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Quando Jung desenvolveu esta idéia pela primeira vez, a maioria dos<br />
físicos não a levou a sério (apesar de que um iminente físico da época,<br />
Wolfgang Pauli, achou que era importante o bastante para ser co-autor, com<br />
Jung, de um livro sobre o assunto, intitulado A Interpretação e a Natureza da<br />
Psique). Mas agora que a existência de ligações não locais foram estabelecidas,<br />
alguns físicos estão dando à idéia de Jung um outro aspecto.* O físico Paul<br />
Davies afirma: "Estes efeitos quânticos não locais são na verdade uma forma<br />
de sincronicidade, no sentido que eles estabelecem uma ligação — mais<br />
precisamente uma correlação — entre eventos para os quais qualquer forma de<br />
ligação causai está excluída".<br />
Um outro físico que leva a sério a sincronicidade é F. David Peat. Peat<br />
acredita que as sincronicidades do tipo junguiano não só são reais, como<br />
oferecem evidência a mais da ordem implícita. Como vimos, de acordo com<br />
Bohm, a aparente separação da consciência e da matéria é uma ilusão, um<br />
artifício que ocorre somente depois que ambas se desdobraram dentro do<br />
mundo explícito de objetos e tempo sucessivo. Se não existe nenhuma divisão<br />
entre a mente e a matéria no implícito, o solo a partir do qual todas as coisas<br />
surgem, então não é extraordinário esperar que a realidade possa ainda vir a<br />
surgir com vestígios desta ligação profunda. Peat acredita que as<br />
sincronicidades são, portanto, "falhas" no tecido da realidade, fissuras<br />
momentâneas que nos permitem um breve vislumbre da ordem imensa e<br />
unitária subjacente a tudo na natureza.<br />
Colocando de outro modo, Peat acha que as sincronicidades revelam a<br />
ausência de divisão entre o mundo físico e nossa realidade psicológica interior.<br />
Assim, a relativa escassez de experiências sincrônicas em nossa vida mostra<br />
não apenas o quanto fragmentamos a nós próprios a partir do campo geral de<br />
consciência, mas também o grau ao qual nós próprios nos fechamos<br />
inteiramente para o potencial deslumbrante e infinito das ordens mais<br />
profundas da mente e da realidade. De acordo com Peat, quando<br />
experimentamos uma sincronicidade, o que estamos realmente experimentando<br />
"é o funcionamento da mente humana, por um momento, em sua verdadeira<br />
ordem e estendendo-se por toda parte da sociedade e da natureza, movendo-se<br />
através de ordens de sutileza crescente, atingindo para além da origem da<br />
mente e da matéria, a própria criatividade". 26<br />
* Como foi mencionado, os efeitos não locais não se devem a uma relação de causa e<br />
efeito, e são portanto acausais.<br />
Esta é uma idéia surpreendente. Realmente todos os nossos preconceitos<br />
de senso comum sobre o mundo estão baseados na premissa de que a realidade<br />
subjetiva e objetiva estão muito separadas. Esta é a razão por que as<br />
sincronicidades parecem tão desconcertantes e inexplicáveis para nós. Mas se,<br />
no final das contas, não existe nenhuma divisão entre o mundo físico e nossos<br />
processos psicológicos internos, então devemos estar preparados para mudar<br />
mais do que apenas nosso entendimento de senso comum do universo, pois as<br />
implicações são estonteantes.<br />
Uma implicação é que a realidade objetiva é mais parecida com um sonho<br />
do que suspeitamos anteriormente. Por exemplo, imagine-se sonhando que<br />
você está sentado à mesa, num jantar com seu patrão e a mulher dele. Como<br />
você sabe a partir da experiência, todos os diversos adereços num sonho — a<br />
mesa, as cadeiras, os pratos e os recipientes de sal e pimenta — parecem ser<br />
objetos separados. Imagine também que você experimenta uma sincronicidade<br />
no sonho; talvez o sirvam de um prato desagradável e quando você pergunta ao<br />
garçom o que é, ele lhe diz que o nome do prato é Seu Patrão. Compreendendo<br />
que o desprazer do prato trai seus verdadeiros sentimentos sobre seu patrão,<br />
você fica embaraçado e quer saber como um aspecto de seu ego "interior"<br />
conseguiu transbordar para dentro da realidade "externa" da cena que você está<br />
sonhando. É claro, assim que você acorda, compreende que a sincronicidade<br />
não era tão estranha de maneira nenhuma, pois realmente não havia nenhuma<br />
divisão entre seu ego "interior" e a realidade "exterior" do sonho. De maneira<br />
semelhante, você compreende que a aparente separação dos diversos objetos no<br />
sonho também era uma ilusão, pois tudo foi produzido por uma ordem mais<br />
fundamental e mais profunda — a totalidade contínua de sua própria mente<br />
inconsciente.<br />
Se não existe nenhuma divisão entre os mundos físico e mental, estas<br />
mesmas qualidades são também verdadeiras para a realidade objetiva. De<br />
acordo com Peat, isto não significa que o universo material seja uma ilusão,'<br />
porque tanto o implícito como o explícito desempenham um papel na criação<br />
da realidade. Nem significa que a individualidade está perdida, uma vez que a<br />
imagem de uma rosa não se perde se ela é registrada num pedaço de filme<br />
holográfico. Simplesmente quer dizer que somos, novamente, como os vórtices<br />
num rio, únicos mas inseparáveis do fluxo da natureza. Ou, como Peat coloca,<br />
"o ego continua vivo mas como um aspecto do movimento mais sutil que<br />
envolve a ordem da totalidade da consciência". 27<br />
E assim chegamos ao círculo completo, partindo da descoberta de que a<br />
consciência contém a totalidade da realidade objetiva — a história inteira da<br />
vida biológica sobre o planeta, religiões e mitologias do mundo e a dinâmica<br />
tanto das células como das estrelas — para a descoberta de que o universo<br />
material também pode conter dentro de seu fluxo e refluxo os processos mais<br />
internos da consciência. Tal é a natureza da profunda ligação que existe entre<br />
todas as coisas num universo holográfico. No próximo capítulo exploraremos<br />
como esta ligação, assim como outros aspectos da idéia holográfica, afetam<br />
nosso atual entendimento da saúde.