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A idéia holográfica oferece uma analogia a mais para as tendências<br />
associativas da memória. Isto é ilustrado ainda por um outro tipo de técnica de<br />
registro holográfico. Primeiro, a luz de um único raio laser é lançada em dois<br />
objetos simultaneamente, digamos uma poltrona e um cachimbo. Deixa-se<br />
então que as luzes lançadas em cada objeto colidam e o padrão de interferência<br />
resultante é captado no filme. Então, toda vez que a poltrona é iluminada com<br />
raio laser e a luz que reflete da poltrona passa através do filme, uma imagem<br />
tridimensional do cachimbo aparecerá. De modo inverso, sempre que o mesmo<br />
é feito com o cachimbo, um holograma da poltrona aparece. Assim, se nosso<br />
cérebro funciona holograficamente, um processo semelhante pode ser<br />
responsável pelo modo de certos objetos evocarem lembranças específicas do<br />
nosso passado.<br />
NOSSA CAPACIDADE DE IDENTIFICAR IMAGENS FAMILIARES<br />
À primeira vista, nossa habilidade para identificar imagens familiares<br />
pode não parecer muito singular, mas pesquisadores do cérebro<br />
compreenderam há muito tempo que esta é uma habilidade realmente<br />
complexa. Por exemplo, a certeza absoluta que temos quando reconhecemos<br />
um rosto familiar numa multidão de várias centenas de pessoas não é apenas<br />
uma emoção subjetiva, mas parece ser causada por uma forma de informação<br />
segura e extremamente rápida que se processa em nosso cérebro.<br />
Num artigo de 1970 na revista científica inglesa Nature, o naturalista<br />
Pieter van Heerden sugeriu que um tipo de holografia conhecido como<br />
holografia de identificação apresenta um modo de entender esta capacidade.*<br />
Na holografia de identificação, uma imagem holográfica de um objeto é<br />
registrada de maneira habitual, só que o raio laser é projetado sobre um tipo<br />
especial de espelho conhecido como espelho de foco antes de se permitir que<br />
ele impressione um filme virgem. Se um segundo objeto, semelhante mas não<br />
idêntico ao primeiro, é banhado em raio laser e a luz é projetada no espelho e<br />
depois no filme depois que isso aconteceu, um ponto brilhante de luz aparecerá<br />
no filme. Quanto mais brilhante e nítido for o ponto de luz, maior o grau de<br />
semelhança entre o primeiro e o segundo objeto. Se os dois objetos são<br />
completamente diferentes, nenhum ponto de luz aparecerá. Colocando-se uma<br />
célula fotoelétrica atrás do filme holográfico, pode-se realmente usar o aparelho<br />
como um sistema de identificação mecânico. 7<br />
* Van Heerden, pesquisador dos Laboratórios de Pesquisa Polaroid, em Cambridge,<br />
Massachusetts, na realidade propôs sua própria versão da Icoria holográfica da memória em 1963,<br />
mas este trabalho passou relativamente despercebido.<br />
Uma técnica semelhante, conhecida como holografia de interferência,<br />
também pode explicar como podemos reconhecer tanto características<br />
familiares .como não familiares de uma imagem, tal como o rosto de alguém<br />
que não vimos durante muitos anos. Nesta técnica, um objeto é visto através de<br />
um pedaço de filme holográfico que contém sua imagem. Quando isto é feito,<br />
qualquer característica do objeto que tenha mudado desde que sua imagem foi<br />
originalmente registrada refletirá a luz de maneira diferente. Um indivíduo<br />
olhando através do filme percebe instantaneamente tanto o objeto que mudou<br />
como o objeto que permaneceu o mesmo. A técnica é tão sensível que até a<br />
pressão de um dedo num bloco de granito aparece imediatamente, e descobriuse<br />
que o processo tem aplicações práticas na indústria de teste de materiais. 8<br />
A MEMÓRIA FOTOGRÁFICA<br />
Em 1972, Daniel Pollen e Michael Tractenberg, pesquisadores da visão<br />
de Harvard, sugeriram que a teoria do cérebro holográfico pode explicar por<br />
que algumas pessoas têm memória fotográfica (também conhecida como<br />
lembrança eidética). De maneira característica, os indivíduos com memória<br />
fotográfica levarão poucos minutos examinando a cena que desejam<br />
memorizar. Quando querem ver a cena outra vez, eles "projetam" uma imagem<br />
mental dela, ou com os olhos fechados ou enquanto olham para uma parede lisa<br />
ou tela. Num estudo sobre um desses indivíduos (uma professora de história da<br />
arte de Harvard chamada Elizatíeth), Pollen e Tractenberg descobriram que as<br />
imagens mentais que ela projetava eram tão reais para ela, que quando lia a<br />
imagem de uma página do Fausto, de Goethe, seus olhos se moviam como se<br />
ela estivesse lendo uma página real.<br />
Ao notar que a imagem armazenada num fragmento de filme holográfico<br />
fica mais nebulosa à medida que o fragmento diminui, Pollen e Tractenberg<br />
sugeriram que talvez tais indivíduos têm lembranças mais vividas porque de<br />
alguma forma têm acesso a regiões muito grandes de seus hologramas de<br />
memória. Ao contrário talvez, a maioria de nós tem lembranças que são muito<br />
menos vividas, porque nosso acesso está limitado a regiões menores dos<br />
hologramas de memória. 9<br />
A TRANSFERÊNCIA DE HABILIDADES ADQUIRIDAS<br />
Pribram acredita que o modelo holográfico pode lançar luz também em<br />
nossa capacidade para transferir habilidades adquiridas de uma parte do corpo<br />
para outra. Enquanto você está sentado lendo este livro, pare um pouco e<br />
desenhe seu primeiro nome no ar com o cotovelo esquerdo. Provavelmente, vai<br />
descobrir que esta é uma coisa relativamente fácil de fazer, mesmo que seja<br />
algo que provavelmente você nunca fez antes. Pode não ser uma habilidade<br />
surpreendente para você mas, do ponto de vista clássico de que áreas diversas<br />
do cérebro (tal como a área que controla os movimentos do cotovelo) são hardwired<br />
*, ou capazes de realizar tarefas apenas depois do aprendizado repetitivo<br />
ter feito a ligação neural apropriada entre as células cerebrais, isto tem algo de<br />
enigmático. Pribram chama a atenção para o fato de que o problema se tornaria<br />
muito mais manejável se o cérebro convertesse todas as suas lembranças,