Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
proporcionasse a liberdade para dirigir toda a atenção ao assunto. Então cie<br />
rapidamente surgiu com uma elegante prova matemática revelando como um<br />
experimento de tal natureza podia ser realizado. O único problema era que isto<br />
exigia um nível de exatidão tecnológica ainda não disponível. Para ter certeza<br />
de que as partículas, como aquelas no paradoxo EPR, não usavam meios normais<br />
de comunicação, as operações básicas do experimento tinham de ser<br />
realizadas num instante infinitesimalmente breve, para não haver nem mesmo<br />
tempo suficiente para um raio de luz atravessar a distância que separava as duas<br />
partículas. Isto significava que os instrumentos usados no experimento tinham<br />
que realizar todas as operações necessárias em uns poucos centésimosmilionésimos<br />
de segundo.<br />
Entre no Holograma<br />
Em fins dos anos 50, Bohm já tivera sua briga com o macartismo e se<br />
tornara pesquisador-adjunto da Universidade de Bristol, Inglaterra. Lá, em<br />
companhia de um jovem estudante pesquisador chamado Yakir Aharonov, ele<br />
descobriu um outro exemplo importante da interconexão não localizada, ou<br />
seja, que, sob dadas circunstâncias, um elétron é capaz de "sentir" a presença de<br />
um campo magnético existente numa região onde haja probabilidade zero de<br />
esse elétron se encontrar. Tal fenômeno é agora conhecido como o efeito<br />
Bohm-Aharonov e, quando os dois pesquisadores publicaram sua descoberta<br />
pela primeira vez, muitos físicos não acreditaram na possibilidade de tal efeito.<br />
Esse ceticismo persiste até hoje e, apesar da confirmação do efeito em<br />
inúmeros experimentos, muitas vezes ainda surgem artigos argumentando que<br />
ele não existe.<br />
Como sempre, Bohm aceitou estoicamente seu eterno papel como a voz<br />
na multidão que corajosamente observa que o rei está nu. Numa entrevista<br />
concedida alguns anos mais tarde ele resumiu com simplicidade a filosofia que<br />
sustentou sua atitude corajosa: "A longo prazo, é muito mais perigoso aderir à<br />
ilusão do que encarar o que é o fato real". 8<br />
Entretanto, a limitada reação a suas idéias sobre a totalidade e a não<br />
localização e sua própria inabilidade para saber como agir a seguir desviaram<br />
sua atenção para outras direções. Nos anos 60, isto o levou a olhar mais de<br />
perto para a ordem. A ciência clássica em geral divide as coisas em duas<br />
categorias: aquelas que têm ordem no arranjo de suas partes e aquelas cujas<br />
partes estão desordenadas, ou ao acaso, no arranjo. Flocos de neve,<br />
computadores e coisas vivas são todos ordenados. O padrão que um punhado<br />
de grãos de café espalhados fazem no chão, os escombros deixados por uma<br />
explosão e uma série de números gerados por uma roleta são todos<br />
desordenados.<br />
À medida que Bohm pesquisava mais profundamente o assunto<br />
compreendia que existiam também diferentes graus de ordem. Algumas coisas<br />
eram muito mais ordenadas do que outras e isso implicava que não havia,<br />
talvez, nenhum fim para as hierarquias de ordem que existiam no universo. A<br />
partir disto ocorreu a Bohm que talvez coisas que percebemos como<br />
desordenadas não estão de maneira nenhuma desordenadas. Talvez a ordem<br />
delas seja de tal "grau indefinidamente alto" que elas só parecem a nós como<br />
acaso (de maneira interessante, os matemáticos são incapazes de provar a<br />
casualidade e, embora algumas seqüências de números sejam categorizadas<br />
como acaso, estas são passíveis de projeções por especialistas).<br />
Envolvido por estes pensamentos, Bohm viu um aparelho num programa<br />
de televisão da BBC que o ajudou a desenvolver suas idéias ainda mais. O<br />
aparelho era um jarro especialmente desenhado, contendo um grande cilindro<br />
giratório. O espaço estreito entre o cilindro e o jarro estava cheio com glicerina<br />
— um líquido claro, denso — c flutuando sem se mexer na glicerina havia unia<br />
gota de tinta. O que interessou Bohm foi que, quando a manivela do cilindro<br />
era virada, a gota de tinta se espalhava através do xarope de glicerina e como<br />
que desaparecia. Mas, assim que a manivela era virada na direção oposta, o<br />
risco pálido de tinta lentamente se fechava sobre si mesmo e mais uma vez<br />
formava uma gotinha (Figura 9).<br />
Bohm escreveu: "Isto imediatamente me tocou como muito relevante para<br />
a questão da ordem, uma vez que, quando a gota de tinta estava espalhada,<br />
ainda tinha uma ordem 'oculta' (isto é, não manifesta) que se revelava quando<br />
la era reconstituída. Por outro lado, em nossa linguagem comum, diríamos que<br />
a tinta encontrava-se em estado de 'desordem' quando estava dispersa na<br />
glicerina. Isto me levou a ver que novas noções de ordem devem estar<br />
consideradas aqui". 9<br />
Bohm foi muito estimulado por esta descoberta, pois esta lhe fornecia um<br />
novo enfoque para muitos dos problemas com que estava se ocupando. Logo<br />
depois de encontrar o aparelho de tinta na glicerina, ele se deparou com uma<br />
metáfora ainda melhor para entender a ordem, a qual o habilitou não só juntar<br />
todos os fios de seus anos de reflexão, como o fez com tal força e poder<br />
explanatório que pareceu quase feita sob medida para o propósito. Esta<br />
metáfora era o holograma.<br />
Assim que Bohm começou a refletir sobre o holograma, viu que este<br />
também fornecia um novo modo de entender a ordem. Como a gota de tinta em<br />
seu estado disperso, os padrões de interferência registrados num pedaço de<br />
filme holográfico também pareciam desordenados a olho nu. Ambos têm<br />
ordens que estão escondidas ou encobertas, do mesmo modo que a ordem num<br />
plasma está encoberta no comportamento aparentemente casual de cada um de<br />
seus elétrons. Mas esta não era a única que reflexão o holograma propiciava.