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pectos desta teoria já foram prefigurados em diversas tradições antigas.<br />
Eles nãos são os únicos presságios, o que é intrigante, pois sugere que<br />
também foram encontradas outras razões de considerar o universo como<br />
holográfico, ou pelo menos de intuir suas qualidades holográficas.<br />
Por exemplo, a idéia de Bohm de que o universo pode ser visto como<br />
composto de duas ordens básicas, a implícita e a explícita, pode ser<br />
encontrado em muitas outras tradições. Os budistas tibetanos chamam<br />
estes dois aspectos de vácuo e não vácuo. O não vácuo é a realidade dos<br />
objetos visíveis. O vácuo, como a ordem implícita, é o lugar de<br />
nascimento de todas as coisas no universo, as quais vazam daí num<br />
"fluxo ilimitado". Porém, apenas o vácuo é real e todas as formas no<br />
mundo objetivo são ilusórias, existindo simplesmente do fluxo incessante<br />
entre as duas ordens. 1<br />
Por sua vez, o vácuo é descrito como "sutil", "indivisível" e livre<br />
de características distintivas". Porque é uma totalidade contínua não<br />
pode ser descrita em palavras. 2 Propriamente falando, mesmo o não<br />
vácuo não pode ser descrito em palavras porque ele, também, é uma<br />
totalidade na qual a consciência e a matéria e todas as outras coisas são<br />
indissolúveis e completas. Nisto existe um paradoxo, pois apesar de sua<br />
natureza ilusória o não vácuo ainda contém "um complexo infinitamente<br />
vasto de universos". E ainda seus aspectos indivisíveis estejam sempre<br />
presentes. Como o sábio tibetano John Blofeld afirma: "Num universo<br />
assim composto, todas as coisas se intcrpenctram, e é interpenetrado por<br />
todas as outras coisas; como com o vácuo, assim com o não vácuo — a<br />
parte é todo'". 3<br />
Os tibetanos prefiguraram alguns dos pensamentos de Pribram também.<br />
De acordo com Milarepa, um iogue tibetano do século 11 e o mais<br />
renomado dos santos budistas tibetanos, a razão de sermos incapazes de<br />
perceber o vácuo diretamente é porque nossa mente inconsciente (ou,<br />
como Milarepa coloca, nossa "consciência interion) está também muito<br />
"condicionada" em suas percepções. Este condicionamento não só nos<br />
impede de ver o que ele chama de "fronteira entre a mente e a matéria"<br />
ou o que chamaríamos de domínio de freqüência, mas também nos faz<br />
formar um corpo para nós mesmos quando estamos no estado entre<br />
existências e não temos mais um corpo. "No domínio invisível dos céus<br />
(...) a mente ilusória é o grande culpado", escreve Milarepa, que<br />
aconselhava seus discípulos a praticar "a visão perfeita e a<br />
contemplação" a fim de compreender esta "Realidade Última". 4<br />
Os zen-budistas também reconhecem a indivisibilidade última da<br />
realidade e na verdade o objetivo principal do Zen é aprender como<br />
perceber esta totalidade. Em seu livro Os Jogos Zen que os Mestres<br />
Jogam e em palavras que poderiam ter sido plagiadas direto de um dos<br />
papéis de Bohm, Robert Sohl e Andreey Carr afirmam: "Confundir a<br />
natureza indivisível da realidade com arquivos de linguagem conceituai<br />
é a ignorância básica da qual o Zen procura nos livrar. As respostas<br />
últimas para a existência não são encontradas nos conceitos intelectuais<br />
e nas filosofias, por mais sofisticadas, mas sim num nível de experiência<br />
não conceituai direta da realidade' 1 . 5<br />
Os hindus chamam o nível implícito da realidade de Brahma. 6<br />
Brahma é sem forma mas é o lugar de nascimento de todas as formas na<br />
realidade visível, que aparecem a partir dela e então se encobrem de<br />
volta nela no fluxo infinito. 7 Como Bohm, que diz que a ordem implícita<br />
pode tão facilmente ser chamada de espírito, os hindus algumas vezes<br />
personificam este nível de realidade e dizem que é composta de pura<br />
consciência. Assim, a consciência não é somente uma forma mais sutil<br />
de matéria, mas é mais fundamental do que a matéria; e na cosmogonia<br />
hindu é a matéria que emergiu da consciência e não o contrário. Ou<br />
como os Vedas colocam, o mundo físico é trazido à existência por meio<br />
tanto dos poderes de "velamento" como de "projeção" da consciência. 8<br />
Porque o universo material é apenas uma realidade de segunda geração,<br />
uma criação da consciência velada, os hindus dizem que é transitória<br />
ou irreal, ou maya. Como o Svetasvatara Upanishad afirma: "A<br />
pessoa deve saber que a Natureza é ilusão (maya) e que Brâmane é o<br />
criador da ilusão. Todo este mundo é permeado de seres que são parte<br />
dele". 9 Da mesma forma, o Kena Upanishad diz que Brâmane é alguma<br />
coisa esquisita "que muda sua forma a cada momento, da forma humana<br />
a uma folha de grama". 10<br />
Porque todas as coisas se revelam a partir da totalidade irredutível<br />
de Brahma, o mundo também é um todo contínuo, dizem os hindus e é<br />
outra vez maya que nos impede de perceber que não existe na realidade<br />
nenhuma coisa tal como separação. "Maya separa a consciência unitária<br />
de forma que o objeto é visto como diferente do eu e então como<br />
separado completamente dos numerosos objetos no universo", diz o<br />
sábio védico Sir John Woodroffe. "E existe tal objetividade enquanto a<br />
consciência da humanidade estiver velada ou contraída. Mas na base<br />
última da experiência a divergência desaparece, pois nela existe, na