturas, o econômico, entrelaçado <strong>de</strong> forma in<strong>de</strong>satável numa fase<br />

particular e rica da história da humanida<strong>de</strong> - o capitalismo. Diante da parábola <strong>de</strong> Simon,<br />

parece um absurdo insistir <strong>em</strong> dizer que tal sist<strong>em</strong>a é composto por "economias (nacionais,<br />

quando muito) <strong>de</strong> mercado". Para o cientista social, e particularmente para o economista, a<br />

questão não se resume à s<strong>em</strong>ântica: o duvidoso jargão impele teorias e estudos <strong>em</strong>píricos, e<br />

mesmo discussões diletantes e o senso comum, a tomar<strong>em</strong> o mercado como ponto <strong>de</strong><br />

1


partida, parâmetro virtualmente s<strong>em</strong>pre possível, e mesmo estado natural das relações<br />

econômicas, para sua interpretação do mundo <strong>em</strong> que viv<strong>em</strong>.<br />

A parábola <strong>de</strong> Simon foi <strong>de</strong>cisiva (senão fulminante) na escolha do t<strong>em</strong>a <strong>de</strong>sta<br />

dissertação, não só por seu conteúdo instigante, mas também pela forma e o contexto <strong>de</strong><br />

sua apresentação nas não menos incitantes aulas <strong>de</strong> Microeconomia do Professor Ramón.<br />

Com ela fui apresentado às idéias básicas da "facção micro" da Nova <strong>Economia</strong> Institu-<br />

cional (doravante NEI), cujo cerne <strong>de</strong> pesquisa é, <strong>em</strong> termos gerais, a construção <strong>de</strong> uma<br />

explicação para a parábola. Ronald Coase, economista inglês, escreve na década <strong>de</strong> 30 um<br />

artigo intitulado "The Nature of the Firm" (COASE, 1937) que se tornaria s<strong>em</strong>inal ao ser<br />

reconhecido como o ponto <strong>de</strong> partida para o novo enfoque econômico das instituições, e<br />

que 54 anos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> publicado seria o principal responsável por seu laureamento com um<br />

Prêmio Nobel. Duas questões impulsionam suas idéias: i) já que o mercado é tradicional-<br />

mente consi<strong>de</strong>rado a forma eficiente <strong>de</strong> alocação dos recursos através do mecanismo <strong>de</strong><br />

preços, qual a razão <strong>de</strong> existência das firmas, uma vez que se estruturam justamente a<br />

partir da fuga ou recusa <strong>de</strong> tal mecanismo?; e ii) se as firmas consegu<strong>em</strong> reduzir ou<br />

eliminar custos que o uso do mercado impõe, organizando <strong>de</strong> modo mais eficiente a<br />

produção, por que não t<strong>em</strong>os, então, uma única gran<strong>de</strong> firma responsável por toda ela? Ou<br />

seja, tenta-se explicar a razão <strong>de</strong> existência das firmas e os <strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong> seus limites.<br />

A Teoria dos Custos <strong>de</strong> Transação (TCT) po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada a linha básica dos trabalhos<br />

da NEI sobre tais preocupações, <strong>em</strong>bora outras linhas <strong>de</strong> pesquisa se <strong>de</strong>senvolvam <strong>em</strong><br />

paralelo ou mesmo com pontos <strong>de</strong> contato. A TCT reconhecidamente <strong>de</strong>riva <strong>de</strong> COASE<br />

(1937), a partir da recuperação das idéias originais <strong>de</strong> seu artigo e do <strong>de</strong>senvolvimento<br />

teórico <strong>de</strong>flagrado <strong>em</strong> meados da década <strong>de</strong> 70 por Oliver Eaton Williamson, nome com o<br />

qual, aliás, praticamente fun<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então - e por isso resolv<strong>em</strong>os neste trabalho<br />

i<strong>de</strong>ntificar a TCT com os <strong>de</strong>senvolvimentos teóricos <strong>de</strong> Williamson.<br />

No entanto, foi possível perceber a partir <strong>de</strong> então que os danos do termo<br />

"economia <strong>de</strong> mercado" alegados por Simon (consi<strong>de</strong>rado um dos inspiradores da NEI) e a<br />

preocupação com as instituições humanas no seu entrelaçamento com a esfera econômica<br />

não eram a <strong>de</strong>scoberta da pólvora conclamada pelos partidários <strong>de</strong>ssa nova linha do<br />

pensamento econômico. De certa forma, vários outros pensadores e economistas tiveram<br />

tais preocupações, mas não foram chamados <strong>de</strong> "institucionalistas" porque não as <strong>de</strong>ixaram<br />

2


suficient<strong>em</strong>ente explícitas (ou porque o título ainda não existia ou não fora pensado, ou<br />

não tinha importância), como é possível cogitar a respeito <strong>de</strong> Karl Marx, Joseph<br />

Schumpeter e John M. Keynes, por ex<strong>em</strong>plo. Interessante é que, pelo menos 30 anos antes<br />

do artigo <strong>de</strong> Coase, outros pensadores foram os responsáveis pelo surgimento do termo<br />

"institucionalistas", como Thorstein Veblen 1 e John Commons, mas eram virulentamente<br />

opostos ao método e à teoria neoclássica, o que acabou cerceando maiores esperanças <strong>de</strong><br />

projeção no círculo acadêmico e <strong>de</strong> influência <strong>em</strong> esferas <strong>de</strong> política econômica. Não à toa,<br />

portanto, economistas políticos, evolucionistas neo-schumpeterianos, institucionalistas<br />

"originais" e pós-keynesianos (estes <strong>em</strong> menor grau, ao que parece) têm <strong>de</strong>monstrado<br />

interesse na NEI e, particularmente, na TCT.<br />

O objetivo<br />

Em <strong>de</strong>corrência das inquietações apresentadas acima, objetivamos nesta dissertação<br />

efetuar um balanço crítico da estrutura teóricas da TCT, tentando apontar, ao fim, o que<br />

po<strong>de</strong>ria ser consi<strong>de</strong>rada a base <strong>de</strong> uma agenda relevante <strong>de</strong> pesquisa para uma teoria mais<br />

abrangente da firma. 2 Observamos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já que as críticas à TCT distribu<strong>em</strong>-se <strong>em</strong> largo<br />

escopo, consi<strong>de</strong>rando-a, <strong>em</strong> alguns casos extr<strong>em</strong>os da heterodoxia, absolutamente<br />

<strong>de</strong>scartável ao ser interpretada como extensão da teoria neoclássica, enquanto a própria<br />

teoria neoclássica consi<strong>de</strong>ra impróprias as incursões feitas fora <strong>de</strong> seu núcleo teórico. 3 Não<br />

obstante, <strong>em</strong> boa parte <strong>de</strong>las é reconhecida a valida<strong>de</strong> analítica <strong>de</strong> alguns <strong>de</strong> seus<br />

el<strong>em</strong>entos fundamentais, como a racionalida<strong>de</strong> limitada, a incerteza e as transações como<br />

unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> análise, b<strong>em</strong> como a legitimida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua preocupação com os limites das firmas<br />

(obviamente, não s<strong>em</strong> críticas).<br />

Ao longo da pesquisa tentamos selecionar da maneira mais abrangente possível<br />

material bibliográfico que se reportasse à TCT, a princípio com critérios mais frouxos <strong>de</strong><br />

1 Veblen chegou a ser elogiado como um dos maiores pensadores sociais <strong>de</strong> seu t<strong>em</strong>po por<br />

ninguém menos que seu cont<strong>em</strong>porâneo Albert Einsten (cf. MONASTÉRIO, 1998, p. 30).<br />

2 Muitas vezes o termo "Teoria dos Custos <strong>de</strong> Transação" t<strong>em</strong> também referência na<br />

literatura como a "<strong>Economia</strong> dos Custos <strong>de</strong> Transação". Por ex<strong>em</strong>plo, vi<strong>de</strong> SIFFERT FILHO<br />

(1995, p. 103) e o próprio WILLIAMSON (1985, cap. 1 e 1989, p. 135). Falar<strong>em</strong>os sobre a<br />

natureza da distinção que faz<strong>em</strong>os um pouco mais à frente.<br />

3 Não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser válido comentar que o próprio Williamson, ao longo <strong>de</strong> seus trabalhos,<br />

está predominant<strong>em</strong>ente preocupado com as críticas <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> neoclássica.<br />

3


seleção. Isso porque víamos a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dois enfoques para trabalhar sobre as fontes<br />

críticas: uma distinção por t<strong>em</strong>as (e.g., uma seção para análise das críticas ao suposto<br />

comportamental <strong>de</strong> oportunismo), ou uma distinção por correntes do pensamento<br />

econômico (e.g., uma seção que reunisse os vários t<strong>em</strong>as críticas oriundos <strong>de</strong> autores neo-<br />

schumpeterianos) e cada uma das alternativas tinha seus <strong>de</strong>safios peculiares. Em várias<br />

ocasiões fomos encorajados a trabalhar com a segunda alternativa e, por isso, enfrentar o<br />

<strong>de</strong>safio <strong>de</strong> qualificar os autores <strong>de</strong> acordo com suas bases teórica e metodológica, o que na<br />

maior parte dos casos constituiu tarefa complicada, cujo resultado n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre pô<strong>de</strong> ser<br />

justo o suficiente para revelar todas as nuances e a amplitu<strong>de</strong> da obra <strong>de</strong> alguns <strong>de</strong>les.<br />

Contando com alguma paciência e tolerância acadêmica para a compreensão <strong>de</strong> tal<br />

obstáculo, foi o rumo escolhido, e por conseqüência reservamos um capítulo para a análise<br />

das críticas que se divi<strong>de</strong> <strong>em</strong> quatro seções, cada uma reservada para diferentes linhas <strong>de</strong><br />

pensamento: autores evolucionistas (ou neo-schumpeterianos), da economia política,<br />

institucionalistas norte-americanos ("legítimos", do "velho estilo", ou "originais") 4 e<br />

neoclássicos.<br />

Vale notar que nosso intuito não é apresentar ou elaborar para cada uma das seções<br />

a teoria das instituições ou das firmas <strong>de</strong> cada corrente, como corpos teóricos fechados e<br />

alternativos à TCT, mas os el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong>sta que tais correntes consi<strong>de</strong>ram probl<strong>em</strong>áticos e<br />

que <strong>de</strong>veriam ser modificados ou abandonados, ou ter seu tratamento aprofundado, e suas<br />

explicações para tanto. Quando avaliávamos o enfoque <strong>de</strong> pesquisa por t<strong>em</strong>as, como<br />

mencionado há pouco, víamos outras oportunida<strong>de</strong>s e dificulda<strong>de</strong>s distintas das que<br />

acabamos enfrentando, <strong>de</strong>ntre as quais a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reunir as correntes não ortodoxas<br />

por sua afinida<strong>de</strong> metodológica <strong>em</strong> torno do não reducionismo. Como sugerido por<br />

FERNÁNDEZ (1996a, p. 159, nota <strong>de</strong> rodapé 8), parece haver uma crescente simpatia nos<br />

diversos programas <strong>de</strong> pesquisa críticos ao mainstream neoclássico <strong>em</strong> enfatizar suas<br />

s<strong>em</strong>elhanças e sobre elas trabalhar<strong>em</strong>, po<strong>de</strong>ndo isso resultar - voluntariamente ou não -,<br />

numa linha única <strong>de</strong> pensamento (<strong>em</strong>bora provavelmente complexa e eclética, com os<br />

4 Como tratados por Sherry Melecki no informativo da Association for Evolutionary<br />

Economics - AFEE News, vol. 3, n. 1, <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1996. A AFEE é a organização que reúne os<br />

principais pesquisadores <strong>de</strong>sta linha.<br />

4


<strong>de</strong>vidos méritos a uma ciência econômica realmente social) alternativa àquele. 5 E, neste<br />

caminho, estaríamos tentados a elaborar algo como uma "síntese não reducionista" da<br />

teoria da firma, o que seria bastante ousado para uma dissertação <strong>de</strong> mestrado. Essa<br />

proposição negativista também afetou a escolha pelo outro caminho, mas não <strong>de</strong> forma<br />

<strong>de</strong>soladora. Pelo contrário, a linha que seguimos permitiu constatar quão variados são os<br />

pontos <strong>de</strong> contato entre as correntes não ortodoxas <strong>em</strong> suas críticas à TCT, fazendo mais<br />

sólida a idéia da síntese, ou pelo menos da elaboração <strong>de</strong> agendas <strong>de</strong> pesquisas cujos focos<br />

possam <strong>em</strong> boa parte coincidir. A partir disso, a discussão teórica e os trabalhos <strong>em</strong>píricos<br />

<strong>de</strong>correntes po<strong>de</strong>m ser mais frutíferos, já que menos dispersos.<br />

Uma pequena digressão sobre a insatisfação para com o mainstream neoclássico<br />

Po<strong>de</strong>mos nesta altura tornar mais explícito um outro el<strong>em</strong>ento propulsor <strong>de</strong>sta pes-<br />

quisa: uma já conhecida insatisfação com relação à microeconomia tradicional, bastante<br />

comum entre aqueles com uma formação acadêmica não ortodoxa (on<strong>de</strong> nos incluímos),<br />

<strong>em</strong>bora não restrito a eles. O incômodo t<strong>em</strong> orig<strong>em</strong> na abordag<strong>em</strong> padronizada que aquela<br />

aplica às organizações, resumindo-as basicamente a funções <strong>de</strong> produção b<strong>em</strong> comporta-<br />

das, consi<strong>de</strong>rando procedimentos homogêneos <strong>de</strong> otimização, adotando um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

comportamento humano <strong>em</strong> que os agentes <strong>de</strong>têm uma racionalida<strong>de</strong> global ou substantiva<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um mundo s<strong>em</strong> incerteza (ou que po<strong>de</strong> ser resumido a eventos com diferentes<br />

probabilida<strong>de</strong>s <strong>em</strong> distribuições conhecidas), e tomam <strong>de</strong>cisões in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes no t<strong>em</strong>po.<br />

Tal incômodo v<strong>em</strong> há muito manifesto na chamada "controvérsia marginalista." 6<br />

Compartilhando a inquietação, acreditamos ser útil avançar <strong>em</strong> outros níveis <strong>de</strong> análise,<br />

como julgamos ser o caso para o nível das transações, como forma <strong>de</strong> jogar luzes <strong>de</strong>ntro<br />

(ou tornar menos opacas as pare<strong>de</strong>s) da "caixa-preta" apresentada pela teoria tradicional. 7<br />

5<br />

Não obstante possa, ao contrário, resultar numa dispersão infrutífera <strong>de</strong> esforços, enquanto<br />

<strong>de</strong>veriam ser agrupados para a superação <strong>de</strong>finitiva dos postulados neoclássicos, como sugerido por<br />

Philip Mirowski (citado por FERNÁNDEZ, 1995, p. 4-5).<br />

6<br />

Para uma apresentação da "controvérsia marginalista", vi<strong>de</strong> A. KOUTSOYIANNIS (1979,<br />

cap. 11).<br />

7<br />

Como evi<strong>de</strong>nciam HAMILTON e FEENSTRA (1995, p. 57): "We believe, however, that,<br />

in the study of economic organization, a transactional level is necessary, because it represents a<br />

level of analysis in which economic action can be conceptualized in subjectively meaningful<br />

terms.[...] It is the duality of market and hierarchy, a duality between price and the entrepreneur as<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt but interrelated mo<strong>de</strong>s for organizing market activities, that serves as the basis for<br />

5


Mas esse é também o motivo <strong>de</strong> termos reservado uma seção <strong>de</strong> críticas à TCT para os<br />

economistas mais próximos à teoria neoclássica tradicional.<br />

Como observamos há pouco, a TCT é vista por alguns como pura extensão da<br />

teoria neoclássica da firma, enquanto outros a vê<strong>em</strong> com uma base dividida - um pé sobre<br />

os alicerces tradicionais e o outro sobre alicerces próprios, externos à ortodoxia - como,<br />

aliás, po<strong>de</strong> ser ocasionalmente interpretada a posição do próprio Williamson<br />

(WILLIAMSON, 1989, p. 178; vi<strong>de</strong> também DUGGER, 1994, p. 378, e ainda MILLER,<br />

1993, p. 1043), <strong>em</strong> meio à sua freqüente ambigüida<strong>de</strong> - discutida <strong>em</strong> várias ocasiões ao<br />

longo <strong>de</strong>ste trabalho. Interpretar a TCT como um bloco teórico neoclássico que incursiona<br />

<strong>em</strong> hipóteses mais realistas ou como um bloco não ortodoxo que procura a aceitação no<br />

mainstream po<strong>de</strong> resultar numa discussão interminável, po<strong>de</strong>ndo obscurecer os insights<br />

por ela proporcionados para o estudo das organizações. A <strong>de</strong>speito da direção <strong>em</strong> que<br />

surjam, são justamente as diferenças com relação ao mainstream que <strong>de</strong>spertam as<br />

principais expectativas <strong>de</strong> avanço, já que parec<strong>em</strong> abrir "prece<strong>de</strong>ntes" para incursões não<br />

ortodoxas, mesmo que os braços da teoria neoclássica tent<strong>em</strong> ainda reter ou tratar os novos<br />

insights como acréscimos <strong>em</strong> seu corpo teórico, principalmente através da manutenção <strong>de</strong><br />

seu "núcleo rígido", com maior formalização e <strong>em</strong> acordo com sua visão positiva e aditiva<br />

do conhecimento. O próprio Williamson, tendo por base a alegação da complexida<strong>de</strong> da<br />

TCT relacionada à, ou mesmo imposta pela, interdisciplinarida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua abordag<strong>em</strong> (e, a<br />

nosso ver, o seu usual comportamento não afrontador), <strong>de</strong>ixa uma lacuna ao mesmo t<strong>em</strong>po<br />

coerente - posto que não preten<strong>de</strong> com a TCT elaborar um compêndio da humanida<strong>de</strong> -,<br />

retoricamente protetora, e também convidativa ao afirmar: "transaction cost economics<br />

should often be used in addition to, rather to the exclusion of, alternative approaches"<br />

(WILLIAMSON, 1985, p. 18).<br />

Uma consi<strong>de</strong>ração importante a ser feita é que, quer sejam consi<strong>de</strong>radas recentes<br />

abordagens completamente divergentes da ortodoxia, como <strong>em</strong> POSSAS (1993a e 1993b),<br />

ou outras ainda nelas enraizadas, como <strong>em</strong> NORTH (1993a,b) e BATES (1993), busca-se<br />

revigorar a interação entre os indivíduos, as firmas e o ambiente institucional <strong>em</strong> que<br />

atuam. A <strong>de</strong>speito das gran<strong>de</strong>s diferenças, é relevante notar a preocupação <strong>em</strong> dinamizar as<br />

Coase's original conceptualization, and without the duality, the conceptualization is strictly a onehan<strong>de</strong>d<br />

approach to economic analysis".<br />

6


elações entre as organizações e consi<strong>de</strong>rar os feedbacks da mudança ambiental ou<br />

institucional. Embora esta não seja a preocupação <strong>de</strong> Williamson, seu propósito parece<br />

conter outra incumbência relevante como parte da análise institucional, qual seja, a <strong>de</strong><br />

erigir microfundamentos mais consistentes que os prevalecentes no mainstream<br />

neoclássico, e conseguir legitimá-los. WILLIAMSON (1985, p. 15) alega que "The<br />

wi<strong>de</strong>spread conception of the mo<strong>de</strong>rn corporation as a 'black box' is the epitome of the<br />

noninstitutional (or pre-microanalytic) research tradition".<br />

Sobre a organização e a apresentação da dissertação<br />

Em particular, este é um trabalho que recorre com freqüência a referências e<br />

citações, como se po<strong>de</strong>ria esperar pela natureza da pesquisa. Ao longo <strong>de</strong> sua elaboração,<br />

duas peculiarida<strong>de</strong>s se fizeram apresentar. A primeira foi encontrar espaço para autores<br />

que, apesar <strong>de</strong> ter<strong>em</strong> clara afinida<strong>de</strong> com uma <strong>de</strong>terminada corrente, não confinam suas<br />

críticas particulares ao que é plural ou "consensual" <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la, muitas vezes abordando<br />

questões tratadas com maior ênfase e <strong>de</strong> forma generalizada por outra corrente. Para que<br />

não foss<strong>em</strong> por tal motivo tolhidos, o recurso das notas <strong>de</strong> rodapé não foi poupado,<br />

cumprindo um pouco mais que seu papel tradicional <strong>de</strong> indicações e referências<br />

bibliográficas e colaborando para um insight interessante - a evidência <strong>de</strong> muitas<br />

sobreposições críticas nas correntes do pensamento econômico não ortodoxas aqui<br />

tratadas. Nos rodapés também serão apresentados eventuais comentários <strong>de</strong> autores ligados<br />

à TCT, geralmente quando há uma contra argumentação para as críticas. Algumas <strong>de</strong><br />

nossas próprias contribuições para o <strong>de</strong>bate eventualmente estarão nos rodapés, para que as<br />

seções possam cumprir na maior parte do t<strong>em</strong>po o papel <strong>de</strong> mostrar a opinião particular<br />

dos respectivos responsáveis por suas epígrafes. No entanto, como se po<strong>de</strong> imaginar, isso<br />

n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre foi possível. Esforçamo-nos para distinguir (sintaticamente) b<strong>em</strong> nossas<br />

incursões no <strong>de</strong>bate, e esperamos que a intenção tenha sido útil e minimamente cumprida.<br />

De volta ao conteúdo, e <strong>em</strong> síntese, po<strong>de</strong>mos dizer que a TCT t<strong>em</strong> uma trajetória <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento marcada por duas obras principais. A primeira <strong>de</strong>las, reconhecida como a<br />

obra originária, é o artigo <strong>de</strong> Ronald Coase na revista Economica, <strong>em</strong> 1937, intitulado<br />

"The Nature of the Firm". E a segunda é "Markets and Hierarchies: analysis and antitrust<br />

7


implications", livro <strong>de</strong> Oliver Eaton Williamson, publicado <strong>em</strong> 1975. Dito isso, vejamos o<br />

que trata cada um dos quatro capítulos que se segu<strong>em</strong> a este introdutório.<br />

O capítulo 2 é <strong>de</strong>dicado a apresentar uma ambientação do surgimento e primeiros<br />

passos das idéias referentes aos custos <strong>de</strong> transação a partir <strong>de</strong> uma revisão do artigo<br />

s<strong>em</strong>inal <strong>de</strong> Ronald Coase (COASE, 1937). V<strong>em</strong>os que o próprio COASE (1991) é autor <strong>de</strong><br />

alguns comentários incomodados sobre o reconhecimento da importância <strong>de</strong> sua obra, no<br />

discurso <strong>de</strong> seu laureamento com o Nobel <strong>de</strong> <strong>Economia</strong>, <strong>em</strong> 1991. Segundo ele, sua obra<br />

passou muito t<strong>em</strong>po sendo citada <strong>em</strong> trabalhos das mais variadas áreas, mas nunca <strong>de</strong> fato<br />

utilizada para <strong>de</strong>senvolvimentos da ciência econômica; e também disse sentir-se numa<br />

experiência estranha, como octogenário, sendo pr<strong>em</strong>iado por um trabalho que fez aos seus<br />

20 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> (cf. SIFFERT FILHO, 1995, p. 108). 8 Embora COASE (1937, p. 404)<br />

argumente que sua teoria (ainda não usando o termo "custos <strong>de</strong> transação", introduzido três<br />

décadas <strong>de</strong>pois por Harold DEMSETZ, 1968, p. 33) encaixa-se na abordag<strong>em</strong> tradicional<br />

<strong>de</strong> análise da firma e possa ser operacionalizada pelo instrumental marginalista, os<br />

<strong>de</strong>senvolvimentos da microeconomia neoclássica neste longo intervalo <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po não<br />

levaram <strong>em</strong> conta suas idéias, <strong>de</strong>tendo-se ao que chamou <strong>de</strong> "abordag<strong>em</strong> da teoria dos<br />

preços aplicada" (COASE, 1972, citado por WILLIAMSON, 1987a, p. 808).<br />

O capítulo 3 apresenta o resgate da idéia <strong>de</strong> Coase e o seu <strong>de</strong>senvolvimento na<br />

construção da TCT por Oliver Williamson a partir dos anos 70. Williamson retoma a idéia<br />

dos custos <strong>de</strong> transação e sobre ela trabalha com o objetivo <strong>de</strong> construir uma teoria mais<br />

elaborada da orig<strong>em</strong> e do movimento dos limites das firmas <strong>em</strong> relação aos mercados. O<br />

capítulo concentra-se justamente nos fundamentos básicos da TCT, ou seja, nos<br />

condicionantes essenciais do mo<strong>de</strong>lo. Em 1975, o livro "Markets and Hierarchies...",<br />

mostra <strong>em</strong> seus quatro primeiros capítulos as bases do mo<strong>de</strong>lo econômico que estava a<br />

<strong>de</strong>senvolver (centrado na idéia <strong>de</strong> que mercados e hierarquias são formas alternativas <strong>de</strong><br />

organizar a produção capitalista), utilizando-as nos capítulos seguintes para explicar<br />

fenômenos <strong>em</strong>píricos, como por ex<strong>em</strong>plo a integração vertical e a forma "M"<br />

8 Coase tinha 21 anos quando terminou a primeira versão <strong>de</strong> "The Nature of the Firm", <strong>em</strong><br />

1931, ainda antes <strong>de</strong> ser graduado pela London School of Economics, o que aconteceu um ano<br />

<strong>de</strong>pois. A primeira versão do artigo foi submetida à revista Economica numa viag<strong>em</strong> <strong>de</strong><br />

intercâmbio acadêmico feita por Coase aos Estados Unidos naquele ano, mas a versão final só foi<br />

publicada <strong>em</strong> 1937. Para maiores <strong>de</strong>talhes, vi<strong>de</strong> CHEUNG (1983, p. 1-2, e 1987a, p. 455).<br />

8


(multidivisional) <strong>de</strong> estrutura das firmas. O tamanho <strong>em</strong> si da firma é limitado por sua<br />

capacida<strong>de</strong> não só <strong>de</strong> produzir um b<strong>em</strong> com menores custos que aqueles incorridos na<br />

produção atomizada no mercado, mas <strong>em</strong> ter menores custos, somados, <strong>de</strong> produção e <strong>de</strong><br />

transação - que correspon<strong>de</strong>m aos custos incorridos na transferência <strong>de</strong> um b<strong>em</strong> entre<br />

interfaces tecnologicamente distintas. Seus trabalhos ganham ainda mais fôlego na obra<br />

"The Economic Institutions of Capitalism", publicada <strong>em</strong> 1985, muito <strong>em</strong>bora já tenham<br />

influenciado anteriormente vários outros autores a buscar tanto <strong>de</strong>senvolvimentos teóricos<br />

incr<strong>em</strong>entais como meios <strong>de</strong> operacionalização e testes <strong>em</strong>píricos. Nessa obra, a TCT<br />

alcança maiores refinamentos, <strong>em</strong>bora sua estrutura seja s<strong>em</strong>elhante à obra <strong>de</strong> 1975,<br />

utilizando mais espaço para explicar o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho <strong>de</strong> diversas instituições capitalistas, e<br />

<strong>em</strong> particular o movimento ou evolução dos limites da firma. 9 Sua recente obra, intitulada<br />

"The Mechanisms of Governance", completa a trilogia <strong>de</strong> seu programa <strong>de</strong> pesquisas sobre<br />

integração vertical, iniciado <strong>em</strong> 1971.<br />

Além da óbvia distinção intelectual, um outro fator que acreditamos ter<br />

impulsionado a TCT foi o espaço <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate conseguido com a Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Chicago.<br />

Oliver Williamson estava na Universida<strong>de</strong> da Pensilvânia quando <strong>de</strong>flagrou seu markets<br />

and hierarchies research program e hoje está <strong>em</strong> Berkeley, na Universida<strong>de</strong> da Califórnia,<br />

e não t<strong>em</strong> características estritas dos pesquisadores <strong>de</strong> Chicago. 10 No entanto, sua<br />

"estratégia" <strong>de</strong> abordag<strong>em</strong> e apresentação das idéias costumava incluir algumas<br />

formalizações <strong>em</strong> situações <strong>de</strong> reducionismo "perigoso" 11 e constantes referências aos<br />

economistas natos daquele centro - como o próprio R. Coase, K. Arrow, A. Alchian, H.<br />

D<strong>em</strong>setz, G. Stigler, <strong>de</strong>ntre outros. De qualquer modo, Williamson conseguiu estabelecer<br />

linhas <strong>de</strong> diálogo que resultaram <strong>em</strong> referências constantes ao seu trabalho com a TCT e,<br />

<strong>de</strong>ssa forma, na divulgação <strong>de</strong> suas idéias. Mas teve também o cuidado suficiente <strong>de</strong><br />

estabelecer pontes com outras linhas <strong>de</strong> pesquisa ou grupos teóricos não (tanto) ortodoxos<br />

9<br />

Segundo WILLIAMSON (1996a, p. 18), sua recente obra, intitulada "The Mechanisms of<br />

Governance", completa a trilogia do <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> seu programa <strong>de</strong> pesquisas sobre integração<br />

vertical, iniciado <strong>em</strong> 1971.<br />

10<br />

Apesar <strong>de</strong> sua Tese <strong>de</strong> Doutoramento centrar-se <strong>em</strong> conteúdo formal e estudos<br />

econométricos.<br />

11<br />

Embora RUTHERFORD (1996, p. 174) consi<strong>de</strong>re Williamson um dos <strong>de</strong>fensores da<br />

abordag<strong>em</strong> "literária", <strong>em</strong> oposição a uma abordag<strong>em</strong> mais formalista <strong>de</strong>ntro da própria NEI.<br />

9


- evitando a clausura acadêmica e conquistando espaços <strong>de</strong> divulgação para um público<br />

diverso.<br />

Isso, entretanto, foi também motivo para que se focalizass<strong>em</strong> com maior rapi<strong>de</strong>z<br />

críticas à nova abordag<strong>em</strong>. Williamson, por ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong> vários trabalhos (1985, p. 3;<br />

1989, p. 137; 1993, p. 109; 1996a, p. 12) reconhece <strong>em</strong> John R. Commons, economista<br />

i<strong>de</strong>ntificado com a Escola Institucionalista norte-americana, as raízes <strong>de</strong> suas idéias sobre a<br />

transação como foco <strong>de</strong> análise, e isso t<strong>em</strong> sido fonte <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> um canal bastante<br />

particular <strong>de</strong> críticas elaboradas por pensadores cont<strong>em</strong>porâneos daquela tradição. Outras<br />

vêm <strong>de</strong> caminhos diversos, comumente relacionadas às pontes neoclássicas mantidas na<br />

TCT, mas a elas não se resum<strong>em</strong>. De modo geral, como expressa PITELIS (1993b, p. 12):<br />

Despite the wi<strong>de</strong>ly acknowledged as revolutionary contribution of the TCMH<br />

(transaction costs, markets and hierarchies) perspective (or because of that), it has<br />

also become the subject matter of substantial criticism, from a number of<br />

perspectives. Such criticism concern either the general framework, or particular<br />

applications of it, in particular those of Oliver Williamson.<br />

No capítulo 4, então, apresentamos as seções <strong>de</strong> conteúdo crítico à TCT, sendo esta<br />

i<strong>de</strong>ntificada com a estrutura teórica elaborada por Williamson. 12 L<strong>em</strong>bramos que não há a<br />

intenção <strong>de</strong> apresentar as teorias alternativas <strong>de</strong>rivadas <strong>de</strong> cada uma das correntes do<br />

pensamento econômico analisadas, muito <strong>em</strong>bora seus el<strong>em</strong>entos encontr<strong>em</strong>-se implícitos<br />

nas críticas. Não vimos também a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pormenorizar as características principais<br />

<strong>de</strong> cada uma das correntes, já que a distinção feita exprime vertentes há algum t<strong>em</strong>po já<br />

consolidadas <strong>em</strong> seus programas <strong>de</strong> pesquisa e reconhecidas amplamente no espaço<br />

acadêmico. Ter<strong>em</strong>os então, respectivamente, as seções que reún<strong>em</strong> críticas evolucionistas<br />

(neo-schumpeterianas), da economia política, do institucionalismo "original", e do<br />

neoclassicismo. E, por fim, o capítulo 5 é o das conclusões, on<strong>de</strong> tentar<strong>em</strong>os <strong>de</strong>stacar as<br />

interseções das críticas não ortodoxas e as evidências potenciais <strong>de</strong> uma agenda <strong>de</strong><br />

pesquisa pluralista para a teoria da firma.<br />

12 Por esse motivo preferimos tratar tal estrutura teórica por Teoria dos Custos <strong>de</strong> Transação,<br />

e não <strong>Economia</strong> dos Custos <strong>de</strong> Transação (como prefer<strong>em</strong> vários autores) para evi<strong>de</strong>nciar nossa<br />

linha <strong>de</strong> pesquisa, e também por enten<strong>de</strong>r que várias das críticas (e seus respectivos autores)<br />

direcionam-se exclusivamente à Teoria dos Custos <strong>de</strong> Transação, sendo porém passíveis <strong>de</strong><br />

incorporação à uma estrutura teórica mais ampla e abrangente - à qual, então, chamaríamos<br />

<strong>Economia</strong> dos Custos <strong>de</strong> Transação.<br />

10


2 AS IDÉIAS ORIGINAIS DE COASE<br />

Embora Coase tenha escrito vários outros artigos após "The Nature..." , <strong>em</strong> nenhum<br />

<strong>de</strong>les voltou a esmiuçar o t<strong>em</strong>a dos custos <strong>de</strong> transação, ainda que não <strong>de</strong>ixasse <strong>de</strong> se preo-<br />

cupar com os custos <strong>de</strong> forma geral e com as diversas formas <strong>em</strong> que podiam ser<br />

percebidos, como sugere CHEUNG (1987a, p. 456). Parece que os economistas <strong>em</strong> seu<br />

meio estavam mais preocupados com a obra <strong>de</strong> Pareto e outros assuntos, não tendo<br />

<strong>de</strong>spertado para os insights <strong>de</strong> Coase, que se voltou para outros t<strong>em</strong>as, como o setor <strong>de</strong><br />

telecomunicações e os direitos <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>. Ou como argumenta Paulo AZEVEDO<br />

(1996, p. 5) sobre tal <strong>de</strong>satenção: "Em parte isso se <strong>de</strong>veu à forte inércia que conduzia o<br />

pensamento econômico por ocasião da publicação <strong>de</strong> The Nature of the Firm [...], <strong>de</strong> tal<br />

modo que uma idéia radicalmente nova dificilmente reverteria <strong>de</strong> imediato o curso da<br />

pesquisa econômica".<br />

Já nos Estados Unidos, na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Virgínia, Coase publica <strong>em</strong> 1959 o<br />

artigo The Fe<strong>de</strong>ral Communications Commission, que é o resultado da linha <strong>de</strong> estudos<br />

que acabou tomando, no Journal of Law and Economics, publicação que acabara <strong>de</strong> ser<br />

lançada pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Chicago, e que acaba por aproximá-lo daquela aca<strong>de</strong>mia. Os<br />

<strong>de</strong>bates que resultaram <strong>de</strong>ssa aproximação inspiraram novo artigo, "The Probl<strong>em</strong> of Social<br />

Cost", publicado <strong>em</strong> 1960 pela mesma revista. Nele está <strong>de</strong>senvolvida a idéia <strong>em</strong> que as<br />

condições iniciais dos direitos <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> - ou seja, qu<strong>em</strong> quer que eles favoreçam -<br />

não são importantes numa perspectiva <strong>de</strong> eficiência da alocação <strong>de</strong> recursos (<strong>em</strong>bora o<br />

sejam na ótica da distribuição da renda), <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que: i) seja possível negociá-los livr<strong>em</strong>ente;<br />

ii) os custos <strong>de</strong> trocá-los ou transacioná-los seja nulo; e iii) os mercados sejam<br />

competitivos. Essa idéia ficou conhecida como o Teor<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Coase (COOTER, 1987, p.<br />

459). Como se percebe, os custos <strong>de</strong> transação são abordados parcialmente no artigo, que<br />

t<strong>em</strong> ênfase num sist<strong>em</strong>a legal que reforce a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> negociação entre os agentes <strong>em</strong><br />

lugar <strong>de</strong>, através <strong>de</strong>le, intervir com modos centralizados <strong>de</strong> regulação das transações.<br />

Segundo Cheung, essa preocupação com o sist<strong>em</strong>a legal e os direitos <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> são os<br />

primeiros passos <strong>de</strong> pesquisas que resultariam na NEI.<br />

Volt<strong>em</strong>os, então, ao artigo <strong>de</strong> 1937. Nele fica expressa a insatisfação <strong>de</strong> Coase com<br />

o <strong>de</strong>scuido da teoria tradicional <strong>em</strong> tratar rotineiramente o sist<strong>em</strong>a econômico como auto-<br />

11


egulável pelo sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> preços, ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que pouca atenção <strong>de</strong>vota às firmas.<br />

Isso porque <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>stas a alocação dos fatores não se dá pelo mecanismo <strong>de</strong> preços e sim<br />

por um tipo diferente <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação da produção - geralmente por um <strong>em</strong>presário ou<br />

alguém por ele <strong>de</strong>legado, que exerce comando sobre as ativida<strong>de</strong>s. E, no entanto, a teoria<br />

tradicional estava incompleta por não procurar uma <strong>de</strong>finição particular e real das firmas,<br />

b<strong>em</strong> como, a partir daí, explicitar as hipóteses <strong>de</strong> sua natureza e sua lógica <strong>de</strong><br />

funcionamento.<br />

Portanto, fora da firma o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> preços é o fator <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação da alocação<br />

dos recursos, enquanto <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la o papel é exercido por uma autorida<strong>de</strong>. Coase <strong>de</strong>sse<br />

modo conclui que mercados e firmas são modos alternativos <strong>de</strong> dirigir a produção, e <strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> tal argumento é formulada a chamada "primeira pergunta coaseana"<br />

(COASE, 1937, p. 388): "Yet, having regard to the fact that if production is regulated by<br />

price mov<strong>em</strong>ents, production could be carried on without any organisation at all, well<br />

might we ask, why is there any organisation?"<br />

O principal motivo, diz <strong>em</strong> sua resposta, é que há custos <strong>em</strong> utilizar o mecanismo<br />

<strong>de</strong> preços. O primeiro <strong>de</strong>les é justamente o <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir quais são os preços relevantes<br />

(consi<strong>de</strong>rações sobre informação incompleta não ficam explícitas), enquanto outros se re-<br />

fer<strong>em</strong> à negociação e formulação dos contratos que acompanham cada transação. A propó-<br />

sito, Coase não dá uma <strong>de</strong>finição precisa <strong>de</strong> "transação", mas usa predominant<strong>em</strong>ente o<br />

termo exchange transaction (1937, p. 388, 391, 393, 395, 396, 402, e 403, por ex<strong>em</strong>plo)<br />

que dá a enten<strong>de</strong>r estar consi<strong>de</strong>rando <strong>de</strong> uma forma geral as trocas <strong>de</strong> bens e serviços.<br />

A orig<strong>em</strong> da firma, <strong>de</strong>sse modo, se <strong>de</strong>ve ao fato <strong>de</strong> haver custos <strong>em</strong> negociar nos<br />

mercados que po<strong>de</strong>m ser evitados ou reduzidos ao se organizar a produção <strong>de</strong> um <strong>de</strong>termi-<br />

nado b<strong>em</strong> ou serviço através <strong>de</strong> relações <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> ou sob o comando <strong>de</strong> um coor<strong>de</strong>na-<br />

dor que direciona a alocação dos recursos. Muito <strong>em</strong>bora os contratos não <strong>de</strong>ix<strong>em</strong> <strong>de</strong><br />

existir <strong>de</strong>ntro da firma, principalmente os <strong>de</strong> trabalho, a sua flexibilida<strong>de</strong> é muito maior -<br />

pois não incorr<strong>em</strong> <strong>em</strong> <strong>de</strong>talhamentos, geralmente <strong>de</strong>terminando apenas os limites das ações<br />

<strong>de</strong> comando e acatamento entre as partes - e sua renegociação <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser feita a cada<br />

or<strong>de</strong>m ou serviço cumprido. Dessa forma, é mais provável que a firma surja <strong>de</strong> relações<br />

para as quais contratos complexos e <strong>de</strong> curto prazo sejam insatisfatórios. Isso se intensifica<br />

principalmente diante das dificulda<strong>de</strong>s dos agentes <strong>em</strong> prever os acontecimentos futuros,<br />

12


quando, pela natureza incompleta dos contratos e pela indiferença do contratado para os<br />

serviços <strong>em</strong> agir <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> tarefas (não pré-<strong>de</strong>terminadas explicitamente no<br />

contrato mas que lhe são aceitáveis, como foi posteriormente sugerido por SIMON, 1957 e<br />

1991), o contratante po<strong>de</strong> direcionar com alguma in<strong>de</strong>pendência o curso das ações diante<br />

<strong>de</strong> novas contingências (COASE, 1937, p. 391-2). 13<br />

Por outro lado, seguindo a lógica do argumento, se exist<strong>em</strong> custos nas transações<br />

<strong>de</strong> mercado, por que ele não foi totalmente superado pela coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong>ntro da firma?<br />

Essa é a "segunda pergunta Coaseana," apresentada originalmente da seguinte forma<br />

(COASE, 1937, p. 394): "A pertinent question to ask would appear to be [...] why, if by<br />

organising one can eliminate certain costs and in fact reduce the cost of production, are<br />

there any market transactions at all. Why is not all production carried on by one big firm?"<br />

Desta vez, a resposta v<strong>em</strong> <strong>em</strong> partes: <strong>em</strong> primeiro lugar, há retornos <strong>de</strong>crescentes<br />

na ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> administração (diminishing returns to manag<strong>em</strong>ent) com a agregação <strong>de</strong><br />

mais transações pela firma. 14 Em segundo, <strong>em</strong>presários ou coor<strong>de</strong>nadores ten<strong>de</strong>m a errar<br />

mais na alocação dos fatores quando um número crescente <strong>de</strong> transações é colocado sob<br />

seu comando; não há, porém, maiores consi<strong>de</strong>rações sobre o que mais tar<strong>de</strong> Herbert Simon<br />

chamaria <strong>de</strong> racionalida<strong>de</strong> limitada, ou ainda mais: segundo BERGERON (1996, p. 139 e<br />

143), n<strong>em</strong> mesmo tal argumento permite a Coase fugir da racionalida<strong>de</strong> substantiva<br />

13 Para LANGLOIS e FOSS, N. (1997, p. 11, grifo original), "Coase's explanation for the<br />

<strong>em</strong>ergence of the firm is ultimately a coordination one: the firm is an institution that lowers the<br />

costs of qualitative coordination in a world of uncertainty." Coase, no entanto, faz uma<br />

contraposição a Knight <strong>em</strong> sua explicação da orig<strong>em</strong> da firma principalmente (mas não<br />

unicamente) <strong>em</strong> função da incerteza radical. Por isso, HODGSON (1988, p. 205) argumenta que a<br />

interpretação <strong>de</strong> Langlois, <strong>em</strong>bora saudável por incluir o conceito <strong>de</strong> incerteza radical como<br />

necessário para a explicação da existência das firmas, apóia a tese que Coase contrariava. Isso,<br />

entretanto, não invalida os esforços <strong>de</strong> Coase e, principalmente, <strong>de</strong> Williamson: "Transaction costs<br />

may or may not r<strong>em</strong>ain an intermediate category in the argument. But it is clear [...] that<br />

transactions costs are not sustainable without some concept of radical uncertainty, and this, either<br />

directly or indirectly, se<strong>em</strong>s to be necessary to explain the existence of the firm" (HODGSON,<br />

1988, p. 205).<br />

14 Tal argumento não parece encontrar sustentação segundo PENROSE (1987, p. 562): "as a<br />

firm [grow] there [is] no evi<strong>de</strong>nce that its administrative capacity could not grow accordingly."<br />

GROSSMAN e HART (1986, p. 692, nr. 1) diz<strong>em</strong> ser o argumento nada convincente "[...] since the<br />

owner [of the firm] could always hire another manager." AOKI (1986, p. 974) também refuta o<br />

argumento <strong>de</strong> Coase, alegando que o mesmo "is unconvincing [...] because organizational<br />

innovation such as the multidivisional form may overcome this limit." A forma "M" é o principal<br />

ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> evidências que apontam para uma gran<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> inovativa nos métodos <strong>de</strong><br />

administração <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s firmas, como <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m WILLIAMSON (1975) e CHANDLER (1962).<br />

13


(normativa) já que mesmo diante <strong>de</strong> tais dificulda<strong>de</strong>s o <strong>em</strong>presário consegue <strong>de</strong>limitar as<br />

ativida<strong>de</strong>s da firma on<strong>de</strong> seus custos marginais se igualam aos <strong>de</strong> usar o mercado. E <strong>em</strong><br />

terceiro lugar, alguns fatores <strong>de</strong> produção têm seu preço <strong>de</strong> oferta elevados <strong>em</strong> função do<br />

próprio crescimento da firma (um argumento não facilmente comprovável e que não mais<br />

tomaria a atenção <strong>de</strong> Coase <strong>em</strong> seus trabalhos posteriores, cf. CHEUNG, 1987a, p. 456).<br />

A característica distintiva da firma é, <strong>em</strong> suma, assumir a supressão do mecanismo<br />

<strong>de</strong> preços para coor<strong>de</strong>nar a produção, estando, entretanto, a ele s<strong>em</strong>pre ligada por<br />

ativida<strong>de</strong>s secundárias a seus propósitos ou através <strong>de</strong> custos e preços relativos ligados à<br />

diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transações das quais se incumbe. Isso implica consi<strong>de</strong>rar que na economia<br />

real as transações não são homogêneas e o grau <strong>de</strong> integração entre diferentes indústrias e<br />

mesmo firmas po<strong>de</strong> ser bastante diferenciado, e também que é s<strong>em</strong>pre possível reverter<br />

operações internalizadas para a utilização do sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> preços à medida <strong>em</strong> que os custos<br />

internos <strong>de</strong> uma dada transação se torn<strong>em</strong> mais elevados que os do mercado.<br />

Desse contexto surge a preocupação com os <strong>de</strong>terminantes do tamanho ou dos<br />

limites da firma, sendo estes vistos como a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transações que efetua<br />

internamente. 15 COASE (1937, p. 397) observa que os custos da organização interna estão<br />

ligados diretamente aos seguintes casos:<br />

1) aumento da dispersão espacial das transações organizadas pela firma;<br />

2) aumento da diversida<strong>de</strong> entre as transações incorporadas;<br />

3) aumento da probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudanças nos preços relevantes às ativida<strong>de</strong>s incorporadas.<br />

Além <strong>de</strong>sses fatores, os diferenciais <strong>de</strong> custos entre organização interna e recurso ao<br />

mercado, que levam à maior ou menor integração, estão sujeitos também aos efeitos<br />

<strong>de</strong>siguais das mudanças tecnológicas sobre cada uma das formas alternativas (Coase utiliza<br />

o termo inventions, ao que mais apropriadamente po<strong>de</strong>ria ser tratado pelo conceito<br />

schumpeteriano <strong>de</strong> "inovação" <strong>em</strong> seu sentido <strong>de</strong> aproveitamento econômico), e também<br />

ao tratamento diferenciado que governos ou autorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r po<strong>de</strong>m dar a firmas ou<br />

15 Para KHALIL (1996, p. 292), esta é a única preocupação com a qual o artigo <strong>de</strong> Coase<br />

po<strong>de</strong> se <strong>de</strong>ter: "Coase's 'The Nature of The Firm' ironically does not provi<strong>de</strong> a theory of the nature<br />

of the firm. [...]. [It] is about what makes certain transactions become incorporated within the firm<br />

rather than purchased. So Coase's approach is about the theory of the boundary of the firm rather<br />

than the theory of the nature of the firm, or the theory of intrafirm power."<br />

14


mercados <strong>em</strong> transações da mesma natureza, através, por ex<strong>em</strong>plo, <strong>de</strong> impostos <strong>em</strong> cascata<br />

ou controles <strong>de</strong> preços ou <strong>de</strong> cotas.<br />

Sendo possível à firma absorver ou <strong>de</strong>sm<strong>em</strong>brar transações, diz Coase, não é<br />

possível que seus limites estejam <strong>de</strong>terminados pela elevação do custo marginal à igual-<br />

da<strong>de</strong> com a receita marginal da produção <strong>de</strong> um b<strong>em</strong>. Isso porque ela po<strong>de</strong> tornar-se<br />

multiprodutora (ou produtora <strong>de</strong> bens que po<strong>de</strong>m ser separáveis por uma transação <strong>de</strong><br />

mercado), ou seja, a qualquer t<strong>em</strong>po po<strong>de</strong> ser mais barato organizar a produção <strong>de</strong> um b<strong>em</strong><br />

diferente ou novo que continuar arcando com a produção <strong>de</strong> um mesmo b<strong>em</strong>, mesmo que o<br />

ponto <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> não tenha sido ainda atingido para ele. 16 Dessa forma, os limites <strong>de</strong><br />

expansão da firma estão <strong>de</strong>terminados pelo ponto <strong>em</strong> que os custos internos <strong>de</strong> organização<br />

da produção <strong>de</strong> um b<strong>em</strong> (custos <strong>de</strong> produção mais custos <strong>de</strong> administração das transações<br />

necessárias a esta) atinjam os custos <strong>de</strong> comprá-lo no mercado ou <strong>de</strong> outra firma (custos <strong>de</strong><br />

produção mais custos <strong>de</strong> transações necessárias à compra), prevalecendo entre estes<br />

últimos o que for menor. 17 É interessante notar que GRANOVETTER (1995, p. 94)<br />

esten<strong>de</strong> a noção <strong>de</strong> firma multiprodutora (como saída para os "limites tecnológicos"<br />

tradicionais) para a "firma multifirma", ao fazer uma analogia das perguntas coaseanas. 18<br />

Ao pesquisar a orig<strong>em</strong> e o processo <strong>de</strong> mudanças das re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cooperação entre firmas (por<br />

ele chamadas <strong>de</strong> business groups), Granovetter modifica as unida<strong>de</strong>s originais <strong>de</strong> análise:<br />

16 KAY (1987, p. 55) sugere que a TCT estruturada por Williamson continua explicando a<br />

firma multiprodutora: "Williamson (1975) discusses the evolution of hierarchy to cope with the<br />

probl<strong>em</strong>s of the multiproduct firm; however he does not utilise transaction cost analysis in a<br />

general approach to multiproduct combination <strong>de</strong>spite the fact that his framework is i<strong>de</strong>ally suited<br />

for this purpose." Alguns anos mais tar<strong>de</strong>, <strong>em</strong> 1992, Kay publica um artigo no Journal of Economic<br />

Behaviour and Organisation (JEBO), com críticas à TCT, e o JEBO publica na mesma edição uma<br />

réplica <strong>de</strong> Williamson, já na ocasião editor-associado da revista. Kay, convidado a preparar a<br />

tréplica, o faz, mas a mesma não é publicada. Um ano <strong>de</strong>pois, Kay aproveita para republicar o<br />

artigo (KAY, 1993), com incr<strong>em</strong>entos da tréplica não publicada, e acaba comentando o seguinte (p.<br />

252 - nosso grifo): "If Williamson's theory is applicable, then its <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nce on asset specificity<br />

suggests that it can only be with respect to the special case of the single product firm [...]."<br />

17 Consi<strong>de</strong>rando que distintos <strong>em</strong>presários organizam <strong>de</strong> forma também distinta a produção,<br />

implicando <strong>em</strong> custos diferentes entre as firmas (COASE, 1937, p. 403).<br />

18 GRANOVETTER (1995, p. 94) pergunta: "why is it that in every known capitalist<br />

economy, firms do not conduct business as isolated units, but rather form cooperative relations with<br />

other firms [?]" Essa é a questão que, por analogia à "primeira pergunta coaseana," Granovetter<br />

chama <strong>de</strong> "segunda pergunta coaseana" - ou seja, uma pergunta que Coase na realida<strong>de</strong> não fez.<br />

Embora não tenhamos a pretensão <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver nenhuma inovação terminológica, alguns<br />

parágrafos antes neste capítulo qualificamos a "segunda pergunta coaseana" como aquela que<br />

Coase realmente fez <strong>em</strong> compl<strong>em</strong>ento à primeira.<br />

15


"I imply that 'business group' is to firm as firm is to individual economic agent." Segundo<br />

ele, essa é uma dimensão intermediária (meso) <strong>de</strong> análise dos limites da firma que os<br />

cientistas sociais não têm conseguido enxergar, principalmente <strong>em</strong> função dos "vícios"<br />

teóricos relativos à separação macro/micro das relações e conceitos <strong>em</strong>pregados - e suas<br />

<strong>de</strong>correntes implicações na geração <strong>de</strong> dados e no direcionamento <strong>de</strong> políticas e controles<br />

legais.<br />

Embora a abordag<strong>em</strong> tradicional da firma não esteja preocupada com os probl<strong>em</strong>as<br />

da existência, dos limites e da estrutura interna da firma, a nova proposta <strong>de</strong> Coase induz a<br />

tais preocupações ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que se encontra à disposição das ferramentas<br />

marginalistas (1937, p. 404). 19 Segundo ele, o monitoramento das variáveis <strong>de</strong> limite pelos<br />

<strong>em</strong>presários permite que se estabeleça na prática uma posição <strong>de</strong> equilíbrio estático para o<br />

tamanho da firma. Acompanhando os fatores <strong>de</strong> mudança dos custos internos, citados<br />

acima, b<strong>em</strong> como os fatores (consi<strong>de</strong>rados, ao que parece) exógenos <strong>de</strong> mudança<br />

(imposições legais ou novas tecnologias), é possível traçar uma trajetória <strong>de</strong> equilíbrio<br />

móvel para a firma, observando seus movimentos <strong>de</strong> expansão e contração ao longo do<br />

t<strong>em</strong>po. 20<br />

19<br />

A respeito <strong>de</strong>ste ponto, MACHLUP (1967, p. 11) propõe que a firma neoclássica não<br />

precisa ser mais do que uma profit-maximizing reactor, e ainda com base <strong>em</strong> KRUPP (1963, apud<br />

MACHLUP, ibid.) afirma: "In economic analysis, the business firm is a postulate in a web of<br />

logical connections." Ou seja, não é necessário buscar <strong>de</strong>finições realistas ou precisas. A questão é<br />

simplificada por LANGLOIS e FOSS, N. (1997, p. 9-10): "using this sort of price theory [the<br />

theory of the firm with which Coase was confronted in the 1930s] to explain the existence,<br />

boundaries, or internal structure of the firm [...] can never be satisfactory; the theory simply isn't<br />

<strong>de</strong>signed to <strong>de</strong>al with those issues." Note-se que a visão neoclássica <strong>de</strong> Machlup continua com<br />

<strong>de</strong>fensores entusiastas, como HIRSHLEIFER (1988, apud MÉNARD, 1990, p. 7): "la firme est une<br />

unité artificielle."<br />

20<br />

Issso parece <strong>de</strong>ixar dúvidas sobre a afirmação feita por CHEUNG (1987a, p. 456) <strong>de</strong> que<br />

Coase antipatizava com a idéia <strong>de</strong> "equilíbrio."<br />

16


3 A TEORIA DOS CUSTOS DE TRANSAÇÃO<br />

17<br />

DE OLIVER WILLIAMSON<br />

De acordo com o próprio WILLIAMSON (1985, p. 16), há na década <strong>de</strong> 60 um<br />

ressurgimento do interesse pelas instituições na teoria econômica através dos novos<br />

trabalhos <strong>de</strong> Coase, Kenneth Arrow, Armen Alchian e Alfred Chandler. Claramente essa é<br />

uma opinião <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> esteve <strong>em</strong> estreito contato com a Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Chicago, e que os<br />

Institucionalistas da velha guarda ouviriam com algum <strong>de</strong>sdém. Seguindo, porém, o<br />

argumento, surgiram na década <strong>de</strong> 70 os primeiros trabalhos mais analíticos ou operativos<br />

sobre o assunto, <strong>de</strong>ntre os quais se apresenta Williamson com a Teoria dos Custos <strong>de</strong><br />

Transação, através do livro "Markets and Hierarchies."<br />

Embora essa seja a primeira obra a <strong>de</strong>screver a idéia, muitos outros textos que<br />

vieram a seguir trouxeram sumários da TCT, s<strong>em</strong>pre seguidos <strong>de</strong> refinamentos. Em "The<br />

Economic Institutions of Capitalism," os custos <strong>de</strong> transação estão apresentados <strong>de</strong> ma-<br />

neira mais abrangente, <strong>de</strong>ntro do que se preten<strong>de</strong> <strong>em</strong> uma teoria da evolução e<br />

funcionamento das instituições econômicas. Mais ainda, <strong>em</strong> seu artigo "Comparative<br />

Economic Organization..." (<strong>de</strong> 1991) Williamson absorve a concepção <strong>de</strong> formas<br />

"híbridas" <strong>de</strong> organização (já sugeridas <strong>em</strong> WILLIAMSON, 1987a) situadas entre<br />

mercados e hierarquias. Além disso, talvez como forma <strong>de</strong> difundir ainda mais sua teoria,<br />

Williamson apresenta <strong>em</strong> vários <strong>de</strong> seus artigos (1989, 1993 e 1995a, por ex<strong>em</strong>plo) uma<br />

introdução aos principais conceitos e relações da TCT. 21 Em "The Mechanisms of<br />

Governance" (<strong>de</strong> 1996), Williamson reúne 14 <strong>de</strong> seus artigos publicados na década que se<br />

seguiu a "The Economic Institutions of Capitalism," 22 consi<strong>de</strong>rando consolidado seu<br />

programa <strong>de</strong> pesquisas, <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> apresentar a estrutura básica da TCT e aprofundando<br />

o estudo combinado <strong>de</strong> economia, direito e organizações (WILLIAMSON, 1996a, p. 19).<br />

Segundo Williamson, as raízes <strong>de</strong> tal interdisciplinarida<strong>de</strong> voltam às primeiras<br />

décadas do século. Especificamente no campo da economia, Williamson realça seu<br />

21<br />

É interessante também notar que a TCT já encontra lugar <strong>em</strong> livros-texto <strong>de</strong> organização<br />

industrial para estudantes <strong>de</strong> graduação, como é o caso <strong>de</strong> CARLTON e PERLOFF (1994).<br />

22<br />

Com apenas uma exceção, que é nossa referência WILLIAMSON (1983), correspon<strong>de</strong>nte<br />

ao capítulo 5 <strong>de</strong> "The Mechanisms of Governance."


interesse pela discussão <strong>de</strong> Frank KNIGHT (1921) e Ronald COASE (1937) sobre a<br />

orig<strong>em</strong> das firmas 23 Em relação ao direito, confessa ter <strong>de</strong>sejado tornar-se advogado, e não<br />

economista, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a high-school; 24 <strong>em</strong>bora ele tenha se graduado <strong>em</strong> administração<br />

industrial (uma combinação <strong>de</strong> administração e engenharia), feito um MBA <strong>em</strong> Stanford, e<br />

finalmente seu PhD. no Carnegie Institute of Technology, com pitadas interdisciplinares <strong>de</strong><br />

economia e administração, ainda assim, não relegou o antigo interesse: Williamson explica<br />

ter sido profundamente influenciado pela leitura <strong>de</strong> Karl LLEWELLYN (1931), professor<br />

<strong>de</strong> Direito da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Columbia, que discorre sobre a importância dos contratos na<br />

socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna e sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> constituir uma estrutura básica para a interpretação<br />

das relações entre indivíduos (entre si) e grupos (entre si e com indivíduos). 25 Llewellyn<br />

po<strong>de</strong> ser visto como responsável pela ponte feita por Williamson entre o direito e a<br />

economia quando <strong>de</strong>senvolve a interpolação do "mundo dos contratos" (inspirado <strong>em</strong><br />

Llewellyn) com a visão <strong>de</strong> John COMMONS (1934), economista norte-americano (tido<br />

como um dos pais do Institucionalismo), para qu<strong>em</strong> as transações <strong>de</strong>veriam ser tomadas<br />

como unida<strong>de</strong> básica <strong>de</strong> análise da organização econômica - por ser<strong>em</strong> a instância <strong>em</strong> que<br />

se faz plausível a tentativa <strong>de</strong> harmonizar interesses divergentes ou conflitantes <strong>de</strong> partes<br />

que se relacionam. Ainda <strong>de</strong>ntro do amplo espectro da economia, e a <strong>de</strong>speito da influência<br />

<strong>de</strong> Knight e Coase, Williamson diz ter se concentrado no estudo das organizações<br />

principalmente <strong>em</strong> função do contato com o livro "The Functions of the Executive", <strong>de</strong><br />

1938, <strong>de</strong> Chester Bernard - um executivo norte-americano que se <strong>de</strong>dicou a escrever sobre<br />

o que fazia (e o que via fazer<strong>em</strong>) <strong>em</strong> sua função. 26 A obra <strong>de</strong> Barnard, segundo<br />

Williamson, parecia cobrir um vácuo <strong>de</strong>ixado pela economia no que se refere à<br />

importância das organizações, formais ou informais. Ou seja, a forma <strong>de</strong> organização dos<br />

agentes produtivos é <strong>de</strong> extr<strong>em</strong>a importância para o entendimento das ativida<strong>de</strong>s<br />

econômicas, e o estudo das características peculiares <strong>de</strong> diferentes formas <strong>de</strong>ve trazer<br />

explicação para o sucesso ou falha das mesmas nos processos <strong>de</strong> ajustamento exigidos pelo<br />

ambiente econômico.<br />

23<br />

WILLIAMSON (1985, p. 2-4).<br />

24<br />

WILLIAMSON (1996a, p. 350).<br />

25<br />

WILLIAMSON (1985, p. 4-5, e 1995b, p. 181).<br />

26<br />

WILLIAMSON (1985, p. 5-7). WILLIAMSON (1995c) é mais uma forma <strong>de</strong> vincular seu<br />

envolvimento com o campo das organizações ao pensamento <strong>de</strong> Chester Barnard.<br />

18


3.1 A Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Análise<br />

A partir da ambientação feita acima, po<strong>de</strong>mos então passar a apresentar as bases<br />

teóricas da TCT e iniciamos com a proposta <strong>de</strong> WILLIAMSON (1985, p. 17) sobre os<br />

limites <strong>de</strong> análise <strong>de</strong> sua formulação teórica: pare ele, qualquer relação que possa ser<br />

formulada como um probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> contratação, e aí estão incluídas as relações <strong>de</strong> troca que<br />

caracterizam o capitalismo - às quais costuma referir-se <strong>de</strong> maneira mais particular como<br />

transações - é passível <strong>de</strong> exame pela TCT. A transação é a passag<strong>em</strong> <strong>de</strong> um b<strong>em</strong> ou<br />

serviço <strong>em</strong> elaboração entre interfaces tecnologicamente separáveis e Williamson propõe<br />

que ela seja a unida<strong>de</strong> básica <strong>de</strong> análise <strong>de</strong> uma teoria da firma. Desse modo, o conjunto <strong>de</strong><br />

características das transações passa a ser visto como principal <strong>de</strong>terminante da forma <strong>de</strong><br />

organização da produção do b<strong>em</strong> ou serviço envolvido.<br />

Os custos <strong>de</strong> transação são análogos à fricção (ou ao atrito) <strong>em</strong> sist<strong>em</strong>as estudados<br />

pela Física - ou por Williamson <strong>em</strong> suas aulas <strong>de</strong> termodinâmica (WILLIAMSON, 1996a,<br />

p. 350). Como Coase já havia se referido, eles são os custos nos quais há <strong>de</strong> se incorrer<br />

quando se recorre ao mercado, ou como sugerido por ARROW (1969, citado por<br />

WILLIAMSON, 1985, p. 18), são "the costs of running the economic syst<strong>em</strong>." 27<br />

AZEVEDO (1996, p. 24, com base <strong>em</strong> CHEUNG, 1990) <strong>de</strong>fine os custos <strong>de</strong> transação<br />

como aqueles incorridos na: "a) elaboração e negociação dos contratos, b) mensuração e<br />

fiscalização <strong>de</strong> direitos <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>, c) monitoramento do <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho e d) organização<br />

<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s." 28 De forma mais direta, NIEHANS (1987) ex<strong>em</strong>plifica os custos <strong>de</strong><br />

transação ao i<strong>de</strong>ntificá-los com aqueles incorridos <strong>em</strong> localizar um outro agente disposto à<br />

27 HODGSON (1993b, p. 81) localiza a orig<strong>em</strong> do termo "custos <strong>de</strong> transação" nesse artigo<br />

<strong>de</strong> Arrow. Como já comentado, um ano antes DEMSETZ (1968) já o havia <strong>em</strong>pregado.<br />

28 AZEVEDO (1996, p. 24-5) também sugere que tal <strong>de</strong>finição ainda <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> fora um<br />

importante componente, <strong>em</strong>bora Chester Barnard e Friedrich Hayek (dois autores bastante<br />

consi<strong>de</strong>rados por Williamson) o tivess<strong>em</strong> evi<strong>de</strong>nciado, qual seja, os custos <strong>de</strong>rivados da maior ou<br />

menor (ou ausência <strong>de</strong>) capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptação às mudanças no ambiente econômico. Nas<br />

palavras <strong>de</strong> AZEVEDO (i<strong>de</strong>m, p. 25): "Uma <strong>de</strong>finição completa <strong>de</strong> custos <strong>de</strong> transação necessita<br />

incluir [...] os custos <strong>de</strong> adaptações ineficientes às mudanças do sist<strong>em</strong>a econômico." Autores<br />

ligados à Escola Austríaca, como Richard Langlois, Nicolai Foss e Paul Robertson, têm uma<br />

<strong>de</strong>finição s<strong>em</strong>elhante <strong>de</strong>ste componente citado por Azevedo, chamando-o <strong>de</strong> "custos dinâmicos <strong>de</strong><br />

19


transação, <strong>em</strong> comunicar<strong>em</strong>-se e trocar<strong>em</strong> informações que não se resum<strong>em</strong> aos preços, e<br />

muitas vezes faz-se necessário que os bens <strong>em</strong> questão <strong>de</strong>vam ser <strong>de</strong>scritos com maior<br />

minúcia, inspecionados, pesados e medidos. Outras vezes os custos <strong>de</strong> transação se<br />

<strong>de</strong>rivam da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recorrer a um contrato escrito sob a proteção do or<strong>de</strong>namento<br />

jurídico (ou mesmo o privado), já que há gastos <strong>em</strong> sua elaboração para que haja troca <strong>de</strong><br />

documentos, assistência <strong>de</strong> advogados, manutenção <strong>de</strong> registros ou mesmo <strong>de</strong> instituições<br />

<strong>de</strong> reforço e acompanhamento da execução do que foi pactuado. 29<br />

A <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração dos custos <strong>de</strong> transação <strong>de</strong>ixou com que a economia construísse<br />

concepções limitadas das organizações não convencionais, quais sejam, firmas que se<br />

afastavam cada vez mais das trocas no mercado ao se integrar<strong>em</strong> verticalmente. O<br />

principal foco <strong>de</strong> tal visão míope estava nos economistas que consi<strong>de</strong>ram o fenômeno<br />

unicamente motivado por predisposições monopólicas - acabando por implicar na<br />

generalização <strong>de</strong> políticas anti-monopólicas -, b<strong>em</strong> como na interpretação daqueles que o<br />

vê<strong>em</strong> exclusivamente por <strong>de</strong>terminantes tecnológicos.<br />

A TCT alega que as mudanças na organização industrial ocorr<strong>em</strong> primordialmente<br />

por motivos <strong>de</strong> eficiência. O caminho lógico <strong>de</strong>sse argumento começa com a herança<br />

coaseana <strong>em</strong> que firmas e mercados são tidos como formas alternativas <strong>de</strong> organizar a<br />

produção. Consi<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os que as transações econômicas possam ocorrer <strong>de</strong> duas maneiras:<br />

impessoalmente, através do mercado, ou através <strong>de</strong> contratos entre <strong>de</strong>terminados agentes.<br />

Se o mecanismo <strong>de</strong> preços do mercado apresenta custos para ser utilizado, po<strong>de</strong> ser que,<br />

através <strong>de</strong> acordo ou contrato, dois (ou mais) agentes encontr<strong>em</strong> um meio <strong>de</strong> evitá-los ou<br />

reduzi-los - isso porque estabelecer contratos também t<strong>em</strong> custos, tanto ex ante quanto ex<br />

post -, tornando a mesma transação mais barata.<br />

Esse argumento dá marg<strong>em</strong> a vários <strong>de</strong>sdobramentos dos supostos da TCT. Dele<br />

retiramos, <strong>em</strong> primeiro lugar, que o principal (<strong>em</strong>bora não o único) objetivo das<br />

instituições econômicas (firmas, mercados e contratos) é justamente economizar os custos<br />

transação". No entanto, usam-no para criticar a TCT (principalmente Williamson) por não adotá-lo<br />

<strong>de</strong> forma categórica <strong>em</strong> seu corpo teórico (essa discussão será feita <strong>em</strong> nossa seção 4.1).<br />

29 Apesar <strong>de</strong> tais esforços, HODGSON (1988, p. 200) ainda sinaliza para a falta <strong>de</strong> precisão<br />

na <strong>de</strong>finição do conceito: "Notably, in a large number of publications in the area of ‘transaction<br />

cost economics’ since the mid-1970s, Williamson has failed to provi<strong>de</strong> an a<strong>de</strong>quate <strong>de</strong>finition of<br />

transaction costs th<strong>em</strong>selves". E ainda mais (i<strong>de</strong>m): "The failure to provi<strong>de</strong> a <strong>de</strong>finition of such a<br />

crucial term is symptomatic of the lack of precision in much of Williamson’s work."<br />

20


<strong>de</strong> transação (ou, analogamente, reduzir o atrito entre as interfaces tecnologicamente<br />

distintas). As transações não são homogêneas; pelo contrário, poucas <strong>de</strong>las po<strong>de</strong>m ser<br />

reduzidas a características idênticas (das quais falar<strong>em</strong>os adiante), e, por isso, diferentes<br />

transações são atribuídas a diferentes formas <strong>de</strong> organização, <strong>de</strong>vendo ser cada uma <strong>de</strong>stas<br />

capaz <strong>de</strong> reduzir os custos necessários à sua execução. Na verda<strong>de</strong>, o que se busca é a<br />

redução da soma <strong>de</strong> custos <strong>de</strong> produção e <strong>de</strong> transação. 30 O próprio WILLIAMSON (1985,<br />

p. 17) diz tratar-se <strong>de</strong> um estratag<strong>em</strong>a a ênfase tão forte na economização dos custos <strong>de</strong><br />

transação e na escolha da forma <strong>de</strong> organização da produção capaz <strong>de</strong> realizá-la <strong>de</strong> modo<br />

mais eficiente, que intenciona <strong>de</strong>sviar atenção das preocupações extr<strong>em</strong>as com os impulsos<br />

tecnológicos e monopólicos prevalecentes no estudo da organização industrial.<br />

Outro <strong>de</strong>sdobramento <strong>de</strong> análise do mundo contratual, e assim da TCT, se relaciona<br />

aos custos <strong>de</strong> estabelecer e cumprir contratos. Os custos ex ante são mais nitidamente<br />

visíveis e estão presentes no próprio processo <strong>de</strong> negociação das cláusulas (estudos e<br />

cálculos para avaliação <strong>de</strong> procedimentos possíveis e/ou <strong>de</strong>sejáveis, o próprio t<strong>em</strong>po<br />

<strong>de</strong>corrido, a assistência jurídica ou burocrática, a formalização <strong>em</strong> si, <strong>de</strong>ntre outros). Na<br />

caracterização feita por Williamson das principais vertentes <strong>de</strong> análise da organização<br />

industrial (1985, p. 23-9), po<strong>de</strong>mos encontrar dois grupos <strong>de</strong> estudiosos que se concentram<br />

justamente nessa etapa ex ante do processo <strong>de</strong> contratação "não usual" na perspectiva da<br />

busca da eficiência. Em comum, ambos fundamentam-se no suposto do alinhamento <strong>de</strong><br />

incentivos, por consi<strong>de</strong>rá-lo a principal forma <strong>de</strong> garantia da eficácia do contrato. Um dos<br />

grupos, com <strong>em</strong>inência para Coase, Alchian e D<strong>em</strong>setz, dá ênfase aos direitos <strong>de</strong><br />

proprieda<strong>de</strong>, ou seja, preocupam-se <strong>em</strong> saber se estão antecipadamente <strong>de</strong>finidos: i) o<br />

direito <strong>de</strong> usar o ativo; ii) o direito <strong>de</strong> apropriação dos seus rendimentos; e iii) o direito <strong>de</strong><br />

mudar sua forma, substância ou <strong>em</strong>prego; se a resposta é positiva, então não <strong>de</strong>verá haver<br />

má distribuição, conflito ou mau uso dos recursos disponíveis. O outro grupo inclui autores<br />

como Leonid Hurwicz, Michael Spence, Richard Zeckhauser, Stephen Ross, Michael<br />

Jensen, William Meckling e James Mirrlees, consi<strong>de</strong>rados os "pais" do enfoque da agência.<br />

Nesse enfoque, argumenta-se que partes envolvidas <strong>em</strong> contratos têm conhecimento <strong>de</strong> que<br />

30 A <strong>de</strong>speito do tratamento "s<strong>em</strong>ântico" dado por NORTH (1993a) e AZEVEDO (1996) aos<br />

termos, fazendo uma diferenciação entre custos <strong>de</strong> transformação e custos <strong>de</strong> transação, que<br />

somados resultariam nos custos <strong>de</strong> produção, continuar<strong>em</strong>os utilizando a dicotomia entre custos <strong>de</strong><br />

21


a execução dos mesmos ficará a cargo <strong>de</strong> agentes <strong>em</strong>pregados, e isso implica numa queda<br />

dos incentivos para o cumprimento das tarefas assumidas, <strong>de</strong>vendo a análise focalizar os<br />

probl<strong>em</strong>as da contratação manifestados principalmente pelo risco moral e pela seleção<br />

adversa. Tais probl<strong>em</strong>as po<strong>de</strong>m ser superados se houver um alinhamento ou uma <strong>de</strong>finição<br />

ex ante dos benefícios cabíveis a cada parte envolvida, tornando conhecidos os níveis <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>dicação à execução das tarefas estabelecidas, e as penalida<strong>de</strong>s e recompensas pelo<br />

comportamento <strong>de</strong>sviante. 31 Esses grupos também têm <strong>em</strong> comum a idéia <strong>de</strong> que o<br />

or<strong>de</strong>namento judicial é a forma eficaz <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong> conflitos que possam surgir.<br />

Para Williamson, porém, não se po<strong>de</strong> garantir a partir das características ex ante da<br />

contratação todos os eventos recorrentes ao longo da execução das transações. Isso se <strong>de</strong>ve<br />

tanto aos atributos comportamentais do hom<strong>em</strong> (racionalida<strong>de</strong> limitada e oportunismo -<br />

dos quais falar<strong>em</strong>os um pouco mais à frente) quanto aos atributos complexos das próprias<br />

transações (especialmente a especificida<strong>de</strong> dos ativos), b<strong>em</strong> como à relação <strong>de</strong> tais fatores<br />

com o ambiente <strong>em</strong> que operam (incerteza). Há, portanto, custos ex post na contratação, e<br />

eles assum<strong>em</strong> diversas formas, tais quais: i) custos <strong>de</strong> má adaptação ao contrato estabe-<br />

lecido; ii) custos <strong>de</strong> renegociação do contrato, <strong>em</strong> <strong>de</strong>corrência da má adaptação; iii) custos<br />

<strong>de</strong> estabelecer e administrar uma estrutura <strong>de</strong> acompanhamento do contrato, b<strong>em</strong> como um<br />

foro <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong> disputas; e iv) custos <strong>de</strong> assegurar os compromissos assumidos.<br />

Diferente dos grupos anteriores que enfatizam o alinhamento ex ante <strong>de</strong> incentivos<br />

e tratam residualmente dos conflitos ex post, <strong>de</strong>ixando-os sob auspícios <strong>de</strong> uma or<strong>de</strong>m<br />

judicial central supostamente eficiente, Williamson argumenta que o or<strong>de</strong>namento privado<br />

existe e é largamente usado, o que supõe uma capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resolução satisfatória das<br />

disputas. 32 O or<strong>de</strong>namento privado e as instituições que ele cria (e sob que forma <strong>de</strong><br />

organização) são importantes para o apoio ao contrato ex post e, portanto, na redução dos<br />

seus custos ex post. A resolução <strong>de</strong> tais conflitos po<strong>de</strong> ser bastante complexa <strong>em</strong> função <strong>de</strong><br />

produção e custos <strong>de</strong> transação, que serão s<strong>em</strong>pre evi<strong>de</strong>nciados quando somados como os custos<br />

conjuntos das duas distintas tarefas.<br />

31 Para uma visão diferente, vi<strong>de</strong> Kirsten FOSS (1996, p. 537): a princípio, tais enfoques<br />

reún<strong>em</strong>-se na linha do nexo <strong>de</strong> contratos ou do measur<strong>em</strong>ent cost approach, que representam uma<br />

tradição estática; por outro lado, Williamson e também Oliver Hart e Richard Langlois<br />

representariam enfoques mais dinâmicos na literatura dos custos <strong>de</strong> transação.<br />

32 Argumento que encontra reforço <strong>em</strong> NOORDERHAVEN (1992, p. 234), on<strong>de</strong> também se<br />

critica a Teoria da Agência por sobrestimar a importância do sist<strong>em</strong>a judicial.<br />

22


interesses divergentes e comportamentos estratégicos, e além disso <strong>de</strong>ve muitas vezes<br />

envolver as características específicas (técnicas e organizacionais) <strong>de</strong> cada transação. Essa<br />

gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> situações e preferências torna muito difícil que a justiça formal seja<br />

o foro mais apropriado à solução dos probl<strong>em</strong>as surgidos na vigência dos contratos. 33<br />

Apesar disso, a preocupação <strong>de</strong> Williamson parece ser crescente com questões <strong>de</strong><br />

incentivos <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento dos aspectos <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação (das transações e da produção),<br />

como suger<strong>em</strong> LANGLOIS e FOSS, N. (1997, p. 12) e também KHALIL (1996, p. 293).<br />

Esse é inclusive um dos motivos para Nicolai Foss, <strong>em</strong> outra ocasião (FOSS, N., 1996c),<br />

qualificar e tratar a TCT <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um mesmo grupo teórico ao qual se refere como<br />

contractual approach. (Alguns <strong>de</strong>talhes <strong>de</strong>ssa abordag<strong>em</strong> são apresentados mais à frente e<br />

<strong>em</strong> nossa nota <strong>de</strong> rodapé 108.)<br />

Dessa argumentação segue que custos ex ante e ex post <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser consi<strong>de</strong>rados<br />

simultaneamente na realização dos contratos e somente diante <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>finição é que a<br />

escolha da forma <strong>de</strong> organizar as transações, e por conseguinte a produção, se dará. A TCT<br />

portanto envolve a ciência do contrato, que se preocupa com a busca não só da resolução<br />

do conflito presente ou <strong>em</strong> marcha, mas também com o reconhecimento do conflito<br />

potencial e assim tratar das instituições ou estruturas <strong>de</strong> gestão que o impeçam ou atenu<strong>em</strong>.<br />

Williamson diz, porém, que a avaliação ou mensuração simultânea <strong>de</strong> custos ex ante e ex<br />

post é tarefa praticamente impossível. Entretanto, não é preciso que sejam calculados seus<br />

valores absolutos mas apenas que se possa, no momento <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, confrontar um modo<br />

<strong>de</strong> contratação a outro (cada um caracterizado pela presença, <strong>em</strong> diferentes níveis, <strong>de</strong> cada<br />

suposto comportamental) <strong>de</strong>ntro dos arranjos institucionais existentes mantendo constantes<br />

os custos <strong>de</strong> produção ou as tecnologias utilizadas, com vistas a <strong>de</strong>finir a forma (eficiente)<br />

esperada <strong>de</strong> organização (WILLIAMSON, 1985, p. 88). 34 Isto caracteriza como estáticocomparativo<br />

o método <strong>de</strong> análise da TCT. 35<br />

33 Evidências da atuação do or<strong>de</strong>namento privado <strong>em</strong> lugar do judicial po<strong>de</strong>m ser vistas, por<br />

ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong> CASELLA (1996), para o caso do comércio internacional. No artigo, o conceito po<strong>de</strong><br />

ser melhor entendido se o associarmos ao termo "antecipação", uma vez que o or<strong>de</strong>namento<br />

privado é uma espécie <strong>de</strong> jurisdição privada que não procura romper com a jurisdição pública, mas<br />

adiantar-se e compl<strong>em</strong>entá-la <strong>em</strong> assuntos específicos da ativida<strong>de</strong> econômica. Esta interpretação,<br />

creio, po<strong>de</strong> ser utilizada com proveito para contextos diversos. Vi<strong>de</strong> também FOLHA DE SÃO<br />

PAULO (1996), sobre lei regulamentando arbitrag<strong>em</strong> comercial no Brasil.<br />

34 De qualquer maneira, "it is difficult for real historical agents to <strong>de</strong>termine ex ante the<br />

relative [transaction] costs as well as the relative efficiency of two or even more organizational and<br />

23


3.2 Atributos Humanos e Supostos Comportamentais: Racionalida<strong>de</strong><br />

Limitada, Oportunismo, Busca da Eficiência e o Processo Seletivo<br />

A análise das transações, no entanto, é indissociável das hipóteses comportamentais<br />

da TCT. Ou seja, é preciso encontrar e qualificar as características humanas que se<br />

sobressa<strong>em</strong> numa transação econômica, influenciando o tipo <strong>de</strong> contrato a ser adotado para<br />

sua realização. 36 Como comentado há pouco, os atributos humanos prevalecentes na<br />

estrutura do mo<strong>de</strong>lo são a racionalida<strong>de</strong> limitada e o potencial comportamento oportunista<br />

(WILLIAMSON, 1985, p. 44-50; 1987a, p. 810; e 1989, p. 138-40). 37<br />

A racionalida<strong>de</strong> limitada é uma condição <strong>de</strong>scrita por Herbert Simon (citado por<br />

WILLIAMSON, 1989, p. 139 - grifos no original) <strong>em</strong> que o hom<strong>em</strong> t<strong>em</strong> um comporta-<br />

mento "inten<strong>de</strong>dly rational, but only limitedly so." Os agentes preten<strong>de</strong>m ser racionais, no<br />

sentido maximizador, mas só consegu<strong>em</strong> sê-lo "parcialmente", posto que sua capacida<strong>de</strong><br />

cognitiva (com referência tanto ao seu conhecimento, às suas habilida<strong>de</strong>s e à sua previdên-<br />

regulatory solutions. Hodgson (1993a, p. 86) argues that consi<strong>de</strong>ring the '...boun<strong>de</strong>d rationality, it<br />

is impossible for any entrepreneurial agent to perform the cost calculations to i<strong>de</strong>ntify the lower<br />

transaction costs... Both uncertainty and limited computational capacity prevent such an<br />

assessment'." (MAGNUSSON e OTTOSSON, p. 355-6). Opinião s<strong>em</strong>elhante é compartilhada por<br />

FOSS, N. (1996a, p. 8): "This is quite credible [...] that agents choose governance structures [...]<br />

that do provi<strong>de</strong> mechanisms for adaptation to partially unanticipated contingencies. But it is quite<br />

another thing, and much less credible, to say that agents are so rational that they can choose on an<br />

ex ante basis the transaction cost minimizing governance structure. In fact, this runs directly<br />

counter to the i<strong>de</strong>a of boun<strong>de</strong>d rationality."<br />

35<br />

WILLIAMSON (1979, p. 261, 1987a, p. 809 e 811, 1991a, <strong>de</strong>ntre outros).<br />

36<br />

No contexto da TCT, WILLIAMSON (1989, p. 138) diz afastar-se do homo economicus<br />

elaborado na tradição ortodoxa, i<strong>de</strong>ntificando-o como contracting man, ou "hom<strong>em</strong> contratual".<br />

37<br />

WILLIAMSON (1985, p. 44) reconhece ter sido infrutífero seu esforço <strong>em</strong> incluir a<br />

dignida<strong>de</strong> como atributo do hom<strong>em</strong> contratual. Segundo McGuinness (<strong>em</strong> CLARKE e<br />

MCGUINNESS, 1990, p. 45, comentando sobre a TCT): "It [dignity] captures the i<strong>de</strong>a that<br />

humanity should be respected for its own sake, so that people should not be treated in organizations<br />

solely as the means in an economizing process". Entretanto, McGuinness diz ser a dignida<strong>de</strong> um<br />

dos conceitos menos <strong>de</strong>senvolvidos <strong>em</strong> “Markets and Hierarchies,” sugerindo que sua inclusão na<br />

análise da firma merece atenção como forma <strong>de</strong> reduzir barreiras entre a economia e outros campos<br />

no estudo do comportamento humano. De toda forma, Williamson sugere que além da dignida<strong>de</strong>, o<br />

otimismo por vezes também afeta o comportamento dos agentes.<br />

24


cia) e seu t<strong>em</strong>po para tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões são limitados. 38 Sendo assim, as organizações<br />

(firmas) são formas úteis <strong>de</strong> "unir" capacida<strong>de</strong>s limitadas para levar a bom fim os propósi-<br />

tos humanos. WILLIAMSON (1985, p. 45-7) faz referência a outras duas formas <strong>de</strong><br />

racionalida<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>radas na teoria econômica: i) uma forma forte, que correspon<strong>de</strong> à<br />

racionalida<strong>de</strong> maximizadora utilizada pela teoria neoclássica; ii) e uma forma fraca, que<br />

correspon<strong>de</strong> à racionalida<strong>de</strong> orgânica ou processual, utilizada pela Escola Austríaca e por<br />

evolucionistas. A racionalida<strong>de</strong> limitada é consi<strong>de</strong>rada uma forma s<strong>em</strong>i-forte, ou interme-<br />

diária, e que v<strong>em</strong> sendo analisada sobretudo <strong>em</strong> duas instâncias pela teoria econômica,<br />

quais sejam, nos processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão e nas estruturas <strong>de</strong> gestão. A TCT está interessada<br />

na e se ocupa principalmente com a segunda instância, enquanto, por ex<strong>em</strong>plo, teorias<br />

evolucionistas da firma têm se preocupado mais intensamente com a primeira.<br />

Williamson alu<strong>de</strong> a comentários (não i<strong>de</strong>ntificados) pelos quais a racionalida<strong>de</strong><br />

limitada seria vista como forma distorcida <strong>de</strong> dizer que as informações são custosas.<br />

Embora <strong>em</strong> parte isso possa ser significativo, já que os agentes são intencionalmente<br />

racionais, a partir <strong>de</strong> um certo momento o que seria a busca da maximização se <strong>de</strong>para com<br />

acontecimentos imprevisíveis - o que não <strong>de</strong>ve ser confundido com acontecimentos <strong>de</strong><br />

baixa probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ocorrência. Tais acontecimentos alteram o comportamento do<br />

agente, mostrando-lhe que não é possível estar a par <strong>de</strong> tudo o que acontece no momento<br />

<strong>de</strong> sua <strong>de</strong>cisão e <strong>de</strong> todos os <strong>de</strong>sdobramentos pertinentes não só <strong>de</strong>ssa sua <strong>de</strong>cisão, mas<br />

também daqueles que <strong>de</strong>corr<strong>em</strong> dos fatos que não chegaram sequer ao seu conhecimento.<br />

Se consi<strong>de</strong>rarmos que não há um momento exato no t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que o agente receba um<br />

corte <strong>em</strong> sua racionalida<strong>de</strong> ilimitada (ou seja, que a racionalida<strong>de</strong> esteve s<strong>em</strong>pre sujeita a<br />

tais "obstáculos"), ver<strong>em</strong>os que seus objetivos <strong>de</strong> maximização nunca seriam possíveis,<br />

originando o que Herbert Simon chamou <strong>de</strong> "busca da satisfação." 39 No mesmo sentido,<br />

38 Economistas Novo-Clássicos têm se aventurado a usar a idéia <strong>de</strong> racionalida<strong>de</strong> limitada,<br />

muito <strong>em</strong>bora sua aplicação possa ser inusitada. Vi<strong>de</strong> o caso <strong>de</strong> Thomas SARGENT (1993, p. 3): "I<br />

interpret a proposal to build mo<strong>de</strong>ls with 'boun<strong>de</strong>dly rational' agents as a call to retreat from the<br />

second piece of rational expectations (mutual consistency of perceptions) by expelling rational<br />

agents from our mo<strong>de</strong>l environments and replacing th<strong>em</strong> with 'artificially intelligent' agents who<br />

behave like econometricians. These 'econometricians' theorize, estimate, and adapt in att<strong>em</strong>pting to<br />

learn about probability distributions which, un<strong>de</strong>r rational expectations, they already know."<br />

39 Para uma noção mais clara das diferenças entre informações limitadas e racionalida<strong>de</strong><br />

limitada, po<strong>de</strong>mos, a ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> WILLIAMSON (1985, p. 46, nr. 6), citar NELSON e WINTER<br />

(1982, p. 67): "There is similarly a fundamental difference between a situation in which the<br />

<strong>de</strong>cision maker is uncertain about the state of X and a situation in which the <strong>de</strong>cision maker has not<br />

25


NOORDERHAVEN (1992, p. 236 - grifo no original) sugere que "The individual utility<br />

maximizer may be rechristened individual utility enhancer [...] as maximization - if<br />

uncertainty and information costs are taken seriously - refers to an imaginary end-state,<br />

while enhanc<strong>em</strong>ent refers to the actual process of trying to reach that elusive end-state." 40<br />

Já o oportunismo é uma característica humana que indica a procura do interesse<br />

próprio. Entretanto, é diferente da conceituação ortodoxa do indivíduo racional maximi-<br />

zador, na qual se assume um comportamento explícito (e exclusivo) <strong>de</strong> egoísmo partindo<br />

<strong>de</strong> cada agente, e que é igualmente conhecido e praticado por todos os <strong>de</strong>mais - ao que<br />

WILLIAMSON (1985, p. 47-9) chama <strong>de</strong> forma s<strong>em</strong>i-forte da busca pelo interesse pró-<br />

prio. Williamson ainda se refere à obediência como forma fraca, ou mesmo nula, do<br />

egoísmo. 41 Tal forma fraca seria característica <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> gerência <strong>de</strong> classe extr<strong>em</strong>a<br />

ou economias centralmente planejadas <strong>em</strong> que o interesse próprio se <strong>de</strong>svanece <strong>em</strong> prol <strong>de</strong><br />

um <strong>de</strong>terminado grupo social. 42 Mas a TCT se concentra no que é consi<strong>de</strong>rada a forma<br />

given any thought to whether X matters or not, between a situation in which a prethought event<br />

judged of low probability occurs and a situation in which something occurs that never has been<br />

thought about, between judging an action unlikely to succeed and never thinking about an action.<br />

The latter situations in each pair are not a<strong>de</strong>quately mo<strong>de</strong>led in terms of low probabilities. Rather,<br />

they are not in the <strong>de</strong>cision maker's consi<strong>de</strong>rations at all. [...] In short, the most complex mo<strong>de</strong>ls of<br />

maximizing choice do not come to grips with the probl<strong>em</strong> of boun<strong>de</strong>d rationality. Only<br />

metaphorically can a 'limited information' mo<strong>de</strong>l be regar<strong>de</strong>d as a mo<strong>de</strong>l of <strong>de</strong>cision with limited<br />

cognitive capacities."<br />

40 Para uma distinção bastante s<strong>em</strong>elhante feita por um autor institucionalista, vi<strong>de</strong><br />

SELZNICK (1992, apud SELZNICK, 1996, p. 272).<br />

41 Po<strong>de</strong>-se, porém, i<strong>de</strong>ntificar ocasiões <strong>em</strong> que a obediência não representa ausência <strong>de</strong> interesse<br />

próprio. Quando SIMON (1991, p. 31-7) fala <strong>em</strong> contratos incompletos <strong>de</strong> trabalho, comenta<br />

sobre uma "zona <strong>de</strong> aceitação" ou "indiferença" <strong>em</strong> que os agentes contratados aceitam cumprir<br />

tarefas que não estejam indicadas no contrato. A falta ou presença <strong>de</strong> "obediência" po<strong>de</strong> significar a<br />

diferença entre rompimento unilateral do contrato e uma promoção ou realinhamento <strong>de</strong> incentivos<br />

<strong>em</strong> favor do agente obediente. Um pouco adiante, Simon se refere à docilida<strong>de</strong> do hom<strong>em</strong> como<br />

estratégia <strong>de</strong> sobrevivência ou mesmo <strong>de</strong> projeção social, categoria na qual po<strong>de</strong>mos encontrar a<br />

obediência ou a aceitação/cumprimento <strong>de</strong> objetivos com os quais não concorda como estratégia<br />

oportunista. HODGSON (1988, p. 299) acrescenta: "obedience un<strong>de</strong>r threat may well be regar<strong>de</strong>d<br />

as self-interest".<br />

42 Williamson se refere às economias socialistas (1985, p. 49), e comenta que um sist<strong>em</strong>a<br />

obediente é obtido com robôs, a custo social nulo. Isto parece trazer implícito o argumento no qual<br />

o hom<strong>em</strong> que "faz escolhas" suprime, por <strong>de</strong>finição, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser obediente a alguém.<br />

Quando, por ex<strong>em</strong>plo, um trabalhador assina um contrato, está na verda<strong>de</strong> escolhendo submeter-se<br />

a or<strong>de</strong>ns hierárquicas. Caso isso lhe <strong>de</strong>sagra<strong>de</strong> <strong>em</strong> algum momento, ele t<strong>em</strong> a alternativa <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>mitir seu chefe, o que quer dizer <strong>de</strong>mitir-se. Tal interpretação po<strong>de</strong> dar marg<strong>em</strong> a uma estranha<br />

visão das relações humanas; um ex<strong>em</strong>plo extr<strong>em</strong>o <strong>de</strong> distorção <strong>de</strong>sse gênero é dado por<br />

HODGSON (1988, p. 151): "during the American Civil War, the Reverend Samuel Seabury (1861)<br />

26


forte <strong>de</strong> busca do interesse próprio. Na presença <strong>de</strong> racionalida<strong>de</strong> limitada, tal busca não se<br />

dá <strong>de</strong> forma límpida mas sim dando marg<strong>em</strong> para que os agentes escondam informações ou<br />

que as revel<strong>em</strong> <strong>de</strong> forma parcial ou distorcida, trapacei<strong>em</strong> ou, <strong>em</strong> suma, ajam estrategi-<br />

camente <strong>em</strong> seu exclusivo benefício. Recorrendo à <strong>de</strong>finição original (WILLIAMSON,<br />

1985, p. 47-8):<br />

More generally, opportunism refers to the incomplete or distorted disclosure of<br />

information, especially to calculated efforts to mislead, distort, disguise, obfuscate,<br />

or otherwise confuse. It is responsible for real or contrived conditions of<br />

information asymmetry, which vastly complicate probl<strong>em</strong>s of economic<br />

organization. [...] Plainly, were it not for opportunism, all behavior could be rule<br />

governed. This need not, moreover, require comprehensive preplanning.<br />

Unanticipated events could be <strong>de</strong>alt with by general rules, whereby the parties<br />

agree to be bound by actions of a joint profit-maximizing kind. 43<br />

Vale notar que Herbert SIMON (1991), <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> Williamson adota o conceito <strong>de</strong><br />

racionalida<strong>de</strong> limitada, critica a adoção do oportunismo como base analítica do<br />

comportamento humano. Para ele a lealda<strong>de</strong> é um traço muito mais forte dos indivíduos<br />

<strong>de</strong>ntro das organizações, que po<strong>de</strong>ríamos i<strong>de</strong>ntificar, por ex<strong>em</strong>plo, no característico "vestir<br />

a camisa" da <strong>em</strong>presa. E a lealda<strong>de</strong> faria com que indivíduos não só trabalhass<strong>em</strong> s<strong>em</strong><br />

intenções oportunistas, mas também se esforçass<strong>em</strong> <strong>em</strong> executar mais do que o estipulado<br />

nos contratos. 44 De modo geral, críticas à adoção do oportunismo pela TCT são<br />

argued that there was an implicit contract between master and slave which <strong>de</strong>volved 'on the one<br />

party the duty of care and protection, and on the other party the duty of service' (p. 139). This was<br />

seen as 'a contract for life, which neither master nor slave can, as a general rule, escape' (p. 155).<br />

Consequently, a slave att<strong>em</strong>pting to escape would be in breach of his or her implicit contract. On<br />

this basis, Seabury procee<strong>de</strong>d to argue that slavery was legally and morally justified."<br />

43 O probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> assimetria (e custos) <strong>de</strong> informações é plenamente absorvido por<br />

Williamson. Não há, porém, qualquer referência à possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> os agentes ter<strong>em</strong> acesso a todas<br />

as informações, mas sim que po<strong>de</strong>m agir sobre todas as que <strong>de</strong>têm, mesmo que <strong>de</strong> forma<br />

incompleta ou dolosa.<br />

44 AZEVEDO (1996, p. 41-2) argumenta que a crítica <strong>de</strong> Simon po<strong>de</strong> ser conciliada com a<br />

TCT por dois caminhos. O primeiro envolve consi<strong>de</strong>rar que WILLIAMSON (1985, p. 65) não<br />

generaliza o oportunismo como intrínseco à natureza humana. Ele apenas alega que alguns<br />

indivíduos são oportunistas <strong>em</strong> alguns momentos. Sendo difícil saber ex ante qu<strong>em</strong> o é e <strong>em</strong> que<br />

situação o será, a mera possibilida<strong>de</strong> serve <strong>de</strong> alerta para todas as transações. Há probl<strong>em</strong>as<br />

metodológicos nesse caminho, como se fosse admitida uma natureza humana calcada <strong>em</strong> outras<br />

características fort<strong>em</strong>ente predominantes, mas a única relevante para a análise econômica fosse<br />

uma ocasional e efêmera que não expressa uma categoria geral do comportamento humano. O<br />

segundo caminho <strong>de</strong> conciliação, segundo Azevedo mais frutífero, envolve avaliar a ética como<br />

27


sist<strong>em</strong>aticamente en<strong>de</strong>reçadas pelas correntes não ortodoxas analisadas <strong>em</strong> nosso capítulo<br />

4, on<strong>de</strong> a discussão será retomada com maior profundida<strong>de</strong>.<br />

Com tais supostos Williamson acredita <strong>de</strong>scartar do espectro analítico dois tipos<br />

extr<strong>em</strong>os <strong>de</strong> contratos "hipotéticos", quais sejam, os <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> intratável e os <strong>de</strong><br />

simplicida<strong>de</strong> ingênua, e <strong>de</strong>finir uma base <strong>de</strong> estudos que abrange os contratos factíveis<br />

(feasible contracts). Esses contratos são, portanto, inerent<strong>em</strong>ente incompletos <strong>em</strong> <strong>de</strong>cor-<br />

rência da racionalida<strong>de</strong> limitada, o que exige seu monitoramento ex post; além disso,<br />

<strong>de</strong>v<strong>em</strong> também ser vistos como promessas entre as partes, o que implica incorrer <strong>em</strong> custos<br />

ex ante para verificação da credibilida<strong>de</strong> ou confiabilida<strong>de</strong> das <strong>de</strong>mais partes nele<br />

envolvidas. Sendo assim, os contratos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> conter salvaguardas ou precauções (que<br />

po<strong>de</strong>m ser vistas como práticas institucionais) para a presença e os efeitos negativos ou<br />

contraproducentes <strong>de</strong> tais tipos <strong>de</strong> imprevistos. 45 A recomendação é intensificada se as<br />

transações estão sujeitas a alto grau <strong>de</strong> oportunismo, pois as partes po<strong>de</strong>rão tirar ainda mais<br />

proveito mútuo da transação atuando na presença <strong>de</strong> garantias ou salvaguardas. Em lugar<br />

<strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r oportunismo com oportunismo (como era sugerido por Maquiavel, citado por<br />

WILLIAMSON, 1985, p. 48), os agentes po<strong>de</strong>m oferecer um ao outro compromissos<br />

confiáveis (credible commitments). 46 Essa é uma forma <strong>de</strong> reciprocida<strong>de</strong> entre os agentes<br />

transacionantes que, no entanto, merece cuidados pois ainda sustenta a hipótese <strong>de</strong><br />

instituição humana criada para "disciplinar o comportamento daqueles que exerc<strong>em</strong> o jogo social,"<br />

e que serve <strong>de</strong>ntre outras coisas para restringir o comportamento oportunista. Agir eticamente,<br />

portanto, preenche o espaço da categoria geral <strong>de</strong> análise, permitindo que o oportunismo esteja<br />

s<strong>em</strong>pre latente como fator relevante. Embora relevante para preencher tal lacuna, o argumento <strong>de</strong><br />

Azevedo não soluciona integralmente a questão <strong>de</strong> Simon: a ética parece ser capaz <strong>de</strong> levar o<br />

indivíduo a cumprir seus contratos <strong>de</strong> forma íntegra, mas não parece explicar o porquê <strong>de</strong> ir além<br />

<strong>de</strong>le (e.g., trabalhar mais horas e cumprir tarefas contratualmente fora <strong>de</strong> sua incumbência). Além<br />

do mais, a lealda<strong>de</strong> sugerida por Simon parece um atributo também presente <strong>em</strong> (ou entre)<br />

indivíduos que compartilham comportamentos aéticos, estando assim num nível distinto <strong>de</strong> análise.<br />

45 Se consi<strong>de</strong>rarmos o argumento <strong>de</strong> Douglass NORTH (1993a, p. 8-13) <strong>de</strong> que cada<br />

indivíduo vê o mundo sob as lentes <strong>de</strong> seu "exclusivo" mo<strong>de</strong>lo mental (e sendo estes divergentes<br />

entre si), po<strong>de</strong>mos enten<strong>de</strong>r que os agentes po<strong>de</strong>m não concordar quanto à melhor forma <strong>de</strong><br />

resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as ex post à contratação, s<strong>em</strong> que haja qualquer intenção <strong>de</strong> dolo ou<br />

comportamento oportunista. Ou seja, mesmo na ausência <strong>de</strong> oportunismo, não se po<strong>de</strong> esperar que<br />

as transações sejam plenamente realizadas apenas seguindo-se regras com pronto aceite.<br />

46 Aqui acreditamos estar<strong>em</strong> ausentes consi<strong>de</strong>rações sobre o po<strong>de</strong>r dos agentes<br />

transacionantes, que po<strong>de</strong>m agir oportunisticamente e ao mesmo t<strong>em</strong>po estar protegidos <strong>de</strong><br />

respostas oportunistas, como talvez sejam os casos <strong>de</strong> transações com monopólios ou monopsônios<br />

unilaterais, ou gran<strong>de</strong>s firmas com influência política (característica esta explicitada e.g. <strong>em</strong><br />

PENROSE, 1987, p. 563).<br />

28


comportamento estratégico ou mesmo colusivo. WILLIAMSON (1987b, p. 96) argumenta<br />

que tais compromissos ganham confiabilida<strong>de</strong> e garant<strong>em</strong> pr<strong>em</strong>issas <strong>de</strong> eficiência à medida<br />

que investimentos <strong>em</strong> ativos específicos às transações <strong>em</strong> questão são feitos - ao mesmo<br />

t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que sua ausência reforça a suspeita levantada logo acima.<br />

As diferentes formas <strong>de</strong> organização da produção, então, estão expostas ao<br />

imperativo <strong>de</strong>: "organize transactions so as to economize on boun<strong>de</strong>d rationality while<br />

simultaneously safeguarding th<strong>em</strong> against the hazards of opportunism. Such a stat<strong>em</strong>ent<br />

supports a different and larger conception of the economic probl<strong>em</strong> than does the<br />

imperative: 'Maximize profits!' " (WILLIAMSON, 1985 p. 32 - grifos no original).<br />

Além <strong>de</strong>ssas hipóteses, fica também claro que o "hom<strong>em</strong> contratual" da TCT pre-<br />

fere a eficiência ao <strong>de</strong>sperdício, <strong>em</strong> função das pressões da competição. 47 A propósito, a<br />

competição é responsável pelo processo <strong>de</strong> seleção entre modos mais ou menos eficientes,<br />

muito <strong>em</strong>bora não o faça imediatamente, mas a médio prazo. Nesse aspecto, Williamson<br />

admite a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver melhor uma teoria da seleção que esteja concatenada<br />

à TCT. 48 Na sua visão assumidamente incompleta, ele diz que um prazo <strong>de</strong> 5 a 10 anos t<strong>em</strong><br />

parecido capaz <strong>de</strong> selecionar (e <strong>de</strong>scartar) instituições ou formas organizacionais não<br />

eficientes (comparativamente) na economização. Conceptualmente, Williamson faz uso <strong>de</strong><br />

um argumento <strong>de</strong> H. Simon que, <strong>em</strong> nossa opinião, dispensa parcialmente o referencial<br />

panglossiano usado inicialmente na economia por Armen ALCHIAN (1950), como suge-<br />

rido por CHEUNG (1987b, p. 76), por HODGSON (1988, p. 141), e também DIETRICH<br />

(1994, p. 127), mas notoriamente diss<strong>em</strong>inado por Milton FRIEDMAN (1953), 49 on<strong>de</strong> se<br />

alega que as firmas hoje existentes são as que maximizam lucros, já que a seleção natural<br />

47 Isso fica evi<strong>de</strong>nte ao longo <strong>de</strong> toda a obra <strong>de</strong> Williamson, mas é explicitada por ele com<br />

uma citação <strong>de</strong> KNIGHT (1941 apud WILLIAMSON, 1985, p. 241): "men in general, and within<br />

limits, wish to behave economically, to make their activities and their organization 'efficient' rather<br />

than wasteful" (grifos <strong>de</strong> Williamson).<br />

48 Para WINTER (1987b), Williamson - apesar <strong>de</strong> reunir el<strong>em</strong>entos para uma "economia<br />

generalizada" ou que aju<strong>de</strong> na elaboração <strong>de</strong> uma ciência social mais integrada - não <strong>de</strong>senvolve<br />

explicitamente um arcabouço evolucionário, como po<strong>de</strong>ria se esperar. No entanto, sua contribuição<br />

teórica é "at least potentially adaptable to a general multi-level evolutionary sch<strong>em</strong>e in which<br />

patterns reproduced by a variety of mechanisms are subjected to selective pressure" (i<strong>de</strong>m, p. 617).<br />

49 Citado, <strong>de</strong>ntre outros, por WINTER (1987a, p. 545), SEN (1987, p. 71), FREEMAN<br />

(1994), HODGSON (1993a, p. 225), e ainda MAGNUSSON e OTTOSSON (1996, p. 356).<br />

29


encarrega-se permanent<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> eliminar as que, por qualquer motivo, não o façam. 50<br />

Simon (1983, citado por WILLIAMSON, 1985, p. 23) afirma que: "in a relative sense, the<br />

fitter survive, but there is no reason to suppose that they are the fittest in any absolute<br />

sense", dando a enten<strong>de</strong>r que a sobrevivência <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> das diferentes características <strong>de</strong><br />

cada ambiente, e permitindo que Williamson absorva a idéia e a i<strong>de</strong>ntifique como um<br />

processo "fraco" <strong>de</strong> seleção. Tal "<strong>de</strong>pendência contextual," 51 <strong>em</strong> suma, parece nos dizer<br />

que: i) não há um "aptidômetro" absoluto a ser usado pela humanida<strong>de</strong>; e ii) mesmo que<br />

sejam <strong>de</strong>finidas as aptidões relevantes, a concorrência se dá entre alguns e não todos os<br />

possíveis e imagináveis concorrentes, caracterizando uma forma "fraca" <strong>de</strong> seleção. 52<br />

Segundo ARCHIBALD (1987, p. 359-60), tal interpretação está <strong>em</strong> maior sintonia<br />

com o processo <strong>de</strong> seleção natural formulado por Darwin do que aquela primeira (<strong>de</strong><br />

Alchian e Friedman), pois: "Natural selection tends only to make each organic being as<br />

50<br />

SEN (1987, p. 71) critica tal analogia biológica, utilizada <strong>em</strong> <strong>de</strong>fesa da otimização individual,<br />

<strong>em</strong> duas frentes: i) "It is by no means clear that individual self-interest-maximizers will<br />

typically do relatively better in a group of people with diverse motivations. More importantly,<br />

when it comes to comparisons of survival of different groups, it can easily be the case that groups<br />

that <strong>em</strong>phasize values other than pure self-interest maximization might actually do better" (grifo no<br />

original); e ii) "'enforce maximization' has many pitfalls, since the analogy with natural selection in<br />

biology is at best tenuous [...] and the biological story itself is far from straightforward [...]."<br />

51<br />

Usando a expressão <strong>de</strong> HODGSON (1993b, p. 91).<br />

52<br />

PONDÉ (1996, p. 550) alega, no entanto, que "a concepção <strong>de</strong> que o papel da seleção é <strong>de</strong><br />

sancionar formas mais eficientes <strong>de</strong> modo não ambíguo - ao invés <strong>de</strong> ser também um mecanismo<br />

criador das formas que acabam se mostrando <strong>de</strong> eficiência superior - ainda é bastante difundida,<br />

como indica sua <strong>de</strong>fesa <strong>em</strong> um artigo recente <strong>de</strong> Williamson (1993)." Para WILLIAMSON (1993),<br />

após a i<strong>de</strong>ntificação das regularida<strong>de</strong>s comportamentais do agente econômico, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

intervenção seletiva dos agentes - principalmente sobre <strong>de</strong>cisões anteriores geradoras <strong>de</strong><br />

ineficiências r<strong>em</strong>ediáveis - acaba levando a uma melhoria da performance econômica. Pondé,<br />

então, refere-se principalmente à falha <strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>rar que a seleção pela eficiência seja infalível<br />

quando a não-ergodicida<strong>de</strong> opera. Ou seja, pequenos eventos po<strong>de</strong>m alterar o ambiente econômico<br />

e tornar impossível a previsão (e portanto a escolha hoje) <strong>de</strong> uma forma institucional<br />

comparativamente mais eficiente <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> custos <strong>de</strong> transação. Para mais <strong>de</strong>talhes sobre o<br />

caráter não otimizador geral dos processos <strong>de</strong> seleção b<strong>em</strong> como das características lamarckianas<br />

nos processos sócio-econômicos <strong>de</strong> evolução, vi<strong>de</strong> HODGSON (1993a). KAY (1993, p. 253, grifo<br />

original) alega ainda que Williamson permeia toda a TCT com o processo darwinista <strong>de</strong> seleção<br />

natural, mas não o aplica <strong>de</strong> forma consistente quando explica a evolução das formas unitárias<br />

("U") para as multidivisionais ("M"): "To argue that the U-form '<strong>de</strong>feats itself' through overexpansion,<br />

resulting in syst<strong>em</strong> collapse and the M-form innovation to <strong>de</strong>al with crisis, is to reverse<br />

natural selection. In natural selection it would be the superior M-form innovation that would<br />

compete out the (inferior) U-form, rather than U-form collapse generating the M-form innovation.<br />

Natural selection selects from what actually exists. It does not generate new forms but selects out<br />

inferior forms as a consequence of competition from superior forms after the appearance of the<br />

30


perfect as, or slightly more perfect than, the other inhabitants of the same country with<br />

which it has to struggle for existance. [...] Natural selection will not produce absolute<br />

perfection [...]" (DARWIN, 1859, p. 201-2, citado por ARCHIBALD, i<strong>de</strong>m). Por ex<strong>em</strong>plo,<br />

não se po<strong>de</strong> afirmar que o time vencedor do campeonato capixaba <strong>de</strong> futebol <strong>de</strong>ste ano<br />

possa vencer o vice-campeão carioca, ou mesmo que, mantendo o plantel, possa repetir o<br />

feito no ano seguinte. 53 HODGSON (1993a, p. 226) resume o argumento da seguinte<br />

forma: "Even if the 'selected' firms, routines or institutions were the 'fittest' then they<br />

would be so in regard to a particular, economic, political, and cultural environment only;<br />

they would not be the 'fittest' for all circumstances and times." Tal afirmação parece apenas<br />

corroborar as palavras <strong>de</strong> Simon citadas por Williamson. Mas HODGSON (i<strong>de</strong>m, p. 238,<br />

nr. 5) insiste no probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong>ntro da TCT:<br />

In response to criticism, Williamson brushes asi<strong>de</strong> the charges of Panglossian<br />

excess raised by Mark Granovetter (1995) among others. While he does not hold to<br />

the stronger proposition 'that all is for the best in this best of possible worlds'<br />

(Williamson 1988:178), Williamson still holds to the view that competition<br />

performs some kind of sort and shifts resources in favour of the more efficient<br />

forms of organization. This article of faith is juxtaposed with an observation that a<br />

'more fully <strong>de</strong>veloped theory of the selection process' (ibid., p. 174) is lacking.<br />

However, mo<strong>de</strong>rn and <strong>de</strong>veloped evolutionary theory in biology does not give<br />

universal or unqualified support for the kind of proposition Williamson whishes to<br />

entertain.<br />

No entanto, mesmo para CHEUNG (1987c, p. 57), a sobrevivência <strong>de</strong> organizações<br />

ineficientes é possível <strong>em</strong> função da existência <strong>de</strong> custos <strong>de</strong> transação para a mudança <strong>de</strong><br />

seu arranjo, envolvendo os custos <strong>de</strong> obter informações sobre o funcionamento <strong>de</strong><br />

organizações alternativas e também os <strong>de</strong> usar o po<strong>de</strong>r persuasivo ou coercitivo para<br />

alterar as posições <strong>de</strong> grupos cujas rendas po<strong>de</strong>m ser adversamente afetadas pela mudança.<br />

Isso, entretanto, po<strong>de</strong> ser usado <strong>em</strong> auxílio à idéia <strong>de</strong> Williamson, servindo como<br />

justificativa do médio prazo necessário ao ciclo <strong>de</strong> seleção através da r<strong>em</strong>ediabilida<strong>de</strong> <strong>em</strong><br />

processos <strong>de</strong>cisórios adaptativos às mudanças ambientais. Dá pouca marg<strong>em</strong>, porém, para<br />

latter, not before such appearance." Nesse caso, a análise <strong>de</strong> Williamson po<strong>de</strong> ser interpretada, na<br />

verda<strong>de</strong>, como lamarckiana (p. 259).<br />

53 A ilustração <strong>de</strong>ve méritos ao Professor Ramón Fernán<strong>de</strong>z, a qu<strong>em</strong> agra<strong>de</strong>ço e peço<br />

<strong>de</strong>sculpas pela liberda<strong>de</strong> <strong>em</strong> adaptá-la regionalmente.<br />

31


consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> mudanças ativas, ou seja, encabeçadas ou provocadas pelos próprios<br />

agentes competidores, que po<strong>de</strong>m ser hereditariamente transmitidas ou, por algum<br />

processo mimético ou <strong>de</strong> <strong>em</strong>ulação, replicadas pelos cont<strong>em</strong>porâneos generacionais -<br />

puxando a analogia seletiva para o lado lamarckiano.<br />

3.3 As Dimensões Analíticas das Transações (Especificida<strong>de</strong> do Ativo,<br />

Incerteza e Freqüência) e os Arranjos Institucionais Decorrentes<br />

Uma vez apresentados os atributos humanos e os supostos comportamentais,<br />

po<strong>de</strong>mos tratar da natureza ou das características das transações que irão influenciar na<br />

escolha da forma organizacional preferível aos pretextos da economização. Tal<br />

caracterização, levada adiante <strong>de</strong> forma notória por WILLIAMSON (1975), permite dar<br />

tratamento <strong>em</strong>pírico ou refutabilida<strong>de</strong> ao insight <strong>de</strong> Coase <strong>em</strong> comparar os custos <strong>de</strong><br />

transação <strong>de</strong> diferentes formas organizacionais, pois pairava ainda no ar a questão sobre<br />

quais seriam as dimensões das transações a ser<strong>em</strong> observadas e, portanto, diferenciadas<br />

entre as formas alternativas <strong>de</strong> organizá-las que pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> mostrar a fonte <strong>de</strong> eficiência<br />

comparativa. Tais dimensões foram então evi<strong>de</strong>nciadas: i) a especificida<strong>de</strong> do(s) ativo(s)<br />

envolvido(s); ii) o grau <strong>de</strong> incerteza subjacente; e iii) a freqüência das transações. 54<br />

Para a TCT, a principal característica <strong>de</strong> uma transação <strong>de</strong>ve ser expressa na<br />

especificida<strong>de</strong> do ativo a ela relacionado. A especificida<strong>de</strong> é uma referência conceptual ao<br />

grau <strong>em</strong> que um ativo po<strong>de</strong> ser re<strong>em</strong>pregado para usos alternativos ou por outros agentes<br />

s<strong>em</strong> que haja perda <strong>de</strong> sua capacida<strong>de</strong> ou valor produtivo, e po<strong>de</strong> se apresentar <strong>de</strong> diversas<br />

formas, sendo as mais evi<strong>de</strong>ntes (WILLIAMSON, 1991a, p. 281):<br />

1) especificida<strong>de</strong> geográfica ou locacional, <strong>em</strong> que a proximida<strong>de</strong> entre estágios sucessivos<br />

da transação é importante (proporcionando economias <strong>em</strong> estoque, transporte, conservação,<br />

controle <strong>de</strong> poluição, ou outras);<br />

2) especificida<strong>de</strong> física do ativo, como <strong>em</strong> mol<strong>de</strong>s ou materiais especiais, máquinas <strong>de</strong><br />

único uso, etc.;<br />

54 AZEVEDO (1996, p. 18) sugere que as expectativas <strong>de</strong> crescimento da <strong>de</strong>manda pelo b<strong>em</strong><br />

ou serviço transacionado também são relevantes e.g. no interesse <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma relação,<br />

com uma correlação positiva. Williamson, entretanto, não parece ter adotado tal dimensão como<br />

uma categoria geral <strong>em</strong> seus trabalhos posteriores.<br />

32


3) especificida<strong>de</strong> do capital humano, obtida sobretudo através do learning by doing;<br />

4) ativos <strong>de</strong>dicados, feitos sob encomenda ou para aten<strong>de</strong>r exclusivamente um certo<br />

cliente;<br />

5) ativos <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> superior ou relacionados a padrões ou marcas;<br />

6) especificida<strong>de</strong> t<strong>em</strong>poral, on<strong>de</strong> o t<strong>em</strong>po envolvido no <strong>de</strong>senrolar da transação po<strong>de</strong><br />

implicar <strong>em</strong> perda <strong>de</strong> valores transacionados, como no caso <strong>de</strong> produtos perecíveis.<br />

O maior grau <strong>de</strong> especificida<strong>de</strong> está associado à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> maiores salvaguar-<br />

das contratuais e a um maior interesse <strong>em</strong> esten<strong>de</strong>r a duração do contrato. Po<strong>de</strong>-se utilizar,<br />

para um exercício da situação, a idéia <strong>de</strong> gastos irrecuperáveis (sunk costs) para um ativo<br />

com alto grau <strong>de</strong> especificida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> a quebra do contrato implica expor o ativo à perda<br />

total (ou residual, se o contrato tiver sido cumprido parcialmente) <strong>de</strong> seu valor produtivo,<br />

ou a usos alternativos <strong>de</strong> baixo retorno. Já ativos pouco ou nada específicos não incorr<strong>em</strong><br />

<strong>em</strong> tais perigos, encontrando facilmente usos alternativos <strong>de</strong> mesmo retorno ou clientela<br />

discreta, já que <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os estar lidando com um b<strong>em</strong> ou serviço <strong>de</strong> características<br />

padronizadas e utilização geral ou ampla. WILLIAMSON (1985, p. 53) ainda argumenta<br />

que, na presença <strong>de</strong> especificida<strong>de</strong> dos ativos, uma transação inicialmente feita por um<br />

processo <strong>de</strong> licitação ou com muitos ofertantes po<strong>de</strong> ter esse processo <strong>de</strong> contratação<br />

discreta fort<strong>em</strong>ente atingido <strong>em</strong> sua eventual renovação. Isso porque o primeiro ganhador<br />

po<strong>de</strong>, ao longo do contrato, criar vantagens <strong>de</strong> custos e/ou conhecimentos técnicos ou<br />

administrativos que se farão presentes nas licitações futuras e pesarão a seu favor. 55<br />

Reunindo os principais supostos comportamentais e a principal característica das<br />

transações com relação à forma mais a<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> contrato a utilizar, po<strong>de</strong>-se combinar a<br />

presença <strong>de</strong> tais <strong>de</strong>terminantes para construir resultados esperados no processo <strong>de</strong><br />

contratação, <strong>de</strong> acordo com a TCT. Isso é apresentado a seguir, no Quadro 1 (reproduzido<br />

<strong>de</strong> WILLIAMSON, 1985, p. 31, nossa tradução).<br />

55 Vêmos aqui um tratamento afeiçoado ao que se costuma tratar por path <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nce, on<strong>de</strong><br />

uma <strong>de</strong>cisão <strong>em</strong> algum ponto do t<strong>em</strong>po po<strong>de</strong> <strong>de</strong>finir uma trajetória <strong>de</strong> eventos prováveis,<br />

concomitante ao efeito <strong>de</strong> lock in <strong>em</strong> que a saída <strong>de</strong> tal trajetória é <strong>de</strong> ampla forma traumática ou<br />

mesmo inviável (<strong>em</strong> termos tecnológicos e/ou organizacionais), e também a uma visão não<br />

ergódica do mundo, <strong>em</strong> que pequenos fatos como a absorção <strong>de</strong> conhecimentos técnicos ou<br />

administrativos po<strong>de</strong>m alterar um resultado esperado (a continuida<strong>de</strong> das licitações).<br />

33


Quadro 1<br />

Atributos do Processo <strong>de</strong> Contratação<br />

Suposto Comportamental Especificida<strong>de</strong> Processo <strong>de</strong><br />

Racionalida<strong>de</strong> Limitada Oportunismo dos Ativos Contratação Implicado<br />

0 + + Planejamento<br />

+ 0 + Promessa<br />

+ + 0 Competição<br />

+ + + Gestão Hierárquica<br />

Observação: "0" indica ausência do atributo, enquanto "+" indica presença <strong>em</strong> grau significativo.<br />

Se observarmos <strong>de</strong> modo diferente as hipóteses <strong>de</strong> racionalida<strong>de</strong> limitada e <strong>de</strong><br />

comportamento oportunista, po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os observar que há também um recorrente "suposto<br />

ambiental" <strong>de</strong> incerteza que toma parte no processo <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> expectativas dos<br />

agentes - e que terá vazão na elaboração dos contratos respectivos às transações. PONDÉ<br />

(1993a, p. 33; e ainda 1994, p. 20-1), por ex<strong>em</strong>plo, consi<strong>de</strong>ra tal suposto convergente com<br />

o conceito <strong>de</strong> incerteza oriundo da tradição keynesiana. 56<br />

Façamos uma breve discussão do assunto: num primeiro momento focalizando o<br />

indivíduo, acredita-se que sua capacida<strong>de</strong> cognitiva seja limitada tanto para processar um<br />

gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> informações que lhe é acessível (ou a t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> tomar <strong>de</strong>cisões antes que<br />

novas informações relevantes possam impelir a alterações <strong>em</strong> seus cálculos), quanto para<br />

prever eventos futuros. Se, numa segunda perspectiva, pu<strong>de</strong>rmos nos mover do indivíduo<br />

para seu ambiente <strong>de</strong> atuação, ver<strong>em</strong>os que fora <strong>de</strong>le o mundo continua sendo palco <strong>de</strong><br />

novos fatos que lhe fog<strong>em</strong> completamente ao controle ou mesmo ao mero conhecimento, e<br />

que a natureza é essencialmente contingente. Além do mais, outros indivíduos estão to-<br />

mando <strong>de</strong>cisões, sob a mesma condição <strong>de</strong> racionalida<strong>de</strong> limitada, o que significa<br />

diferentes graus <strong>de</strong> conhecimento dos (e diferentes atribuições <strong>de</strong> relevância para) eventos<br />

ocorridos até o momento da <strong>de</strong>cisão, e que também não estarão ao alcance <strong>de</strong> seu do-<br />

mínio. 57 O mundo é um ambiente complexo e incerto para agirmos, não se po<strong>de</strong> esquecer.<br />

56 Em conversa com alguns economistas pós-keynesianos da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Leeds, como<br />

Giuseppe Fontana, Chris Torr e Stephen Dunn, tal convergência pareceu não ter tanta aceitação.<br />

57 WILLIAMSON (1985 p. 57-8; e 1989, p. 143-4) diz absorver tais concepções <strong>de</strong> Tjalling<br />

Koopmans.<br />

34


Williamson também trata da relação entre incerteza e oportunismo, l<strong>em</strong>brando que<br />

este último suposto consi<strong>de</strong>ra o comportamento intencional e calculado dos agentes <strong>em</strong> seu<br />

próprio benefício, recorrendo inclusive a "golpes baixos", através <strong>de</strong> formas dolosas <strong>de</strong><br />

distorção, ludíbrio e <strong>de</strong>turpação <strong>de</strong> informações. Novamente olhando do ambiente para o<br />

nível do indivíduo, v<strong>em</strong>os que na relação entre agentes isso po<strong>de</strong> ser interpretado como<br />

uma forte manifestação da incerteza vinculada ao comportamento dos mesmos, ou mais<br />

ainda, ao seu comportamento estratégico <strong>em</strong> um contrato que <strong>de</strong> alguma forma e <strong>em</strong> algum<br />

grau condiciona uma <strong>de</strong>pendência bi(multi)lateral. A incerteza oriunda do oportunismo<br />

individual é chamada por WILLIAMSON (1985, p. 58; e 1989, p. 144) <strong>de</strong> incerteza<br />

comportamental (behavioral uncertainty). 58 Com relação à incerteza, STIGLER (1967,<br />

citado por NIEHANS, 1987, p. 676) <strong>de</strong>finiu os custos <strong>de</strong> transação como "the costs of<br />

transportation from ignorance to omniscience". Afora consi<strong>de</strong>rações religiosas que o úl-<br />

timo termo possa <strong>de</strong>spertar, não encontramos <strong>em</strong> Williamson nenhuma referência à elimi-<br />

nação da incerteza. Em WILLIAMSON (1989, p. 139) encontramos: "Boun<strong>de</strong>d rationality<br />

and opportunism serve both to refocus attention and help to distinguish between feasible<br />

and infeasible mo<strong>de</strong>s of contracting. Both impossibly complex and hopelessly naive mo<strong>de</strong>s<br />

of contracting are properly exclu<strong>de</strong>d from the feasible set". Em adição, vê-se ainda um<br />

pouco mais à frente: "All contracts within the feasible set are incomplete" (i<strong>de</strong>m).<br />

Os efeitos da incerteza sobre a forma <strong>de</strong> organizar a produção estão resumidamente<br />

<strong>de</strong>scritos <strong>em</strong> WILLIAMSON (1991a, p. 291-2). Como anteriormente fiz<strong>em</strong>os referência, já<br />

há nesse artigo consi<strong>de</strong>rações mais refinadas sobre arranjos intermediários situados entre<br />

as alternativas <strong>de</strong> mercado ou internalização pela firma - as chamadas "formas híbridas".<br />

São referidas como acordos ou contratos entre firmas (franquias, joint ventures, ou outras<br />

modalida<strong>de</strong>s), e a princípio po<strong>de</strong>-se avaliar que constitu<strong>em</strong> a melhor forma <strong>de</strong> organizar<br />

transações quando especificida<strong>de</strong> do ativo e incerteza são os principais componentes a se<br />

consi<strong>de</strong>rar e estão presentes <strong>em</strong> intensida<strong>de</strong> mediana. A TCT argumenta que num ambiente<br />

com incerteza <strong>em</strong> altos níveis, a forma híbrida ten<strong>de</strong> a ser a mais prejudicada (dadas suas<br />

vantagens <strong>em</strong> graus intermediários <strong>de</strong> especificida<strong>de</strong> dos ativos) por não po<strong>de</strong>r contar com<br />

a hierarquia como forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão rápida para adaptação às mais freqüentes mudanças,<br />

58 Para uma visão diferente, on<strong>de</strong> a incerteza é coberta por contratos implícitos ("formaly<br />

<strong>de</strong>fined as a collection of schedules <strong>de</strong>scribing how the terms of <strong>em</strong>ployment for one person or<br />

group of persons change in response to unexpected changes in the economic environment"), cf.<br />

AZARIADIS (1987, p. 736); uma boa discussão também é feita por HART (1987).<br />

35


n<strong>em</strong> com a discrição anônima dos mercados para mudar fornecedores ou clientes com<br />

rapi<strong>de</strong>z, mas opostamente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r da negociação entre hierarquias distintas. Embora um<br />

alto grau <strong>de</strong> incerteza venha a ser prejudicial a todas as formas <strong>de</strong> organização, são as<br />

híbridas as mais suscetíveis a seus efeitos negativos e ten<strong>de</strong>rão a <strong>de</strong>saparecer, e a escolha<br />

da forma organizacional, entre hierarquias ou mercados, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá principalmente do grau<br />

<strong>de</strong> especificida<strong>de</strong> do ativo <strong>em</strong> questão. 59 O argumento po<strong>de</strong> ser ilustrado através da Figura<br />

1 (reproduzida <strong>de</strong> WILLIAMSON, 1991a, p. 292, nossa tradução).<br />

Refinando ainda a conjugação entre incerteza, tecnologia e arranjos organizacionais,<br />

WILLIAMSON (1985, p. 32-5; e 1989, p. 145-7) <strong>de</strong>senvolve um esqu<strong>em</strong>a simples <strong>de</strong><br />

contratação. Nele supõe haver duas tecnologias disponíveis para a produção <strong>de</strong> um mesmo<br />

b<strong>em</strong>: uma geral, mais barata e menos eficiente, e outra específica para o b<strong>em</strong>, mais cara e<br />

mais eficiente.<br />

Em relação ao grau <strong>de</strong> especificida<strong>de</strong> do ativo (k), interpreta-se que quando uma<br />

tecnologia geral está sendo usada (k = 0), o b<strong>em</strong> ou os bens utilizados na transação não<br />

59 Para maiores <strong>de</strong>senvolvimentos conceituais e analíticos das formas híbridas, vi<strong>de</strong><br />

MÉNARD (1996b e 1997). Estudos <strong>de</strong> caso envolvendo as mesmas são apresentados <strong>em</strong><br />

GARRETE e QUELIN (1994), LINDENBERG (1996) e COEURDEROY e QUELIN (1997). Para<br />

uma crítica à TCT na análise <strong>de</strong> relações inter-organizacionais, vi<strong>de</strong> BOUVIER-PATRON (1993).<br />

36


possu<strong>em</strong> características particulares (tais quais as <strong>de</strong>scritas anteriormente nesta seção) e a<br />

contratação "clássica" <strong>de</strong> mercado é suficiente para a realização eficaz <strong>de</strong> uma transação. 60<br />

De modo contrário, espera-se que a tecnologia específica seja crescent<strong>em</strong>ente adotada, ou<br />

seja, que tenhamos k > 0, à medida <strong>em</strong> que a transação passar a envolver cada vez mais<br />

ativos particulares, e nesse caso o contrato <strong>de</strong> mercado <strong>de</strong>ixa a <strong>de</strong>sejar no que diz respeito<br />

à incerteza, po<strong>de</strong>ndo expor as partes do contrato à perda (parcial ou total) dos gastos feitos<br />

<strong>em</strong> ativos específicos e/ou dos rendimentos por ele proporcionados. 61<br />

Para tratar do caso <strong>em</strong> que k > 0, as partes envolvidas procurarão proteção contra os<br />

perigos subjacentes na forma <strong>de</strong> salvaguardas contratuais. As salvaguardas assum<strong>em</strong><br />

geralmente três formas principais (WILLIAMSON, 1985, p. 33-4): i) realinhamento <strong>de</strong><br />

incentivos (penalizações por quebra ou fim pr<strong>em</strong>aturo da transação); ii) criação e <strong>em</strong>prego<br />

<strong>de</strong> uma estrutura <strong>de</strong> gestão comum para acompanhamento do contrato; e iii) busca <strong>de</strong><br />

regularida<strong>de</strong>s nas trocas, que sinaliz<strong>em</strong> a intenção <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> ou ger<strong>em</strong> reciprocida<strong>de</strong><br />

e confiança entre as partes. A ausência <strong>de</strong> salvaguardas é representada por s = 0, enquanto<br />

a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> usá-las numa transação implica <strong>em</strong> s > 0.<br />

Para Williamson, a especificida<strong>de</strong> do ativo (k), as salvaguardas (s) e os preços dos<br />

bens transacionados, <strong>em</strong> cada arranjo institucional, são <strong>de</strong>terminados simultaneamente no<br />

processo <strong>de</strong> contratação. Para simplificar a análise contratual comparativa, supõe-se que: i)<br />

as partes ofertantes são neutras ao risco; ii) estão <strong>em</strong> condições <strong>de</strong> ofertar sob qualquer das<br />

tecnologias; e iii) aceitam qualquer esqu<strong>em</strong>a <strong>de</strong> salvaguardas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que projet<strong>em</strong><br />

condições parelhas entre as partes. Daí po<strong>de</strong>mos passar à ilustração do esqu<strong>em</strong>a, a seguir<br />

na Figura 2 (reproduzida <strong>de</strong> WILLIAMSON, 1985, p. 33, nossa tradução).<br />

60 Sendo tal contrato "sharp in by clear agre<strong>em</strong>ent; sharp out by clear performance", cf.<br />

MACNEIL (1974, p. 738, apud WILLIAMSON, 1985, p. 32).<br />

61 Para situações <strong>de</strong> especificida<strong>de</strong> dos ativos <strong>em</strong> que o contrato clássico não é o mais<br />

apropriado, WILLIAMSON (1991, p. 271-6) consi<strong>de</strong>ra alternativos: i) o contrato neoclássico, <strong>em</strong><br />

que há marg<strong>em</strong> ou mecanismos para ajustes e adaptações, e até mesmo a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> quebra<br />

do contrato (excuse doctrine), s<strong>em</strong> necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recorrer aos tribunais oficiais, fazendo-o por<br />

meio <strong>de</strong> arbitrag<strong>em</strong> ou <strong>de</strong> códigos privados <strong>de</strong> conduta; e ii) a omissão (forbearance) ou contrato<br />

implícito, <strong>em</strong> que a própria organização interna <strong>de</strong> uma firma <strong>de</strong>termina regras ou exerce o papel <strong>de</strong><br />

tribunal, resolvendo os probl<strong>em</strong>as pelo exercício da autorida<strong>de</strong> (fiat).<br />

37


Dos esqu<strong>em</strong>as contratuais representados pelos nodos A, B e C da Figura 2, po<strong>de</strong>-se<br />

enten<strong>de</strong>r as seguintes proprieda<strong>de</strong>s (<strong>de</strong> acordo com WILLIAMSON 1989, p. 147):<br />

a) com k = 0, o nodo A prevalece indicando a realização da transação através do contrato<br />

clássico <strong>de</strong> mercado, s<strong>em</strong> que haja necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> salvaguardas ou estruturas <strong>de</strong><br />

proteção;<br />

b) com k > 0, ou seja, na necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> investimentos não padronizados para certas<br />

transações, os agentes envolvidos buscam engajar-se <strong>em</strong> uma relação <strong>de</strong><br />

inter<strong>de</strong>pendência ou <strong>de</strong> comércio bilateral;<br />

c) relações com k > 0 e s = 0, representadas pelo nodo B, ten<strong>de</strong>m a ser instáveis, pois<br />

expõ<strong>em</strong> os ofertantes a perdas do investimento específico e/ou <strong>de</strong> seus rendimentos, e<br />

po<strong>de</strong>m ser revertidos para os nodos A ou C;<br />

d) com k > 0 e também s > 0, as transações envolv<strong>em</strong> salvaguardas que as proteg<strong>em</strong> dos<br />

riscos <strong>de</strong> expropriação dos gastos <strong>em</strong> investimentos particulares;<br />

e) não é possível às partes envolvidas num contrato esperar que possam manter, ao mesmo<br />

t<strong>em</strong>po, preços baixos e ausência <strong>de</strong> salvaguardas, na presença <strong>de</strong> especificida<strong>de</strong> dos<br />

ativos 62 . Isso é representado pela diferença Pk > Pks, indicando o tra<strong>de</strong>-off entre a<br />

62 WILLIAMSON (1989, p. 147) apresenta este argumento dizendo que: "Inasmuch as price<br />

and governance are linked, parties to a contract should not expect to have their cake (low price) and<br />

eat it too (no safeguard)."<br />

38


proteção por salvaguardas e, no caso <strong>de</strong> não adotá-las, a proteção pelo maior preço do<br />

b<strong>em</strong> envolvido na transação.<br />

Nessas proprieda<strong>de</strong>s ficam à mostra duas idéias subjacentes à estrutura da TCT (e,<br />

por conseguinte, à toda a NEI), quais sejam: i) os mercados são, a princípio, a forma mais<br />

eficaz <strong>de</strong> organizar a produção <strong>de</strong> bens não específicos e ii) as instituições serv<strong>em</strong> (ou<br />

<strong>de</strong>v<strong>em</strong> servir) ao propósito da eficiência quando falhas <strong>de</strong> mercado, motivadas quer seja<br />

pela tecnologia, incerteza ou particularida<strong>de</strong>s da natureza da <strong>de</strong>manda - no caso da<br />

freqüência -, afetam as transações. Com relação à freqüência, t<strong>em</strong>os a dizer que é o<br />

atributo para o qual Williamson ren<strong>de</strong> menor ênfase, e talvez por isso seja o menos<br />

polêmico, supondo apenas uma relação positiva entre a mesma e a internalização da<br />

recorrente transação. Mas, retomando os propósitos das instituições, a superação dos<br />

mercados pelas firmas não isenta, absolutamente, as hierarquias <strong>de</strong> imperfeições. 63<br />

Nesse ponto, po<strong>de</strong>mos apresentar o que é consi<strong>de</strong>rado o caso paradigmático da<br />

TCT, envolvendo a questão da integração vertical que se <strong>de</strong>senvolve <strong>em</strong> função dos<br />

diferenciais <strong>de</strong> custos existentes entre mercados e hierarquias, diante <strong>de</strong> diferentes graus <strong>de</strong><br />

especificida<strong>de</strong> dos ativos envolvidos. Mantendo a argumentação <strong>em</strong> que os mercados são a<br />

forma mais eficiente <strong>de</strong> produzir bens que não envolvam ativos (ou transações, <strong>em</strong> geral)<br />

peculiares, e, ao contrário, que as firmas são capazes <strong>de</strong> realizar com menores custos<br />

conjuntos (produção e transação) as transações com especificida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>mos ilustrar os<br />

resultados esperados pela análise através dos custos <strong>de</strong> transação <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado caso.<br />

Observando a Figura 3 a seguir, adaptada a partir da original <strong>em</strong> WILLIAMSON,<br />

(1985, p. 93, on<strong>de</strong> incluímos <strong>em</strong> linhas tracejadas o caso <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> firma com van-<br />

tagens <strong>de</strong> escala e maiores gastos burocráticos), t<strong>em</strong>os representados os eixos especifici-<br />

da<strong>de</strong> <strong>de</strong> ativos (k) e custos (C). No plano gerado, estão retratadas pelas linhas sólidas:<br />

63 WILLIAMSON (1987a, p. 811) alega que a análise das organizações ficou por muito<br />

t<strong>em</strong>po obliterada <strong>em</strong> função das <strong>de</strong>ficiências teóricas <strong>em</strong> respon<strong>de</strong>r "Why can't a large firm do<br />

everything that a collection of small firms can do and more?", ou seja, <strong>em</strong> explicar as fontes das<br />

falhas organizacionais. As complexida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> tal tarefa se explicam (i<strong>de</strong>m): "assessing bureaucratic<br />

failure is unavoidably a comparative institutional issue [...] [and] is an interdisciplinary issue.<br />

Economists, however, rarely possess the requisite knowledge of internal organization to perform<br />

these comparative assessments, while sociologists [...] are rarely interested in the comparative<br />

analysis of differential efficiency."<br />

39


DC : a diferença entre os custos <strong>de</strong> produção interna ou <strong>de</strong>ntro da firma [CI(k)] e os<br />

custos <strong>de</strong> produção do mercado [CM(k)];<br />

⇒ DC = CI(k) - CM(k), on<strong>de</strong> DC > 0 ∀ k ;<br />

DG : a diferença entre os custos <strong>de</strong> organizar a produção burocrática ou hierarquicamente<br />

[B(k)] e <strong>de</strong> fazê-lo pelo mercado [M(k)];<br />

⇒ DG = B(k) - M(k), on<strong>de</strong> dB < dM;<br />

DC + DG : a soma dos custos <strong>de</strong> produção e transação.<br />

A curva DG indica que os gastos <strong>em</strong> organizar a produção s<strong>em</strong> especificida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

ativos é menor nos mercados, o que po<strong>de</strong> ser atribuído aos incentivos <strong>de</strong> alta potência que<br />

são nestes proporcionados e que suplantam as distorções burocráticas presentes nas firmas.<br />

Mas à medida que aumenta a especificida<strong>de</strong> dos ativos, as relações bilaterais se acentuam e<br />

sob a hierarquia tais transações po<strong>de</strong>m ser coor<strong>de</strong>nadas a custos mais baixos que nos<br />

mercados. Em k3 distingue-se o break-even point da seleção entre firma e mercado para<br />

organizar a transação quando são avaliados apenas os custos <strong>de</strong> transação, ou seja,<br />

consi<strong>de</strong>rando as economias <strong>de</strong> escala ou escopo insignificantes ou que as firmas sejam<br />

gran<strong>de</strong>s o suficiente para esgotá-las (WILLIAMSON, 1985, p. 90).<br />

40


A curva DC, no entanto, é justamente a reconsi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong>ssa simplificação. Nela<br />

está expressa a capacida<strong>de</strong> dos mercados <strong>em</strong> agregar <strong>de</strong>mandas com vantagens e obter<br />

economias <strong>de</strong> escala e escopo, mas seu comportamento é <strong>de</strong>crescente com o crescimento<br />

da especificida<strong>de</strong> do ativo. Ela é s<strong>em</strong>pre positiva, aproximando-se assintoticamente <strong>de</strong><br />

zero. Ou seja, mesmo no caso <strong>de</strong> um ativo com gran<strong>de</strong> especificida<strong>de</strong>, um fornecedor<br />

especializado será mais eficiente para produzir tal b<strong>em</strong> do que a firma que vai utilizá-lo. A<br />

integração nunca se daria exclusivamente por vantagens <strong>de</strong> custos na produção. 64<br />

A reta DC + DG representa a soma dos custos <strong>de</strong> produção e "burocráticos" ou <strong>de</strong><br />

gestão da transação, sobre a qual <strong>de</strong>v<strong>em</strong> estar voltadas as atenções da firma para a<br />

economização. Com baixa especificida<strong>de</strong> do ativo t<strong>em</strong>os, <strong>de</strong> modo correspon<strong>de</strong>nte, altos<br />

valores <strong>de</strong> DC e DG oriundos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s diferenças ( CI(k) - CM(k) e B(k) - M(k) ) que<br />

favorec<strong>em</strong> a escolha do mercado para promoção da transação. A opção pelas firmas só fará<br />

sentido no critério <strong>de</strong> economização conjunta quando a reta DC + DG passar a assumir<br />

valores negativos, correspon<strong>de</strong>ndo a custos dos mercados maiores que os da firma, e isso<br />

acontece a partir do ponto k1. Nas proximida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sse ponto <strong>de</strong> indiferença, a escolha não<br />

é, na verda<strong>de</strong>, um processo simples, principalmente <strong>em</strong> função da racionalida<strong>de</strong> limitada<br />

dos agentes, que lhes impedirá <strong>de</strong> chegar à <strong>de</strong>terminação exata do valor <strong>de</strong> k1. É mais<br />

plausível consi<strong>de</strong>rar que há um intervalo <strong>de</strong> indiferença na vizinhança do ponto on<strong>de</strong> a<br />

escolha <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá principalmente da forma anterior <strong>de</strong> organização das firmas (plantas<br />

únicas ou múltiplas, por ex<strong>em</strong>plo, que necessit<strong>em</strong> <strong>de</strong> ativos específicos unitários ou <strong>em</strong><br />

maior quantida<strong>de</strong> na produção para um <strong>de</strong>terminado mercado), como argumenta<br />

WILLIAMSON (1985, p. 93 e 96, nr. 13).<br />

As linhas tracejadas ilustram o caso <strong>em</strong> que uma (gran<strong>de</strong>) firma t<strong>em</strong> vantagens <strong>de</strong><br />

escala, ou seja, menores custos <strong>de</strong> produção, mas maiores custos burocráticos. A curva DG<br />

original sofreria uma rotação no sentido horário, partindo <strong>de</strong> um ponto mais elevado no<br />

eixo dos custos, representada agora por DG'. 65 Em função das economias <strong>de</strong> escala<br />

atingidas pela firma, a curva DC recuaria <strong>em</strong> direção à orig<strong>em</strong> dos eixos, indicando<br />

menores custos <strong>de</strong> produção para a firma com um mesmo grau <strong>de</strong> especificida<strong>de</strong> dos ativos<br />

64 Talvez aqui o argumento <strong>de</strong>ixe-se levar apenas pela ótica das economias <strong>de</strong> escala, mas<br />

não <strong>de</strong> escopo - <strong>em</strong> que uma <strong>em</strong>presa possa ter maior "familiarida<strong>de</strong>" com um equipamento ou<br />

técnica <strong>de</strong> produção, por ex<strong>em</strong>plo, que precise <strong>de</strong> um compl<strong>em</strong>ento a jusante ou a montante.<br />

65 A prova <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamento é apresentada <strong>em</strong> WILLIAMSON (1985, p. 94).<br />

41


- fato <strong>de</strong>scrito pela nova curva DC'. A nova curva DC' + DG' estará também mais próxima<br />

da orig<strong>em</strong> dos eixos e terá valores negativos para a diferença entre custos conjuntos da<br />

organização hierárquica e organização pelo mercado a partir <strong>de</strong> k2, que está <strong>em</strong> níveis mais<br />

baixos <strong>de</strong> especificida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ativos que o ponto anterior k1. Isso significa que gran<strong>de</strong>s<br />

firmas, ao diagnosticar economias <strong>de</strong> escala na produção <strong>de</strong> bens com alguma<br />

especificida<strong>de</strong> que normalmente compram no mercado, estarão mais tentadas à integração,<br />

mesmo enfrentando maiores custos para organizar a transação internamente. 66<br />

Por fim, retornando ao caso geral, seria então vantajoso recorrer ao mercado, na<br />

ótica dos custos <strong>de</strong> organização das transações e na obtenção <strong>de</strong> economias <strong>de</strong> escala,<br />

quando houvesse um grau <strong>de</strong> especificida<strong>de</strong> dos ativos k* > k1. Os sinais duplos indicam a saída<br />

do intervalo <strong>de</strong> indiferença estabelecido na vizinhança do ponto k* <strong>em</strong> função da<br />

racionalida<strong>de</strong> limitada dos agentes.<br />

A TCT <strong>em</strong> seu mo<strong>de</strong>lo interpreta e busca, <strong>em</strong> suma, analisar o mundo dos<br />

contratos sob incerteza habitado pelo hom<strong>em</strong> contratual oportunista e limitado<br />

racionalmente, que efetua as transações econômicas diante <strong>de</strong> limitações e especificida<strong>de</strong>s<br />

tecnológicas e/ou institucionais, e que por essas características recorre a diferentes formas<br />

<strong>de</strong> organizar a produção. Uma vez apresentadas as bases do mo<strong>de</strong>lo consi<strong>de</strong>ramos<br />

oportuno avançar para o próximo capítulo, on<strong>de</strong> serão apresentadas as críticas ao<br />

paradigma dos custos <strong>de</strong> transação.<br />

66 WILLIAMSON (1985, p. 95) afirma também que, geralmente, as firmas organizadas sob a<br />

forma M (multidivisional) ten<strong>de</strong>m a ser mais integradas que as organizadas sob a forma U<br />

(unidivisional), pois consegu<strong>em</strong> eliminar distorções burocráticas que estas últimas mantém, e<br />

também por permitir<strong>em</strong> maior e melhor fluxo <strong>de</strong> informações (interno) do que é possível ser<br />

conseguido por um agente externo no mercado <strong>de</strong> capitais (vi<strong>de</strong> também HUGHES, 1987, p. 575).<br />

42


4 UMA APRESENTAÇÃO ÀS CRÍTICAS DA TEORIA DOS<br />

43<br />

CUSTOS DE TRANSAÇÃO<br />

As críticas à TCT, como já sugerido anteriormente, aportam dos mais diversos<br />

veios teóricos, sinalizando a princípio o êxito da estratégia <strong>de</strong> Williamson <strong>em</strong> difundir seu<br />

trabalho, mas também tornando difícil um tratamento or<strong>de</strong>nado e razoavelmente<br />

concatenado das consi<strong>de</strong>rações envolvidas, b<strong>em</strong> como uma precisa i<strong>de</strong>ntificação daquelas<br />

que têm recebido a <strong>de</strong>vida pon<strong>de</strong>ração e/ou contra argumentação dos cientistas mais<br />

simpáticos à TCT. Isso se <strong>de</strong>ve tanto à sua racionalida<strong>de</strong> limitada quanto à ausência <strong>de</strong><br />

canais <strong>de</strong> informação que lhes disponibilize várias <strong>de</strong>las - sendo estas duas limitações<br />

plena ou ampliadamente aplicáveis a nós mesmos, obviamente -, mas é possível também<br />

que resulte da imprevisibilida<strong>de</strong> das reações acadêmicas ao percebê-los ouvindo correntes<br />

teóricas excomungadas pelo mainstream ou <strong>de</strong> sua conduta estratégica ou oportunista <strong>de</strong><br />

selecionar os t<strong>em</strong>as e dirigir as respostas!<br />

A qualificação dos autores envolvidos foi certamente o maior obstáculo a ser<br />

vencido nesta dissertação, <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> da n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre fácil e justa tarefa <strong>de</strong> "rotular" suas<br />

idéias, e também <strong>em</strong> função das coincidências com relação aos alvos <strong>de</strong> suas críticas.<br />

Aliás, como se po<strong>de</strong>rá perceber, <strong>em</strong> várias passagens julgamos ser válido (pelo peso da<br />

omissão que nos abate) compl<strong>em</strong>entar críticas mais comuns a uma corrente, mas que<br />

aparec<strong>em</strong> também contidas nas idéias <strong>de</strong> outro(s) autor(es) consi<strong>de</strong>rado(s) <strong>em</strong> uma outra,<br />

<strong>em</strong>bora com menor evidência. Alternativamente, po<strong>de</strong>ríamos ter reunido as críticas <strong>de</strong><br />

forma t<strong>em</strong>ática, o que abriria a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> agrupar as correntes não ortodoxas por sua<br />

afinida<strong>de</strong> metodológica ao redor do não reducionismo, instigando a elaboração <strong>de</strong> uma<br />

espécie <strong>de</strong> "síntese não reducionista" da teoria da firma. 67 Embora tentador, optamos por<br />

analisar separadamente cada corrente e reunir <strong>de</strong> forma mais contun<strong>de</strong>nte as críticas<br />

particulares, o que parece um passo intermediário e necessário para qualquer tentativa <strong>de</strong><br />

"síntese". Não obstante, um esforço inicial (ou até mesmo propedêutico) nessa direção é<br />

assumido mais à frente, no capítulo conclusivo ao final do trabalho, <strong>em</strong> busca justamente


<strong>de</strong> afinida<strong>de</strong>s entre as correntes e da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma agenda <strong>de</strong> pesquisa com maiores<br />

sinergias para o estudo da firma e das relações entre as mesmas. Se assim po<strong>de</strong>mos<br />

proce<strong>de</strong>r, cabe neste capítulo trazer uma apresentação <strong>de</strong> tais referências críticas,<br />

organizadas por suas afinida<strong>de</strong>s a certas abordagens teóricas.<br />

4.1 Fontes Críticas Evolucionistas<br />

Agrupamos nesta seção algumas referências <strong>de</strong> autores que po<strong>de</strong>m ser, <strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>spretensiosa perspectiva, reunidos s<strong>em</strong> prejuízos (taxonômicos ou <strong>de</strong> limitação in<strong>de</strong>vida<br />

do escopo <strong>de</strong> seus trabalhos) sob um enfoque comum <strong>de</strong> argumentação evolucionista, ou<br />

seja, que estejam preocupados com o <strong>de</strong>senvolvimento (<strong>em</strong> suma, mutação, adaptação,<br />

difusão, interação e seleção) no t<strong>em</strong>po das "espécies" econômicas 68 e as respectivas<br />

trajetórias percorridas, num contexto <strong>de</strong> competição e incerteza. O conceito <strong>de</strong> inovação<br />

(legado schumpeteriano) é central como propulsor do sist<strong>em</strong>a capitalista, capaz <strong>de</strong> criar<br />

diferenciais competitivos que impulsion<strong>em</strong> a valorização do capital ou que, no mínimo,<br />

permitam sobrevida aos agentes que <strong>de</strong>la se utiliz<strong>em</strong> - que, aliás, não são necessariamente<br />

seus criadores. Para tanto, é fundamental atentar para a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apreensão e uso do<br />

conhecimento, e <strong>de</strong> domínio e manipulação <strong>de</strong> informações na busca ou consolidação <strong>de</strong><br />

posições vantajosas no ambiente competitivo.<br />

Acreditamos que essa ru<strong>de</strong> apresentação da "lógica" evolucionista esteja longe dos<br />

refinamentos possuídos pelo leitor, mas po<strong>de</strong> ainda assim, a princípio, permitir que o<br />

direcionamento <strong>de</strong> suas críticas à TCT seja melhor situado.<br />

67 A Professora Vanessa Petrelli, numa ocasião <strong>em</strong> que o projeto <strong>de</strong>sta pesquisa foi posto à<br />

prova, também percebeu e sugeriu esse mesmo <strong>de</strong>safio, mas enten<strong>de</strong>u que ele envolvia esforços<br />

mais que hercúleos diante dos contingenciais limites <strong>de</strong> um Mestrado.<br />

68 Numa discussão da analogia biológica, que lhes é peculiar, as espécies são representadas<br />

economicamente por firmas ou por técnicas (cf. NOOTEBOOM, 1992, p. 286-287), assim como os<br />

genes são i<strong>de</strong>ntificados pelas rotinas utilizadas pelas firmas ou pelas tarefas que compõ<strong>em</strong> cada<br />

técnica, cf. NELSON e WINTER (1982) e MAGNUSSON e OTTOSSON (1996). Em junção,<br />

po<strong>de</strong>mos transcrever HODGSON (1988, p. 208): "As Thorstein Veblen perceived long ago, and<br />

Richard Nelson and Sidney Winter (1982) have argued more recently, the firm has an ability to<br />

store and reproduce a large number of gene-like habits and routines".<br />

44


4.1.1 Consi<strong>de</strong>rações dinâmicas: aprendizado, competências e<br />

construção <strong>de</strong> alternativas no processo <strong>de</strong> competição<br />

De certa forma, aos olhos evolucionistas a TCT parece conter avanços relevantes -<br />

se comparada à análise neoclássica tradicional - na composição <strong>de</strong> uma teoria das firmas;<br />

no entanto, ainda lhe falta superar um caráter estático. A literatura evolucionista a que<br />

tiv<strong>em</strong>os acesso mostrou-se bastante receptiva e disposta a incorporar preocupações e<br />

argumentações da TCT <strong>em</strong> sua agenda <strong>de</strong> pesquisas. 69 A aliança porém não viria s<strong>em</strong><br />

atritos. 70<br />

Essa principal crítica po<strong>de</strong> ser expressa <strong>de</strong> forma sintética pelas palavras <strong>de</strong> Bart<br />

NOOTEBOOM (1992, p. 281):<br />

Standard transaction cost economics consi<strong>de</strong>rs transactions from the perspective of<br />

static efficiency. Increasingly, attention is required to dynamic efficiency; to<br />

capabilities to exploit transaction relations for innovation. Since innovation is<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt on knowledge and learning, the step from the statics to the dynamics of<br />

exchange requires an un<strong>de</strong>rstanding of the <strong>de</strong>velopment and acquisition of<br />

knowledge, preferences, and meaning, and the role in that of interaction between<br />

transaction partners. 71<br />

Também David Teece <strong>de</strong>ixa claro que "In or<strong>de</strong>r to fully <strong>de</strong>velop its capabilities,<br />

transaction cost economics must be joined with a theory of knowledge and production"<br />

(1990, p. 59, apud FOSS, N., 1996b, p. 9).<br />

69 Do ponto <strong>de</strong> vista williamsoniano, po<strong>de</strong>r-se-ía dizer que as preocupações e argumentações<br />

evolucionistas são passíveis <strong>de</strong> incorporação pela TCT, já que para WILLIAMSON (1985, p. xii)<br />

"transaction cost arguments are often best used in conjunction with, rather than to the exclusion of,<br />

other ways of examining the same phenomena." No entanto, se se acredita que não há interseção<br />

dos domínios <strong>de</strong> aplicação entre a TCT e a(s) abordag<strong>em</strong>(ns) evolucionista(s) da firma, elas passam<br />

então a concorrer diretamente (cf. FOSS, N., 1996c, p. 13 e 1996b, p. 12). Há, porém, <strong>em</strong> tal<br />

interpretação margens tanto para consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> compl<strong>em</strong>entarida<strong>de</strong> quanto <strong>de</strong> excludibilida<strong>de</strong>,<br />

como mencionar<strong>em</strong>os mais à frente nesta seção e nas conclusões, como suger<strong>em</strong> WINTER (1993,<br />

p. 189-193) e GROENEWEGEN e VROMEN (1996).<br />

70 Talvez seja válido criar um aparato institucional que dê chance a esta transação... S<strong>em</strong> o<br />

abuso do jogo <strong>de</strong> palavras, é o que se encontra sugerido <strong>em</strong> DOSI et al. (1994, apud BERGERON,<br />

1996, p. 152 - aliás, com a plena concordância <strong>de</strong>ste, cf. p. 134).<br />

71 O mesmo argumento é apresentado <strong>em</strong> NOOTEBOOM (1996, p. 329).<br />

45


Ainda na mesma direção, além <strong>de</strong> Nooteboom e Teece, encontramos PONDÉ<br />

(1993a,b, 1994 e 1996). Pondé consi<strong>de</strong>ra louvável a adoção pela TCT das hipóteses <strong>de</strong><br />

racionalida<strong>de</strong> limitada e dos dil<strong>em</strong>as vindos da incerteza. 72 Isto a diferencia <strong>de</strong> outras<br />

abordagens sobre probl<strong>em</strong>as organizacionais consi<strong>de</strong>radas extensões dos conceitos <strong>de</strong><br />

racionalida<strong>de</strong> ilimitada e otimização, como as <strong>de</strong> KLEIN; CRAWFORD e ALCHIAN<br />

(1978), ALCHIAN e DEMSETZ (1972), e JENSEN e MECKLING (1976), explicitamente<br />

referidos por PONDÉ (1994, p. 40-1), 73 po<strong>de</strong>ndo estas ser<strong>em</strong> enquadradas no que POSSAS<br />

72 Parece haver por parte <strong>de</strong> Pondé uma certa <strong>em</strong>patia por interpretar a noção <strong>de</strong> incerteza<br />

adotada por Williamson como aquela <strong>de</strong>rivada (literalmente) <strong>de</strong> Knight, ou <strong>de</strong> alguma forma<br />

próxima àquela <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> G. Shackle (muito simpática à visão pós-keynesiana). Nesse sentido<br />

certamente caminharia uma interpretação heterodoxa <strong>de</strong> Williamson, na tentativa <strong>de</strong> visualizar<br />

contribuições da TCT que se afast<strong>em</strong> do mainstream neoclássico. Embora NORTH (1993a) adote<br />

um conceito mais amplo <strong>de</strong> incerteza, que engloba a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se <strong>de</strong>finir uma distribuição<br />

<strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong>s e, assim, mais próximo das interpretações heterodoxas <strong>de</strong> incerteza,<br />

WILLIAMSON (1991a, p. 291, reproduzido s<strong>em</strong> alterações <strong>em</strong> WILLIAMSON, 1996a, p. 116)<br />

parece, no entanto, ater-se ainda ao risco (l<strong>em</strong>brando novamente a importante dicotomia herdada <strong>de</strong><br />

Knight): "Greater uncertainty could take either of two forms. One is that the probability<br />

distribution of disturbances r<strong>em</strong>ains unchanged but that more numerous disturbances occur. A<br />

second is that disturbances become more consequential (due, for example, to an increase in the<br />

variance)". Essa interpretação <strong>de</strong> Williamson é expressa por AZEVEDO (1996), sendo também<br />

comum a autores pós-keynesianos, como para Stephen DUNN (1998), Gary Slater e Mahmood<br />

Messkoub (<strong>em</strong> contato pessoal). Autores neoclássicos normalmente não faz<strong>em</strong> qualquer referência<br />

ao assunto, ao que parece por consentimento, o que engrossa as fileiras da leitura ortodoxa da TCT.<br />

A dubieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Williamson, no entanto, permanece. Ao explicar seu conceito <strong>de</strong> incerteza<br />

comportamental, WILLIAMSON (1985, p. 58) cita Ludwig von Mises (1949 - grifo <strong>de</strong><br />

Williamson): "any reference to frequency is inappropriate, as our stat<strong>em</strong>ents always <strong>de</strong>al with<br />

unique events". Na mesma página (nota <strong>de</strong> rodapé 17), cita também o próprio Shackle (1961, p.<br />

55): "in a great multitu<strong>de</strong> and diversity of matters the individual has no record of sufficient number<br />

of sufficiently similar acts, of his own or other people's, to be able to construct a valid frequency<br />

table of the outcomes of acts of this kind. Regarding these acts, probabilities are not available to<br />

him"; e ainda Georgescu-Roegen (1971, p. 83): "a measure for all uncertainty situations ... has<br />

absolutely no meaning, for it can be obtained only by an intentionally mutilated representation of<br />

reality". À marg<strong>em</strong> das diferentes nuances das <strong>de</strong>finições citadas, há <strong>em</strong> comum a impossibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> formar distribuições <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong> (e, assim, <strong>de</strong> "calcular riscos"), o que entra <strong>em</strong> conflito<br />

com o uso do conceito feito <strong>em</strong> seu artigo <strong>de</strong> 1991, como citado acima.<br />

73 PONDÉ (1996, p. 538) afirma que: "A consciência <strong>de</strong> que - abandonada a maximização e<br />

o equilíbrio - o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho do mercado só po<strong>de</strong> ser explicado a partir da análise <strong>de</strong> condicionantes<br />

'estruturais' que os mo<strong>de</strong>los neoclássicos não oferec<strong>em</strong> é compartilhada por seguidores <strong>de</strong><br />

diferentes correntes - pós-keynesianos, 'velhos' institucionalistas, 'novos' institucionalistas,<br />

evolucionistas e neo-austríacos". Seu esforço, como já sugerido, caminha para uma tentativa <strong>de</strong><br />

síntese entre a TCT e a teoria evolucionista da firma, incorporando contribuições <strong>de</strong> outras<br />

correntes heterodoxas - o que <strong>em</strong> parte espelha um certo esforço contido nesta dissertação, como já<br />

comentado.<br />

46


(1995) chamou <strong>de</strong> "cheia do mainstream" (cf. PONDÉ, 1996, p. 539). 74 No entanto, seria<br />

necessário incluir um aspecto dinâmico à TCT, que abrangesse a evolução <strong>de</strong> formas ou<br />

arranjos institucionais que são gerados no intuito <strong>de</strong> reduzir os custos <strong>de</strong> transação. 75 Isto<br />

po<strong>de</strong> ser melhor expresso nas palavras do próprio autor (PONDÉ, 1993a, p. 64 - grifo no<br />

original): "as opções quanto às maneiras <strong>de</strong> organizar as ativida<strong>de</strong>s econômicas não<br />

exist<strong>em</strong> enquanto possibilida<strong>de</strong>s dadas que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser <strong>de</strong>scobertas e avaliadas pelos<br />

agentes econômicos, mas precisam ser inventadas no bojo <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> inovação<br />

cuja natureza e <strong>de</strong>terminantes po<strong>de</strong>m ser melhor compreendidos a partir da Teoria dos<br />

Custos <strong>de</strong> Transação".<br />

De forma s<strong>em</strong>elhante, LANGLOIS e FOSS, N. (1997, p. 25) discorr<strong>em</strong> que: "the<br />

essence of <strong>de</strong>cision making is not making a choice among pre-given alternatives; it is a<br />

matter of constructing something res<strong>em</strong>bling a <strong>de</strong>cision situation by <strong>de</strong>fining which<br />

variables are relevant, which in turn requires making sense of the environment, setting up<br />

procedures for solving the probl<strong>em</strong>, etc".<br />

Para tanto, à s<strong>em</strong>elhança dos argumentos <strong>de</strong> Nooteboom apresentados há pouco, é<br />

necessário incluir os aspectos <strong>de</strong> aprendizado que levam às inovações, não só tecnológicas<br />

mas também organizacionais, e que <strong>de</strong>ssa forma sujeitam-se a efeitos <strong>de</strong> inércia, lock-in,<br />

path <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncy, e outros evi<strong>de</strong>nciados pelas abordagens evolucionistas 76 . Isso resultaria<br />

<strong>em</strong> dois aspectos compl<strong>em</strong>entares a ser<strong>em</strong> consi<strong>de</strong>rados numa teoria integrada do<br />

74 Tal posição suscita controvérsias: GROENEWEGEN e VROMEN (1996, p. 367), por<br />

ex<strong>em</strong>plo, admit<strong>em</strong> que "Williamson and others can thus be said to have expan<strong>de</strong>d the domain of<br />

'standard' or 'conventional' approach". Entretanto, <strong>em</strong> seguida argumentam que (p. 368): "Certainly,<br />

TCE [Transaction Cost Economics] follows the neoclassical program in being methodologically<br />

individualistic and stressing economizing behavior, but with respect to the type of rationality,<br />

opportunistic behavior, and relationships with the complex, uncertain environment, TCE clearly<br />

<strong>de</strong>parts from neoclassical orthodoxy. The impression exists that Oliver Williamson wants to stay<br />

close to the neoclassical approach in or<strong>de</strong>r to save 'rigorous analysis', but realizes very well that<br />

orthodoxy is not equipped to explain economic governance structures". A interpretação <strong>de</strong> Pondé, e<br />

também a <strong>de</strong> Groenewegen e Vromen, parec<strong>em</strong> estar inseridas no que FERNÁNDEZ (1996a, p.<br />

159) i<strong>de</strong>ntifica como uma tentativa da heterodoxia <strong>em</strong> evi<strong>de</strong>nciar aspectos teóricos comuns entre as<br />

correntes críticas ao mainstream neoclássico. Conquanto a TCT contenha el<strong>em</strong>entos "estranhos" ao<br />

mainstream, estará tanto à mercê <strong>de</strong> tal interpretação quanto das que suger<strong>em</strong> uma unificação ou<br />

compl<strong>em</strong>entarida<strong>de</strong> com a teoria neoclássica.<br />

75 Ou que procurasse explicar a evolução <strong>de</strong> estruturas institucionais mais eficazes na<br />

acumulação <strong>de</strong> competências (cf. FOSS, N., 1996c, p. 15).<br />

47


comportamento e evolução das instituições <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> e entre firmas e mercados, num<br />

ambiente incerto e como reflexo <strong>de</strong> sua busca por vantagens competitivas. Nas palavras do<br />

próprio PONDÉ (1993a, p. 122):<br />

No âmbito da coor<strong>de</strong>nação, uma investigação do grau <strong>em</strong> que estão presentes ativos<br />

específicos e da dimensão assumida pela incerteza comportamental - provocada<br />

seja pelo oportunismo ou pela diversida<strong>de</strong> cognitiva - são indispensáveis. Já para o<br />

aprendizado, mostram-se cruciais a complexida<strong>de</strong> sistêmica das tecnologias<br />

envolvidas e o seu conteúdo tácito. O resultado é o primeiro esboço <strong>de</strong> um corpo<br />

teórico que permite ver a criação <strong>de</strong> arranjos institucionais locais [...] como<br />

respostas criativas das firmas aos <strong>de</strong>safios apresentados pelas necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

atenuar a incerteza comportamental e criar ambientes propícios à inovação<br />

tecnológica.<br />

Críticas <strong>de</strong> natureza s<strong>em</strong>elhante são feitas por autores evolucionistas mais próximos<br />

a Friedrich Hayek e à Escola Austríaca (como Richard Langlois, Nicolai Foss e Paul<br />

Robertson), a partir do que chamam <strong>de</strong> competence-based ou capabilities approach da<br />

firma (cf. FOSS, N., 1996b,c). 77 Sua preocupação está centrada nos processos <strong>de</strong><br />

construção, aquisição, combinação, utilização, transmissão e proteção das competências<br />

das instituições produtivas - <strong>em</strong> particular, as firmas. Tais competências são <strong>de</strong>scritas<br />

como "the rules - the routines - that agents follow within an organization [that] <strong>em</strong>body<br />

(often tacit) knowledge that is useful for action. This knowledge constitutes the capabilities<br />

of the firm" (LANGLOIS, 1994a, p. 5 - grifo no original) 78 . Deve-se atentar, porém, para<br />

o fato das rotinas ser<strong>em</strong> a representação do que a firma realmente faz, enquanto as<br />

competências - além <strong>de</strong> as englobar<strong>em</strong> - significam também o que a firma po<strong>de</strong>ria fazer<br />

com a realocação dos recursos que utiliza (cf. LANGLOIS e ROBERTSON, 1995, p. 16).<br />

76<br />

HODGSON (1996, p. 253) afirma inclusive que "The very act of learning means that not<br />

all information is possessed and global rationality is ruled out. [...] The phenomenon of learning is<br />

antagonistic to the concepts of rational optimization and equilibrium".<br />

77<br />

É possível encontrar outras <strong>de</strong>signações para essa linha do pensamento econômico, como<br />

neo-austríacos ou pós-marshallianos.<br />

78<br />

Para LANGLOIS (1994b, p. 9 - grifo no original): "The meaning of the term capabilities is<br />

ambiguous in the literature, often se<strong>em</strong>ing synonymous with competence but sometimes also<br />

se<strong>em</strong>ing to refer to higher-level routines, that is, to the organization's ability to apply its existing<br />

competences and create new ones (Teece, Pisano, and Shuen 1992)."<br />

48


4.1.2 Conhecimento tácito e social, competências e os custos dinâmicos <strong>de</strong> transação<br />

O domínio, ou não, dos conhecimentos e das habilida<strong>de</strong>s necessárias a uma nova<br />

tarefa (ou a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adquiri-los) diante <strong>de</strong> uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudança<br />

econômica, i.e. gerar e/ou fazer com que uma inovação seja b<strong>em</strong> sucedida, se torna o<br />

el<strong>em</strong>ento chave <strong>de</strong> análise da firma. Nas palavras <strong>de</strong> FREEMAN (1994, p. 483):<br />

"Organisational and institutional innovations are [...] inextricably associated with technical<br />

innovations". A TCT, ao focalizar a essência da estrutura organizacional na transação 79 e<br />

tentar explicá-la <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> eficiência ou habilida<strong>de</strong> para restringir comportamentos<br />

rent-seeking improdutivos, acaba por ignorar o aspecto mais relevante no estudo da firma,<br />

qual seja o <strong>de</strong> sua constituição ou seu repertoire of capabilities, afinal <strong>de</strong> contas, "the firm<br />

knows more than its contracts can tell" (FOSS, N., 1996b, p. 18, citando KOGUT e<br />

ZANDER, 1992); ao mesmo t<strong>em</strong>po, negligencia o lado dos benefícios obtidos com cada<br />

estrutura organizacional alternativa ao preocupar-se apenas com custos (LANGLOIS e<br />

FOSS, N., 1997, p. 6). 80 Tal repertório <strong>de</strong> competências é on<strong>de</strong> se po<strong>de</strong> enxergar o que a<br />

firma po<strong>de</strong> ou não produzir, além <strong>de</strong> como po<strong>de</strong>rá fazê-lo. Nas palavras <strong>de</strong> WINTER<br />

(1993, p. 190): "when a firm grows by vertical integration, it is not just a question of 'more<br />

of the same'. But it is more of something closely related, something about the firm already<br />

has some <strong>de</strong>gree of relevant knowledge. The evolutionary view suggests that this '<strong>de</strong>gree'<br />

is probably an important <strong>de</strong>terminant of where integration takes place and where it does<br />

not."<br />

Em contraste, há para FOSS, N. (1996c, p. 14, citando DEMSETZ, 1988) "an<br />

un<strong>de</strong>rlying assumption in the contractual approach is that while knowledge for<br />

manag<strong>em</strong>ent (governance) purposes is scarce and costly, knowledge for production<br />

purposes is assumed to be free; as a result, <strong>de</strong>cisions on the boundaries of the firm [...]<br />

79 Ou seja, separar "produção" <strong>de</strong> "gestão", fazendo recair a atenção <strong>de</strong>sta última sobre as<br />

trocas - make or buy <strong>de</strong>cisons (cf. FOSS, N., 1996b, p. 17 e 1996c, p. 14; e também LANGLOIS e<br />

FOSS, N., 1997, p. 5).<br />

80 Neste ponto, citamos também DIETRICH (1994, p. 5 - grifo nosso): "the <strong>de</strong>velopment of a<br />

dynamic analysis of the firm must be based on governance structure benefits as well as costs". As<br />

argumentações <strong>de</strong> Dietrich serão consi<strong>de</strong>radas com mais <strong>de</strong>talhes na próxima seção.<br />

49


cannot turn on consi<strong>de</strong>rations of production cost." 81 As imperfeições relativas ao<br />

conhecimento acabam recaindo exclusivamente na esfera dos custos <strong>de</strong> transação. 82<br />

Entretanto, é cada vez mais reconhecido que muito do conhecimento é tácito,<br />

social, e também fracionado ou distribuído entre os diversos agentes participantes dos<br />

processos econômicos, principalmente na esfera da produção, i.e. é apenas gerado e<br />

mobilizado num contexto <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s produtivas multipessoais. 83 Ou seja, ao pensar <strong>em</strong><br />

mover ou manter seus limites, a firma (ou a hierarquia gestora) <strong>de</strong>ve preocupar-se não<br />

apenas <strong>em</strong> alinhar incentivos ex ante e salvaguardar-se do oportunismo ex post e da<br />

incerteza através da confecção <strong>de</strong> um certo arranjo contratual, mas principalmente <strong>em</strong><br />

saber se possui ou po<strong>de</strong> possuir competências para levar adiante a(s) nova(s) ativida<strong>de</strong>(s)<br />

absorvida(s) e/ou reformular a(s) r<strong>em</strong>anescente(s) quando alguma(s) outra(s) é(são)<br />

<strong>de</strong>sm<strong>em</strong>brada(s). 84 Nesse caso, "the cost of making contracts with potential partners, of<br />

81 Para uma abrangente explicação da dicotomia entre custos <strong>de</strong> produção e transação, e sua<br />

influência negativa sobre a qualida<strong>de</strong> da análise dos limites da firma, vi<strong>de</strong> LANGLOIS e FOSS, N.<br />

(1997, p. 9-10).<br />

82 Vale imaginarmos adicionalmente que a racionalida<strong>de</strong> limitada é característica tanto <strong>de</strong><br />

gestores quanto <strong>de</strong> trabalhadores <strong>de</strong> chão-<strong>de</strong>-fábrica. Esse ponto também é levantado por<br />

MARGINSON (1993, p. 138): "Only <strong>em</strong>ployers are faced by a probl<strong>em</strong> of boun<strong>de</strong>d rationality".<br />

Mesmo DEMSETZ (1988, p. 176, nr. 4 - grifos no original) realça que "'boun<strong>de</strong>d rationality' is not<br />

used to <strong>em</strong>phasize the differences in the content of the information that may be possessed by the<br />

personnel and traditions of different firms".<br />

83 Sidney WINTER (1982, p.89, apud HODGSON 1993b, p. 89) alega que "even if the<br />

contents of the organizational m<strong>em</strong>ory are stored only in the form of m<strong>em</strong>ory traces in the<br />

m<strong>em</strong>ories of individual m<strong>em</strong>bers, it is still an organizational knowledge in the sense that the<br />

fragment stored by each individual m<strong>em</strong>ber is not fully meaningful or effective except in the<br />

context provi<strong>de</strong>d by the fragments stored by other m<strong>em</strong>bers". A ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> Winter, HODGSON<br />

(1993a, p. 232) alega que "the capabilities of an organization such as a firm are not generally<br />

reducible to the capabilities of individual m<strong>em</strong>bers". Em HODGSON (1993b, p. 89) po<strong>de</strong>mos<br />

compl<strong>em</strong>entar o argumento: "because organizational knowledge is tacit knowledge, no individual<br />

can express it in a codified form. The knowledge becomes manifest only through the interactive<br />

practice of the m<strong>em</strong>bers of the group". Hodgson também comenta que a adoção <strong>de</strong> tal pr<strong>em</strong>issa por<br />

autores ligados à Escola Austríaca (como N. Foss e Langlois) representa um afastamento<br />

interessante do individualismo metodológico <strong>de</strong>fendido pela mesma, e notoriamente por Hayek.<br />

84 LANGLOIS e FOSS, N. (1997, p. 19) reforçam o argumento com o conhecido caso da<br />

máquina <strong>de</strong> lâmpadas <strong>de</strong>scrito por Michael Polanyi, ou seja, possuir a mesma tecnologia e os<br />

mesmos "manuais" do concorrente não resulta <strong>em</strong> custos idênticos <strong>de</strong> produção. É interessante<br />

notar que Williamson utiliza o mesmo ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> Polanyi para justificar que "Idiosyncratic<br />

investments in human capital are in many ways more interesting and less obvious than are those in<br />

physical capital" (1979, p. 242); cita também um caso <strong>de</strong>scrito por Charles Babbage <strong>em</strong> que<br />

manufaturas inglesas continuavam a ven<strong>de</strong>r seus produtos para seus tradicionais comerciantes<br />

al<strong>em</strong>ães através <strong>de</strong> pedidos escritos a mão e s<strong>em</strong> assinatura (e receber os <strong>de</strong>vidos pagamentos) <strong>em</strong><br />

períodos <strong>de</strong> guerra, nos quais tal comércio era proibido e severamente penalizado. Isto para, por<br />

50


educating potential licensees and franchisees, of teaching suppliers what it is one needs<br />

from th<strong>em</strong>, etc. become very real factors behind firms choosing their efficient boundaries"<br />

(FOSS, N., 1996c, p. 15) 85 . A propósito, LANGLOIS e ROBERTSON (1995, p. 18 -<br />

grifos no original) alertam para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rarmos <strong>de</strong> forma mais nítida o que<br />

a firma po<strong>de</strong> tentar fazer a respeito <strong>de</strong> seu futuro, ou melhor, admitir uma distinção das<br />

surpresas do t<strong>em</strong>po à la Knight:<br />

Because of uncertainty, markets, where they exist, may function imperfectly, and<br />

those firms that cope best with uncertain conditions will be in the best position to<br />

impl<strong>em</strong>ent their strategies. In this context, however, uncertainty has two separate<br />

meanings that need to be distinguished. The first, which we can call structural<br />

uncertainty, arises when a firm needs to base its <strong>de</strong>cision on judg<strong>em</strong>ents about<br />

future outcomes that are as yet unknowable. The second type of uncertainty, which<br />

we term parametric uncertainty, arises from the possibility of a range of market<br />

imperfections including boun<strong>de</strong>d rationality and opportunism. Whereas it is<br />

possible to adopt strategies to insure against parametric uncertainty, or at least to<br />

mitigate its effects, structural uncertainty cannot be eliminated strategically. 86<br />

De tal maneira, as competências ou rotinas garant<strong>em</strong> o funcionamento da firma,<br />

sendo, <strong>em</strong> <strong>de</strong>corrência, <strong>de</strong>terminantes da organização econômica e, particularmente, dos<br />

limites da firma 87 . Para que possa absorver ou assumir novas ativida<strong>de</strong>s, é preciso que a<br />

firma confronte os "dynamic transaction costs", que são os custos <strong>de</strong> não possuir as<br />

competências necessárias quando se precisa <strong>de</strong>las (LANGLOIS e ROBERTSON, 1995,<br />

cap. 3), ou, <strong>de</strong> outra forma, os custos que surg<strong>em</strong> <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po real no processo <strong>de</strong> aquisição e<br />

coor<strong>de</strong>nação do conhecimento produtivo (LANGLOIS, 1992, apud FOSS, N., 1996c, p.<br />

fim, afirmar que "un<strong>de</strong>rstanding and trust [...] are valued human assets which, once <strong>de</strong>veloped, will<br />

be sacrificed with reluctance" (i<strong>de</strong>m, p. 244).<br />

85<br />

O escopo das competências po<strong>de</strong> categorizar <strong>em</strong> "similares" (ou "compl<strong>em</strong>entares") ou, ao<br />

contrário, "díspares" as ativida<strong>de</strong>s contextualizadas numa dada situação <strong>de</strong> escolha dos limites da<br />

firma e sugere que ativida<strong>de</strong>s similares ou compl<strong>em</strong>entares próximas po<strong>de</strong>m ser melhor dirigidas<br />

sob uma gestão unificada, cf. RICHARDSON (1972, citado por FOSS, N., 1996c, p. 15) e também<br />

FOSS, N. (1996a, p. 16).<br />

86<br />

A questão voltará a ser comentada na seção seguinte, mas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já po<strong>de</strong>mos levantar um<br />

ponto fundamentado na noção <strong>de</strong> incerteza radical: como seria possível aos agentes, no nível do<br />

processo <strong>de</strong>cisório que prece<strong>de</strong> e acompanha toda transação, distinguir os fatos imprevisíveis<br />

daqueles que não lhes são sequer conhecidos?<br />

87<br />

Vale apresentar a opinião <strong>de</strong> DUGGER (1993, p. 196): "[...] routine is a powerful<br />

transaction cost economizer".<br />

51


14). Quando tais competências não estão ainda formadas nos mercados ou não po<strong>de</strong>m ser<br />

constituídas a baixos custos, 88 um controle organizacional centralizado - <strong>em</strong><br />

firmas/hierarquias - parece ter maior habilida<strong>de</strong> <strong>em</strong> redirecionar ou reformular as rotinas já<br />

existentes <strong>em</strong> prol <strong>de</strong> uma certa oportunida<strong>de</strong> <strong>em</strong>presarial. Contudo, não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />

consi<strong>de</strong>rar que a concentração da coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> novas competências sob relações hierár-<br />

quicas envolve dois importantes obstáculos (LANGLOIS, 1994a, p. 6): "(1) the<br />

recalcitrance of asset-hol<strong>de</strong>rs whose capital would have creatively to be <strong>de</strong>stroyed [...]<br />

[and] (2) the 'dynamic' transaction costs of informing and persuading new input-hol<strong>de</strong>rs<br />

whose capabilities are necessary to the success of the innovation". Sendo assim, o processo<br />

schumpeteriano <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição criadora existente no ambiente competitivo po<strong>de</strong> implicar<br />

reconfigurações <strong>de</strong> competências <strong>em</strong> ambos os sentidos: <strong>de</strong> antigas competências pulveri-<br />

zadas no mercado para novas competências coor<strong>de</strong>nadas <strong>de</strong> forma centralizada ou vice-<br />

versa (LANGLOIS e FOSS, N., 1997, p. 21). Por extensão do raciocínio, a existência da<br />

firma se explica <strong>em</strong> sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nar competências. Nas palavras <strong>de</strong> FOSS, N.<br />

(1996c, p. 2): "firms exist because they can more efficiently coordinate collective learning<br />

processes than market organization is able to." 89<br />

Na direção da compl<strong>em</strong>entarida<strong>de</strong> teórica mencionada no início da seção, FOSS, N.<br />

(1996b, p. 10-1), LANGLOIS e FOSS, N. (i<strong>de</strong>m, p. 28) e também WINTER (1993, p. 192)<br />

suger<strong>em</strong>, então, que o conceito <strong>de</strong> especificida<strong>de</strong> dos ativos construído por Williamson<br />

<strong>de</strong>va ser refinado e ampliado para consi<strong>de</strong>rar também as competências, cujas implicações<br />

sobre a organização econômica são as mesmas dos <strong>de</strong>mais tipos <strong>de</strong> especificida<strong>de</strong><br />

consi<strong>de</strong>rados. Nada mais idiossincrático a uma firma que suas competências, b<strong>em</strong> como a<br />

elas pouco se po<strong>de</strong> atribuir valor produtivo <strong>em</strong> usos alternativos, e, se assim o é, mais<br />

difícil sua replicação por estruturas diferentes e mais evi<strong>de</strong>nte que se <strong>de</strong>va buscar quase-<br />

rendas (ou lucros extraordinários) com o uso das mesmas <strong>de</strong>ntro das próprias fronteiras da<br />

88 Uma vez que seja bastante provável a proprieda<strong>de</strong> difusa ou não coinci<strong>de</strong>nte, por um lado,<br />

da parte a ser "<strong>de</strong>struída" e, por outro, da parte a ser "criada".<br />

89 HODGSON (1988, p. 209) ainda acrescenta que esse ambiente competitivo é<br />

potencialmente corrosivo para hábitos e rotinas que mantêm e transmit<strong>em</strong> capacitações e/ou<br />

competências produtivas, "and the existence of the firm can in part be explained by its ability to<br />

protect and sustain these routines within its institutional framework".<br />

52


firma. 90 Ou ainda: "the ability to transact (and therefore the cost of transacting) is itself a<br />

capability" (LANGLOIS e FOSS, N., i<strong>de</strong>m, p. 18, referindo-se a WINTER, 1988).<br />

Apelando para a prolixida<strong>de</strong> (útil, esperamos), tal idéia parece encontrar suporte relevante<br />

também na afirmação <strong>de</strong> GROENEWEGEN (1996, p. 1 - nosso grifo): "The general<br />

strategy out of which TCE [transaction cost economics] works can be summarized as<br />

follows: After having characterized the transaction, the potential governance structures are<br />

discussed in terms of transaction cost minimizing capabilities." 91<br />

NOOTEBOOM (1993) também faz críticas à hipótese <strong>de</strong> especificida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ativos<br />

com relação à <strong>de</strong>pendência criada entre os agentes transacionantes a partir daquela. Sobre<br />

tal aspecto, a TCT é ainda muito superficial <strong>em</strong> não observar que a hipótese necessita mais<br />

<strong>de</strong>talhadas qualificações para que seja possível enxergar formas <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência<br />

assimétrica ou mesmo unilateral entre os agentes. Um caso citado <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência<br />

unilateral é o que po<strong>de</strong> se originar <strong>de</strong> um comportamento estratégico (e <strong>de</strong> sua competência<br />

<strong>em</strong> realizá-lo com sucesso) <strong>de</strong> um fornecedor <strong>em</strong> diferenciar seu produto <strong>de</strong> forma que ao<br />

comprador não se apresente alternativa para o b<strong>em</strong> ou nenhum substituto. Mesmo que tal<br />

atitu<strong>de</strong> resulte <strong>de</strong> oportunismo (ou incerteza, como sugere DIETRICH, 1994) não previsto<br />

nas salvaguardas, envolve o aprendizado do fornecedor sobre o que po<strong>de</strong>ria ser feito <strong>em</strong><br />

direção à diferenciação (e monopolização) do produto durante a relação contratual. 92 E isso<br />

90 É interessante observar a opinião <strong>de</strong> JACOBY (1990, p. 324), para qu<strong>em</strong> <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os ter o<br />

cuidado <strong>de</strong> não superestimar tal fato. Isso se justifica por termos neste século uma organização do<br />

trabalho muito mais homogênea <strong>em</strong> códigos e procedimentos, relativos principalmente à<br />

racionalização e a controles burocráticos (tanto da produção quanto <strong>de</strong> sua coor<strong>de</strong>nação), que no<br />

século passado, quando as idiossincrasias a ser<strong>em</strong> absorvidas estavam muito mais relacionadas, por<br />

ex<strong>em</strong>plo, às características pessoais dos proprietários.<br />

91 Para formulações mais amplas das compl<strong>em</strong>entarida<strong>de</strong>s entre as idéias evolucionistas e o<br />

contractual approach da firma, como <strong>de</strong>finido mais à frente <strong>em</strong> nossa nota <strong>de</strong> rodapé 108, vi<strong>de</strong><br />

FOSS, N. (1996b, p. 10-1), pois para o mesmo "contractual theories may help us better un<strong>de</strong>rstand<br />

the organization and accumulation of capabilities (cf. Milgrom & Roberts, 1992). This is a clear<br />

compl<strong>em</strong>entarity between the two theories. But the compl<strong>em</strong>entarity is potentially double-si<strong>de</strong>d -<br />

for the notion of the firm as a bundle of capabilities may influence propositions from contractual<br />

theories of economic organization, too". Comentários nos mesmos mol<strong>de</strong>s são feitos por<br />

LANGLOIS e FOSS, N. (1997, p. 26-9).<br />

92 NOOTEBOOM (1993, p. 448) constrói uma série <strong>de</strong> qualificações <strong>em</strong> que <strong>de</strong>pendências<br />

<strong>em</strong> algum grau assimétricas são <strong>de</strong>senvolvidas a partir <strong>de</strong> diferentes especificida<strong>de</strong>s numa relação<br />

entre agentes - on<strong>de</strong> a especificida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> estar no produto transacionado ou nos procedimentos <strong>de</strong><br />

transação <strong>de</strong> um produto. Vários aspectos <strong>de</strong>ssas idéias estão presentes nos estudos <strong>de</strong> casos feitos<br />

posteriormente por NOORDERHAVEN; NOOTEBOOM e BERGER (1996).<br />

53


não é explorado por Williamson, n<strong>em</strong> mesmo quando <strong>de</strong>senvolve o conceito <strong>de</strong><br />

transformação fundamental.<br />

A essa altura, cab<strong>em</strong> algumas consi<strong>de</strong>rações mais diretas à TCT, buscando alguma<br />

evidência <strong>de</strong> sua preocupação com os t<strong>em</strong>as críticos <strong>de</strong>ste tópico. Segundo FOSS, N.<br />

(1996b, p. 9), Williamson parece finalmente reconhecer a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compl<strong>em</strong>entar a<br />

noção da firma como entida<strong>de</strong> contratual com a <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> competências quando<br />

rescreve a hipótese <strong>de</strong> eficiência que guia as instituições econômicas: "Align transactions,<br />

which differ in their costs and competences in a discriminating (mainly, transaction cost<br />

economizing) way" (WILLIAMSON, 1991a, p. 79 apud FOSS, N., ibid. - grifos <strong>de</strong> N.<br />

Foss). Mesmo antes, todavia, Williamson, ao sintetizar o campo <strong>de</strong> análise da organização<br />

das transações <strong>em</strong> três perguntas exploratórias, apresenta uma <strong>de</strong>las como segue: "what are<br />

the costs and competences of alternative mo<strong>de</strong>s of organization for managing<br />

transactions?" (1987a, p. 810 - nosso grifo). Se não nos custa ir um pouco mais longe no<br />

t<strong>em</strong>po, po<strong>de</strong>mos ver que WILLIAMSON (1985, p. 18 - nosso grifo) faz menção a alguma<br />

forma <strong>de</strong> competência das instituições ao <strong>de</strong>limitar os objetivos da organização econômica:<br />

"Transaction cost are economized by assigning transactions (which differ in their<br />

attributes) to governance structures (the adaptive capacities and associated costs of which<br />

differ) in a discriminating way". Antes ainda, ao explicar as vantagens da hierarquia sobre<br />

uma relação bilateral, WILLIAMSON (1979, p. 253 - nosso grifo) afirma que:<br />

"Obligational contracting (bilateral structures, where the autonomy of the parties is<br />

maintained) is supplanted by the more comprehensive adaptive capability affor<strong>de</strong>d by<br />

administration". Para que possamos julgar <strong>de</strong> forma mais conveniente tal trajetória <strong>de</strong><br />

mudanças, tentamos localizar o ponto <strong>de</strong> partida da hipótese. T<strong>em</strong>os, então,<br />

WILLIAMSON (1975, p. 21), ao explicar o foco <strong>de</strong> análise sobre o estudo das falhas<br />

organizacionais, afirmando que o mesmo se situa <strong>em</strong>: "namely, the assignment of<br />

economic activity to firm and market in such a way as to economize on transaction costs<br />

[...]", sentença esta que não apresenta sequer a referência à capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptação que<br />

apareceria nas passagens dos trabalhos mais recentes. A idéia parece realmente ter<br />

incorporado a sofisticação sugerida por N. Foss, <strong>em</strong>bora precise ganhar o caráter <strong>de</strong><br />

imprescindível e ter suas implicações <strong>de</strong>senvolvidas no mo<strong>de</strong>lo.<br />

54


Coase também parece reconhecer a relevância do probl<strong>em</strong>a, <strong>de</strong> acordo com<br />

LANGLOIS e FOSS, N. (1997, p. 19), ao comentar que (COASE, 1991, apud LANGLOIS<br />

e FOSS, N., ibid.):<br />

while transaction cost consi<strong>de</strong>rations undoubtedly explain why firms come into<br />

existence, once most production is carried out within firms and most transactions<br />

are firm-firm transactions and not factor-factor transactions, the level of<br />

transactions cost will be greatly reduced and the dominant factor <strong>de</strong>termining the<br />

institutional structure of production will in general no longer be transaction costs<br />

but the relative costs of different firms in organizing particular activities. 93<br />

4.1.3 Regimes inovativos e eficiência estática versus eficiência dinâmica<br />

Em NOOTEBOOM (1992, p. 282-3) encontramos alguns ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> situações<br />

<strong>em</strong> que o aspecto das competências interage com o da economização dos custos <strong>de</strong><br />

transação. Nooteboom evi<strong>de</strong>ncia, por ex<strong>em</strong>plo, alguns ramos <strong>de</strong> indústria que se <strong>de</strong>param<br />

com graus <strong>de</strong> incerteza cada vez maiores, tanto tecnológica (regimes <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> e rápida<br />

inovativida<strong>de</strong>) como <strong>de</strong> <strong>de</strong>manda (gostos e preferências). Para esses casos, segundo a TCT,<br />

<strong>de</strong>veria haver maior internalização <strong>de</strong> ativos para que fosse reduzida a <strong>de</strong>pendência para<br />

com fornecedores (outsourcing). No entanto, tais ramos têm conseguido reduções nos<br />

custos <strong>de</strong> transação com a absorção <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentos das tecnologias <strong>de</strong> informação e<br />

comunicação. E, ao contrário do que seria então esperado, os mesmos vêm incr<strong>em</strong>entando<br />

tendências <strong>de</strong> recorrer ao outsourcing, <strong>em</strong>bora o resultado não seja exatamente utilizar o<br />

mercado impessoal mas sim criar formas mais complexas <strong>de</strong> cooperação (cf.<br />

NOORDERHAVEN et al., 1996, p. 2). 94 Há que se notar, entretanto, que o próprio<br />

WILLIAMSON (1985, p. 143) admite tal possibilida<strong>de</strong> <strong>em</strong> casos envolvendo elevados<br />

potenciais inovativos, <strong>em</strong>bora não se estenda muito <strong>de</strong> forma analítica com o caso. 95 Isso,<br />

93 Nesse sentido, principalmente, recai a <strong>de</strong>fesa da compl<strong>em</strong>entarida<strong>de</strong> entre enfoques<br />

evolucionistas e a TCT feita por LANGLOIS e FOSS, N. (1997, p. 31).<br />

94 Alguns dos casos citados refer<strong>em</strong>-se, e.g. aos estudos <strong>de</strong> "distritos industriais" ou da<br />

"especialização flexível" feitos por PIORE e SABEL (1983, apud NOOTEBOOM, 1992, p. 283), e<br />

à indústria automobilística al<strong>em</strong>ã, estudada por SEMLINGER (1991, apud i<strong>de</strong>m).<br />

95 Alega-se muitas vezes que o progresso técnico é um el<strong>em</strong>ento - <strong>de</strong> extr<strong>em</strong>a importância -<br />

negligenciado por Williamson; mas há a preocupação <strong>de</strong> outros autores, como David Teece, no<br />

55


porém, acaba levando LANGLOIS e ROBERTSON (1995, p. 30) a afirmar<strong>em</strong> que a TCT é<br />

uma teoria <strong>de</strong> curto prazo, capaz apenas <strong>de</strong> dar respostas a mudanças institucionais <strong>em</strong><br />

situações momentâneas (comentários a respeito <strong>de</strong>sse ponto serão feitos mais à frente nesta<br />

seção). Se o que se <strong>de</strong>seja é incluir na análise a passag<strong>em</strong> do t<strong>em</strong>po, é preciso incluir<br />

aspectos <strong>de</strong> conhecimento e aprendizado. Através <strong>de</strong>stes, no longo prazo, 96 os custos <strong>de</strong><br />

transação passarão a ser irrelevantes, na medida <strong>em</strong> que atue uma tendência para as<br />

ativida<strong>de</strong>s, inclusive a <strong>de</strong> transacionar, se tornar<strong>em</strong> crescent<strong>em</strong>ente rotinas ou para o<br />

conhecimento contido nas competências da firma acabar<strong>em</strong> se diss<strong>em</strong>inando ou sendo <strong>de</strong><br />

alguma outra forma replicado. Nesse caso, os limites da firma serão <strong>de</strong>terminados inteira-<br />

mente pelas competências relativas entre a mesma e os mercados, ou mais precisamente<br />

pelos custos dinâmicos <strong>de</strong> transação. 97 O argumento po<strong>de</strong> ser sumariado no Quadro 2<br />

(reproduzido <strong>de</strong> LANGLOIS e ROBERTSON, 1995, p. 42).<br />

sentido <strong>de</strong> conjugá-lo com o marco teórico da TCT (cf. PONDÉ, 1996, p. 547). Po<strong>de</strong>mos, no<br />

entanto, simplesmente imaginar que ambientes <strong>de</strong> alto potencial inovativo não faz<strong>em</strong> parte do que<br />

Williamson se propôs explicar, apesar das generalizações dos títulos das obras <strong>de</strong> sua "trilogia".<br />

96 Sendo o longo prazo <strong>de</strong>finido não no t<strong>em</strong>po operacional <strong>em</strong> que todos os fatores <strong>de</strong><br />

produção se tornam variáveis, mas como "the asymptotic end-state of a process of learning"<br />

(LANGLOIS e ROBERTSON, 1995, p. 33). Etapas sucessivas <strong>de</strong> aprendizado indicam, então,<br />

seqüências <strong>de</strong> curtos termos.<br />

97 DUNN (1998, p. 5) corrobora a crítica. Nesse ponto, é interessante anotar uma das críticas<br />

pós-keynesianas à TCT: os custos <strong>de</strong> transação são um fenômeno <strong>de</strong> curto prazo, vigorando para<br />

esse intervalo a capacida<strong>de</strong> explanatória (parcial) da TCT. Para Stephen Dunn, Williamson t<strong>em</strong><br />

uma visão ergódica da natureza e seus fenômenos, cuja linha condutora é a eficiência, <strong>em</strong> função<br />

da adoção do princípio darwinista da seleção natural. Sendo assim, com o <strong>de</strong>senrolar dos eventos<br />

será possível aos agentes apren<strong>de</strong>r sobre as distribuições objetivas <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>screv<strong>em</strong><br />

o ambiente ergódico, diminuindo a surpresa potencial (no caso, Williamson na verda<strong>de</strong> estaria se<br />

referindo ao risco knightiano, e não à incerteza) e construindo contratos mais eficientes com<br />

utilização crescente dos mercados (como prevê a TCT para ambientes com incerteza reduzida). Ou<br />

seja, para Dunn (p. 6), "Williamson's argument has to be one of 'in the beginning there were<br />

markets' and then there were firms (in the short run) and then there were markets (in the long run)."<br />

56


Quadro 2<br />

Efeitos da Difusão do Aprendizado Sobre os Limites da Firma<br />

Curto Prazo Longo Prazo<br />

Grau <strong>de</strong> Idiossincrasia entre Ativos* Alto Baixo<br />

Custos <strong>de</strong> Transação Altos Baixos<br />

Disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Competências Particulares Escassa Diss<strong>em</strong>inada<br />

Usos Alternativos para Competências Particulares Poucos Muitos<br />

Custos Relativos <strong>de</strong> Internalização Baixos Altos<br />

Grau <strong>de</strong> Integração Vertical Alto Baixo<br />

* Expressão <strong>de</strong> LANGLOIS e ROBERTSON (1995, p. 42) equivalente a "grau <strong>de</strong> especificida<strong>de</strong><br />

dos ativos".<br />

Com o amadurecimento <strong>de</strong> uma indústria, a tendência à difusão do conhecimento e<br />

<strong>de</strong> sua absorção <strong>em</strong> rotinas acabaria conduzindo a uma maior especialização vertical das<br />

firmas <strong>em</strong> questão. De acordo com a esqu<strong>em</strong>atização apresentada no Quadro 2, os casos<br />

anteriormente sugeridos por Nooteboom <strong>de</strong> regimes inovativos intensos po<strong>de</strong>m<br />

caracterizar uma sucessão <strong>de</strong> curtos prazos (vi<strong>de</strong> nossa nota <strong>de</strong> rodapé 98), cujas<br />

necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> criação ou r<strong>em</strong>o<strong>de</strong>lag<strong>em</strong> <strong>de</strong> competências po<strong>de</strong>m ser mais rapidamente<br />

satisfeitas por firmas verticalmente integradas. 98 No entanto, as tecnologias <strong>de</strong> informação<br />

e comunicação têm permitido a redução dos custos dinâmicos <strong>de</strong> transação e também do<br />

longo prazo <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po real (e não operacional), criando assim a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> arranjos<br />

organizacionais intermediários ou cooperativos s<strong>em</strong> integração vertical.<br />

A adoção das formas híbridas, fugindo da dicotomia firmas versus mercados,<br />

iniciada <strong>em</strong> WILLIAMSON (1979) - quando apenas consi<strong>de</strong>rou a existência <strong>de</strong> s<strong>em</strong>i-<br />

specific structures ou intermediate mo<strong>de</strong>s of organization - mas reapresentada com maior<br />

elaboração conceptual e analítica posteriormente <strong>em</strong> WILLIAMSON (1985, 1987a e,<br />

98 A respeito das inovações <strong>em</strong> geral, mas focalizando aquelas radicais com maior atenção,<br />

HODGSON (1988, p. 212) interroga a TCT sobre seu princípio <strong>de</strong>cisório para as formas<br />

organizacionais mais eficientes: "The <strong>de</strong>velopment of future technology is so riddled with radical<br />

uncertainty that no comprehensive future markets of this type could exist. We are then entitled to<br />

ask what transaction costs are being saved by not using such a non-existent market? In general, this<br />

alternative opportunity is absent. There are thus no opportunities foregone, and therefore there is no<br />

saving on costs". SAWYER (1993, p. 30), <strong>em</strong> suporte a Hodgson, ainda afirma: "In the presence of<br />

uncertainty and boun<strong>de</strong>d rationality, future markets may not exist [...]".<br />

57


principalmente, 1991a) po<strong>de</strong> ser vista como uma absorção <strong>de</strong> críticas <strong>de</strong> tal natureza. 99<br />

Porém, não absorve ainda a probl<strong>em</strong>ática do aprendizado e das competências.<br />

Ainda na questão, outros estudos têm questionado o sucesso <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s firmas<br />

oci<strong>de</strong>ntais <strong>de</strong> variados setores <strong>em</strong> buscar eficiência estática com a <strong>de</strong>sintegração e<br />

contratação <strong>de</strong> fornecedores no Japão e Su<strong>de</strong>ste Asiático, já que com o passar do t<strong>em</strong>po<br />

sua eficiência dinâmica parece ter sido ameaçada. Como sugere FOSS, N. (1996b, p. 8 -<br />

grifo no original): "This is so, because Western firms have not un<strong>de</strong>rstood the strategic<br />

intentions of their Asian suppliers (namely to learn from the relation rather than to simply<br />

supply) who have later <strong>em</strong>erged as vigorous competitors, have allowed Asian supplier<br />

firms to get 'too close' to core capabilities, have lost track of important technological<br />

<strong>de</strong>velopments in components and the manufacture of components, etc."<br />

Mais formalmente, BEIJE (1996) <strong>de</strong>senvolve um mo<strong>de</strong>lo <strong>em</strong> que a especificida<strong>de</strong><br />

dos ativos (atributo <strong>de</strong> mais forte caráter tecnológico trabalhado pela TCT) é central para a<br />

<strong>de</strong>finição do arranjo contratual entre "interfaces tecnologicamente distintas", mas introduz<br />

o conceito <strong>de</strong> custos <strong>de</strong> aprendizado tecnológico (technological learning costs).<br />

Consi<strong>de</strong>rando que P&D estão crescent<strong>em</strong>ente ligados às unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> produção e vendas <strong>de</strong><br />

uma firma, ou são ainda <strong>em</strong> boa parte <strong>em</strong>preendidos <strong>de</strong> forma conjunta por duas ou mais<br />

firmas, Beije sustenta que as estruturas <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser usadas não só para coor<strong>de</strong>nar<br />

as trocas ou a produção, mas também as inovações. Os custos <strong>de</strong> aprendizado são os<br />

recursos gastos na absorção <strong>de</strong> conhecimentos ou novas tecnologias <strong>de</strong> fontes externas, e<br />

sua inclusão na análise dos limites da firma (ou <strong>de</strong> suas competências) implica <strong>em</strong><br />

divergências com o que se preceituaria pela TCT: "In regimes of rapid technological<br />

change, timing of innovation is often more important than costs. Minimization of learning<br />

costs might be a bad indicator of commercial success of innovating firms, in such<br />

circumstances. What may be more important is the effectiveness of using technological<br />

competencies in or<strong>de</strong>r to increase market share or value ad<strong>de</strong>d" (BEIJE, 1996, p. 312).<br />

Dessa forma, é possível por ex<strong>em</strong>plo que numa situação <strong>de</strong> elevada especificida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

99 LINDENBERG (1996, p. 188) argumenta que a construção teórica das formas híbridas<br />

t<strong>em</strong> alimentado o que chamou <strong>de</strong> cocktail approach, <strong>em</strong> que, s<strong>em</strong> a falta <strong>de</strong> <strong>de</strong>marcações precisas,<br />

análises são feitas com bases post hoc. Isto po<strong>de</strong> colocar a TCT numa situação que Karl Popper<br />

chamaria <strong>de</strong> "não falseabilida<strong>de</strong>". Para uma elaboração <strong>de</strong> dimensões analíticas na caracterização<br />

<strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> firmas, vi<strong>de</strong> ROBERTSON e LANGLOIS (1995).<br />

58


ativos para um fornecedor prevaleça uma relação bilateral, 100 e não uma hierárquica<br />

(integração vertical), como a mais eficiente <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> custos conjuntos <strong>de</strong> produção,<br />

transação e aprendizado. 101<br />

Encontramos ainda <strong>em</strong> BRITTO (1994) mais críticas ao aspecto estático da TCT,<br />

relacionadas à eficiência. Seu argumento discorre que a mera <strong>de</strong>cisão por combinações<br />

ótimas <strong>de</strong> insumos para um momento no t<strong>em</strong>po ou para a vigência <strong>de</strong> um contrato po<strong>de</strong> ser<br />

incompatível com critérios <strong>de</strong> eficiência "dinâmica". Tais critérios envolv<strong>em</strong> a busca <strong>de</strong><br />

mudanças nas funções <strong>de</strong> produção <strong>em</strong> direções que se mostr<strong>em</strong> mais lucrativas, ou que<br />

estejam associadas à exploração <strong>de</strong> novas oportunida<strong>de</strong>s produtivas e tecnológicas -<br />

implicando na ênfase <strong>em</strong> criação ou absorção <strong>de</strong> conhecimentos com vistas a ampliar o<br />

raio <strong>de</strong> manobra dos agentes e, por conseguinte, as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> extração <strong>de</strong> lucros<br />

extraordinários ou quase-rendas. 102 Isso teria implicações, por ex<strong>em</strong>plo, sobre a própria<br />

natureza da especificida<strong>de</strong> dos ativos, que <strong>de</strong>ixaria <strong>de</strong> ser tomada num dado ambiente<br />

institucional e estado tecnológico (o que só seria possível num universo <strong>de</strong> "tranqüilida<strong>de</strong><br />

tecnológica", como sugerido por FORAY, 1991, citado por BRITTO, 1994, p. 135). A<br />

especificida<strong>de</strong> passaria a ser construída pelas próprias <strong>de</strong>cisões dos agentes econômicos,<br />

que são seqüenciais e adaptativas, incorporando o aprendizado experimentado ao longo do<br />

t<strong>em</strong>po - o que representaria a endogeneização, ao menos parcial, do conceito. 103 Nas<br />

100<br />

NOORDERHAVEN; NOOTEBOOM e BERGER (1996), <strong>em</strong> seu estudo <strong>de</strong> caso,<br />

encontraram uma relação negativa entre <strong>de</strong>pendência percebida pelo fornecedor com relação ao seu<br />

cliente e especificida<strong>de</strong> física <strong>de</strong> ativos (possuída pelo primeiro), <strong>de</strong>monstrando a fragilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

uma relação bilateral na presença <strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong> especificida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ativo. Isto porque associam maior<br />

<strong>de</strong>pendência sentida pelo fornecedor com a busca (<strong>de</strong> sua parte) por uma estrutura <strong>de</strong> gestão que<br />

proporcione maiores salvaguardas - o que não se mostrou efetivo para os casos estudados.<br />

101<br />

Isso porque a verticalização, se comparada à cooperação, po<strong>de</strong> reduzir os custos <strong>de</strong><br />

transação mas reduzir ou aumentar os custos <strong>de</strong> aprendizado: "Learning costs rise because supply<br />

units will be less motivated to learn. They <strong>de</strong>cline because what is learned by the supply unit is<br />

easier being transfered to the purchasing unit" (BEIJE, 1996, p. 315).<br />

102<br />

Ou ainda "rendas <strong>de</strong> longa duração", geradas por vantagens competitivas sustentadas,<br />

como sugere FOSS, N. (1996c, p. 8).<br />

103<br />

De um modo geral, DIETRICH (1994, p. 177) acaba afirmando que para a abordag<strong>em</strong><br />

neo-schumpeteriana a "Orthodox transaction cost reasoning with its economising behaviour is only<br />

relevant within a given techo-economic paradigm when general organisational and technological<br />

characteristics are not subject to syst<strong>em</strong>ic change". No entanto, adverte que a própria visão neoschumpeteriana<br />

incorre <strong>em</strong> um <strong>de</strong>terminismo tecnológico que atrapalha a análise da influência<br />

sócio-institucional na configuração das mudanças tecno-econômicas, evi<strong>de</strong>nciando exclusivamente<br />

o inverso.<br />

59


palavras <strong>de</strong> BEIJE (1996, p. 232): "successful learning within an organization will<br />

'produce' asset specificity".<br />

Pondé entretanto adverte sobre o perigo da natureza <strong>de</strong> tal crítica, pois po<strong>de</strong><br />

significar "jogar fora a criança com a água do banho". Ou seja: "ao criticar as noções<br />

neoclássicas <strong>de</strong> eficiência alocativa e otimização [po<strong>de</strong>-se] fechar o espaço necessário para<br />

<strong>de</strong>senvolver uma teoria schumpeteriana da concorrência, que exige uma análise <strong>de</strong> como as<br />

firmas buscam elevar seus lucros aumentando sua eficiência capitalista" (PONDÉ, 1996, p.<br />

540). Po<strong>de</strong>mos também acabar incorrendo na não distinção <strong>de</strong> um curto e <strong>de</strong> um longo<br />

prazo analíticos, ou seja, ignorarmos que para chegar no longo prazo (t<strong>em</strong>po real ou<br />

operacional) é preciso <strong>de</strong>parar-se com várias <strong>de</strong>cisões <strong>em</strong>inent<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> curto prazo. Em<br />

suma, o que se alerta é para que não superestim<strong>em</strong>os as lacunas da TCT, cobrando o que<br />

ela não se propôs explicar, e não façamos das análises <strong>de</strong> eficiência alocativa ou <strong>de</strong> curto<br />

prazo um el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong>sprezível nas <strong>de</strong>cisões <strong>em</strong>presariais <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento da eficiência<br />

dinâmica, <strong>de</strong> maior i<strong>de</strong>ntificação com o longo prazo.<br />

4.1.4 No t<strong>em</strong>po real: aprendizado, cooperação e atributos humanos <strong>de</strong>senvolvidos<br />

Encontramos também, <strong>em</strong> AMENDOLA e GAFFARD (1994), consi<strong>de</strong>rações sobre<br />

a inclusão da dimensão t<strong>em</strong>po no processo <strong>de</strong> produção, trazendo novos probl<strong>em</strong>as à aná-<br />

lise. Se consi<strong>de</strong>rarmos centralmente o fenômeno da inovação, ver<strong>em</strong>os que os gastos<br />

necessários ao seu <strong>de</strong>senvolvimento têm a característica <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> irreversíveis (sunk costs)<br />

e somente passíveis <strong>de</strong> recuperação após um certo intervalo <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po, o que traz duas<br />

principais implicações: i) o surgimento <strong>de</strong> uma restrição financeira, já que durante tal<br />

período os gastos estarão dissociados das receitas (ambos referentes à respectiva inovação<br />

<strong>em</strong> questão), sendo necessário consi<strong>de</strong>rar o papel do crédito nos processos inovativos,<br />

como já argumentado por SCHUMPETER (1912, cap. III); e ii) diferente do que se cos-<br />

tuma consi<strong>de</strong>rar - a mera alocação dos recursos -, tanto a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção quanto o<br />

produto <strong>em</strong> si precisam ser construídos, quer seja pelo processo inovativo <strong>em</strong> sua concep-<br />

ção mais restrita - gerando novas máquinas e novos produtos - quer pelo processo <strong>de</strong><br />

capacitação e aprendizado do fator mão-<strong>de</strong>-obra, que <strong>de</strong>ve estar disponível "<strong>em</strong> excesso"<br />

60


para a firma. 104 Ou seja, "in the same way as physical productive capacity (machines) the<br />

human resource acquires a specific character through a process: it must be shaped before it<br />

can be utilised in new forms" (AMENDOLA e GAFFARD, i<strong>de</strong>m, p. 630). 105 A teoria da<br />

firma <strong>de</strong>veria voltar-se para os motivos da cooperação (ou ausência <strong>de</strong>la) entre e intra-<br />

firmas, que tornam viáveis os processos <strong>de</strong> mudança, e não preocupar-se com os limites<br />

entre firmas e mercados - como sugere a tradição coaseana.<br />

Embora as críticas <strong>de</strong> Amendola e Gaffard tenham sua peculiarida<strong>de</strong>, suas<br />

conclusões a respeito da teoria da firma suscitam um outro veio <strong>de</strong> discussão, no qual este<br />

tópico está centrado. Diferente, então, daqueles autores, FOSS, N. (1996b, p. 18 e 1996c,<br />

p. 13) admite a preocupação <strong>de</strong> pesquisadores da "firma evolucionista" com questões<br />

enfatizadas pela TCT, 106 <strong>de</strong>ntre elas a dos limites da firma. No entanto, como<br />

anteriormente comentado, tais limites são fort<strong>em</strong>ente <strong>de</strong>terminados pelas competências <strong>de</strong><br />

cada firma. Nesse ponto, a discussão pe<strong>de</strong> que seja levantada outra questão: segundo<br />

FOSS, N. (1996b, p. 18) e também LANGLOIS e ROBERTSON (1995, p. 3), a<br />

representação da teoria das competências para limitar as ativida<strong>de</strong>s da firma correspon<strong>de</strong> a<br />

104 O termo usado por AMENDOLA e GAFFARD (1994, p. 630) não significa excesso<br />

físico ou numérico, mas expressa a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma flexibilida<strong>de</strong> ativa que consiste <strong>em</strong><br />

capacida<strong>de</strong> ou competência para criar e usar novas e diferentes opções ou combinações <strong>de</strong> fatores,<br />

e implica afirmar que a atuação (produção e/ou capacida<strong>de</strong> produtiva) <strong>de</strong> uma firma <strong>em</strong> dado<br />

momento no t<strong>em</strong>po é construída s<strong>em</strong>pre sobre a utilização parcial <strong>de</strong> pelo menos um <strong>de</strong> seus fatores<br />

(o trabalho, neste caso). Tal argumento parece estar fort<strong>em</strong>ente ancorado <strong>em</strong> Edith PENROSE<br />

(1959, apud LANGLOIS e ROBERTSON, 1995, p. 14; vi<strong>de</strong> também ROBERTSON e<br />

LANGLOIS, 1994, p. 365), para qu<strong>em</strong> as firmas têm tendência a adquirir recursos <strong>em</strong> excesso:<br />

primeiro, por questões <strong>de</strong> indivisibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stes; e, segundo, por questões <strong>de</strong> aprendizado e<br />

adaptação dos recursos humanos ao longo do t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> ativida<strong>de</strong> na firma, pois absorv<strong>em</strong> e<br />

aplicam mais (e mais apropriados) conhecimentos e informações oriundos tanto do ambiente<br />

externo quanto do próprio ambiente interno da organização.<br />

105 Mas se há capacida<strong>de</strong> humana <strong>em</strong> excesso, como argumentam, po<strong>de</strong> não ser estritamente<br />

necessário que a mão-<strong>de</strong>-obra precise ser moldada a novas tarefas se estas exig<strong>em</strong> competências<br />

ainda não exploradas, mas existentes. O argumento po<strong>de</strong> ainda estar generalizando e/ou<br />

superestimando a exigência <strong>de</strong> qualificações numa situação <strong>de</strong> alto nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego e, assim,<br />

invertendo a causalida<strong>de</strong>: há <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego porque muitos trabalhadores não têm qualificação e n<strong>em</strong><br />

todos quer<strong>em</strong> arcar com os custos <strong>de</strong> qualificá-los, enquanto po<strong>de</strong>-se dizer que há cada vez menos<br />

postos <strong>de</strong> trabalho (por algum outro motivo qualquer) e os que exist<strong>em</strong> po<strong>de</strong>m preferencialmente<br />

ser ocupados por trabalhadores com, por ex<strong>em</strong>plo, mais qualificação formal ou escolar.<br />

106 Ou mais precisamente pelo contractual approach, que reúne a TCT, a teoria da agência<br />

<strong>de</strong> Holmstron, a teoria do nexo <strong>de</strong> contratos <strong>de</strong> Alchian, D<strong>em</strong>setz e Cheung, e a abordag<strong>em</strong> dos<br />

contratos incompletos <strong>de</strong> Grossman e Hart, <strong>de</strong> acordo com FOSS, N. (1996c, p. 4). Tal tratamento<br />

conjunto, no entanto, concorre com PONDÉ (1993a,b e 1994, anteriormente nesta seção), já que<br />

61


um jogo cooperativo ou <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação ao invés <strong>de</strong> jogos com dil<strong>em</strong>a do prisioneiro. 107 E<br />

isso "is a matter of getting agents to un<strong>de</strong>rstand each other in the first place, rather than<br />

avoiding strategic behavior by agents who have already a <strong>de</strong>tailed un<strong>de</strong>rstanding of each<br />

other" (FOSS, N., i<strong>de</strong>m). 108 O oportunismo (ou incerteza), contudo, não estaria<br />

potencialmente presente apenas na segunda situação <strong>de</strong>scrita por N. Foss, mas também ao<br />

longo da primeira. O probl<strong>em</strong>a, então, se tornaria: <strong>de</strong>ve-se atentar apenas para a<br />

cooperação entre os agentes e por suposto eliminar qualquer espécie <strong>de</strong> comportamento<br />

predatório (individual ou não)? Se a resposta é não, qu<strong>em</strong> v<strong>em</strong> primeiro ou qu<strong>em</strong> prevalece<br />

<strong>em</strong> quais circunstâncias e quais as conseqüências da interação? 109<br />

Nesse ponto, NOORDERHAVEN (1996) alega ser insuficiente a centralida<strong>de</strong> do<br />

oportunismo como atributo humano a prevalecer nas transações, e <strong>de</strong>senvolve o que chama<br />

<strong>de</strong> split-core mo<strong>de</strong>l of human nature. Em tal mo<strong>de</strong>lo admite-se o indivíduo como<br />

inerent<strong>em</strong>ente oportunista e confiável, tendo o contexto transacional como condicionante<br />

periférico <strong>de</strong> seu comportamento. Dessa forma, as salvaguardas contratuais <strong>de</strong> uma<br />

organização híbrida ou mesmo a escolha entre mercado e hierarquia po<strong>de</strong>m ser afetadas<br />

este acredita ser a adoção da incerteza e da racionalida<strong>de</strong> limitada um diferencial da TCT com<br />

relação à teoria da agência e do nexo <strong>de</strong> contratos.<br />

107<br />

Mais sobre o assunto po<strong>de</strong> ser encontrado <strong>em</strong> FOSS, N. e CHRISTENSEN (1996).<br />

108<br />

Preocupação s<strong>em</strong>elhante é levantada por FREEMAN (1994, p. 471) ao comentar que<br />

muitos estudos <strong>de</strong> economistas neo-schumpeterianos vêm enfatizando o papel da confiança nas<br />

relações entre firmas <strong>em</strong> re<strong>de</strong> (e.g. NOORDERHAVEN, 1992) - <strong>em</strong>bora negligenci<strong>em</strong>, como<br />

também o faz a TCT, os papéis do po<strong>de</strong>r e do medo nessas mesmas relações. A questão chega a<br />

causar imensa objeção por parte <strong>de</strong> alguns estudiosos no campo da administração <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas;<br />

DONALDSON (1995, p. 166) chega a dizer que: "a more accurate title for the two theories of<br />

agency and transaction cost theory, in regard to their theories of organizational manag<strong>em</strong>ent, might<br />

be the theory of managerial <strong>de</strong>linquency". Isso porque alega ser a centralida<strong>de</strong> do oportunismo uma<br />

con<strong>de</strong>nação axiomática da natureza humana (principalmente dos gestores), exógena à toda e<br />

qualquer estrutura organizacional, enquanto <strong>de</strong>veríamos enxergar que o comportamento e a<br />

motivação dos agentes econômicos são <strong>em</strong> uma parte <strong>de</strong>terminados pela própria estrutura<br />

organizacional com a qual trabalham - portanto, endógenos -, e <strong>em</strong> outra por contingências<br />

estruturais. Ou seja, o oportunismo é apenas um tipo <strong>de</strong> comportamento <strong>de</strong>ntre vários outros, e.g. a<br />

confiança e a subseqüente cooperação. Sendo assim, "The best approach lies in the continued<br />

construction of contingency theories in which a variety of behaviours and structures are seen as<br />

appropriate <strong>de</strong>pending on the situation" (i<strong>de</strong>m, p. 201). WILLIAMSON (1985, p. 406) apenas não<br />

se onera: "operationalizing trust has proved inordinately difficult. A noncalculative orientation may<br />

help to unpack the issues. Organization theorists would appear to be well suited to the task."<br />

109<br />

Mais diretamente, po<strong>de</strong>-se perguntar como é possível associar e.g. espionag<strong>em</strong> industrial,<br />

apropriação espúria ou uso <strong>de</strong> patentes alheias e conflitos trabalhistas com estratégias <strong>em</strong>presariais<br />

cooperativas b<strong>em</strong> sucedidas?<br />

62


pela presença ou <strong>de</strong>senvolvimento da confiança entre os agentes - além da especificida<strong>de</strong><br />

dos ativos, como sugerido pela TCT.<br />

WILLIAMSON (1979, p. 240-1) chega a comentar sobre os efeitos positivos que a<br />

"familiarida<strong>de</strong>" entre os transacionantes permite, principalmente com relação ao<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma linguag<strong>em</strong> comum e da sensibilida<strong>de</strong> a (ou entendimento a partir<br />

<strong>de</strong>) meras nuances <strong>de</strong> um para com o outro, permitindo economias <strong>de</strong> comunicação. Se tal<br />

relação perdura, então relações <strong>de</strong> confiança pessoal e institucional se <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> e a<br />

integrida<strong>de</strong> das partes passa a ser uma base do sucesso <strong>de</strong> uma dada transação ao permitir<br />

menor <strong>de</strong>sgaste (ou maior compreensão mútua) <strong>em</strong> árduas contingências e melhor ímpeto<br />

conjunto a adaptações. Embora tal atributo sozinho não receba o tratamento <strong>de</strong> uma<br />

categoria <strong>de</strong>terminante <strong>em</strong> primeiro grau na conformação das estruturas <strong>de</strong> gestão, as<br />

relações <strong>de</strong> confiança são tratadas como uma forma <strong>de</strong> especificida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ativos (humanos).<br />

Esse tipo <strong>de</strong> especificida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> encontrar espaço no seguinte comentário <strong>de</strong><br />

WILLIAMSON (1979, p. 240):<br />

there is more to idiosyncratic exchange than specialized physical capital. Humancapital<br />

investments that are transaction-specific commonly occur as well.<br />

Specialized training and learning-by-doing economies in production operations are<br />

illustrations. Except when these investments are transferable to alternative suppliers<br />

at low cost, which is rare, the benefits of the set-up costs can be realized only so<br />

long as the relationship between the buyer and seller of the intermediate product is<br />

maintained.<br />

Essa passag<strong>em</strong> também ex<strong>em</strong>plifica a preocupação <strong>de</strong> Williamson com as questões<br />

do aprendizado, ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que propicia a chance <strong>de</strong> comentar uma das<br />

principais críticas apresentadas nesta seção: para a concepção evolucionista (<strong>de</strong> um modo<br />

geral, como <strong>de</strong>finimos anteriormente) Williamson po<strong>de</strong> não estar pecando por omissão,<br />

mas t<strong>em</strong> subestimado o fato <strong>de</strong> os agentes econômicos consi<strong>de</strong>rar<strong>em</strong> a retenção do<br />

aprendizado e <strong>de</strong> competências 110 (b<strong>em</strong> como a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> obtê-los nas transações)<br />

como variável <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão <strong>em</strong> primeiro grau ao racionalizar<strong>em</strong> os limites <strong>de</strong> sua atuação, 111<br />

110<br />

Ou as idiossincrasias bi(multi)laterais.<br />

111<br />

No sentido <strong>de</strong> NOOTEBOOM (1996, p. 330) <strong>em</strong> que a <strong>de</strong>cisão <strong>em</strong> questão é racional<br />

pois, antes <strong>de</strong> mais nada, contribui para a sobrevivência do tomador.<br />

63


i.e. <strong>de</strong>finir<strong>em</strong> os limites da firma. Para consolidar tal crítica, vale observar que FREEMAN<br />

(1994, p. 473) ex<strong>em</strong>plifica estudos <strong>de</strong> caso sobre indústrias norte-americanas <strong>em</strong> que a<br />

subcontratação <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> P&D se tornou bastante comum (rotineira e com baixos<br />

custos <strong>de</strong> transação): mesmo <strong>em</strong> tais condições, raramente as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> P&D (gran<strong>de</strong>s<br />

geradoras <strong>de</strong> aprendizado e competências) são completamente contratadas <strong>de</strong> terceiros,<br />

mas apresentam-se como compl<strong>em</strong>entares às ativida<strong>de</strong>s mantidas <strong>de</strong>ntro das firmas.<br />

4.1.5 Estática comparativa unidimensional e dinâmica co-evolucionária<br />

Com tais implicações dinâmicas, como a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizado e o grau <strong>de</strong><br />

domínio sobre tecnologias complexas, maiores refinamentos sobre a questão do processo<br />

<strong>de</strong> seleção também tornam-se <strong>em</strong>ergentes e necessários. Segundo DOSI (1995, p. 9-10),<br />

Williamson lida com um critério unidimensional <strong>de</strong> seleção, que é justamente o <strong>de</strong><br />

eficiência na minimização <strong>de</strong> custos (conjuntos: produção e transação). No entanto, a<br />

riqueza e complexida<strong>de</strong> com as quais Williamson i<strong>de</strong>ntifica a firma (ou seja, uma estrutura<br />

<strong>de</strong> gestão baseada na hierarquia) <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>radas <strong>em</strong> seus componentes<br />

teóricos, ao passo <strong>em</strong> que <strong>de</strong>veria ainda consi<strong>de</strong>rar aspectos do que Pondé chamou <strong>de</strong><br />

"âmbito do aprendizado" (cf. citação anteriormente feita nesta seção). 112<br />

Dosi, para ex<strong>em</strong>plificar, formula o que chama <strong>de</strong> um toy mo<strong>de</strong>l, on<strong>de</strong> uma organi-<br />

zação po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrita por cinco dimensões: i) a distribuição formal <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>; ii) a<br />

distribuição real <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, <strong>em</strong> função da distribuição formal <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> alcançada; 113 iii)<br />

a estrutura <strong>de</strong> incentivos; iv) a estrutura <strong>de</strong> fluxos <strong>de</strong> informações; e v) a distribuição <strong>de</strong><br />

conhecimentos e competências. Mesmo que uma <strong>de</strong>ssas dimensões prepon<strong>de</strong>re sobre o<br />

processo <strong>de</strong> seleção, não será difícil encontrar alinhamentos imperfeitos na correlação com<br />

112<br />

Ponto esse também <strong>de</strong>fendido por HODGSON (1996, p. 262) e DIETRICH (1993, p.<br />

184).<br />

113<br />

Questões críticas sobre a ausência <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r na TCT são mais fort<strong>em</strong>ente<br />

formuladas por outras correntes do pensamento econômico, como po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os ver na próxima<br />

seção. No entanto, além <strong>de</strong> DOSI (1995), observamos que NOORDERHAVEN (1992, p. 230)<br />

também faz referência a tal probl<strong>em</strong>a: "transaction cost theory, although ostensibly discussing<br />

hierarchical organization, can perhaps be typified most a<strong>de</strong>quately as a theory of internal and<br />

external markets and market failures, because the nature of hierarchy is scarcely explored in this<br />

literature [...]".<br />

64


as <strong>de</strong>mais dimensões. Isso quer dizer que, mesmo <strong>de</strong>ntro das organizações "mais aptas" ou<br />

"mais eficientes" <strong>em</strong> tal aspecto ou dimensão primordial, serão encontradas dimensões<br />

sub-ótimas, e ainda mais: entre elas encontrar<strong>em</strong>os varieda<strong>de</strong>s multidimensionais. 114 Ou<br />

como expresso por PONDÉ (1996, p. 549): "a manifestação [<strong>de</strong>] assimetrias <strong>em</strong> efetivas<br />

pressões seletivas é mediada por diversos el<strong>em</strong>entos que caracterizam o ambiente <strong>em</strong> que<br />

as <strong>em</strong>presas operam". Segundo ainda HODGSON (1993a, p. 233): "An evolutionary<br />

theoretical framework with multiple levels of selection provi<strong>de</strong>s an alternative to the<br />

prominent reductionism of mo<strong>de</strong>rn economics." Sobre isto, DOSI (1995, p. 10) comenta,<br />

por fim, que: "one starts having a co-evolutionary picture whereby the changes of<br />

particular organizational traits - say, those impinging upon the forms of transaction<br />

governance - are shaped and constrained by other organizational characteristics related, for<br />

example, to the reproduction of power within the organization or to its past strategic<br />

commitments."<br />

4.1.6 O insistente convite à perspectiva evolucionista<br />

Em CHANDLER (1992) encontramos consi<strong>de</strong>rações favoráveis à TCT, mas duas<br />

críticas contun<strong>de</strong>ntes, <strong>de</strong> natureza estrutural. A primeira <strong>de</strong>las é simplesmente que para a<br />

construção <strong>de</strong> uma teoria relevante da firma a unida<strong>de</strong> básica <strong>de</strong> análise <strong>de</strong>ve ser a firma, e<br />

não as transações que ela realiza. Ou seja, <strong>em</strong>bora as transações sejam relevantes, a firma<br />

não po<strong>de</strong> ser reduzida a elas, pois é <strong>em</strong> seu interior que funciona uma "estufa" para o<br />

cultivo <strong>de</strong> competências inovativas, justificando sua existência e preparando a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudar seus limites com sucesso. 115 Se houver tal mudança <strong>de</strong> foco, a<br />

especificida<strong>de</strong> dos ativos permanece um fator significante, mas a natureza peculiar da<br />

flexibilida<strong>de</strong> e da experiência passarão à frente do oportunismo e da racionalida<strong>de</strong> limitada<br />

114 HODGSON (1993b, p. 96, citando Julio ROTEMBERG, 1991), ainda sugere que "un<strong>de</strong>r<br />

certain conditions the internal organization of the firm may be suboptimal, even if the firm is profit<br />

maximizing. This also challenges the view that the reason for the existence of the firm is its<br />

capacity to reduce transaction costs."<br />

115 Uma dificulda<strong>de</strong> metodológica aparece, entretanto, para que se estu<strong>de</strong> a lógica dos e os<br />

próprios limites da firma quando ela mesma é a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> análise. Para uma melhor discussão do<br />

probl<strong>em</strong>a, vi<strong>de</strong> LANGLOIS e FOSS, N. (1997, principalmente sua seção III.B).<br />

65


como fatores <strong>de</strong>terminantes das <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong> internalização das transações e, portanto, dos<br />

limites entre firmas e mercados (po<strong>de</strong>ndo inclusive abarcar aqueles el<strong>em</strong>entos priorizados<br />

pela TCT). Em suas palavras (CHANDLER, 1992, p. 490):<br />

the organizational skills <strong>de</strong>veloped in one function often gave the firm a<br />

competitive advantage in a related product market. The move into new markets<br />

based on competitive advantage in one function required the building of<br />

compl<strong>em</strong>entary facilities and skills, and, in turn, trained managers in the ways of<br />

seeking out and capturing market opportunities.[...] Thus in analyzing the continued<br />

<strong>de</strong>velopment of existing industries and the building of new ones, the firm would<br />

se<strong>em</strong> to be a more promising unit of analysis than the transaction, and the concept<br />

of the organizational capabilities that permit it to r<strong>em</strong>ain competitive, and therefore<br />

profitable, in national and international markets more pertinent than those of<br />

boun<strong>de</strong>d rationality and opportunism.<br />

Ainda sobre a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> análise da TCT, antes <strong>de</strong> prosseguirmos com Chandler,<br />

vale apresentar o que LANGLOIS e ROBERTSON (1995, p. 151) comentam a respeito.<br />

Para eles, por adotar regras e convenções como bases teóricas, a NEI estaria melhor<br />

servida com uma teoria que integrasse bases consoantes para análise das instituições<br />

econômicas, ou seja, que utilizasse as rotinas produtivas como unida<strong>de</strong> analítica - e não as<br />

transações, <strong>em</strong>bora não se possa <strong>de</strong>scartá-las para níveis analíticos intermediários.<br />

Já a segunda crítica <strong>de</strong> Chandler <strong>de</strong>riva <strong>de</strong> seu primeiro argumento apresentado<br />

pouco acima, resultando <strong>em</strong> dizer que a TCT (e também a teoria da agência) precisa ser<br />

assentada sobre fundamentos dinâmicos, como os elaborados por NELSON e WINTER<br />

(1982) numa teoria evolucionária, incorporando e tratando o aprendizado organizacional<br />

como fator estratégico <strong>de</strong> competição. Resumindo esse argumento, CHANDLER (1992, p.<br />

491) diz: "Like the buil<strong>de</strong>rs of the evolutionary theory of the firm, I see agency and<br />

transaction cost theory of value to the economic historian but within the framework of<br />

evolutionary theory. Like th<strong>em</strong>, I am convinced that the unit of analysis in <strong>de</strong>veloping a<br />

relevant theory of the firm must be the firm, not the contractual arrang<strong>em</strong>ents or<br />

transactions that it carries out."<br />

De um modo geral, a questão do aprendizado parece ter espaço para absorção pela<br />

TCT a partir do conceito da "transformação fundamental" (WILLIAMSON, 1985, p. 61; e<br />

1987a, p. 810). Isso porque o estabelecimento <strong>de</strong> uma relação contratual com um <strong>de</strong>termi-<br />

66


nado agente após um processo <strong>de</strong> "licitação" entre diversos concorrentes igualmente<br />

capacitados acaba gerando uma relação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência bilateral (<strong>em</strong>bora não<br />

necessariamente na mesma intensida<strong>de</strong>) <strong>em</strong> função do conhecimento, da idiossincrasia, ou<br />

da "especificida<strong>de</strong>" <strong>de</strong>senvolvidos a partir do cumprimento das tarefas estabelecidas, ou<br />

mesmo resultando no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> rotinas ou competências compartilhadas. Tal<br />

argumento po<strong>de</strong> compatibilizar-se com o que expressa NOOTEBOOM (1996, p. 331):<br />

One [transaction partner] needs to <strong>de</strong>velop a 'common language', or overlaps of<br />

cognitive frameworks. This requires time and effort, investments which are to some<br />

extent specific to the relation. As argued in TCE [transaction cost economics], such<br />

transactions specific investments yield issues of <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nce and 'lock-in'. To<br />

switch to a different partner entails costs of cognitive readjust<strong>em</strong>ent to the extent<br />

that the novel partner offers a different competence.<br />

4.2 Fontes Críticas na <strong>Economia</strong> Política<br />

De uma forma geral, reunimos nesta seção autores simpáticos a uma interdiscipli-<br />

narida<strong>de</strong> um tanto peculiar no estudo dos fenômenos sociais, e <strong>em</strong> especial dos fatos<br />

econômicos. Tal miscibilida<strong>de</strong> envolve primordialmente a economia e a política, <strong>em</strong>bora<br />

seja também recorrente à sociologia, por ex<strong>em</strong>plo. Essa característica <strong>de</strong>ve muito <strong>de</strong> sua<br />

orig<strong>em</strong> à herança teórica dos economistas clássicos, e <strong>em</strong> seu veio mais crítico à or<strong>de</strong>m<br />

econômica vigente, fundamenta-se principalmente nas obras <strong>de</strong> Karl Marx - cuja centrali-<br />

da<strong>de</strong> resi<strong>de</strong> <strong>em</strong> explicar a dinâmica sócio-econômica a partir da luta <strong>de</strong> classes (capitalistas<br />

versus trabalhadores). Não buscamos aqui, no entanto, uma <strong>de</strong>finição estrita <strong>de</strong> <strong>Economia</strong><br />

Política - se é que isso é possível. 116 O termo é usado <strong>de</strong> forma muito comum para <strong>de</strong>signar<br />

estudos cujas bases ou preocupações teóricas repousam nas obras <strong>de</strong> economistas<br />

clássicos, como Smith, Ricardo, Malthus e Stuart Mill, <strong>de</strong>ntre outros, mas sobretudo Marx.<br />

Apesar disso, é possível perceber que não se confinam a tal espaço, e um ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> sua<br />

abrangência está nas idéias apresentadas nesta seção, que têm pitadas keynesianas,<br />

institucionalistas (old) e neo-schumpeterianas.<br />

116 Tal impressão <strong>de</strong> impossibilida<strong>de</strong> não é apenas pessoal, tendo sido <strong>de</strong>tectada também <strong>em</strong><br />

conversas com alguns economistas integrantes da Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> <strong>Economia</strong> Política.<br />

67


Contudo, alguns pontos <strong>de</strong> contato indubitavelmente amalgamam os autores<br />

consi<strong>de</strong>rados nesta seção sob a rubrica da <strong>Economia</strong> Política fundamentada nas idéias <strong>de</strong><br />

Karl Marx, justificando o escopo ao qual a <strong>de</strong>limitamos aqui: i) a base <strong>de</strong> sustentação do<br />

processo <strong>de</strong> trabalho capitalista está na relação <strong>em</strong>pregador-<strong>em</strong>pregado, vista como uma<br />

relação <strong>de</strong> subordinação do trabalho pelo capital; ii) os direitos <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> sobre o<br />

produto final do trabalho são exclusivida<strong>de</strong> do capitalista que o <strong>em</strong>prega, fazendo com que<br />

o interesse na mudança organizacional e/ou tecnológica se dê não a partir <strong>de</strong> critérios <strong>de</strong><br />

eficiência, mas <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> riqueza <strong>em</strong> seu favor; e iii) a visão da firma como locus<br />

da produção (criação <strong>de</strong> riqueza), necessitando do mercado como compl<strong>em</strong>ento (e não<br />

alternativa) para a esfera da troca (realização do valor criado). Esses e alguns outros t<strong>em</strong>as<br />

críticos à TCT serão <strong>de</strong>senvolvidos tendo por base as referências <strong>de</strong> autores como Michael<br />

Dietrich, Christos Pitelis, Paul Marginson e Stephen Marglin. 117<br />

Michael DIETRICH (1994, p. x e 22-4) resume com niti<strong>de</strong>z a natureza das<br />

principais críticas dirigidas pelos economistas políticos à TCT. Utilizar<strong>em</strong>os, então, tal<br />

síntese para organizar esta seção, discutindo probl<strong>em</strong>as da TCT relacionados<br />

principalmente à: i) metodologia estático-comparativa utilizada, através da qual mercados<br />

e firmas se contrapõ<strong>em</strong> como alternativas à coor<strong>de</strong>nação da produção, conduzindo a uma<br />

análise focalizada na troca e também à consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> que os mercados po<strong>de</strong>m s<strong>em</strong>pre<br />

existir <strong>em</strong> lugar <strong>de</strong> firmas; ii) centralida<strong>de</strong> estrutural das condutas baseadas exclusivamente<br />

na eficiência, s<strong>em</strong> consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r; e iii) utilização do oportunismo como<br />

fundamento comportamental. O primeiro <strong>de</strong>les, segundo DIETRICH (i<strong>de</strong>m, p.23),<br />

117 Assum<strong>em</strong> explicitamente o vínculo com o pensamento marxista <strong>de</strong>ntro da <strong>Economia</strong><br />

Política, por ex<strong>em</strong>plo, DIETRICH (1993, p. 168, e 1994, p. 7), MARGINSON (1993, p. 148) e<br />

PITELIS (1993b, p. 8, e 1993c, p. 271). A propósito, Christos Pitelis e Michael Dietrich foram<br />

consultados "pessoalmente" por e-mail sobre a legitimida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua inclusão nesta seção e<br />

manifestaram aquiescência; Dietrich ressaltou ainda estar trabalhando atualmente num grupo <strong>de</strong><br />

pesquisa <strong>em</strong> <strong>Economia</strong> Política e consi<strong>de</strong>ra o título bastante apropriado por permitir flexibilida<strong>de</strong><br />

entre campos teóricos distintos na economia (incluindo o regulacionista francês e o neoschumpeteriano)<br />

e também interdisciplinarida<strong>de</strong>. MARGLIN (1974), <strong>em</strong>bora não o assuma<br />

explicitamente, é certamente o autor com maior influência marxista <strong>de</strong>ntre os autores aqui<br />

estudados. Outra especificida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Marglin é que seu artigo prece<strong>de</strong> as principais obras <strong>de</strong><br />

Williamson, e sua referência aos custos <strong>de</strong> transação se resume a uma curta nota <strong>de</strong> rodapé (a <strong>de</strong><br />

número 46) comentando o artigo <strong>de</strong> Coase <strong>de</strong> 1937; no entanto, o artigo <strong>de</strong> Marglin é<br />

freqüent<strong>em</strong>ente l<strong>em</strong>brado pelos <strong>de</strong>mais (principais) autores <strong>de</strong>sta seção <strong>em</strong> suas publicações pós-<br />

1974.<br />

68


permanece na TCT como herança <strong>de</strong> Coase, enquanto os dois seguintes foram criação do<br />

próprio Williamson.<br />

4.2.1 Mercados e firmas: estaticamente alternativos ou<br />

dinamicamente compl<strong>em</strong>entares?<br />

Para a primeira das críticas, tanto DIETRICH (1994, p. 17) quanto PITELIS<br />

(1993a, p. 18-9) e SAWYER (1993, p. 33) citam o argumento <strong>de</strong> FOURIE (1989, apud<br />

DIETRICH, <strong>de</strong>ntre os <strong>de</strong>mais) que os mercados nada produz<strong>em</strong> - são apenas o locus das<br />

trocas <strong>de</strong> mercadorias e serviços anteriormente produzidos <strong>de</strong> alguma forma coor<strong>de</strong>nada,<br />

ou seja, que a troca (ou consumo) <strong>de</strong> bens pressupõe a sua produção. 118 Isso significa dizer<br />

que as firmas não po<strong>de</strong>m vir suprimir os mercados, mas que os mercados só exist<strong>em</strong> graças<br />

às firmas e, portanto, não é lógico afirmar que é s<strong>em</strong>pre possível à firma <strong>de</strong>sverticalizar-se<br />

e recorrer ao mercado, como sugeriu COASE (1937) e assim a análise estáticocomparativa<br />

torna-se falha por construção. 119<br />

Dietrich argumenta que a ênfase exclusiva na troca e o conseqüente tratamento da<br />

firma como unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> troca suprim<strong>em</strong> a natureza essencial da firma como unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

produção e distribuição, ou <strong>em</strong> suas palavras (1994, p. 6): "as an economic unit that<br />

transforms inputs into outputs for use by other economic agents"; ou ainda "the [TCT]<br />

framework relies on the control aspect of resource allocation and ignores the use<br />

dimension" (DIETRICH, 1993, p. 166). Dessa forma, Williamson estaria, por ex<strong>em</strong>plo,<br />

consi<strong>de</strong>rando a presença <strong>de</strong> racionalida<strong>de</strong> limitada apenas nas relações <strong>de</strong> contratação fora<br />

118 CHESNAIS (1996, apud WALSH, 1996, p. 519) critica a TCT <strong>de</strong> forma s<strong>em</strong>elhante, ou<br />

seja, por ignorar a firma como a instituição central para a criação e transformação dos recursos - e<br />

não apenas alocação - e, por conseguinte, tratá-la como uma "mera" alternativa ao mercado. Crítica<br />

s<strong>em</strong>elhante v<strong>em</strong> <strong>de</strong> LAZONICK (1991, p. 169, apud SAMUELS, 1995, p. 580, que, a propósito,<br />

consi<strong>de</strong>ra Lazonick um autor com bastante autonomia teórica, mas com viés institucionalista): "The<br />

history of twentieth-century capitalist <strong>de</strong>velopment shows ... that as a dynamic process firms create<br />

markets, not vice-versa. By <strong>de</strong>finition, Coase's approach casts the firm as a passive player that<br />

arises out of 'market failure' rather than 'organizational success.'"<br />

119 Em adição, po<strong>de</strong>-se imaginar a existência <strong>de</strong> recursos que somente uma firma, ao crescer,<br />

é capaz <strong>de</strong> produzir, como por ex<strong>em</strong>plo a capacitação e a experiência <strong>de</strong> seu pessoal, as vantagens<br />

<strong>de</strong> mercado auferidas por boa reputação e, enfim, a capacida<strong>de</strong> organizacional para formular e<br />

impl<strong>em</strong>entar estratégias <strong>de</strong> utilização <strong>de</strong> tais recursos (cf. PENROSE, 1987, p. 563).<br />

69


da firma e ignorando sua existência no processo <strong>de</strong> produção, como se as características da<br />

organização foss<strong>em</strong> imutáveis, as mudanças tecnológicas integralmente entendidas e<br />

absorvidas, e não existiss<strong>em</strong> fricções internas. Nessa ótica, po<strong>de</strong>-se continuar vendo a<br />

firma como sendo representada pela velha conhecida função <strong>de</strong> produção. 120 Por isso, <strong>de</strong><br />

forma muito particular, DIETRICH (1993, 1994 e 1996) alega que a TCT é incompleta por<br />

consi<strong>de</strong>rar apenas a proprieda<strong>de</strong> das organizações <strong>em</strong> reduzir os custos <strong>de</strong> transação, mas<br />

não sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gerar benefícios ou receitas diferenciados: "In general terms [the]<br />

the difference between Bf [firms benefits] and Bm [market benefits] will be a function of<br />

two factors: skill idiosyncracy and the exploitation of monopoly advantages" (DIETRICH,<br />

1993, p. 174). Embora concor<strong>de</strong> com o <strong>de</strong>scuido da TCT para com as funções <strong>de</strong> produção<br />

e distribuição da firma, HODGSON (1993b, p. 95-6) adverte para o seguinte:<br />

Dietrich (1991) argues that the 'transaction benefits' of each governance structure<br />

must be taken into account as well as the 'costs'. While this point is valid, it points<br />

to another ambiguity in the <strong>de</strong>finition of transaction costs. The term could be<br />

<strong>de</strong>fined net (by <strong>de</strong>ducting transaction benefits from costs), or gross (exclusive of<br />

transaction benefits). Clearly, the net <strong>de</strong>finition of transaction costs is the one that<br />

is relevant to the Coase-Williamson theory of the firm. 121<br />

120 FOURIE (1993) ao longo <strong>de</strong> seu artigo, também faz várias referências ao <strong>de</strong>scuido da<br />

TCT para com a instância da produção, quer na forma explícita dos seus custos, quer na dinâmica<br />

operacional que neles resulta. MÉNARD (1996, p. 166, nota <strong>de</strong> rodapé 5 - grifo no original) contra<br />

argumenta: "it se<strong>em</strong> to me a <strong>de</strong>ep misun<strong>de</strong>rstanding of transaction cost economics to argue, as in<br />

Fourie (1993), that this approach ignores production costs. True, this aspect has not been high on<br />

our research agenda so far; most of the attention has been focused on the tra<strong>de</strong>-off between 'make'<br />

or 'buy', because this was crucial to legitimize, among economists, the necessity of consi<strong>de</strong>ring<br />

alternatives to markets. However, both Williamson and Coase have been very explicit on the<br />

importance in the research program of transaction cost economics of un<strong>de</strong>rstanding 'the factors<br />

which govern what a firm does and how it does it' (Coase, 1991)". DEMSETZ (1988, p. 176, nota<br />

<strong>de</strong> rodapé 4) também ameniza a crítica: "It would be wrong to claim that he [Williamson] has<br />

completely ignored production cost"; no entanto, ainda adverte (p. 164): "Although information is<br />

treated as being coslty for transaction or manag<strong>em</strong>ent control purposes, it is implicitly presumed to<br />

be free for production purposes. What one firm can produce, another can produce equally well, so<br />

the make-or-buy <strong>de</strong>cision is not allowed to turn on differences in production cost". O próprio<br />

WILLIAMSON (1996a, p. 8, nr. 3) comenta: "firms are not concerned with transaction costs to the<br />

exclusion of revenues and production costs."<br />

121 O artigo <strong>de</strong> Dietrich a que Hodgson se refere é "Firms, markets, and transaction cost<br />

economics", publicado no Scottish Journal of Political Economy, volume 38, n. 1.<br />

70


Para PITELIS (1996, p. 273), "In the beginning, there was probably nothing. If the<br />

<strong>em</strong>ergence of the human race, as we know it, is our starting point, then in the beginning,<br />

there was a 'family', or self-sufficiency. This is the starting point, the state of nature". A<br />

partir daí, a primeira coisa a ser analisada, então, é a produção e não a troca, e a primeira<br />

pergunta a ser feita é "por que produzir para a troca se há custos para efetuá-la, e não para<br />

consumo próprio?" (PITELIS, 1993c, p. 271). A resposta <strong>de</strong> tal pergunta já teria sido<br />

exaustivamente construída por economistas clássicos, como Adam Smith e Karl Marx,<br />

qual seja a apropriação <strong>de</strong> benefícios (aumento <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> e do produto total) obti-<br />

dos através da especialização e da divisão do trabalho (PITELIS, 1994, p. 117-8). 122 Isso<br />

explicaria não só a orig<strong>em</strong> das firmas (inclusive as individuais, oriundas da especialização<br />

concomitante à divisão do trabalho), mas também dos próprios mercados - que, a<br />

propósito, são entida<strong>de</strong>s inseparáveis ou necessariamente compl<strong>em</strong>entares. 123 Nas palavras<br />

do próprio PITELIS (1993c, p. 272):<br />

exchange, the market, the unitary firm and the Coasean firm (the multi-person<br />

hierarchy) can all be explained in terms of the benefits from the division of labour.<br />

The transition from single producers exchanging in markets to the <strong>em</strong>ployment<br />

relation (historically putting-out first, factory syst<strong>em</strong> afterwards), has been because<br />

of their efficiency properties (in terms of transaction and/or production costs) in<br />

allowing a better exploitation of (the division of) labour (and for the case of the<br />

factory syst<strong>em</strong> possible benefits from team work).<br />

122 Em SHAPIRO (1991, p. 50) também encontramos referência ao incentivo do lucro para<br />

que a produção se dirigisse para a troca no mercado, <strong>em</strong> lugar da produção para auto-suficiência, e<br />

que isso t<strong>em</strong> permitido à economia capitalista ser muito mais dinâmica (<strong>em</strong> termos <strong>de</strong> promoção <strong>de</strong><br />

avanços tecnológicos) do que se po<strong>de</strong>ria imaginar s<strong>em</strong> tal direcionamento O artigo <strong>de</strong> Shapiro po<strong>de</strong><br />

ser visto como uma explicação da natureza da firma na busca do lucro pela ativida<strong>de</strong> inovadora -<br />

facilitada pelos benefícios alavancados na cooperação obtida com as relações <strong>de</strong> trabalho, ou<br />

<strong>em</strong>ployment contract, que a firma incorpora -, pressionada s<strong>em</strong>pre pela competição. Embora seu<br />

escopo <strong>de</strong> trabalho não coincida com o da TCT, Shapiro refere-se a vários <strong>de</strong> seus el<strong>em</strong>entos para<br />

explicar o processo inovativo. Alguns ex<strong>em</strong>plos disso po<strong>de</strong>m ser mencionados, como a elevada<br />

especificida<strong>de</strong> do ativo "inovação" como produto e, <strong>em</strong> geral, dos processos e qualificações<br />

(tecnológicas e humanas) que a produz<strong>em</strong>, e ainda a total impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se estabelecer<br />

contratos completos para organizar sua execução, aproximando firmas diferentes com a criação <strong>de</strong><br />

canais <strong>de</strong> comunicação e coor<strong>de</strong>nação do aprendizado (caso que Williamson trataria por relações<br />

híbridas) ou internalizando as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesquisa e <strong>de</strong>senvolvimento. Por fim Shapiro<br />

acrescenta que, para a ativida<strong>de</strong> central da dinâmica capitalista - <strong>em</strong> função <strong>de</strong> suas características -<br />

, a hierarquia (<strong>em</strong>bora não necessariamente a gran<strong>de</strong> firma, como sugerido por Schumpeter) t<strong>em</strong> se<br />

mostrado o locus i<strong>de</strong>al.<br />

123 PITELIS (1993c, p. 263). Ou como ainda afirmam COWLING e SUGDEN (1993, p. 70):<br />

"It [market versus hierarchies] is a false dichotomy".<br />

71


Particularmente, FOURIE (1993, p. 44, grifo no original) insiste <strong>em</strong> que os merca-<br />

dos nada produz<strong>em</strong>, e por isso, no princípio não po<strong>de</strong>ria haver o mercado: "market<br />

relations can only link firms (producing units)." Recorrendo a Douglass North, Fourie<br />

l<strong>em</strong>bra que "the view of the firm as a substitute for the market 'ignores a crucial fact of<br />

history: hierarchical organization forms and contractual arrang<strong>em</strong>ents in exchange predate<br />

the price-making market' " (p. 46). 124 Para Fourie, a idéia <strong>de</strong> Coase a respeito da firma não<br />

po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada uma <strong>de</strong>finição geral ou uma explicação <strong>de</strong>finitiva da existência da<br />

mesma, mas po<strong>de</strong> apenas explicar características particulares <strong>de</strong> suas formas mais<br />

complexas ou <strong>de</strong>senvolvidas (p. 44-5 e 53, principalmente). Isso porque Coase (b<strong>em</strong> como<br />

o próprio Williamson) não consi<strong>de</strong>ra a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma firma individual. A linha do<br />

argumento começa por sugerir que mesmo a menor unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção - um produtor<br />

individual ou um artesão - <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada, a princípio, uma firma. 125 Isso serve <strong>de</strong><br />

sustentação para alegar que a firma não po<strong>de</strong> surgir como instituição substituta dos<br />

mercados. Muito <strong>em</strong>bora n<strong>em</strong> todos os indivíduos que <strong>de</strong> alguma forma produz<strong>em</strong> possam<br />

ser consi<strong>de</strong>rados uma firma, FOURIE (i<strong>de</strong>m, p. 43) afirma que "that does not eliminate the<br />

possibility of the one-person firm. One simply cannot <strong>de</strong>cree that upon reduction of its<br />

personnel to one (e.g. through automation or retrenchment) a firm ceases to be a firm (even<br />

a capitalist firm). One must accept the one-person firm as a conceptual possibility and<br />

in<strong>de</strong>ed as an often encountered <strong>em</strong>pirical reality (also historically)." 126<br />

124<br />

O trecho citado por Fourie é <strong>de</strong> NORTH (1981, p. 41, apud FOURIE, 1993, p. 46).<br />

125<br />

"Although there is no consensus on exactly what a firm is, the manag<strong>em</strong>ent of some<br />

production (and/or distribution) process appears - both intuitively and in most textbook <strong>de</strong>finitions<br />

of the firm - to be central to the nature of the firm" (FOURIE, 1993, p. 42, grifo no original).<br />

126<br />

Hodgson, no entanto, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a posição <strong>de</strong> Coase e Williamson por interpretar a<br />

concepção <strong>de</strong> firma dos mesmos como uma entida<strong>de</strong> que abrange múltiplos agentes numa relação<br />

hierárquica; Fourie e Dietrich, ao contrário, enxergam o produtor self-<strong>em</strong>ployed como uma firma, o<br />

que não acontece com aqueles. Isso leva HODGSON (1993b, p. 80 - grifo no original) a afirmar:<br />

"Hence it is quite reasonable for Coase to advance the proposition that the market is an alternative<br />

way of organizing production to the firm. At least two alternatives are possible: there can be a<br />

community of self-<strong>em</strong>ployed producers organized by the market, or there can be a capitalist firm<br />

organizing the same segment of productive activity through an <strong>em</strong>ployment relationship". FOURIE<br />

(1993, p. 43) reconhece a <strong>de</strong>fesa: "Hodgson [...] argues that one must assume that Coase has in<br />

mind what Marx calls 'the capitalist firm', i.e. a firm in which the capitalist owners own the product<br />

of the property, and hire and control labour power un<strong>de</strong>r a contract of <strong>em</strong>ployment. According to<br />

Hodgson, this <strong>de</strong>finition of a (capitalist) firm would exclu<strong>de</strong> the one-person firm. That would se<strong>em</strong><br />

to protect Coase against the criticism voiced above". FOURIE (i<strong>de</strong>m, p. 62), no entanto, insiste no<br />

72


PITELIS (1993c, p. 271), <strong>em</strong>bora enfatizando a crítica anterior da orig<strong>em</strong> das<br />

firmas (e mercados), conce<strong>de</strong> o ponto à Fourie, criticando o enfoque <strong>de</strong> Coase e<br />

Williamson: "If one is willing to <strong>de</strong>fine the single producer who produces for exchange in<br />

the market as a (unitary) firm [...] then the (unitary) firm is also the result of the benefits<br />

from division of labour". Em PITELIS (1996, p. 273) a concessão parece <strong>de</strong>finitiva: "The<br />

firm [...] need not be a multiple-person hierarchy, which the Coasean firm is".<br />

COASE (1991, p. 64) acaba por reconhecer o probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>finição da firma<br />

com base exclusivamente na relação <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego (e, portanto, multipessoal) 127 : "I consi<strong>de</strong>r<br />

that one of the main weaknesses of my article st<strong>em</strong>s from the use of the <strong>em</strong>ployer-<br />

<strong>em</strong>ployee relationship as the archetype of the firm", conquanto tal preocupação oblitera a<br />

análise da "main activity of a firm, running a business" (i<strong>de</strong>m, p. 65). 128 No entanto, as<br />

implicações que resultariam <strong>de</strong> tal revisão não são <strong>de</strong>senvolvidas.<br />

4.2.2 Po<strong>de</strong>r ou eficiência? O probl<strong>em</strong>a da racionalização ex post<br />

Com respeito à segunda crítica (<strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração analítica do po<strong>de</strong>r), Dietrich<br />

argumenta que a competição é um processo, e não uma estrutura, baseado na exploração <strong>de</strong><br />

vantagens idiossincráticas (argumento que o aproxima também dos evolucionistas). Ainda<br />

mais, tais vantagens são buscadas <strong>em</strong> cada barganha contratual (no sentido williamsoni-<br />

ano) não como resultado ótimo <strong>de</strong> um momento no t<strong>em</strong>po para o qual toda a atenção dos<br />

agentes está voltada, mas como uma tentativa <strong>de</strong> mudar o ambiente <strong>em</strong> favor <strong>de</strong> uma das<br />

partes para quaisquer eventuais barganhas futuras. Ou seja (DIETRICH, 1996, p. 230):<br />

argumento da firma individual e ainda esten<strong>de</strong> a critica a Coase e Williamson por não qualificar<strong>em</strong><br />

uma parceria multipessoal, on<strong>de</strong> não há uma relação <strong>em</strong>pregatícia, como uma firma capitalista.<br />

127 A relação <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego como essência da firma também é questionada por PITELIS (1996,<br />

p. 274): "Authority and fiat may exist in a family which operates as a production unit (firm?), but<br />

this would not be a Coasean firm, as the latter presupposed an '<strong>em</strong>ployment contract' [...]".<br />

128 Interessante notar que a autocrítica <strong>de</strong> Coase é percebida por PITELIS (1993c, p. 267),<br />

mas não por FOURIE (1993 - na mesma obra) - justamente qu<strong>em</strong> mais insiste na relevância da<br />

lacuna <strong>de</strong>ixada pelo primeiro.<br />

73


in an evolutionary (rather than comparative static) context, organizations create<br />

their environments as direct and indirect aspects of learning and strategic <strong>de</strong>cisions,<br />

rather than responding in an adaptive way to exogenously given circumstances.<br />

This implies that power and control over strategic <strong>de</strong>cisions need not be neutral in<br />

terms of evolutionary processes.<br />

Isso é uma forma <strong>de</strong> endogeneização da busca <strong>de</strong> vantagens monopólicas e por isso as<br />

consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r (<strong>de</strong>finido por PITELIS, 1993a, p. 20, como a "ability of an agent<br />

(or group) to impose its will on others, through coercion or 'charisma' ") 129 estão s<strong>em</strong>pre<br />

presentes - não só as <strong>de</strong> eficiência -, além das consi<strong>de</strong>rações referentes à aquisição <strong>de</strong><br />

capacitações ou aprendizado (i<strong>de</strong>m, p. 9-11). 130 PITELIS (1994, p. 128) também<br />

argumenta que "existência" e "objetivos" são inseparáveis: "Firms exist because of the<br />

principals objective to obtain profits. As profits can be obtained both by efficiency<br />

improv<strong>em</strong>ents and changes in technology and/or organization inimical to labour, efficiency<br />

and power consi<strong>de</strong>rations are also inseparable."<br />

Williamson várias vezes argumenta que a TCT acaba mostrando o equívoco da<br />

inhospitality tradition <strong>em</strong> con<strong>de</strong>nar conglomerados ou firmas com elevado grau <strong>de</strong><br />

integração vertical, que chegam a tais formas <strong>de</strong> organização por motivos <strong>de</strong> eficiência<br />

(por ex<strong>em</strong>plo, WILLIAMSON, 1996a, p. 243 e 281). PITELIS (1996) parece enxergar<br />

uma inconsistência grave <strong>em</strong> tal visão, como se Williamson admitisse o exercício do po<strong>de</strong>r<br />

<strong>em</strong> uma instância (<strong>em</strong>bora seja ainda apenas o resultado da eficiência), mas não <strong>em</strong> outra.<br />

Ele l<strong>em</strong>bra (p. 277) dois casos avaliados por Williamson: o da central <strong>de</strong> vendas da De<br />

Beers (WILLIAMSON, 1996b, p. 25-7), e o da transformação da indústria <strong>de</strong> aço norte-<br />

americana (uma reinterpretação <strong>de</strong> STONE, 1974, apud WILLIAMSON, 1985). Nos dois<br />

casos, a integração vertical (ou o monopólio, no caso da De Beers) encontra plena<br />

justificação <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> eficiência. No entanto, Pitelis flagra uma afirmação um tanto<br />

129 Para os propósitos da discussão, po<strong>de</strong>mos distinguir duas instâncias <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r: aquela <strong>de</strong><br />

exercício externo à firma, no sentido tradicional <strong>de</strong> concorrência imperfeita (i.e. po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> mercado),<br />

e aquela <strong>de</strong> exercício interno à firma, ou literalmente o po<strong>de</strong>r exercido na organização hierárquica.<br />

É possível perceber que alguns autores confinam-se a uma ou outra instância <strong>em</strong> particular, mas as<br />

críticas à TCT englobam ambas. Em <strong>de</strong>corrência disso, é por vezes necessário discutir <strong>em</strong><br />

separado cada uma das dimensões analíticas do po<strong>de</strong>r, como <strong>de</strong>lineadas acima. Por ex<strong>em</strong>plo,<br />

autores ligados à <strong>Economia</strong> Política utilizam bastante a segunda instância, principalmente com base<br />

na argumentação <strong>de</strong> S. MARGLIN (1974).<br />

74


estranha <strong>de</strong> Williamson para o caso da indústria <strong>de</strong> aço norte-americana: "Given [...] the<br />

large efficiency gains that Stone reports the efficiency hypothesis or a combined<br />

efficiency-power hypothesis cannot be rejected! (WILLIAMSON, 1985, p. 236, apud<br />

PITELIS, 1996, p. 277 - grifo e exclamação <strong>de</strong> Pitelis). Por isso PITELIS (i<strong>de</strong>m)<br />

questiona: "can we distinguish between authority (the sine qua non of the Coasean firm)<br />

and power (which Coase and Williamson reject)? One answer could be that market power<br />

is acceptable, but not Marglinian-type power." 131<br />

Em outra oportunida<strong>de</strong>, WILLIAMSON (1996a, p. 238-9) alega:<br />

Among the ways in which the term power is used are the following: the power of<br />

capital over labor (Bowles and Gintis, 1993); strategic power exercised by<br />

established firms in relation to extant and prospective rivals (Shapiro, 1989);<br />

special interest power over the political process (Moed, 1990a); and resource<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncy. Although all are relevant to economic organization, the last is<br />

distinctive to organization theory.<br />

Isso porque consi<strong>de</strong>ra difuso o conceito <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, afirmando (i<strong>de</strong>m): "Unable to <strong>de</strong>fine<br />

power, some specialists report that they know it when they see it. That has led others to<br />

conclu<strong>de</strong> that power is a 'disappointing concept. It tends to become a tautological label for<br />

the unexplained variance' (March, 1988, p. 6)". Ainda mais (1996b, p. 23): "Most<br />

discussions of power never i<strong>de</strong>ntify the critical dimensions which power differentials<br />

work. Instead, it becomes an exercise in ex post rationalization: power is ascribed to that<br />

party which, after the fact, appears to enjoy the advantage." 132<br />

A rejeição do conceito <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r por Williamson a partir da incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

operacionalização por qu<strong>em</strong> o <strong>de</strong>seja incluir na análise das instituições econômicas,<br />

particularmente da firma, é duramente criticada por PITELIS (1996, p. 280). Primeiro<br />

porque observar que hoje o conceito não foi ainda operacionalizado não quer dizer que não<br />

seja operacionalizável; e segundo porque Williamson ainda não percebeu que na área da<br />

130<br />

Dietrich não faz referência à transformação fundamental como passível <strong>de</strong><br />

compatibilida<strong>de</strong> com a situação sugerida, como anteriormente cogitado neste trabalho.<br />

131<br />

Vi<strong>de</strong> nossa nota <strong>de</strong> rodapé 131.<br />

132<br />

É uma sombria coincidência que JOSKOW (1991, p. 81) aponte justamente para críticas<br />

aos trabalhos <strong>em</strong>píricos que vêm sendo feitos utilizando e, mais importante, alegando ratificar<strong>em</strong> o<br />

instrumental da TCT: ao se concentrar<strong>em</strong> <strong>em</strong> casos particulares <strong>de</strong> organizações ou <strong>de</strong> contratos<br />

75


sociologia há trabalhos caminhando <strong>em</strong> tal direção. Pitelis não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> l<strong>em</strong>brar que <strong>em</strong><br />

1977, Stanley Fischer criticava a TCT justamente por não apresentar operacionalização. 133<br />

Com alguma ironia, Pitelis afirma que a perspectiva do po<strong>de</strong>r precisa urgent<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> um<br />

Williamson para operacionalizar seus conceitos.<br />

Vale ainda notar que Gregory DOW (1987, p. 27) chama atenção para os efeitos<br />

dos custos <strong>de</strong> transação sobre a estrutura dos mercados, argumentando que a mera existên-<br />

cia <strong>de</strong> tais custos leva a posições diferenciadas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r entre os agentes participantes. Isso<br />

porque algumas das manifestações ex ante dos custos <strong>de</strong> transação são justamente os<br />

custos <strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta dos preços relevantes e dos potenciais parceiros comerciais, e da<br />

negociação <strong>de</strong> contratos, <strong>de</strong>ntre outros. Se tais custos <strong>de</strong> transação ex ante são<br />

significativamente gran<strong>de</strong>s, po<strong>de</strong>m então limitar severamente o número <strong>de</strong> parceiros<br />

potenciais ou avaliáveis, criando uma situação <strong>de</strong> small number que discrimina agentes<br />

num suposto processo <strong>de</strong> licitação, criando po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> mercado para os mesmos. A<br />

conseqüência lógica <strong>de</strong>ssa visão é exposta <strong>em</strong> seguida (p. 28): "To put it a bit<br />

paradoxically: the mere existence of positive transaction costs may suffice to prevent<br />

transaction cost minimization."<br />

Quanto ao po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> mercado, Pitelis afirma ser o mesmo passível <strong>de</strong> coexistência<br />

com critérios <strong>de</strong> eficiência, e não opostos polares. Afinal, um po<strong>de</strong> levar ao outro ou<br />

mesmo ser<strong>em</strong> lados diferentes da mesma moeda e, portanto, se compl<strong>em</strong>entam para<br />

explicar a razão e os resultados da <strong>em</strong>ergência e evolução das firmas: "In the view of this<br />

author the evi<strong>de</strong>nce clearly points to the combined efficiency-power hypothesis to which<br />

Williamson has hinted" (1996, p. 281). 134 Tal visão <strong>de</strong> coexistência <strong>de</strong> características do<br />

singulares b<strong>em</strong>-sucedidos se expõ<strong>em</strong> justamente ao estigma <strong>de</strong> racionalizações ex post sobre o<br />

fenômeno.<br />

133 Isso <strong>em</strong> seu artigo "Long Term Contracting, Sticky Prices and Monetary Policy",<br />

publicado no Journal of Monetary Economics. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> alguma referência a Fischer,<br />

AZEVEDO (1996, p. 84) alega que "Os limites das teorias que se referenciam ao po<strong>de</strong>r são<br />

comparáveis àqueles que enfrentava inicialmente a proposição <strong>de</strong> Coase, uma vez que custos <strong>de</strong><br />

transação não eram passíveis <strong>de</strong> testes <strong>em</strong>píricos"; a propósito, a Tese <strong>de</strong> Paulo Azevedo é<br />

justamente uma tentativa <strong>de</strong> operacionalizar o po<strong>de</strong>r, integrando-o - como parte inseparável (p.<br />

143) - ao instrumental teórico fornecido pela TCT, cujo resultado <strong>de</strong>rivado <strong>de</strong> sua aplicação à<br />

prática (um estudo <strong>de</strong> caso do sist<strong>em</strong>a agroindustrial citrícola brasileiro) acaba refutando a<br />

proposição da TCT pela qual as formas organizacionais mais eficientes serão as adotadas (p. 202).<br />

134 PITELIS (1996, p. 279), ao l<strong>em</strong>brar que Williamson não <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ra o objetivo da firma<br />

<strong>em</strong> maximizar lucros, questiona: "If so [...] it is simply unclear why firms should not use all<br />

76


po<strong>de</strong>r e da eficiência nas organizações é também compartilhada por DIETRICH (1993, p.<br />

183-4).<br />

WILLIAMSON (1996a, p. 371), por ex<strong>em</strong>plo, comenta que sentiu-se incomodado<br />

com o artigo <strong>de</strong> Stephen MARGLIN (1974) e sua explicação para orig<strong>em</strong> e evolução das<br />

firmas com base no uso predatório do po<strong>de</strong>r. Em reação, tentou explicar a passag<strong>em</strong> do<br />

sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> putting-out para o fabril <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> eficiência <strong>de</strong>ste último na redução dos<br />

custos <strong>de</strong> transação - e também na redução dos custos tradicionais da função <strong>de</strong> produção<br />

neoclássica - <strong>em</strong> um artigo subseqüente (WILLIAMSON, 1980, apud MARGINSON,<br />

1993, p. 151). 135<br />

Mas para PITELIS (1993a, p. 20) e também para DIETRICH (1993, p. 181), <strong>em</strong><br />

concordância com Marglin, a passag<strong>em</strong> do sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> putting-out para o fabril foi<br />

motivado pelo <strong>de</strong>sejo dos principais (capitalistas) aumentar<strong>em</strong> seus lucros pelos ganhos <strong>de</strong><br />

produtivida<strong>de</strong> e também pela redução do oportunismo dos <strong>em</strong>pregados, 136 como<br />

apresentamos há pouco. No entanto, a relação <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego que surgiu levou ao<br />

<strong>de</strong>saparecimento da "oportunida<strong>de</strong> dos <strong>em</strong>pregados ser<strong>em</strong> oportunistas," 137 ou seja, tal<br />

oportunida<strong>de</strong> só restava ao <strong>em</strong>pregador - gerando uma situação <strong>de</strong> exercício do po<strong>de</strong>r. 138<br />

Mais ainda, MARGLIN (1974, p. 35) diz que o interesse dos capitalistas <strong>em</strong> tal momento<br />

era fazer com que as únicas "opções" restantes ao trabalhador foss<strong>em</strong> ou trabalhar para eles<br />

<strong>em</strong> suas fábricas, ou não trabalhar.<br />

available methods at their disposal to do so, namely, reduce transaction costs and increase their<br />

power over markets, labor, etc., if they can get away with it, and for as long as they can. Not to do<br />

so will simply <strong>de</strong>fy self-interested behavior (let alone opportunistic behavior), the very basis of<br />

Williamson-type analysis. [...] Efficiency can lead to market power, which may be used to further<br />

monopoly-type power, as one would expect! [...] [E]fficiency and (market) power are inseparable,<br />

part of a dialectical process [...]" (i<strong>de</strong>m, p. 283).<br />

135 KŒNIG (1993) adverte que tal explicação <strong>de</strong> Williamson, tanto como qualquer outra que<br />

<strong>de</strong>tenha a mesma característica, será s<strong>em</strong>pre contestável pelo simples fato <strong>de</strong> ser mono-causal.<br />

136 A propósito, MAGNUSSON e OTTOSSON (1996, p. 354) argumentam que, <strong>em</strong> termos<br />

<strong>de</strong> redução nos custos <strong>de</strong> transação, uma alternativa viável ao putting-out seria uma organização da<br />

produção ainda mais <strong>de</strong>scentralizada, formada por produtores in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes ainda mais atomizados<br />

(petty), e não o surgimento <strong>de</strong> fábricas.<br />

137 Nas palavras <strong>de</strong> DIETRICH (1993, p. 181): "the factory shifted the basis of the<br />

information asymmetry between workers and entrepreneurs-capitalists in favour of the latter, thus<br />

facilitating the extraction of a latent surplus [...]".<br />

138 Se Williamson então persiste com seu motivo "eficiência", DOW (1987, p. 34) impõe um<br />

<strong>de</strong>safio: "One must [...] explain why [...] curbs on subordinate opportunism do or do not offset the<br />

newly opened possibilities for opportunism by superior authorities".<br />

77


Antes, porém, <strong>de</strong> construir a explicação alternativa, MARGLIN (1974, p. 16-7)<br />

elabora o mote principal para a invalidação do motivo eficiência, a partir do qual outros<br />

autores se orientam para refutar a <strong>de</strong>fesa do mesmo feita por Williamson:<br />

a method of production is technologically superior to another if it produces more<br />

output with the same inputs. It is not enough that a new method of production yield<br />

more output per day to be technologically superior. Even if labour is the only input,<br />

a new method of production might require more hours of labour, or more intensive<br />

efforts, or more unpleasant working conditions, in which case it would be providing<br />

more output for more input, not for the same amount.<br />

O argumento <strong>de</strong> Marglin é, então, posteriormente reapresentado por outros autores,<br />

não permitindo que o mesmo fosse silenciado pelo po<strong>de</strong>r da "última palavra" (cronologi-<br />

camente, <strong>de</strong> Williamson). MARGINSON (1993, p. 151), por ex<strong>em</strong>plo, comenta:<br />

to the extent that the increase in output is secured through <strong>em</strong>ployers' ability to<br />

extract more labour effort from a given workforce, then labour input has increased<br />

as well. Thus while costs may have been minimized and profits increased, the<br />

efficiency implications of strengthening authority relation are in<strong>de</strong>terminate - both<br />

outputs and inputs have increased.<br />

A obtenção <strong>de</strong> maior produção com o mesmo número <strong>de</strong> trabalhadores t<strong>em</strong> sido a<br />

justificativa <strong>de</strong> eficiência, s<strong>em</strong> que este termo seja precisamente <strong>de</strong>finido. Esse parece ser<br />

um uso utilitarista do conceito <strong>de</strong> eficiência para justificar um fato que não se pô<strong>de</strong> provar<br />

<strong>em</strong>piricamente, mas cujo estado final po<strong>de</strong> ser enquadrado no corpo teórico da TCT,<br />

conferindo-lhe uma legitimida<strong>de</strong> espúria. Em suma, trata-se <strong>de</strong> uma racionalização ex post.<br />

DIETRICH (1993, p. 181) também alega que a contabilização da eficiência po<strong>de</strong><br />

ser <strong>de</strong>sfavorável a Williamson, já que a assimetria <strong>de</strong> informações existente no putting-out<br />

e que precisava ser reduzida - como o foi, no sist<strong>em</strong>a fabril - causou mudanças significati-<br />

vas mas contrárias <strong>em</strong> diferentes componentes dos custos <strong>de</strong> transação. Embora o então<br />

novo sist<strong>em</strong>a fabril tenha proporcionado economias no componente <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação, exigiu<br />

uma elevação substancial nos custos relativos ao monitoramento dos trabalhadores,<br />

"agentes" estes que passaram a uma situação pior que a anterior - "workers [...] would<br />

clearly be worse-off" (ibid.) -, o que seria incompatível com a eficiência no sentido tradi-<br />

78


cional (ou <strong>de</strong> Pareto), mas estaria <strong>em</strong> acordo com o exercício <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. Se assim o foi,<br />

"both costs and benefits of resource allocation will have increased with the shift from<br />

putting-out to factory, but the latter to a greater extent than the former. [...] Transaction<br />

cost reasoning, by itself, is only relevant to the ex post situation when the <strong>em</strong>bezzl<strong>em</strong>ent<br />

probl<strong>em</strong> (the previously stolen materials) has been r<strong>em</strong>oved" (ibid.). 139<br />

Não obstante, vale notar que Dietrich, na maior parte <strong>de</strong> seu trabalho, parece<br />

preocupar-se com o uso do po<strong>de</strong>r principalmente numa instância <strong>de</strong> troca, ou seja, po<strong>de</strong>r<br />

monopólico nas relações entre firmas (DIETRICH, 1993, p. 184, e 1994, p. 42). 140 Já<br />

WILLIAMSON (1994) parece voltar-se para as instâncias <strong>de</strong> produção e distribuição ao<br />

rechaçar o conhecido argumento <strong>de</strong> ALCHIAN e DEMSETZ (1972) 141 pelo qual as<br />

relações <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma hierarquia não são diferentes daquelas presentes no mercado.<br />

Williamson afirma (p. 325): "The argument that the firm 'has no power of fiat, no<br />

authority, no disciplinary action any different in the slightest <strong>de</strong>gree from ordinary market<br />

contracting' (A. Alchian and H. D<strong>em</strong>setz, 1972, p. 777) is exactly wrong: firms can and do<br />

exercise fiat that markets cannot." 142 Isso, entretanto, não exime Williamson das críticas<br />

quanto à <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração do po<strong>de</strong>r <strong>em</strong> qualquer instância por motivos "operacionais."<br />

139 Vale também apresentar o que diz MARGLIN (1974, p. 29 - grifo no original):<br />

"discipline and supervision could and did reduce costs without being technologicaly superior." Isso<br />

é obtido da seguinte forma (p. 36): "Disciplining the work force meant a larger output in return for<br />

a greater input of labour, not more output for the same input. Supervising - insofar as it meant<br />

something different from disciplining - the work force simply reduced the real wage; an end to<br />

<strong>em</strong>bezzl<strong>em</strong>ent and like <strong>de</strong>ceits changed the division of the pie in favour of capitalist".<br />

140 Embora não seja sinônimo <strong>de</strong> relações <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>, hierarquia ou influência, e sim, no<br />

aspecto econômico, uma certa habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um indivíduo ou grupo <strong>em</strong> dirigir recursos <strong>de</strong> uma<br />

certa forma, mesmo diante <strong>de</strong> interesses contrários ou mesmo oposição <strong>de</strong> outros (DIETRICH,<br />

1994, p. 184).<br />

141 "Telling an <strong>em</strong>ployee to type this letter rather than to file that document is like my telling<br />

a grocer to sell me this brand of tuna rather than that brand of bread" (ALCHIAN e DEMSETZ,<br />

1972, p. 777).<br />

142 Neste ponto é interessante notar que HODGSON (1988, p. 199) vê <strong>em</strong> tal afirmação um<br />

avanço da TCT com relação à idéia do nexo <strong>de</strong> contratos: "One reason why the work of Oliver<br />

Williamson and his followers is superior do that of Alchian and D<strong>em</strong>setz is that a distinction<br />

between market and non-market institutions is firmly upheld. Instead of the firm being, in essence,<br />

a market, there is a 'creative tension' between markets and hierarchic organizations such as the<br />

capitalist firm [...]. The <strong>em</strong>ployment relation is said to be different from the grocer-consumer<br />

relation because <strong>em</strong>ployees have unique personal skills which are not completely known in<br />

advance".<br />

79


A discussão das relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r po<strong>de</strong>m se aprofundar analiticamente para a<br />

instância da relação <strong>em</strong>pregador-<strong>em</strong>pregado. Nesse aspecto, KHALIL (1996, p. 290-1,<br />

com base <strong>em</strong> MASTEN, 1993) tenta mostrar que:<br />

intrafirm contract [...] is different from commercial contract [...]. It arises from the<br />

distinction between <strong>em</strong>ployment and commercial contracts. Only <strong>em</strong>ployment<br />

contracts legally obligate suppliers (<strong>em</strong>ployees) to be loyal to purchasers (firms).<br />

[...] One may surmise that there is some legal obligation of the seller (<strong>em</strong>ployee)<br />

not to violate (within limits) the loyalty towards the buyer (<strong>em</strong>ployer) - but not vice<br />

versa.<br />

O argumento é reforçado por MARGINSON (1993, p. 159), ao comentar que o contrato <strong>de</strong><br />

trabalho é diferente dos <strong>de</strong>mais contratos ainda por <strong>de</strong>ixar <strong>em</strong> aberto as tarefas a ser<strong>em</strong><br />

executadas no futuro, quando apenas uma das partes terá o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir sobre isso - o<br />

<strong>em</strong>pregador. 143<br />

A assimetria no potencial uso do po<strong>de</strong>r nas relações <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> que caracterizam<br />

a firma não po<strong>de</strong> ser explicada simplesmente com o arcabouço da eficiência e/ou alinha-<br />

mento <strong>de</strong> incentivos. Williamson admite a existência do po<strong>de</strong>r, como vimos há pouco, e<br />

admite também tal assimetria <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r entre <strong>em</strong>pregadores e <strong>em</strong>pregados quando são<br />

criadas qualificações ou aptidões específicas à firma (WILLIAMSON, 1984, citado por<br />

MARGINSON, 1993, p. 139). 144 Ele porém acaba alegando que há motivos para que tais<br />

potenciais <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r não sejam exercidos. Isso porque, por um lado, <strong>em</strong>pregadores po<strong>de</strong>rão<br />

ganhar "má" reputação e encontrar dificulda<strong>de</strong>s para contratar trabalhadores no futuro, e,<br />

por outro, trabalhadores com po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> barganha graças às suas aptidões específicas à firma<br />

não o exercerão pelas dificulda<strong>de</strong>s que encontrarão no "mercado <strong>de</strong> qualificações gerais".<br />

143 MARGINSON (1993, p. 159-160), no entanto, alerta para o fato <strong>de</strong> muitos economistas<br />

estar<strong>em</strong> focalizando apenas o componente <strong>de</strong> coerção do exercício do po<strong>de</strong>r. Para ele, "Regard<br />

needs to be paid to the limits on the exercise of coercion to secure worker effort, and to the<br />

importance of normative factors. More broadly, the role of non-coercive means of maintaining<br />

power, including socialization and legitimation, requires attention."<br />

144 Qualificações específicas estas que estreitam as qualificações gerais exigidas no mercado<br />

<strong>de</strong> trabalho, criando uma relação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência bilateral e, portanto, <strong>de</strong>sencorajam a saída do<br />

trabalhador da firma. MÉNARD (1996a, p. 159) ex<strong>em</strong>plifica: "in a firm, an <strong>em</strong>ployee may be<br />

extr<strong>em</strong>ely well qualified, but easily replaceable; conversely, another <strong>em</strong>ployee may have low<br />

qualifications but be extr<strong>em</strong>ely specific because of some kow-how gained through his or her<br />

80


Eventualmente, uma r<strong>em</strong>uneração ao <strong>em</strong>pregado maior que a proporcionada pelo mercado<br />

é suficiente para compensar pequenas assimetrias. Para MARGINSON (i<strong>de</strong>m), isso nada<br />

mais representa que duas fontes <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r exercendo efeitos contrários <strong>de</strong> mesma<br />

intensida<strong>de</strong> - é um reconhecimento da existência da tensão entre <strong>em</strong>pregadores e<br />

trabalhadores, numa espécie <strong>de</strong> countervailling power, que não se torna explícita por<br />

repousar no equilíbrio das compensações. No entanto, para Marginson, não há nenhuma<br />

razão a priori para imaginarmos que o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> barganha dos trabalhadores na firma será<br />

exatamente compensado pela perda <strong>de</strong> seu po<strong>de</strong>r no mercado <strong>de</strong> qualificações, e também<br />

que a firma <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> explorar cada montante <strong>de</strong> tal <strong>de</strong>sequilíbrio. 145<br />

Diante <strong>de</strong> tal contra argumento que maiores benefícios pecuniários bastariam para<br />

explicar tal "venda" <strong>de</strong> assimetria do po<strong>de</strong>r, PITELIS (1994, p. 42), MCGUINNESS (1990,<br />

p. 58) e MARGLIN (1974, p. 39) levantam a questão: seria isso o bastante para incorporar<br />

custos e benefícios "psicológicos" <strong>de</strong> uma situação <strong>de</strong> completa <strong>de</strong>pendência? 146 Suas<br />

respostas se dão claramente na negativa. Dessa forma, quanto ao po<strong>de</strong>r nas relações<br />

hierárquicas, PITELIS (1996, p. 276) lamenta não haver evidência histórica para a<br />

abordag<strong>em</strong> da eficiência do contrato <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> Williamson; ao contrário, evidências<br />

activity within the organization." E, neste último caso, "it would be extr<strong>em</strong>ely difficult for the<br />

hol<strong>de</strong>r of this asset to tra<strong>de</strong> this specific know-how on the labor market."<br />

145 MARGINSON (1993, p. 143-4) contesta Williamson <strong>de</strong> forma ainda mais ve<strong>em</strong>ente ao<br />

tentar <strong>de</strong>monstrar que o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> barganha dos trabalhadores não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> apenas <strong>de</strong> qualificações<br />

específicas à firma, mas também <strong>de</strong> sua organização (principalmente <strong>em</strong> sindicatos, mas não<br />

necessariamente) e <strong>de</strong> sua mobilização: "Firm-specific skills are neither necessary nor sufficient for<br />

bargaining power to exist".<br />

146 Pergunta esta, aliás, que COASE (1937, p. 390) parece respon<strong>de</strong>r <strong>de</strong> forma discordante ao<br />

dizer: "it would rather se<strong>em</strong> that the opposite ten<strong>de</strong>ncy is operating if one judges from the stress<br />

normally laid on the advantage of 'being one's own master' ".<br />

81


exist<strong>em</strong> para a abordag<strong>em</strong> predatória <strong>de</strong> Marglin, 147 ou seja, do exercício do po<strong>de</strong>r<br />

hierárquico. 148<br />

4.2.3 Oportunismo: perigo <strong>em</strong>inente, relevante e ubíquo ou<br />

pobre <strong>de</strong>scrição da natureza humana?<br />

A terceira crítica resume algumas consi<strong>de</strong>rações sobre a adoção do oportunismo<br />

como suporte comportamental da TCT. Um ponto <strong>de</strong> partida relevante para a literatura<br />

crítica, <strong>em</strong> geral, <strong>de</strong>sse ponto está num ex<strong>em</strong>plo utilizado por WILLIAMSON (1985, p.<br />

122) para o caso Toyota, <strong>em</strong> que conclui: "The hazards of trading are less severe in Japan<br />

than in the United States because of cultural and institutional checks on opportunism".<br />

Para DIETRICH (i<strong>de</strong>m, p. 24-5), isso significa que o oportunismo é um fator<br />

endógeno a cada cultura ou socieda<strong>de</strong> e não uma hipótese que se possa consi<strong>de</strong>rar a<br />

priori. 149 Torna-se, então, difícil explicar a existência <strong>de</strong> firmas (ainda mais as gran<strong>de</strong>s<br />

147 O artigo <strong>de</strong> MARGLIN (1974), a propósito, preocupa-se justamente <strong>em</strong> reunir<br />

evidências, principalmente, da superação do sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> putting-out pelo fabril apoiando-se no<br />

resgate e análise <strong>de</strong> publicações daquele período, tentantdo mostrar as intenções reveladas (<strong>em</strong> seu<br />

estado "bruto") <strong>de</strong> homens <strong>de</strong> negócio, governantes e legisladores <strong>em</strong> modificar ou não tanto os<br />

direitos <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> quanto a interpretação das jurisprudências evolvidas culturalmente. Este foi<br />

o caso, por ex<strong>em</strong>plo, da máxima da justiça inglesa pela qual um hom<strong>em</strong> é inocente até que se prove<br />

o contrário: se houvesse suspeita <strong>de</strong> sabotag<strong>em</strong> ou roubo <strong>de</strong> matéria-prima por um produtor<br />

doméstico, caberia a ele o ônus <strong>de</strong> provar sua inocência, ou na ausência <strong>de</strong> tais provas seria<br />

consi<strong>de</strong>rado culpado (i<strong>de</strong>m, p. 35-6).<br />

148 Mais explicitamente, essa instância se refere ao po<strong>de</strong>r do capital sobre o trabalho, como é<br />

ressaltado por MARGLIN (1974, seções 3 e 4) e por MARGINSON (1993, seção 3.3) <strong>em</strong> sua<br />

interpretação do artigo <strong>de</strong> Marglin. Tal visão é compatível com a <strong>de</strong> Pitelis quando, antes <strong>de</strong><br />

concordar com a visão predatória das relações hierárquicas, explica quais seriam suas origens: "In<br />

the Coasean assertion 'agents' agree to work un<strong>de</strong>r the authority of 'principals' voluntarily, because<br />

they expect to gain out of the increased (transaction cost-related) efficiency gains resulting from<br />

<strong>em</strong>ergent hierarchies. This need not be true. The alternative is that 'agents' are obliged to do so, by<br />

the principals [...]. An example would be <strong>em</strong>ployers and/or the state possibly in mutual support of<br />

each other and in the pursuit of mutual gain [...], and/or because they simply have no better<br />

alternative, i.e., the alternative is to work for another principal or not work at all (be un<strong>em</strong>ployed).<br />

In the first two cases the process is clearly predatory, while in the third it is contractual in a rather<br />

meaningless sense [...]."<br />

149 WALSH (1996, p. 519) argumenta: "Williamson argues that firms may behave<br />

opportunistically, but not why they <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> to behave more opportunistically un<strong>de</strong>r certain<br />

circumstances than others". No entanto, a citação imediatamente acima <strong>de</strong> Williamson é uma<br />

explicação, quer consi<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os o oportunismo endógeno ou exógeno ao agente econômico. Em<br />

82


corporações) no Japão <strong>em</strong> função <strong>de</strong> tal suposto comportamental dos agentes. Se o<br />

oportunismo é culturalmente reduzido, digamos, <strong>em</strong> todo o país, po<strong>de</strong>-se esperar então que<br />

assim o será igualmente <strong>em</strong> toda a economia nacional e nos arranjos institucionais<br />

subjacentes, quer <strong>em</strong> firmas, quer também <strong>em</strong> transações <strong>de</strong> mercado, <strong>em</strong> gestões<br />

trilaterais, ou <strong>em</strong> outros tipos <strong>de</strong> relações contratuais. 150<br />

Em tais circunstâncias, a justificativa para organizar as transações <strong>de</strong> forma hierár-<br />

quica fica obscura pelo raciocínio da TCT. Isso po<strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nciar que, mesmo na ausência<br />

total <strong>de</strong> oportunismo, a racionalida<strong>de</strong> limitada <strong>em</strong> seu componente <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong><br />

informacional po<strong>de</strong> impedir a existência <strong>de</strong> um ambiente "tranqüilo" para transações s<strong>em</strong><br />

conflitos ex ante. 151 Ou, <strong>em</strong> outras palavras, impedir que os agentes envolvidos sejam<br />

capazes <strong>de</strong> traçar uma única estratégia maximizadora conjunta, ou mesmo que concor<strong>de</strong>m<br />

que tal estratégia seria a "justa" para todas as partes. Nas palavras <strong>de</strong> DIETRICH (1993, p.<br />

transações entre firmas ou mercados <strong>de</strong> distintas socieda<strong>de</strong>s resta (<strong>de</strong> forma prepon<strong>de</strong>rante, ainda<br />

mais após a mudança dos regimes políticos dos países europeus do Leste) ao menos uma<br />

s<strong>em</strong>elhança: são capitalistas (como tenta Williamson <strong>de</strong>limitar seu trabalho <strong>de</strong> 1985 intitulando-o<br />

"The Economic Institutions of Capitalism"). O conceito po<strong>de</strong> ser endógeno ao capitalismo, e<br />

portanto generalizável (<strong>em</strong>bora falseável) e aparecer <strong>em</strong> diferentes intensida<strong>de</strong>s nas diferentes<br />

socieda<strong>de</strong>s interligadas por tal sist<strong>em</strong>a.<br />

150 O mesmo argumento é reforçado por GROENEWEGEN e VROMEN (1996, p. 372). Um<br />

canal <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate sobre este ponto abre-se a partir <strong>de</strong> duas posições, quais sejam: i) o oportunismo é<br />

um fator endógeno (assim como outros aspectos comportamentais) tanto ao ambiente institucional<br />

quanto ao arranjo institucional ou estrutura <strong>de</strong> gestão, on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>-se esperar que cada um <strong>de</strong>les<br />

tenha a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suscitar diferentes comportamentos (e <strong>em</strong> diferentes intensida<strong>de</strong>s) - on<strong>de</strong> o<br />

aspecto da "atmosfera organizacional" levantado, e posteriormente abandonado, por Williamson<br />

teria relevância; e ii) a questão resolve-se apenas por alinhamento <strong>de</strong> incentivos, ou seja, contratos<br />

(explícitos ou implícitos) <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> garantias, como, por ex<strong>em</strong>plo, <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong>cisório no chão-<strong>de</strong>-fábrica, que cortam as intenções <strong>de</strong> oportunismo, como seria a argumentação<br />

<strong>de</strong>corrente do grupo <strong>de</strong> economistas caracterizado por Williamson pela ênfase nos alinhamentos ex<br />

ante (vi<strong>de</strong> nossa seção 3.1). O segundo caminho, no entanto, teria probl<strong>em</strong>as <strong>em</strong> explicar o<br />

conhecido caso do diferencial produtivo entre as fábricas da Toyota no Japão e EUA, com<br />

estruturas <strong>de</strong> incentivos s<strong>em</strong>elhantes, e também o comportamento diferenciado da Toyota para com<br />

seus fornecedores japoneses e norte-americanos, que o próprio Williamson evi<strong>de</strong>ncia (1985, p.<br />

120-123).<br />

Essa oposição no <strong>de</strong>bate parece apontar para a adoção por Williamson da primeira das<br />

posições. No entanto, a ausência <strong>de</strong> dinâmica implica um engajamento incompleto ou parcial, já<br />

que a TCT assume, para princípio <strong>de</strong> análise, um ambiente institucional dado.<br />

151 Segundo DIETRICH (1994, p. 19-20), o conceito <strong>de</strong> racionalida<strong>de</strong> limitada <strong>de</strong>senvolvido<br />

por Herbert SIMON (1957 e 1961, por ele citados) divi<strong>de</strong>-se <strong>em</strong> duas partes: 1) limitações<br />

inerentes aos indivíduos <strong>em</strong> processar informações a não ser <strong>de</strong> modo trivial - complexida<strong>de</strong><br />

informacional; e 2) <strong>de</strong>sconhecimento por parte dos indivíduos <strong>de</strong> todos os estados futuros possíveis<br />

do mundo e <strong>de</strong> todas as relações causais relevantes - incerteza informacional. E por tal<br />

83


177): "given complexity, there is no reason to assume that individual perceptions and<br />

objectives will allow the <strong>de</strong>finition of a unique maximizing strategy." E ainda: "how can<br />

objectively fair returns be <strong>de</strong>fined when boun<strong>de</strong>d rationality exists?" (ibid). DOW (1993,<br />

p. 110) expõe o mesmo probl<strong>em</strong>a: "If agents cannot anticipate and plan for all future<br />

contingencies, it follows that they cannot compute the transaction cost associated with<br />

each governance structure, since these costs <strong>de</strong>pend precisely on the magnitu<strong>de</strong> of the<br />

distortions occurring in various future states of the world." Mais à frente (p. 126, sua nota<br />

<strong>de</strong> rodapé 14), Dow compl<strong>em</strong>enta: "Any <strong>de</strong>finition of boun<strong>de</strong>d rationality which rules out<br />

comprehensive planning for all future contingencies will also [...] rule out ex ante<br />

computation of transaction costs".<br />

A racionalida<strong>de</strong> limitada por si só po<strong>de</strong> fazer com que conflitos ex post, ou no<br />

limite a quebra <strong>de</strong> contratos, surjam s<strong>em</strong> qualquer pr<strong>em</strong>issa <strong>de</strong> comportamento oportunista,<br />

ou seja, meramente pelas diferentes visões <strong>de</strong> mundo que permite coexistir - e <strong>de</strong>ssa forma,<br />

até mesmo o altruísmo seria motivo para o rompimento <strong>de</strong> contratos. Ao <strong>de</strong>finir o<br />

oportunismo como i) a procura egoísta, com astúcia ou malícia, e ainda como ii) a<br />

exposição incompleta ou distorcida <strong>de</strong> informações, Williamson está sendo ambíguo,<br />

segundo DIETRICH (1994, p. 25): na verda<strong>de</strong> "ii" existe <strong>em</strong> função da racionalida<strong>de</strong><br />

limitada e é apenas agravado por "i," 152 e para essa mesma situação, <strong>em</strong> lugar <strong>de</strong> relações<br />

oportunistas po<strong>de</strong>m muito b<strong>em</strong> surgir relações <strong>de</strong> confiança, <strong>de</strong> acordo com a capacida<strong>de</strong><br />

das estruturas <strong>de</strong> gestão <strong>em</strong> criar percepções convergentes sobre o mundo ou sobre as<br />

transações e estratégias <strong>em</strong> questão. 153 Nas palavras <strong>de</strong> DIETRICH (1996, p. 227):<br />

<strong>de</strong>composição, argumenta que Williamson utiliza apenas o componente <strong>de</strong> incerteza informacional<br />

no seu mo<strong>de</strong>lo da TCT.<br />

152 A respeito do oportunismo, HODGSON (1988, p. 205) alia-se a Dietrich, referindo-se a<br />

Langlois para dar suporte à critica ao afirmar: "As Langlois (1984) argues, the probl<strong>em</strong> here is not<br />

fundamentally one of opportunism per se: it is because one party to the contract is uncertain if the<br />

other will renege or not. The other person may, or may not, be opportunistic and self-seeking; that<br />

is a secondary question. [...] In<strong>de</strong>ed, it might even be possible that he or she might break the<br />

contract for altruistic rather than selfish reasons, to express solidarity with victims of apartheid or<br />

to protest against the fur tra<strong>de</strong>, for example". Vale reforçar que DIETRICH (1996, p. 229) persiste<br />

no argumento: "Search, negotiation and policing costs will exist if disagre<strong>em</strong>ent and learning<br />

occurs. This can be the case even if people trust each other. Opportunism will exacerbate these<br />

probl<strong>em</strong>s, not cause th<strong>em</strong>".<br />

153 Para maiores <strong>de</strong>talhes, vi<strong>de</strong> DIETRICH (1994, p. 28-9). Esse ponto é também abordado<br />

por PITELIS (1993a, p. 22-3). A relativa importância das relações <strong>de</strong> confiança na TCT foi<br />

apresentada na seção anterior e permanece valendo como a contra argumentação geral <strong>de</strong><br />

Williamson.<br />

84


"Disagre<strong>em</strong>ents can therefore be <strong>de</strong>fined in terms of differing interpretation rather than<br />

being based on any presumption of opportunism [...]. In fact disagre<strong>em</strong>ent might be based<br />

on altruistic motives (Hodgson, 1988) if divergent conceptions of cause-effect<br />

relationships or final states of the world exist". É também interessante notar que Dietrich<br />

encontra <strong>em</strong> Williamson uma referência a esse tipo <strong>de</strong> comportamento no que <strong>em</strong> "Markets<br />

and Hierarchies..." havia chamado <strong>de</strong> "atmosfera organizacional", e que <strong>em</strong> "The<br />

Economic Institutions..." qualifica como "relações idiossincráticas <strong>de</strong> troca que apresentam<br />

credibilida<strong>de</strong> pessoal", mas s<strong>em</strong> que foss<strong>em</strong> tratados sist<strong>em</strong>aticamente os argumentos. 154<br />

A ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> PONDÉ (1994, p. 40), DIETRICH (i<strong>de</strong>m, p. 26) conclui sua crítica<br />

dizendo ser <strong>de</strong>snecessária a centralida<strong>de</strong> creditada por Williamson ao oportunismo, sendo<br />

ela prescindível ou pelo menos "não logicamente indispensável". Não é possível separar a<br />

incerteza do comportamento individual dos agentes, ou referindo-se a Hodgson e Keynes:<br />

"uncertainty is only i<strong>de</strong>ntifiable in terms of how confi<strong>de</strong>nt an individual is about an event<br />

occurring." 155<br />

154 Embora visando <strong>em</strong> suas críticas um alvo teórico distinto ao <strong>de</strong> Dietrich, GUSTAFSSON<br />

(1996, p. 21) também chama a atenção para a eventual criação <strong>de</strong> instituições <strong>de</strong> suporte a<br />

transações que sejam eficientes na redução dos custos <strong>de</strong> transação e na promoção <strong>de</strong><br />

previsibilida<strong>de</strong> e estabilida<strong>de</strong>, ou seja, que reduzam oportunismo (ou incerteza comportamental).<br />

Em sua opinião, essa é uma atitu<strong>de</strong> que por natureza estabelece alguma forma <strong>de</strong> punição a<br />

comportamentos <strong>de</strong>sviantes; mas <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os atentar que o comportamento inovador (do qual se<br />

acredita <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r o progresso econômico ou, <strong>de</strong> forma específica, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> percepção <strong>de</strong><br />

lucros extraordinários) é uma forma <strong>de</strong> comportamento <strong>de</strong>sviante. A estrutura <strong>de</strong> gestão criada com<br />

o intuito <strong>de</strong> mitigar ou reduzir o oportunismo po<strong>de</strong> estar ao mesmo t<strong>em</strong>po impedindo o<br />

comportamento inovador e, assim, sendo ineficiente <strong>em</strong> termos dinâmicos. Portanto, outras<br />

dimensões (como o potencial inovador <strong>em</strong> jogo) <strong>de</strong>v<strong>em</strong> estar presentes na conformação das regras<br />

<strong>de</strong> gestão das transações.<br />

155 A propósito, na visão <strong>de</strong> DUNN (1998, p. 3), o conceito pós-keynesiano <strong>de</strong> incerteza<br />

"fundamental" (trabalhado por Paul Davidson), característico <strong>de</strong> um ambiente não ergódico como o<br />

nosso mundo real, suprime qualquer necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> referência à incerteza "comportamental" <strong>de</strong><br />

Williamson, que alia oportunismo e racionalida<strong>de</strong> limitada. Para Dunn (ibid. - grifo no original),<br />

"[...] Post-Keynesian would suggest that the 'impossibility of foreseeing future knowledge' also<br />

arises in cont<strong>em</strong>plation of a nonergodic environment even if agents could make 'full use of present<br />

knowledge'. [...] The Post-Keynesian <strong>em</strong>phasis on choice un<strong>de</strong>r uncertainty need not, therefore, be<br />

tied to any (behavioural) conception of the processing abilities of agents [...]". Em seguida (p. 8),<br />

Dunn compl<strong>em</strong>enta: "Individual agents are ignorant of the available courses of action or of the<br />

extent of future states of the world because of the irreversible and open-en<strong>de</strong>d nature of time,<br />

because the future is transmutable and not because of limitations in the processing abilities of<br />

economic agents [...]". Para uma discussão mais <strong>de</strong>talhada da contraposição entre as visões<br />

ergódica e não ergódica do mundo na teoria econômica, vi<strong>de</strong> Paul DAVIDSON (1996).<br />

85


Em 1975, a explicação <strong>de</strong> Williamson para a importância do oportunismo era a<br />

seguinte (p. 27):<br />

By assumption [...] self-enforcing commitments [...] cannot be secured. At least<br />

some of the agents who acce<strong>de</strong> to such terms do it casually, in a self-disbelieved<br />

way. Since these types cannot be distinguished ex ante from sincere types [...],<br />

relying on such promises exposes sales contracts to hazards during contract<br />

execution and at the contract renewal interval. Lest such contracts be inefficiently<br />

executed, and effort must be ma<strong>de</strong> to anticipate contingencies and spell out terms<br />

much more fully than would otherwise be necessary.<br />

Duas décadas após, <strong>em</strong>bora <strong>em</strong> outras palavras, sua explicação continua <strong>em</strong><br />

essência a mesma (WILLIAMSON, 1996a, p. 48 - grifos no original): "To assume [...] that<br />

human agents are opportunistic does not mean that all are continually given to<br />

opportunism. Rather, the assumption is that some individuals are opportunistic some of the<br />

time and that it is costly to ascertain differential trustworthiness ex ante." Ou seja, basta<br />

que um ou outro indivíduo se comporte <strong>de</strong> forma oportunista uma ou outra vez para que<br />

um agente <strong>em</strong> posição <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir uma forma organizacional para uma transação qualquer<br />

fique alerta para os perigos do oportunismo, uma vez reconhecida sua incapacida<strong>de</strong> <strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>scobrir previamente o caráter dos indivíduos com qu<strong>em</strong> irá lidar. O alerta <strong>de</strong>ve ser<br />

traduzido <strong>em</strong> salvaguardas contratuais, que interfer<strong>em</strong> nas <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong> escolha da forma<br />

organizacional. Se uma relação <strong>de</strong> confiança surgir ao longo do t<strong>em</strong>po, tanto melhor; no<br />

entanto, nada disso suprime a eventual possibilida<strong>de</strong> do oportunismo <strong>em</strong> algum momento<br />

futuro.<br />

Quanto às firmas japonesas, talvez tenham elas conseguido construir um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong><br />

relações hierárquicas e <strong>de</strong> alinhamento <strong>de</strong> incentivos que <strong>de</strong>sestimule o oportunismo, como<br />

por ex<strong>em</strong>plo uma boa perspectiva <strong>de</strong> carreira, participação dos trabalhadores <strong>em</strong> <strong>de</strong>cisões<br />

relevantes, garantia <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntre outras "motivações" possíveis. 156 E sendo tal<br />

sist<strong>em</strong>a significativamente generalizado pela cultura, esta po<strong>de</strong> funcionar como a estrutura<br />

sistêmica <strong>de</strong> monitoramento, fazendo com que o comportamento oportunista possa<br />

implicar numa gran<strong>de</strong> perda pessoal com a "simples" <strong>de</strong>missão, po<strong>de</strong>ndo no limite<br />

86


transformar o indivíduo num pária social, fadado ao ostracismo por seu comportamento<br />

culturalmente reprovável.<br />

De qualquer forma, diante da insistência <strong>de</strong> Williamson com relação à ubiqüida<strong>de</strong><br />

do oportunismo, Dietrich questiona a impossibilida<strong>de</strong> alegada pela TCT <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregadores<br />

se comportar<strong>em</strong> <strong>de</strong> forma oportunista. Afinal <strong>de</strong> contas, isso implica passar por cima da<br />

própria hipótese <strong>de</strong> ubiqüida<strong>de</strong> (DIETRICH, 1996, p. 226): "The one-si<strong>de</strong>d use [of<br />

opportunism] claims that it is only appropriate for workers/middle manag<strong>em</strong>ent; senior<br />

manag<strong>em</strong>ent <strong>de</strong>cisions are claimed to be rational rather than subject to their own<br />

opportunism."<br />

A esse aspecto é <strong>de</strong>dicada boa parte do artigo <strong>de</strong> Gregory DOW (1987, p. 20), para<br />

qu<strong>em</strong> as relações <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>, <strong>em</strong> lugar <strong>de</strong> r<strong>em</strong>ediar o oportunismo no único sentido<br />

consi<strong>de</strong>rado pela TCT (<strong>em</strong>pregado para <strong>em</strong>pregador, ou cargos hierárquicos inferiores para<br />

os superiores), acabam gerando as condições estruturais que encorajam o oportunismo <strong>de</strong><br />

superiores hierárquicos (<strong>em</strong> qualquer nível) para com os inferiores. Tais condições se<br />

apresentam principalmente na forma <strong>de</strong> (i<strong>de</strong>m, p. 21): "information impactedness, small<br />

numbers, and availability of a tool (<strong>de</strong>cision by fiat) which is tailor-ma<strong>de</strong> for unilateral<br />

pursuit of self-interest." Se a redução do oportunismo <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada <strong>de</strong> forma séria<br />

e ubíqua, então cabe à firma também criar alguma forma <strong>de</strong> monitoramento recíproco on<strong>de</strong><br />

subordinados possam <strong>de</strong>tectar e punir abusos <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>, interpretados como comporta-<br />

mento oportunista por parte <strong>de</strong> superiores hierárquicos (p. 24).<br />

4.3 Fontes Críticas Institucionalistas (Old Institutional Economics)<br />

Embora economistas ligados à Old Institutional Economics (OIE) i<strong>de</strong>ntifiqu<strong>em</strong>-se<br />

com uma abordag<strong>em</strong> evolucionista, <strong>de</strong>ixamos reservado este termo para os economistas<br />

ligados ao enfoque neo-schumpeteriano (nossa Seção 4.1) não mais que por questões<br />

taxonômicas. Acreditamos apenas ser relevante tomarmos a orig<strong>em</strong>, no início <strong>de</strong>ste século,<br />

da Escola Institucionalista como uma reação <strong>de</strong> economistas e pensadores sociais<br />

156 Para maiores <strong>de</strong>talhes a respeito das particularida<strong>de</strong>s das firmas japonesas, vi<strong>de</strong> AOKI<br />

87


motivados pela insatisfação com o caminho trilhado pela escola neoclássica tradicional. 157<br />

Essa referência en passant po<strong>de</strong> ajudar a i<strong>de</strong>ntificar com mais clareza o conteúdo <strong>de</strong> suas<br />

críticas à TCT, 158 por ela vista prepon<strong>de</strong>rant<strong>em</strong>ente como extensão da economia<br />

neoclássica. 159<br />

Serão apresentadas nesta seção críticas envolvendo: i) as discrepâncias existentes<br />

entre o conceito <strong>de</strong> transação utilizado na TCT e o <strong>de</strong>finido por Commons, a qu<strong>em</strong><br />

Williamson atribui sua herança institucionalista; ii) o uso da eficiência como<br />

racionalização do status quo, e a <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração do uso do po<strong>de</strong>r num ambiente<br />

competitivo e seus efeitos no processo seletivo; iii) a análise estática que ignora tanto os<br />

feed-backs institucionais quanto interações mais complexas dos agentes econômicos com<br />

outras instituições do capitalismo que não mercados e firmas; iv) a insuficiência do<br />

oportunismo na <strong>de</strong>scrição do comportamento humano, b<strong>em</strong> como inconsistências internas<br />

<strong>em</strong> seu uso na TCT; e v) a incompatibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se manter o conceito <strong>de</strong> racionalida<strong>de</strong><br />

limitada e qualquer princípio <strong>de</strong> otimização.<br />

4.3.1 Herança corrompida? O conceito <strong>de</strong> transação <strong>em</strong> Williamson e <strong>em</strong> Commons<br />

(1986).<br />

157<br />

Como sugerido por COLANDER (1996, p. 435-6), MACHLUP (1967, p. 3), JACOBY<br />

(1990, p. 318), e ainda SAMUELS (1995, p. 571).<br />

158<br />

Procurar<strong>em</strong>os dar atenção ao argumento apresentado por RAMSTAD (1996, p. 413):<br />

"scholars rooted in the "old" institutional economics have watched with great interest, and perhaps<br />

some envy as well, as the "new" institutional economics has taken root within the economics<br />

profession and gained legitimacy" (grifo nosso). Não é nosso foco levantar discussões motivadas<br />

por "rivalida<strong>de</strong> invejosa" entre old e new institucionalistas, e assim tentar<strong>em</strong>os ser seletivos nesse<br />

aspecto do <strong>de</strong>bate.<br />

159<br />

O que fica claro <strong>em</strong> RAMSTAD (1996, p. 423) ao consi<strong>de</strong>rar "The Economic Institutions<br />

of Capitalism" uma importante contribuição à "neoclassical institutional economics", e também <strong>em</strong><br />

DUGGER (1995, p. 455) ao tratar principalmente as obras <strong>de</strong> Douglass C. North como uma<br />

"neoclassical theory of institutional change", mas também "The Mechanisms of Governance" como<br />

"neoclassical economics at its very best" (DUGGER, 1996b, p. 1216). Vi<strong>de</strong> também<br />

GROENEWEGEN e VROMEN (1996, p. 367) comentando o artigo <strong>de</strong> William DUGGER, "The<br />

Transaction Cost Analysis of Oliver E. Williamson: a new synthesis?", publicado no Journal of<br />

Economic Issues, volume 17, p. 95-114, 1983. Para uma visão diferente, vi<strong>de</strong> EGGERTSSON<br />

(1990).<br />

88


A primeira das críticas que reunimos é bastante particular. Ela v<strong>em</strong> do fato <strong>de</strong> uma<br />

das mais vistosas idéias da TCT, a utilização da transação como unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> análise, ser<br />

atribuída por Williamson a John R. Commons - <strong>em</strong>inente pensador social da primeira<br />

meta<strong>de</strong> do século e consi<strong>de</strong>rado um dos pais da OIE. 160 No entanto, tal i<strong>de</strong>ntificação é<br />

contestada ve<strong>em</strong>ent<strong>em</strong>ente por autores ligados àquela escola.<br />

O conceito <strong>de</strong> transação <strong>de</strong> Commons envolve a transferência <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong><br />

todos os direitos nela incorporados, sendo diferente do conceito <strong>de</strong> troca, que é a<br />

transferência física ou <strong>de</strong> posse. Williamson adota um conceito "tecnológico", interpretado<br />

como a passag<strong>em</strong>, com atritos, entre interfaces separáveis <strong>de</strong> produção, sendo melhor<br />

i<strong>de</strong>ntificado com a última conceituação. Tal diferença é evi<strong>de</strong>nciada por RAMSTAD<br />

(1994a, p. 330-4, e 1996, p. 415) ao argumentar sobre a ausência <strong>de</strong> similarida<strong>de</strong> ou a<br />

incompatibilida<strong>de</strong> entre os conceitos, o que <strong>de</strong> uma forma tornaria ilegítima a alegada<br />

herança institucionalista das idéias <strong>de</strong> Williamson, e <strong>de</strong> outra mostraria uma redução<br />

danosa à teoria econômica. Isso porque gran<strong>de</strong> parte das transferências <strong>de</strong> bens ou serviços<br />

<strong>de</strong> uma economia capitalista envolve não passagens por estágios tecnologicamente<br />

distintos, mas "meramente" pessoas ou agentes diferentes s<strong>em</strong> que haja qualquer mudança<br />

do objeto <strong>em</strong> questão. Ou seja, é uma transferência dos direitos <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> - cujas<br />

características são <strong>de</strong>finidas, <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> parte e <strong>de</strong> um modo geral, <strong>em</strong> outra instância que<br />

não a própria troca.<br />

Em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> tal visão, COMMONS (1934, como apresentado por<br />

RAMSTAD, 1994a, p. 332-3, e 1996, p. 415) no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sua análise,<br />

i<strong>de</strong>ntificou três tipos distintos <strong>de</strong> transações: "the bargaining transaction in which<br />

ownership is transferred by voluntary agre<strong>em</strong>ent between legal equals; the managerial<br />

transaction through which wealth is created by commands of legal superiors; and rationing<br />

transaction through which the bur<strong>de</strong>ns and benefits of wealth creation are apportioned by<br />

160 Além, obviamente, do reconhecimento da importância das instituições para a instância<br />

econômica, a ligação com Commons parece ser verda<strong>de</strong>iramente a única relação genealógica entre<br />

a OIE e a NEI, como sugere AZEVEDO (1996, p. 1, nr. 1), a <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> alegações <strong>de</strong> um vínculo<br />

mais amplo.<br />

89


the dictation of legal superiors" (grifos no original). 161 Com base <strong>em</strong> MCCLINTOCK<br />

(1987, p. 674-5), po<strong>de</strong>mos explicar melhor tais distinções:<br />

1) a primeira <strong>de</strong>las, a transação <strong>de</strong> barganha, <strong>em</strong> sua forma mais simples, envolve a<br />

transferência dos direitos <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> sobre bens escassos entre participantes iguais<br />

perante à lei (mas não necessariamente iguais <strong>em</strong> termos econômicos) num mercado,<br />

on<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve haver no mínimo cinco agentes: dois ofertantes e dois <strong>de</strong>mandantes,<br />

caracterizando um ambiente competitivo, e um participante "soberano" capaz <strong>de</strong><br />

resolver qualquer disputa através do processo legal;<br />

2) a transação administrativa ou gerencial envolve a promoção da eficiência tecnológica e<br />

a geração <strong>de</strong> riquezas nos processos produtivos; é característica das relações <strong>de</strong><br />

trabalho, através das relações legalizadas entre superiores e inferiores na coor<strong>de</strong>nação<br />

dos recursos aplicados na produção;<br />

3) a terceira, transação <strong>de</strong> racionamento, envolve a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> superiores legais sobre a<br />

divisão dos custos e benefícios da reprodução social (going concern) entre os inferiores<br />

legais; ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> tal transação estão na existência e atuação <strong>de</strong> conselhos<br />

administrativos ou conselhos diretores nas firmas, <strong>de</strong> sindicatos <strong>de</strong> trabalhadores, do<br />

sist<strong>em</strong>a judiciário, das legislaturas, <strong>de</strong>ntre outros. Essa transação é realizada com o<br />

exercício da soberania - <strong>de</strong>finida como "collective action that <strong>de</strong>fines rights, resolves<br />

disputes and monitors performance" (DUGGER, 1993, p.189).<br />

Isso significa que <strong>em</strong> função do arranjo coletivo <strong>de</strong>senvolvido ou obtido <strong>em</strong> uma socieda<strong>de</strong><br />

ou <strong>em</strong> um grupo <strong>de</strong> indivíduos e do espectro <strong>de</strong> soberania daí configurado <strong>de</strong>corr<strong>em</strong> as<br />

transações <strong>em</strong> suas três categorias. Ou seja, mesmo os mercados - como instituições<br />

erigidas pela ação humana coletiva - funcionam <strong>de</strong> acordo com os princípios <strong>de</strong> direitos <strong>de</strong><br />

proprieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong> conflitos e com os quesitos <strong>de</strong> performance ou execução<br />

<strong>de</strong>lineados pelo exercício da soberania.<br />

161 É interessante observar que a última seção do artigo <strong>de</strong> RAMSTAD (1996, p. 422) é<br />

intitulada "Conclusion: a Transaction is not a Transaction", on<strong>de</strong> as frases que o encerram são: "It<br />

must be un<strong>de</strong>rstood [...] that it is not eclecticism when an exponent of the OIE <strong>em</strong>ploys the<br />

transaction cost framework to analyze or evaluate the governance of contractual arrang<strong>em</strong>ents. It is<br />

more akin to apostasy".<br />

90


Embora analiticamente Commons fizesse tal distinção, as três formas <strong>de</strong> transação<br />

são, na verda<strong>de</strong>, inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes entre si no cotidiano das relações sociais. Isso implica<br />

uma análise do sist<strong>em</strong>a econômico <strong>de</strong>ntro do contexto social, com o qual aquele interage<br />

permanent<strong>em</strong>ente como uma das partes constituintes. A forma mais comum <strong>de</strong> visualizar-<br />

mos tal interação no capitalismo, segundo COMMONS (1950, p. 56-7), é observando que<br />

as rationing transactions, on<strong>de</strong> são <strong>de</strong>finidos benefícios e obrigações <strong>de</strong> cada nível hierár-<br />

quico <strong>de</strong> agentes envolvidos na produção e distribuição <strong>de</strong> riquezas, são acertadas <strong>em</strong> e.g.<br />

uma reunião <strong>de</strong> diretores <strong>de</strong> uma firma, s<strong>em</strong> qualquer consulta para consentimento indivi-<br />

dual dos tais agentes ou, <strong>de</strong> modo geral, s<strong>em</strong> barganha com subordinados. A execução das<br />

tarefas <strong>de</strong>finidas para cada respectivo nível hierárquico é conduzida através das<br />

managerial transactions, enquanto as transações <strong>de</strong> barganha <strong>de</strong> cada indivíduo po<strong>de</strong>rão se<br />

realizar <strong>em</strong> acordo com o que fôra <strong>de</strong>terminado na primeira das etapas por superiores<br />

legais. Obtendo-se com a produção a riqueza esperada, as bargaining transactions<br />

pertinentes a cada indivíduo serão realizadas a partir do respectivo po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> barganha<br />

obtido <strong>em</strong> <strong>de</strong>corrência da posição ocupada nos arranjos das transações <strong>de</strong> racionamento e<br />

gerência - portanto, entre economicamente <strong>de</strong>siguais, <strong>em</strong>bora legalmente iguais. Esse<br />

processo é, na verda<strong>de</strong>, uma forma <strong>de</strong> ação coletiva à qual se submet<strong>em</strong> os indivíduos <strong>de</strong><br />

uma socieda<strong>de</strong> capitalista (e que serve para o controle das próprias ações individuais)<br />

tornando-se por fim uma hierarquia <strong>de</strong> ações coletivas exercendo controle sobre todas as<br />

três formas <strong>de</strong> transações.<br />

Assim, o conceito williamsoniano po<strong>de</strong> almejar apenas ser parte do conceito<br />

elaborado por Commons, já que parece reduzir todas as situações às bargaining<br />

transactions. 162 Para COMMONS (i<strong>de</strong>m, p. 53), tais transações <strong>de</strong> barganha po<strong>de</strong>m se dar<br />

na forma imediata <strong>de</strong> performance e pagamento das tarefas pactuadas, como é<br />

predominante nos mercados (vi<strong>de</strong> nossa nota <strong>de</strong> rodapé 61), mas também <strong>em</strong> curto ou<br />

162 Embora RUTHERFORD (1996, p. 127) consi<strong>de</strong>re promissora a atenção dada por<br />

Williamson à substituição dos mercados por hierarquias como se pu<strong>de</strong>sse correspon<strong>de</strong>r à substituição<br />

<strong>de</strong> bargaining transactions por managerial transaction. É particularmente interessante notar a<br />

insistência por parte <strong>de</strong> vários autores da OIE <strong>em</strong> realçar as diferenças teóricas para com a TCT, o<br />

que talvez se dê, pelo menos <strong>em</strong> parte, <strong>em</strong> função do componente "rivalida<strong>de</strong> invejosa" insinuado<br />

por Ramstad (vi<strong>de</strong> nossa nota <strong>de</strong> rodapé 160). No entanto, a própria distinção entre mercados e<br />

hierarquias por Williamson - insistindo no <strong>em</strong>prego do fiat <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>stas - evi<strong>de</strong>ncia o exercício do<br />

comando entre agentes para a produção <strong>de</strong> riquezas, o que <strong>de</strong> alguma maneira é bastante compatível<br />

com as managerial transactions <strong>de</strong>scritas por Commons.<br />

91


longo prazo, abrangendo ao menos no t<strong>em</strong>po e na natureza das obrigações contratuais o<br />

espectro das transações dimensionado por Williamson. Quando <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a transação como<br />

unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> análise econômica, COMMONS (i<strong>de</strong>m, p. 52 - grifo no original) não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong><br />

ambientá-la na interação entre as três formas que fez distintas:<br />

Thus the unit of investigation in economics is not an individual, it is a transaction<br />

involving, in this bargaining transaction, five individuals. This complicated<br />

transaction is short-circuited by economists and laymen who call it an 'exchange'.<br />

The difference is between individualistic economics and institutional economics,<br />

and between static economics and dynamic economics. The individual is important<br />

enough, but economic science investigates what he is confronted with and what he<br />

does in getting a living and getting rich by transfers of ownership. He is confronted<br />

by sovereignty which does the creating and transferring of ownerships. Sovereignty<br />

imposes the duties of avoidance and forbearance which create ownership, and the<br />

duties of performance and payment which transfer ownerships. The individual is<br />

confronted by competitors who are trying to take from him his living or riches by<br />

fair or unfair methods. He is confronted by discriminations which may unfairly<br />

<strong>de</strong>prive him of equal opportunity with others in getting a living or getting rich. He<br />

is confronted by the bargaining power of others compared with his own bargaining<br />

power. He is tied into an expected repetition of transactions within which he must<br />

find as much liberty and property as he can.<br />

4.3.2 Eficiência <strong>em</strong> socorro à ortodoxia, po<strong>de</strong>r, competição e processo seletivo<br />

Outras contun<strong>de</strong>ntes críticas oriundas da OIE se dirig<strong>em</strong>, como já observado nas<br />

correntes não ortodoxas do pensamento econômico anteriormente apresentadas, à ausência<br />

<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rações sobre o po<strong>de</strong>r. 163 De acordo com Edythe MILLER (1993, p. 1044), a<br />

construção da TCT parece evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente vir socorrer a ortodoxia na explicação da<br />

concentração <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, ou melhor, na conglomeração ou integração vertical, já que o uso<br />

dos mercados era s<strong>em</strong>pre consi<strong>de</strong>rado o melhor dos mundos (<strong>em</strong>bora não existisse). Muito<br />

<strong>em</strong>bora WILLIAMSON (1983, p. 529, e 1995a, p. 32-3) admita a existência e certa<br />

relevância do po<strong>de</strong>r nas transações econômicas, argumenta ser um conceito difuso e<br />

vagamente <strong>de</strong>finido, sendo geralmente usado numa racionalização ex post. Ou seja, não é<br />

possível utilizá-lo analiticamente ou encontrar as dimensões <strong>de</strong>terminantes dos diferenciais<br />

92


<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r nas transações. Miller, no entanto, sugere ser essa admissão uma mera<br />

acomodação, pois retira a influência do po<strong>de</strong>r como objeto almejado e instrumento <strong>de</strong><br />

atuação nas relações econômicas, e na verda<strong>de</strong> justifica a concentração <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r apenas<br />

com critérios <strong>de</strong> eficiência (ou minimização dos custos <strong>de</strong> transação): "Transaction cost<br />

analysis is, as is orthodoxy generally, a <strong>de</strong>fense of the status quo and a rationalization of<br />

existing conglomerate activity. The thrust of the argument is that the status quo is, on its<br />

face, both acceptable and <strong>de</strong>sirable - that what is, is, after all, what should be. The positive<br />

and the normative are equated" (MILLER, 1993, p. 1044). 164<br />

Pelo aspecto hierárquico do po<strong>de</strong>r, HODGSON (1993b, p. 90) ainda comenta sobre<br />

os efeitos <strong>de</strong> diferentes "atmosferas" institucionais: a firma, ao ser capaz <strong>de</strong> engendrar, por<br />

ex<strong>em</strong>plo, lealda<strong>de</strong> e confiança nos agentes, exerce alguma forma <strong>de</strong> convencimento à ação<br />

(e.g. coletiva) que ultrapassa qualquer tipo <strong>de</strong> recompensa ou incentivo (monetário) ou que<br />

permite ir além das cláusulas contratuais negociadas. Nas suas palavras (ibid.): "The firm,<br />

by engen<strong>de</strong>ring loyalty and trust to some <strong>de</strong>gree, encourages people to act differently. By<br />

trust or compulsion, that is by the use of social power, the managers of the firm may<br />

succeed in imposing their will on the <strong>em</strong>ployees. Without this ability to generate more<br />

cohesive and less atomistic behaviour the firm would not be able to function." 165<br />

163 Sendo o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>finido, <strong>de</strong> forma s<strong>em</strong>elhante a PITELIS (1993a, citado na seção<br />

anterior), por Philip KLEIN (1987, p. 1341) como "the ability to influence <strong>de</strong>cisionmaking".<br />

164 A crítica é corroborada por DOW (1987, p. 34), para qu<strong>em</strong> a pressuposição <strong>de</strong> sinonímia<br />

entre existência e eficiência é estritamente funcionalista, ou seja, serve para adaptar o método ou a<br />

teoria a um propósito particular diante <strong>de</strong> fenômenos reais: "it is essential that functionalist<br />

pr<strong>em</strong>ises be used only as a heuristic gui<strong>de</strong> to the generation of <strong>em</strong>pirical hypotheses, and not as a<br />

tautological rationalization for the status quo."<br />

165 Para uma visão diferente, vi<strong>de</strong> TURVANI (1996, p. 203). Em sua interpretação <strong>de</strong><br />

KNIGHT (1921 - ou seja, o alvo principal das críticas <strong>de</strong> COASE, 1937), a autora <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a distinção<br />

dos conceitos <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> e po<strong>de</strong>r: a autorida<strong>de</strong> é estabelecida com base na eficiência e está<br />

incorporada nas pessoas que conviv<strong>em</strong>, <strong>em</strong> maior ou menor intensida<strong>de</strong>, com as organizações burocráticas<br />

mo<strong>de</strong>rnas - idéia que r<strong>em</strong>ete a Weber -, <strong>em</strong>bora necessite s<strong>em</strong>pre alguma forma <strong>de</strong> legitimação<br />

(mesmo que através do carisma); o po<strong>de</strong>r, por conseguinte, po<strong>de</strong> estar presente nas relações<br />

entre os mesmos agentes, mas s<strong>em</strong> o suporte da eficiência ou da racionalida<strong>de</strong> burocrática à qual se<br />

credita alguma forma <strong>de</strong> eficácia. Interessante é notar que tal interpretação <strong>de</strong> Knight serve bastante<br />

aos propósitos <strong>de</strong> Williamson <strong>em</strong> combinar seu conceito <strong>de</strong> hierarquia com algo s<strong>em</strong>elhante à<br />

"autorida<strong>de</strong>" e sua racionalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> eficiência, justificando a ausência <strong>de</strong> qualquer consi<strong>de</strong>ração<br />

sobre relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. Em contraste, FOURIE (1993, p. 63) afirma que o po<strong>de</strong>r (inclusive o <strong>de</strong><br />

coerção física, cabível legalmente ao estado) é uma das fontes <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>, especialmente da<br />

existente nas firmas.<br />

93


Talvez por isso seja importante para a TCT repensar as pr<strong>em</strong>issas do fiat, que é<br />

usado por Williamson justamente para rebater as críticas da corrente do "nexo <strong>de</strong> contra-<br />

tos" (notoriamente Alchian e D<strong>em</strong>setz, como será discutido <strong>em</strong> nossa seção 4.4), mas que<br />

parece ainda <strong>de</strong>ixá-lo na esfera estritamente neoclássica dos indivíduos com liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

escolha <strong>em</strong> qualquer situação (vi<strong>de</strong> discussão apresentada <strong>em</strong> nossa nota <strong>de</strong> rodapé 43). 166<br />

As conseqüências são refletidas num mo<strong>de</strong>lo teórico <strong>em</strong> que a eficiência sobrepuja,<br />

prece<strong>de</strong> ou simplesmente não atenta para a eqüida<strong>de</strong> (tão recorrente no mundo da<br />

concorrência perfeita), e on<strong>de</strong> a distribuição e o uso (e abuso) do po<strong>de</strong>r privado são<br />

ignorados (MILLER, 1993, p. 1049-50). Além disso, o mo<strong>de</strong>lo acaba ignorando ainda<br />

outras variáveis relevantes construídas institucionalmente (institutionalized myth), como<br />

por ex<strong>em</strong>plo o comportamento mimético 167 dos agentes e/ou das organizações <strong>em</strong> resposta<br />

à incerteza, mais baseado na ansieda<strong>de</strong> ou medo <strong>de</strong> um processo seletivo que aja <strong>em</strong> favor<br />

da nova forma (quer reduza ou não os custos <strong>de</strong> transação) que na ótica racional da busca<br />

da eficiência (SELZNICK, 1996, p. 273). 168<br />

166 Clau<strong>de</strong> Ménard, um dos economistas da NEI mais preocupados <strong>em</strong> lapidar a conceituação<br />

da TCT, tenta distinguir autorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hierarquia s<strong>em</strong> aludir ao po<strong>de</strong>r (MÉNARD, 1996a, p. 155-<br />

7). Para ele, a autorida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> existir <strong>em</strong> diferentes arranjos institucionais, formais ou informais, a<br />

partir do que chama "influência" (legitimada pelas capacitações do indivíduo e sua situação numa<br />

re<strong>de</strong> <strong>de</strong> relações). Já a hierarquia é específica das organizações formais, sendo i<strong>de</strong>ntificada pela<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> usar o comando como instrumento <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação, legitimada por alguma regra do<br />

ambiente institucional que garanta um status formal a qu<strong>em</strong> exerça. A distinção <strong>de</strong> Ménard, no<br />

entanto, não cria nenhuma categoria distinta das que os críticos da TCT mais afastados da<br />

ortodoxia neoclássica continuariam chamando <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, e por isso parece servir "apenas" para<br />

rebater os argumentos da abordag<strong>em</strong> do "nexo <strong>de</strong> contratos", como será discutido <strong>em</strong> nossa seção<br />

4.4. Embora essa pareça ser a única intenção <strong>de</strong> MÉNARD (i<strong>de</strong>m, p. 157) e, por isso, sua<br />

argumentação não mereça críticas <strong>em</strong> si, po<strong>de</strong> estar evi<strong>de</strong>nciando o <strong>de</strong>sinteresse da NEI <strong>em</strong><br />

operacionalizar o po<strong>de</strong>r, como comentado anteriormente <strong>em</strong> nossa seção 4.2.<br />

167 Ou mesmo motivado por <strong>em</strong>ulação organizacional, cf. BURLAMAQUI (1995, p. 52),<br />

sendo tais formas <strong>de</strong> comportamento aparent<strong>em</strong>ente <strong>de</strong>correntes do que KEYNES (1982, cap. 12)<br />

chamou <strong>de</strong> "psicologia coletiva" ou "<strong>de</strong> massa", por sua vez <strong>de</strong>corrente da incerteza e das<br />

racionalida<strong>de</strong>s limitadas <strong>de</strong> "indivíduos ignorantes", que utilizam tal recurso por enten<strong>de</strong>r que "A<br />

sabedoria universal indica ser melhor para a reputação fracassar junto com o mercado do que<br />

vencer contra ele" (i<strong>de</strong>m, p. 130). E tal comportamento "does not always result from full, conscious<br />

choice, as all animal species are born with some capacity to imitate" (HODGSON, 1988, p. 127). O<br />

próprio HODGSON (1993b, p. 92-93) dá ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> historiadores que encontram muitos paralelos<br />

entre a hierarquização das estruturas militares do século XVII e a hierarquização organizacional<br />

estabelecida nas origens do sist<strong>em</strong>a fabril, como uma mistura <strong>de</strong> path <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncy, context<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncy e, claramente <strong>em</strong> nossa opinião, <strong>de</strong> mimêsis - muito <strong>em</strong>bora entre instituições com<br />

naturezas e propósitos significativamente distintos.<br />

168 Entretanto, SELZNICK (1996, p. 274) vê com bons olhos a adoção do conceito <strong>de</strong> racionalida<strong>de</strong><br />

limitada e as consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> incerteza pela NEI na medida <strong>em</strong> que po<strong>de</strong>m permitir a<br />

94


Para a TCT, nos chamados mercados internos <strong>de</strong> trabalho (internal labor markets),<br />

criados a partir da especificida<strong>de</strong> do capital humano <strong>de</strong>ntro da firma, <strong>de</strong>ve haver entre<br />

<strong>em</strong>pregador e <strong>em</strong>pregados o estabelecimento <strong>de</strong> um contrato que vise a eficiência na<br />

redução dos custos ex ante e ex post <strong>de</strong> transação (<strong>em</strong> qualquer <strong>de</strong> seus componentes).<br />

Segundo Sanford JACOBY (1990, p. 328), isso resulta num conjunto <strong>de</strong> adaptações às<br />

forças que promov<strong>em</strong> a eficiência alocativa ou transacional, mas também numa<br />

contrapartida eficiente do <strong>em</strong>pregador <strong>em</strong> conce<strong>de</strong>r os incentivos pactuados, que são<br />

formados e <strong>de</strong>sejados pelos <strong>em</strong>pregados <strong>de</strong> acordo com especificida<strong>de</strong>s sociais e históricas.<br />

Se tais condições não for<strong>em</strong> satisfeitas, então não se chega a um contrato eficiente (nos<br />

termos <strong>de</strong> Pareto - como também evi<strong>de</strong>nciou Dietrich na seção anterior), e po<strong>de</strong>mos estar<br />

diante do exercício unilateral do po<strong>de</strong>r. Para Jacoby, casos comuns <strong>de</strong> uso do po<strong>de</strong>r surg<strong>em</strong><br />

através, por ex<strong>em</strong>plo, da ação coletiva <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregadores <strong>em</strong> ser<strong>em</strong> indolentes na revisão<br />

dos incentivos, ou mesmo da ação coletiva <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregados (e.g. sindicalismo) <strong>em</strong> exigi-los,<br />

acelerando ou brecando um processo <strong>de</strong> mudança institucional - que n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre ruma à<br />

eficiência e que po<strong>de</strong> contar com o suporte <strong>de</strong> governos e sist<strong>em</strong>as legais (na formulação<br />

das rationing transactions, por ex<strong>em</strong>plo).<br />

Ainda sobre esse ponto, v<strong>em</strong>os <strong>em</strong> DUGGER (1996a, p. 431-2) uma interpretação<br />

interessante do probl<strong>em</strong>a, numa perspectiva holística que tenta envolver as peculiarida<strong>de</strong>s<br />

"motivacionais" do trabalho <strong>de</strong> Williamson:<br />

Both Commons and Williamson worked for the outsi<strong>de</strong>r. However, the outsi<strong>de</strong>r<br />

Commons worked for was virtually powerless (the labor mov<strong>em</strong>ent) while the<br />

outsi<strong>de</strong>r Williamson works for is far from powerless (the giant conglomerate). With<br />

his 'clients' having little, Commons <strong>de</strong>alt explicitly with power in his formulations;<br />

with his 'clients' having much, Williamson does not. The thrust of each is<br />

fundamentally different. While Commons was trying to extend state sovereignty to<br />

análise da interação dos indivíduos <strong>de</strong>ntro das organizações a partir da "construção social" <strong>de</strong> suas<br />

mentes, ou na interação <strong>de</strong> diferentes padrões <strong>de</strong> percepção e avaliação na elaboração <strong>de</strong> e.g.<br />

rotinas (on<strong>de</strong> duas racionalida<strong>de</strong>s limitadas, formadas culturalmente, po<strong>de</strong>m ser melhores do que<br />

uma no esforço <strong>de</strong> configurar instituições. Veja também JACOBY, 1990, p. 336, para uma visão<br />

otimista <strong>de</strong> conciliação entre as diferentes visões "institucionalistas", a partir do mesmo ex<strong>em</strong>plo).<br />

Embora RAMSTAD (1996, cf. nossa nota <strong>de</strong> rodapé 163) consi<strong>de</strong>re apostasia, os sinais <strong>de</strong> simpatia<br />

ocasionalmente <strong>em</strong>ergentes entre old e new institucionalistas são consi<strong>de</strong>rados muito b<strong>em</strong>-vindos<br />

por Warren J. SAMUELS (1995, p. 578-9), um reconhecido contribuinte da OIE; <strong>em</strong> suas próprias<br />

palavras (i<strong>de</strong>m, p. 570, continuação <strong>de</strong> sua nota <strong>de</strong> rodapé 2): "I should <strong>de</strong>fend my assertion that<br />

institutional and neoclassical economics are suppl<strong>em</strong>entary, notwithstanding their different<br />

methodological and philosophical foundations and practices".<br />

95


protect the transactions of the powerless, Williamson is trying to shrink state<br />

sovereignty to protect the transactions of the powerful.<br />

A expansão das gran<strong>de</strong>s corporações, justificada por critérios <strong>de</strong> eficiência por<br />

Williamson, parece correspon<strong>de</strong>r, para DUGGER (1996b), à edificação <strong>de</strong> estruturas <strong>de</strong><br />

gestão que na verda<strong>de</strong> se confun<strong>de</strong>m com o que chama <strong>de</strong> quase-estados (ou estados-<br />

corporação), on<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> trabalhadores passam boa parte <strong>de</strong> suas vidas agindo<br />

<strong>em</strong> consonância com as rotinas <strong>de</strong> execução e com o próprio fiat. Ou seja, sujeitos às<br />

<strong>de</strong>cisões internas à firma sobre recompensas e atribuições, sobre resolução <strong>de</strong> disputas e<br />

sob monitoramento <strong>de</strong> sua performance <strong>de</strong> acordo com critérios próprios à firma.<br />

A partir do conceito <strong>de</strong> estado <strong>de</strong> Weber como uma comunida<strong>de</strong> que clama com<br />

sucesso o monopólio do uso legítimo da força física <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um certo território,<br />

DUGGER (1993, p. 190) constrói uma nova <strong>de</strong>finição, que faz jus à sua interpretação do<br />

capitalismo e do comportamento econômico nas socieda<strong>de</strong>s no século XX:<br />

In economics, particularly transaction cost economics, this [Weber's] <strong>de</strong>finition is<br />

unduly narrow. It exclu<strong>de</strong>s the fact that firms frequently act like states, not in the<br />

exercise of violence but in the exercise of sovereignty none the less. Individual<br />

entrepreneurs exercise little sovereignty in their own small firms. But large<br />

corporations, particularly multinational ones, can become so powerful that they do<br />

exercise power that rivals the sovereignty of the traditional state. [...] For the<br />

purpose of explaining economic behaviour, the state is best <strong>de</strong>fined as an agent that<br />

exercises sovereignty.<br />

Po<strong>de</strong>-se observar constante competição, cooperação e ludíbrio na corrida por<br />

posições entre os próprios estados-corporação (e entre estes e os estados-nação) e, <strong>de</strong>ssa<br />

forma, critérios <strong>de</strong> eficiência tornam-se el<strong>em</strong>entos secundários na análise da mo<strong>de</strong>rna<br />

corporação. A abordag<strong>em</strong> da TCT, por isso (DUGGER, 1993, p. 1216):<br />

[...] is relevant to the issues and probl<strong>em</strong>s of our time, for the corporation has<br />

become powerful enough to rival the state itself. [...] This makes Williamson highly<br />

relevant, but not for the reasons he would wish. He is relevant not for helping us to<br />

un<strong>de</strong>rstand the inherent efficiency of corporate hierarchy, but for helping us to<br />

un<strong>de</strong>rstand the growing power of corporate government, as the corporation evolves<br />

into the corporate-state.<br />

96


Janet KNOEDLER (1995) constrói, sobre os argumentos <strong>de</strong> Thorstein Veblen, uma<br />

crítica centrada na "simplicida<strong>de</strong>" do conceito e do objetivo das transações utilizados na<br />

TCT por Williamson. Para KNOEDLER (i<strong>de</strong>m, p. 388), os objetivos das transações <strong>em</strong><br />

Veblen (que partilham do conceito <strong>de</strong> Commons, já referido há pouco) são mais realistas, e<br />

não se resum<strong>em</strong> à coor<strong>de</strong>nar a produção por critérios <strong>de</strong> otimização <strong>em</strong> eficiência, <strong>em</strong>bora<br />

não sejam eles completamente irrelevantes: "In Veblen's view, business persons may seek<br />

not only to coordinate production, but at times to disturb it." 169 Os objetivos das firmas não<br />

estão confinados aos ganhos realizáveis com maior eficiência na produção e/ou sua<br />

coor<strong>de</strong>nação, mas resi<strong>de</strong>m sim num espectro b<strong>em</strong> mais amplo que é o <strong>de</strong> ganhos<br />

pecuniários, quer envolvam diretamente ou não a produção (e os critérios <strong>de</strong> eficiência<br />

para realizá-la a mais baixos custos), uma vez reconhecida a natureza monetária da<br />

economia capitalista. 170 Se as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> tais ganhos se dão num ambiente <strong>de</strong><br />

competição, é preciso observar que as firmas não <strong>de</strong>cidirão sobre a integração ou não <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s apenas com base <strong>em</strong> informações <strong>de</strong> seus custos e <strong>em</strong> um dado momento do<br />

t<strong>em</strong>po. Deverão sim agir estrategicamente para obter ganhos pecuniários colocando-se à<br />

frente <strong>de</strong> seus rivais e procurando sustentar-se <strong>em</strong> tal posição, ou se possível (ou necessá-<br />

rio) colocando-os <strong>em</strong> situações "insolventes ou insalubres", ou mesmo "sabotando" a<br />

eficiência industrial, consi<strong>de</strong>rando s<strong>em</strong>pre as transações futuras, uma vez cientes <strong>de</strong> que<br />

processos <strong>de</strong> seleção "artificial" são possíveis. Seguindo o argumento <strong>de</strong> KNOEDLER<br />

(i<strong>de</strong>m, p. 388-9 - grifo e acréscimos entre parênteses no original), t<strong>em</strong>os:<br />

Given Veblen's insight, it is by no means obvious that consolidation [integração]<br />

will simply eliminate costly transactions; in fact, Veblen argued that, quite often,<br />

consolidation was aimed at obtaining only t<strong>em</strong>porary control of a given block of<br />

industrial plant - [...] that have strategic importance - 'as a basis for further<br />

transactions out of which gain is expected' (Veblen, 1932, p. 21). Consolidation, in<br />

such cases, does not reduce transaction costs nor do these transactions tend toward<br />

more effective coordination. Being both 'transient and factitious', the purpose is 'not<br />

to (maintain) the permanent efficiency of the industrial equipment, but to<br />

169 Isso também é l<strong>em</strong>brado por RUTHERFORD (1996, p. 107): "Veblen's view of the firm<br />

as a <strong>de</strong>vice for the manipulation of markets, does not, however, imply that businessmen are not<br />

interested in minimizing the cost of production of the output they do produce, or in the efficient<br />

manag<strong>em</strong>ent of the industrial plant".<br />

170 A propósito, uma pergunta muito breve me foi feita por Giuseppe Fontana, economista do<br />

grupo <strong>de</strong> estudos pós-keynesianos da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Leeds, para a qual a resposta foi o silêncio:<br />

"Where is money in transaction costs theory?"<br />

97


(influence) the tone of the market for the time being, the apprehensions of other<br />

large operators, or the transient faith of investors' (Veblen, 1932, p. 21). [...]<br />

Competition for Veblen was a process where firms used not only coordinating and<br />

economizing, but any and all strategies available to put their rivals at a<br />

disadvantage.<br />

Ainda mais, o processo contínuo <strong>de</strong> competição acaba envolvendo muito mais<br />

disputas do que po<strong>de</strong> ser aparente apenas nas relações entre agente e principal e nas situa-<br />

ções <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão entre fazer ou comprar, tornando-se mais complexo quando são levados<br />

<strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração agentes econômicos egoístas, oportunistas e com racionalida<strong>de</strong> limitada,<br />

como na TCT. Isso porque segundo DUGGER (1993, p. 197) raras são as transações reali-<br />

zadas instantaneamente. Na verda<strong>de</strong>, a gran<strong>de</strong> maioria das transações se dão <strong>de</strong> forma<br />

seqüencial com eventos e performances separadas no t<strong>em</strong>po, trazendo os riscos <strong>de</strong> má ou<br />

não execução e a incerteza entre as etapas. Nas palavras <strong>de</strong> DUGGER (i<strong>de</strong>m): "Most<br />

transactions begin with the buyer first paying the seller. Then, the seller <strong>de</strong>livers the<br />

commodity to the buyer. So, most transactions involve a first mover and a second<br />

mover.The second mover acquires an advantage over the first mover and can impose costs<br />

on the first mover, particularly if we assume self interest with guile and boun<strong>de</strong>d<br />

rationality". Vistas assim, as vantagens do "segundo movimento" são ubíquas: vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

as simples transações <strong>em</strong> que consumidores pagam previamente (dias ou minutos) por<br />

produtos ou serviços, passam pelas transações <strong>em</strong>pregatícias <strong>em</strong> que salários são recebidos<br />

após a s<strong>em</strong>ana ou o mês <strong>de</strong> trabalho ou <strong>em</strong> que as condições <strong>de</strong> trabalho, <strong>de</strong> segurida<strong>de</strong>, ou<br />

outras só são conhecidas após algum t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego, e chegam às transações<br />

financeiras, tanto envolvendo a aplicação <strong>de</strong> fundos corporativos diante da separação entre<br />

proprieda<strong>de</strong> e controle como nas negociações <strong>de</strong> ações e títulos cujas performances<br />

simplesmente não po<strong>de</strong>m ser garantidas. 171 Em <strong>de</strong>corrência, ubíquos são também os custos<br />

<strong>de</strong> transação, mesmo nas mais simples transações <strong>de</strong> mercado, fato que ainda não recebe a<br />

<strong>de</strong>vida atenção nas pesquisas e na literatura da área. 172<br />

171<br />

Um tratamento <strong>de</strong>talhado <strong>de</strong> cada caso é feito por DUGGER (1993, p. 198-202).<br />

172<br />

A questão da ubiqüida<strong>de</strong> dos <strong>de</strong>terminantes dos custos <strong>de</strong> transação (e seu tratamento<br />

<strong>de</strong>ntro da TCT) é discutível, como levantada por Noor<strong>de</strong>rhaven (para o oportunismo, <strong>em</strong> nossa<br />

seção 4.1), N. Foss (para a racionalida<strong>de</strong> limitada, <strong>em</strong> nossa seção 4.1), Dietrich (também para o<br />

oportunismo, <strong>em</strong> nossa seção 4.2), e Moschandreas (para o oportunismo, mais à frente nesta seção).<br />

98


Desse modo, os aspectos <strong>de</strong> inter<strong>de</strong>pendência entre os agentes (<strong>de</strong> certa forma<br />

consi<strong>de</strong>rado pela Teoria dos Jogos), <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e <strong>de</strong> estratégias que não se reduz<strong>em</strong> à<br />

otimização (consi<strong>de</strong>rados pela Organização Industrial tradicional), já há algum t<strong>em</strong>po<br />

tratados por Veblen, são in<strong>de</strong>vidamente menosprezados. RUTHERFORD (1996, p. 124)<br />

acrescenta que "the structure of firms may have to do with the requir<strong>em</strong>ents of technology,<br />

or with certain power relations and conflicts within the firm, or with establishing a position<br />

of market control [...], exactly the issues raised in the OIE".<br />

Para WILLIAMSON (1985, p. 236, citando HORVAT, 1982), casos <strong>de</strong> integração<br />

vertical po<strong>de</strong>m ocorrer motivados por questões <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r (controle da oferta e dos preços<br />

ou interiorização das <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong> produção, compra, venda e financiamento), mas não se<br />

sustentarão s<strong>em</strong> a satisfação dos critérios <strong>de</strong> eficiência, ou minimização dos custos <strong>de</strong><br />

produção e transação. Ainda assim, mesmo que tais arranjos consigam resistir pelo<br />

usufruto dos benefícios <strong>de</strong> tal po<strong>de</strong>r, serão <strong>de</strong>stituídos por modos mais eficientes <strong>de</strong><br />

organização. Segundo MILLER (1993, p. 1048-9), esse argumento <strong>de</strong>ixa clara a aceitação<br />

<strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> seleção natural s<strong>em</strong>elhante ao proposto por Alchian e Friedman, <strong>em</strong><br />

contraste com a própria dúvida <strong>de</strong> Williamson sobre qual seria a forma <strong>de</strong> seleção verídica<br />

e plausível à TCT. O argumento encontra suporte também <strong>em</strong> HODGSON (1988, p. 214-<br />

5): "A Darwinian evolutionism is evoked (in the Coase-Williamson tradition and in other<br />

varieties of neoclassical theory) to <strong>de</strong>monstrate a kind of equivalence between efficiency<br />

and existence, in which the existence or non-existence of a particular type of organization<br />

is regar<strong>de</strong>d as direct evi<strong>de</strong>nce of, respectively, efficiency or inefficiency." 173 Em<br />

contraposição, se consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r for<strong>em</strong> incluídas, ficará mais claro que o conceito<br />

darwinista <strong>de</strong> seleção "artificial" seria mais a<strong>de</strong>quado, já que seria possível consi<strong>de</strong>rar<br />

agentes menos eficientes utilizando seu eventual po<strong>de</strong>r (e.g. adquirido pelo fato <strong>de</strong> <strong>em</strong>pre-<br />

gar muitas pessoas <strong>em</strong> um pequeno município) para mudar o ambiente ou as regras <strong>de</strong><br />

173 E ainda é trabalhado <strong>em</strong> HODGSON (1993a, p. 226) e HODGSON (1993b, p. 94):<br />

"while both Williamson and the 'old' institutionalists appeal, to different <strong>de</strong>grees, to an evolutionary<br />

metaphor in their work, it does not support the kind of Panglossian interpretation to be found in the<br />

work of Williamson and many others. In contrast to much ‘new’ institutionalist writing, the work<br />

of Thorstein Veblen (1919), for instance, does not involve the notion that evolution always works<br />

towards progressive or optimal outcomes".<br />

99


funcionamento do sist<strong>em</strong>a, i.e. os sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> leis (RAMSTAD, 1996, p. 420-1). 174 Nas<br />

palavras <strong>de</strong> GREER (1980, p. 434, apud KLEIN, P., 1987, p. 1352 - grifos <strong>de</strong> Greer):<br />

"Corporations do not simply pursue their own self-interest within the existing institutional<br />

framework. They also pursue their self-interest in att<strong>em</strong>pting to <strong>de</strong>termine the nature of<br />

that institutional framework." Ou ainda como expresso por SAMUELS (1995, p. 580):<br />

[...] institutionalists reject concepts of the natural or<strong>de</strong>r of things in favour of a view<br />

of the world as created by human individual and collective activity and<br />

consequently as subject to human control rather than un<strong>de</strong>r the sway of automatic<br />

mechanisms - a position which manifestly enables th<strong>em</strong> to examine the <strong>de</strong>tails of<br />

human action and interaction, including the social or cultural as well as the<br />

individual aspects of phenomena. 175<br />

4.3.3 Institucionalismo s<strong>em</strong> feed-back institucional<br />

Um outro ponto criticado é o caráter "institucionalista" da TCT. Para MILLER<br />

(1993, p. 1050), a ortodoxia na verda<strong>de</strong> nunca excluiu o aspecto institucional da estrutura<br />

dos sist<strong>em</strong>as econômicos, mas havia consi<strong>de</strong>rado apenas um <strong>de</strong> seus componentes até o<br />

momento: o mercado. O que a TCT fez foi não mais que acrescentar um outro, a firma 176<br />

ao cenário <strong>de</strong> análise, mas ainda com severas limitações, quais sejam: i) permanece a<br />

eficiência como <strong>de</strong>us ex machina a mover todas as ações econômicas, como se fosse um<br />

fim legítimo acima <strong>de</strong> qualquer vonta<strong>de</strong> humana; 177 e ii) <strong>em</strong>bora consi<strong>de</strong>re ações coletivas,<br />

expressas no comportamento das firmas <strong>em</strong> suas transações e no movimento <strong>de</strong> seus<br />

limites, integrando-se ou <strong>de</strong>sintegrando-se <strong>em</strong> função <strong>de</strong> características tecnológicas<br />

(especificida<strong>de</strong> dos ativos), comportamentais (oportunismo), ambientais (incerteza) e <strong>de</strong><br />

174 A analogia com o processo darwinista <strong>de</strong> seleção artificial foi feita originalmente por<br />

Commons. Para maiores <strong>de</strong>talhes, vi<strong>de</strong> RAMSTAD (1994b, p. 107-9).<br />

175 Vale aqui relatar um ponto <strong>de</strong> forte divergência entre a abordag<strong>em</strong> neoclássica e a OIE:<br />

as socieda<strong>de</strong>s (ou organizações sociais <strong>em</strong> sentido amplo) estabelec<strong>em</strong>-se e procuram satisfazer as<br />

necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> seus componentes individuais <strong>de</strong> acordo com "leis naturais"? Ou são as<br />

organizações sociais elas próprias expressão da ação humana, que sob os limites daquelas e com as<br />

novas e maiores possibilida<strong>de</strong>s abertas por arranjos estáveis <strong>de</strong> seus componentes (instituições),<br />

que segu<strong>em</strong> se reproduzindo ou se modificando?<br />

176 PITELIS (1993b, p. 7) acrescenta que o artigo <strong>de</strong> 1937 <strong>de</strong> Coase está transformando a<br />

teoria econômica ortodoxa "[...] from a mono-institutional theory to a duo-institutional, at first, and<br />

gradually to a poly-institutional one".<br />

100


peculiarida<strong>de</strong>s dos mercados (freqüência), há consi<strong>de</strong>rações apenas <strong>em</strong> um sentido <strong>de</strong><br />

influência ou causalida<strong>de</strong>, qual seja, da ação individual e das trocas bilaterais para a<br />

estrutura econômica. 178 Não há sequer consi<strong>de</strong>ração (que dirá análise) da interação entre a<br />

estrutura e os agentes e, portanto, dos processos sociais - por <strong>de</strong>finição dinâmicos -, como<br />

argumenta PRATTEN (1997, p. 792).<br />

Williamson, a princípio, reconhece a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> analisar a influência do<br />

ambiente ou da mudança ambiental sobre as <strong>de</strong>cisões dos agentes individuais. Entretanto,<br />

parece eximir-se da tarefa, insistindo no impulso primordial do indivíduo para a<br />

conformação dos mecanismos institucionais (WILLIAMSON, 1996a, p. 223): "Feedbacks<br />

asi<strong>de</strong> (which are un<strong>de</strong>r<strong>de</strong>veloped in the transaction cost economics set-up), the institutional<br />

environment is treated as the locus of shift parameters, changes in which shift the<br />

comparative costs of governance, and the individual is where the behavioral assumptions<br />

originate."<br />

Isso <strong>de</strong>corre, segundo HODGSON (1988, p. 206), da visão essencialmente<br />

neoclássica <strong>de</strong> Williamson e Coase, a partir da qual se afirma que "no princípio eram os<br />

mercados", como se estes foss<strong>em</strong> o estado natural, ubíquos e at<strong>em</strong>porais, e existiss<strong>em</strong><br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> normas e procedimentos criados socialmente pela interação humana.<br />

Dessa maneira, a TCT ignora a perspectiva <strong>de</strong> evolução social que contém, por ex<strong>em</strong>plo,<br />

processos <strong>de</strong> causação cumulativa, apreen<strong>de</strong>ndo as instituições <strong>em</strong> trajetórias <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões cruciais <strong>em</strong> algum momento no t<strong>em</strong>po. DUGGER (1993, p. 211) ex<strong>em</strong>plifica:<br />

se uma instituição hierárquica <strong>de</strong> cunho privado como as firmas são <strong>de</strong>senhadas com a<br />

crença no oportunismo e na racionalida<strong>de</strong> limitada dos indivíduos, po<strong>de</strong>mos imaginar que<br />

estes apren<strong>de</strong>rão sobre o seu meio-ambiente e a ele se adaptarão, percebendo que tais<br />

177<br />

Ou como diz MARGINSON (1993, p. 137): "to paraphrase Marx, efficiency acts as the<br />

motor of history".<br />

178<br />

Em nossa visão, as críticas ao individualismo metodológico utilizado pela TCT são <strong>de</strong><br />

certa forma generalizadas, como se foss<strong>em</strong> dirigidas à teoria neoclássica - <strong>em</strong>bora com algumas<br />

ressalvas (e.g. a influência <strong>de</strong> algumas instituições sobre os indivíduos ao criar<strong>em</strong> uma "atmosfera<br />

organizacional" propícia às relações <strong>de</strong> troca; no entanto, é bom l<strong>em</strong>brar que esta ressalva t<strong>em</strong> a<br />

sua própria ressalva, como apresentada na seção anterior). Por tal motivo, assumimos tal discussão<br />

também como sendo <strong>de</strong> amplo conhecimento para os estudiosos <strong>de</strong> Teoria Econômica, e isentamonos<br />

<strong>de</strong> inseri-la nesta dissertação. Para o eventual interesse do leitor, uma apresentação concisa <strong>de</strong><br />

tais probl<strong>em</strong>as po<strong>de</strong> ser encontrada <strong>em</strong> HODGSON (1988, 1993a e 1996) e RUTHERFORD (1996,<br />

cap. 3). Para uma discussão das críticas ontológicas e epist<strong>em</strong>ológicas à TCT, vi<strong>de</strong> PRATTEN<br />

(1997).<br />

101


preceitos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser relevantes para sua sobrevivência; com isso os indivíduos incorporam<br />

tais el<strong>em</strong>entos à sua cultura, apren<strong>de</strong>ndo a ser oportunistas cada vez mais e aceitando e<br />

confinando-se aos limites <strong>de</strong> sua racionalida<strong>de</strong>. As firmas reag<strong>em</strong>, incr<strong>em</strong>entando ou<br />

aprofundando os componentes <strong>de</strong> sua estrutura relacionados àqueles preceitos esperados<br />

dos indivíduos, agora comprovados pela ação dos mesmos, e assim sucessivamente, num<br />

círculo vicioso que retroalimenta indivíduos e firmas nas pr<strong>em</strong>issas <strong>em</strong> questão.<br />

É importante enten<strong>de</strong>r, então, que a performance no trabalho não é conseqüência <strong>de</strong><br />

uma natureza humana imutável calcada no oportunismo. O comportamento humano po<strong>de</strong><br />

muito b<strong>em</strong> ser construído a partir das instituições sociais com as quais os agentes<br />

interag<strong>em</strong>. Por isso, como sugere HODGSON (1988, p. 211, e 1993b, p. 94), <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os<br />

atentar para o fato da firma ser uma instituição capaz <strong>de</strong> moldar preferências e ações<br />

humanas, e conseguir com isso mais altos níveis <strong>de</strong> confiança e lealda<strong>de</strong> entre os agentes<br />

que <strong>de</strong>la faz<strong>em</strong> parte. 179 Em suas próprias palavras (1988, p. 211):<br />

In contrast [[to] the view of the human agent in [...] individualistic tradition], as<br />

Bowles points out, the work performance function should not be regar<strong>de</strong>d as<br />

exogenously given, as partly a consequence of immutable 'human nature'; it is<br />

endogenous and partly a function of the institutions and structures involved. We<br />

could add here that it is also a function of the general atmosphere of cooperation<br />

and trust.<br />

Nas palavras <strong>de</strong> MILLER (1993, p. 1050): "The analysis ignores interaction and<br />

inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nce between society and the individual or, for that matter, among individuals,<br />

except when they engage in exchange". Dessa forma, as posições e orientações <strong>de</strong> políticas<br />

públicas, por ex<strong>em</strong>plo, permanec<strong>em</strong> normativas, reduzindo casos particulares à lógica<br />

interna do mundo ou do hom<strong>em</strong> contratual, e virtualmente idênticas às geradas pela<br />

ortodoxia neoclássica.<br />

Com a mesma ênfase, SAMUELS (1995, p. 571 e 580) apresenta como um dos<br />

princípios básicos da OIE a visão holística pela qual a economia é muito mais que os<br />

mercados. Isso porque estes são, na verda<strong>de</strong>, um mecanismo (ou mesmo uma instituição)<br />

resultante da operação <strong>de</strong> instituições humanas mais básicas (como normas <strong>de</strong> convivência<br />

102


e regras <strong>de</strong> acesso a meios <strong>de</strong> sobrevivência), ou seja, da estrutura organizacional das<br />

socieda<strong>de</strong>s, o que envolve muito mais do que qualquer concepção <strong>de</strong> racionalida<strong>de</strong><br />

econômica dos agentes, abarcando <strong>de</strong> uma forma geral toda a carga cultural das mesmas.<br />

4.3.4 Oportunismo: simplismo e inconsistências<br />

Sob outro aspecto, o aparente euf<strong>em</strong>ismo presente no conceito <strong>de</strong> competição<br />

permanece <strong>em</strong> outros conceitos utilizados por Williamson, como no <strong>de</strong> oportunismo, on<strong>de</strong><br />

"He assumes that some people will lie and cheat [...], but he does not assume that they will<br />

coerce and kill (as some real people do)" (DUGGER, 1996b, p. 1214). Algo s<strong>em</strong>elhante<br />

parece ocorrer com o conceito <strong>de</strong> compromissos confiáveis, <strong>em</strong> que o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> reféns<br />

(hostage mo<strong>de</strong>l) sugere a troca <strong>de</strong> garantias quando uma transação envolve ativos específi-<br />

cos. Para Dugger, probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> credibilida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m levar a comportamentos muito mais<br />

duros que aqueles, tais como a atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> "coercion, kidnapping, arson, extortion, and<br />

contract mur<strong>de</strong>rs, as well as mafia-like governance structures" (ibid.). Esses po<strong>de</strong>m<br />

compor mais um ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> reducionismo metodológico perigoso numa ciência social,<br />

mesmo quando os resultados organizacionais e/ou tecnológicos esperados se cumpram.<br />

A hipótese comportamental <strong>de</strong> oportunismo recebe críticas ainda mais minuciosas<br />

<strong>de</strong> Maria MOSCHANDREAS (1997). Para a autora, os probl<strong>em</strong>as com a hipótese surg<strong>em</strong><br />

<strong>em</strong> duas vias: i) não é realista o suficiente para i<strong>de</strong>ntificar sozinha o complexo<br />

comportamento humano <strong>em</strong> suas interações; 180 e ii) seu uso na TCT apresenta<br />

inconsistências internas.<br />

179<br />

Argumentos s<strong>em</strong>elhantes são apresentados por SIMON (1991; vi<strong>de</strong> nossa nota <strong>de</strong> rodapé<br />

42).<br />

180<br />

Probl<strong>em</strong>a também i<strong>de</strong>ntificado por outras correntes, como apresentado nas seções<br />

imediatamente anteriores. JACOBY (1990, p. 331) faz críticas s<strong>em</strong>elhantes; o interessante é sua<br />

sugestão <strong>de</strong> que há uma gran<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação da TCT com mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> relações <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego<br />

marxistas: "To mitigate opportunism in <strong>em</strong>ployment requires either hierarchical monitoring and<br />

governance procedures or less visible control mechanisms like <strong>de</strong>ferred rewards and supra-market<br />

clearing wages that increase the worker's cost of job when malfeasance is <strong>de</strong>tected. Some Marxian<br />

mo<strong>de</strong>ls of <strong>em</strong>ployment rely on similar notions: that as the cost of job loss <strong>de</strong>creases, opportunism<br />

and the need for control both increase (Weisskopf et al., 1983)". PFEFFER (1982, p. 166, apud<br />

DOW, 1987, p. 20) também enxerga alguma aproximação: "it is not easy to distinguish the radical<br />

analysis of Edwards (1979) from the transaction cost framework". No entanto, há uma diferença<br />

103


Caminhando pela primeira via, MOSCHANDREAS (i<strong>de</strong>m, p. 42-45) enxerga o<br />

comportamento humano <strong>de</strong> forma muito mais rica, como a própria dicotomia vebleniana<br />

entre ações predatórias e construtivas já sugeria. A comparação feita por Williamson entre<br />

os riscos <strong>de</strong> se negociar no Japão e nos EUA é explorada para ex<strong>em</strong>plificar o quão restrita<br />

é a sua explicação das diferenças existentes entre os agentes através do oportunismo (como<br />

também feito por DIETRICH, 1994, apresentado na seção 4.2). Williamson (como citado<br />

<strong>em</strong> nosso capítulo 3) diz que há, no Japão, maior controle ou vigilância cultural ou institu-<br />

cional sobre o oportunismo. Isso, para Moschandreas, representa na verda<strong>de</strong> subestimar o<br />

papel da cultura nos <strong>de</strong>terminantes comportamentais, o que lhe parece ser comum aos eco-<br />

nomistas da TCT. 181 Façamos uma simplificação <strong>de</strong> sua crítica: se todo e qualquer indiví-<br />

duo t<strong>em</strong> um montante <strong>de</strong> motivação comportamental (mc=q, on<strong>de</strong> q∈Q + ), não se po<strong>de</strong><br />

avaliar sua aplicação às transações (e/ou produção) apenas pela parcela <strong>de</strong> oportunismo<br />

(op) nele presente e <strong>de</strong>sprezar completamente o que po<strong>de</strong> estar contido <strong>em</strong> "q - op", e.g. a<br />

confiança (co) (cf. FUKUYAMA, 1995, apud MOSCHANDREAS, p. 44), a honestida<strong>de</strong><br />

(cf. RABIN, 1993, apud i<strong>de</strong>m) e a i<strong>de</strong>ntificação patriótica (cf. PATRICK e ROSOVSKY,<br />

1976, apud i<strong>de</strong>m). Na verda<strong>de</strong>, as influências políticas e históricas/filosóficas po<strong>de</strong>m muito<br />

b<strong>em</strong> afetar o comportamento e a ética humana, fazendo com que o "cesto <strong>de</strong> motivações"<br />

seja preenchido endogenamente (com a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> op=0). Se a eficiência (ef) resi-<br />

<strong>de</strong>nte no arranjo das transações é função, <strong>de</strong>ntre outras coisas, do montante <strong>de</strong> motivação<br />

comportamental dos agentes (ef=ƒ(mc)), e sendo esta formada por mais <strong>de</strong> um el<strong>em</strong>ento<br />

explicativo não paramétrico, 182 po<strong>de</strong>mos esperar que ∂ef / ∂op < 0. Mas ao mesmo t<strong>em</strong>po<br />

po<strong>de</strong>mos ter, por ex<strong>em</strong>plo, ∂ef / ∂co > 0, e outros fatores comportamentais com efeitos<br />

positivos, como os citados acima..<br />

Um feed-back bastante negativo sobre a produtivida<strong>de</strong> e sobre a propensão<br />

comportamental dos indivíduos que po<strong>de</strong> vir <strong>de</strong> tal generalização in<strong>de</strong>vida do comporta-<br />

crucial que os separa: para a TCT o oportunismo é da própria natureza humana, enquanto para tais<br />

mo<strong>de</strong>los marxistas ele é uma característica do hom<strong>em</strong> na socieda<strong>de</strong> capitalista (cf. BOWLES, 1985,<br />

apud JACOBY, i<strong>de</strong>m).<br />

181<br />

Apesar <strong>de</strong> Neil Kay se consi<strong>de</strong>rar um integrante da abordag<strong>em</strong> dos custos <strong>de</strong> transação<br />

(GALBRAITH e KAY, 1986, p. 72), também critica tanto o papel secundário dado por Williamson<br />

à cultura, quanto a centralida<strong>de</strong> e generalização do oportunismo como característica comportamental<br />

<strong>de</strong>finitiva (KAY, 1993, p. 248).<br />

182<br />

Já que Williamson alega consi<strong>de</strong>rar apenas alguns indivíduos, <strong>em</strong> algumas ocasiões,<br />

agindo <strong>de</strong> forma oportunista.<br />

104


mento humano com relação ao oportunismo, é previsto por MOSCHANDREAS (i<strong>de</strong>m, p.<br />

42), à s<strong>em</strong>elhança do que Dugger argumentou <strong>de</strong> forma mais geral (vi<strong>de</strong> o tópico anterior<br />

<strong>de</strong>sta seção):<br />

Recognizing, [...] that not all individuals are inclined to act opportunistically all of<br />

the time implies that other motives may be significant, at least for some individuals<br />

and for some of the time, raises serious doubts regarding the efficiency of internal<br />

syst<strong>em</strong>s built on the assumption of universal opportunism. Such syst<strong>em</strong>s<br />

incorporate auditing, monitoring, and the adoption of administrative lines of<br />

authority and subordination that may have serious adverse effects on the work<br />

'atmosphere', encouraging perfunctory, rather than cooperative, behavior. More<br />

seriously, perhaps, the lack of trust and confi<strong>de</strong>nce associated with the expectation<br />

of opportunism may actually encourage individuals to behave in the postulated<br />

opportunistic fashion. 183<br />

Pela segunda via, Moschandreas argumenta que a ubiqüida<strong>de</strong> do oportunismo<br />

alegada por Williamson é quebrada <strong>de</strong>ntro da TCT, fragilizando sua consistência. Isso<br />

porque seria <strong>de</strong> se esperar sua utilização <strong>de</strong> forma simétrica, ou seja, que estivesse presente<br />

<strong>em</strong> todos os agentes relevantes tratados no mo<strong>de</strong>lo, e isso não é feito. Tal assimetria está<br />

expressa <strong>em</strong> duas hipóteses (i<strong>de</strong>m, p. 49): "the implicit assumption that top officers will not<br />

behave opportunistically toward their subordinates although the same officers may or may<br />

not be expected to behave opportunistically toward their sharehol<strong>de</strong>rs. [...] [And] the<br />

explicit [...] assumption that top officers running large M-forms will strive to profit<br />

183 JACOBY (1990, p. 334) reforça tal argumento: "It [the presumption of innate<br />

opportunism] leads to a proliferation of control structures - supervision, rules, and <strong>de</strong>ferred rewards<br />

- inten<strong>de</strong>d to inhibit opportunism. These create resentment and distrust among <strong>em</strong>ployees, who<br />

correctly perceive the controls as expressions of their <strong>em</strong>ployer's distrust. Expectations fulfil<br />

th<strong>em</strong>selves when worker resentment breeds opportunism and the <strong>em</strong>ployer is forced to impl<strong>em</strong>ent<br />

additional controls, now with the conviction that his initial beliefs were justified." HODGSON<br />

(1988, p. 210-1) também insiste neste ponto: "Even a hierarchical and non-participatory firm<br />

involves a measure of trust between its agents [...]. If trust and cooperation are functional to the<br />

efficiency of the firm, then a form of organization or regime in which they were promoted could<br />

well be superior in terms of performance. Whilst all firms <strong>em</strong>body trust and loyalty in some<br />

measure, firms which promote these attributes to a greater <strong>de</strong>gree are more likely to be efficient<br />

[...]. The firm, by engen<strong>de</strong>ring loyalty and trust to some <strong>de</strong>gree, encourages people to act<br />

differently. Without this ability to generate more cohesive and less atomistic behaviour the firm<br />

would not be able to function [...]. No recognition is ma<strong>de</strong> (by Williamson) of the effect of the<br />

institutional environment in moulding actions and beliefs [...]. It is not being suggested that<br />

capitalist or other firms are institutions of benevolence and philanthropy - far from it. What is being<br />

105


maximize". Se tais comportamentos são justificados pela hipótese <strong>de</strong> efeitos adversos<br />

sobre a reputação, por que não se po<strong>de</strong> estendê-la para gerências intermediárias, operários<br />

e <strong>de</strong>mais <strong>em</strong>pregados? 184 Mas há ainda dois motivos para se acreditar que tal efeito<br />

adverso não seja forte o suficiente para eliminar o oportunismo <strong>em</strong> tais instâncias<br />

especiais: i) o fluxo <strong>de</strong> informações <strong>de</strong>veria ser livre e eficiente para que, no mínimo, a<br />

suspeita <strong>de</strong> conduta oportunista seja reconhecida, e essa é uma condição difícil <strong>de</strong> se obter;<br />

e ii) algum tipo <strong>de</strong> má conduta po<strong>de</strong> levar algum t<strong>em</strong>po para se revelar, e os custos das<br />

informações e mensurações po<strong>de</strong>m implicar que nunca seja revelada. Em conseqüência, a<br />

preocupação com a reputação po<strong>de</strong> até amenizar comportamentos oportunistas, mas não<br />

eliminá-los por <strong>de</strong>finição. E se o oportunismo persiste nessas formas, alguma ineficiência<br />

certamente persistirá.<br />

Po<strong>de</strong>mos l<strong>em</strong>brar aqui que WILLIAMSON (1985, p. 44, e 1996a, p. 55) diz estar<br />

preocupado <strong>em</strong> estudar as características da natureza humana como nós realmente a<br />

conhec<strong>em</strong>os. 185 Entretanto, HODGSON (1996, p. 250-1) - ao apresentar críticas<br />

s<strong>em</strong>elhantes às <strong>de</strong> Moschandreas - alega que a referência da TCT apenas ao oportunismo<br />

implica uma posição metodológica ambígua que na verda<strong>de</strong> refuta o critério <strong>de</strong> realismo<br />

supostamente <strong>de</strong>fendido. 186<br />

argued is that some extra-contractual el<strong>em</strong>ents, including a measure of loyalty and trust, even if<br />

small, are essential for the firms to function at all."<br />

184 MARGINSON (1993, p. 138) levanta a mesma questão, dizendo que na TCT "workers<br />

are assumed to act opportunistically, while <strong>em</strong>ployers are assumed to act in accordance with an<br />

(un<strong>de</strong>fined) community interest."<br />

185 A citação original é <strong>de</strong> COASE (1984, p. 231, apud WILLIAMSON, 1985, p. 44):<br />

"Mo<strong>de</strong>rn institutional economics should study man as he is, acting within the constraints imposed<br />

by real institutions".<br />

186 O artigo <strong>de</strong> HODGSON (1996) é uma versão <strong>de</strong> sua apresentação numa conferência realizada<br />

<strong>em</strong> 1994, da qual também Williamson participou. Hodgson então, <strong>em</strong> sua nota <strong>de</strong> rodapé 5 (p.<br />

264), comenta a apresentação <strong>de</strong> Williamson no que se refere ao oportunismo: "Williamson asked<br />

his audience to refer to Shakespeare for illustrations of the ubiquity of opportunism. In<strong>de</strong>ed, there<br />

are examples of such behavior in plenty. But it is a travesty to suggest that Shakespeare's view of<br />

human nature is wholly one of 'self-interest seeking with guile.' Such a one-si<strong>de</strong>d picture is<br />

contradicted by the selfless <strong>de</strong>dication of Cor<strong>de</strong>lia to her father in King Lear and the <strong>de</strong>votion of<br />

the lovers to each other in Romeo and Juliet, and by many other examples. Shakespeare's moral<br />

discourse is replete with transcen<strong>de</strong>nt and non-pecuniary values of duty, trust, and love, while<br />

simultaneously recognizing human limits and frailties". E mais (i<strong>de</strong>m, p. 255): "Opportunism<br />

exists, but plentiful evi<strong>de</strong>nce suggests that it is not the single most important characteristic of<br />

human nature. Failures of cooperation and coordination can also arise because of divergent<br />

perceptions, lack of information and un<strong>de</strong>rstanding, or even incongruous individual motives which<br />

106


Quanto às formas multidivisionais, por ex<strong>em</strong>plo, Williamson argumenta ser<strong>em</strong> seus<br />

gestores mais expostos ao mercado <strong>de</strong> controle corporativo, ou seja, aos interessados <strong>em</strong><br />

adquirir firmas ou partes <strong>de</strong> corporações quando alguém faz uma gestão ineficiente, e por<br />

isso são fort<strong>em</strong>ente coibidos para comportamentos oportunistas. Mas se o oportunismo é<br />

realmente ubíquo, assim como a assimetria das informações, então estarão ambos presentes<br />

também no mercado <strong>de</strong> controle corporativo, que estará sujeito a gastos na procura por<br />

potenciais alvos e ao oportunismo (free-riding) entre os próprios "caçadores", mostrando a<br />

ineficiência do takeover como mecanismo <strong>de</strong> eliminação do comportamento oportunista <strong>de</strong><br />

gestores <strong>em</strong> firmas multidivisionais.<br />

DUGGER (1993, p. 201) ainda questiona: "Conglomerate manag<strong>em</strong>ent can monitor<br />

the manag<strong>em</strong>ent of subsidiary corporations, but who can monitor conglomerate<br />

manag<strong>em</strong>ent?" 187 Com isso Dugger argumenta que a evolução das firmas corporativas,<br />

gran<strong>de</strong>s responsáveis pelos movimentos <strong>de</strong> conglomeração patrimonial por takeover, não<br />

eliminou os probl<strong>em</strong>as do comportamento gerencial oportunista, como sugere<br />

WILLIAMSON (1975, p. 40-49), mas <strong>de</strong>slocou o mesmo um <strong>de</strong>grau acima, internalizando<br />

a fração supostamente oportunista existente na firma autônoma anterior ao takeover.<br />

4.3.5 Racionalida<strong>de</strong> limitada e maximização: incompatibilida<strong>de</strong> à espera <strong>de</strong> resolução<br />

Mais um probl<strong>em</strong>a no "hom<strong>em</strong> contratual" da TCT é acusado por HODGSON<br />

(1993b): o conceito <strong>de</strong> racionalida<strong>de</strong> limitada atribuído aos agentes não é compatível com<br />

a análise estático-comparativa, que exige o cálculo dos custos a se incorrer <strong>em</strong> cada tipo <strong>de</strong><br />

organização das transações. O comportamento humano compatível com sua racionalida<strong>de</strong><br />

limitada, como <strong>de</strong>senvolvido por Simon, é o <strong>de</strong> satisficing, uma vez reconhecida a restrita<br />

capacida<strong>de</strong> dos agentes <strong>em</strong> processar ou calcular informações e prever eventos. Tal limita-<br />

ção in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todas as informações relevantes, ou seja, não é uma<br />

questão <strong>de</strong> maiores custos para adquirir ou processar mais informações. Isso implica na<br />

impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> agentes oniscientes realizando cálculos exatos para a análise compara-<br />

are entirely altruistic". Nesse ponto, po<strong>de</strong>mos perceber s<strong>em</strong>elhanças com as críticas <strong>de</strong> DIETRICH<br />

(1994), apresentadas <strong>em</strong> nossa seção 4.2.<br />

107


tiva; além do mais, a <strong>de</strong>cisão sobre a forma organizacional se dá ex ante, e a heurística ou<br />

cálculo possíveis <strong>de</strong>v<strong>em</strong> conter expectativas sobre o futuro incerto. 188 Por ex<strong>em</strong>plo, um<br />

agente <strong>em</strong> posição <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir sobre a forma organizacional mais apropriada para a produ-<br />

ção <strong>de</strong> um b<strong>em</strong> qualquer precisa construir o que Williamson chamou <strong>de</strong> intervalos <strong>de</strong><br />

confiança, 189 que abarcam os custos <strong>de</strong> transação <strong>de</strong>rivados <strong>de</strong> cada forma consi<strong>de</strong>rada,<br />

para então selecionar a <strong>de</strong> menores custos (<strong>de</strong> produção e transação). 190<br />

Algumas questões po<strong>de</strong>m então ser levantadas: o cálculo <strong>de</strong> tais intervalos é<br />

possível? E seria o mesmo se feito por agentes diferentes, cada qual com "sua"<br />

racionalida<strong>de</strong> limitada e, portanto, com sua própria avaliação das informações existentes e<br />

seu próprio julgamento <strong>de</strong> relevância das mesmas? No caso <strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>rar válidos os<br />

intervalos <strong>de</strong> cada forma alternativa, como será tomada a <strong>de</strong>cisão se dois ou mais<br />

intervalos tiver<strong>em</strong> qualquer trecho sobreposto <strong>em</strong> interseção? Ou como questionam<br />

GROENEWEGEN e VROMEN (1996, p. 370): "if boun<strong>de</strong>dly rational agents cannot be<br />

engaged in complete contracting for the reason that they cannot foresee future<br />

contingencies, then how can they foresee what governance structures will turn out to be<br />

most efficient?"<br />

O comportamento "minimizador <strong>de</strong> custos" parece ser apenas outra forma <strong>de</strong><br />

expressar o já conhecido comportamento maximizador, muito <strong>em</strong>bora Williamson pareça<br />

preocupar-se <strong>em</strong> não elucidar o assunto, segundo HODGSON (1993b, p. 95): "The term<br />

'satisficing' is <strong>em</strong>ployed by Simon precisely to distance his conception from 'substantive'<br />

rationality and maximizing behaviour. It is symptomatic that Williamson, for example,<br />

uses the term 'boun<strong>de</strong>d rationality' much more often than 'satisficing'". 191 Ainda mais<br />

(i<strong>de</strong>m, p. 85): "Simon's concept of 'satisficing' does not amount to cost-minimizing<br />

behaviour. Clearly, the latter is just the dual of the standard assumption of maximizing<br />

187 Nas palavras <strong>de</strong> DOW (1987, p. 24): "who guards the guardians [?]".<br />

188 Algumas implicações <strong>de</strong> tal fato são comentadas <strong>em</strong> nossa nota <strong>de</strong> rodapé 169. Uma outra<br />

implicação <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> tal crítica, <strong>em</strong>bora não comentada por Hodgson, é a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> explicar<br />

a formação das expectativas dos agentes.<br />

189 Já que é "praticamente impossível" achar o valor exato dos custos <strong>em</strong> função da<br />

racionalida<strong>de</strong> limitada dos agentes. (Vi<strong>de</strong> nossa seção 3.1.)<br />

190 Vi<strong>de</strong> nossa seção 3.3.<br />

108


costs then it would amount to maximizing behaviour of the orthodox type". Por isso<br />

HODGSON (i<strong>de</strong>m) adverte:<br />

Williamson has a choice. He can either accept or reject the assumption that<br />

transaction cost minimization is assumed to be performed by a <strong>de</strong>liberative agent.<br />

However, if he accepts this assumption he cannot simultaneously <strong>em</strong>brace the<br />

concept of boun<strong>de</strong>d rationality. If 'economizing on transaction costs' is costminimizing<br />

behaviour by a calculating agent, then this is inconsistent with Simon's<br />

concept.<br />

Não obstante, WILLIAMSON (1993e, p. 111, apud PRATTEN, 1997, p. 794)<br />

afirma que "Satisficing is cumbersome and we must ask whether the ad<strong>de</strong>d cost (of non-<br />

standard and more complicated mo<strong>de</strong>s of analysis) justify the benefit (realism of cognitive<br />

assumptions). [...] [F]rom the negative verdict on the utility of the satisficing approach [...]<br />

the answer would appear to be negative." 192 Mas se voltarmos um pouco na construção da<br />

TCT, encontrar<strong>em</strong>os WILLIAMSON (1981, p. 574, apud PRATTEN, 1997, p. 794) ainda<br />

<strong>em</strong> sua visão conciliadora: "it [TCT] relies on economizing arguments (which disciplines<br />

the analysis and appeals to maximizers) but substitutes comparative institutional for<br />

optimizing procedures (which is more in the spirit of satisficing)". Se o t<strong>em</strong>po indica o<br />

amadurecimento das idéias, conquanto não traga nenhum prejuízo às faculda<strong>de</strong>s mentais,<br />

t<strong>em</strong>os então o pressuposto maximizador como posição solidificada por Williamson para a<br />

TCT.<br />

191 HODGSON (1988, p. 299) reforça seu argumento: "Whilst Williamson’s contribution to<br />

postwar economic theory is of significant net value, it is marred by a terminological and analytical<br />

imprecision and the use of confusing and sometimes obscurantist jargon".<br />

192 Williamson <strong>de</strong>monstra uma clara inconsistência quando contrastamos tal citação com o<br />

alegado propósito <strong>de</strong> trabalhar a natureza humana "como ela realmente é". Não é <strong>de</strong>mais l<strong>em</strong>brar<br />

que, além das referências já feitas anteriormente (vi<strong>de</strong> também nossas notas <strong>de</strong> rodapé 187 e 188),<br />

WILLIAMSON (1987, p. 592, apud PRATTEN, 1997, p. 799) reafirma: "Studying man as he is<br />

necessarily requires that behavioral assumptions be assessed not merely with reference to analytical<br />

convenience - which is a leading reason why maximising assumptions play such a prominent role<br />

in economics - but also with respect to their correspon<strong>de</strong>nce to reality. Implausible behavioral<br />

assumptions are not a matter of indifference, much less merit, if studying human nature as we know<br />

it is to be taken seriously".<br />

109


4.4 Fontes Críticas Neoclássicas<br />

Para começar esta seção, gostaríamos <strong>de</strong> prestar algumas diligências para que<br />

sejam evitadas (maiores) controvérsias sobre a <strong>de</strong>limitação dos argumentos e qualificação<br />

dos autores aqui consi<strong>de</strong>rados. Por isso começamos pedindo a atenção do leitor para uma<br />

proposição feita por Thráinn EGGERTSSON (1990, p. 5-10), baseando-se nos critérios<br />

metodológicos propostos por Lakatos, qual seja, que a construção teórica <strong>de</strong> Williamson<br />

não só consegue modificar o "cinturão <strong>de</strong> proteção" da teoria neoclássica mas ainda atinge<br />

e rompe seu "núcleo rígido" - constituído pelas pr<strong>em</strong>issas <strong>de</strong> escolhas com racionalida<strong>de</strong><br />

substantiva, equilíbrio e preferências estáveis - ao erigir a TCT sob o suposto <strong>de</strong><br />

racionalida<strong>de</strong> limitada. 193 Dessa forma teríamos, por um lado, construções teóricas<br />

"neoinstitutionalists" (mantendo o núcleo rígido neoclássico), como as <strong>de</strong> A. Alchian, H.<br />

D<strong>em</strong>setz e as do próprio Eggertsson, e, por outro, teorias "new institutionalists" (que<br />

abandonam <strong>em</strong> maior ou menor grau aquele "núcleo"), como as <strong>de</strong> Williamson e <strong>de</strong><br />

Douglass North.<br />

POSSAS (1995, p. 5 - grifos no original) relaxa a consi<strong>de</strong>ração sobre preferências<br />

estáveis e <strong>de</strong>senha o espaço metodológico do "núcleo rígido" neoclássico como aquele que<br />

"assume, necessariamente, a racionalida<strong>de</strong> substantiva (na expressão <strong>de</strong> Simon)<br />

maximizadora, como norma <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão dos agentes econômicos, e o equilíbrio como<br />

norma <strong>de</strong> atuação dos agentes ou, pelo menos, <strong>de</strong> operação dos mercados individualmente,<br />

<strong>em</strong> conjunto (equilíbrio geral) ou ainda no agregado (na tradição macroeconômica<br />

neoclássica)". Com isso encontramos o suporte necessário para qualificar, i.e. incluir nesta<br />

seção, os autores ainda situados no "núcleo rígido" neoclássico, como por ex<strong>em</strong>plo: i) os<br />

integrantes do enfoque do "nexo <strong>de</strong> contratos;" 194 e ii) aqueles próximos ao que<br />

AZEVEDO (1996, p. 7) qualificou <strong>de</strong> "Teoria dos Contratos," 195 coincidindo <strong>em</strong> gran<strong>de</strong><br />

193<br />

Tal distanciamento é também notado por AZEVEDO (1996, p. 11).<br />

194<br />

Notoriamente estamos consi<strong>de</strong>rando aqui Armen Alchian, Harold D<strong>em</strong>setz, Steven<br />

Cheung e Thráinn Eggertsson. Além disso, vi<strong>de</strong>, e.g., PONDÉ, 1996, p. 539, e seus comentários<br />

apresentados <strong>em</strong> nossa seção 4.1.<br />

195<br />

"Entre essas teorias, <strong>de</strong>stacam-se a Teoria <strong>de</strong> Agente-Principal (Jensen & Meckling,<br />

1976), [...] Seleção Adversa (Akerloff, 1970), [...] Moral Hazard (Arrow, 1968), [...]" (AZEVEDO,<br />

1996, p. 7). Uma outra passag<strong>em</strong> da Tese <strong>de</strong> Paulo Azevedo ajuda a explicar nosso escopo <strong>de</strong><br />

110


parte com aqueles colaboradores do que Williamson chamou "enfoque da agência" (vi<strong>de</strong><br />

nossa seção 3.1).<br />

Outro ponto que nos parece relevante apresentar a priori é o próprio cuidado <strong>de</strong><br />

Williamson <strong>em</strong> evi<strong>de</strong>nciar suas diferenças para com a ortodoxia s<strong>em</strong> <strong>de</strong>la se afastar<br />

(1996a, p. 6-8), 196 utilizando três principais argumentos: i) os propósitos e efeitos das<br />

diferentes formas <strong>de</strong> organização econômica continuam envoltos <strong>em</strong> eficiência, ou<br />

economização dos custos <strong>de</strong> transação; 197 ii) as preocupações da TCT continuam <strong>em</strong><br />

gran<strong>de</strong> parte as mesmas da ortodoxia, tais quais integração vertical ou lateral, gestão cor-<br />

porativa, organização do trabalho, <strong>de</strong>ntre outras; e iii) permanec<strong>em</strong> os comprometimentos<br />

neoclássicos centrais, quais sejam, uma perspectiva sistêmica combinada ao espírito<br />

racional. 198 No entanto, como comentado há pouco, a inclusão da racionalida<strong>de</strong> limitada no<br />

núcleo da TCT é um pilar <strong>de</strong> sustentação externo ao núcleo neoclássico. Além disso, uma<br />

outra questão intrigante v<strong>em</strong> <strong>de</strong> um recorrente pressuposto da TCT, contido na forte<br />

afirmação feita por WILLIAMSON (1975, p. 20) que "in the beginning there were<br />

markets." Tal posição, que o aproxima do pensamento neoclássico, é posta <strong>em</strong> xeque <strong>em</strong><br />

sua mais recente obra (WILLIAMSON, 1996a, p. 13):<br />

qualificação (p. 38): "O papel do pressuposto <strong>de</strong> racionalida<strong>de</strong> limitada é <strong>de</strong>cisivo, distinguindo a<br />

ECT da genericamente <strong>de</strong>nominada 'Teoria dos Contratos' "; e também (p. 39): "Ainda filiada à<br />

tradição ortodoxa, a literatura <strong>de</strong> Agente-Principal apóia-se no pressuposto <strong>de</strong> racionalida<strong>de</strong> plena<br />

por parte dos agentes econômicos". Uma visão diferente v<strong>em</strong> <strong>de</strong> Oliver HART (1989, p. 359-360),<br />

que parece esperar um futuro conciliador <strong>de</strong> tais abordagens: "One promising sign is that the<br />

different approaches economists have used to address this issue - neoclassical, principal-agent,<br />

transaction cost, nexus of contracts, property rights - appear to be converging".<br />

196 A <strong>de</strong>speito da própria ambigüida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Williamson <strong>em</strong> tentar evi<strong>de</strong>nciar as diferenças<br />

entre a TCT e a abordag<strong>em</strong> neoclássica, como já comentado anteriormente, e ao mesmo t<strong>em</strong>po<br />

manter-se aliado ao mainstream, admite que "[...] many of the insights of the transaction cost<br />

approach will be absorbed within the corpus of 'exten<strong>de</strong>d' neoclassical analysis. The capacity of<br />

neoclassical economics to expand its boundaries is quite r<strong>em</strong>arkable in this respect" (1989, p. 178).<br />

Para uma evidência <strong>de</strong> tal capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> absorção neoclássica vi<strong>de</strong> POSSAS (1995).<br />

197 Para ARCHIBALD (1987, p. 357) a resposta <strong>de</strong> Coase (e, por extensão, a <strong>de</strong> Williamson)<br />

para a existência das firmas - qual seja, a existência <strong>de</strong> custos <strong>de</strong> transação - é suficiente para<br />

interpretá-la como neoclássica, pois permite a continuida<strong>de</strong> do pressuposto <strong>de</strong> retornos constantes<br />

<strong>de</strong> escala (fundamental à teoria do equilíbrio geral), e impe<strong>de</strong> que se cogite a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

existir<strong>em</strong> firmas <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua capacida<strong>de</strong> <strong>em</strong> gerar retornos crescentes <strong>de</strong> escala (no mínimo).<br />

198 Como já evi<strong>de</strong>nciado anteriormente neste trabalho, Williamson parece bastante<br />

preocupado <strong>em</strong> legitimar seu programa <strong>de</strong> pesquisa. A explícita ruptura com o arcabouço<br />

neoclássico certamente impossibilitaria seu objetivo, fechando várias portas <strong>em</strong> sua progressão,<br />

como po<strong>de</strong> ser interpretado a partir <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>scrição dos personagens e do ambiente acadêmico <strong>em</strong><br />

sua pós-graduação - o que intitulou <strong>de</strong> "Carnegie connection" (WILLIAMSON, 1996a, cap. 1).<br />

111


[...] although hierarchies have the appearance of being more complex governance<br />

structures than markets are, that can be disputed. As Friedrich Hayek observed,<br />

'The price syst<strong>em</strong> is just one of those formations which man has learned to use ...<br />

after he stumbled upon it without un<strong>de</strong>rstanding it' (1945, p. 528). If the 'natural'<br />

way to manage transactions is through authority (hierarchy), then the presumption<br />

that 'in the beginning there were markets' must be reversed. Authority is something<br />

with which we have direct experience (in managing households and more<br />

generally) and think that we un<strong>de</strong>rstand. By comparison, markets are where the<br />

sublteties resi<strong>de</strong>. 199<br />

Feitas tais consi<strong>de</strong>rações, <strong>de</strong>ixamos a controvérsia do "grau <strong>de</strong> ortodoxia" contido<br />

na TCT e passamos para uma análise crítica da mesma <strong>de</strong>ntro do escopo <strong>de</strong> nossa<br />

<strong>de</strong>finição. Apresentamos, então, as críticas oriundas <strong>de</strong> autores vinculados ao nexo <strong>de</strong><br />

contratos, seguidas <strong>de</strong> uma sugestão <strong>de</strong> compl<strong>em</strong>entarida<strong>de</strong> para a TCT <strong>de</strong>ntro do espectro<br />

neoclássico.<br />

4.4.1 O nexo <strong>de</strong> contratos e a superfluida<strong>de</strong> da autorida<strong>de</strong><br />

Começamos abordando mais enfaticamente uma discussão bastante difundida na<br />

literatura que estuda as organizações, à qual fiz<strong>em</strong>os anteriormente referência neste<br />

trabalho: as consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> ALCHIAN e DEMSETZ (1972) a respeito da natureza das<br />

firmas. 200 Cronologicamente, tais consi<strong>de</strong>rações vêm antes da primeira obra sist<strong>em</strong>ática <strong>de</strong><br />

Williamson na construção da TCT ("Markets and Hierarchies...", <strong>de</strong> 1975) e refer<strong>em</strong>-se, na<br />

verda<strong>de</strong>, ao artigo <strong>de</strong> COASE (1937) e seus apontamentos sobre os custos <strong>de</strong> operação do<br />

mercado. 201 Para Alchian e D<strong>em</strong>setz, as firmas nada mais são que uma instituição on<strong>de</strong> os<br />

fatores <strong>de</strong> produção se reún<strong>em</strong> por contratos, voluntariamente, <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> um agente<br />

(team owner) para qu<strong>em</strong> são reservados os direitos <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> sobre os "resíduos" ou<br />

199 É interessante notar aqui que para John R. COMMONS (1950, p. 44): "The latest [variety<br />

of transaction] to come historically into prominence were the bargaining transactions; the most<br />

ancient were the managerial transactions". Para uma distinção entre as varieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> transações<br />

categorizadas por Commons, pedimos ao leitor que retorne à nossa seção 4.3, referente à OIE.<br />

200 Vi<strong>de</strong>, por ex<strong>em</strong>plo, nossa nota <strong>de</strong> rodapé 143.<br />

201 ALCHIAN e DEMSETZ (1972, p. 783-4).<br />

112


excessos <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> conseguidos pela equipe - garantindo o incentivo necessário<br />

para que ele trabalhe arduamente na supervisão do grupo, com vistas no sucesso do traba-<br />

lho coletivo. Desse modo, não há necessida<strong>de</strong> da proprieda<strong>de</strong> centralizada <strong>de</strong> qualquer dos<br />

fatores, passando a equipe a fazer uso conjunto e cooperativo dos mesmos com o intuito <strong>de</strong><br />

obter vantagens comparativas <strong>em</strong> produtivida<strong>de</strong> e na distribuição das respectivas contri-<br />

buições e recompensas. 202 Não é, portanto, através <strong>de</strong> uma hierarquia distinta e do<br />

exercício da autorida<strong>de</strong> que os fatores se agrupam e engendram maior produtivida<strong>de</strong>. Em<br />

suas palavras (ALCHIAN e DEMSETZ, 1972, p. 773-4 - grifos no original): "Wherein,<br />

then is the relationship between a grocer and his <strong>em</strong>ployee different from that between a<br />

grocer and his customer? It is in a team use of inputs and a centralized position of some<br />

party in the contractual arrang<strong>em</strong>ents of all other inputs. It is the centralized contractual<br />

agent in a team productive process - not some superior authoritarian directive or<br />

disciplinary power."<br />

Com a mesma atenção dada por Alchian e D<strong>em</strong>setz às diferentes formas <strong>em</strong> que a<br />

informação po<strong>de</strong> fluir num <strong>de</strong>terminado arranjo contratual, PUTTERMAN (1995, p. 388-<br />

389) apresenta argumento s<strong>em</strong>elhante (com maior ênfase no aspecto informacional):<br />

"Firms represent ass<strong>em</strong>bled coalitions of inter-specialized input suppliers who, in part by<br />

sharing refined and continuously generated information about their mutually advantageous<br />

combination, cooperatively generate quasi-rents above their outsi<strong>de</strong> opportunity earnings".<br />

De asserções nesses mol<strong>de</strong>s veio a <strong>de</strong>signação da firma como um "nexo <strong>de</strong> contratos," 203<br />

202 O argumento <strong>de</strong> Alchian e D<strong>em</strong>setz é levado ao extr<strong>em</strong>o por FAMA (1980, p. 303-304),<br />

como sugere MÉNARD (1995, p. 162 e 169, e sua nota <strong>de</strong> rodapé 17), para qu<strong>em</strong> as firmas "não<br />

exist<strong>em</strong>" (o que existe são unida<strong>de</strong>s tecnológicas <strong>de</strong> produção), a não ser como meras "entida<strong>de</strong>s<br />

legais" ou "ficções" para os propósitos da ciência econômica.<br />

203 Embora a expressão venha dos trabalhos <strong>de</strong> Eugene FAMA (1980, p. 303: "[...] the set of<br />

contracts called a firm") e JENSEN e MECKLING (1976, p. 321 - grifos no original: "[...] most<br />

organizations are simply legal fictions which serve as a nexus for a set of contracting relationships<br />

among individuals. This inclu<strong>de</strong> firms [...]"), como rel<strong>em</strong>bra MÉNARD (1995, p. 171 e 176),<br />

acredito ser apropriado para sintetizar também os argumentos <strong>de</strong> Alchian e D<strong>em</strong>setz, como o<br />

próprio DEMSETZ (1988, p. 169) admite: "The firm properly viewed is a 'nexus' of contracts".<br />

Vale notar que JENSEN e MECKLING (i<strong>de</strong>m, p. 320-321) acham tal visão das relações contratuais<br />

muito restrita: "We sympathize with the importance they attach to monitoring, but we believe the<br />

<strong>em</strong>phasis which Alchian-D<strong>em</strong>setz place on joint input production is too narrow and therefore<br />

misleading. Contractual relations are the essence of the firm, not only with <strong>em</strong>ployees but with<br />

suppliers, customers, creditors, etc. The probl<strong>em</strong> of agency costs and monitoring exist for all of<br />

these contracts, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt of whether there is joint production in their sense; i.e., joint production<br />

can explain only a small fraction of the behavior of individuals associated with a firm".<br />

113


don<strong>de</strong> <strong>de</strong>corre a ótica não muito intuitiva que qualquer <strong>em</strong>pregado po<strong>de</strong> a qualquer mo-<br />

mento "<strong>de</strong>mitir seu chefe." Em reforço ao argumento apresentado, l<strong>em</strong>os ainda (i<strong>de</strong>m, p.<br />

783-4):<br />

The <strong>em</strong>ployee 'or<strong>de</strong>rs' the owner of the team to pay him money in the same sense<br />

that the <strong>em</strong>ployer directs the team m<strong>em</strong>ber to perform certain acts. The <strong>em</strong>ployee<br />

can terminate the contract as readily as can the <strong>em</strong>ployer, and long-term contracts,<br />

therefore, are not an essential attribute of the firm. Nor are 'authoritarian',<br />

'dictational', or 'fiat' attributes relevant to the conception of the firm or its<br />

efficiency. [...] And it is not true that <strong>em</strong>ployees are generally <strong>em</strong>ployed on the<br />

basis of long-term contractual arrang<strong>em</strong>ents any more than on a series of short-term<br />

or in<strong>de</strong>finite length contracts.<br />

A única diferença entre mercados e firmas estaria no respectivo arranjo contratual,<br />

pois <strong>em</strong> lugar <strong>de</strong> uma multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> relações multilaterais entre os proprietários dos<br />

insumos existente nos primeiros, nestas últimas um único agente centraliza um conjunto <strong>de</strong><br />

contratos bilaterais, facilitando a organização eficiente dos respectivos insumos num<br />

processo conjunto <strong>de</strong> produção. Assim, a firma "serves as a highly specialized surrogate<br />

market" (ALCHIAN e DEMSETZ, 1972, p. 793). 204 Através da ação produtiva dos<br />

agentes, reunidos por seu interesse (maximizador) na maior produtivida<strong>de</strong> resultante do<br />

trabalho conjunto, obtém-se o equilíbrio do arranjo <strong>de</strong> contratos. Literalmente,<br />

EGGERTSSON (1990, p. 160) exprime: "The equilibrium contractual structure is an<br />

endogenous outcome of a maximizing process." On<strong>de</strong> COASE (1937, p. 336) enxerga<br />

redução dos custos <strong>de</strong> transação pela ação <strong>de</strong> uma autorida<strong>de</strong>, Alchian e D<strong>em</strong>setz vê<strong>em</strong><br />

eficiência organizacional e ganhos <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> do trabalho <strong>em</strong> equipe. Nas palavras<br />

<strong>de</strong> DEMSETZ (1988, p. 168): "The reason for firm-like production is to be found in the<br />

204 MÉNARD (1996a, p. 152) comenta novamente a visão alternativa <strong>de</strong> Alchian e D<strong>em</strong>setz:<br />

"Some economists, such as Alchian and D<strong>em</strong>setz (1972), have challenged the i<strong>de</strong>a that the<br />

'superior-subordinate relationship' is at the core of firm as a governance structure. Among new<br />

institutional economists, however, there is an increasing consensus that what distinguishes formal<br />

organizations from markets in coordinating resources and monitoring transactions is the central<br />

importance of some agents, the 'entrepreneurs' or the managers, in directing <strong>de</strong>cisions [...]."<br />

Obviamente a NEI não po<strong>de</strong> clamar originalida<strong>de</strong> pela idéia, e po<strong>de</strong>rá extrair algum benefício <strong>de</strong><br />

alguns pensadores que já propuseram com notorieda<strong>de</strong> a importância do <strong>em</strong>presário capitalista,<br />

como por ex<strong>em</strong>plo Karl MARX (1848), Thorstein VEBLEN (1904), Joseph SCHUMPETER<br />

(1912) e John M. KEYNES (1936).<br />

114


special productivity it offers in some circumstances." A Figura 4 (reproduzida <strong>de</strong><br />

RICKETTS, 1987, p. 37, nossa tradução) ajuda a visualizar o argumento.<br />

Argumentos <strong>de</strong> certa forma s<strong>em</strong>elhantes são apresentados por CHEUNG (1983) -<br />

muito b<strong>em</strong> resumidos no título <strong>de</strong> seu artigo ("The Contractual Nature of the Firm") -,<br />

também avaliando criticamente a contribuição do mesmo artigo <strong>de</strong> Coase. Para Cheung, a<br />

questão relevante a ser elaborada não é sobre os limites das firmas ou mesmo se elas<br />

po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>finidas, já que consi<strong>de</strong>ra cada indivíduo um proprietário <strong>de</strong> pelo menos um<br />

insumo - seu trabalho. Nessa ótica, todos estão sujeitos a algum tipo <strong>de</strong> contrato quando<br />

compet<strong>em</strong> ou interag<strong>em</strong> economicamente e, portanto, "The important questions are why<br />

contracts take the forms observed and what are the economic implications of different<br />

contractual and pricing arrang<strong>em</strong>ents" (i<strong>de</strong>m, p. 18). 205 Definidos como "[...] all those costs<br />

not directly incurred in the physical process of production" (CHEUNG, 1987c, p.56), os<br />

custos <strong>de</strong> transação são os divisores <strong>de</strong> mercados, já que <strong>em</strong> sua ausência não faria sentido<br />

<strong>de</strong>finir e.g. um mercado <strong>de</strong> fatores e um <strong>de</strong> produtos, pois não seria preciso nenhuma outra<br />

forma <strong>de</strong> relação econômica que não entre produtor e consumidor final. Mas <strong>em</strong> várias<br />

205 Dirigindo-se a Cheung, MÉNARD (1996b, p. 156) faz uma réplica <strong>em</strong> oposição aos<br />

arranjos contratuais como objeto <strong>de</strong> investigação (e <strong>em</strong> <strong>de</strong>fesa das estruturas <strong>de</strong> gestão): "[...] the<br />

fact that blood is found in all mammals cannot be <strong>de</strong>nied; it does not mean that monkeys and<br />

humans are all alike!"<br />

115


situações, justamente <strong>em</strong> função da abrangência do conceito, torna-se difícil separar tais<br />

mercados: por ex<strong>em</strong>plo, quando um trabalhador é pago por piece rates, estaríamos tratando<br />

<strong>de</strong> um mercado <strong>de</strong> trabalho, cuja r<strong>em</strong>uneração característica é o salário, ou <strong>de</strong> um mercado<br />

<strong>de</strong> produto final, cuja r<strong>em</strong>uneração do trabalhador parece caracterizar uma transação spot?<br />

Por isso, dizer que a firma supera o mercado ou vice-versa po<strong>de</strong> ser bastante impreciso.<br />

Assim, "[...] it is more correct to view the organizational choice as one type of contract<br />

superseding another type. In these terms, the choice of organizational arrang<strong>em</strong>ents is<br />

actually the choice of contractual arrang<strong>em</strong>ents" (ibid.). 206 Em <strong>de</strong>corrência, CHEUNG<br />

(1983, p. 3) afirma: "[...] I shall then argue that we do not exactly know what the firm is -<br />

nor is it vital to know. The word 'firm' is simply a shorthand <strong>de</strong>scription of a way to<br />

organize activities un<strong>de</strong>r contractual arrang<strong>em</strong>ents that differ from those of ordinary<br />

product markets". Em outro trabalho, Cheung prossegue com a idéia (1987b, p. 56): "With<br />

this approach [contractual arrang<strong>em</strong>ents] the size of the firm becomes in<strong>de</strong>terminate and<br />

unimportant. What are important are the choice of contracts and the costs of transacting<br />

that <strong>de</strong>termine this choice". Cheung parece seguir a mesma linha <strong>de</strong> argumentação<br />

<strong>de</strong>senvolvida por KLEIN; CRAWFORD e ALCHIAN (1978, p. 124) alguns anos antes:<br />

"Firms are [...] formed and revised in markets and the conventional sharp distinction<br />

between markets and firms may have little general analytical importance. The pertinent<br />

economic question we are faced with is, 'what kinds of contracts are used for what kinds of<br />

activities, and why'?"<br />

A partir <strong>de</strong> tal visão, DEMSETZ (1988, p. 170) chega a propor que a abordag<strong>em</strong> do<br />

nexo <strong>de</strong> contratos <strong>de</strong>ve mesmo abandonar a visão "extr<strong>em</strong>a" <strong>de</strong> Coase, ou seja, que <strong>em</strong><br />

oposição aos mercados estão as firmas: "[...] firm-like contractual arrang<strong>em</strong>ents brush<br />

asi<strong>de</strong> the question of absolutes - 'When is a nexus of contracts a firm?' - and substitute<br />

instead a question of relatives - 'When is a nexus of contracts more firm-like?'" 207 Talvez<br />

seja apenas um probl<strong>em</strong>a s<strong>em</strong>ântico, mas a expressão "firm-like" pressupõe a existência <strong>de</strong><br />

206<br />

Na mesma linha argumenta DEMSETZ (1988, p. 162).<br />

207<br />

Para MÉNARD (1995, p. 171 e também 1996a, p. 166, nota <strong>de</strong> rodapé 6), parece também<br />

ter havido por parte <strong>de</strong> DEMSETZ (1988, p. 159) alguma reconsi<strong>de</strong>ração quanto à natureza da<br />

firma - não mais o "nexo <strong>de</strong> contratos" mas uma "probl<strong>em</strong> solving institution" peculiar, on<strong>de</strong> o<br />

papel da autorida<strong>de</strong> é relevante ou central para as trajetórias seguidas por ela, ou "<strong>de</strong> on<strong>de</strong> veio" e<br />

"para on<strong>de</strong> vai". PITELIS (1993c, p. 267 e 274) também comenta a retratação <strong>de</strong> D<strong>em</strong>setz no<br />

mesmo artigo.<br />

116


um parâmetro chamado "firma", que apesar <strong>de</strong> não existir para D<strong>em</strong>setz, recebe a <strong>de</strong>finição<br />

<strong>de</strong> "nexo <strong>de</strong> contratos". Na leitura do artigo, po<strong>de</strong>-se ter a impressão <strong>de</strong> que D<strong>em</strong>setz quer<br />

dizer algo como: "olhe esse aglomerado <strong>de</strong> contratos presente numa gran<strong>de</strong> firma, com<br />

inúmeras ramificações, estas tendo variados tamanhos, formando uma figura <strong>de</strong>nsa que se<br />

ass<strong>em</strong>elha a um floco <strong>de</strong> neve ao microscópio: ele até se parece com o que alguns chamam<br />

<strong>de</strong> firma, mas por baixo <strong>de</strong> todo o <strong>em</strong>aranhado nada mais há, <strong>em</strong> essência, do que relações<br />

contratuais. E estas são a essência e única dimensão analítica relevante para explicarmos a<br />

forma do floco". Ainda mais, sua linha <strong>de</strong> raciocínio estabelece uma circularida<strong>de</strong> (também<br />

não muito intuitiva, <strong>em</strong>bora curiosa) que permitiria ao indivíduo ser uma firma, ou um<br />

nexo <strong>de</strong> contratos (DEMSETZ, 1988, p. 170-171): "[...] a person must <strong>de</strong>al with himself in<br />

a relationship that is continuous over a lifetime, and conflicts do arise between the<br />

capabilities and tastes of a person today, or in one set of circumstances, and the 'same'<br />

person tomorrow, or in a different set of circumstances". Aliás, na ótica <strong>de</strong> D<strong>em</strong>setz, a<br />

<strong>de</strong>dução lógica seria que nada é uma firma, <strong>em</strong>bora a visão do nexo <strong>de</strong> contratos <strong>de</strong>fendida<br />

exija dos agentes individuais esforços cooperativos baseados no work team, 208 ou seja,<br />

leva-nos novamente a uma interpretação nada familiar que um mesmo indivíduo possa<br />

contratar-se e conter <strong>em</strong> si mesmo uma equipe <strong>de</strong> trabalho. 209<br />

Alguns autores como Ménard e Pitelis interpretam o artigo <strong>de</strong> DEMSETZ (1988)<br />

como uma certa retratação da posição assumida anteriormente (<strong>em</strong> seu artigo com Armen<br />

Alchian, <strong>de</strong> 1972) com relação à (ir)relevância da "autorida<strong>de</strong>" no que Coase chama <strong>de</strong><br />

firma (vi<strong>de</strong> nossa nota <strong>de</strong> rodapé 209). Tal interpretação talvez se <strong>de</strong>va a dois motivos<br />

principais: os dois primeiros parágrafos do artigo, que serv<strong>em</strong> <strong>de</strong> introdução, chamam a<br />

atenção para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma "nova" discussão sobre a teoria da firma a partir<br />

<strong>de</strong> Coase, dando credibilida<strong>de</strong> a este e, portanto (<strong>em</strong> termos retóricos), justificando a<br />

importância do seu próprio trabalho. E ainda por D<strong>em</strong>setz elaborar uma distinção categó-<br />

rica para os custos <strong>de</strong> transação: o que Williamson chama <strong>de</strong> custos <strong>de</strong> transação, D<strong>em</strong>setz<br />

chama <strong>de</strong> custos <strong>de</strong> organização, no mesmo intuito <strong>de</strong> diferenciá-los dos custos <strong>de</strong><br />

208 Como fica evi<strong>de</strong>nte <strong>em</strong> DEMSETZ (1988, p. 163): "[...] the substance of the firm is<br />

reflected in the style of cooperative behavior that obtains".<br />

209 Embora D<strong>em</strong>setz consi<strong>de</strong>re a possibilida<strong>de</strong> da firma individual (numa concepção, a nosso<br />

ver, um tanto probl<strong>em</strong>ática), e assim concor<strong>de</strong> com Fourie e Pitelis (cujos argumentos foram<br />

apresentados <strong>em</strong> nossa seção 4.2), certamente não encontrariam eles pontos <strong>de</strong> contato na<br />

explicação <strong>de</strong> sua razão <strong>de</strong> existência e lógica <strong>de</strong> funcionamento.<br />

117


produção, mas submetendo-o a uma dicotomia, qual seja (p. 161-162): "[...] I use<br />

transaction cost and manag<strong>em</strong>ent cost to refer to the costs of organizing resource,<br />

respectively, across markets and within firms". Isso <strong>de</strong> alguma forma po<strong>de</strong> ser interpretado<br />

como uma admissão da existência da firma, <strong>de</strong>finitivamente distinta dos mercados (ou dos<br />

contratos spot que o caracterizariam), e, por extensão, a admissão da ótica <strong>de</strong> Coase, <strong>em</strong><br />

seu artigo <strong>de</strong> 1937, pela qual a firma se caracterizaria pelos contratos <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> longo<br />

prazo e pelas relações <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>les <strong>de</strong>rivam para a coor<strong>de</strong>nação da produção e<br />

das transações. No entanto, não parece possível enxergar tal conciliação <strong>de</strong> forma tão<br />

direta, já que D<strong>em</strong>setz, ao longo do restante do artigo, não aborda nenhuma situação ou<br />

exercita qualquer raciocínio nos quais relações <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> apareçam. Ao contrário,<br />

parece reafirmar <strong>em</strong> algumas passagens toda a lógica do nexo <strong>de</strong> contratos, voluntários,<br />

cooperativos e entre iguais, como por ex<strong>em</strong>plo na seguinte afirmação (DEMSETZ, 1988,<br />

p. 166):<br />

Consi<strong>de</strong>r the long-term contract that Coase i<strong>de</strong>ntifies with the <strong>em</strong>ployment<br />

relationship. From Coase's perspective, costly transactions lead to greater reliance<br />

on longer-term contracts. The firm hires an <strong>em</strong>ployee for a duration rather than for<br />

each day or for each instant. There is much truth to this but, in principle at least,<br />

since <strong>em</strong>ployees can quit at any instant, or be fired, we have a long-term<br />

arrang<strong>em</strong>ent only because it is in the interest of both parties to continue in<br />

association. The avoidance of costly transacting is part of the motivation for this<br />

interest, but our focus on this has led us to ignore other, possibly more important,<br />

reasons for continued association. If these other reasons exist [...], then a durable<br />

association replicating that achievable through a long-term contract would be<br />

sought even if transaction cost were zero. A series of costless transitory market<br />

negotiations would bring the same <strong>em</strong>ployers and <strong>em</strong>ployees together, so that, <strong>de</strong><br />

facto, the firm that is characterized in terms of <strong>em</strong>ployment contracts would be<br />

achieved through repeated market negotiations. 210<br />

210 Mais ainda, ao explicar os diferentes arranjos contratuais <strong>em</strong> função da alocação <strong>de</strong><br />

incentivos e melhor aproveitamento do conhecimento <strong>de</strong> cada agente (a partir <strong>de</strong> seus variados<br />

graus <strong>de</strong> volatilida<strong>de</strong> ou flexibilida<strong>de</strong>), DEMSETZ (1988, p. 167) comenta: "[...] the role of<br />

transaction cost in explaining the manner in which organization responds to these probl<strong>em</strong>s<br />

(incentive compatibility) is like the role of gravity in explaining ch<strong>em</strong>ical reactions; gravity<br />

influences ch<strong>em</strong>ical reactions, but seldom is it the key variable whose behavior importantly<br />

explains variations in the reactions observed". Talvez D<strong>em</strong>setz não recorra à mesma analogia hoje<br />

<strong>em</strong> dia, após missões espaciais prestar<strong>em</strong> serviços à elaboração <strong>de</strong> novos materiais no espaço.<br />

118


Em ALCHIAN e WOODWARD (1988 - uma resenha <strong>de</strong> "The Economic<br />

Institutions..."), o ponto <strong>de</strong> discórdia parece ter sido amenizado <strong>de</strong> forma mais<br />

contun<strong>de</strong>nte, quando os autores observam, <strong>em</strong> sua leitura <strong>de</strong> WILLIAMSON (1985), que a<br />

questão do teamwork e do "nexo <strong>de</strong> contratos" <strong>de</strong> longo prazo dificilmente aparec<strong>em</strong> <strong>em</strong><br />

separado, criando através da "transformação fundamental" o que Williamson chama <strong>de</strong><br />

especificida<strong>de</strong> <strong>de</strong> (ou idiossincrasia entre) ativos.<br />

Sendo um texto bastante favorável ao trabalho <strong>de</strong> Williamson, ALCHIAN e<br />

WOODWARD (i<strong>de</strong>m, p. 68 e 76) <strong>de</strong>stacam dois pontos que merec<strong>em</strong> maiores<br />

<strong>de</strong>senvolvimentos: o primeiro é sobre o conceito <strong>de</strong> oportunismo, que <strong>de</strong>veria ser apro-<br />

fundado com a distinção entre risco moral e holdup (<strong>em</strong>bora admitam que a literatura no<br />

trato conjunto dos conceitos seja ainda <strong>de</strong>ficiente). O termo grosseiramente traduzido<br />

resultaria <strong>em</strong> "assalto". Para o caso, holdup parece referir-se a um tipo <strong>de</strong> comportamento<br />

oportunista explicitado voluntariamente quando uma das partes se vê <strong>em</strong> condições <strong>de</strong><br />

extorquir alguma fração das quase-rendas do outro transacionante durante a vigência do<br />

contrato, <strong>de</strong>rivadas <strong>de</strong> alguma especificida<strong>de</strong> criada, ao contrário do que se esperaria com a<br />

noção geral <strong>de</strong> oportunismo - algum tipo <strong>de</strong> comportamento velado. Uma das frases que<br />

leva a essa interpretação é a que segue, quando ALCHIAN e WOODWARD (1988, p. 67)<br />

<strong>de</strong>fin<strong>em</strong> outro termo - composite quasi-rent: "[...] composite quasi-rent is the amount those<br />

other currently associated resources could att<strong>em</strong>pt to expropriate by refusing to pay or<br />

serve, that is, by holdup" (grifo nosso). 211 No entanto, Benjamin KLEIN (1980) utiliza o<br />

termo holdup <strong>de</strong> forma generalizada, sinonimizando-o com o conceito <strong>de</strong> oportunismo <strong>de</strong><br />

Williamson; isto fica aparente na seguinte passag<strong>em</strong> (p. 356-357):<br />

Given the presence of incomplete contractual arrang<strong>em</strong>ents, wealth-maximizing<br />

transactors have the ability and often the incentive to renege on the transaction by<br />

holding up the other party, in the sense of taking advantage of unspecified or<br />

unenforceable el<strong>em</strong>ents of the contractual relationship. Such behavior is, by<br />

<strong>de</strong>finition, unanticipated and not a long-run phenomenon. Oliver Williamson has<br />

211 Idéia essa que parece ter algo <strong>em</strong> comum com o que Dugger (<strong>em</strong> nossa seção 4.3)<br />

chamou <strong>de</strong> vantag<strong>em</strong> do segundo movimento - o que certamente seria negado pelo próprio <strong>em</strong><br />

razão da virulência com que critica a economia neoclássica, e mais ainda os economistas <strong>de</strong><br />

Chicago perfilados <strong>em</strong> tal corrente, como foi possível perceber <strong>em</strong> seus diversos trabalhos e nas<br />

suas participações nos <strong>de</strong>bates da AFEEMail (lista <strong>de</strong> conversação pela internet <strong>de</strong> economistas<br />

ligados à OIE).<br />

119


i<strong>de</strong>ntified and discussed this phenomenon of 'opportunistic behavior' and my recent<br />

paper [...] att<strong>em</strong>pted to make operational some of the conditions un<strong>de</strong>r which this<br />

hold-up potential is likely to be large.<br />

Dessa forma, o conceito <strong>de</strong> oportunismo parece englobar o que Williamson chamou<br />

<strong>de</strong> forma s<strong>em</strong>i-forte <strong>de</strong> comportamento egoísta - o comportamento maximizador explícito,<br />

s<strong>em</strong> qualquer cinismo, consi<strong>de</strong>rado pela teoria neoclássica. A forma forte <strong>de</strong> auto-<br />

interesse, o oportunismo, simplesmente não dispensa a presença do comportamento egoísta<br />

explícito s<strong>em</strong>pre que houver a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> barganha ou expropriação <strong>em</strong> um conflito<br />

(e.g., <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> quase-rendas não previstas, geradas ao longo da transação), ou é<br />

apenas a forma final <strong>em</strong> que se apresenta o egoísmo quando revelado. 212<br />

O segundo ponto <strong>de</strong> Alchian e Woodward é bastante peculiar, e diz respeito às<br />

instituições econômicas do capitalismo, que não se restring<strong>em</strong> às firmas, aos mercados e às<br />

relações contratuais: o tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência social entre os indivíduos que leva à criação <strong>de</strong><br />

tais entida<strong>de</strong>s gera ainda arranjos precaucionários ainda mais complexos e variados, como<br />

cooperativas, famílias, clubes sociais, joint-ventures, <strong>de</strong>ntre outros, e que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> <strong>de</strong> alguma<br />

forma ser abordados. Essa crítica parece ter sido <strong>em</strong> parte absorvida pela TCT nos anos<br />

seguintes (WILLIAMSON, 1991a) com a maior atenção prestada às formas híbridas. É<br />

interessante notar que ALCHIAN e WOODWARD (1988, p. 77) utilizam o Country Club<br />

como ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> instituição capitalista complexa e rica, tratando-o como firma coo-<br />

perativa. Admitindo nossa gran<strong>de</strong> ignorância quanto ao funcionamento <strong>de</strong> tal instituição,<br />

po<strong>de</strong>mos acreditar estar<strong>em</strong> Alchian e Woodward até corretos <strong>em</strong> tratá-la por capitalista<br />

(no sentido mais superficial possível, por ter o Country Club nascido <strong>em</strong> socieda<strong>de</strong>s<br />

capitalistas), mas não creio po<strong>de</strong>r<strong>em</strong> apropriadamente tratá-la por econômica no sentido<br />

usual <strong>de</strong> produção, circulação e distribuição <strong>de</strong> bens. A não ser <strong>de</strong>ntro da tradição do<br />

"imperialismo econômico" que circunda a Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Chicago, na tradição <strong>de</strong> Gary<br />

Backer 213 , <strong>em</strong> que fenômenos <strong>de</strong> diversas naturezas (tais como o casamento, o suicídio, a<br />

<strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> ter filhos, <strong>de</strong>ntre outros) são analisados com conceitos econômicos tradicionais.<br />

212<br />

A mesma interpretação continua sendo usada por Benjamin Klein alguns anos <strong>de</strong>pois<br />

(KLEIN, B., 1988, e.g., p. 213-214 e 223).<br />

213<br />

Uma aplicação <strong>de</strong>sta visão "imperialista" à organização familiar e sua relação com a<br />

organização do trabalho com utilização do instrumental da TCT po<strong>de</strong> ser vista <strong>em</strong> Robert POLLAK<br />

120


4.4.2 Sugestões <strong>de</strong> alianças para a TCT<br />

Por outro meio, encontramos um comment paper no Journal of Institutional and<br />

Theoretical Economics <strong>em</strong> que Paul JOSKOW (1995) escreve a respeito dos artigos da<br />

edição especial da revista voltada ao t<strong>em</strong>a "Organization and Performance of Markets".<br />

Para ele, há três vertentes teóricas principais explorando os fatores <strong>de</strong>terminantes da<br />

organização e performance dos mercados: i) a Mo<strong>de</strong>rna Organização Industrial (MOI), <strong>de</strong><br />

Jean Tirole, Richard Schmalensee e Timothy Bresnahan, trabalhando sobre os oligopólios<br />

e a teoria da competição imperfeita; ii) a dos Ambientes Institucionais, <strong>de</strong> Ronald Coase,<br />

Douglass North e Lance Davis, trabalhando sobre instituições formais e informais que<br />

regulam os direitos <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>, normas sociais, costumes, leis <strong>de</strong> contratos, política<br />

antitruste, e t<strong>em</strong>as afins; e iii) a das Estruturas <strong>de</strong> Gestão, com Oliver Williamson e<br />

também Ronald Coase, abrangendo as características transacionais e comportamentais que<br />

<strong>de</strong>fin<strong>em</strong> os limites entre firmas e mercados, relações contratuais e instituições legais ou<br />

regulatórias <strong>em</strong>ergentes nos vários conjuntos existentes <strong>de</strong> tais características, numa ótica<br />

comparativa e <strong>em</strong> função da otimização conjunta dos custos <strong>de</strong> produção e transação.<br />

Para Joskow as três vertentes, <strong>em</strong> lugar <strong>de</strong> exclu<strong>de</strong>ntes ou concorrentes, são<br />

passíveis <strong>de</strong> integração teórica, e esta traria como resultado um entendimento muito mais<br />

completo da organização e performance dos mercados. A grosso modo, a vertente das<br />

Estruturas <strong>de</strong> Gestão (que i<strong>de</strong>ntificamos com a <strong>de</strong>senvolvida diretamente a partir da TCT)<br />

<strong>de</strong>ve, <strong>em</strong> lugar da análise estático-comparativa, procurar unir-se à dinâmica que a vertente<br />

dos Ambientes Institucionais busca explicar, e ainda unir-se à abordag<strong>em</strong> mais<br />

convencional das imperfeições <strong>de</strong> mercado associadas aos poucos negociantes e da<br />

<strong>de</strong>corrente utilização <strong>de</strong> estratégias ligadas ao po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> mercado, assimetria <strong>de</strong><br />

informações e fixação <strong>de</strong> preços, <strong>de</strong>senvolvida pela vertente da MOI. Neste último caso,<br />

(1985), on<strong>de</strong> as referências bibliográficas <strong>de</strong> G. Becker são numerosas, além <strong>de</strong> conter<br />

agra<strong>de</strong>cimentos pessoais ao mesmo por comentários à elaboração do artigo.<br />

121


talvez por ser justamente a área <strong>em</strong> que se concentra seu maior interesse, 214 JOSKOW<br />

(1991, p. 80-81) alega que:<br />

People who apply transaction cost reasoning to un<strong>de</strong>rstand the reasons why real<br />

organizations <strong>em</strong>erge have too often gone to the other extr<strong>em</strong>e, finding transaction<br />

cost explanations for almost any organizational arrang<strong>em</strong>ent that appears. They<br />

frequently ignore or do not analyse syst<strong>em</strong>atically, the possibility that there may be<br />

market power motivations or market power consequences for these organizational<br />

arrang<strong>em</strong>ents as well [...].<br />

A Figura 5, a seguir (reproduzida <strong>de</strong> JOSKOW, 1995, p. 250, nossa tradução), ajuda a<br />

ilustrar tais argumentos.<br />

AZEVEDO (1996, p. 21, nota <strong>de</strong> rodapé 13), no entanto, <strong>de</strong>tecta a discordância <strong>de</strong><br />

Williamson a respeito: "[...] Williamson (1995) [...] vê na Organização Industrial um<br />

campo fértil <strong>de</strong> aplicação da ECT [<strong>Economia</strong> dos Custos <strong>de</strong> Transação] s<strong>em</strong>, no entanto, se<br />

restringir a ela". Ao que parece, Williamson admite inserir a discussão da eficiência on<strong>de</strong><br />

antes se discutia po<strong>de</strong>r, mas não o contrário, ao comentar (1991b, p. 276 - grifos no<br />

original) que "economizing is more fundamental than strategizing - or, put differently, that<br />

economy is the best strategy". Ou como o próprio Azevedo comenta sobre a NEI <strong>em</strong> geral<br />

(i<strong>de</strong>m, p. 76): "[...] NEI e po<strong>de</strong>r permaneceram como óleo e água".<br />

214 Ou pelo menos o t<strong>em</strong>a envolve alguns <strong>de</strong> seus trabalhos anteriores, feitos com o próprio<br />

Richard Schmalensee, como por ex<strong>em</strong>plo "Markets for Power", Cambridge: MIT Press, <strong>de</strong> 1983;<br />

"Incentive Regulation for Electric Utilities", publicado no Yale Journal on Regulation, volume 4,<br />

<strong>de</strong> 1986; e "The Performance of Coal Burning Electric Generating Units in the United States: 1960-<br />

1980", publicado no Journal of Applied Econometrics, volume 2, <strong>de</strong> 1987.<br />

122


Mo<strong>de</strong>rna<br />

Organização<br />

Industrial<br />

Figura 5<br />

Proposta <strong>de</strong> Joskow para Integração Teórica<br />

- Condições básicas <strong>de</strong> mercado<br />

- Número <strong>de</strong> agentes<br />

- Interações competitivas<br />

- Comportamento estratégico<br />

- Assimetria <strong>de</strong> informações<br />

- Competição imperfeita<br />

- Po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> mercado<br />

Ambiente<br />

Institucional<br />

- Direitos <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong><br />

- Leis <strong>de</strong> contrato<br />

- Anti-truste<br />

- Regulação administrada<br />

- Lei constitucional e instituições políticas<br />

Organização e<br />

Performance dos<br />

Mercados<br />

- Características dos custos <strong>de</strong> produção<br />

- Assimetria <strong>de</strong> informações<br />

- Custos <strong>de</strong> monitoramento<br />

- Oportunismo<br />

- Custos <strong>de</strong> transação<br />

- Contratos incompletos<br />

Estruturas <strong>de</strong><br />

Gestão<br />

Muito <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>bate se <strong>de</strong>senrolou, e ainda se <strong>de</strong>senrola, <strong>em</strong> torno da legislação<br />

antitruste norte-americana, que se fundamenta no que estudiosos da integração vertical (e<br />

relações verticais não usuais) ligados à Chicago School (e o próprio Williamson) se<br />

acostumaram a chamar <strong>de</strong> "tradição <strong>de</strong> inospitalida<strong>de</strong>" ou "<strong>de</strong> hostilida<strong>de</strong>", con<strong>de</strong>nando a<br />

priori aquelas relações quer pela elevação do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> mercado <strong>de</strong>las <strong>de</strong>corrente, quer pela<br />

perda <strong>de</strong> b<strong>em</strong>-estar social a elas associadas a partir do uso das ferramentas<br />

microeconômicas tradicionais. 215 A TCT, ao justificar a integração vertical e os arranjos<br />

contratuais verticais não usuais pela eficiência, está lutando por espaços na legislação<br />

existente. Talvez a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> legitimar a lógica da eficiência faça com que outros<br />

215<br />

Um relato bastante amplo da evolução da legislação antitruste norte-americana <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os<br />

anos 50 é feito por Paul JOSKOW (1991).<br />

123


fatores importantes mas já, <strong>de</strong> algum modo, exaustivamente consi<strong>de</strong>rados sejam <strong>de</strong>ixados<br />

<strong>de</strong> lado. 216<br />

Po<strong>de</strong>mos perceber, por fim, que as críticas oriundas da abordag<strong>em</strong> do "nexo <strong>de</strong><br />

contratos" tentam justamente continuar, metodologicamente falando, na esfera das<br />

escolhas individuais maximizadoras que justificam os conjuntos <strong>de</strong> acordos individuais<br />

condicionadores da ativida<strong>de</strong> econômica. Como MÉNARD (1995, p. 177-178) alega, se<br />

apenas tais consi<strong>de</strong>rações são tidas por relevantes, po<strong>de</strong>mos então ter o tradicional mo<strong>de</strong>lo<br />

<strong>de</strong> economia <strong>de</strong>scentralizada formulado por Arrow e Debreu para analisar indivíduos que<br />

escolh<strong>em</strong> livr<strong>em</strong>ente o que comercializar e <strong>de</strong> que forma, <strong>em</strong> função da maximização <strong>de</strong><br />

seus interesses próprios que, negociados s<strong>em</strong> restrições, satisfaz<strong>em</strong> os interesses mútuos<br />

<strong>em</strong> condições <strong>de</strong> otimalida<strong>de</strong>. Po<strong>de</strong>mos salientar que uma divergência apenas restaria, no<br />

aspecto informacional, que não foi comentado por Ménard: se há distribuição assimétrica<br />

das informações, não estamos no mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>scentralizado perfeito <strong>de</strong> Arrow e Debreu, mas<br />

se a solução adotada é a ótica dos custos das informações (e não da incerteza ou da<br />

racionalida<strong>de</strong> limitada), passamos a ter um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> otimização com uma restrição,<br />

bastante familiar à ortodoxia. Ainda mais: apesar da relevância dos contratos (e por isso a<br />

importância da abordag<strong>em</strong> do nexo <strong>de</strong> contratos ao evi<strong>de</strong>nciar o papel dos direitos <strong>de</strong><br />

proprieda<strong>de</strong>), não são eles o único el<strong>em</strong>ento explicativo das estruturas econômicas.<br />

Ménard argumenta que os processos inovativos, por ex<strong>em</strong>plo, corr<strong>em</strong> muitas vezes por<br />

fora <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos contratuais e assim também o faz<strong>em</strong> os próprios reflexos <strong>de</strong> tais<br />

processos sobre o ambiente institucional. Dessa forma (parcialmente <strong>em</strong> paralelo com<br />

Joskow), Ménard alega que a constituição e evolução do ambiente institucional precisam<br />

ser consi<strong>de</strong>radas, até porque exerc<strong>em</strong> forte efeito sobre a própria natureza dos contratos.<br />

Em resumo, as críticas da abordag<strong>em</strong> do nexo <strong>de</strong> contratos à TCT parec<strong>em</strong> tentar<br />

não <strong>de</strong>ixá-la fugir do núcleo rígido da teoria neoclássica ou segurá-la <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> seu<br />

cinturão <strong>de</strong> proteção, reafirmando que o estudo dos arranjos institucionais <strong>de</strong>ve se resumir<br />

ao <strong>de</strong> arranjos contratuais. Isso resulta <strong>em</strong> insistir: i) no individualismo metodológico <strong>em</strong><br />

contraposição a consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> comportamento coletivo; ii) na noção <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as e<br />

custos informacionais <strong>em</strong> contraposição a consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> incerteza (knightiana); iii) no<br />

216 Tal recurso, afinal, é arrogado por Williamson para a ênfase na economização (vi<strong>de</strong> nossa<br />

seção 3.1) e por Ménard para a ênfase da análise nos custos <strong>de</strong> transação (vi<strong>de</strong> nossa nota <strong>de</strong> rodapé<br />

124


comportamento maximizador tradicional <strong>de</strong>rivado da racionalida<strong>de</strong> substantiva, s<strong>em</strong><br />

sequer tocar <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> racionalida<strong>de</strong> limitada; iv) na <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong><br />

relações assimétricas involuntárias ou endógenas entre os agentes, <strong>em</strong> contraposição a<br />

consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> e hierarquia (e <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, ainda que bastante obscuras); e v) na<br />

manutenção do pressuposto do equilíbrio dos arranjos contratuais (<strong>em</strong> contraposição a um<br />

certo silêncio da TCT com respeito ao assunto). Nesse aspecto, até mesmo a proposição <strong>de</strong><br />

Joskow para que a "vertente das Estruturas <strong>de</strong> Gestão" se integre à MOI é uma forma <strong>de</strong><br />

não <strong>de</strong>ixar que a TCT se afaste do método neoclássico, quando comenta que o foco <strong>de</strong><br />

pesquisa da MOI é "[...] working out what the equilibria look like in markets with<br />

alternative sets of basic economic and market conditions. The attributes of these equilibria<br />

are then typically compared to the 'first best' that could be achieved by a hypothetical<br />

perfectly competitive market with complete contracts and no information asymmetries"<br />

(JOSKOW, 1995, p. 250).<br />

122).<br />

125


5 CONCLUSÕES<br />

A idéia <strong>de</strong> custos <strong>de</strong> transação parece ter conseguido um lugar ao sol na análise<br />

econômica, para a satisfação <strong>de</strong> Coase. E a TCT t<strong>em</strong> sido b<strong>em</strong> recebida <strong>em</strong> várias vertentes<br />

do pensamento econômico, muito <strong>em</strong>bora não <strong>de</strong> forma pura ou integral, como certamente<br />

<strong>de</strong>sejaria Williamson. Alguns autores (como GROENEWEGEN e VROMEN, 1996, p.<br />

365) comentam mesmo que a TCT t<strong>em</strong> se tornado a ortodoxia <strong>de</strong>ntre novas abordagens da<br />

firma que têm <strong>em</strong> comum a superação do marginalismo, ou da visão da firma como uma<br />

função <strong>de</strong> produção.<br />

Enquanto algumas linhas vê<strong>em</strong> a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> integrar a TCT como caso<br />

particular <strong>de</strong> suas estruturas teóricas, a própria TCT parece ter a maleabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> absorver<br />

vários casos particulares <strong>de</strong> outras linhas. Por vezes, <strong>de</strong> forma pessimista, se t<strong>em</strong> a<br />

impressão <strong>de</strong> que o raciocínio da TCT está <strong>em</strong> todo e <strong>em</strong> nenhum lugar ao mesmo t<strong>em</strong>po.<br />

DIETRICH (1994, p. ix) <strong>de</strong> certa forma traduz tal sentimento ao dizer que sentia-se<br />

assustado pelas imensas dificulda<strong>de</strong>s <strong>em</strong> enxergar o que a TCT não podia explicar! Isso<br />

t<strong>em</strong> dado marg<strong>em</strong> tanto a grupos aparent<strong>em</strong>ente um tanto fanáticos, que faz<strong>em</strong> da TCT um<br />

arsenal com características <strong>de</strong> todo-po<strong>de</strong>roso para a explicação <strong>de</strong> fenômenos <strong>de</strong> mais<br />

variadas naturezas, quanto a grupos <strong>de</strong> pensadores completamente céticos diante <strong>de</strong> tal<br />

euforia. Tal ceticismo v<strong>em</strong> <strong>de</strong> alguns autores neoclássicos tanto quanto <strong>de</strong> marxistas ou<br />

institucionalistas, por ex<strong>em</strong>plo, os quais, <strong>em</strong> termos gerais, part<strong>em</strong> <strong>de</strong> uma visão monística<br />

das teorias econômicas, como apresentam GROENEWEGEN e VROMEN (1996, p. 370-<br />

371). Ou seja, acreditam que só <strong>de</strong>ve haver uma, e verda<strong>de</strong>ira, teoria para um conjunto <strong>de</strong><br />

fenômenos e esta já está estabelecida pela corrente teórica da qual participam. Infelizmente<br />

tal posição resulta muitas vezes <strong>em</strong> isolamento e simples indiferença a novas idéias fora <strong>de</strong><br />

seu campo metodológico ou <strong>de</strong> interesse, não sendo capaz <strong>de</strong> suscitar sequer um <strong>de</strong>bate<br />

salutar (ou, quando muito, fugaz), como dito por GLACHANT (1997).<br />

Embora tal posicionamento tenha sido percebido ao longo da pesquisa - e obvia-<br />

mente não tenha sido possível incorporá-lo -, não foi <strong>de</strong> longe o predominante. O que pô<strong>de</strong><br />

ser percebido, ao contrário, foi que por outras vezes, <strong>de</strong> forma otimista, se imagina que a<br />

TCT po<strong>de</strong> vir a ser uma espécie <strong>de</strong> amálgama, conseguindo ligar e cobrir os espaços<br />

126


disformes que separam abordagens até então imiscíveis. Nessa visão, aproximamo-nos do<br />

que GROENEWEGEN e VROMEM (1996) tratam por "pluralismo teórico". Ao contrário<br />

da visão monística, a visão pluralista admite a combinação ou co-existência <strong>de</strong> teorias não<br />

conciliáveis, obviamente quando não contraditórias. HODGSON (1996, p. 254) também<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> uma mudança <strong>de</strong> explicações singulares para outras pluralistas, quando o<br />

fenômeno a ser estudado t<strong>em</strong> significativa complexida<strong>de</strong> - o que é o caso da firma.<br />

Também KŒNIG (1993) adverte para os probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> teorias monocausais: estarão<br />

s<strong>em</strong>pre sendo contestadas, quer por outras explicações monocausais, quer por explicações<br />

pluricausais; e ainda estão s<strong>em</strong>pre expostas a falácias e reificação <strong>de</strong> conceitos ou<br />

princípios. O próprio Williamson não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> l<strong>em</strong>brar que a abordag<strong>em</strong> da TCT é poten-<br />

cialmente enriquecida <strong>em</strong> po<strong>de</strong>r exploratório ao combinar-se com outras abordagens<br />

(obviamente, no espectro da não-contraditorieda<strong>de</strong>). Williamson também alega que a TCT<br />

t<strong>em</strong> potencialmente muito <strong>de</strong> compl<strong>em</strong>entar com a teoria neoclássica - mas não é nesse<br />

ponto que recai nosso interesse. Como argumentado <strong>em</strong> nossa seção 4.4, a manutenção do<br />

núcleo rígido neoclássico e a tentativa <strong>de</strong> utilizar a TCT para fortificar seu cinturão <strong>de</strong><br />

proteção (caracterizando a chamada "cheia do mainstream") sinalizam um potencial <strong>de</strong><br />

progresso, no sentido lakatosiano do termo, bastante inferior ao que parece sinalizar o<br />

abandono do núcleo rígido neoclássico, mesmo que ainda parcialmente, se tomarmos por<br />

parâmetro a controvérsia marginalista. A TCT <strong>em</strong> si encampa um rol muito maior <strong>de</strong><br />

"novos fatos" passíveis <strong>de</strong> tratamento do que a "abordag<strong>em</strong> da teoria dos preços aplicada",<br />

como indicam GROENEWEGEN e VROMEN (1996, p. 376), e uma relação pluralista<br />

com outras correntes não ortodoxas parece promissora <strong>em</strong> encampar ainda mais.<br />

É a partir <strong>de</strong>sse ponto que <strong>de</strong>stacamos o interesse da heterodoxia econômica pela<br />

abordag<strong>em</strong> da TCT, com a promoção <strong>de</strong> diálogos recorrentes e proveitosos, como a maior<br />

parte dos apresentados <strong>em</strong> nossas seções 4.1, 4.2 e 4.3. Também tentamos <strong>de</strong>stacar as<br />

interseções <strong>de</strong> suas críticas para lançar luzes sobre uma agenda <strong>de</strong> pesquisa pluralista. Até<br />

quando, com alguma reserva, a TCT consegue <strong>de</strong> economistas heterodoxos a mínima<br />

tolerância ou mesmo indignação, o <strong>de</strong>bate acadêmico é diss<strong>em</strong>inado e consegue levantar<br />

"brigas" saudáveis. Talvez parte disso se <strong>de</strong>va ao que parece ser uma crescente simpatia<br />

entre diversos programas <strong>de</strong> pesquisa críticos ao mainstream neoclássico <strong>em</strong> tentar<br />

enfatizar suas s<strong>em</strong>elhanças e sobre elas trabalhar<strong>em</strong>, como sugere FERNÁNDEZ (1996a,<br />

p. 159 e 1996b), e a TCT tenha sido i<strong>de</strong>ntificada parcialmente ou potencialmente como<br />

127


parte <strong>de</strong>sse grupo, ao menos por parecer estar preocupada <strong>em</strong> firmar componentes teóricos<br />

comportamentais e ambientais mais próximos da realida<strong>de</strong> e situados fora do núcleo da<br />

teoria neoclássica, colocando-se à frente da controvérsia marginalista.<br />

Um t<strong>em</strong>a bastante recorrente nas críticas heterodoxas à TCT é o seu uso da estática<br />

comparativa. Autores como Nooteboom, Pondé, Langlois, N. Foss, Dietrich, Pitelis,<br />

Hodgson e Knoedler, <strong>de</strong>ntre outros, <strong>de</strong>stacam a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se adotar uma perspectiva<br />

dinâmica para explicação <strong>de</strong> processos <strong>de</strong> mudança. Disso <strong>de</strong>rivam dois outros t<strong>em</strong>as<br />

discutidos com freqüência, quais sejam, as questões do aprendizado e do po<strong>de</strong>r, bastante<br />

negligenciadas pela TCT. Uma visão pluralista <strong>de</strong> compl<strong>em</strong>entação teórica, no entanto, é<br />

possível, como suger<strong>em</strong> GROENEWEGEN e VROMEN (1996, p. 372-374). Em seu<br />

artigo, rel<strong>em</strong>bram que Williamson <strong>em</strong> várias ocasiões sugere que a TCT t<strong>em</strong> vasta<br />

aplicação <strong>em</strong> mercados <strong>de</strong> produtos intermediários e no mercado <strong>de</strong> capitais, on<strong>de</strong><br />

prevalece a simetria <strong>de</strong> informações, e parece menos exitoso <strong>em</strong> situações <strong>de</strong> assimetria <strong>de</strong><br />

informações, como no mercado <strong>de</strong> trabalho e no <strong>de</strong> produtos finais - on<strong>de</strong> haveria espaço<br />

apropriado para uma abordag<strong>em</strong> <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. Também <strong>em</strong> mercados on<strong>de</strong> as condições <strong>de</strong><br />

competição (e contestabilida<strong>de</strong>) são acirradas, a motivação da minimização dos custos <strong>de</strong><br />

transação t<strong>em</strong> forte aplicabilida<strong>de</strong> e é capaz <strong>de</strong> garantir um processo <strong>de</strong> seleção (<strong>em</strong>bora no<br />

sentido "fraco") mais vigoroso das estruturas <strong>de</strong> gestão. Uma outra questão apresentada por<br />

Hodgson e Nooteboom refere-se à importância das mudanças tecnológicas e dos regimes<br />

inovativos para a teoria das firmas, o que clama por consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> aprendizado e<br />

formação <strong>de</strong> competências, l<strong>em</strong>brando que WILLIAMSON (1985, p. 143) admite ser o<br />

t<strong>em</strong>a um complicador relevante para a análise das organizações (ao qual não se dispõe a<br />

<strong>de</strong>strinchar, ao <strong>de</strong>dicar pouco mais <strong>de</strong> uma página com conteúdo um tanto evasivo para o<br />

assunto, num livro <strong>de</strong> 450).<br />

Qual seria a perspectiva pluralista diante <strong>de</strong> tais evidências? Como o próprio<br />

Hodgson sugere, a abordag<strong>em</strong> estática da TCT po<strong>de</strong> sim ter alguma relevância nas<br />

situações <strong>de</strong>stacadas por Williamson, ou mesmo na questão da orig<strong>em</strong> da firma, mas pouco<br />

se apropria à questão da evolução das mesmas, a não ser para mudanças <strong>em</strong> ambientes <strong>de</strong><br />

tranqüilida<strong>de</strong> tecnológica (como suscitou Britto). Em casos <strong>de</strong> regimes inovativos intensos,<br />

a teoria evolucionista das competências e do aprendizado seria a estrutura <strong>de</strong> análise mais<br />

apropriada.<br />

128


Uma vez consi<strong>de</strong>rado o aspecto dinâmico ou processual, as questões <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

mercado também precisam ser tratadas com maior atenção. Nesse caso, a forma <strong>de</strong><br />

compatibilização é simples e intuitiva, requerendo apenas que se abandone a monocausali-<br />

da<strong>de</strong> e sua conseqüente excludibilida<strong>de</strong> mútua para que se adote uma perspectiva <strong>de</strong> co-<br />

<strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e eficiência, como ressaltaram Pitelis e Knoedler (esta citando o<br />

próprio Veblen). A proposição acomodaria parcialmente a discussão entre Williamson e<br />

Marglin, o que, no entanto, evi<strong>de</strong>ncia o maior <strong>de</strong>safio a ser superado: classificar ou<br />

explicitar as condições <strong>em</strong> que cada uma das variáveis <strong>de</strong>ve ser esperada como dominante.<br />

Para o caso do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> mercado, há pelo menos uma tradição da Organização Industrial a<br />

servir como parâmetro, como o próprio Joskow comenta. Já para o caso do po<strong>de</strong>r<br />

hierárquico, as melhores pistas parec<strong>em</strong> estar na sociologia, como ressaltou Pitelis.<br />

Com a consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> aspectos do po<strong>de</strong>r, o critério <strong>de</strong> seleção natural "fraco" com<br />

base na eficiência sugerido por Williamson <strong>de</strong>ve ser, na melhor das hipóteses, severamente<br />

revisto, <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> lado sua proposição geral e ad hoc <strong>em</strong> que "5 ou 10 anos" são<br />

suficientes para escolher as estruturas <strong>de</strong> gestão mais eficientes ou para promover os<br />

ajustes e redirecionar as <strong>de</strong>cisões equivocadas - o que chamou <strong>de</strong> "r<strong>em</strong>ediabilida<strong>de</strong>". A<br />

mais superficial concessão a ser feita é a que admite a sobrevivência <strong>de</strong> estruturas<br />

ineficientes <strong>em</strong> condições <strong>de</strong> ausência <strong>de</strong> competição ou contestabilida<strong>de</strong> intensas. Como<br />

proposto por Dosi, um próximo passo seria a adoção <strong>de</strong> critérios co-evolucionários, ou<br />

evolução multi<strong>de</strong>terminada, tornando o processo mais complexo e acomodando mais<br />

facilmente as noções <strong>de</strong> inércia, path <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncy e lock in. O próprio WILLIAMSON<br />

(1996a, p. 240) admite a existência, e os respectivos efeitos, <strong>de</strong> path <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncies, menos<br />

tecnológicas e mais organizacionais, <strong>em</strong>bora continue insistindo na intencionalida<strong>de</strong> e<br />

reflexivida<strong>de</strong> dos agentes nos processos <strong>de</strong> mudança, <strong>em</strong> direção a formas eficientes.<br />

Hodgson, Knoedler e Miller suger<strong>em</strong> ainda mais, que a partir <strong>de</strong> vários critérios <strong>de</strong><br />

evolução se torne evi<strong>de</strong>nte a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seleção artificial <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s evolutivas, ou<br />

mesmo <strong>de</strong> processos lamarckianos.<br />

As críticas direcionadas aos atributos humanos também têm pontos <strong>de</strong> contato entre<br />

as correntes não ortodoxas. A ênfase da TCT na eficiência, por ex<strong>em</strong>plo, acaba <strong>de</strong>ixando<br />

um tanto implícito a complacência com comportamentos maximizadores (ou<br />

minimizadores), conquanto Williamson não admita o comportamento <strong>de</strong> satisficing. Isso<br />

129


não se compatibiliza com o suposto <strong>de</strong> racionalida<strong>de</strong> limitada <strong>de</strong> Simon - que <strong>de</strong>veria,<br />

então, ser adotado enfaticamente, como suscitam, por ex<strong>em</strong>plo, Dietrich, Hodgson,<br />

Groenewegen e Vromen.<br />

Um outro probl<strong>em</strong>a apontado é o da centralida<strong>de</strong> do oportunismo na TCT. Dietrich<br />

tenta mostrar que mesmo na ausência do oportunismo, os probl<strong>em</strong>as alegados por<br />

Williamson para adotá-lo tão centralmente <strong>em</strong> sua abordag<strong>em</strong> po<strong>de</strong>rão continuar<br />

acontecendo. Em tal situação, a incerteza, a mera diversida<strong>de</strong> cognitiva ou mesmo o<br />

altruísmo po<strong>de</strong>rão, diante <strong>de</strong> contingências, levar ao rompimento contratual ou a uma<br />

situação <strong>de</strong> ineficiência. Moschandreas tenta mostrar, então, quantos outros fatores<br />

comportamentais, ligados à cultura <strong>de</strong> um modo geral, po<strong>de</strong>m afetar a elaboração <strong>de</strong> um<br />

contrato ou a execução <strong>de</strong> uma transação, <strong>de</strong>ntre eles a lealda<strong>de</strong> ou confiança. E é sobre<br />

esse aspecto que Noor<strong>de</strong>rhaven constrói um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> "núcleo compartilhado" entre<br />

oportunismo e confiança, tentando estipular as condições <strong>em</strong> que cada um prevalece nas<br />

relações entre os agentes. Ou seja, não seria o caso <strong>de</strong> banir o oportunismo da análise,<br />

negando sua importância - o que, a propósito, Williamson v<strong>em</strong> fazendo com as <strong>de</strong>mais<br />

manifestações do caráter humano que não o oportunismo - mas sim <strong>de</strong> absorver para a<br />

análise outras características fortes que têm encontrado evidência <strong>em</strong>pírica, como é o caso<br />

da confiança. Particularmente, acreditamos que o conceito <strong>de</strong> "transformação fundamental"<br />

<strong>de</strong> Williamson <strong>de</strong>ixa uma porta entreaberta tanto para consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> aprendizado<br />

quanto para observar a construção <strong>de</strong> relações com características outras que não as<br />

oportunistas, das quais faz<strong>em</strong> parte as relações <strong>de</strong> confiança, b<strong>em</strong> como aquelas sugeridas<br />

por Simon <strong>de</strong> docilida<strong>de</strong> e i<strong>de</strong>ntificação do indivíduo com o coletivo.<br />

Embora essa nossa síntese conclusiva, como antecipadamente previsto, não corres-<br />

ponda à síntese não reducionista a qual nos referimos na primeira parte <strong>de</strong>ste trabalho,<br />

acreditamos representar um apontamento que engatinha <strong>em</strong> tal direção, como havíamos<br />

proposto <strong>de</strong>senvolver - pelo menos num espectro pluralista <strong>de</strong>ntro da ciência econômica.<br />

As questões <strong>de</strong> interdisciplinarida<strong>de</strong>, muitas vezes levantadas pelo próprio Williamson,<br />

<strong>de</strong>ntre outros, obviamente situam-se ainda muito além <strong>de</strong>sta mo<strong>de</strong>sta pesquisa.<br />

Por fim, sendo recorrentes as críticas referentes às inconsistências internas da TCT<br />

por parte das correntes heterodoxas, b<strong>em</strong> como por parte do próprio mainstream<br />

neoclássico, por que então não optam por ignorá-la? Diante <strong>de</strong> seu potencial explanatório<br />

130


abrangente, mas <strong>de</strong> difícil ou "quase impossível" (nas palavras <strong>de</strong> Williamson) operacio-<br />

nalização ou comprovação <strong>em</strong>pírica, por que não apenas r<strong>em</strong>etê-la ao ostracismo do rol <strong>de</strong><br />

teorias não falseáveis? Talvez o esforço <strong>de</strong> Williamson pela legitimação da TCT esteja<br />

resultando numa forma híbrida, <strong>em</strong> termos retóricos ou epist<strong>em</strong>ológicos, que tenta apoiar-<br />

se <strong>em</strong> contatos com as fronteiras teóricas <strong>de</strong> diferentes correntes. Talvez os próprios<br />

limites dos núcleos rígidos ou dos cinturões <strong>de</strong> proteção <strong>de</strong> tais linhas teóricas estejam se<br />

alterando, como po<strong>de</strong>ria perceber nosso visitante marciano. Po<strong>de</strong>-se imaginar, inclusive,<br />

que as próprias ambigüida<strong>de</strong>s da TCT têm criado condições para algum tipo <strong>de</strong> comporta-<br />

mento oportunista no campo teórico, à revelia ou <strong>em</strong> seu próprio benefício, qu<strong>em</strong> sabe?<br />

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