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Por exemplo, em 1907, e sob a sugestão 'do poeta William Butler Yeats, um<br />
sábio religioso e antropólogo da UCLA chamado W. Y. Evans-Wentz<br />
embarcou numa viagem de dois anos para a Irlanda, Escócia, Gales, Cornualha<br />
e Bretanha para entrevistar pessoas que supostamente encontraram fadas e<br />
outros seres sobrenaturais. Evans-Wentz empreendeu o projeto porque Yeats<br />
disse a ele que à, medida que os valores do século 20 substituíam as velhas<br />
crenças, encontros com fadas estavam se tornando menos freqüentes, sendo<br />
necessário documentá-los antes que a tradição se perdesse completamente.<br />
Enquanto ia de aldeia em aldeia entrevistando os velhos robustos da fé,<br />
Evans-Wentz descobriu que nem todas as fadas que as pessoas encontravam<br />
nos vales profundos e nas campinas salpicadas de luar eram pequenas. Algumas<br />
eram altas e pareciam seres humanos normais, apesar de serem luminosos e<br />
translúcidos, e tinham o curioso hábito de usar roupas de períodos históricos<br />
primitivos.<br />
Além do mais, essas "fadas" muitas vezes apareciam nas ruínas<br />
arqueológicas ou em volta delas — colinas de sepultamento, pedras verticais,<br />
fortalezas esmigalhadas do século 6 e assim por diante — e participavam das<br />
atividades associadas aos tempos passados. Evans-Wentz entrevistou<br />
testemunhas que viram fadas que se pareciam com homens, com roupas<br />
elisabetanas, ocupados na caça, fadas que caminhavam cm procissões<br />
fantasmáticas para lá c para cá nas ruínas dos velhos fortes, e fadas que<br />
tocavam sinos enquanto estavam nas ruínas de igrejas antigas. Uma atividade à<br />
que as fadas pareciam excessivamente aficionadas era a promoção de brigas.<br />
Em seu livro A Fé nas Fadas em Países Celtas, Evans-Wentz apresenta o<br />
testemunho de inúmeros indivíduos que alegaram ver estes conflitos de<br />
espectros, campinas iluminadas pela lua repletas de homens lutando em armadura<br />
medieval ou pântanos desolados cobertos com soldados em uniformes<br />
coloridos. Algumas vezes estes combates eram misteriosamente silenciosos;<br />
algumas vezes eram muito estrondosos; e, talvez o mais assombroso de tudo,<br />
algumas vezes podiam ser ouvidos mas não vistos.<br />
A partir disto, Evans-Wentz concluiu que pelo menos alguns dos<br />
fenômenos que suas testemunhas estavam interpretando como fadas talvez<br />
fossem na realidade algum tipo de pós-imagem dos eventos que aconteceram<br />
no passado. "A própria natureza tem uma memória", ele teoriza. "Existe algum<br />
elemento sensitivo indefinível na atmosfera da terra sobre o qual todas as ações<br />
físicas e humanas ou fenômenos estão fotografados ou gravados. Sob certas<br />
condições inexplicáveis, as pessoas normais que não são videntes podem<br />
observar os registros mentais da natureza como imagens projetadas numa tela<br />
— muitas vezes como filmes cinematográficos." 14<br />
Quanto à razão dos encontros com fadas terem se tornado menos<br />
freqüentes, uma observação feita por um dos entrevistados de Evans-Wentz<br />
fornece um indício. O entrevistado era um senhor idoso chamado John Davies,<br />
que morava na ilha do Homem e que, depois de descrever inúmeras visões de<br />
pessoas boas, afirmou: "Antes do ensino entrar na ilha, mais pessoas podiam<br />
ver as fadas; agora muito poucas pessoas podem vê-las". 15 Desde que a<br />
"educação" sem dúvida inclui um anátcma contra acreditar em fadas, a<br />
observação de Davies sugere que foi uma mudança na atitude que fez com que<br />
difundidas capacidades retrocognitivas do povo Manx atrofiassem. Uma vez<br />
mais, isto salienta o imenso poder que nossas crenças têm em determinar quais<br />
dos nossos potenciais manifestamos e quais não.<br />
Mas, se nossas crenças nos permitem ver estes filmes semelhantes a<br />
hologramas do passado ou fazer nosso cérebro censurá-los, a evidência sugere<br />
que, entretanto, eles existem. Nem estas experiências estão limitadas aos países<br />
celtas. Existem relatos de testemunhas que viram soldados fantasmas com<br />
trajes hindus antigos na índia. 16 No Havaí, estas demonstrações fantasmáticas<br />
são famosas e os livros nas ilhas estão cheios de relatos de indivíduos que<br />
viram procissões de fantasmas havaianos com capacetes de penas marchando<br />
junto com porretes de guerra e tochas. 17 Visões de exércitos espectrais lutando<br />
em batalhas igualmente fantasmáticas são mencionados até em antigos textos<br />
assírios. 18<br />
De vez em quando, os historiadores são capazes de reconhecer o evento<br />
acontecendo de novo. Às 2 da manhã de 4 de agosto de 1951, duas mulheres<br />
inglesas em férias na aldeia à beira-mar de Puys, França, foram acordadas pelo<br />
som de armas de fogo. Correram até a janela mas ficaram chocadas ao<br />
descobrir que a aldeia e o mar mais adiante estavam calmos e livres de qualquer<br />
atividade que pudesse responder pelo que tinham ouvido. A Sociedade<br />
Britânica de Pesquisa Sensitiva investigou e descobriu que a cronologia dos<br />
eventos das mulheres espelhava exatamente registros militares de uma invasão<br />
que os aliados fizeram contra os alemães em Puys, em 19 de agosto de 1942.<br />
As mulheres, parece, tinham ouvido o som de uma matança que tinha<br />
acontecido 9 anos antes. 19<br />
Apesar de que a intensidade obscura de tais eventos dá a eles um perfil<br />
superior na paisagem holográfica, não devemos esquecer que contido dentro do<br />
penumbroso registro holográfico do passado estão todas as alegrias da espécie<br />
humana também. É, em essência, uma biblioteca de tudo que já foi, e aprender<br />
a ter acesso a este tesouro infinito e deslumbrante numa escala mais maciça e<br />
sislcmnlica poderia expandir nosso conhecimento lauto de nós mesmos como<br />
do universo, de maneiras que ainda não ousamos sonhar. Poderá chegar o dia<br />
em que poderemos manipular a realidade como o cristal da analogia de Bohm,<br />
fazendo o que é real e o que é invisível mudar caleidoscopicamente, evocando<br />
imagens do passado com a mesma facilidade com que agora evocamos um<br />
programa em nosso computador. Mas mesmo isso não é tudo que um<br />
entendimento mais holográfico do tempo pode oferecer.