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sistema indivisível, como até sugeria que a totalidade era de alguma forma a<br />
realidade mais fundamental.<br />
Isto também explicava como os elétrons nos plasmas (e em outros<br />
estados especializados como a supercondutividade) podiam se comportar<br />
como totalidades interligadas. Como Bohm afirma, tais "elétrons não se<br />
dispersam porque, por meio da ação do potencial quântico, o sistema todo é<br />
submetido a um movimento coordenado, mais semelhante a uma dança de<br />
bale do que a uma multidão desorganizada". Mais uma vez ele observa que<br />
"tal totalidade quântica de atividade está mais próxima da organizada<br />
unidade de funcionamento das partes de um ser vivo do que do tipo de<br />
unidade que é obtida juntando-se as partes de uma máquina". 6<br />
Uma característica ainda mais surpreendente do potencial quântico<br />
eram suas implicações na natureza do local. Ao nível do nosso cotidiano, as<br />
coisas vivas têm locais muito específicos, mas a interpretação da física<br />
quântica de Bohm indicava que a nível subquântico, o nível no qual o<br />
potencial quântico operava, os locais deixavam de existir. Todos os pontos<br />
no espaço se tornavam iguais a todos os outros pontos no espaço e era sem<br />
sentido falar de qualquer coisa estando separada de qualquer outra coisa<br />
mais. Os físicos chamam esta propriedade de "não localidade".<br />
O aspecto não localizado do potencial quântico capacitou Bohm a<br />
explicar a ligação entre as partículas gêmeas sem violar a proibição da<br />
relatividade contra qualquer coisa que se movimente mais depressa do que a<br />
velocidade da luz. Para ilustrar como, ele ofereceu a seguinte analogia:<br />
Imagine um peixe nadando num aquário. Imagine também que você nunca<br />
tinha visto um peixe nem um aquário antes e seu único conhecimento sobre<br />
eles vem de duas câmeras de televisão, uma dirigida para a frente do<br />
aquário e a outra para o lado. Quando olha para os dois monitores de<br />
televisão, você poderia erradamente supor que o mesmo peixe nas telas<br />
seria duas entidades separadas. Afinal, pelas câmeras estarem colocadas em<br />
ângulos diferentes, cada uma das imagens será levemente diferente. Mas, à<br />
medida que você continua a olhar, finalmente perceberá que existe uma<br />
relação entre os dois peixes. Quando um se vira, o outro faz uma volta<br />
levemente diferente, mas correspondente. Quando um fica de frente, o outro<br />
fica de lado e assim por diante. Se você não percebe todo o alcance da<br />
situação, poderia erroneamente concluir que os peixes estão se comunicando<br />
instantaneamente um com o outro, mas esse não é o caso.<br />
Nenhuma comunicação está acontecendo, porque num nível mais profundo<br />
da realidade, a realidade do aquário, os dois peixes são a mesma coisa. Isto,<br />
diz Bohm, é exatamente o que se passa entre partículas tais como os dois<br />
fótons emitidos quando um átomo de positrônio se decompõe (Figura 8).<br />
Na verdade, uma vez que o potencial quântico permeia todo o espaço,<br />
todas as partículas estão interligadas não localmente. Mais e mais a imagem<br />
da realidade que Bohm desenvolvia não era aquela na qual as partículas<br />
subatômicas estavam separadas umas das outras e se movimentando através<br />
do vazio do espaço, mas aquela na qual todas as coisas eram parte de uma<br />
teia contínua e encaixada num espaço que era tão real e rico enquanto<br />
processo quanto a matéria que se movia através dele.<br />
As intuições de Bohm ainda deixaram a maioria dos físicos inflexível,<br />
mas incitaram o interesse de uns poucos. Um destes era John Stewart Bell, um<br />
físico teórico do CERN, um centro para a pesquisa atômica pacífica perto de<br />
Genebra, na Suíça. Como Bohm, Bell também tinha ficado insatisfeito com a<br />
teoria quântica e achava que devia haver alguma alternativa. Como ele declarou<br />
mais tarde: "Então em 1952 vi o artigo de Bohm. Sua idéia era completar o<br />
mecanismo quântico dizendo que existem certas variáveis a mais além daquelas<br />
que todo mundo já conhecia. Aquilo me impressionou muito". 7<br />
Figura 8. Bohm acredita que as partículas subatômicas estão lipadas da mesma<br />
maneira que as imagens do peixe nos dois monitores de televisão. Embora partículas<br />
como os elétrons pareçam estar separadas umas das outras, num nível mais profundo da<br />
realidade — um nível análogo ao do aquário — elas são na verdade nada mais que<br />
aspectos diferentes de uma unidade cósmica mais profunda.<br />
Bell também compreendeu que a teoria de Bohm incluía a existência da<br />
não localização e dispôs-se a verificar experimentalmente sua existência. Mas<br />
teve de manter a questão em mente por anos até que uma licença em 1964 lhe