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destas duas observações é evidente que o efeito placebo desempenhou um<br />
papel importante na medicina do passado, mas ainda desempenha um papel<br />
hoje? A resposta, parece ser sim. O Departamento de Tributação Tecnológica<br />
federal estima que mais de 75 por cento de todos os tratamentos médicos atuais<br />
não foram submetidos a um exame científico adequado, imagem que sugere<br />
que os médicos podem ainda estar dando placebos e não saberem disso<br />
(Bcnson, por sua vez, acredita que, no mínimo, muitos dos medicamentos à<br />
venda agem principalmente como placebos). 28<br />
Dada a evidência para a qual estivemos olhando até agora, quase se<br />
poderia perguntar se todas as drogas são placebos. É claro que a resposta é não.<br />
Muitas drogas são eficazes quer acreditemos nelas quer não: a vitamina C cura<br />
o escorbuto e a insulina faz o diabético melhorar mesmo quando eles são<br />
céticos. Mas o assunto ainda não está tão claro como pode parecer. Considere o<br />
seguinte.<br />
Num experimento de 1962 os drs. Harriet Linton e Robert Langs<br />
disseram aos cobaias do teste que eles iam participar de um estudo dos efeitos<br />
do LSD, mas então, em vez disso deu a eles um placebo. Porém, uma hora e<br />
meia depois de tomar o placebo, os sujeitos começaram a experimentar os<br />
sintomas clássicos da droga real, perda de controle, suposta percepção do<br />
sentido da existência e assim por diante. Estas "viagens-placebo" duravam<br />
várias horas. 29<br />
Poucos anos depois, em 1966, o agora mal-afamado psicólogo da Harvard<br />
Richard Alpert viajou para o Oriente à procura de homens santos que pudessem<br />
oferecer a ele percepção na experiência do LSD. Ele encontrou diversos que<br />
estavam querendo experimentar a droga e, de maneira interessante, receberam<br />
uma variedade de reações. Um pândita disse a ele que era bom, mas não tão<br />
bom quanto meditação. Um outro, um lama tibetano, se queixou que só tinha<br />
lhe dado uma dor de cabeça.<br />
Mas a reação que mais fascinou Alpert veio de um pequeno e enrugado<br />
homem santo nas encostas do Himalaia. Como o homem tinha cerca de 60<br />
anos, a primeira tendência de Alpert foi dar a ele uma dose suave de 50 a 75<br />
microgramas. Mas o homem ficou muito mais interessado numa das pílulas de<br />
305 microgramas que Alpert trazia com ele, uma dose relativamente grande. De<br />
forma relutante, Alpert deu a ele uma das pílulas, mas o homem ainda não ficou<br />
satisfeito.<br />
Com brilho nos olhos pediu outra e então outra e colocou todos os 915<br />
microgramas de LSD sobre a língua, uma dose maciça para qualquer padrão, e<br />
as engoliu (em comparação, a dose média que Grof usou em seus estudos era<br />
de cerca de 200 microgramas).<br />
Espantado, Alpert olhava atentamente, esperando que o homem começasse<br />
a agitar os braços e gritar como uma feiticeira, mas em vez disso ele<br />
agia como se nada tivesse acontecido. Permaneceu deste modo pelo resto do<br />
dia, com o comportamento tão sereno e calmo como sempre foi, salvo pelas<br />
olhadelas cintilantes que ocasionalmente lançava para Alpert. O LSD<br />
aparentemente teve pouco ou nenhum efeito sobre ele. Alpert ficou tão<br />
comovido com a experiência que desistiu do LSD, mudou seu nome para Ram<br />
Dass e se converteu ao misticismo. 30<br />
E assim, tomar placebo pode bem produzir o mesmo efeito do que tomar<br />
a droga verdadeira, e tomar a droga verdadeira poderia não produzir nenhum<br />
efeito. Este estado confuso de coisas também foi demonstrado nos<br />
experimentos envolvendo anfetaminas. Num estudo, dez cobaias humanas<br />
foram colocadas em um de dois quartos. No primeiro quarto, se deu a nove<br />
uma anfetamina estimulante e ao décimo um barbitúrico provocador do sono.<br />
Ao passarem para o segundo quarto a situação se inverteu. Nos dois casos a<br />
única pessoa de fora se comportou exatamente como seus companheiros. No<br />
primeiro quarto, em vez de dormir, o único que tomou barbitúrico ficou<br />
animado e agitado e no segundo quarto o único que tomou anfetamina<br />
dormiu. 31 Existe também um caso registrado de um homem viciado no<br />
estimulante Ritalin, cujo vício é então transferido para um placebo. Em outras<br />
palavras, o médico do homem o tornou capaz de evitar todos os desprazeres<br />
comuns da retirada do Ritalin substituindo secretamente sua prescrição por<br />
pílulas de açúcar. Infelizmente o homem então continuou manifestando vício<br />
ao placebo! 32<br />
Tais eventos não estão limitados a situações experimentais. Os placebos<br />
também desempenham um papel em nossa vida cotidiana. A cafeína o mantém<br />
acordado à noite? Pesquisas mostraram que mesmo uma injeção de cafeína não<br />
mantém indivíduos sensíveis à cafeína acordados se eles acreditam que estão<br />
recebendo um sedativo. 33 Um antibiótico já ajudou você a superar um resfriado<br />
ou dor de garganta? Se sim, você estava experimentando o efeito placebo.<br />
Todos os resfriados são causados por vírus, assim como diversos tipos de dores<br />
de garganta, e os antibióticos só são eficazes contra infecções bacterianas, não<br />
infecções virais. Você já experimentou um efeito colateral desagradável depois<br />
de tomar uma medicação? Num estudo de um tranqüilizante chamado<br />
mefenesin, os pesquisadores acharam que 10 a 20 por cento dos cobaias do<br />
teste experimentaram efeitos colaterais — incluindo náusea, coceira e<br />
palpitações cardíacas — independente se tinham dado a eles a droga verdadeira<br />
ou um placebo.* 34 Do mesmo modo, num estudo recente de um novo tipo de<br />
quimioterapia, 30 por cento dos indivíduos no grupo controle, grupo ao qual foi<br />
dado placebos, perdeu o cabelo. 35 Assim, se você conhece alguém que está<br />
tomando quimioterapia, diga a ele para ser otimista em suas expectativas. A<br />
mente é uma coisa poderosa.<br />
Além de nos oferecer um vislumbre deste poder, os placebos também dão<br />
apoio a uma abordagem mais holográfica para o entendimento da relação<br />
mente-corpo. Como a colunista de nutrição e saúde Jane Brody observa num