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incidentes sugerem que a realidade é, num sentido muito real, um holograma,<br />
um constructo.<br />
A questão vem a ser: é um holograma relativamente estável durante<br />
longos períodos de tempo e sujeito apenas a alterações mínimas pela<br />
consciência, como Bohm sugere? Ou é um holograma que apenas parece<br />
estável, mas sob circunstâncias especiais pode ser mudado e reformado de<br />
maneiras virtualmente ilimitadas, como a evidência do miraculoso sugere?<br />
Alguns pesquisadores que adotaram a idéia holográfica acreditam que o último<br />
é o caso. Por exemplo, Grof não só leva a sério a materialização e outros<br />
fenômenos paranormais, mas acha que a realidade é na verdade construída de<br />
nuvens e dócil à autoridade sutil da consciência. "O mundo não é<br />
necessariamente tão sólido como o percebemos", ele diz. 64<br />
O físico William Tiller, chefe do Departamento de Ciências Materiais na<br />
Universidade de Stanford e outro defensor da idéia holográfica, concorda.<br />
Tiller acha que a realidade é semelhante ao holodeck no show de televisão<br />
Jornada nas Estrelas: A Próxima Geração. Na série, o holodeck é um ambiente<br />
no qual os ocupantes podem evocar uma simulação holográfica de literalmente<br />
qualquer realidade que desejem, uma viçosa floresta, uma agitada cidade. Eles<br />
também podem mudar cada simulação do modo que quiserem, tal como fazer<br />
uma lâmpada se materializar ou fazer uma mesa indesejada desaparecer. Tiller<br />
acha que o universo também é um tipo de holodeck criado pela "integração" de<br />
todas as coisas vivas. "Nós o criamos como um veículo de experiência e<br />
criamos as leis que o governam", ele declara. "E, quando obtemos as fronteiras<br />
do nosso entendimento, podemos de fato mudar as leis de forma que também<br />
estamos criando a física a medida que prosseguimos." 65<br />
Se Tiller está certo e o universo é um holodeck enorme, a capacidade de<br />
materializar um anel de ouro ou fazer um bosque de árvores kenari aparecer e<br />
desaparecer não é mais tão estranha. Mesmo o incidente do guarda-chuva pode<br />
ser visto como uma aberração temporária na simulação holográfica que<br />
chamamos de realidade comum. Embora minha professora e eu não<br />
estivéssemos cientes de que possuíamos uma tal capacidade, pode ser que o<br />
fervor emocional da discussão sobre Castaneda tenha provocado nossa mente<br />
inconsciente para mudar o holograma da realidade e refletir melhor o que<br />
estávamos acreditando no momento. Dada a afirmação de Ullman de que nossa<br />
psique está constantemente tentando nos ensinar coisas das quais não estamos<br />
cientes em nosso estado desperto, nosso inconsciente pode até ser programado<br />
para produzir ocasionalmente tais milagres a fim de nos oferecer vislumbíes da<br />
verdadeira natureza da realidade, para nos mostrar que o mundo que criamos<br />
para nós próprios é na realidade tão criativamente infinito quanto a realidade de<br />
nossos sonhos.<br />
Dizer que a realidade é criada pela integração de todas as coisas vivas na<br />
verdade não é nada diferente de dizer que o universo consiste de campos de<br />
realidade. Se isto é verdade, explica por que a realidade de algumas partículas<br />
subatômicas, tais como os elétrons, parecem relativamente fixas, enquanto a<br />
realidade de outras, tais como as anômalas, parece ser mais plástica. Pode ser<br />
que os campos de realidade que agora percebemos como elétrons tenha se<br />
tornado parte do holograma cósmico muito tempo atrás, talvez muito antes dos<br />
seres humanos serem mesmo parte da integração de todas as coisas. Assim, os<br />
elétrons podem estar tão profundamente enraizados no holograma que não são<br />
mais tão suscetíveis à influência da consciência humana como outros campos<br />
de realidade mais novos. Da mesma forma, os anomalons podem variar de<br />
laboratório para laboratório porque são campos de realidade mais recentes e<br />
ainda estão incompletos, ainda se debatendo de um lado para o outro em busca<br />
de uma identidade. Num sentido, eles são como a praia de champanhe que os<br />
pacientes de Tart perceberam em seu estado cinzento e ainda não tinham<br />
entrado na existência a partir do implícito.<br />
Isto também pode explicar por que a aspirina ajuda a prevenir ataques<br />
cardíacos nos americanos, mas não nos ingleses. Isto, também, pode ser um<br />
campo de realidade relativamente recente e que ainda está em formação. Existe<br />
até evidência de que a capacidade de materializar sangue é um campo de<br />
realidade comparativamente recente. Rogo observa que relatos de milagres de<br />
sangue começaram com o milagre de São Genaro no século 14. O fato de que<br />
não houve nenhum milagre de sangue antes de São Genaro parece indicar que a<br />
capacidade deu os primeiros lampejos de existência naquela época. Uma vez<br />
que foi dessa forma estabelecido, seria mais fácil para outros acessar o campo<br />
de realidade de sua possibilidade, o qual pode explicar por que existem<br />
inúmeros milagres de sangue desde São Genaro, .mas nenhum antes.<br />
Na verdade, se o universo é um holodeck, todas as coisas que parecem<br />
estáveis e eternas, desde as leis da física até a essência das galáxias, teriam de<br />
ser vistas como campos de realidades, fogo-fátuo nem mais nem menos reais<br />
do que as canelas num gigante, sonhos mutuamente partilhados. Toda<br />
permanência teria de ser encarada como ilusória e apenas a consciência seria<br />
eterna, a consciência do universo vivo.<br />
É claro, existe uma outra possibilidade. Pode ser que apenas eventos<br />
anômalos, tais como o incidente do guarda-chuva, sejam campos de realidade e<br />
o mundo como um todo seja ainda tão estável e imune à consciência como<br />
aprendemos a acreditar. O problema desta hipótese é que ela nunca pode ser<br />
provada. O único teste que temos para determinar se alguma coisa é real, como<br />
por exemplo um elefante vermelho que acaba de entrar em nossa sala, é<br />
perguntar se outras pessoas também podem vê-lo. Mas, uma vez que admitimos<br />
que duas ou mais pessoas podem criar uma realidade — seja um guarda-chuva<br />
que se transforma ou um bosque de árvores kenari que desaparece — não mais<br />
temos nenhum modo de provar que tudo o mais no mundo não é criado pela<br />
mente. Tudo se resume numa questão de filosofia pessoal.