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páginas iniciais... - Garamond

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Apresentação<br />

A força das metáforas na expressão do pensamento é largamente reconhecida,<br />

mas elas também são decisivas na percepção que temos do mundo,<br />

influindo no modo como pensamos o que vemos e inclusive no que iremos<br />

ver. A percepção não é imediata nem neutra, e sim filtrada pelas nossas<br />

metáforas, pessoais e coletivas. Mesmo o que supomos como o nosso mais<br />

íntimo é atravessado por tais metáforas. este conjunto metaforizante pode<br />

ser pensado como superposto ao que numa outra referência teórica se designa<br />

como o imaginário. Que não se resume ao campo do especular nem<br />

ao modo como ele é estudado por Lacan, embora comumente seja traduzido<br />

nestes termos. reducionista, tal concepção empobrece a riqueza existente<br />

neste campo de questões, empobrecimento que acomete indistintamente<br />

psiquiatras, psicanalistas, sociólogos, antropólogos e outros.<br />

Existem aqui problemas que ocupam a reflexão filosófica desde sempre:<br />

“O que posso conhecer?”, “como?”, problemas não somente filosóficos ou<br />

epistemológicos mas que a todos envolvem ao referir o que se encontra<br />

em questão na própria possibilidade do conhecimento, na intimidade do<br />

processo através do qual conhecemos as coisas do mundo e da vida. na<br />

impossibilidade de conhecermos a “coisa em si” (Kant, 1787), operamos com<br />

imagens, representações, fantasias, metáforas. Tais metáforas são datadas,<br />

e assim também o conhecimento. Considere-se o seguinte trecho:<br />

nós criamos ferramentas e então nos moldamos a suas imagens. 1 O mecanismo<br />

dos relógios no século XVII inspirou metáforas mecanicistas (“o coração é<br />

uma bomba”) tal como o desenvolvimento dos dispositivos de autorregulação<br />

da metade do século 20 resultou na imagem cibernética (“o cérebro é um<br />

computador”). (Brockman, 1999)<br />

Hoje, início do século 21, pensamos que os comportamentos são regulados<br />

pelo cérebro, e que este seja neuroquímico. não passa de uma analogia,<br />

1. “nós moldamos nossas ferramentas e, depois, as nossas ferramentas nos moldam” (We<br />

shape our tools and thereafter our tools shape us). A frase é de Lewis Lapham, na introdução<br />

que escreve para Understanding media (McLuhan, 1964, p. IX), e esta nota não se encontra<br />

no texto de Brockman, sou eu que acrescento.

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