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suportar o seu peso, mas que estava tão quente, que sinais de incandescência<br />
ainda corriam em sua superfície. Enquanto Brigham olhava atentamente, os<br />
kahunas tiraram as sandálias e começaram a recitar as longas orações necessárias<br />
para protegê-los, enquanto andavam sobre a rocha derretida apenas<br />
endurecida.<br />
Como se verificou, os kahunas tinham dito antes a Brigham que podiam<br />
conferir-lhe sua imunidade ao fogo, se quisesse acompanhá-los, e ele tinha<br />
corajosamente concordado. Mas assim que encarou o calor escaldante da lava,<br />
pensou duas e até três vezes. "No final das contas aconteceu que fiquei duro e<br />
me recusei a tirar as botas", Brigham escreveu em seu relato do incidente.<br />
Depois que terminaram de invocar os deuses, o kahuna mais velho correu até o<br />
fim sobre a lava e atravessou os 45 metros sem se machucar. Impressionado,<br />
mas ainda inflexível em não ir, Brigham ficou de pé para ver o próximo<br />
kahuna, só que foi empurrado e forçado a irromper numa corrida para evitar de<br />
cair de cara sobre a rocha incandescente.<br />
E Brigham correu. Quando alcançou o chão mais acima do outro lado,<br />
descobriu que uma de suas botas tinha queimado completamente e que suas<br />
meias estavam no fogo. Mas, por milagre, seus pés estavam totalmente ilesos.<br />
Os kahunas também não sofreram nenhum ferimento e estavam rolando de rir<br />
do susto de Brigham. "Eu ri também", escreveu Brigham. "Nunca tinha ficado<br />
tão aliviado em toda minha vida e percebi que estava a salvo. Existe pouca<br />
coisa mais que eu possa falar dessa experiência. Tinha uma sensação de calor<br />
intenso no rosto e no corpo, mas quase nenhuma sensação nos pés." 21<br />
Os convulsionários também demonstravam muitas vezes completa<br />
imunidade ao fogo. Os dois mais famosos destes "salamandras humanos" — na<br />
idade média o termo salamandra se referia a um lagarto mitológico que<br />
acreditava-se viver no fogo — foram Marie Sonnet e Gabrielle Moler. Numa<br />
ocasião, e na presença de diversas testemunhas, inclusive Montgeron, Sonnet se<br />
esticou em duas cadeiras sobre um fogo ardente e permaneceu lá durante meia<br />
hora. Nem ela nem suas roupas mostraram qualquer efeito de dano. Num outro<br />
exemplo, ela se sentou com os pés num braseiro cheio de carvão em brasa.<br />
Como com Brigham, seus sapatos e meias queimaram completamente, mas os<br />
pés não se machucaram. 22<br />
A proeza de Gabrielle Moler foi ainda mais estonteante. Além de ser<br />
impenetrável aos golpes de espadas e pancadas desferidas por uma pá, ela<br />
podia colocar a cabeça no meio do fogo crepitante e sair dali sem sofrer<br />
nenhum dano. Testemunhas oculares relataram que depois suas roupas ficavam<br />
tão quentes que mal podiam ser tocadas, ainda que seus cabelos, cílios e<br />
sobrancelhas não fossem senão chamuscados. 23 Sem dúvida ela era a grande<br />
diversão das festas.<br />
Na verdade, os jansenistas não foram o primeiro movimento<br />
convulsionário na França. Em fins de 1600, quando o rei Luís XIV tentou<br />
limpar o país dos impassíveis huguenotes protestantes, um grupo de<br />
antagonistas dos huguenotes no vale de Cévennes, conhecidos como os<br />
camisards, demonstravam capacidades parecidas. Num relato oficial enviado a<br />
Roma, um dos perseguidores, um prior chamado abade de Chayla, queixou-se<br />
de que não importava o que ele fizesse, não conseguia ferir os camisards.<br />
Quando ordenou que atirassem neles, as balas de mosquete foram encontradas<br />
achatadas entre as roupas e a pele deles. Quando fechava a mão deles sobre<br />
carvões em brasa, eles não se machucavam e quando os enrolava da cabeça aos<br />
pés com algodão embebido em óleo e os punha no fogo, não se queimavam. 24<br />
Como se isto não fosse o suficiente, Claris, o líder dos camisards,<br />
ordenou que uma pira fosse construída e então subiu até o topo dela para<br />
proferir um discurso enlevado. Na presença de seiscentas testemunhas ele<br />
ordenou que a pira fosse acesa e continuou a discursar enquanto as chamas<br />
subiam sobre sua cabeça. Depois que a pira foi completamente consumida,<br />
Claris permaneceu ileso e sem nenhuma marca de fogo no cabelo ou nas<br />
roupas. O chefe das tropas francesas enviado para dominar os camisards, um<br />
coronel chamado Jean Cavalier, foi mais tarde exilado para a Inglaterra onde<br />
escreveu um livro sobre o evento em 1707, intitulado Um Grito Que Vem do<br />
Deserto. 2 * Como aconteceu com o abade de Chayla, ele foi finalmente<br />
assassinado pelos camisards durante uma invasão vingativa. Diferente de alguns<br />
deles, ele não tinha nenhuma invulnerabilidade especial. 26<br />
Existem literalmente centenas de relatos dignos de crédito de que a<br />
imunidade ao fogo existe. Relatou-se que, quando Bernadette de Lourdes<br />
estava em êxtase, também era impenetrável ao fogo. De acordo com<br />
testemunhas, numa ocasião sua mão caiu tão perto de uma vela acesa enquanto<br />
estava em transe, que as chamas lambiam seus dedos. Um dos indivíduos<br />
presentes era o dr. Dozous, medico municipal de Lourdes. Sagaz, Dozous<br />
cronometrou o evento e notou que se passaram dez minutos inteirçs antes dela<br />
sair do transe e tirar a mão. Mais tarde ele escreveu: "Eu vi com meus próprios<br />
olhos. Mas juro, se alguém tivesse tentado me fazer acreditar numa história<br />
dessas, eu riria dele com desdém". 27<br />
Em 7 de setembro de 1871, o New York Herald relatou que Nathan<br />
Coker, um ferreiro negro de idade avançada que morava em Easton, Maryland,<br />
podia segurar ferro em brasa sem se machucar. Na presença de um comitê que<br />
incluía diversos médicos, ele esquentou uma pá de ferro até ficar incandescente<br />
e então a colocou contra a sola dos pés até ela esfriar. Ele também lambeu o<br />
canto da pá incandescente e derramou chumbo derretido na boca, deixando-o<br />
passar entre os dentes e a gengiva até se solidificar. Depois de cada um desses<br />
feitos, os médicos o examinavam e não encontravam nenhum sinal de ferimento.<br />
28<br />
Durante uma viagem de caçada em 1927, nas montanhas do Tennessee,<br />
K. R. Wissen, um médico de Nova York, encontrou um menino de 12 anos que