BRASIL E ARGENTINA 2015 Construindo uma Visão ... - CEBRI
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Centro Brasileiro de Relações Internacionais<br />
Consejo Argentino para las Relaciones Internacionales<br />
Konrad-Adenauer-Stiftung<br />
Brasil e Argentina <strong>2015</strong><br />
<strong>Construindo</strong> <strong>uma</strong> <strong>Visão</strong> Compartilhada<br />
Relatório Coordenado por<br />
José Botafogo Gonçalves e Félix Peña
Centro Brasileiro de Relações Internacionais<br />
Consejo Argentino para las Relaciones Internacionales<br />
Konrad-Adenauer-Stiftung<br />
<strong>BRASIL</strong> E <strong>ARGENTINA</strong> <strong>2015</strong><br />
<strong>Construindo</strong> <strong>uma</strong> <strong>Visão</strong> Compartilhada<br />
Relatório Coordenado por<br />
José Botafogo Gonçalves e Félix Peña<br />
1
Sumário<br />
Antecedentes p. 3<br />
Capítulo Um p. 5<br />
Introdução<br />
Capítulo Dois p. 10<br />
O Cenário Pós-Negociações Comerciais Internacionais<br />
e o Novo Mapa da Competência Econômica Global<br />
Capítulo Três p. 20<br />
A Produção e a Comercialização de alimentos de Qualidade<br />
Capítulo Quatro p. 29<br />
A produção e distribuição de produtos energéticos na região<br />
Capítulo Cinco p. 34<br />
A Segurança no Espaço Sul-americano<br />
Anexo I p. 39<br />
Programas de Trabalho<br />
Anexo II p. 42<br />
Reuniões com Especialistas<br />
Anexo III p. 44<br />
Equipes de Trabalho<br />
2
Antecedentes<br />
O Centro Brasileiro de Relações Internacionais (<strong>CEBRI</strong>) e o Conselho Argentino para as<br />
Relações Internacionais (CARI) desenvolveram um projeto em conjunto, com o objetivo de<br />
realizar projeções quanto às relações entre o Brasil e a Argentina. O projeto, em 2005, contou<br />
com o apoio da Fundação Konrad Adenauer tanto no Brasil como na Argentina.<br />
A idéia central do projeto foi contribuir na realização de um necessário exercício de<br />
apreciação conjunta de questões internacionais relevantes para ambos países, buscando<br />
identificar oportunidades e desafios que possam requerer um enfoque estratégico<br />
compartilhado e ações concertadas, e efetuar recomendações sobre como desenvolvê-las.<br />
Na etapa desenvolvida durante o ano de 2005, o projeto estabeleceu dois objetivos principais:<br />
a) Analisar, desde a perspectiva de ambos países, um conjunto limitado de questões<br />
relevantes de suas agendas nacionais com projeções globais e regionais, identificando<br />
desafios e oportunidades que tais questões possam apresentar em um horizonte de<br />
médio e longo prazo.<br />
b) Construir <strong>uma</strong> visão compartilhada de tais questões para identificar as principais<br />
convergências que possam resultar em função dos interesses nacionais dos dois países,<br />
incluindo sua participação no Mercosul e na região sul-americana como um todo.<br />
Nesse sentido, foram privilegiadas quatro questões principais, sem prejuízo das interações que<br />
possam se verificar entre estas e outras, como por exemplo, o desenvolvimento científico e<br />
tecnológico e a incorporação do progresso técnico aos processos produtivos e de<br />
comercialização.<br />
As quatro questões são:<br />
a) As atuais negociações comerciais internacionais e os cenários que possam ser<br />
previstos <strong>uma</strong> vez que tais negociações se concretizem – ou mesmo em caso de<br />
eventual fracasso de alg<strong>uma</strong> delas.<br />
b) A produção e comercialização global e regional de alimentos.<br />
c) Os futuros cenários em matéria de energia com destaque para a análise no espaço sulamericano.<br />
d) Os principais fatores globais e regionais que possam incidir sobre a agenda de<br />
segurança de cada um dos dois países.<br />
Em relação a cada <strong>uma</strong> das quatro questões, duas perguntas centrais orientaram o exercício<br />
conjunto de pesquisa e reflexão:<br />
a) Como incentivar <strong>uma</strong> leitura compartilhada por ambos países das novas realidades<br />
internacionais, globais e regionais, orientada a facilitar o desenvolvimento de<br />
ações conjuntas?<br />
b) Como aprimorar os métodos de harmonização de políticas e ações – públicas e<br />
privadas -, a fim de contemplar as perspectivas e interesses de ambos países?<br />
3
O projeto se desenvolveu por meio de um programa de reuniões conjuntas na sede do <strong>CEBRI</strong>,<br />
no Rio de Janeiro e na sede do CARI, em Buenos Aires 1 . Cada reunião foi precedida por<br />
reuniões locais, coordenadas pelas instituições, que contaram com a participação de<br />
especialistas 2 . Foram constituídas equipes técnicas em ambos os países para o<br />
desenvolvimento do projeto, que ficaram encarregadas pela realização dos relatórios<br />
correspondentes a cada <strong>uma</strong> das quatro áreas temáticas contempladas 3 , a saber: negociações<br />
comerciais internacionais, alimentos, energia e segurança.<br />
Com base nos resultados desse primeiro exercício conjunto, ambas instituições se propõem a<br />
incentivar o enfoque compartilhado dos desafios e oportunidades que colocam em confronto o<br />
Brasil e a Argentina no plano internacional. Com isso, pretende-se identificar possíveis<br />
fatores convergentes dos respectivos interesses nacionais e efetuar recomendações que<br />
contribuam para <strong>uma</strong> ação concertada, tanto no plano bilateral como no cenário mais amplo<br />
do Mercosul e, inclusive, em outras frentes de trabalho que os dois países possam vir a<br />
compartilhar.<br />
A seguir, apresentamos o relatório decorrente desse primeiro exercício conjunto desenvolvido<br />
em 2005. O documento foi estruturado do seguinte modo: <strong>uma</strong> primeira parte introdutória<br />
(Capítulo1) na qual se apresentam as considerações gerais e os enfoques e propostas mais<br />
relevantes; e <strong>uma</strong> segunda parte, com quatro capítulos, na qual se encontram as análises e<br />
propostas referentes a cada <strong>uma</strong> das quatro áreas temáticas privilegiadas.<br />
1<br />
O Anexo I contem informações sobre tais reuniões, suas respectivas agendas e participantes.<br />
2<br />
No Anexo II, é apresentada a lista dos especialistas que participaram das reuniões organizadas pelo <strong>CEBRI</strong> e<br />
CARI.<br />
3<br />
A lista dos integrantes das respectivas áreas técnicas consta do Anexo III.<br />
4
Capítulo Um<br />
Introdução<br />
Critérios gerais e conclusões principais<br />
O exercício conjunto realizado pelo <strong>CEBRI</strong> e pelo CARI foi desenvolvido levando-se em<br />
conta critérios sobre o sentido e o alcance da aliança estratégica entre o Brasil e a Argentina e<br />
as definições adotadas nos momentos da criação do Mercosul em 1985 e 1990, buscando<br />
colocá-los n<strong>uma</strong> perspectiva de longo prazo, isto é, <strong>2015</strong>. Com base em tais critérios, foram<br />
colocados os desafios e oportunidades de cada <strong>uma</strong> das quatro áreas temáticas escolhidas.<br />
O sentido e o alcance da aliança estratégica entre Brasil e Argentina<br />
1. Pensar em conjunto o futuro de suas respectivas inserções externas, em <strong>uma</strong><br />
perspectiva de médio e longo prazo, compartilhando a leitura das forças responsáveis<br />
pelas mudanças significativas nos mapas do poder mundial, da segurança, da<br />
competição econômica global e das negociações comerciais inter nacionais.<br />
2. Capitalizar a experiência acumulada desde o início da integração bi-nacional e do<br />
Mercosul, construindo <strong>uma</strong> nova etapa a partir dos benefícios já alcançados.<br />
3. Privilegiar, no estabelecimento do roteiro da construção futura da aliança estratégica,<br />
no âmbito mais amplo do Mercosul e do espaço sul-americano e latino-americano,<br />
alg<strong>uma</strong>s questões prioritárias que estão estreitamente vinculadas entre si e com<br />
ramificações em outras questões relevantes. No entanto, isso não exclui a importância<br />
de outras questões observadas tanto no plano político e econômico, como no social e<br />
educacional.<br />
4. As questões privilegiadas são: os cenários resultantes das atuais negociações<br />
comerciais internacionais e do novo mapa da competição econômica global; a<br />
capacidade de produção de alimentos de qualidade que apresentam <strong>uma</strong> demanda<br />
ascendente; a produção e distribuição de recursos energéticos; e a segurança no<br />
contexto contíguo de ambos países, qual seja, o espaço sul-americano.<br />
5. As duas primeiras questões têm <strong>uma</strong> forte dimensão global e ramificações regionais<br />
significativas na incorporação do progresso técnico, da infra-estrutura física,<br />
transporte e logística.<br />
6. As duas últimas têm <strong>uma</strong> forte dimensão regional de escala sul-americana, dada a<br />
contigüidade territorial, sem prejuízo de suas implicações no plano global.<br />
7. As quatro questões são factíveis em muitos aspectos – não necessariamente em todos -<br />
de <strong>uma</strong> abordagem conjunta a fim de alcançar os melhores resultados dentro da<br />
perspectiva dos dois países.<br />
8. Por sua vez, tais questões são suficientemente importantes para que cada país<br />
privilegie em sua abordagem o desenvolvimento e a defesa de seus próprios interesses<br />
nacionais.<br />
9. Deste modo, as quatro questões podem ser fonte de divergências quanto aos critérios<br />
de prioridade, abordagem e, principalmente, quanto aos critérios de competição entre<br />
os dois países e seus sócios.<br />
10. Nesse sentido, a experiência acumulada indica que a aliança estratégica deverá dar<br />
ênfase à definição de métodos de trabalho conjunto com clara flexibilidade – incluindo<br />
agências ou autoridades comuns para o desenvolvimento de tarefas específicas -<br />
5
aseados em poucas regras, e que permitam a articulação dos respectivos interesses<br />
nacionais em um cenário de ganhos mútuos.<br />
Os cenários pós-negociações comerciais internacionais e o novo mapa da competição<br />
econômica global<br />
1. Os dois países devem se preparar para enfrentar cenários pós-negociações, sejam de<br />
êxito ou fracasso nas principais negociações comerciais na Rodada Doha na<br />
Organização Mundial do Comércio (OMC); com os Estados Unidos da América<br />
(EUA) no âmbito do livre comércio hemisférico; e com a União Européia (UE) no<br />
âmbito de <strong>uma</strong> associação estratégica bi-regional.<br />
2. Isso implica colocar na perspectiva de tais cenários tanto o desenvolvimento e<br />
consolidação de um espaço de preferências econômicas – incluindo serviços e<br />
compras governamentais - entre os dois países e seus sócios do Mercosul, como<br />
também dar passos concretos em direção ao objetivo estratégico de um mercado único<br />
cujo prazo de concretização convém manter ainda indefinido.<br />
3. O necessário processo de revisão da atual Tarifa Externa Comum (TEC) deveria<br />
efetuar-se aproveitando o máximo de flexibilidade permitida pelo GATT 1994 - em<br />
sua definição de <strong>uma</strong> união aduaneira incompleta, incluída no artigo XXIV 8.a - para<br />
inserir um enfoque de geometria variável e de múltiplas velocidades durante um<br />
período de transição de dez anos.<br />
4. O aproveitamento das regras da OMC e de seu mecanismo de solução de controvérsias<br />
oferece um amplo campo de ação conjunta de ambos países, tanto no plano do<br />
diagnóstico sobre suas evoluções, como no das negociações futuras, e, em particular,<br />
no das ações compartilhadas para exercer os direitos derivados das regras vigentes e<br />
das que venham a ser negociadas no futuro.<br />
5. Institucionalizar a flexibilidade no desenvolvimento do Mercosul, reforçar as<br />
disciplinas coletivas baseadas em regras exigíveis e modernizar seus métodos de<br />
trabalho com base no aperfeiçoamento das atuais instituições. Essas ações trariam<br />
ganhos de previsibilidade e, de tal forma, incentivariam que o Mercosul fosse visto<br />
pelos investidores como ambiente propício à tomada de decisões orientadas à<br />
transformação produtiva e à inserção competitiva nos mercados globais.<br />
6. Tal enfoque permitiria articular <strong>uma</strong> estratégia que concilie o aprofundamento<br />
econômico comum do Mercosul, com sua extensão aos países sul-americanos,<br />
aproveitando plenamente as regras da Associação Latino-Americana de Integração -<br />
ALADI.<br />
7. O eixo do processo de integração deveria transferir-se para as políticas públicas e<br />
ações orientadas ao desenvolvimento da competitividade em cada um dos países - com<br />
ênfase especial para aqueles setores que apresentem maiores sensibilidades às<br />
condições de mercado resultantes - seja fruto das negociações comerciais<br />
internacionais atuais ou as que venham a se desenvolver no futuro ou devido a um<br />
novo rearranjo do mapa da competição global.<br />
8. Uma estratégia orientada para incentivar a transformação produtiva em ambos países e<br />
em seus sócios teria que dar ênfase também ao desenvolvimento de redes de inovação<br />
científica e tecnológica que facilitem a incorporação do valor agregado intelectual para<br />
bens e serviços. Por outro lado, <strong>uma</strong> estratégia orientada a facilitar o comércio intraregional<br />
– em particular, no comércio com terceiros merca dos – nos eixos de infraestrutura<br />
física, redes de transporte e logística.<br />
9. O espaço econômico integrado, no que se refere às disciplinas comuns em matéria de<br />
competição econômica e defesa comercial, tem que incentivar a operação de redes<br />
6
transnacionais de produção e comercialização, bem como o desenvolvimento de redes<br />
com origem em ambos países.<br />
10. Neste enfoque, é preciso atenção à necessidade de um qualitativo na relação com o<br />
Chile e com outros países sul-americanos, aproveitando <strong>uma</strong> maior flexibilidade na<br />
futura tarifa externa comum do Mercosul.<br />
11. A adoção de políticas e ações de cooperação solidária com Paraguai, Uruguai e<br />
Bolívia deveriam ser articuladas, se possível, com a participação de outros países,<br />
principalmente os da União Européia, levando em consideração não só os<br />
requerimentos resultantes de assimetrias originadas na dimensão e grau de<br />
desenvolvimento de suas economias, como também aqueles que derivem das questões<br />
vinculadas com energia e segurança.<br />
12. No plano das negociações comerciais internacionais duas idéias podem ser<br />
contempladas. A primeira, refere-se à criação de um mecanismo que facilite a<br />
coordenação das negociações atuais e do posterior desenvolvimento daquilo que for<br />
acordado. Nesse sentido, parece recomendável analisar a experiência do Caribbean<br />
Regional Negotiating Machinery (RNM) (www.xrnm.org). A segunda idéia é a de<br />
aprofundar as relações com a China e estabelecer um conjunto de relações<br />
preferenciais estáveis compatíveis com as disciplinas estabelecidas na matéria pela<br />
OMC.<br />
A questão da produção e comercialização de alimentos de qualidade<br />
1. O novo mapa da competição econômica global, com o ativo protagonismo de países<br />
como a China e Índia, dentre outras economias emergentes, abrem janelas de<br />
oportunidades para ambos países, seus sócios e demais países sul-americanos.<br />
2. Seu aproveitamento, por cada um dos países, requer um enfoque estratégico de médio<br />
e longo prazo, no qual se busquem saltos quantitativos e qualitativos da produção e<br />
comercialização.<br />
3. As redes de desenvolvimento de conhecimento científico e tecnológico terão <strong>uma</strong><br />
incidência especial em potencializar a capacidade de aproveitamento pleno dos ganhos<br />
que resultarão de <strong>uma</strong> maior dinâmica do comércio mundial de alimentos,<br />
principalmente no campo da biotecnologia e nas quais haja participação de instituições<br />
especializadas de ambos países e seus sócios do Mercosul, caso sejam obtidos avanços<br />
significativos na inclusão da agricultura nas atuais negociações comerciais<br />
internacionais.<br />
4. Muito importante também será o desenvolvimento de redes de comercialização<br />
próprias, que permitam alcançar os consumidores finais com produtos de qualidade, e,<br />
se possível, com marcas próprias.<br />
5. Isso requer <strong>uma</strong> forte ação institucional para o desenvolvimento de estratégias e<br />
recursos negociadores conjuntos.<br />
6. Deve-se ainda trabalhar fortemente os temas logísticos e de infra-estrutura para se<br />
chegar aos mercados asiáticos em condições competitivas.<br />
7. O compartilhamento de mecanismos conjuntos – inclusive autoridades comuns – de<br />
controle da qualidade sanitária e fito-sanitária deveria ser <strong>uma</strong> das prioridades do<br />
Mercosul.<br />
8. Os mercados futuros darão maior importância à qualidade sanitária e às questões<br />
ambientais. Neste sentido, de modo a aproveitar todas as oportunidades, será<br />
necessária especial atenção por parte de ambos os países e seus sócios a essas áreas.<br />
9. O tema precedente e a tendência em direção a práticas de comércio justo no âmbito<br />
agro-alimentário, a diferenciação de produtos e de valor agregado estão muito<br />
7
vinculados com a importância de desenvolver pr oduções regionais sustentáveis, com<br />
base em ativos territoriais específicos.<br />
10. Outro plano de ação conjunta se refere ao tratamento dispensado aos transgênicos no<br />
âmbito da OMC, incluindo possíveis evoluções no acordo (Trade-Related Aspects of<br />
Intellectual Property Rights) TRIPS.<br />
A questão da produção e distribuição de produtos energéticos<br />
1. O investimento energético obriga a construir cenários estratégicos de longo prazo, nos<br />
quais são determinantes as definições de autarquia ou integração regional das opções<br />
energéticas de cada país.<br />
2. Os dois países compartilham a necessidade de complementar investimentos público e<br />
privado para o desenvolvimento sustentável do setor energético na região. A demanda<br />
de investimento do setor energético, segundo a taxa de crescimento, representa algo<br />
em torno de 2 a 3 pontos percentuais do PIB.<br />
3. Foram dados importantes passos em matéria de aproveitamento de recursos e redes de<br />
interconexão para avançar na conformação de mercados regionais de petróleo e<br />
derivados, gás natural e eletricidade.<br />
4. Existem projetos comuns, alguns com pré-viabilidade analisada, cujo inventário<br />
resulta relevante atualizar. Menciona-se, de maneira não excludente, a Central de<br />
Geração Hidrelétrica de Garabí, a interconexão em extra-alta tensão de Yacyretá e<br />
Itaipú e o fechamento do anel de gasodutos no trajeto que liga a Argentina a Porto<br />
Alegre. Reconhece-se que a prioridade dessas obras depende do avanço do processo<br />
de integração energética regional.<br />
5. Necessidade de se avançar na agenda de convergência dos marcos reguladores em<br />
matéria energética, que tenha como objetivo final imediato a conformação de<br />
mercados regionais de petróleo e derivados, gás natural e eletricidade. A necessidade<br />
dessa agenda faz-se mais importante na medida em que começam a ser discutidas<br />
obras de complementação energética regional, que vão além da geografia dos dois<br />
países e requerem negociações multilaterais.<br />
6. Importância de explorar a incorporação do Mercosul como membro observador do<br />
Energy Charter Treaty , como passo inicial para o relançamento da região à radicação<br />
de investimentos no setor e a fixação de <strong>uma</strong> agenda de convergência dos marcos<br />
reguladores para a conformação de um mercado regional de energia.<br />
7. Necessidade de aprofundar um acordo estratégico de complementação em matéria de<br />
energia nuclear.<br />
A questão da segurança no espaço sul-americano<br />
1. Os avanços substanciais no que concerne à confiança mútua e cooperação entre o<br />
Brasil e a Argentina em temas tão sensíveis nas décadas passadas, como energia<br />
nuclear e Defesa Nacional, devem ser preservados e aprofundados. Não obstante, vale<br />
ressaltar que os níveis alcançados estão muito próximo ao que se pode almejar para o<br />
tipo de área em questão.<br />
2. Um passo a se considerar, de modo a reforçar o primeiro ponto e dar um marco<br />
estratégico aos avanços que foram dados entre os Ministérios de Defesa, as Forças<br />
Armadas e as agências nucleares, é a criação de um Observatório de Segurança e<br />
Defesa com representação de acadêmicos e especialistas, bem como a presença ad hoc<br />
de delegados das áreas de Defesa, Relações Exteriores, Inteligência Estratégica e<br />
Planejamento .<br />
8
3. A crítica situação da segurança cidadã na região e a relevância que o tema desperta no<br />
Brasil e sua crescente importância na Argentina fazem com que, no presente, a<br />
cooperação e coorde nação nessa área – e os processos conexos, tais como o tráfico de<br />
drogas, precursores químicos e pessoas – devam ter a mesma relevância na relação<br />
entre os dois países que tiveram os temas nuclear e de medidas de confiança mútua no<br />
passado.<br />
4. Nesse sentido, a busca de espaços de coordenação e cooperação em temas como o<br />
monitoramento do espaço aéreo, o controle de cargas fluviais e portuárias, e o controle<br />
terrestre, assim como o intercâmbio mais fluido e sistemático de inteligência criminal<br />
e estratégica, entre outros, adquirem <strong>uma</strong> importância central.<br />
5. Ademais, deveria ser considerada a hipótese de se reforçar mecanismos de<br />
coordenação e cooperação em setores pontuais, como as Forças Especiais das Forças<br />
Armadas e as Forças de Segurança para ações contra o crime organizado, terrorismo e<br />
outros.<br />
6. Outro fator a ser considerado é a gradual padronização dos meios de comunicação das<br />
Forças Armadas e das Forças Especiais de ambos países, como também das munições<br />
das armas regulamentadas.<br />
7. A deterioração da situação de segurança na Zona Andina, a escalada de violência na<br />
Colômbia, o avanço do narcotráfico e a crescente presença militar internacional no<br />
Paraguai são alguns dos temas que carecem de análises estratégicas e respostas<br />
concretas compartilhadas pelo Brasil e Argentina.<br />
8. Outro ponto é reconhecer que a América do Sul, em geral, e o Cone Sul, em particular,<br />
podem ser considerados como zonas de paz, se pensarmos em termos de conflitos<br />
bélicos inter-estatais. Não obstante, a baixa propensão para guerras inter-estatais não<br />
serve para ocultar os altos e crescentes níveis de violência na região. Essa realidade<br />
requer <strong>uma</strong> resposta conjunta por parte da Argentina e do Brasil.<br />
9
Capítulo Dois<br />
O Cenário Pós-Negociações Comerciais Internacionais e o Novo Mapa da<br />
Competência Econômica Global<br />
Introdução<br />
1. Como explicitado nos termos de referência do projeto, o objetivo deste Relatório é,<br />
orientado por grandes eixos de cooperação, que, ao menos do ponto de vista lógico, façam<br />
sentido, levantar a possibilidade seja de visões comuns, passíveis de se desdobrarem em<br />
iniciativas concretas, seja dos pontos de divergência, onde, talvez, as realidades nacionais<br />
ainda impeçam a adoção de um esforço conjunto.<br />
Nesse quadro metodológico, o resultado não deve ser <strong>uma</strong> lista de convergências – que a<br />
necessidade do consenso pode levar a níveis mínimos ou excessivamente gerais; inúteis<br />
ambos - mas <strong>uma</strong> reflexão séria e a mais profunda possível, sobre as questões e eventuais<br />
estratégias comuns, na área das negociações econômicas internacionais. Questões, repita-se,<br />
que não forçosamente serão equacionadas por <strong>uma</strong> via única.<br />
Acresce a essa démarche, <strong>uma</strong> preocupação com a conhecida disparidade econômica entre o<br />
Brasil e os seus parceiros no Mercosul. Ainda que mais grave com relação ao Paraguai e ao<br />
Uruguai, há, indubitavelmente, pontos onde, sem <strong>uma</strong> atenção e, até, um pouco de<br />
generosidade da parte do Brasil, os movimentos de capitais, investimentos ou “benefícios” em<br />
geral darão preferência ao solo brasileiro, agravando assimetrias existentes. Quase se pode<br />
enunciar o princípio de que, sem medidas regionais, ou <strong>uma</strong> prioridade equilibrada aos dois<br />
lados, as soluções laissez faire tendem a agravar a assimetria, fomentando o descrédito quanto<br />
ao interesse da parceria.<br />
Por outro lado, a assimetria brasileira faz com que a dualidade Brasil-Argentina não possa<br />
mais ser pensada isoladamente: há que incluir nesse par, sempre que possível – e, por vezes,<br />
até no menos possível – o Uruguai e o Paraguai, sob pena de contribuirmos para o<br />
enfraquecimento e descrédito do Mercosul. Mercosul, aliás, que tomamos como realidade<br />
inquestionável, em seu percurso rumo ao pleno estabelecimento do mercado comum.<br />
Todavia, não há, da parte brasileira, o interesse em criar a ilusão de, ou desenhar um Brasil<br />
generoso, totalmente compreensivo aos anseios – mais, ou menos, legítimos - dos argentinos.<br />
Apenas, em primeiro lugar, o esforço em delinear medidas factíveis para conter efeitos<br />
perversos, devidos às disparidades existentes. Em segundo lugar, o desejo de construir<br />
parcerias sólidas, “para o resto da vida”, que componham esse convívio integrado, entre as<br />
duas nações, que acreditamos deva pautar o seu percurso futuro.<br />
Nas seções seguintes, são apresentadas quatro propostas. Cada seção contextualiza e motiva<br />
<strong>uma</strong> proposta, que é descrita, em caráter preliminar, ao final. A última seção consubstancia o<br />
produto do projeto, enunciando as propostas de modo integrado e conclusivo. Sugere,<br />
também, três propostas auxiliares, que contêm ações mais específicas, visando ajudar a<br />
implementação das quatro proposições gerais.<br />
Pré-requisitos<br />
10
2. Um primeiro ponto de s<strong>uma</strong> importância, considerado mesmo pré-requisito para o<br />
estabelecimento de visões conjuntas, seria um olhar construtivo e pragmático sobre a Tarifa<br />
Externa Comum (TEC) do Mercosul. A TEC - produto sobejamente sabido do Protocolo de<br />
Ouro Preto, de dezembro de 2004 - carece de <strong>uma</strong> revisão que, além de ter que ser liderada<br />
pelos dois parceiros maiores, a readapte às novas realidades, tanto mercosulinas como<br />
externas.<br />
Não cabe aqui detalhar essa revisão. Enfatizando a necessidade da mesma, ressaltamos os<br />
seguintes itens essenciais, a serem levados em consideração:<br />
a) reformulação das tarifas estipuladas para os bens de capital, item que se constituiu em<br />
fonte perene de desavenças, a demandar <strong>uma</strong> atitude mais condescendente brasileira<br />
que, na situação atual (ao menos em <strong>uma</strong> primeira análise), não causaria grande<br />
impacto negativo na economia nacional;<br />
b) revisão dos valores existentes para os demais itens (inclusive as “perfurações” e<br />
exceções) tendo em vista a realidade, atual e futura, do efetivo uso da TEC. Os<br />
acordos com o México e a Comunidade Andina, ou em vista com diversos países do<br />
norte e do sul, e o provavelmente a ser concluído, no ano próximo, com a União<br />
Européia (UE), bem como algo que, cedo ou tarde, será feito com os Estados Unidos<br />
(EUA) são fatos concretos que, a médio prazo, alterarão significativamente tanto o<br />
impacto como o valor estratégico da TEC;<br />
c) analisar também a questão dos bens relacionados à “galáxia da informação”<br />
(informática, telecomunicações, etc), essenciais para o desenvolvimento tecnológico<br />
de ambas as economias.<br />
3. Importa ainda o timing dessa revisão; suficiente antecedência devendo ser dada para a<br />
apresentação e debate de propostas representativas, tanto de visões acadêmicas, em princípio<br />
isentas de interesses específicos, como dos pleitos e argumentos dos diversos grupos de<br />
pressão. Para isso, ampla divulgação da revisão deveria ocorrer, com um cronograma de<br />
reuniões preparatórias. É possível que as discussões efetivas não possam se dar antes do<br />
segundo semestre de 2006.<br />
4. Ao lado da adoção de <strong>uma</strong> atitude mais moderna e realista quanto à TEC, parece<br />
fundamental explorar convergências na OMC. Elementos para viabilizar essa atitude conjunta<br />
são:<br />
a) as posições assumidas nas negociações (inconclusas) da Área de Livre Comércio das<br />
Américas (ALCA) e do acordo de livre-comércio Mercosul-UE, nomeadas, porém não<br />
exclusivamente, no que diz respeito a serviços, compras governamentais e<br />
investimento;<br />
b) as posições atuais na Rodada Doha;<br />
c) os esforços com vistas à adoção, pelo Mercosul, de <strong>uma</strong> forma de trabalho conjunta na<br />
OMC, assunto sobre o qual o Brasil encaminhou, recentemente, proposta ao Grupo do<br />
Mercado Comum –(GMC).<br />
A análise do item a) revela um considerável grau de convergência – ainda que não<br />
unanimidade - entre os dois países, podendo-se tomar a última proposta feita à UE 5 como<br />
ponto de partida para avançar mais em posições comuns. Com relação à b), dado que as<br />
discussões estão ainda fortemente concentradas na questão agrícola e no acesso a mercado<br />
5 A nosso ver, a mais avançada.<br />
11
para os bens não-agrícolas (basicamente, manufaturados), os dois países também têm, até<br />
agora, revelado um alto grau de concordância. Finalmente, em c) entende-se a construção não<br />
só de posições negociadoras conjuntas, como de mecanismos de pressão visando seja o<br />
preenchimento de, seja o apoio a candidatos comuns para , postos-chave na Organização.<br />
Engloba também o uso concertado do sistema de solução de controvérsias, onde o Brasil<br />
detém, no momento, <strong>uma</strong> “tecnologia” mais avançada que poderia ser compartida com a<br />
Argentina e todos os seus parceiros no Mercosul.<br />
5. Os dois pré-requisitos acima motivam a primeira proposta:<br />
Proposição 1: Construção de <strong>uma</strong> frente negociadora comum na OMC. Alicerçados em <strong>uma</strong><br />
nova TEC e em posições, o mais harmonizadas possível, nos novos temas da agenda<br />
negociadora, os dois países – junto com os outros dois parceiros mercosulinos – lançariam as<br />
bases para <strong>uma</strong> atuação conjunta, que compreenderia não só os temas do Anexo 1 do Acordo<br />
de Marraqueche, mas também o Anexo 3 (sistema de resolução de conflitos) e a atuação<br />
político-institucional no seio da Organização.<br />
Os parceiros externos<br />
6. Mantendo a perspectiva comercial, passamos a examinar o papel dos parceiros externos,<br />
concentrando-nos em três dos mais importantes, a UE, os EUA e a China. Conscientes de que<br />
não esgotaremos o tema, utilizamos as presentes negociações na Rodada Doha como ponto de<br />
partida para a análise das possíveis convergências e divergências.<br />
Selecionamos, para exame, os cinco temas mais importantes da Rodada. Assuntos mais<br />
específicos, como Regras de Origem ou Barreiras Técnicas ao Comércio, ainda que<br />
importantes, não nos pareceram cruciais ou separadores. Da mesma forma, Mecanismos de<br />
Facilitação do Comércio é outro tópico onde, em princípio, há um consenso razoável.<br />
Passamos aos cinco grupos:<br />
7. Agricultura<br />
Tradicionalmente, opõe o Brasil e a Argentina (A+B), e o próprio Mercosul, aos EUA e a UE.<br />
A China, até agora, continua a ser membro do G20 e, junto à Índia e ao Brasil, a constituir o<br />
núcleo duro do grupo. Entretanto, os dois gigantes asiáticos têm, internamente, <strong>uma</strong> postura<br />
mais protecionista do que o Mercosul. Até o momento, e muito graças às habilidades<br />
diplomáticas brasileiras, a China tem, pelo menos de forma geral, apoiado os pleitos e<br />
estratégias do Mercosul. Alguns analistas creditam esse alinhamento a interesses específicos,<br />
a curto/médio prazo, na liberalização plena do mercado para os produtos do agronegócio<br />
intensivos em mão-de-obra – horticultura, flores e frutos, legumes, criação de animais<br />
confinados, etc - setores onde ela estaria se preparando para se tornar um exportador<br />
competitivo. Se verdadeiro ou não, em um futuro próximo, não parece que as posições atuais<br />
sofram <strong>uma</strong> grande mudança. A atual conduta chinesa deve também ser entendida com a<br />
ajuda do próximo item.<br />
8. Acesso de Mercado aos Produtos Industriais (Non-Agricultural Market Access - NAMA)<br />
Embora não em <strong>uma</strong> oposição tão grande como no caso anterior, o Mercosul e a UE<br />
novamente não estão do mesmo lado, esta última tendendo para a posição dos EUA – bem<br />
oposta à de A+B – no que tange ao uso da fórmula suíça para o abaixamento de tarifas,<br />
12
embora não advogando (como os EUA) valores tão drásticos para os pesos. Mais do que o<br />
Mercosul, A+B, juntamente com a Índia, estão relativamente isolados como um restrito grupo<br />
de oposição, em <strong>uma</strong> situação que não parece muito sustentável. Entretanto, o trabalho<br />
conjunto dos dois países é extremamente auspicioso, no contexto do nosso projeto.<br />
Qualquer concessão significativa por parte dos “dois grandes” deve ser acompanhada, em<br />
princípio, por um desenvolvimento conveniente na Agricultura. Independentemente do que<br />
ocorra nessa área, é muito provável que os “três recalcitrantes” sejam compelidos a aceitar a<br />
linha a ser imposta pela UE+EUA.<br />
A China tem mantido um perfil relativamente baixo que não deverá se alterar a curto prazo.<br />
Poderá, contudo, tornar-se mais ativa, após a ministerial de Hong Kong (dezembro de 2005),<br />
por duas razões. Alimenta ela, aparentemente, um interesse em tarifas zero para o conjunto de<br />
bens de informação; manobra considerada importante para o papel que pretende desempenhar<br />
no mercado mundial de tais bens 6 . Em segundo lugar, como demonstrado por alguns estudos,<br />
a economia chinesa pode sofrer bastante, a curto prazo, com <strong>uma</strong> liberalização substancial nas<br />
negociações NAMA; algo que o governo parece mais inclinado a evitar, sobretudo porque, ao<br />
contrário do que ocorre com a Argentina, e principalmente o Brasil, as tarifas consolidadas<br />
chinesas são muito próximas das aplicadas.<br />
Dependendo da combinação Agricultura-NAMA, o dragão chinês pode se aliar mais<br />
claramente a A+B (e ao Mercosul), ou passar a nos opor, caso considere muito alta a conta<br />
que está sendo obrigado a pagar em NAMA, devido às concessões obtidas pelo G20 em<br />
Agricultura. De qualquer forma, A+B estarão em oposição a UE+EUA.<br />
9. Serviços<br />
As negociações avançam ainda de forma muito tímida nessa área; a maioria dos membros<br />
parecendo aguardar um cenário mais definido nos dois itens anteriores para mostrar as cartas<br />
em serviços. Resguardando as diferenças constantes nas ofertas apresentadas, tanto junto às<br />
negociações da ALCA como as da área de livre comércio com a UE, o Brasil e a Argentina<br />
fizeram, no entanto, ofertas mais modestas em Genebra. Não é impossível que o próprio<br />
Mercosul e a UE mantenham <strong>uma</strong> posição conservadora, embora algum conflito possa ser<br />
esperado. Com relação aos EUA mais divergências deverão ocorrer em 2006. Já a China, em<br />
termos gerais, deverá se alinhar mais próxima ao Mercosul do que aos outros dois, embora<br />
possa evoluir para <strong>uma</strong> posição não exatamente conforme à da A+B.<br />
10. Regras e Medidas de Proteção Contingencial<br />
Tendo em vista a perspectiva, tanto na Argentina como no Brasil, de possíveis medidas<br />
comerciais contra a China, e os períodos de transição constantes em seu Protocolo de Acessão<br />
à OMC, é possível que a mesma não desempenhe um papel muito ativo nessas discussões. O<br />
Mercosul como um todo, e particularmente o Brasil, tem participado com destaque no grupo<br />
para (possível) reformulação do antidumping, sem encontrar grande oposição por parte da<br />
UE, mas em terreno não coincidente com o dos EUA. Modificações no Acordo sobre<br />
Subsídios e Medidas Compensatórias, especialmente nos itens (j) e (k) do seu Anexo I, que<br />
descreve os subsídios à exportação proibidos, ainda que pouco prováveis, colocarão o<br />
Mercosul e a China no mesmo lado. O mesmo se aplica, caso algo ocorra, com respeito ao<br />
Acordo Trade Related Investment Measures ( TRIMS).<br />
6 Papel, com relação ao qual, já ve m dando sinais de agressividade.<br />
13
11. Propriedade Intelectual<br />
É provável que a China se una ao Mercosul, diante de qualquer tentativa de aumentar os<br />
compromissos ou obrigar a um cumprimento mais efetivo das legislações domésticas de<br />
propriedade intelectual, como desejado pelos EUA e a UE, no âmbito do acordo TRIPS. A<br />
UE poderá adotar <strong>uma</strong> posição intermediária, sendo entretanto mais exigente com a China do<br />
que com A+B.<br />
Cabe ainda lembrar que, como permitido no Protocolo de Acessão, os membros podem<br />
aplicar – de modo transitório, até 2013 – salvaguardas unilaterais contra a China, baseadas<br />
nos procedimentos contidos no Art. XII do GATT 1994 e no Acordo sobre Salvaguardas da<br />
Rodada Uruguai, bem como direitos antidumping. Salvaguardas especiais, no caso de têxteis,<br />
são também autorizadas até 2008. No caso do antidumping , os membros podem invocar o fato<br />
da China ainda não ser <strong>uma</strong> economia de mercado, o que simplifica as investigações, já que<br />
não ficam obrigados a usar dados chineses no levantamento dos custos e preço de produção.<br />
O Brasil e a Argentina concederam – até agora, somente de modo retórico - à China o status<br />
de economia de mercado, perdendo esse direito.<br />
Da análise de todos os pontos acima, ainda que atentando para o seu aspecto conjuntural,<br />
resultam as seguintes evidências:<br />
a) A+B, em horizonte próximo, estão mais cerca da China do que dos “grandes” UE e<br />
EUA, havendo espaço para a construção de, no mínimo, <strong>uma</strong> linha cooperativa<br />
estratégica;<br />
b) muito carregada pela questão da agricultura, a relação com os dois grandes não é<br />
necessariame nte boa neste plano, havendo inclusive a possibilidade de fortes<br />
oposições;<br />
c) contenciosos com a China “estão no ar”, tanto da parte da UE e dos EUA<br />
(principalmente deste), como também com A+B (e o Mercosul). Dada a enorme<br />
atratividade do mercado chinês, os três grupos, em princípio, procurarão explorar a via<br />
diplomática, de modo a não prejudicar oportunidades potenciais. Ainda assim, a<br />
relação bilateral no plano comercial de cada um deles com a China deverá se tornar<br />
mais tensa no futuro.<br />
Essas evidências embasam a:<br />
Proposição 2: É necessário trabalhar <strong>uma</strong> linha conjunta com a China, que pode tomar como<br />
ponto de partida as afinidades existentes na OMC. Ainda considerando esse foro, as relações<br />
comerciais com os EUA e a UE não podem ser consideradas fáceis. A melhoria de ambas<br />
pode se dar tanto pela via da Rodada – o que parece menos provável – como pela via do<br />
regionalismo. Esse, portanto, deve ser (novamente) considerado como um “plano B”<br />
relevante, onde recursos negociadores devem ser investidos.<br />
12. A Proposição 2 não pode entretanto ser tomada em separado, pois está intimamente<br />
relacionada com o tema a seguir.<br />
Da negociação interna ao externa<br />
13. O que aconteceria à Argentina e ao Brasil se, por um fiat, obtivessem, amanhã, as<br />
liberalizações agrícolas desejadas? Representaria isso <strong>uma</strong> transformação substantiva nas duas<br />
14
economias, que as levaria a um patamar de competitividade internacional distinto do atual?<br />
Seriam capazes de satisfazer à demanda adicional criada?<br />
Essas perguntas – que devem ser colocadas – nos levam à questão de para onde, em <strong>2015</strong>,<br />
queremos orientar a competitividade das nossas economias.<br />
A competitividade de <strong>uma</strong> pauta de exportações varia conforme o parceiro considerado. É<br />
sabido, por exemplo, que em <strong>uma</strong> gama de manufaturados, somos ambos competitivos no<br />
âmbito da América do Sul, com a geografia e, muitas vezes, preferências tarifárias, dando um<br />
empurrão suplementar. O Mercosul abriu as portas dos mercados do Nordeste brasileiro a<br />
diversos produtos – bens de consumo final e interme diários – argentinos e uruguaios. No<br />
entanto, se pensarmos em termos absolutos, a menos de poucas exceções que “confirmam a<br />
regra”, principalmente o agro-negócio - setor verdadeiramente de ponta nas nossas duas<br />
economias – esteja em condição de competir ante qualquer possível rival.<br />
Países que não detém liderança em um número variado de produtos adotam duas estratégias<br />
básicas. Concentram as suas energias no desmantelamento das barreiras aos poucos produtos<br />
em que têm “chance” e, no nível regional, procuram acordos onde a preferência aporte um<br />
diferencial aos demais bens. Sem dúvida, nossas duas economias oscilam em torno de <strong>uma</strong><br />
posição negociadora como essa. Claro, há ainda o inevitável lobby doméstico dos setores<br />
menos competitivos, mais inclinados a demandar proteção do governo.<br />
A situação porém se complica face à atual organização da produção em nosso planeta. Desde<br />
as indústrias voláteis – como a automobilística -, onde a linha de montagem é fragmentada ao<br />
redor do mundo, em busca permanente de custos mínimos, ao comércio entre diferentes<br />
firmas de um mesmo conglomerado, à hierarquização de etapas, com nítida separação das de<br />
maior valor adicionado, e à introdução de serviços sofisticados no processo produtivo, a<br />
competição, hoje, adquire múltiplas faces e possibilidades. Tudo isso açodado e transformado<br />
por inovações que demandam investimento em pesquisa.<br />
A adição desses elementos, que se interpenetram, modifica o quadro estático clássico, que<br />
olha os produtos como algo uno e indivisível. <strong>Visão</strong> das teorias tradicionais do comércio<br />
internacional, cujos “pontos altos”, como o conceito das vantagens comparativas e os de<br />
criação e desvio de comércio, ainda povoam o nosso imaginário. Não que o tradicional seja<br />
inútil. Apenas, há que acrescentar dimensões suplementares, que considerem os fenômenos<br />
acima, ao se avaliar – de forma moderna e dinâmica – a competitividade de <strong>uma</strong> pauta. Se o<br />
fizermos, nem a Argentina, nem o Brasil se sairão bem.<br />
14. Onde – ressalvadas as exceções já mencionadas – realizar os esforços continuados de<br />
pesquisa, que garantam sustentação aos setores promissores? Onde devemos a inserção<br />
inteligente em cadeias internacionais de valor adicionado? Há disposição, de boa parte de<br />
nossos manufaturados, de enfrentar tarifas nacionais mais baixas? E onde utilizar <strong>uma</strong><br />
estratégia mais coordenada dos mesmos para usar mercados sul-americanos - Colômbia,<br />
Venezuela, Peru, o próprio Mercosul - como ponte e treinamento para os mais sofisticados (e<br />
ricos)? Onde desenvolver <strong>uma</strong> política madura vis à vis as firmas “voláteis”? Onde empregar<br />
esforços sistemáticos – inclusive com aberturas dosadas – em áreas-chave de serviços? Onde<br />
– exceto em partes do agro-negócio, em segmentos da indústria de entretenimento e alguns<br />
poucos setores, como o software no Brasil – promover um ambiente propício e estimulante à<br />
inovação? Onde concentrar, nos projetos de infra-estrutura, o aumento de nossa capacidade de<br />
penetração no resto do mundo?<br />
15
Sem dúvida, perguntar é fácil, responder adequadamente mais difícil e resolver os<br />
eventuais problemas, muito mais ainda.<br />
15. A questão da competitividade suscita a da tecnologia, mas também a da qualidade.<br />
Podemos classificar os produtos segundo dois eixos. Um seria o do conteúdo tecnológico, o<br />
outro seria o da qualidade, aí por vezes incluída a originalidade e utilidade do bem. O<br />
caminho para a competitividade não pressupõe, necessariamente, a busca direta de mais<br />
tecnologia. Se tomarmos a UE, vamos encontrar países como a Suécia e o Reino Unido,<br />
provedores de produtos de alta tecnologia e qualidade; entretanto, o seu maior e mais<br />
poderoso exportador é a Alemanha, economia produtora de bens de média a “clássica”<br />
intensidade tecnológica, porém de altíssima qualidade. Num extremo onde a tecnologia é um<br />
nada além da idéia, mas a qualidade/utilidade do produto o torna quase imbatível, vamos<br />
encontrar, por exemplo, as sandálias havaianas brasileiras ou os alfajores argentinos.<br />
16. A melhoria da qualidade do que se sabe e pode produzir é um caminho para o aumento da<br />
competitividade. Todavia, o avanço na dimensão tecnológica é fundamental para a criação das<br />
externalidades mais virtuosas e a indução de um ritmo sustentado de crescimento. As<br />
economias dinâmicas, resgatando a premonição de Schumpeter, estão continuamente<br />
“abandonando” setores ultrapassados, em favor daqueles de maior valor adicionado, mais<br />
inovadores. O lobby siderúrgico nos EUA e segmentos da indústria têxtil européia são<br />
enclaves que perduram, concentrados geograficamente, que procuram <strong>uma</strong> sobrevida<br />
mediante a pressão política.<br />
17. Há também outro importante fator que, à falta de <strong>uma</strong> palavra melhor, chamaríamos de<br />
espontâneo. Um Silicon Valley não é o resultado de <strong>uma</strong> política tecnológica governamental,<br />
planejada em cinzentos gabinetes, mas de <strong>uma</strong> concentração de capital h<strong>uma</strong> no específico e<br />
corajosos empreendedores, em um estado rico (a Califórnia), com um sistema jurídico<br />
propício à inovação, imerso em um sistema financeiro sofisticado e, não menos importante,<br />
<strong>uma</strong> cultura de transformar boas idéias e ciência em lucros. Mesmo assim, no mínimo<br />
indiretamente, o estado e, em última análise, a sociedade estão presentes.<br />
18. A visão interna deve sempre complementar a externa. Não há registro de grandes<br />
exportadores competitivos que não tenham se apoiado em um significativo mercado interno,<br />
para boa parte dos produtos da sua pauta de exportações. Em nossos dois países, com a<br />
distribuição de rendimentos que conhecemos - a do Brasil, mais injusta, e a da Argentina,<br />
lamentavelmente, caminhando na mesma direção - que mercados de base existem e poderiam<br />
ser mais desenvolvidos? Claro também que a discussão do mercado interno pode incluir os<br />
nossos parceiros mercosulinos e os que sejam abertos em bases minimamente seguras, por<br />
acordos preferenciais.<br />
Sob essa ótica, será que, em certos casos, não estamos, Brasil e Argentina, defendendo tarifas<br />
em setores que deveriam ser colocados na perspectiva de outros que aparentemente temos<br />
mais chances de introduzir melhorias de qualidade e, quiçá, tecnológicas? Que combinação de<br />
proteção industrial é mais favorável aos nossos interesses como campeões em diversos ramos<br />
do agropecuário e da agroindústria? Qual o papel dos serviços nesse complexo, e como fica<br />
mais bem suprido o importantíssimo mercado interno comum?<br />
19. Essas considerações demandam <strong>uma</strong> análise da estrutura das economias, que oriente as<br />
difíceis escolhas entre, por exemplo, um setor gerador de empregos mas pouco competitivo e<br />
outro de atributos exatamente opostos. Ou entre um setor que participa de um fluxo de<br />
comércio inter-setorial e out ro onde atuamos em fluxos intra-setoriais, mas como<br />
16
fornecedores da gama mais baixa de produtos. Não há <strong>uma</strong> resposta única para essas<br />
perguntas, mas elas precisam ser colocadas – no máximo possível, aos dois, ao mesmo tempo<br />
- e as situações que ocasionam sejam enfrentadas. Elas também nos levam à:<br />
Proposição 3: Deveríamos fazer <strong>uma</strong> reflexão global sobre a situação competitiva da<br />
produção e dos serviços de ambos os países e sobre os instrumentos a serem utilizados para<br />
melhorá-la. Reflexão que deve levar em conta o curso das negociações comerciais da Rodada<br />
do Milênio, e das demais a serem conduzidas na perspectiva da seção III. A abrangência<br />
ganha pela OMC, nos diversos setores da atividade econômica, é um convite para pensarmos,<br />
de modo integrado, tanto na agropecuária, como na indústria da transformação e nos serviços.<br />
Investimento direto<br />
20. O último ponto dentro das negociações comerciais é a questão do investimento direto.<br />
Ambos queremos atraí-lo, de modo a conseguir, pela via do investimento direto estrangeiro<br />
(IDE), não só recursos para a economia como transferências de tecnologia, no espírito da<br />
seção anterior. Além do mais, os dois países, ainda que timidamente, começam a ter<br />
multinacionais no exterior, havendo – nenh<strong>uma</strong> surpresa aqui – interesse geral em explorar<br />
não só o mercado sul-americano como também outros, em especial o chinês. São companhias<br />
agressivas e competitivas, em busca de oportunidades de mercado fora do país, que já<br />
investem nas economias vizinhas da América do Sul e nos EUA, encontrando-se ainda na UE<br />
(especialmente Portugal) e até no Canadá. Techint, Odebrecht, Gerdau, Cofap, Marco Polo,<br />
Sabo e Petrobrás são alguns exemplos dessa nova geração de investidores.<br />
21. Em <strong>uma</strong> negociação internacional, elas podem desempenhar um papel duplo. Primeiro,<br />
tendo em vista os seus interesses próprios, podem apoiar propostas visando <strong>uma</strong> posição mais<br />
flexível, quanto ao IDE, por parte dos países-sede. Ao fazer isso, podem auxiliar a encontrar<br />
um denominador comum entre posições mais abertas, ou radicais, como a dos EUA. Em<br />
segundo lugar, a maioria delas pode ser parceira de empresas similares no outro país/bloco,<br />
em empreendimentos em países terceiros. Medidas de facilitação de comércio para essa<br />
modalidade não deveriam então ser esquecidas.<br />
22. Não só nossos dois países, mas o Mercosul como bloco exibe diferenças internas a<br />
respeito do IDE, dentre as quais salienta -se <strong>uma</strong> posição um tanto controversa do Brasil.<br />
Embora globalmente (mais ou menos) unidos contra a cláusula de solução de controvérsias<br />
empresa-estado, todos os membros, à exceção do Brasil, terminaram por se filiar ao<br />
International Center for Settlement of Investment Disputes (ICSID): o Paraguai em 1981, a<br />
Argentina em 1991/1994, e o Uruguai em 1992. Tal não se deu sem oposição doméstica: na<br />
Argentina, a internalização levou três anos e meio, enquanto, no Uruguai, oito!<br />
Apesar de ser o único membro não afiliado, o Brasil aderiu, em 1992, à Multilateral<br />
Investment Guarantee Agency (MIGA), outro organismo do Banco Mundial que faculta o<br />
recurso à arbitragem internacional, no caso de disputas entre a Agência e o país receptor do<br />
investimento. Além do mais, todos os seus principais investidores são membros do ICSID<br />
que, ao menos teoricamente 7 , podem, mediante a cláusula de extensão, remeter um caso à<br />
arbitragem internacional. Por fim, o país, após quase duas décadas de intensas disputas,<br />
aprovou em 1996 a Lei n° 9.307, diploma bastante moderno sobre a arbitragem privada, e,<br />
logo após, em 1999, ratificou a Panama Convention de 1995, que é quase idêntica à UN<br />
Convention on the Recognition and Execution of Foreign Arbitrage Decisions, de 1958, que<br />
7 E a um custo político a ser cuidadosamente ponderado.<br />
17
foi definitivamente internalizada em 2002. Enquanto isso, com mais de três dezenas de casos<br />
no ICSID – originados em sua maioria durante a crise de 2001/2002 -, a Argentina se debate<br />
para evitar o pagamento de consideráveis quantias.<br />
Esses fatos ilustram que, se por um lado, a proteção jurídica ao IDE não está ausente do Bloco<br />
– em nenhum dos seus membros - por outro, há um espaço para necessárias<br />
homogeneizações.<br />
23. Outra questão de relevância, nesse contexto, é a dos subsídios internos. Os casos Canadá<br />
versus Brasil (Bombardier versus EMBRAER) na OMC, levantaram <strong>uma</strong> série de questões<br />
sobre as políticas domésticas nessa área, que não só ainda não foram completamente<br />
equacionadas no Brasil (e no Canadá), como podem surgir na Argentina, em outros<br />
contenciosos.<br />
24. Um ponto a considerar – em conjunto com as atividades da Proposição 2 - seria a<br />
elaboração de um framework understanding- no sentido da OMC - sobre o Acordo de<br />
Subsídios e Medidas Compensatórias, bem como sobre o TRIMS, esclarecendo os itens<br />
desses acordos que fossem de interesse e, se couber, adicionando alguns, OMC-plus. Bem<br />
mais do que apenas um exercício construtivo a ser seguido em instâncias negociadoras, isso<br />
poderia ser um modo efetivo de dinamizar o IDE e joint ventures correlatas.<br />
Formula-se, então, a:<br />
Proposição 4: Busca de <strong>uma</strong> postura comum frente à questão do IDE, atentando, sobretudo,<br />
às diferenças existentes, sobre o ass unto, nas duas ordens jurídicas internas. Se <strong>uma</strong><br />
harmonização total parece impossível, <strong>uma</strong> coordenação frente às negociações internacionais<br />
não o é. Torna-se importante incluir, nesses esforços, os interesses potenciais das<br />
transnacionais dos dois países.<br />
Horizonte <strong>2015</strong><br />
25. Tendo em vista a estreita ligação entre os argumentos de II a V acima, procuramos<br />
unificar as quatro propostas formuladas. Reescrevendo-as como medidas que deveriam se<br />
traduzir em realidade e em atividades a serem conduzidas até <strong>2015</strong>:<br />
Proposição 1: Construção de <strong>uma</strong> frente negociadora comum na OMC, junto com os outros<br />
parceiros mercosulinos, alicerçada em <strong>uma</strong> nova TEC e em posições o mais harmonizadas<br />
possível. A atuação conjunta compreenderia não só os temas do Anexo 1 do Acordo de<br />
Marraqueche, mas também o Anexo 3 (sistema de resolução de conflitos) e as atividades<br />
político-institucionais no seio da Organização. As posições levariam sempre em conta a<br />
evolução das relações na Proposição 2 e os resultados de esforços comuns dentro da<br />
Proposição 3.<br />
Proposição 2: Manutenção de <strong>uma</strong> linha de atuação conjunta com a China, ancorada nas<br />
afinidades existentes na OMC. Esforço conjunto de melhoria nas relações com os EUA e a<br />
UE – que pode ter sido originado tanto pela via da Rodada Doha como pela do regionalismo.<br />
Proposição 3: Acompanhamento global da situação competitiva das duas economias e<br />
desenvolvimento de instrumentos comuns a serem acionados para melhorá -la. Reflexão<br />
continuada sobre a competitividade, integrando as situações na agropecuária, na indústria da<br />
transformação e nos serviços.<br />
18
Proposição 4: Postura comum, nas negociações internacionais, frente à questão do IDE,<br />
respeitando as diferenças existentes a respeito nas duas ordens jurídicas internas. Inclusão<br />
crescente dos interesses das transnacionais dos dois países.<br />
Apenas com o objetivo de propiciar alguns meios para a consecução das metas contidas<br />
nessas quatro proposições, apresentamos, para finalizar, duas propostas imediatas de<br />
continuação dos trabalhos, que ajudariam a manter e aprofundar alg<strong>uma</strong>s das idéias<br />
anteriores. Ademais, as quatro proposições situam-se do lado da oferta de sugestões, todas<br />
envolvendo <strong>uma</strong> economia política que ditará a sua implementação final. Uma terceira<br />
proposta aprofunda esse ponto:<br />
Proposta Auxiliar 1: Criação de um grupo de acompanhamento <strong>CEBRI</strong>-CARI das questões<br />
na OMC, que se reuniria, de forma alternada e segundo <strong>uma</strong> periodicidade bimensal ou<br />
trimestral, nas duas capitais. O Grupo divulgaria amplamente, após a reunião, um relatório de<br />
conclusões, onde seria dado destaque ao impacto dos desenvolvimentos nas duas economias e<br />
às medidas e procedimentos – e sua factibilidade – com vistas a posições comuns.<br />
Proposta Auxiliar 2: Aprofundamento da discussão da Proposição 3, escolhendo um setor<br />
para estudo detalhado da questão da competitividade conjunta. Uma idéia seria o da carne<br />
bovina, porém, dada a existência do Grupo sobre Alimentos, parece melhor escolher um<br />
manufaturado. Automóveis ou algum item do grupo de máquinas são candidatos<br />
interessantes.<br />
Proposta Auxiliar 3: A economia política das Proposições 1 e 3. Análise da viabilidade das<br />
duas, sob um arcabouço oferta-demanda de economia política, e delineamento de atitudes e<br />
processos que auxiliariam a sua execução.<br />
19
Capítulo Três<br />
A Produção e a Comercialização de alimentos de Qualidade<br />
Antecedentes e cenário atual<br />
26. O surgimento da China e da Índia como atores globais no cenário internacional terá<br />
importantes impactos políticos e econômicos. Um relatório elaborado pela CIA indica que,<br />
em 2020, o PIB da China excederá ao de todas as potências ocidentais com exceção dos<br />
Estados Unidos. O ingresso da Índia e da China representa um aumento de aproximadamente<br />
dois bilhões e setecentos milhões novos consumidores no mercado global de alimentos, do<br />
qual 10% a 15% pertencem ao segmento ABC1. A esse número devemos somar, ainda, os<br />
consumidores de outros países asiáticos em franca expansão, como a Indonésia.<br />
27. Este aumento da demanda mundial de alimentos dificilmente será compensado com saltos<br />
tecnológicos similares aos ocorridos no passado, os quais são mencionados neste documento.<br />
Será necessária também <strong>uma</strong> expansão horizontal baseada na incorporação de maiores terras<br />
para exploração, podendo o Brasil e a Argentina desempenhar um papel fundamental, haja<br />
vista o esgotamento das possibilidades de crescimento de outras partes do mundo, sobretudo<br />
da UE como dos EUA.<br />
28. Apesar de seu perfil de grande importador de alimentos, a China é também um<br />
competidor na exportação de frutas, hortaliças, frango e peixe. Vale destacar que atualmente a<br />
China aplica fortes restrições ao ingresso de alimentos sob a forma de escalada tarifária,<br />
quotas ou restrições sanitárias. O padrão chinês na produção de alimentos sofreu modificação,<br />
deslocando-se de produções intensivas em terras para produções intensivas em mão-de-obra,<br />
nas quais possui vantagem comparativa.<br />
29. Atualmente, observa-se <strong>uma</strong> inflexão positiva na curva de preços dos alimentos, que<br />
permaneceu em nível extremamente baixo desde o in icio da década de oitenta. As três<br />
revoluções verdes, que ocorreram de forma quase simultânea entre 1965 e 1970, aumentaram<br />
exponencialmente a produtividade e inundaram os mercados, promovendo, em conseqüência,<br />
<strong>uma</strong> substancial diminuição dos preços. Nesse curto período, foram desenvolvidos o milho<br />
híbrido, o arroz irrigado tipo paddy field e os agro-químicos. A primeira revolução foi<br />
responsável pela quintuplicação da produtividade de milho, que passou de 1.000 kg/ha para<br />
mais de 5.000 kg/ha, alcançando atualmente de 8.000 kg/ha a 10.000 kg/ha. A segunda levou<br />
a <strong>uma</strong> multiplicação análoga da produtividade do arroz, beneficiando principalmente os povos<br />
asiáticos, os maiores consumidores deste cereal. Finalmente, a utilização de fertilizantes<br />
químicos minimizou a importância da fertilidade natural das terras, enquanto os pesticidas<br />
acabaram com muitas das pragas e doenças agrícolas.<br />
30. Estes significativos aumentos na produtividade trouxeram benefícios aos consumidores e,<br />
principalmente, aos produtores que souberam tirar proveito dessas novas tecnologias. Não<br />
obstante, para proteger seus produtores da queda nos preços internacionais, os governos -<br />
principalmente dos EUA, da Europa, do Japão e outros - introduziram barreiras ao comércio,<br />
subsídios à produção e à exportação e preços mínimos, dentre outros mecanismos. Tais<br />
políticas levaram a <strong>uma</strong> maior oferta naqueles países, aumentando ainda mais os excedentes<br />
de produção originais.<br />
20
Assim, por exemplo, a União Européia aplica tarifas extremamente altas (ad-valorem e,<br />
também, específicas, cuja incidência nos preços é ainda maior) em alguns produtos com alto<br />
valor agregado como, por exemplo, as carnes, além de restrições sanitárias e cotas de<br />
importação (que distribuem os benefícios de forma diferenciada, beneficia ndo os<br />
importadores que as administram as cotas e os produtores eventualmente contemplados).<br />
31. Desde então, o problema da liberalização do comércio agrícola está no centro das questões<br />
que vem obstaculizando a conquista de avanços significativos na maioria dos foros<br />
negociadores de comércio internacional (tanto no que se refere aos acordos preferenciais<br />
como em nível multilateral) e, em particular, na Rodada Doha da OMC. Este é o contexto no<br />
qual se desenvolvem as atuais negociações comerciais internacionais, cuja compreensão é<br />
essencial para a adoção de políticas públicas.<br />
32. Portanto, a questão central do comércio agrícola não passa pela existência de mercados,<br />
que sempre existirão, mas pelo acesso a estes mercados de forma competitiva com produtos<br />
com maior valor agregado e, ainda, pela definição de quais serão os arranjos negociadores que<br />
permitirão <strong>uma</strong> participação razoável na renda excedente capaz de gerar a ampliação do<br />
comércio agrícola mundial.<br />
33. Desde sua abertura econômica ao final da déca da de setenta até os dias de hoje, a China<br />
vem crescendo a taxas de aproximadamente 10% ao ano. O primeiro setor a se beneficiar<br />
dessa abertura foi a agricultura, que se expandiu a taxas superiores a 10% até meados dos<br />
anos noventa, quando começou um período de declínio e esgotamento. A disputa do espaço<br />
pelas indústrias, rodovias, ferrovias e aglomerações urbanas começou a restringir a<br />
disponibilidade de terras e água (irrigação) para o setor primário, cuja produtividade física e<br />
econômica também alcançara um pico. A inevitável abertura ao comércio internacional<br />
ocorreu principalmente em função da necessidade de alimentar <strong>uma</strong> população crescente,<br />
exigente e cada vez mais urbana. A China finalmente incorporou-se à OMC em 2002.<br />
34. Pode-se ter <strong>uma</strong> idéia da magnitude e potencialidade do mercado chinês ao considerarmos<br />
que seu povo consome atualmente cerca de 50 kg/per capita./ano de carnes suínas, bovinas e<br />
de aves. No futuro, a melhoria da qualidade de vida do povo chinês implicará no aumento de<br />
proteínas na dieta que atualmente, no caso das massas de trabalhadores urbanos e rurais, é<br />
constituída majoritariamente por arroz. Na hipótese de que um consumidor chinês passasse a<br />
consumir um frango (de 2 kg) a mais por ano, seria necessário produzir internamente ou<br />
importar 2,6 milhões de toneladas adicionais de frango. No segundo caso, as importações<br />
chinesas passariam a representar 40% de todas as importações mundiais de frango, o que<br />
elevaria consideravelmente os preços internacionais. A política comercial chinesa, contudo,<br />
não permite que isso ocorra através da utilização de restrições às importações de produtos<br />
processados, utilizando a escalada tarifária ao longo da cadeia produtiva em função da<br />
agregação de valor.<br />
35. No caso da Índia, o consumo per capita de carnes é ainda menor, em torno de 5 kg por<br />
ano. É possível que o consumo continue sendo menor apesar da melhora no nível de vida da<br />
população (não podemos esquecer que quase não existe consumo de carnes bovinas e suínas<br />
na Índia, devido a preceitos religiosos de hindus, mulç<strong>uma</strong>nos e budistas, que apresentam<br />
<strong>uma</strong> alta porcentagem de vegetarianos). Ainda assim, o mercado indiano pode ser interessante<br />
para certos tipos de carnes, particularmente de aves, de cordeiro e de peixe.<br />
36. As políticas comerciais chinesas quanto à importação de alimentos ficam evidentes<br />
quando consideramos:<br />
21
a) Até o ano 2000, as importações de frango cresceram significativamente:<br />
As importações passaram de 132 mil toneladas em 1994 para 812 mil em 2000, caindo<br />
para 598 mil em 2004.<br />
Ao mesmo tempo a produção chinesa passou de 5.154.000 toneladas em 1994 para<br />
9.880.000 em 2004.<br />
b) O mesmo ocorreu com o farelo de soja, sua principal matéria-prima:<br />
As importações passaram de 123 mil toneladas em 1994 para 3.734.000 em 1998,<br />
declinando para 42 mil em 2004.<br />
c) A partir de 2000, a China decidiu substituir importações tanto de farelo de soja como de<br />
carne de frango por importações de grãos de soja, processando-os internamente:<br />
As importações cresceram a um ritmo mais acelerado, passando de 2.443.000<br />
toneladas em 1994 para 23.194.000 em 2004.<br />
d) A produção interna de soja encontra-se estagnada e é absolutamente insuficiente para<br />
atender ao abastecimento, evoluindo somente de 16.011.000 de toneladas em 1994 para<br />
17.600.000 toneladas em 2004.<br />
A partir de 2001, a China começa a impor barreiras tarifárias escalonadas à importação de<br />
produtos agrícolas processados na seguinte ordem:<br />
Grão de soja: 2,5% - Farelo de soja: 38% - Carne de frango: 20%, além de cota de 10.000<br />
toneladas e restrições sanitárias.<br />
Estas restrições explicam a dramática queda das importações chinesas conforme o aumento do<br />
valor agregados dos produtos.<br />
37. A Índia, por sua vez, ainda está longe do consumo dos chineses. O país impõe também<br />
severas restrições, como, por exemplo, tarifas de 40% às importações de carnes de frangos<br />
além de restrições sanitárias. A abertura de sua economia começou somente a partir dos<br />
meados dos anos noventa.<br />
38. A expansão horizontal da produção agrícola, conforme mencionado previamente, implica<br />
a necessidade de incorporação de novas terras. Daí a importância fundamental do Brasil e da<br />
Argentina nesse contexto. Enquanto as terras cultiváveis dos Estados Unidos se restringem a<br />
90 milhões de hectares, o Brasil possui cerca de 100 milhões de hectares atualmente inativos<br />
que podem ser incorporados ao processo produtivo.<br />
39. A evolução da produção e do comércio agrícola nas últimas décadas aponta para as<br />
seguintes conclusões:<br />
a) Nos últimos 30 anos (1975-2004) a área agrícola mundial cresceu 83 milhões de<br />
hectares, passando de 687 milhões para 770 milhões, o que equivale a um crescimento<br />
de apenas 12% em todo o período, ou seja, 0,4% ao ano;<br />
b) Mais da metade dessa expansão é devida ao Brasil, à Argentina e à Índia, sendo que o<br />
crescimento nesse último país estagnou a partir de 1995;<br />
c) Dos seis países/blocos analisados (União Européia, Argentina, Brasil, China, Índia e<br />
Estados Unidos), somente Brasil e Argentina tiveram expansão de área ao longo do<br />
período. Todos os demais tiveram picos de área plantada entre 1980-1995 e<br />
22
subseqüente redução. A União Européia mantém área estável desde o inicio do<br />
período (embora essa situação possa ser modificada com a entrada dos novos<br />
membros);<br />
d) Não cabem dúvidas de que a fronteira agrícola mundial estagnou-se, exceto no caso do<br />
Brasil, da Argentina e de outros atores menores.<br />
40. O crescimento das produtividades médias mundiais dos principais produtos agrícolas<br />
(com aumento da ordem de 52% para o milho e o arroz, 36% para a soja e 78% para o trigo)<br />
confirma a hipótese de que as revoluções tecnológicas foram sentidas principalmente nos 20<br />
anos seguintes à década de 70.<br />
Esses quatro produtos, que são os de maior importância mundial em termos de áreas<br />
cultivadas e de valor, merecem alg<strong>uma</strong>s reflexões:<br />
No caso do milho , pode-se esperar ainda ganhos de produtividade global devido às baixas<br />
produtividades médias de alguns países importantes como Índia e Brasil. No caso da China, a<br />
produtividade pode até mesmo cair devido à escassez de água para irrigação, conforme<br />
previsto para os próximos anos. Em conseqüência, não ocorrerá nada comparável ao<br />
incremento de 50% observado entre 1970-1972 e 1990-1992. As mesmas considerações<br />
cabem para o arroz.<br />
No caso da soja, os Estados Unidos vêm insistindo na sua produção, que abrange, desde<br />
1999, <strong>uma</strong> área de pouco mais de 29 milhões de hectares. Essa cultura, contudo, enfrenta<br />
repetidos problemas climáticos, o maior deles ocorrido em 2003 quando a produtividade<br />
média global caiu para 2.300 kg/ha. Em 2004, o fator climático foi extremamente favorável e<br />
a produtividade passou para 2.900 kg/ha, promovendo <strong>uma</strong> oferta adicional de 10 milhões de<br />
toneladas e a conseqüente baixa dos preços no mercado. O Brasil, por outro lado, vem<br />
obtendo aumentos crescentes de produtividades à medida que a fronteira se desloca em<br />
direção às áreas tropicais do norte, em virtude dos avanços em pesquisa tecnológica.<br />
O caso mais espetacular foi o do trigo , com crescimentos no rendimento da ordem de 80%<br />
entre 1970-1990. Os três países com maior área plantada – China, Índia e EUA – vem<br />
apresentado comportamento diferenciado em matéria de produtividade. Na China, grande<br />
líder mundial, o crescimento da produtividade deverá perder velocidade em função de<br />
escassez de água para irrigação. A Índia ainda poderá crescer e os EUA deverão manter o<br />
baixo crescimento verificado a partir de 1990-1995. A área plantada deste cereal está<br />
nitidamente estagnada.<br />
Desafios futuros para o Brasil e a Argentina<br />
41. Brasil e Argentina precisam trabalhar fortemente o tema da competitividade de suas<br />
produções agrícolas se pretendem ingressar, de forma eficiente, nos novos mercados<br />
internacionais de alimentos.<br />
Na década de 90, ocorreu um importante crescimento da produtividade agrícola na América<br />
Latina, em geral. A produção pecuária da região aumentou cerca de 5,4%, enquanto a<br />
produção agrária cresceu 2,2%, liderada pela soja.<br />
Estas transformações estruturais e organizacionais sofridas nos anos 90 e as inovações<br />
tecnológicas, observadas principalmente em alg<strong>uma</strong>s cadeias produtivas como a da soja,<br />
23
levaram a um aumento da participação dos chamados agro-negócios no PIB nacional (em<br />
torno de 30% na Argentina e 25% no Brasil).<br />
Se, por um lado, as exportações cresceram em valor (atualmente o Brasil é o terceiro maior<br />
exportador de commodities agrícolas do mundo), elas se concentram em poucos produtos de<br />
baixo valor agregado. Prova disso é o fato de 51% das exportações argentinas para a China<br />
serem de grãos de soja e 31% de óleo de soja. Ademais, a produção de soja corresponde a<br />
66% das exportações agrícolas brasileiras e espera-se que cheguem a 74% em 2007.<br />
42. Um relatório preparado pelo Programa Cooperativo para o Desenvolvimento Tecnológico<br />
Alimentar e Agroindustrial do Cone Sul – Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e<br />
Uruguai – (PROCISUR, em espanhol) 8 indica que em toda a região observa-se <strong>uma</strong> lentidão<br />
na formação de clusters e que estes só se formaram nos setores mais dinâmicos da última<br />
década. Este fenômeno e o crescimento acelerado das produções, estão vinculados à<br />
penetração do capital financeiro no setor agrícola e à concentração, tanto em termos de<br />
produção como de comercialização, nas mãos de grandes empresas transnacionais. Trata-se,<br />
portanto, de um fenômeno mais vinculado a transnacionalização das economias sulamericanas<br />
do que às políticas agrícolas e produtivas voltadas a aumentar sua<br />
competitividade.<br />
43. Os principais obstáculos para a expansão do setor agrícola estão ligados às deficiências de<br />
infra-estrutura e logística, levando alguns analistas (particularmente no caso do Brasil) a falar<br />
em <strong>uma</strong> possível crise de oferta em virtude da impossibilidade de escoar a produção brasileira<br />
para o mercado externo. A questão é dificultada ainda mais com a incorporação de novas<br />
terras cultiváveis sem saída adequada para os portos internacionais.<br />
44. Para alcançar <strong>uma</strong> estratégia comum frente à China e à Índia, é fundamental que se realize<br />
um grande trabalho abordando os seguintes temas: institucionalização, desenvolvimento de<br />
<strong>uma</strong> integração normatizada, procedimentos e medidas sanitárias e fito-sanitárias. Isto<br />
demandaria da Argentina e do Brasil – preferencialmente no âmbito do Mercosul – a criação<br />
de <strong>uma</strong> autoridade sanitária comum e <strong>uma</strong> maior integração dos laboratórios e da produção de<br />
vacinas e medicamentos, com a harmonização do tratamento interno em cada um dos países,<br />
inclusive em termos fiscais.<br />
Ademais, como assinalamos no ponto anterior, não será possível ingressar nos mercados<br />
asiáticos sem um forte trabalho nas áreas de logística e infra-estrutura, para o qual resulta<br />
imprescindível atrair o Chile à proposta e desenvolver corredores logísticos que funcionem<br />
eficientemente e cheguem até o Pacífico.<br />
45. Por outro lado, devemos ter em conta a questão ambiental, em particular os possíveis<br />
impactos do desenvolvimento do setor agrícola em cada um dos países. Este tema tem<br />
alcançado <strong>uma</strong> crescente visibilidade internacional, incentivando o desenvolvimento por meio<br />
de políticas que estejam em harmonia com os recursos naturais e os ecossistemas regionais.<br />
Nesse sentido, as áreas que merecem maior atenção são: a Bacia Amazônica, o Planalto da<br />
Patagônia e as regiões da Puna.<br />
8 Silva, José e Cantou, Guillermina; “Promoción y Desarrollo de Agronegocios desde la perspectiva de la<br />
Innovación Tecnológica”, Procisur-IICA, Montevidéu, Uruguai, Abril 2005.<br />
24
Por mais que o setor agrícola empregue um grande contingente de mão-de-obra, o tema<br />
trabalhista é ainda um problema a ser resolvido haja vista a existência de fortes iniqüidades<br />
em toda região latino-americana. Isto, à medida que aumenta o protagonismo nos cenários<br />
negociadores internacionais, gera também problemas de visibilidade frente aos consumidores<br />
internacionais, <strong>uma</strong> vez que incide negativamente na capacidade de aumentar a<br />
competitividade das produções.<br />
46. O desenvolvimento da biotecnologia no setor agrícola o converteu em um setor de alta<br />
densidade tecnológica em termos de produção, contribuindo para a concentração do setor, já<br />
que quem desenvolve a tecnologia se apropria de grande parte dos excedentes gerados na<br />
agricultura.<br />
O estudo do PROCISUR destaca a situação quanto aos incentivos ao desenvolvimento<br />
tecnológico no setor agrícola em diversos países da região, indicando que estes estão<br />
relativamente avançados no Brasil e mais ou menos na Argentina e no Chile.<br />
47. É importante abordar o papel dos transgênicos e da biotecnologia em função tanto da<br />
OMC e do acordo TRIPS, onde seria importante assumir posições comuns (por exemplo, em<br />
relação à exploração da biodiversidade e os conhecimentos indígenas que o Brasil tem<br />
especial interesse), como do papel das Empresas Transnacionais (ETN) quanto ao domínio da<br />
tecnologia nestas áreas e suas implicações, como por exemplo, a captação do valor agregado.<br />
No campo da biotecnologia, um estudo realizado em dezembro de 2003 indica que, no caso<br />
argentino, enquanto se nota um crescimento no número de empresas que utilizam<br />
biotecnologia (particularmente nos setores agropecuário, de produção de alimentos e de saúde<br />
animal), o mercado de bens e serviços biotecnológicos está abastecido majoritariamente por<br />
produtos provenientes do exterior. O marco previsto pelas políticas públicas neste âmbito não<br />
permite explorar toda sua potencialidade.<br />
48. A superação do gap tecnológico atual por parte do Brasil e da Argentina seria facilitada se<br />
trabalhassem de forma conjunta. Isto também tem <strong>uma</strong> importante incidência em termos do<br />
efeito derrame do setor agrícola sobre os setores sociais vinculados à agricultura, já que o alto<br />
nível de concentração, tanto das produções como das correntes de comercialização, fazem que<br />
os maiores benefícios não se voltem para os produtores.<br />
Esta situação não pode ser revertida sem <strong>uma</strong> ação muito decidida, coerente e estável em<br />
termos de políticas de promoção comercial e penetração de mercados, função que não pode<br />
ser assumida pelo setor privado não concentrado. Portanto, a única forma de aproveitar estes<br />
mercados do futuro seria trabalhar fortemente sobre a institucionalização conjunta e o<br />
desenvolvimento de padrões comuns.<br />
49. Nos últimos 10 anos, o Brasil se transformou n<strong>uma</strong> potência agrícola, crescendo tanto em<br />
volume quanto em competitividade. Com 20.716 milhões de dólares de exportações em 2004,<br />
as manufaturas de origem agropecuária (MOA) foram o segmento manufatureiro de maior<br />
crescimento no Brasil entre 1998 e 2004, com <strong>uma</strong> taxa de variação de 88%. O Brasil se<br />
converteu, assim, no maior exportador de alimentos processados da América Latina. O salto<br />
produtivo e exportador foi impulsionado principalmente pelas carnes (bovina, suína e de<br />
frango). Também se destacam as exportações de óleos, o açúcar (setor no qual o Brasil<br />
representa 35% do mercado mundial) e o suco de laranja.<br />
25
50. A perda de dinamismo do comércio intrazona poderia gerar um contexto favorável para a<br />
recuperação do sentido estratégico inicial do Mercosul, colocando a oferta em comum<br />
(carterização) e o desenho de políticas e instituições comuns para abordar de forma<br />
competitiva e conjunta terceiros mercados.<br />
51. É importante considerar que, contrariamente ao desenvolvimento levado a cabo pelo<br />
Brasil, com <strong>uma</strong> maior ênfase no desenvolvimento regional e expansão de sua fronteira<br />
agrícola, a política agropecuária argentina tem se baseado na produtividade da pampa úmida,<br />
além do setor ter sido sempre considerado mais como <strong>uma</strong> oportunidade fiscal do que como<br />
eixo sobre o qual deveriam ser desenvolvidas políticas de médio e longo prazo. É<br />
imprescindível compreender esta diferença política e traduzi-la em ações consistentes no<br />
futuro, sobretudo tendo em conta que a Argentina possui grandes temas pendentes em relação<br />
a suas políticas de desenvolvimento regional.<br />
52. O Brasil e a Argentina, conjuntamente, têm todas as condições para converter-se em <strong>uma</strong><br />
potência agrícola e trabalhar no desenvolvimento de produtos com maior valor agregado.<br />
Estes produtos sofrem maior discriminação no comércio por parte dos grandes importadores,<br />
que fazem uso de escaladas tarifárias e outros tipos de barreiras ao comércio, a fim de agregar<br />
valor em seus territórios.<br />
As oportunidades para <strong>uma</strong> maior apropriação dos excedentes somente se darão se o Brasil e<br />
a Argentina se converterem em processadores de alimentos, abandonando a posição de meros<br />
provedores de matérias-primas para que sejam vistos pelos investidores (tanto regionais como<br />
extra-regionais) como plataformas de produção e exportação em função de suas vantagens<br />
comparativas e ao desenvolvimento consistente de fatores de competitividade. Isto irá<br />
requerer forte ação institucional para o desenvolvimento de estratégias e recursos<br />
negociadores conjuntos, particularmente em relação a países de longa tradição de<br />
desenvolvimento estatal como a China e a Índia.<br />
Alg<strong>uma</strong>s linhas sobre perspectivas futuras e políticas aplicáveis<br />
53. Há o consenso generalizado de que os Estados Unidos e a União Européia esgotarão suas<br />
possibilidades de crescimento agrícola horizontal. A eventual redução dos subsídios agrícolas<br />
(impulsionada pelas negociações comerciais em curso) implicaria em <strong>uma</strong> rápida redução nos<br />
níveis de produção nessas regiões. Seria possível obter pequenos aumentos de produtividade<br />
de alg<strong>uma</strong>s regiões da África sub-saahariana (como Angola, Moçambique ou Madagascar),<br />
mas estes não seriam suficientes para responder a crescente demanda por alimentos.<br />
54. Quatro produtos emergem como líderes em atenção na indução de gerar políticas<br />
compartilhadas Brasil-Argentina com vistas ao mercado internacional: carnes de frango;<br />
porco; e boi, assim como os derivados de tabaco. A produção de carnes de frango e porco<br />
requer múltiplas produções de milho e soja. O boi-de-pasto é hoje quase exclusividade de<br />
Brasil e Argentina, sendo os demais bovinos alimentados à base de grãos. O mercado de<br />
derivados de tabaco sofre também profunda transformação com a gradual retirada dos Estados<br />
Unidos e União Européia de cena, incapazes de competir em lavouras intensivas em mão-deobra.<br />
55. Resulta fundamental passar de um enfoque de exploração agropecuária a um enfoque de<br />
agro-negócios. Isto se torna ainda mais relevante se considerarmos o fato de tanto na<br />
Argentina como no Brasil o PIB agropecuário não superar 10% do total, enquanto os agronegócios<br />
representam 30% do PIB argentino e 25% do brasileiro. Estes produtos, de maior<br />
26
valor agregado, sofrem maior discriminação por parte dos países importadores, que se<br />
utilizam de escaladas e picos tarifários para agregar valor em seus próprios territórios,<br />
tarifando o produto final e deixando livres as importações de matérias-primas. Isso é<br />
verificado quando o valor de <strong>uma</strong> unidade de carne de frango ou de porco quintuplica o valor<br />
das matérias-primas utilizadas para sua produção.<br />
56. É tecnicamente indiscutível não ser mais possível produzir proteínas animais sem farelo<br />
de soja (exceto para ruminantes em pasto). Em 2003, Brasil e Argentina juntos exportaram<br />
32,1 milhões de toneladas de farelo de soja e mais 28,6 toneladas de soja de grão, equivalente<br />
a 22,9 toneladas de farelo. A soma das exportações de farelo-equivalente é de 55 milhões de<br />
toneladas, que renderam cerca de US$ 13 bilhões. Para se ter idéia da dimensão que <strong>uma</strong><br />
política dessas poderia propiciar, a mesma quantidade de farelo de soja, se transformada em<br />
carnes de aves e suína renderiam divisas da ordem de US$ 65 bilhões, cinco vezes mais,<br />
agregando mais US$ 52 bilhões. Se esse valor fosse dividido entre os dois países – US$ 26<br />
bilhões para cada – significaria mais 30% nas exportações totais do Brasil e mais 80% nas<br />
argentinas (2003). Os efeitos indiretos na geração de renda e emprego seriam igualmente<br />
espetaculares.<br />
57. Por outro lado, há um esfriamento em torno do processo de integração e ao Mercosul.<br />
Neste sentido, existe um papel importante a ser cumprido pelo setor agropecuário.<br />
A perspectiva de desenvolvimento de estratégicas conjuntas para terceiros mercados, por<br />
parte da Argentina e do Brasil, poderia contribuir fortemente para a recuperação do valor<br />
estratégico do Mercosul.<br />
58. É necessário que as autoridades argentinas e brasileiras se conscientizem da importância<br />
que ambos os países poderiam ter como provedores mundiais de alimentos em um futuro<br />
próximo. No entanto, para poder tomar parte na geração de valor agregado e apropriar-se dos<br />
excedentes gerados pelo comércio de alimentos, é necessário ainda trabalhar fortemente sobre<br />
as correntes de valor e no desenvolvimento de tecnologias e esquemas de comercialização<br />
próprios.<br />
59. Por outro lado, tanto os principais mercados atuais como os futuros são mercados<br />
administrados. Portanto, é fundamental para o Brasil e a Argentina encarar as negociações<br />
comerciais atuais em <strong>uma</strong> perspectiva estratégica de desenvolvimento de médio e longo<br />
prazo. Até o momento, as estratégias para terceiros mercados e de que forma as atuais<br />
negociações comerciais internacionais influirão no desenvolvimento futuro dos diversos<br />
setores produtivos não foram encarados de maneira conjunta.<br />
60. É fundamental trabalhar no desenvolvimento de padrões conjuntos no tema sanitário. Este<br />
é um tema complexo porque envolveria algum tipo de mecanismo supranacional. No entanto,<br />
teria um forte impacto sobre o tema de desenvolvimentos regionais conjuntos e controle<br />
sanitário.<br />
61. Ainda assim, um esforço deveria ser feito para instituir incentivos financeiros e fiscais<br />
para o processamento industrial de matérias-primas dentro da Argentina e do Brasil,<br />
trabalhando sobre políticas compatíveis, a fim de conseguir <strong>uma</strong> oferta mais diversificada e<br />
maior poder de mercado.<br />
62. Outro tema de grande importância é o estabelecimento de acordos e mecanismos de<br />
transferência de tecnologia e desenvolvimento conjunto. Neste, como em outros temas<br />
27
vinculados à cooperação, se deveria analisar o papel dos organismos regionais existentes, se<br />
ele é suficiente ou deve ser reformulado. Existe <strong>uma</strong> quantidade de instâncias de trabalho<br />
conjunto sobre o tema agrícola (CAS, PROCISUR, Federación de Sociedades Rurales, etc.).<br />
É necessário articular as instâncias existentes e conseguir melhores canais de comunicação<br />
entre estas e os setores públicos de ambos os países.<br />
63. Trabalhar conjuntamente sobre <strong>uma</strong> política tarifária coerente e homogênea que permita o<br />
intercâmbio de excedentes de matérias-primas para seu processamento sem impostos<br />
implícitos.<br />
64. Deveriam ser focados os temas de logística e transporte, sem os quais é impossível<br />
aumentar a competitividade do comércio agrícola regional. Os esforços necessários neste<br />
sentido só podem ser realizados de forma conjunta e encarados com a perspectiva regional.<br />
Por este motivo, é fundamental comprometer neste esforço aos demais países do Mercosul.<br />
65. No momento, <strong>uma</strong> pergunta chave é: por que seria conveniente que o Brasil e a Argentina<br />
encarassem estes temas de forma conjunta em vez de fazê -lo individualmente?<br />
Para essa interrogação há vários argumentos:<br />
a) A oferta conjunta permite margens de ação e liberdade comum, ao aumentar o poder<br />
nos mercados.<br />
b) O investimento conjunto em infra-estrutura permite otimizar custos e é imprescindível<br />
tendo em vista a necessidade de integração e a saída para o Pacífico.<br />
c) O desenvolvimento de correntes de produção e processamento articuladas permitiria a<br />
transferência de excedentes, evitando as crises de abundância e seus efeitos sobre os<br />
preços.<br />
d) O lucro de escala permitiria tornar mais competitivas as produções e justificaria<br />
maiores investimentos no setor.<br />
e) Isto não pode ser conseguido sem <strong>uma</strong> certa homogeneidade sobre os padrões<br />
aplicados.<br />
f) O trabalho conjunto sobre ativos territoriais permitiria soluções ao tema das regiões<br />
fronteiriças evitando <strong>uma</strong> permeabilidade problemática.<br />
g) A produção conjunta e o os avanços de escala permitiriam <strong>uma</strong> visão comum sobre o<br />
tema das ETN, possibilitando o conceito de plataforma produtiva e exportadora e a<br />
atração de investimentos genuínos.<br />
h) Seria possível trabalhar sobre esquemas de comercialização próprios que permitissem<br />
<strong>uma</strong> distribuição mais eqüitativa da renda agrícola, melhorando a situação de<br />
iniqüidade do setor que, eventualmente, gerará fortes questionamentos por parte dos<br />
consumidores em nível internacional.<br />
28
Capítulo Quatro<br />
A produção e distribuição de produtos energéticos na região<br />
O cenário Global e Regional<br />
66. O mundo avança em direção a mudanças do paradigma energético. A razão para isso é<br />
que as conseqüências da combustão fóssil para o meio ambiente estão promovendo a<br />
aceleração de um processo tecnológico que representará <strong>uma</strong> grande transformação da<br />
indústria energética. O preço do petróleo será o fator responsável pela aceleração ou pelo<br />
retraso dessa transformação. À medida que se intensifica a substituição entre combustíveis<br />
fósseis e o gás natural vai tomando o lugar do carvão como segunda fonte mundial de energia<br />
primária, é possível esperar que, em meados do século XXI, o hidrogênio, um biocombustível<br />
ou algum combustível sintético venham a substituir o petróleo como energia predominante 10 .<br />
Num primeiro momento, é possível que ocorra <strong>uma</strong> mudança, com <strong>uma</strong> maior gasificação na<br />
matriz energética mundial. Até o fim desta década, é provável que o gás natural se transforme<br />
n<strong>uma</strong> commodity com preço internacional. O gás natural transportado por gasodutos<br />
competirá com o gás natural transportado por barcos metaneiros (GNL). Deste modo, haverá<br />
um mercado mundial de gás natural e logo depois será a vez das fontes alternativas de<br />
energia. Não obstante, devemos estar atentos para o lugar que poderá vir a ocupar a indústria<br />
nuclear, caso consiga reduzir a vida útil do lixo radioativo e os desafios que representará<br />
futuramente a fusão nuclear 11 .<br />
67. Nos últimos trinta anos, o mercado energético duplicou-se, seja em função dos avanços<br />
tecnológicos ou do crescimento da demanda do mundo em desenvolvimento, principalmente<br />
da Ásia. Desde 1971, a demanda de energia cresceu a um ritmo de 2.1%. Mais de 60% do<br />
incremento da demanda de energia primária provêm dos países em desenvolvimento, cuja<br />
participação saltou de 22% para 36% da demanda mundial. De outro lado, a participação dos<br />
países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) caiu de<br />
62% para 53%. A China é um caso ilustrativo dessa situação. Estima -se ela terá importado<br />
durante o ano de 2005 o equivalente a 40% de sua demanda de petróleo. A demanda de<br />
energia elétrica cresceu 15% ao ano nos últimos anos, excedendo as capacidades adquiridas<br />
nesse período. Dois terços das regiões administrativas chinesas tem sofrido black -outs ou<br />
escassez de energia desde 2003.<br />
O World Energy Outlook 2004 oferece um panorama sombrio para a evolução do sistema de<br />
energia global até 2030. Assumindo que os gover nos mantenham suas políticas atuais, as<br />
necessidades mundiais de energia serão 60% maiores em 2030. Segundo o relatório, o<br />
problema central não é a escassez de recursos, que parecem ser suficientes para o atendimento<br />
dessa demanda em 2030, e sim os altos custos decorrentes de sua extração e distribuição. Um<br />
segundo problema, consoante do documento, será a crescente conexão entre segurança e<br />
energia, <strong>uma</strong> vez que os riscos de interrupção na provisão de energia serão cada vez mais<br />
altos. Os principais importadores de petróleo e gás, incluindo os países da OCDE, China e a<br />
10 Ver Daniel Montamat, “El mundo de la energía y el desafio de la integración regional”. Apresentação no I<br />
Fórum de Diálogo Permanente Argentino-Brasileiro organizado pelo Conselho Argentino para as Relações<br />
Internacionais e a Fundação Armando Álvares Penteado, São Paulo, Outubro de 2004.<br />
11 Ibidem.<br />
29
Índia, serão cada vez mais dependentes dos recursos provenientes de zonas problemáticas, ou<br />
seja, áreas onde se verificam graves conflitos geopolíticos, étnicos e religiosos.<br />
68. O desenvolvimento e a expansão do setor energético na América Latina estiveram<br />
estreitamente vinculados com o desenvolvimento econômico. Entre 1990 e 2000, a demanda<br />
energética da região cresceu três vezes mais que a média anual global, de tal maneira que sua<br />
participação no consumo global passou de 4.7% para 5.7%.<br />
O Brasil e a Argentina possuem matrizes energéticas que favorecem um esquema de<br />
complementação e cooperação. Enquanto a matriz argentina é baseada, em boa medida, no<br />
gás natural e no petróleo, a matriz brasileira apóia-se no petróleo e na energia hidrelétrica.<br />
Na condição de maiores economias do Mercosul, Brasil e Argentina têm muito a ganhar com<br />
o exame conjunto de sua situação energética no horizonte dos próximos 10 ou 15 anos. As<br />
ações a serem realizadas no futuro devem resultar de diagnósticos consensuais e levar em<br />
conta suas realidades.<br />
69. O Brasil é o décimo país em consumo de energia do mundo. É também o quarto usuário<br />
de energia entre os países não membros da Agência Internacional de Energia (IEA), atrás<br />
somente da China, da Índia e da Rússia. Por sua vez, o Brasil possui a terceira reserva de<br />
petróleo da América Latina, logo atrás da Venezuela e do México. Nos últimos anos, o Brasil<br />
vem aumentando seus investimentos na produção e distribuição. O setor industrial absorve a<br />
maior parte da demanda e os setores mais dinâmicos são o gás veicular e as termoelétricas. A<br />
estatal Petrobrás, por sua vez, está buscando expandir suas operações no exterior, tanto no que<br />
se refere ao upstream como ao downstream. Além do mais, a empresa busca expandir suas<br />
operações no mercado doméstico de gás natural e transformar-se em <strong>uma</strong> empresa energética,<br />
com a entrada no setor de eletricidade como um grande gerador térmico.<br />
70. Já a Argentina possui a terceira maior reserva de gás natural da América do Sul, depois<br />
da Venezuela e da Bolívia. Apesar de desfrutar de tal posição, a Argentina vem enfrentando<br />
sérios problemas energéticos desde 2001. Teve que limitar a exportação de gás para o Chile e<br />
Uruguai e, atualmente, importa gás da Bolívia e fuel oil para substituir o uso de gás nas usinas<br />
elétricas da Venezuela e de outras regiões. Deste modo, a Argentina enfrenta <strong>uma</strong> mudança de<br />
paradigma no seu setor energético, o que implica na reformulação de sua futura política<br />
energética e suas inevitáveis conseqüências para as relações com os países vizinhos. As<br />
reduções significativas do horizonte para as reservas de gás colocam em dúvida a capacidade<br />
de manter a autonomia e segurança de abastecimento alcançadas nos últimos anos. Em<br />
conseqüência, a Argentina necessita fechar contratos de longo prazo com a Bolívia que<br />
contemplem a importação de volumes adicionais de gás entre 10 e 30 milhões de metros<br />
cúbicos por dia a preços “razoáveis”.<br />
71. Tal como em outros aspectos das relações bilaterais, o estado atual da infra-estrutura<br />
energética nos dois países é conseqüência de dois fatores que marcaram a história econômica<br />
da região no século XX. Em primeiro lugar, a manutenção do modelo de desenvolvimento<br />
autárquico por parte das duas economias até fins da década de 80. Este modelo produziu<br />
matrizes energéticas auto-centradas, operadas sob a liderança de empresas estatais e dirigidas a<br />
explorar os recursos abundantes em cada país: hidroeletricidade no Brasil e gás natural na<br />
Argentina. Em segundo lugar, apesar das reformas econômicas dos anos 90 terem sido convergentes<br />
quanto aos objetivos gerais da abertura comercial, estabilização macroeconômica e privatização,<br />
elas apresentaram garndes divergentes quanto ao ritmo de implementação e ao formato institucional.<br />
De fato, no setor de energia, o processo de privatização foi mais amplo na Argentina que no Brasil e<br />
30
os marcos regulatórios estabelecidos mostram diferenças significativas, dificultando a realização das<br />
metas de longo prazo mencionadas acima.<br />
72. Na área de energia elétrica, as reformas iniciadas pelo Brasil em 1995 sofreram <strong>uma</strong> importante<br />
correção de rumo em 2004, com a introdução de novos instrumentos para a regulação do setor. As<br />
alterações compreenderam regras de comercialização da energia, o fortalecimento institucional do<br />
Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e a recuperação dos mecanismos de planejamento de<br />
médio e longo prazo. Não foram introduzidas, entretanto, medidas voltadas para a privatização de<br />
novas empresas. Como se sabe, esse processo foi interrompido em 1998 e, atualmente, os<br />
segmentos de geração e transmissão continuam sendo administrados por empresas estatais, ao passo<br />
que o segmento de distribuição está a cargo das empresas privadas. Apesar desse perfil heterogêneo,<br />
o atual marco regulatório do setor contém alguns elementos úteis para a promoção de iniciativas<br />
com vistas à integração regional, como, por exemplo, os instrumentos de planejamento de longo<br />
prazo.<br />
Na Argentina, por sua vez, o processo de transformação do setor de energia nos anos 90 foi afetado<br />
pela crise macroeconômica de 2002. A Lei de Emergência Econômica “pesificou” os preços e<br />
tarifas do gás natural e da energia elétrica. Desse modo, os marcos regulatórios do setor, assim como<br />
os contratos com as empresas privatizadas, estão sujeitos a um processo de readaptação e<br />
renegociação.<br />
Propostas de Cooperação Bilateral<br />
73. Dada a atual configuração física e institucional da oferta de energia entre os dois países e<br />
levando-se em conta os antecedentes históricos mencionados acima, seria conveniente adotar<br />
de início <strong>uma</strong> abordagem incremental concentrada, no curto prazo, na conformação de um<br />
mercado regional de petróleo e derivados. Depois caberia avançar, no médio e longo prazo,<br />
em direção a <strong>uma</strong> conformação de mercados de gás natural e eletricidade. Essa estratégia<br />
daria credibilidade às metas de longo prazo dos dois países. Um ponto de partida para essa<br />
abordagem seria constituir um centro de energia compartilhada na região, com dois<br />
componentes: (a) um pólo hidroelétrico formado pelas usinas existentes de Itaipú, Yaciretá,<br />
Salto Grande e as novas usinas de Corpus e Garabí, cuja construção ainda está pendente; e (b)<br />
um anel de gasodutos que conecte a Argentina, o Brasil, o Uruguai e a Bolívia sobre a base da<br />
rede existente. Essa solução possui pelo menos três méritos importantes: (i) elevará, em<br />
poucos anos, a segurança e reduzirá os custos de abastecimento de energia na região; (ii) não<br />
requer de alterações imediatas nos marcos regulatórios vigentes em cada país; (iii) permitirá a<br />
formação de reservas estratégicas de petróleo ao longo dos próximos quinze anos.<br />
74. Em termos pragmáticos, a abordagem incremental também não está imune a desafios, tais<br />
como: (a) vencer as resistências dos operadores nacionais que venham a perceber a integração<br />
regional como um fator de risco à segurança do abastecimento; (b) definir os preços de<br />
referência para a energia comercializada através do pólo; (c) lidar com as diferenças de<br />
freqüência e com as necessidades de investimentos em conversores; (d) superar as<br />
dificuldades relativas à legislação ambiental e trabalhista; (e) atrair a participação do setor<br />
privado no processo de integração, tendo como meta a convergência gradual entre os marcos<br />
regulatórios nacionais; (f) definir as fontes de financiamento para a implantação do pólo<br />
energético.<br />
75. Brasil e Argentina reconhecem a necessidade de reforçar um acordo estratégico de<br />
complementação em matéria nuclear.<br />
31
76. Os dois países compartilham da necessidade de complementação entre o investimento<br />
público e privado para dar sustentabilidade ao setor energético na região. A demanda de<br />
investimentos do setor energético, dependendo da taxa de crescimento econômico, representa<br />
entre dois e três pontos percentuais do PIB.<br />
77. O cenário ótimo, no longo prazo, contemplaria <strong>uma</strong> integração entre os países do Cone<br />
Sul que contasse com o gás da Bolívia. Não obstante, a integração sem gás pode ser<br />
considerada <strong>uma</strong> primeira etapa, para se alcançar posteriormente <strong>uma</strong> integração com gá s. O<br />
cenário de não-integração, ainda que contando com o gás da Bolívia, representa a alternativa<br />
contemplada historicamente pelas idéias autárquicas, mas que não potencializa as<br />
oportunidades da região. De outro lado, a não-integração sem gás representa,<br />
indubitavelmente, o pior cenário possível já que a dependência da Argentina em relação ao<br />
gás boliviano é muito grande e difícil de ser revertida. Caso o gás natural se torne <strong>uma</strong><br />
commodity transacionável, a Argentina se verá obrigada a comprar gás do exterior e construir<br />
novas plantas de re-gaseificação. Para evitar tal cenário, poder-se-ia começar pela “alternativa<br />
a explorar” (integração sem o gás da Bolívia), a partir de <strong>uma</strong> coordenação com Brasil e<br />
Chile, para depois passar para o cenário ótimo.<br />
78. O objetivo final deve ser a consolidação de um mercado comum de energia, com a<br />
harmonização das regras que permitam operar em um mercado integrado. Na região, há fontes<br />
energéticas que permitem a integração: bacias hidrológicas complementares, gás em<br />
diferentes bacias sedimentares, parques geradores elétricos com abastecimento hidráulico e<br />
térmico, e capacidade de refino de produtos petrolíferos que são mais que suficientes para<br />
suprir as necessidades do conjunto. Hoje em dia o Cone Sul está mais interconecta do por<br />
gasodutos e redes elétricas graças ao abandono de numerosas hipóteses de conflito e aos<br />
processos de transformação ocorridos nos setores de energia na América Latina. No entanto,<br />
em função das crises econômicas que enfrentam alg<strong>uma</strong>s economias da região, bem como das<br />
previsíveis complicações futuras quanto ao abastecimento energético em nível local, muitos<br />
países começaram a questionar se a dependência criada pela nova interconexão é aconselhável<br />
sem a existência de <strong>uma</strong> base regional de regras comuns. Mesmo com a adoção de <strong>uma</strong> visão<br />
complementar dos recursos energéticos e contando com as redes de interconexão existentes,<br />
parece ser que o grande déficit da integração energética regional continua sendo a falta de<br />
harmonia regulatória, que está associada à tradição autárquica dos processos de<br />
desenvolvimento e ao diferente ritmo e amplitude da transformação operada na década<br />
passada.<br />
79. Para alcançar a integração são necessários três “R”: recursos, regras e redes. O conceito de<br />
“redes” - ou seja, um grau de interdependência tal que caso ocorra um black-out em Brasília<br />
haja também queda de energia em Buenos Aires – é o que poderia contribuir para a criação e<br />
o cumprimento das regras. Isto seria facilitado pela existência de um árbitro. E, para tanto, é<br />
necessário um processo gradual de convergência regulatória com objetivos e metas de médio<br />
e longo prazo.<br />
80. Por último, a integração entre a Brasil e Argentina é <strong>uma</strong> tarefa de longo prazo que<br />
depende da criação de um marco institucional binacional que confira segurança jurídica aos<br />
investimentos públicos e privados no setor energético. Para tanto é necessário contar com os<br />
seguintes elementos: (a) convergência das legislações setoriais dos dois países; (b)<br />
cooperação entre as agências reguladoras nacionais; (c) metas comuns para o planejamento<br />
energético regional; (d) mecanismos de solução de controvérsias; (e) fontes de financiamento<br />
para projetos binacionais; (f) harmonização de políticas de meio-ambiente; (g) coordenação<br />
entre os operadores dos sistemas nacionais de energia; (h) preços energéticos de referência<br />
32
internacional e regional, além de tarifas de pedágio que permitam recuperar os custos do<br />
sistema.<br />
33
Capítulo Cinco<br />
A Segurança no Espaço Sul-americano<br />
América do sul e a segurança regional<br />
81. Desde o 11 de setembro de 2001, os Estados Unidos concentraram suas energias na luta<br />
contra o terrorismo, os “Estados Vilões” e a proliferação de armas de destruição em massa.<br />
Desse modo, a América do Sul tornou-se um tema menor no mapa da segurança já que não<br />
representa <strong>uma</strong> ameaça para os Estados Unidos em tais questões. Tal condição dá à região<br />
<strong>uma</strong> margem de manobra mais ampla que aquela detida em períodos anteriores.<br />
82. A América do Sul tem dois pontos positivos no que se refere à segurança: um baixo gasto<br />
militar e a existência de <strong>uma</strong> estrutura normativa relativamente sólida. A América do Sul é<br />
<strong>uma</strong> das regiões que menos gasta em Defesa, <strong>uma</strong> média de 2% do PIB, totalizando<br />
aproximadamente 20 bilhões de dólares, o que equivale a 4% do gasto militar dos Estados<br />
Unidos. A Argentina, que ao longo das últimas duas décadas reduziu seu orçamento de<br />
Defesa para 1,1% do PIB (comparativamente ao 3% de 20 anos atrás e à media de 2,5%<br />
prevalecente no contexto mundial), manteve-se alheia à realização de dispêndios em<br />
programas de re-equipamento. Não obstante, a maior solvência dos cofres públicos e <strong>uma</strong><br />
revalorização do setor da Defesa Nacional por parte da sociedade e de suas lideranças<br />
explicariam o fato das Forças Armadas da Argentina contarem atualmente com o maior<br />
orçamento operativo dos últimos dez anos. O orçamento alocado ao setor de Defesa em 2005<br />
cresceu 7,9% em relação a 2004 e representa 6,51% do gasto federal. No entanto, essa<br />
evolução deve ser considerada apenas como um primeiro passo na direção de padrões mais<br />
compatíveis com a média regional.<br />
83. Com um orçamento para o setor de Defesa, em 2005, de 2,1% de seu PIB - que representa<br />
1,99% do gasto federal deste ano - o Brasil, desde a criação do Ministério da Defesa em 1999,<br />
tem se esforçado para suprir a lacuna que se refere à falta de estatísticas precisas com relação<br />
aos gastos de Defesa, vem saindo do contexto caracterizado por um grande desinteresse<br />
político e social no assunto 9 . A situação crítica na Colômbia, em particular, e na zona andinoamazônica,<br />
de modo geral, condicionam essa evolução. Ademais, o crescimento econômico<br />
complementa essa tendência. Não obstante, um ponto não menos importante na crescente<br />
consideração da opinião pública é a percepção do papel das Forças Armadas como suporte<br />
logístico e operativo das forças de segurança em situação de violência interna.<br />
84. Por outro lado, a estrutura normativa interestatal continua sendo o principal instrumento<br />
para a resolução de conflitos. Desde o início do século XX até os dias de hoje, a América<br />
Latina tem convivido com altos índices de violência doméstica e conflito social aliados a<br />
níveis relativamente baixos de violência interestatal. Nesse sentido, as estruturas normativas<br />
para a resolução de questões de conflito e segurança têm se ajustado à diplomacia e ao direito<br />
internacional, de modo geral, e ao princípio da não-intervenção, ao respeito à territorialidade e<br />
ao uso pragmático do utis possidetis, em particular. Ainda que seja possível afirmar que a<br />
região não apresenta grandes desafios quanto a sua segurança interestatal, o mesmo não pode<br />
ser dito em relação às “novas” questões de segurança. Portanto, a idéia de que a América do<br />
9 Entretanto, os valores ainda não são amplamente divulgados, como não podem ser considerados seguros. A<br />
despeito da falta dessa transparência, sabe-se que os gastos destinados ao pagamento de funcionários,<br />
aposentados e pensionistas corresponde a 80% do orçamento do setor.<br />
34
Sul é <strong>uma</strong> “zona de paz” mais obscurece do que esclarece o entendimento da questão. Apesar<br />
de a América do Sul e a zona andino-amazônica não representarem <strong>uma</strong> ameaça para os<br />
Estados Unidos em termos de poder militar-econômico, o cenário de <strong>uma</strong> “pax mafiosa”, com<br />
tendências ao caos e à desordem, não pode ser descartado. É possível que o cenário 2005-<br />
<strong>2015</strong> se caracterize por um maior grau de violência, com o conseqüente incentivo a um papel<br />
mais ativo por parte dos Estados Unidos nessas “fronteiras turbulentas”.<br />
85. Alguns dos problemas mais sérios são: (a) a escalada da violência armada observada na<br />
Colômbia a partir do início de 2005; (b) as estatísticas reveladas pelas Nações Unidas, em seu<br />
relatório de 2005, sobre o aumento na produção de folhas de coca e cocaína no Peru e na<br />
Bolívia; (c) a ausência de evidências de qualquer impacto mais profundo dos cinco anos do<br />
Plano Colômbia, com seu orçamento de 3.5 bilhões de dólares, sobre a quantidade de drogas e<br />
o fluxo de armas. Cabe destacar que diversos países da região combinam a instabilidade<br />
sócio-político econômica com a posse de recursos naturais estratégicos como o petróleo e o<br />
gás (Bolívia, Venezuela, Colômbia, Equador etc). O fato de que as duas principais reservas de<br />
gás na América do Sul encontrem-se em países com evidentes problemas em seus respectivos<br />
sistemas políticos – como é o caso da Venezuela e da Bolívia – enfatiza a necessidade do<br />
debate.<br />
86. A questão da segurança do cidadão, e sua interação mais ou menos direta com ameaças<br />
transnacionais, ocupa atualmente o topo da lista de prioridades das sociedades da América<br />
Latina, Caribe e também de certas zonas dos Estados Unidos próximas ao México. Nem<br />
mesmo o Chile, a despeito de sua estabilidade econômica e da presença de instituições mais<br />
sólidas que a média regional, encontra-se imune a tais questões. Em outras palavras, a<br />
cooperação e a integração em matéria de segurança atuaria como um fator moderador e<br />
inibidor das forças que potencializam a desintegração, não dos países entre si, mas no seio de<br />
cada um deles.<br />
Desafios para a Brasil e Argentina<br />
87. Ao chegarmos nesse ponto, cabe refletir sobre a possibilidade de que o Brasil e a<br />
Argentina, em particular, e a região, de modo geral, encontrem nessa lista de desafios à<br />
segurança do cidadão e à segurança nacional um verdadeiro espaço para a convergência de<br />
percepções e para o desenvolvimento de políticas que dêem ao Mercosul um maior conteúdo<br />
e identidade em matéria de política e segurança. A adoção desta perspectiva para o sistema de<br />
preferências econômicas do Mercosul pode contribuir para a percepção do alto valor político<br />
desse projeto de integração e de sua dimensão sul-americana.<br />
88. Até o momento, o balanço da relação político-militar entre Brasil e Argentina é altamente<br />
positivo. Exemplo disso são os grandes passos dados em matéria de medidas de confiança<br />
mútua em temas de segurança e defesa a partir de fins da década de 70 e, principalmente, no<br />
decorrer das duas décadas posteriores. A transparência em matéria nuclear, a criação da<br />
Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares (ABACC),<br />
a multiplicação e a intensificação de exercícios entre as Forças Armadas de ambos países (tais<br />
como o “Fraterno” e o “Araex”, envolvendo as Forças da Marinha; e do “Plata”, envolvendo<br />
as Forças Aéreas), a reparação de um submarino argentino em estaleiros brasileiros e o<br />
aumento de intercâmbio de oficiais em Escolas de Guerra confirmam essa avaliação. Soma -se<br />
a isso o fato de que ambos os países abandonaram, há mais de duas décadas, qualquer<br />
hipótese de conflito. No entanto, apesar de tais avanços, a sensação geral é de que a<br />
cooperação no plano militar e entre os ministérios atingiu um ponto a partir do qual será<br />
impossível realizar um salto qualitativo e avançar no sentido de <strong>uma</strong> maior institucionalização<br />
sem a mediação de um apoio político mais explícito. No ano de 2002, por exemplo, firmou-se<br />
35
um “Acordo de Cooperação para o controle de trânsito de aeronaves presumivelmente<br />
comprometidas em atividades ilícitas internacionais”, que só teve algum reflexo nos<br />
convênios de intercâmbio e em alguns exercícios combinados entre ambas forças armadas.<br />
Nesse sentido, não se percebe a vontade de avançar em direção a um sistema que permita<br />
atuar de maneira concertada contra os vôos que ilegalmente cruzam a fronteira comum. Para<br />
fins de <strong>uma</strong> maior coordenação do controle do espaço aéreo, seria necessário trabalhar em três<br />
áreas: (1) o espaço aéreo; (2) um sistema combinado de radares e (3) um poder judicial e de<br />
polícia articulado com as forças armadas. Há dúvidas, porém, acerca da disposição de um país<br />
apoiar a política do outro em áreas menos relevantes para o primeiro (por exemplo, a<br />
Argentina na Amazônia). A dúvida surge, em parte, devido ao fato de que a agenda brasileira<br />
de segurança deve enfrentar problemas derivados de sua própria dimensão territorial, pois o<br />
país tem fronteiras com todos os países da América do Sul, exceto Chile e Equador.<br />
89. Uma forma de gerar as condições para <strong>uma</strong> discussão de alto nível seria promover um<br />
debate em torno de quatro temas específicos em que, a despeito de sua resolução depender de<br />
decisões soberanas de cada país, é possível e até desejável coordenar e complementar<br />
esforços. Esses temas são: (a) a prioridade estabelecida por cada país aos problemas já<br />
mencionados; (b) os aspectos tecnológicos e de compra de armamentos; (c) o processo de<br />
recrutamento de ambos países e (d) os objetivos finais que cada país deseja para cada <strong>uma</strong> de<br />
suas Forças.<br />
90. O Brasil e a Argentina precisam um do outro e tanto a região como os Estados Unidos<br />
deveriam valorizar a presença de <strong>uma</strong> “âncora de estabilidade”, papel que poderia ser<br />
desempenhado pelo Mercosul - verdadeiro núcleo duro de regimes democráticos dentro da<br />
região sul-americana - na medida que consiga transcender as disputas e rusgas<br />
microeconômicas e passe a se enxergar e ser enxergado como um projeto político-estratégico.<br />
Nesse sentido, tal como está detalhado na seção de propostas, cabe sugerir a criação de um<br />
Observatório de Segurança e Defesa que permita reunir de modo sistemático funcionários e<br />
especialistas não governamentais dedicados aos temas de segurança internacional, defesa e<br />
política exterior. Esse seria um espaço de reflexão e de assessoramento aos poderes políticos<br />
de cada país. Dessa forma, seria útil e necessário examinar a possibilidade de realizar<br />
publicações conjuntas de autores argentinos e brasileiros, com foco nas áreas de defesa e<br />
segurança da Argentina, do Brasil e do Mercosul.<br />
91. O Brasil e a Argentina terão pouca autoridade moral para questionar o unilateralismo e a<br />
tendência contrária à institucionalização do sistema internacional por parte dos EUA enquanto<br />
continuem reproduzindo, ainda que em outra escala, essas mesmas lógicas em nossos espaços<br />
sub-regionais e regionais. Daí a importância daqueles países se unirem para colaborar<br />
ativamente com o desenvolvimento econômico dos países de menor dimensão econômica, tais<br />
como o Paraguai, Uruguai e Bolívia.<br />
92. Por ter um pé em cada região e em cada processo, o papel do Brasil é crucial no sentido de<br />
influenciar a dinâmica de segurança da América do Sul. O Chile não está fora desse jogo de<br />
dupla face, pois, no âmbito do Cone Sul, o país obedece a um conjunto de normas e<br />
instituições no Atlântico enquanto pratica, ao mesmo tempo, um jogo mais conflituoso no<br />
Pacífico. Nesse sentido, a Argentina tem vantagem, já que suas fronteiras são menos<br />
vulneráveis (com a exceção da crescente porosidade na fronteira noroeste e nordeste).<br />
93. A presença de pontos de divergências entre os dois países, tal como é o caso das reformas<br />
no Conselho de Segurança das Nações Unidas, deveriam ser postas sob um “guarda-chuva”<br />
36
que permitisse preservar intactos os espaços de convergência existentes em outras áreas.<br />
Assim, partimos da idéia de que parte substancial do processo que condicionará <strong>uma</strong> eventual<br />
ampliação do Conselho de Segurança das Nações Unidas, assim como as decisões nessa<br />
matéria, terão como protagonistas, em larga medida, às atuais potências com poder de veto e,<br />
em especial, aos Estados Unidos. Ainda assim, poderiam ser desenvolvidas estratégias<br />
coordenadas de nossos países em outros dos temas da agenda de reforma das Nações Unidas<br />
(com destaque para os temas de Direitos H<strong>uma</strong>nos, Operações de Paz, Assistência ao<br />
Desenvolvimento etc.). O mesmo nível de cooperação poderia ser reproduzido no âmbito da<br />
Organização dos Estados Americanos (OEA).<br />
Propostas de Cooperação Bilateral<br />
94. Devem ser preservados e intensificados os significativos avanços promovidos pelo Brasil<br />
e a Argentina em matéria de medidas de confiança mútua e de cooperação em temas que se<br />
mostraram extremamente sensíveis nas décadas passadas, como energia nuclear e Defesa<br />
Nacional. Não obstante, cabe reconhecer que os níveis alcançados estão muito próximos do<br />
máximo que se pode esperar nesse tipo de questões.<br />
95. A crítica situação da segurança do cidadão na região, bem como a elevada prioridade<br />
concedida a este tema no Brasil e, também, de forma crescente na Argentina, faz com que a<br />
cooperação e a coordenação nesse campo, assim como em processos conexos como o tráfico<br />
de armas, de drogas, de precursores químicos e de pessoas, devam receber, nessa nova fase da<br />
relação entre os dois países, a mesma atenção conferida em épocas anteriores ao tema nuclear<br />
e às medidas de confiança mútua em matéria militar. Nesse sentido, a busca de espaços de<br />
coordenação e cooperação em temas como o controle do espaço aéreo por meio de radares, de<br />
cargas fluviais e portuárias e das fronteiras terrestres, assim como o intercâmbio mais fluido e<br />
sistemático de inteligência criminal e estratégica adquirem <strong>uma</strong> importância central.<br />
96. Do mesmo modo, dever-se-ia considerar a possibilidade de reforçar os mecanismos de<br />
coordenação e cooperação em setores pontuais como as Forças Especiais das Forças Armadas<br />
e as Forças de Segurança para ações contra o crime organizado, o terrorismo, etc.<br />
97. Alg<strong>uma</strong>s das propostas específicas que poderiam ser desenvolvidas:<br />
a) Potencializar a quantidade e a qualidade de exercícios militares entre as Forças<br />
Armadas de ambos países;<br />
b) Aumentar os níveis de coordenação e cooperação entre as agências federais, a polícia,<br />
os serviços de inteligência e a alfândega de ambos países com o objetivo de melhorar<br />
a capacidade de ação de nossos Estados em matéria de combate ao narcotráfico, ao<br />
tráfico de armas, aos grupos armados, seqüestros, lavagem de dinheiro e outros;<br />
c) Re-valorizar, entre aqueles incumbidos pela tomada de decisões políticas em ambos<br />
países, a cooperação e coordenação em temas de Defesa e Segurança, de modo a evitar<br />
a tendência de reduzir o processo de integração a um exercício de intercâmbio<br />
comercial;<br />
d) Criar <strong>uma</strong> polícia de fronteira comum e um Centro de Capacitação Policial Comum;<br />
e) Desenvolver bases de dados comuns sobre delitos ligados ao narcotráfico, ao roubo de<br />
automóveis, ao tráfico de armas e aos seqüestros;<br />
f) Criar, através da parceria <strong>CEBRI</strong>-CARI, um Observatório de Segurança e Defesa, que<br />
aglutine em um reduzido e altamente especializado grupo permanente de analistas -<br />
acadêmico, empresários, funcionários do governo e de outros setores - além da<br />
participação de convidados/consultores ad hoc dos ministérios das Relações<br />
37
Exteriores, Defesa, Interior e Inteligência Estratégica e de outras áreas do governo de<br />
ambos os países. Seriam elaborados estudos, pesquisas e publicações com o foco nas<br />
áreas de segurança e defesa. A deterioração da situação da segurança na zona Andina,<br />
a escalada da violência na Colômbia, o avanço do narcotráfico e a crescente presença<br />
militar internacional no Paraguai são alguns dos temas que requerem análises<br />
estratégicas e respostas concretas conjuntas dos dois países;<br />
g) Incrementar os espaços de integração e cooperação no setor de controle do tráfego<br />
aéreo, fluvial e terrestre;<br />
h) Institucionalizar mecanismos de intercâmbio de inteligência estratégia e criminal;<br />
i) Buscar a gradual padronização dos meios de comunicação das Forças Armadas e das<br />
Forças de Segurança de ambos países. Outro ponto a se considerar seria a<br />
padronização das munições das armas de uso regulamentar;<br />
j) Criar um Centro Binacional de Missões de Paz e promover o desenvolvimento de<br />
contingentes conjuntos e combinados para serem enviados a esse tipo de operação;<br />
k) Reforçar e compatibilizar as legislações nacionais e internacionais de ambos países em<br />
matéria de registro e posse de armas de fogo;<br />
l) Implementar <strong>uma</strong> Metodologia Padronizada Comum dos Gastos em Defesa e<br />
Segurança de ambos países, similar à utilizada entre Chile e Argentina e produzida<br />
pela Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL);<br />
m) Desenvolver mecanismos de aquisições conjuntas e combinadas de material de Defesa<br />
e Segurança;<br />
n) Impulsionar um estudo que tenha como finalidade analisar e registrar as capacidades<br />
compatíveis e passíveis de operação por ambos países no setor de Defesa;<br />
o) Desenvolver unidades conjuntas e combinadas de forças especiais das Forças<br />
Armadas, da Polícia e das Forças de Segurança.<br />
38
Anexo I<br />
Programas de Trabalho<br />
Programa de Trabalho em Buenos Aires, 24 de junho de 2005<br />
9.00 a 10.45 ‘Comércio’<br />
Apresentação CARI<br />
Apresentação <strong>CEBRI</strong><br />
Debate<br />
Moderador: CARI<br />
10.45 a 11.00 Café<br />
11.00 a 12.45 ‘Alimentos’<br />
Apresentação <strong>CEBRI</strong><br />
Apresentação CARI<br />
Debate<br />
Moderador: <strong>CEBRI</strong><br />
12.50 a 13.50 Almoço<br />
14.00 a 15.45 ‘Energia’<br />
Apresentação CARI<br />
Apresentação <strong>CEBRI</strong><br />
Debate<br />
Moderador: CARI<br />
15.45 a 16.00 Café<br />
16.00 A 17.45 ‘Segurança’<br />
Apresentação <strong>CEBRI</strong><br />
Apresentação CARI<br />
Debate<br />
Moderador: <strong>CEBRI</strong><br />
Equipe de Trabalho do <strong>CEBRI</strong><br />
José Botafogo Gonçalves<br />
Denise Gregory<br />
Renato Flores (negociações internacionais)<br />
José Tavares (energia)<br />
Clóvis Brigagão (segurança)<br />
Antonio Lício (alimentos)<br />
Paulo Ferracioli<br />
Equipe de Trabalho do CARI:<br />
Félix Peña<br />
José María Lladós<br />
Daniel Montamat<br />
Paloma Ochoa<br />
Federico Merke<br />
Fabián Calle<br />
Valeria Di Fiori<br />
Fundação Konrad Adenauer<br />
39
Hans Blomeier, Argentina<br />
Wilhelm Hofmeister, Brasil<br />
Participantes argentinos<br />
Tomás Anchorena<br />
Rut Diamint<br />
Guillermo Feldman<br />
Alieto Guadagni<br />
Jorge Hugo Herrera Vegas<br />
Horacio Jaunarena<br />
Juan Legisa<br />
Francisco Mezzadri<br />
Rubén Montenegro<br />
Raúl Ochoa<br />
Martín Piñeiro<br />
Programa de Trabalho no Rio de Janeiro, 29 de agosto de 2005<br />
9.00 - 9.30 Abertura<br />
Embaixador José Botafogo – <strong>CEBRI</strong><br />
Willhelm Hofmeister – KAS<br />
José María Lladós: Relato 1ª Reunião Conjunta – Buenos Aires<br />
Denise Gregory – <strong>CEBRI</strong><br />
9.30 - 11.00 Painel I: Negociações Internacionais<br />
Coordinadores - Brasil: Renato Flores/ Argentina: Félix Peña<br />
• Posturas Comuns<br />
• Perfil Competitivo Integrado<br />
11.00 - 12.30 Painel II: Energia<br />
Coordenadores - Brasil: José Tavares/ Argentina: Daniel Montamat<br />
• Questões regulatórias<br />
• Desafios<br />
12.30 - 14.00 Almoço<br />
14.00 - 15.30 Painel III: Alimentos<br />
Coordenadores Brasil: Antonio Lício/ Argentina: Paloma Ochoa<br />
• Esgotamento da expansão agrícola mundial<br />
• Implicações (favoráveis) sobre as economias<br />
15.30 - 17.00 Painel IV: Segurança<br />
Coordinadores Brasil: Clóvis Brigagão/ Argentina: Federico Merke<br />
• Mecanismos Permanentes de Diálogo e Coordenação<br />
• Criação de mecanismo de vigilância na Bacia do Prata<br />
17.00 Conclusões e Encerramento<br />
Equipe de Trabalho do <strong>CEBRI</strong><br />
José Botafogo Gonçalves<br />
Denise Gregory<br />
Renato Flores<br />
José Tavares<br />
40
Clóvis Brigagão<br />
Antonio Lício<br />
Equipe de Trabalho do CARI<br />
Félix Peña<br />
José María Lladós<br />
Paloma Ochoa<br />
Federico Merke<br />
Daniel Montamat<br />
Fundação Konrad Adenauer<br />
Hans Blomeier, Argentina<br />
Wilhelm Hofmeister, Brasil<br />
Participantes Brasileros<br />
João Bosco M. Machado<br />
João Marcello Costa<br />
Alcides Costa Vaz<br />
Adilson de Oliveira<br />
Sebastião do Rego Barros<br />
Pietro Erber<br />
Paulo Ferracioli<br />
Isabella Flohr<br />
Renato Flores<br />
Joao Lizardo Hermes de Araújo<br />
Mauro Lopes<br />
Mariana Luz<br />
Ricardo Markwald<br />
Leonardo Paz Neves<br />
Antonio Jorge Ramalho da Rocha<br />
Ana Carolina Rodrigues<br />
Cláudio Sales<br />
Marcos Targino<br />
Thiago Wolfer<br />
José Ramalho<br />
41
Anexo II<br />
Reuniões com Especialistas<br />
Reuniões com Especialistas Brasileiros<br />
Alimentos<br />
Antonio Licio, Assessor Especial da Câmara de Comércio Exterior da Presidência da República -<br />
Camex<br />
Mauro Lopes, Coordenador de Cursos e Projetos do Centro de Estudos Agrícolas da FGV-RJ<br />
José Ramalho, Ministério da Agricultura<br />
Comércio<br />
Marta Lemme, Professora do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ<br />
Paulo Ferracioli, Coordenador Nacional do Brasil no SGT 3 - Regulamentos Técnicos e Avaliação da<br />
Conformidade.<br />
Renato Galvão Flores Jr., membro do grupo de especialistas da OMC e professor da Fundação Getúlio<br />
Vargas - FGV<br />
Ricardo Markwald, Diretor da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior - FUNCEX<br />
Energia<br />
Adilson de Oliveira, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro -<br />
UFRJ<br />
João Bosco M. Machado, Professor do Instituto de Economia da UFRJ e consultor da Fundação<br />
Centro de Estudos do Comércio Exterior - FUNCEX<br />
João Lizardo Hermes de Araújo, Diretor do Centro de Pesquisa de Energia Elétrica - CEPEL<br />
José Tavares de Araújo Jr., Ecostrat Consultores , ex-Secretário de Acompanhamento Econômico<br />
do Ministério da Fazenda.<br />
Pietro Erber, Diretor do Instituto Nacional de Eficiência Energética – INEE.<br />
Sebastião do Rego Barros, Conselheiro do Centro Brasileiro de Relações Internacion ais – <strong>CEBRI</strong>,<br />
ex-Diretor Geral da Agência Nacional de Petróleo.<br />
Segurança<br />
Alcides Costa Vaz, Professor do Instituto de Ciência Política e Relações Internacionais da<br />
Universidade de Brasília.<br />
Antonio Jorge Ramalho da Rocha, Diretor do Departamento de Cooper ação do Ministério da Defesa.<br />
Clóvis Brigagão, Diretor Adjunto do Centro de Estudos das Américas - CEAs - da Universidade<br />
Cândido Mendes - UCAM<br />
João Marcello Costa, Fundação Konrad Adeunauer, Grupo de Análise e Prevenção de Conflitos<br />
Internacionais – GAPCon.<br />
Leonardo Paz Neves, mestrando Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro – IUPERJ,<br />
Grupo de Análise e Prevenção de Conflitos Internacionais – GAPCon.<br />
Reunião com Especialistas Argentinos<br />
Alimentos<br />
Raúl Roccatagliata, Coordenador do Instituto de Negociaciones Internacionales de la Sociedad Rural<br />
Argentina. Representante ante os Encontros Empresariais da ALCA e do Foro Empresário<br />
Mercosul- União Européia.<br />
Martín Piñeiro, Diretor do grupo Consultores en Economía y Organización (CEO). Ex Subsecretário<br />
de Economia Agrária e Diretor General do Instituto de Cooperación para la Agricultura (IICA).<br />
Gabriela Rodríguez López, Chefe de Assuntos Governamentais, Molinos Río de la Plata<br />
Tomás de Anchorena, Diretor do Comitê de Assuntos Agrícolas do CARI.<br />
42
Alberto de las Carreras, Membro da Academia Nacional de Agronomia e Veterinária; Vice-presidente<br />
da Câmara de Exportadores; ex-Secretário de Comércio.<br />
Comércio<br />
Guillermo Feldman, Subsecretário de Política e Gestão Comercial da Secretaria de Indústria,<br />
Comércio e da Pequena e Média Empresa, Ministério de Economia e Produção.<br />
Adrián Makuc, Diretor Nacional de Política Comercial Exterior da Secretaria de Indústria, Comércio e<br />
da Pequena e Média Empresa, Ministério de Economia e Produção.<br />
Diana Tussie, Professora de Economia Política Internacional, FLACSO. Diretora do Programa de<br />
Instituições Econômicas Internacionais da FLACSO e do Latin American Trade Network.<br />
Felipe Frydman, Diretor de Negociações Econômicas Internacionais, Ministério das Relações<br />
Exteriores e Comércio Internacional<br />
Raúl Ochoa, ex-Subsecretário de Comércio Exterior; Professor do Instituto de Comércio Internacional,<br />
Fundação BankBoston.<br />
Energia<br />
Jorge Hugo Herrera Vegas, Membro do Servicio Exterior de la Nación; ex Embaixador no Brasil.<br />
Juan Legisa, Ex-Presidente do Directorio del Ente Nacional Regulador de la Electricidad (ENRE) e<br />
ex-Subsecretário de Energia.<br />
Daniel Montamat, Presidente do Montamat & Asociados S.R.L. ex-Secretário do Energía de la<br />
Nación; ex-Presidente do YPF e ex-Diretor de Gas del Estado S.E.<br />
Jorge Lapeña, Presidente do Instituto Argentino da Energia “General Mosconi”; ex-Secretário de<br />
Energia.<br />
Francisco Mezzadri, Ex-Presidente da Câmara Argentina de Investidores do Setor Elétrico<br />
Segurança<br />
Juan Tokatlian, Diretor de Ciência Política e Relações Internacionais, Universidad de San Andrés.<br />
Rubén Mario Montenegro, Brigadier General (RE) Força Aérea Argentina.<br />
Horacio Jaunarena, Ex-Ministro de Defesa.<br />
Rut Diamint, Chefe de Gabinete de Assessores do Ministro de Defesa; Professora de Relações<br />
Internacionais, Universidad Torcuato Di Tella.<br />
43
Anexo III<br />
Equipes de Trabalho<br />
Equipe de Trabalho do <strong>CEBRI</strong><br />
José Botafogo, Coordenador<br />
Clovis Brigagão<br />
Renato Flôres<br />
Denise Gregory<br />
Antonio Licio<br />
José Tavares<br />
Mariana Luz<br />
Equipe de Trabalho do CARI<br />
Félix Peña, Coordenador<br />
José María Lladós<br />
Daniel Montamat<br />
Fabián Calle<br />
Federico Merke<br />
Paloma Ochoa<br />
Valeria Di Fiori<br />
Florencia Imposti<br />
44