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francesa. Algumas das imagens nestes sonhos também pareciam ser referências<br />
específicas às cores vibrantes do quadro e às características incomuns, tal como<br />
a imagem de um grupo de abelhas voando em volta de flores e uma celebração<br />
tipo Mardi Gras, a terça-feira de carnaval francesa, brilhantemente colorida, na<br />
qual as pessoas estavam usando fantasias e máscaras. 3<br />
Embora Ullman acredite que tais descobertas são evidência de um estado<br />
subjacente de interligação sobre a qual Bohm está falando, ele acha que um<br />
exemplo até mais profundo da totalidade holográfica pode ser encontrado em<br />
um outro aspecto do sonhar. É a habilidade de nosso eu que sonha ser muito<br />
mais sábio do que nós mesmos somos em nosso estado de vigília. Por exemplo,<br />
Ullman diz que em sua prática psicanalítica ele poderia ter um paciente que<br />
parecesse completamente ignorante quando desperto — inferior, egoísta,<br />
arrogante, explorador e manipulador; uma pessoa que fragmentou e<br />
desumanizou todos os seus relacionamentos interpessoais. Mas, não importa<br />
quão espiritualmente cega uma pessoa possa ser, ou relutante para reconhecer<br />
suas próprias falhas, os sonhos invariavelmente descrevem honestamente suas<br />
falhas e têm metáforas que parecem destinadas a estimular gentilmente o<br />
paciente a um estado de maior autoconsciência.<br />
Além do mais, tais sonhos não foram ocorrências únicas. Durante o<br />
período de sua prática Ullman percebeu que, quando um de seus pacientes<br />
deixava de reconhecer ou de aceitar alguma verdade sobre si mesmo, aquela<br />
verdade iria surgir muitas vezes em seus sonhos, em diferentes conselhos<br />
metafóricos e ligadas a diferentes experiências relacionadas provenientes de<br />
seu passado, mas sempre numa aparente tentativa de oferecer a ele novas<br />
oportunidades de chegar a um acordo com a verdade.<br />
Porque um homem pode ignorar o conselho de seus sonhos e ainda viver<br />
até os cem anos, Ullman acredita que este processo de auto-monitoração<br />
empenha-se para mais do que apenas o bem-estar do indivíduo. Ele acredita<br />
que a natureza está interessada com a sobrevivência das espécies. Ele também<br />
concorda com Bohm sobre a importância da totalidade e acha que os sonhos<br />
são o modo da natureza tentar agir contra nossa compulsão aparentemente<br />
infinita de fragmentar o mundo. "Um indivíduo pode se desconectar de tudo<br />
que é cooperativo, significativo e amoroso e ainda sobreviver, mas as nações<br />
não podem se dar este luxo. A menos que aprendamos como superar todos os<br />
modos com que fragmentamos a espécie humana, nacional, religiosa,<br />
economicamente ou o que quer que seja, iremos continuar a nos encontrar<br />
numa posição onde podemos acidentalmente destruir todo o quadro", diz<br />
Ullman. "A única coisa que podemos fazer é olhar para o quanto fragmentamos<br />
nossa existência enquanto indivíduos. Os sonhos refletem nossa experiência<br />
individual, mas penso que é porque existe uma necessidade subjacente maior de<br />
preservar a espécie, de conservar a ligação da espécie." 4<br />
Qual é a origem do fluxo infinito de sabedoria que brota em nossos<br />
sonhos? Ullman admite que não sabe, mas oferece uma sugestão. Dado que a<br />
ordem implícita representa, num sentido, uma fonte infinita de informação,<br />
talvez seja a origem deste fundo maior de conhecimento. Talvez os sonhos<br />
sejam uma ponte entre a ordem não manifesta e perceptiva e represente uma<br />
"transformação natural do implícito dentro do explícito". 5 Se Ullman está certo<br />
nesta suposição, permanece o ponto de vista psicanalítico tradicional dos<br />
sonhos no ouvido, pois em vez do conteúdo do sonho ser algo que ascende para<br />
a consciência a partir de um substrato primitivo da personalidade, exatamente o<br />
oposto seria verdade.<br />
A Psicose e a Ordem Implícita<br />
Ullman acredita que alguns aspectos da psicose podem ser explicados<br />
pela idéia holográfica. Tanto Bohm como Pribram observaram que experiências<br />
que os místicos relataram através de todas as eras — tal como sentimentos de<br />
unidade cósmica com o universo, um sentido de unidade com toda a vida e<br />
assim por diante — soavam muito como descrições da ordem implícita. Eles<br />
sugeriram que talvez os místicos sejam, de alguma forma, capazes de perscrutar<br />
para além da realidade explícita comum e vislumbrar suas qualidades mais<br />
profundas, mais holográficas. Ullman acredita que os psicóticos também são<br />
capazes de experimentar certos aspectos do nível holográfico da realidade.<br />
Mas, porque são incapazes de ordenar suas experiências racionalmente, estes<br />
vislumbres são só paródias trágicas daquelas relatadas pelos místicos.<br />
Por exemplo, os esquizofrênicos muitas vezes relatam sentimentos<br />
oceânicos de unidade com o universo, mas de um modo ilusório, mágico. Eles<br />
descrevem sentir uma perda dos limites entre eles mesmos e os outros, uma<br />
crença que os leva a pensar que seus pensamentos não são mais particulares.<br />
Eles acreditam que são capazes de ler os pensamentos dos outros. E, em vez de<br />
verem pessoas, objetos e conceitos como coisas individuais, eles muitas vezes<br />
as vêem como membros de subclasses maiores e maiores, uma tendência que<br />
parece ser um modo de expressar a qualidade holográfica da realidade na qual<br />
eles próprios se encontram.<br />
Ullman acredita que os esquizofrênicos tentam comunicar seu sentido de<br />
totalidade fragmentada no modo como vêem o espaço e o tempo. Estudos<br />
mostraram que os esquizofrênicos muitas vezes consideram conversar sobre<br />
qualquer relação como idêntico à relação. 6 Por exemplo, de acordo com o modo<br />
esquizofrênico de pensar, dizer que "o evento A segue o evento B" é o mesmo<br />
que dizer que "o evento B segue o evento A". A idéia de um evento seguindo<br />
outro em qualquer espécie de seqüência de tempo é sem sentido, pois todos os<br />
pontos no tempo são vistos igualmente. O mesmo é verdade das relações<br />
espaciais. Se a cabeça de um homem está sobre seus ombros, então seus