COMISSIONAMENTO EM REDES INDUSTRIAIS VAZAMENTO EM ...
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lá estar. Eu gostei de estar lá, fiz um bom trabalho junto com<br />
o Carlos Liboni, que foi meu primeiro vice-presidente nas duas<br />
gestões, mas cada vez que nós queríamos mergulhar mais<br />
profundamente, nós percebíamos que havia ou uma reação<br />
da própria estrutura ou uma necessidade de outra natureza,<br />
que era uma natureza mais política. E eu sou um sujeito mais<br />
orientado a negócios do que orientado a política. A política<br />
me cansa, até porque no Brasil o tempo político é diferente do<br />
tempo econômico. E o tempo na Fiesp é mais político do que<br />
econômico. Por isso eu digo que a Fiesp foi uma experiência<br />
rica, mas não definidora. O meu perfil é o de quem não quer<br />
transformar a vida institucional na razão de viver. Eu tenho<br />
uma procura de realização de outra natureza. Qual? A de,<br />
de fato, ver as coisas acontecerem e de ser um elemento de<br />
mudança em empresas ou setores. Hoje estou no Conselho de<br />
Administração de algumas empresas e de algumas entidades,<br />
procurando levar a experiência de quem já viu alguns filmes<br />
antes – e, no fim, nós morremos em vários deles.<br />
INTECH AMÉRICA DO SUL – Não temos como não incluir<br />
as perspectivas econômicas do Brasil nesta entrevista.<br />
Qual é a sua avaliação deste momento atual do País?<br />
HORÁCIO LAFER PIVA – A recorrência da vida brasileira tem<br />
sido a dinâmica do curto prazo. Nós aqui no Brasil estamos<br />
muito presos ao curto prazo. Por várias razões. Primeiro,<br />
porque somos uma democracia jovem, segundo porque<br />
passamos por uma situação econômica de grande dificuldade<br />
com inflações que chegaram a 80% ao mês, enfim, de<br />
maneira que as pessoas têm uma tendência de duvidar<br />
de muita coisa e, obviamente, muito medo com relação ao<br />
futuro. Porque nós nos acostumamos a pensar só no fim<br />
do mês e em seis meses. Nós temos muita dificuldade em<br />
discutir o Brasil em 2030, 2050. Nós tínhamos que projetar<br />
o nosso futuro com muito mais coragem e espaço do que<br />
de fato fazemos. E eu sou um otimista de longo prazo. Eu<br />
acho que o Brasil está condenado a dar certo. Quanto mais<br />
a gente conseguir escapar um pouco dessa algema tanto<br />
melhor. E eu não tenho a menor dúvida de que é uma<br />
mudança cultural e, talvez, seja até uma coisa para a próxima<br />
geração. Então, eu vejo hoje essas decisões que estão sendo<br />
tomadas em relação a juros, por exemplo, como dentro de<br />
um processo – já as vi com mais irritação. Acho que o Brasil<br />
tem um problema. Por exemplo, agora estamos discutindo a<br />
tese da desindustrialização e a história do câmbio. E eu tenho<br />
muito medo dessa discussão, porque acho que esta é uma<br />
discussão de curto prazo. Quando você diz que a indústria,<br />
HORÁCIO LAFER PIVA entrevista<br />
especialmente a de manufaturados, está indo mal por causa<br />
do câmbio é a mesma coisa que dizer que isto está quente<br />
porque pegou fogo. E as pessoas estão perguntando por<br />
que está quente quando deveriam perguntar por que pegou<br />
fogo! O câmbio é uma consequência de uma série de coisas e<br />
algumas dessas coisas sob as quais nós, no Brasil, não temos<br />
controle. O Brasil devia estar preocupado com isso que já se<br />
tratou de chamar de Custo Brasil; isto sim! Nós devíamos estar<br />
preocupados com ajuste fiscal, com diminuição de burocracia,<br />
com um equilíbrio maior entre a carga tributária e as despesas<br />
de governo, com investimentos em infraestrutura, etc. Mas<br />
ficamos nas discussões de curto prazo. Nós precisamos<br />
entender quais são as causas desse processo e agir nas<br />
causas. Nós temos uma enorme quantidade de diagnósticos e<br />
percebe-se que uma boa parte dos diagnósticos quer trabalhar<br />
nas consequências, quando deveria se trabalhar nas causas.<br />
Temos meia dúzia de causas, que sabemos serem importantes,<br />
em cima das quais devemos trabalhar.<br />
“NóS DEvíAmoS ESTAR pREoCUpADoS<br />
Com AjUSTE FISCAl, Com DImINUIção DE<br />
BURoCRACIA, Com Um EqUIlíBRIo mAIoR ENTRE A<br />
CARgA TRIBUTáRIA E AS DESpESAS DE govERNo,<br />
Com INvESTImENToS Em INFRAESTRUTURA, ETC.”<br />
INTECH AMÉRICA DO SUL – Não podemos deixar de<br />
perguntar sobre a sua visão sobre a automação...<br />
HORÁCIO LAFER PIVA – Automação é tudo, sem dúvida.<br />
Na verdade, é uma discussão muito difícil, do ponto de<br />
vista, digamos assim, ético, porque, de alguma forma, a<br />
automação é redutora de emprego. Porém, por outro lado,<br />
eu defendo que devemos tratar de qualificar os nossos<br />
trabalhadores para que possam ser mais multifuncionais<br />
e aquilo que por acaso perderem com o advento da<br />
automação, possam suprir em outros setores ou segmentos<br />
que vão demandar, até porque a automação é criadora<br />
de riqueza. Na medida em que a automação agrega valor,<br />
ela cria riqueza. Até porque ela sendo uma encurtadora de<br />
tempo, permitindo mais tempo para gerar mais riqueza, essa<br />
riqueza melhor distribuída, vai fazer com que de alguma<br />
forma as pessoas possam se colocar em outros setores como,<br />
por exemplo, o de serviços, que está crescendo muito no<br />
Brasil. E isto é muito útil.<br />
InTech 140 77