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A afirmação de Bohm de que a fragmentação sempre se mostra por fim<br />
destrutiva é também aparente na síndrome. Embora tornar-se uma múltipla<br />
permita a uma pessoa sobreviver numa infância de outra forma insuportável,<br />
traz com ela um bando de desagradáveis : efeitos colaterais. Estes podem<br />
incluir a depressão ansiedade e ataques de pânico, fobias, problemas<br />
respiratórios e cardíacos, náusea inexplicável, dores de cabeça semelhantes à<br />
enxaqueca, tendências à automutilação e muitas outras doenças físicas e<br />
mentais. De maneira surpreendente, mas exata como um relógio, muitas<br />
múltiplas são diagnosticadas quando estão entre a idade de 28 e 35 anos, uma<br />
"coincidência" que sugere que algum sistema de alarme interno pode estar<br />
disparando naquela idade, avisando a elas que é imperativo que sejam<br />
diagnosticadas e que assim recebam a ajuda que precisam. Esta idéia parece<br />
surgir do fato de que as múltiplas que atingem os 40 anos antes de serem<br />
diagnosticadas freqüentemente relatam ter a sensação de que, se não<br />
procurassem ajuda logo, qualquer chance de recuperação estaria perdida. 23<br />
Apesar das vantagens temporárias que a psique torturada obtém fragmentando<br />
a si própria, é claro que o bem-estar físico e mental, e talvez até a<br />
sobrevivência, ainda dependem da totalidade.<br />
Uma outra característica incomum da DMP é que cada uma das<br />
personalidades da múltipla tem um padrão de onda cerebral diferente. Isto é<br />
surpreendente, pois como salienta Frank Putnam, um psiquiatra do Instituto<br />
Nacional de Saúde que estudou estes fenômenos, normalmente o padrão de<br />
onda cerebral de uma pessoa não muda mesmo em estados de emoção<br />
extrema. Os padrões de onda cerebral não são a única coisa que varia de<br />
personalidade para personalidade. Os padrões de fluxo sangüíneo, o tônus<br />
muscular, o ritmo do coração, a postura e até alergias podem todas mudar<br />
como deslocamentos múltiplos provenientes de um eu para o próximo.<br />
Figura 10. Os padrões de ondas cerebrais de quatro personalidades de<br />
um indivíduo que sofre de doença de múltipla personalidade. Será possível<br />
que o cérebro utilize princípios holográficos para armazenar a vasta<br />
quantidade de informações necessárias para alojar dezenas e até centenas de<br />
personalidades num único corpo? (Desenho copiado pelo autor a partir da<br />
ilustração original num artigo de Bennett G. Braun no American Journal of<br />
Clinicai Hypnosis.)<br />
Desde que os padrões de onda cerebral não estão confinados a nenhum<br />
neurônio único ou grupo de neurônios, mas são uma propriedade global do<br />
cérebro, isto também sugere que algum tipo de processo holográfico pode<br />
estar operando. Assim, como um holograma de imagens múltiplas pode<br />
armazenar e fazer surgir uma grande quantidade semelhante de<br />
personalidades totais. Em outras palavras, talvez o que chamamos de "eu"<br />
também seja um holograma e quando o cérebro de uma múltipla pula de um<br />
eu holográfico para o próximo, estes movimentos de vaivém semelhantes a<br />
projetores de slides são refletidos nas mudanças globais que acontecem na<br />
atividade de onda cerebral, assim como no corpo em geral (Figura 10). As<br />
mudanças fisiológicas que acontecem com as trocas da múltipla de uma<br />
personalidade para outra também têm implicações profundas na relação<br />
entre a mente e a saúde e serão discutidas mais extensamente no próximo<br />
capítulo.<br />
Uma Falha no Tecido da Realidade<br />
Outra das grandes contribuições de Jung foi definir o conceito de<br />
sincronicidade. Como foi mencionado na introdução, sincronicidades são